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¹ Professor da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná
² Orientador PDE da Universidade Federal do Paraná
CONTRIBUIÇÕES DO PEDAGOGO NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
E TEMPO DA HORA-ATIVIDADE: reflexões sobre uma experiência
no PDE.
Regina Beatriz Kawa Bregenski¹
Douglas Ortiz Hamermüller²
Resumo: A elaboração deste artigo é requisito parcial para a conclusão do Programa de
Desenvolvimento Educacional PDE- 2012. A escola é em essência a soma de diversos fatores. Para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de forma satisfatória, o pedagogo deve estar atento a ele de forma global, buscando mediar e contribuir para que o trabalho pedagógico seja efetivo também nas horas-atividades dos professores. Buscou-se neste estudo, pela pesquisa bibliográfica, aplicação de instrumento de pesquisa e pela análise das contribuições do Grupo de Trabalho em Rede, ampliar a compreensão do significado dado aos conceitos de pedagogo, professor, docência, hora-atividade e formação continuada, no contexto articulado dessas experiências. Por esses motivos, foram realizadas reflexões sobre a relação do professor e o pedagogo no contexto escolar. Dessa forma, procurou-se evidenciar possibilidades de melhoria nos trabalhos desses profissionais enquanto atividade humana intencional, coletiva e dirigida para um determinado fim que é a formação do aluno.
Palavras-chaves: Pedagogo. Professor. Hora-atividade.
INTRODUÇÃO
Contribuições do pedagogo na organização do espaço e tempo da hora-
atividade: reflexões sobre uma experiência no PDE surgiu da necessidade e da
curiosidade em ampliar o conhecimento acerca deste tema e, também, como parte
integrante dos trabalhos exigidos para a conclusão do PDE-2012, dividido em quatro
etapas descritas a seguir.
Primeiramente, no momento da elaboração do Projeto de Intervenção
Pedagógica na escola campo da investigação (estudo realizado em uma escola da
Rede Pública do Estado do Paraná), houve a necessidade de identificar, por meio da
aplicação de questionário, qual o entendimento que professores e pedagogos do
colégio que foi campo da pesquisa tinham sobre a hora-atividade.
A elaboração e aplicação do questionário aos professores e pedagogos do
ensino fundamental e médio utilizou a metodologia da pesquisa ação, na perspectiva
que retrata Gil.
A utilização dessa técnica foi importante, pois ela é uma:
Metodologia para intervenção, desenvolvimento e mudança no âmbito de grupos, organizações e comunidades. É uma modalidade de pesquisa que não se ajusta ao modelo clássico de pesquisa científica, cujo propósito é o de proporcionar a aquisição de conhecimentos claros, precisos, objetivos. No entanto, vem sendo amplamente incentivada por agências de desenvolvimento, programas de extensão universitária e organizações
comunitárias (GIL, 2010.p. 42).
Ou ainda, como nos aponta Tihollent é uma pesquisa que:
com base empírica concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou, ainda, com a resolução de um problema coletivo, onde todos, pesquisadores e participantes, estão envolvidos de modo cooperativo e participativo (TIHOLLENT, 1985, p.14).
Nessa fase exploratória e de planejamento, foi possível observar que o tema
desse estudo está posto no Projeto Político Pedagógico (PPP) do colégio. Ressalta-
se que os resultados dos questionários aplicados foram aos poucos demonstrando
que há, na sua maioria, um desejo intrínseco para que os pedagogos auxiliem mais
os professores no processo de ensino-aprendizagem, como expresso no PPP.
