Conto parte 3

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Alicia superou a tristeza da perda e esta vivendo bem com sua Avó Nona. Mas como sempre, uma notícia tira toda sua calma... seu pai tem uma namorada e parece que a coisa é séria.

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PARTE TRES

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Texto e Capa: Dayla Assuky 2013

Já se passaram quatro anos que Alicia esta morando com

sua Avó. Seu pai não a visitava mais a cada quinze dias por ser

um trajeto longínquo. As visitas se tornaram raras, apenas em

feriados e férias. Aparentemente Oslávo esta mais feliz. Quando

visitava a filha a levava em parques, eventos e na casa de outros

parentes próximos.

No feriado do dia das crianças Alicia sempre fica na

expectativa dos presentes que vai ganhar. Neste feriado, seu

presente foi diferente. Após um almoço bem preparado pela vovó

Nona seu pai a chamou para conversar no quintal atrás de casa. A

mocinha sentou-se no balanço sorrindo, curtindo o momento

agradável e tão esperado com o pai.

Capitulo 7

Uma noticia desagradável

Oslávo entregou a jovem um embrulho retangular todo

desenhado com rosas e fitas. Sabendo que era seu presente

Alicia bateu palmas de animação e deu um forte abraço em seu

pai. Ao abrir o presente percebeu ser um livro todo ilustrado como

os que ela sempre gostou de ler. Enquanto empolgada folheava

as páginas notou que seu pai a admirava como se tivesse algo

mais a dizer. Por isso a jovem fechou o livro e encarando-o nos

olhos perguntou um pouco hesitante.

– Pai... Tem alguma coisa que precisa me dizer? Você está

sério... – seus olhos ficaram serrados aguardando uma resposta.

– Bem... – O pai ajoelhou-se e segurou as mãos da jovem –

Sim, tenho algo muito importante a dizer.

– Então fala! Não me deixe ansiosa.

– Bom... Eu comecei a namorar uma moça do trabalho – ao

ouvir isso Alicia virou o rosto de lado e jogou seu olhar para o

chão.

– É – respondeu ela com uma voz melancólica – Eu sabia

que isso ia acontecer um dia.

– Você não vai me perguntar como ela é?

– Um dia eu vou ter que conhecer ela não é? Então deixa

para quando esse dia chegar. Não tenho curiosidade.

Oslávo sentiu que a conversa estava desagradável para

Alicia e que era melhor parar. Não queria estragar um dia tão bom

que estava tendo com a filha. Para mudar o humor de Alicia,

Oslávo se levanta e faz um convite.

– O que acha de irmos à sorveteria? Você pode levar sua

amiga Mari.

– Tudo bem... – respondeu sem levantar a cabeça – Eu vou

chamar ela.

Alicia se levantou e entrou na casa deixando o livro sobre o

assento do balanço. Seu pai cabisbaixo pegou o livro e o levou

com sigo para dentro de casa.

Três meses depois da conversa desagradável que Alicia

teve com seu pai sobre a tal namorada do trabalho, Oslávo veio

visitar a filha. Mas desta vez não veio só, trouxe a mulher, sua

namorada.

Ao ouvir o barulho de carro estacionando na frente de casa

dona Nona que estava na sala assistindo televisão levantou-se e

foi até a janela. Assim pode ver que seu filho chegará, viu também

uma mulher magra, vestia em um vestido tipo tubinho preto com

detalhes prateados descer do carro, calçava sapato de salto bem

fino e alto. Seus cabelos curtos e extremamente lisos brilhavam

um tom azulado ao sol, era de um preto escuro e saudável.

Alguns minutos depois Alicia chega com o uniforme da

escola e a mochila nas costas, passa em frente ao carro parado e

suspira – Ah droga, é hoje... – pensa ela.

Capitulo 8

Não gostei dela

Seus passos são mais lentos e arrastados ao subir os

degraus da pequena escada e então para diante da porta sem

conseguir segurar a maçaneta. Está muito receosa – E se eu não

gostar dela? E se ela tentar me obrigar a ser gentil? E se o clima

ficar chato? O que eu faço? – pensava.

Quando finalmente decidiu dar as costas e ir embora para a

casa de Mari a porta se abriu e vovó Nona apareceu.

– Mas menina, porque não entrou?

Alicia se espantou e foi difícil explicar gaguejando.

– Q-que susto vó! Eu já ia entrar eu só estava... pensando.

Nona cruzou os braços.

– Pensando em fugir né?...

– Ah, eu não ia fugir vó!

– Alicia, não minta para mim.

A menina de boca aberta ficou sem nada dizer, como se as

palavras que vinham tivessem voltado contra sua vontade. Então

percebendo que não adiantava tentar inventar nada, resolveu

dizer a verdade.

