Contos africanos

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Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a ideia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua. Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar. A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio. O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.

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Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita peloMacaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, osmacaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua afim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhumsucesso, um deles, dizem que o menor, teve a ideia de subirem unspor cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos omenor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou asubir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, umtamborinho.

O macaquinho foi ficando por lá, até que começou asentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo aele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse,tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.

O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metadedo caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som dotambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra ecortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda podedizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era umtamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país.

A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vierampessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se osprimeiros sons de tambor.

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Era uma vez um sapinhoque encontrou um bicho comprido,fino, brilhante e colorido deitado nocaminho.

Olá! O que você estáfazendo estirada na estrada?

Estou me esquentandoaqui no sol. Sou uma cobrinha e você?

Um sapo. Vamosbrincar?

E eles brincaram a manhãtoda no mato.

Vou ensinar você a subirna árvore se enroscando edeslizando sobre o tronco - dissea cobra..

E eles subiram.Ficaram com fome e foram

embora, cada um para a sua casa,prometendo se encontrar no diaseguinte.

Obrigada por me ensinara pular.

Obrigado por meensinar a subir na árvore.

Em casa o sapinho mostroupara a sua mãe que sabia rastejar.

Quem ensinou isso avocê?

A cobra minha amiga.Você não sabe que a

família da c obra não é gente boa? Elestêm veneno. Você está proibido debrincar com cobras. E também de

rastejar por aí. Não fica bem.Em casa a cobrinha

mostrou a mãe que sabia pular.Quem ensinou isso a

você?O sapo, meu amigo.Que besteira! Você não

sabe que a gente nunca se deu com afamília do sapo e… bom apetite! E parade pular. Nós cobras não fazemos isso.

No dia seguinte cada umficou no seu canto.

Acho que não possorastejar com você hoje – pensou osapo.

A cobrinha olhou, lembroudo conselho da mãe e pensou: “Sechegar perto, eu pulo e o devoro”.

Mas lembrou- se da alegriada véspera e dos pulos que aprendeucom o sapinho. Suspirou e deslizoupara o mato. Daquele dia em diante, osapinho e a cobrinha não brincarammais juntos. Mas ficaram sempre nosol, pensando no único dia em queforam amigos…

Porque a cobra e o sapo não são amigos

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Há muito, muito tempo, agirafa era um animal igual aos outros, comum pescoço de tamanho normal. Houveentão uma terrível seca. Os animaiscomeram toda a erva que havia atémesmo as ervas secas e duras, e andavamquilômetros para ter água para beber.

Um dia, a Girafa encontrouo seu amigo Rinoceronte. Estava muitocalor e ambos percorriam lentamente ocaminho que levava ao bebedouro maispróximo e lamentavam-se.

- Ah, meu amigo – disse aGirafa, – vê só… Tantos animais a escavar ochão à procura de comida… Está tudoseco, mas as acácias mantêm-se verdes.

- Hum, hum – disse oRinoceronte (que não era – e ainda não é– muito falador).

– Seria tão bom – disse aGirafa – poder chegar aos ramos maisaltos, às folhas tenras. Há muita comida,mas não conseguimos lá chegar porquenão conseguimos subir às árvores.

O Rinoceronte olhou paracima e concordou, abanando a cabeça:

- Talvez devêssemos ir falarcomo o Feiticeiro. Ele é sábio e poderoso.

- Que bela ideia! – disse aGirafa. – Sabes onde fica a casa doFeiticeiro?O Rinoceronte acenou afirmativamente eos dois amigos dirigiram-se para a casa doFeiticeiro após matarem a sede.

Depois de uma caminhadalonga e cansativa, os dois chegaram à casado Feiticeiro e explicaram-lhe ao quevinham. Depois de ouvi-los, o Feiticeirodeu uma gargalhada e disse:

- Isso é muito fácil. Voltemamanhã ao meio-dia e eu dar-vos-ei umaerva mágica. Ela fará com que os vossospescoços e as vossas pernas cresçam.Assim, poderão comer as folhas tenras das

acácias.No dia seguinte, só a Girafa

chegou à cabana na hora marcada.O Rinoceronte, que não era

lá muito esperto, encontrou um tufo deerva ainda verde e ficou tão contente quese esqueceu do compromisso. Cansado deesperar pelo Rinoceronte, o Feiticeiro deua erva mágica à Girafa e desapareceu. AGirafa comeu sozinha uma dose preparadapara dois. Sentiu imediatamente umasensação estranha nas suas pernas epescoço e viu que o chão estava a afastar-se rapidamente.