Assim, a partir desses subsídios a elaboração do material didático compôs a
segunda etapa da formação no PDE. Para tanto, foi elaborado um Caderno
Pedagógico, o qual teve por finalidade abordar quatro temáticas consideradas
básicas para uma maior compreensão acerca do trabalho do professor e do
pedagogo, procurando articular teoria e prática no contexto específico da escola, são
elas:
Unidade Temática 01- Para começo de conversa trata das impressões que temos acerca do trabalho pedagógico fragmentado, muitas vezes solitário e que não nos satisfaz. Remete-nos a uma leitura de um fragmento de texto da obra de Miguel Arroyo; Unidade Temática 02 – Conhecendo a legislação apresenta a parte legal da hora-atividade, desde a LDB Nº 9394/96 e como foi organizada e instituída no Estado do Paraná nas escolas estaduais e define as funções para o cargo de professor e de pedagogo; Unidade Temática 03 – Contextualizando a hora-atividade em sua escola neste ponto do material questiona-se sobre a hora-atividade em nossa escola, como foi distribuída e como ela vem acontecendo de fato e; Unidade Temática 04 – Agora é a sua vez propõe a leitura de alguns documentos indispensáveis na escola: o Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar para instigá-lo a propor possibilidades para que o
espaço e tempo da hora-atividade seja construída no coletivo da escola e permita efetivo e eficiente trabalho pedagógico junto aos professores (BREGENSKI, 2012).
O terceiro momento deste trabalho articulou a Intervenção Pedagógica na
Escola e a realização do Grupo de Trabalho em Rede (GTR). As trocas de
experiências entre os participantes revelaram que as dificuldades e angústias
apresentadas neste estudo são vivenciadas em outros estabelecimentos de ensino
da rede pública estadual do Paraná. Mesmo distantes do contexto da escola
pesquisada, eles também apresentaram algumas sugestões relativas ao trabalho
que o pedagogo pode realizar para auxiliar os professores na hora-atividade. A partir
dessas experiências, como síntese daquele momento formativo no PDE, foi possível
propor que a hora-atividade também venha a ser uma possibilidade de espaço
educacional para o enfrentamento das dificuldades que se apresentam no cotidiano
escolar.
No quarto momento do processo formativo a professora PDE, a partir do
referencial teórico composto pelas ideias de Libâneo, Saviani, Arroyo, Pimenta,
Kuenzer, Barbosa, Tihollent e nas legislações que tratam sobre o tema, ocorrem
análises e reflexões das etapas anteriores para a elaboração desse Artigo.
Dessa forma, esse artigo relatará esse processo de pesquisa ação. A seguir
apresentam-se as sínteses do referencial teórico utilizado, da legislação sobre o
tema e das contribuições de articulação dos papéis do pedagogo escolar e do
professor na hora-atividade. Assim, será possível buscar maneiras para diminuir os
conflitos entre teoria e prática num processo de reflexão-ação no trabalho
pedagógico, proporcionando a busca de soluções para problemas de aprendizagem,
enriquecimento de conteúdos, programas e projetos coletivos, troca de experiências
com a participação efetiva de professores e pedagogos na hora-atividade.
FALANDO SOBRE O PEDAGOGO E O PROFESSOR
Com este trabalho de pesquisa foi possível identificar que o pedagogo e o
professor possuem funções específicas na escola. Portanto, também, objetivamos
evidenciar que a percepção e o sentimento de pertencimento destes no processo de
ensino-aprendizagem são fundamentais para o bom desenvolvimento de suas
práticas pedagógicas.
Conforme Barbosa (2004, p.82) que entende a educação como prática social
e complexa, ressalta-se a importância de aprofundar a questão da prática
pedagógica apoiada na pesquisa como sendo base da formação do professor e não
a ação docente em si (BARBOSA, 2004, p.86). Ela acredita que a formação
continuada seja capaz de responder as necessidades sociais que estão postas para
uma educação crítica e emancipatória, colocando como base da formação o estudo
da educação. A autora também afirma que há uma mudança na relação do poder do
professor com o aluno de forma qualitativa, pois esse poder precisa ser conquistado
por uma relação de respeito e consideração dos valores do outro. Os alunos não
temem mais castigos, ameaças e a reprovação (BARBOSA, 2004, p.119). A
mudança da(na) escola, segundo ela, passa pela mudança do seu segmento mais
importante, que é o professor.
Arroyo retrata que na realidade da escola observam-se professores e
pedagogos trabalhando isoladamente para vencer tarefas e, muitas vezes,
esquecendo-se de que no trabalho coletivo é que o processo de ensino-
aprendizagem ocorre com sucesso. Pimenta (1992) afirma que é necessário um
projeto pedagógico mais aprimorado na escola, que atenda a formação do novo
cidadão compreendido como o sujeito capaz de inserção social, crítica e
transformadora na sociedade em que vive, com preparação e domínio de
conhecimentos de ciência e técnica, sabendo revê-los, operá-los, transformá-los,
redirecioná-los.
Arroyo nos questiona sobre a sensação de perda de sentido do trabalho,
sobre a angústia dos professores que se “revela no nosso amargo sentimento de
que o aluno não quer nada, não quer aprender, apesar de ensinarem bem”
(ARROYO, 2007.p. 56).
O autor relata como o magistério incorpora com perícia os valores aprendidos
pela espécie humana ao longo de sua formação e como o professor faz e refaz a
escola (ARROYO, 2007, p.18-19).
Afirma que a:
[...] defesa da especificidade do campo da educação e de seu trato profissional se dá em tempos em que os professores tem maior segurança pelo fato de terem aumentado os níveis de qualificação em graduação e pós-graduação e por estarem passando por múltiplas formas de requalificação: cursos oficiais, congressos, conferências, oficinas, leituras, participação na ação sindical e nos movimentos sociais (Arroyo, 2007, p. 23).
Isso, para ele, leva a “maior segurança e a defesa da especificidade do saber
fazer melhor” (ARROYO, 2007, p. 24), o que evidencia a necessidade constante de
momentos de formação continuada para esses profissionais da educação.
Portanto, para o autor, no mesmo sentido:
Ser pedagogo é um dever de estarmos em percurso do formar-nos, de tornar-nos possíveis. [...] Ser mestre, educador é um modo de ser e um dever ser. Ser pedagogos de nós mesmos. Ter cuidados com nosso próprio percurso humano para assim podermos acompanhar o percurso das crianças, adolescentes e jovens. É uma conversa permanente com nós mesmos sobre a formação (ARROYO, 2007.p. 42).
Analisando a ideia do autor, é possível retomar a proposição de que a hora-
atividade pode ser um espaço propício para o exercício concomitante das práticas
pedagógicas integradas a um espaço de formação para o professor, com o auxílio do
pedagogo escolar. Portanto, apoiados nessa perspectiva, pode-se entender que a
“docência se dará de forma pedagógica, se for intencional e cuidadosa, visando
construir uma nova cultura para que o espaço e tempo do trabalho na escola seja
centro do processo de ensino aprendizagem, [...]” (ARROYO, 2007.p.54).
Pois, segundo ele, essas funções exigem “domínio de teorias e métodos,
elaboração pedagógica e paciência, valorização, diálogo, reflexão e compreensão do
percurso do aluno”, o que é uma forte característica do espaço da hora-atividade.
Assim, podemos inferir, que se a hora-atividade for tomada com esse objetivo, o
“caráter da docência poderá ser sempre novo, um constante recomeçar”, como
propões o autor. Pois na hora-atividade, devido as suas peculiaridades, esses
profissionais deverão “dominar a organização dos seus tempos e espaços, da
invenção de recursos e de sua articulação com o saber e com a cultura acumulados,
sem abandonar o ofício comum que é de educar para formar sujeitos humanos”,
como afirma o autor (ARROYO, 2007, p.43-44).
A pedagogia, segundo Pimenta, é a teoria da educação, de pensamento
refletido numa prática que se volta para a prática. Vai da teoria à prática e da prática
à teoria, é um processo dialético no qual a escola necessita de um profissional que
nela atue atendendo as necessidades de sua realidade. Por esse motivo, nessa
perspectiva é possível inferir que “[...], o trabalho do pedagogo circunda a atividade
mais importante da escola – a sala de aula. Mas o trabalho que determina o fazer
pedagógico não se limita a sala de aula: ele a extrapola” (PIMENTA, 1992).
Desta forma o trabalho do pedagogo extrapola a sala de aula podendo auxiliar
o professor no processo de sala de aula.
O trabalho do pedagogo está ligado a questões de administração da
organização escolar, à interdisciplinaridade, ao trabalho coletivo, na organização da
realidade imediata em questões como: horário, grade de atividades, organização e
funcionamento didático-pedagógico, a democratização do ensino, a formação dos
professores, número de turmas, turnos, horários, previsão de capacitação em
serviço constante. Esse trabalho, que visa assegurar a qualificação da escola, para
ser efetivado com êxito, deve definir equipes de assessoria pedagógica e
educacional, assegurar horários para reuniões pedagógicas abrindo espaço para o
debate sobre temas e questões do ensino. Essa articulação tem por objetivo
curricular assegurar o desenvolvimento dos conteúdos, acompanhar o rendimento
dos alunos e prever formas de suprir as possíveis defasagens, e também organizar a
hora-atividade como momento de reflexão-ação.