- Que engraçado! pensou aGirafa, fechando os olhos, pois começavaa sentir-se tonta.

Passado algum tempo abriulentamente os olhos. Como o mundo tinhamudado! As nuvens estavam mais perto eela conseguia ver longe, muito longe. AGirafa olhou para as suas longas pernas,moveu o seu pescoço longo e gracioso esorriu. À sua frente estava uma acácia bemverdinha… A Girafa deu dois passos ecomeu as suas primeiras folhas. Apósterminar a sua refeição, o Rinocerontelembrou-se do compromisso e correu omais depressa que pôde para a casa doFeiticeiro.

Tarde demais! Quando láchegou já a Girafa comia, regalada, asfolhas da acácia.

Quando o feiticeiro lhedisse que já não havia mais ervas mágicas,o Rinoceronte ficou furioso, pois pensouque tinha sido enganado e não que fora oseu enorme atraso que o tinhaprejudicado. Tão furioso ficou queperseguiu o Feiticeiro pela savana fora.

Diz-se que foi a partir dessedia que o Rinoceronte, zangado com aspessoas, as persegue sempre que vê umaperto de si.

Porque a girafa tem o pescoço comprido

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Há muito tempo, não havia zebras, mashavia muitos burros.

Os burros trabalhavam pesadotodos os dias.Não tinham tempo para brincar e nempara descansar, carregavam fardospesados o dia inteiro e os levavam porlongas distâncias, percebendo quenunca ninguém agradecia o trabalhoque realizavam.

Então, os burros foram ver umvelho sábio e contaram o seu problema.

O velho sábio pensou, pensou...Estava de acordo com os burros,

eles trabalhavam muito duro, então osábio quis ajudá-los.

De repente o velho sábio disse:– Tenho uma ideia:– Qual é a ideia? – perguntaram osburros.

– Vou pintá-los! – disse-lhes ovelho sábio – eu os pintarei e ninguémsaberá que são burros...

O velho sábio foi buscar as tintase regressou em poucos minutos comduas latas, uma cheia de tinta branca e aoutra com tinta preta.

O velho começou a pintá-los.Primeiro os pintou com tinta branca edepois desenhou as listras pretas sobrea tinta branca.

Quando terminou, os burros nãose pareciam mais com o que eram.

– Já não se parecem com burros,então vou chamá-los de zebras.

As zebras foram tranquilas pastarem um campo. Ninguém as atrapalhou enão precisaram trabalhar, ao invés disso

se deitaram na grama e adormeceram.Passado pouco tempo, outros

burros viram as zebras e lhesperguntaram de onde elas eram. Aszebras contaram então o segredo etodos os burros correram a ver o velhosábio.

– Faça-nos zebras também, porfavor... – pediram ao sábio.E assim o velho pintou mais e maisburros, quanto mais os pintava, maisburros apareciam.

Ele não conseguia trabalharmais depressa, e pronto, os burroscomeçaram a ficar impacientes,pisoteavam o chão com força, davamcoices e a bagunça se formou de talmaneira que derrubaram as latas detinta.

Acabou-se a pintura!Os burros pintados

correram a se juntar com as zebras e osoutros burros impacientes, tiveram quevoltar ao antigo trabalho.

Esta é a razão porqueburros e zebras habitam a Terra.

No entanto, esta também éa razão de saber por que a paciência éimportante.

Conto de Uganda

Porque as zebras têm listras

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Houve uma época em queos animais da floresta falavam todos amesma língua. A girafa gostava de sevangloriar dizendo que era a rainha dosbichos porque tinha o pescoço maiscomprido. Como era mais alta que osoutros, costumava ficar olhando para océu e conversando sozinha consigomesma.

Os outros bichos logocomeçaram a se irritar com essa maniada girafa, especialmente na hora em quetentavam tirar uma soneca depois doalmoço.

Irritados, começaram atraçar um plano para silenciar a chata dagirafa. O leopardo foi até a grandalhonae provocou:

- Você fica aí contandovantagem o dia inteiro, mas tem coisasque não sabe fazer.

A girafa, que era muitoatrevida, gritou:

- O que por exemplo?- Correr mais rápido do que

eu - desafiou o veloz leopardo.- Aceito - respondeu a

girafa, sem pestanejar. - Me avise a horae o lugar.

O dia da corrida foi logomarcado. O leopardo, certo que iavencer, convocou todos os animais dafloresta para vê-lo derrotar a grandona.Os bichos correram para se divertir etorcer pela derrota da girafa.