Podemos concluir que o pedagogo e o professor devem ser parceiros,
colaboradores no processo de ensino aprendizagem. O professor, na sua
especificidade, necessita que o pedagogo o oriente para que selecione melhor os
conteúdos, métodos, técnicas e formas para que organize sua sala de aula, seu
ambiente de trabalho. Eles são os responsáveis pela formação do cidadão, pela
socialização dos conteúdos historicamente acumulados pela humanidade e por
instrumentalizar os alunos para que sejam críticos e participativos na sociedade.
Refletir sobre sua prática, colocar-se na posição do estudante, tornando-se
aliados para a construção de uma escola plural, atual e útil à sociedade, são
desafios que se apresentam a professores e pedagogos. Para tanto, é necessário
que sejam dadas condições estruturais para superá-los, e a hora-atividade surge
como espaço viável de formação e de prática do trabalho conjunto desses
profissionais na escola.
Por esses motivos, foi elaborado o caderno pedagógico, com base na
metodologia da Formação Interativa Individualizada, para propiciar, no contexto do
PDE, uma possibilidade de formação e sugestão para esses profissionais
ressignificarem a hora-atividade na busca por viabilizar esse trabalho conjunto entre
pedagogos e professores.
No texto de “As Diferenças vão à escola, Interatividade, individualização e a
formação de professores” (ANDRADE, BAPTISTA e MÜLLER, 2000) afirma que à
formação/qualificação dos professores do ensino é uma necessidade inerente às
exigências da sociedade tanto nos aspectos legais como para os novos desafios de
inclusão social e que sendo contínua é uma conquista dos professores e da
educação. Para eles, são três os pressupostos norteadores da prática docente: a
valorização do saber possuído pelo sujeito, a ênfase na multiplicidade de fontes de
acesso ao conhecimento e a importância das trocas entre os sujeitos envolvidos no
âmbito de trabalho educativo.
Aquela proposta formativa foi resgatada nesse estudo, pois aqueles autores
descrevem a formação interativa individualizada como sendo uma modalidade de
formação à distância flexível que combina momentos presenciais e não presenciais,
o que pôde ser uma proposta viável para utilização na formação PDE.
Eles pensaram a possibilidade de estruturação de percursos
personalizados com base nas exigências dos envolvidos, favorecendo a gestão do
tempo, do espaço dedicado a leituras e atividades, e, consequentemente,
adequando-se a disponibilidades de cada integrante, para o ritmo de leitura,
possíveis pausas, momentos de acesso a materiais complementares e dicas para
aprofundamento teórico. Exige uma postura crítica-reflexiva dos participantes.
Concluem que os efeitos da formação interativa individualizada são
delineados pelas características contextuais de cada escola a qual os participantes
estão vinculados, assim como as características pessoais de cada um, podem ser
compreendidas no conjunto da sua trajetória profissional e, ainda, na articulação
entre esses dois planos, de acordo com o envolvimento construído pelos
profissionais neste contexto e que as ações de investigação do cotidiano propiciadas
por este tipo de formação depende em grande parte da capacidade de autogestão e
da disponibilidade pessoal dos docentes (ANDRADE, BAPTISTA e MÜLLER, 2000,
p.173).
E qual momento mais oportuno do que a hora-atividade para esse exercício
de ação-reflexão, para o estudo, para a união da prática com a teoria em busca de
melhorias no processo de ensino aprendizagem?
ENTENDENDO A HORA-ATIVIDADE
A LDB nº 9394/96 em seu Art. 2 deixa claro que “a educação é dever da
família e do Estado e tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu
preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho”. Expressando,
assim, a intencionalidade do ato educativo, que requer competência profissional,
reflexão crítica sobre a prática e comprometimento com a aprendizagem do
estudante.
Nesta mesma lei em seu Art. 67 sobre os profissionais da educação, orienta
para que os sistemas de ensino promovam a valorização dos profissionais da
educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de
carreira do magistério público:
[...] II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamen-
to periódico remunerado para esse fim; III - piso salarial profissional; [...] V -
período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; VI - condições adequadas de trabalho (BRASIL, 1996).
A hora-atividade é uma conquista dos profissionais da educação, pois
representa o reconhecimento do trabalho pedagógico realizado fora da sala de aula
e está contemplada na Lei do Piso Nacional para o Magistério n° 11.738/2008, no
seu Artigo 2, Parágrafo 4 que prevê a jornada de trabalho do professor respeite a
proporção máxima de dois terços da carga horária para desenvolvimento das
atividades de interação com os educandos e um terço, destinadas a: elaboração da
proposta pedagógica da escola, preparação de atividades, formação continuada.
Nestes termos, o professor com carga horária de 40 horas semanais teria 13 horas-
atividades e o professor com cargo de 20 horas teria 6,5h (seis horas e meia)
destinadas a horas-atividades.
A Lei Complementar nº 103 (PARANÁ, 2004) institui e dispõe sobre o Plano
de Carreira do Professor da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná e
estabelece que os integrantes da carreira de professor são aqueles que exercem
atividades de docência e os que oferecem suporte pedagógico direto a tais
atividades nos estabelecimentos de ensino, nos núcleos e nas unidades a ela
vinculadas, incluídas a direção, coordenação, assessoramento, supervisão,
orientação, planejamento e pesquisa atuando na educação básica, conforme o
Estatuto do Magistério público do Estado do Paraná.
Um de seus princípios está em reconhecer o aperfeiçoamento profissional e
contínuo e a valorização do professor por meio de uma remuneração digna e, por
consequência, a melhoria do desempenho e da qualidade dos serviços prestados a
população do estado:
I - Formação continuada dos professores, VI - Gestão democrática do ensino público estadual,
XI - Período reservado ao professor incluído em sua carga horária, a estudos, planejamento e avaliação do trabalho discente (PARANÁ, 2004).
Caracteriza o professor e o seu diferencial, pois as atividades desenvolvidas
por ele são de docência, são as atividades de ensino desenvolvidas pelo professor
direcionadas ao aprendizado do estudante e consubstanciada na regência de classe,
“portanto, compreendido que somente o professor em contato direto com o aluno em
sala de aula tem direito a hora-atividade” (PARANÁ, 2004).
No Estado do Paraná, a Secretaria de Estado da Educação, pela Instrução n°
02/2004 da Superintendência do Estado da Educação - SUED prevê 20% de hora-
atividade sobre o total das aulas assumidas pelo professor em efetiva regência de
classe e é reservada para estudos, avaliação e planejamento. A organização deverá
favorecer o trabalho coletivo dos professores da mesma área, da mesma série,
formação de grupos para planejamento de ações para enfrentamento de problemas
específicos, implementação de projetos, etc., e que permita ao professor a
realização de atividades pedagógicas inerentes ao exercício da docência.
Estabelece que o conjunto de professores, sob a orientação e coordenação da
equipe pedagógica ou direção devem planejar, executar e avaliar as ações a serem
desenvolvidas durante o cumprimento da hora-atividade e atribui à equipe
pedagógica acompanhar as atividades individuais a serem desenvolvidas neste
tempo.
A Organização do Trabalho Pedagógico – OTP, no Cotidiano da Escola
Pública, conforme a Coordenadoria de Apoio ao Diretor e ao Pedagogo – CADEP,
entre outras atribuições, orienta algumas atividades que podem ser desenvolvidas
na hora-atividade;
Elaborar o projeto de formação continuada do coletivo de professores e promover ações para sua efetivação; organizar a hora-atividade do coletivo de professores da escola, de maneira a garantir que esse espaço-tempo seja de reflexão - ação sobre o processo pedagógico desenvolvido em sala de aula (CADEP, 2004).