Assim que foi dada alargada, os dois saíram em disparada

lado a lado, mas logo o leopardo tomoua dianteira. Corria tanto que acabouchocando-se contra uma árvore e tevede abandonar a competição.

A bicharada ficou muitodecepcionada ao ver a girafa se tornarcampeã. Depois da vitória, ela ficou maisfaladora ainda.

Ninguém tinha maispaciência para aguentar aquele blá-blá-blá infindável. Até que o macaco, espertocomo ele só, resolveu dar um jeito naquestão.

Ele tirou um bocado deresina de uma árvore e misturou-a naramaria que a girafa costumava mastigar.Depois, escondeu-se, esperando afalastrona chegar para comer.

As folhas prenderam-se nocomprido pescoço da girafa e, por maisque ela tossisse e cuspisse, ficaramgrudadas em sua garganta, calando-apara sempre. Daí em diante seusdescendentes passaram a nascer semvoz.

Por que a girafa não tem voz

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Diz a lenda que os dedos eram muitoamigos.

Os quatro dedos e o polegar viviamjuntos em uma mão. Eram amigos inseparáveis.

Um dia, viram um anel de ouro ao ladodeles e planejaram pegá-lo. O polegar disse queseria errado roubar o anel, mas os quatro dedoso chamaram de moralista covarde e se recusarama serem seus amigos.

Pelo polegar estava tudo bem; ele nãoqueria ter nada a ver com a travessura deles e seafastou de seus amigos. É por isso, que o polegarainda está separado dos outros dedos.

O polegar íntegro

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Antigamente as aves viviam felizes nos campos e florestasafricanas, até que a inveja se instalou entre elas tornando insuportável aconvivência.

Nessa ocasião, quase todos os pássaros passaram a invejar a família doMelro, que era muito bonito. O macho, com sua plumagem negra e seu bicoamarelo –alaranjado, despertava em todos a vontade de ser igual a ele. Asfêmeas tinha o dorso preto, o peito pardo-escuro, malhado de pardo-claro, e agarganta com manchas esbranquiçadas. Elas causavam inveja maior ainda.

O Melro, vaidoso, certo de sua beleza, prometeu que se todas as aves oobedecessem usaria seus poderes mágicos e os tornaria negros com plumagembrilhante. Entretanto, os pássaros logo começaram a desobedecê-lo. Então ele,furioso, jurou vingança, rogou-lhes uma praga e deu-lhes cores e aspectosdiferentes.

Para a Galinha D’Angola, disse que seria magra e sentiria fraquezaconstante. Fez com que seu corpo se tornasse pintado assim como o de umleopardo. Dessa forma, seria devorada por aqueles felinos, que não suportariamver outro animal que tivesse o corpo tão belo, pintado de uma maneirasemelhante ao deles. Ela pagaria assim por sua inveja. E foi isso que aconteceu.

Desde esse dia a Galinha D’Angola, embora seja muito esperta e voe parafugir dos caçadores, vive reclamando que está fraca, fraca. Com suas perninhasmagras, foge com seu bando assim que surge algum perigo e é muito difícilalcançá-la. Suas penas, cinzas, brancas ou azuladas, são sempre manchadinhasde escuro tornando as galinhas D’Angola belas e cobiçadas.

Como surgiu a galinha D’Angola

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Certo dia, um rapaz viu uma rapariga muito bonita e apaixonou-sepor ela. Como se queria casar com ela, no outro dia, foi ter com os pais da raparigapara tratar do assunto.

— Essa nossa filha não fala. Caso consigas fazê-la falar, podes casarcom ela, responderam os pais da rapariga.

O rapaz aproximou-se da menina e começou a fazer-lhe váriasperguntas, a contar coisas engraçadas, bem como a insultá-la, mas a miúda nãochegou a rir e não pronunciou uma só palavra. O rapaz desistiu e Foi-se embora.

Após este rapaz, seguiram-se outros pretendentes, alguns com muitafortuna, mas, ninguém conseguiu fazê-la falar.

O último pretendente era um rapaz sujo, pobre e insignificante.Apareceu junto dos pais da rapariga dizendo que queria casar com ela, ao que ospais responderam:

— Se já várias pessoas apresentáveis e com muito dinheiro nãoconseguiram fazê-la falar, tu é que vais conseguir? Nem penses nisso!

O rapaz insistiu e pediu que o deixassem tentar a sorte. Por fim, ospais acederam. O rapaz pediu à rapariga para irem à sua machamba (plantação),para esta o ajudar a sachar (colher). A machamba estava carregada de muitomilho e amendoim e o rapaz começou a sachá-los.