Nos manuais oficiais da SEED, sobre os Regimentos Escolares, acerca da
Equipe Pedagógica orienta quais são suas atribuições, e entre outras, sobre a hora-
atividade:
- organizar a hora-atividade dos professores da escola, de maneira a garantir que esse espaço-tempo seja de reflexão - ação sobre o processo pedagógico desenvolvido em sala de aula; - coordenar a organização do espaço-tempo escolar a partir do projeto político-pedagógico do estabelecimento de ensino, [...]. (SEED, 2004)
Neste mesmo manual ao referir-se aos deveres, engloba na seção II, os
docentes e integrantes da equipe pedagógica:
- aos professores em exercício de docência cabe utilizar-se das
horas/atividades para estudos, pesquisas, planejamento de aulas, relativas a sua atuação pedagógica e cumprindo-as no estabelecimento de ensino; - aos integrantes da equipe pedagógica cabe organizar a hora/atividade dos docentes da escola, garantindo a reflexão sobre o processo pedagógico (SEED, 2010).
O professor é um dos profissionais que mais necessidade tem de se manter
atualizado, pois a tarefa de ensinar requer um estudo contínuo. Transformar essa
necessidade em direito é fundamental para o alcance da sua valorização profissional
e desempenho em patamares de competência exigidos pela sua própria função
social.
Sobre a Gestão Democrática e o papel do pedagogo na hora-atividade
A LDB 9394/96 estabelece em seu artigo 3º, inciso VIII, a Gestão Democrática
como um dos princípios da educação nacional a qual pressupõe a participação
coletiva, a construção compartilhada das decisões, a formação para a cidadania, o
desenvolvimento da autonomia e de posicionamentos críticos diante da realidade
que se apresenta. Portanto, para além de uma questão meramente administrativa, a
Gestão Democrática envolve a democratização das relações internas na escola e a
socialização do conhecimento para todos. Dessa forma, é que a Gestão
Democrática na escola não prescinde do desvelamento da prática pedagógica como
ação política, uma vez que as escolhas que fazemos dos conteúdos e objetivos do
ensino e a concepção de avaliação que temos, concorrem para uma ação educativa
voltada para a transformação ou para a manutenção das relações sociais vigentes.
Em outras palavras, as decisões tomadas no cotidiano da escola, além de
pedagógicas são políticas, uma vez que definem uma posição perante a função
social da escola pública.
Trabalhar na escola com a realidade social de seus alunos, conhecer quem
são e o que fazem, como vivem, são questões que não podem ser mascaradas no
ambiente escolar e muito menos esquecidas. Na construção do seu projeto
pedagógico, essas questões devem ser contempladas visando qualificar o trabalho
pedagógico a partir das necessidades da comunidade escolar, tendo em vista a
melhoria de aspectos como: da gestão de pessoas, da organização da equipe
pedagógica, trabalho com os pais e recursos de que a escola dispõe.
Compreender que o homem que adquire o saber se torna um elemento
transformador de seu mundo e que é na concepção de gestão democrática que a
formação continuada é valorizada para o desenvolvimento pessoal e profissional, é
importante, pois a escola é um espaço educativo e também o local em que o
profissional desenvolve sua profissionalidade.
A hora-atividade é um direito do professor, destinada ao estudo, planejamento
e aprimoramento do processo pedagógico em reflexão contínua. É também o
momento para os professores aprofundarem seus conhecimentos de como os
estudantes aprendem, quais as formas mais adequadas de estimular e orientar sua
aprendizagem, com a orientação pedagógica. Todas as pessoas que trabalham na
escola, segundo Libâneo (2008 p. 31-32) participam de tarefas educativas, embora
não de forma igual. Secretaria, forma de gestão, merenda, reuniões, relacionamento
entre pessoas e, principalmente, a percepção e as atitudes da direção e dos
professores em relação aos alunos são importantes fatores de sucesso ou insucesso
dos alunos e seu comportamento, suas atitudes, modos de agir dependem em boa
parte, daquilo que vivenciam no dia a dia da escola.
O conhecimento da realidade e da comunidade escolar é extremamente
importante para o desenvolvimento de um bom trabalho pedagógico. A hora-
atividade é o momento em que o professor pode rever sua prática, elaborar aulas
mais criativas e interessantes, analisar o que foi produzido pelo aluno e com isso
avaliar o seu próprio trabalho com a participação do pedagogo.
As contribuições do pedagogo para a hora-atividade: algumas experiências no
PDE
Este estudo sobre a hora-atividade e sobre a especificidade do trabalho do
pedagogo e do professor proporcionou algumas reflexões sobre a ação e a função
do pedagogo na organização do espaço e do tempo escolar, pois pela sua
complexidade e especificidade em viabilizar condições para que as práticas
pedagógicas desenvolvidas estejam direcionadas primordialmente ao sucesso de
produção de conhecimento requerem ações significativas do pedagogo na escola
pressupondo que pela gestão democrática e transformadora é possível
desenvolvermos um trabalho coletivo visando a formação do cidadão crítico e
participativo na sociedade.
Foram aplicados dezenove questionários aos professores do ensino
fundamental e médio. Após a análise dos resultados, foi possível observar que a
totalidade das contribuições indicou que: o pedagogo, na hora-atividade dos
professores, deveria atuar como organizador do trabalho e agente organizador do
tempo e do espaço. Se essa proposição for concretizada, será possível realizar uma
das metas do projeto político pedagógico da escola, a qual requer mais proximidade
e comprometimento do professor e do pedagogo.
O Grupo de Trabalho em Rede, aplicado numa amostra de quatorze
pedagogos do estado do Paraná contribuiu de forma significativa para a melhoria do
estudo sobre este tema. Os participantes do GTR tiveram acesso às três primeiras
etapas deste estudo proporcionado pelo PDE. Em relação ao projeto de intervenção
pedagógica na escola relataram sobre as contribuições do pedagogo para o
professor na sua hora-atividade, visando a qualidade do processo ensino-
aprendizagem, relatam experiências produtivas, outras frustrantes, outras de
desânimo, mas, foi unânime a visão de que o professor e o pedagogo possuem
papéis diferentes, específicos dentro da escola e que se complementam, se
interligam, e juntos, podem crescer e melhorar o processo de ensino-aprendizagem.
Ocorreram relatos marcantes conceituando o pedagogo como sendo um
“inspetor de luxo”; “burocrata das políticas de governo”. Também relataram que há
barreiras entre o pedagogo e o professor, as quais precisam ser ultrapassadas, são
elas: falta de planejamento; gestores descomprometidos com o processo
pedagógico; não há o comprometimento na hora-atividade pelos professores; falta
de tempo para estudos no local de trabalho para os pedagogos; o é pedagogo
considerado pelos professores como “inoportuno”, “tarefeiro”; e que há resistência
por parte dos professores em receber o auxílio dos pedagogos.
Os participantes concordaram que o projeto de intervenção pedagógica na
escola e o material didático atendem aos objetivos a que se propõem e que somente
pelo estudo e pela compreensão de qual é a função e a responsabilidade de cada
um dentro do processo de ensino-aprendizagem é que o trabalho na hora-atividade
será efetivado com eficiência.
Entendem que o pedagogo é um profissional que deve estar em constante
aprimoramento, estudos, atualizando–se.
Organizar o tempo e o trabalho do professor, criando mecanismos que
atendam melhor as demandas em sala de aula é o desafio que se apresenta e que
muitas vezes, fica em segundo plano, pois as dificuldades e entraves que se
apresentam no dia a dia são muitos. Citamos algumas dessas dificuldades relatadas
pelos participantes do GTR em seus locais de trabalho: a falta de espaço físico
organizado para o estudo, muitas bibliotecas sucateadas, falta de acervo atualizado,
pedagogo envolvido em tarefas burocráticas, disciplinares, fiscalizadoras que não
podem ser ignoradas pelo contexto, mas que demandam muito tempo o que gera
falta de tempo para a real tarefa do pedagogo.
Alguns participantes fizeram referência à gestão democrática e que por sua
motivação se dá a participação dos sujeitos envolvidos com a comunidade escolar,
na elaboração e construção de seu projeto político pedagógico, como também nos
processos de decisão de escolhas coletivas visando sempre a melhoria da qualidade
de ensino. Quanto ao referencial teórico os participantes julgaram de acordo pois as
discussões em torno da legitimação do papel do pedagogo e da escola trazem de
volta a necessidade do pensar coletivo.