Depois de muito trabalho, a menina ao ver que o rapaz estavadestruindo os produtos, perguntou-lhe:

— O que estás a fazer?O rapaz começou a rir e, por fim, disse para regressarem a casa para

junto dos pais dela e acabarem de uma vez com a questão. Quando aí chegaram, orapaz contou o que se tinha passado na machamba.

A questão foi discutida pelos anciãos da aldeia e organizou-se umgrande casamento.

A menina que não falava

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O cachorro, que todosdizem ser o melhor amigo do homem,vivia antigamente no meio do mato comseus primos, o chacal e o lobo.

Os três brincavam de correrpelas Campinas sem fim, matavam asede nos riachos e caçavam semprejuntos.

Mas, todos os anos, antesda estação das chuvas, os primos tinhamdificuldades para encontrar o quecomer. A vegetação e os rios secavam,fazendo com que aos animais da florestafugissem em busca de outras paragens.

Um dia, famintos eofegantes, os três com as línguas de forapor causa do forte calor, sentaram-se àsombra de uma árvore para tomaremuma decisão.

– Precisamos mandaralguém à aldeia dos homens paraapanhar um pouco de fogo- disse o lobo.

– Fogo?- perguntou ocachorro.

– Para queimara o capim ecomer gafanhotos assados - respondeu ochacal com água na boca.

– E quem vai buscar ofogo?- tornou a perguntar o cachorro.

– Você! - responderam olobo e o chacal, ao mesmo tempo,apontando para o cão.

De acordo com a tradiçãoafricana, o cão, que era o mais novo, nãoteve outro jeito, pois não podia

desobedecer a uma ordem dos maisvelhos. Ele ia ter que fazer a cansativajornada até a aldeia, enquanto o lobo eo chacal ficavam dormindo numa boa.

O cachorro correu e correuaté alcançar o cercado de espinhos epaus pontudos que protegia a aldeia dosataques dos leões. A notícia, e dascabanas saía um cheiro gostoso. Ocachorro entrou numa delas e viu umamulher dando de comer se distrair paraele pegar um tição.

Uma panela de mingau demilho fumegava sobre uma fogueira.Dali, a mulher, sem se importar com apresença do cão, tirava pequenasporções e as passava para uma tigela debarro.

Quando terminou dealimentar o filho, ela raspou o vasilhamee jogou o resto do mingau para o cão. Obicho, esfomeado, devorou tudo eadorou. Enquanto comia, a criança seaproximou e acariciou o seu pelo. Então,o cão disse para si mesmo:

– Eu é que não volto maispara a floresta. O lobo e o chacal vivemme dando ordens. Aqui não falta comidae as pessoas gostam de mim. De hojeem diante vou morar com os homens eajuda-los a tomar conta de suas casas.E foi assim que o cachorro passou a viverjunto aos homens. E é por causa dissoque o lobo e chacal ficam uivando nafloresta, chamando pelo primo fujão.

Porque o cachorro foi morar com o homem

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Há muito e muito tempohouve uma tremenda guerra entre as avese o restante dos animais que povoa asflorestas, savanas e montanhas africanas.Naquela época, o morcego, esse estranhobicho, de corpo semelhante ao do rato,mas provido de poderosas asas, levavauma vida mansa voando de dia entre asenormes e frondosas árvores à cata deinsetos e frutas.

Uma tarde, (...) foidespertado pelos trinados aflitos de umpassarinho:

- Atenção, todas as aves! Foideclarada a guerra aos quadrúpedes .Todos que têm asas e sabem voar devemse unir na luta contra os bichos queandam no chão.

O morcego ainda estava serefazendo do susto, quando uma hienapassou correndo e uivando aos quatroventos:

- E agora? – perguntou a simesmo o aparvalhado morcego. – Eu nãosou uma coisa nem outra.Indeciso, não sabendo a quem apoiar,resolveu aguardar o resultado da luta:

- Eu é que não sou bobo.Vou me apresentar ao lado que estivervencendo – decidiu.

Dias depois, escondido entreas folhagens, viu um bando de animaisfugindo em carreira desabalada,perseguidos por uma multidão de avesque distribuíam bicadas a torto e a direito.

Os donos de asas estavamvencendo a batalha e, por isso, ele vooupara se juntar às tropas aladas.

Uma águia gigantesca, aover aquele rato com asas, perguntou:

- O que você está fazendoaqui?

- Não está vendo que souum dos seus? Veja! – disse o morcegoabrindo as asas. – Vim o mais rápido quepude para me alistar – mentiu.