Os relatos demonstram que o ideal seria que pedagogo fosse o mediador na
interação com os professores na hora-atividade e observar atentamente os
problemas e as dificuldades que se apresentam no processo pedagógico para que,
no coletivo, possam ser pensadas ações que conduzam para a resolução dos
problemas da (na) escola através de leituras e estudos promovendo a tomada de
consciência numa perspectiva crítica, sobre seu trabalho e o resgate deste numa
perspectiva da formação humana.
Acrescentamos, também, que o pedagogo possa, juntamente com o professor,
na sua hora-atividade:
Oportunizar espaços e momentos de reflexão das práticas pedagógicas,
discutindo encaminhamentos para o trabalho do professor, estabelecendo com este
uma relação de diálogo e confiança;
Articular no espaço escolar de modo a organizar momentos de troca de
experiências entre o professor e o pedagogo;
Orientar a prática educativa, direcionada ao trabalho do professor para
melhoria da qualidade de ensino;
Auxiliar o professor na hora-atividade para as adequações ao plano de
trabalho docente e na prática pedagógica;
Auxiliando o professor no processo de ensino-aprendizagem, orientando-o
para que reveja sua prática, sua metodologia para que a qualidade do tempo gasto
nas suas horas-atividades seja eficiente;
Acompanhar e estimular o professor para que o PPP aconteça e para que o
professor passe a estudar mais, atualize seu trabalho de forma prazerosa e
significativa;
Auxiliar os professores a organizarem suas disciplinas para que atendam aos
questionamentos do processo ensino-aprendizagem e do PPP da escola: que tipo de
sujeitos queremos formar? Para que sociedade estamos formando?
Incentivar para que o espaço e tempo da hora-atividade seja o momento para
a inclusão de práticas diferenciadas com estudos de novas metodologias para
contribuir com o processo de conhecimento.
Uma questão que gerou polêmica entre os pedagogos participantes do GTR
foi que “temos a titulação de professor-pedagogo”, mas não temos direito a hora-
atividade como os professores. Qual horário o pedagogo tem para estudar? Qual
espaço tem para atualizar-se, para buscar novas formas, estratégias para auxiliar os
professores?
Algumas dificuldades foram encontradas tanto na implementação na escola
como por alguns participantes sobre a aplicação do material didático: dificuldade em
aplicar o projeto nos três turnos, pois professores e pedagogos, atuando em mais de
uma escola, dificuldade de conciliar horários e dias para estudo, problemas que
acontecem no dia-dia, acabamos deixando em segundo plano nossas atribuições,
conflitos entre os alunos, indisciplina, falta do professor, estabelecimento de vínculos
com as pessoas dando continuidade ao trabalho planejado, a rotatividade de
professores, resistência por parte de alguns pedagogos e professores na realização
de estudos e no acompanhamento da hora-atividade.
Acrescentam experiências positivas desenvolvidas nas horas-atividades
como a organização do pré-conselho, do conselho de classe e pós-conselho de
classe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A síntese das atividades desenvolvidas aponta para a necessidade da escola
pública pautar-se na formação continuada e em serviço para levar professores e
pedagogos a constantemente refletirem diante dos problemas diagnosticados no
interior da escola, para assim, intervirem e contribuírem para a formação do cidadão
capaz de atuar e transformar a sociedade em que vivem.
Este estudo viabilizou a reflexão sobre a real função do pedagogo, dando
maior ênfase ao fazer pedagógico, na organização do espaço e do tempo para o
acompanhamento da hora-atividade do professor. As análises e as leituras
realizadas possibilitaram a elevação do conhecimento sobre essa temática, no
sentido de retomar a atuação do pedagogo e do professor no interior da escola.
Nesse sentido, foi possível entender que é necessário avaliar a prática pedagógica
constantemente, reforçando que é neste espaço da hora-atividade que a relação de
troca entre professor e pedagogo pode acontecer por meio da reflexão-ação; da
união entre teoria e prática. Essa relação de reciprocidade pode contribuir para que
o pedagogo atue no acompanhando do professor para que, em conjunto, eles atuem
de forma decisiva para que o projeto político pedagógico se concretize, assim
contribuindo para que a escola pública se efetive como agente social de boa
qualidade.
REFERÊNCIAS
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diferenças vão à escola... Interatividade, individualização e a formação de
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