- Oh queira me desculpar –falou a desconfiada águia. – Seja bem-vindo à nossa vitoriosa esquadrilha.

Na manhã seguinte, osanimais terrestres, reforçados por umamanada de elefantes, reiniciaram a luta ederrotaram as aves, espalhando penaspara tudo quanto era lado.

O morcego, na mesma hora,fechou as asas e foi correndo se unir aoexército vencedor.

- Quem é você? – rosnou umleão.

- Um bicho de quatro patascomo Vossa Majestade – respondeu ofarsante, exibindo os dentinhos afiados.

- E essas asas? – interrogouum dos elefantes. – Deve ser um espião.

- Fora daqui! – berrou opaquiderme erguendo a poderosa trombanum gesto ameaçador.

O morcego, rejeitado pelosdois lados, não teve outra solução passoua viver isolado de todo mundo, escondidodurante o dia em cavernas e lugaresescuros.É por isso que até hoje ele só voa denoite.”

Por que será que o morcego só voa de noite

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Esta história é do tempo em que o porcomorava com o dentuço do seu tio, ojavali, lá no meio da mata africana.

Os dois passavam as manhãs, alegres edespreocupados, fuçando o chão embusca de frutas e raízes. À tardinha,depois de ficarem horas e horas sebanhando e chafurdando na águas dosinumeráveis rios que cortam aprofundeza da selva, regressavam àcasa, situada no oco de uma árvoremuito velha, para tirarem uma longasoneca.

O javali adorava a vida ao ar livre. Graçasaos seus pontiagudos e afiados dentes,não era incomodado, nem mesmo pelopoderoso rei da selva: o leão, que otratava com todo respeito.

Mas o porco, muito preguiçoso, viviareclamando de tudo. Um dia, ele chegouperto do tio e anunciou:- Eu quero morar na aldeia dos homens.- O quê?- respondeu o surpreso javali. –As pessoas que moram naquelasestranhas cabanas cobertas de palhanão gostam de bichos. Vão te prender. –avisou.- Estou cansado de comer só frutas eraízes todos os dias - protestou o porco.- Não faça isso, sobrinho pediu o javali. –Aqui nós vivemos em liberdade e junto ànatureza - aconselhou o mais velho.

O porco, que vivia sonhando saborear asguloseimas dos caldeirões fumegantesdas mulheres, não deu ouvidos àsadvertências do tio e partiu no diaseguinte.

A viagem até a aldeia dos homens foilonga, penosa e cheia de perigos. Mas oguloso, farejando a comida no ar, acabouchegando a um grande povoado.

As crianças do vilarejo, assim queavistaram o animal, foram correndochamar os adultos. Os homens, armadosde paus e porretes, pegaram o pobre doporco e o colocaram dentro de umcercado.Desde esse dia ele vive preso nochiqueiro comendo restos de comida e,lamentando a sua sorte, choraminga diae noite:- Bem que meu tio disse para eu não virpara a aldeia dos homens.

Porque o porco vive no chiqueiro

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Há muitas e muitas luas, a lebre e o camaleão eram amigosinseparáveis.

Naquele tempo, o interior da África era percorrido a pé por longascaravanas. Todos carregavam pacotes e cestos à cabeça, repletos de cera eborracha, que trocavam por panos nas vendas dos comerciantes brancos nas vilassituadas junto ao mar.

A lebre e o camaleão, tão logo ouviam o cântico e o alarido doscarregadores, se arrumavam rapidamente para seguir atrás dos homens.

Os dois gostavam de fazer negócios também e, com suas pequenastrouxas, marchavam na retaguarda das alegres comitivas. Os carregadores traziamguizos e campainhas presos aos tornozelos, fazendo uma barulheira infernal, queservia para afugentar as feras selvagens do caminho.

A lebre, sempre apressada, fazia tudo correndo. Assim que chegava àloja do homem branco, trocava rapidinho sua cera por tecidos multicolores e diziapara o camaleão:

– Já estou indo - e sumia pela mata afora.O camaleão, muito calmo, respondia:– Não tenho pressa - e regressava lentamente para a imensa floresta.A lebre, atrapalhada ia perdendo, pelos atalhos, os tecidos que

conseguia, por causa de sua correria.É por essa razão que a apressadinha anda até hoje vestida com um

pano cinzento, sujo e desbotado.O lento e responsável camaleão juntou muitos tecidos das mais

variadas tonalidades, e é por isso que ele pode trocar de cor a toda hora.

Porque o camaleão muda de cor