– Eu só não queria ter que vê-la. Ainda não...

– Eu sei minha criança – avó Nona enroscava os cachos de

Alicia em seus dedos – Você não precisa se obrigar. Se não quer

vê-la, pode subir para o seu quarto. Mas uma hora vocês terão de

se esbarrar, eles vão ficar aqui uma semana inteira. Então se

prepare.

Alicia arregalou os olhos.

– Uma semana inteira vó Nona?!

– Sim, sete dias...

– Oh droga! Pra que isso?

– Seu pai acha que seria interessante se vocês passarem

um tempo juntas, para se conhecerem melhor.

– Vocês quer dizer: eu e a tal mulher?

– Lamento que sim.

– Oh droga tripla! Ai vovó, vai ser uma porcaria de semana...

– Imagino. Por isso eu digo. Se prepare meu bem. Vá tomar

um banho e descansar, quando estiver pronta pode descer.

Alicia abraçou a avó e lhe deu um beijo terno na bochecha.

– Obrigada vó Nona, o que seria de mim sem a senhora?

– Eu sei, a vovó é demais! – ria para tentar distrais a menina

que sorria em resposta.

Ao passar pela avó, Alicia ouviu a voz da mulher. Era uma

voz melosa, doce demais ao gosto dela – Já não gostei dela! –

disse baixinho. Mas talvez isso fosse pela raiva que estava

sentindo junto com o medo de encontrá-la. Subiu rapidamente as

escadas e se trancou em seu quarto.

Por mais que a jovem fugisse de se encontrar com a mulher,

como disse vó Nona: “Uma hora, vocês vão se esbarrar”. E assim

foi.

Durante os dois primeiros dias, Alicia conseguiu evitar a tal

mulher. Vovó Nona trazia o café da manhã para a jovem na cama.

Logo após comer Alicia se arrumava e saia para a casa da Mari,

sua amiga. Lá ela almoçava, jantava e voltava bem tarde, apenas

para dormir.

Isso estava sendo possível porque Nona pediu ao seu filho

e a tal mulher que dessem um tempo para Alicia se acostumar

com a idéia de outra mulher na vida de seu pai. Mas Oslávo

estava perdendo a paciência, pois achava que dois dias já era

demais. Por isso resolveu fazer as coisas ao seu modo.

Capitulo 9

O inevitável

Oslávo foi ao quarto de Alicia na manhã do terceiro dia e

bateu com delicadeza na porta. Alicia fingiu que dormia. Então

Oslávo bateu com força juntamente com uma voz mais áspera e

de ordem.

– Filha, abra já essa porta! Eu sei que está acordada.

Precisamos conversar.

Alicia sentou-se encostando as costas no apoio da cama.

Abraçada ao travesseiro e com olhar raivoso respondeu.

– Me deixa dormir pai! Eu não quero levantar agora.

– Isso é ridículo, filha! Você nem veio me dar um abraço

desde que cheguei, tudo para evitar Minerva. Quando é que você

vai deixar de ser mimada?

– Eu não sou mimada! Só não quero conhecer essa mulher!

Porque eu deveria conhecê-la? Que diferença faz isso na minha

vida? Ela não é nada minha. E nunca será!

– Alicia, estou perdendo a paciência com você. Já não é

mais tão pequena que não entenda as coisas. Já passou da hora

de aceitar o fato de que estou conhecendo uma mulher, que pode

se tornar sua mãe...

– NÃO! ELA JAMAIS SERÁ MINHA MÃE! Nunca!

– Pois fique sabendo, que você querendo ou não, estou

namorando com Minerva e vamos nos casar no final deste ano.

Alicia espanta-se e inclina o corpo para frente como se

tivesse recebido uma facada bem no peito. Fecha os olhos numa

dor interminável a qual nem consegue mais ouvir o restante do

que seu pai falava. Lagrimas veio aos seus olhos de enxurrada.

Chorava em silencio, algo que demonstrava o quanto havia

crescido, o como havia aprendido a guardar a dor dentro de si e

somente para si, em um grande bolo de amargura e desilusões.

A única coisa que ela conseguiu ouvir no final de tudo,

quando voltou a si foi: “Vamos nos casar neste final de Ano... e

você virá morar conosco!”

– NÃO! – gritava Alicia – NÃO, NÃO, NÃO! Eu não vou

morar com vocês! Vou morar aqui, com minha avó. Eu não vou

com vocês! – atirou seu travesseiro na porta com força, e se

enrolou toda debaixo do cobertor.

– Não me importa se é sua vontade ou não. Eu decidi. Você

precisa de uma mãe, estou te dando Minerva, uma mulher amável

que você sequer se deixou conhecer. E não terá escolha, irá

morar conosco perto de onde trabalho e ponto final. Uma hora

você vai ter de sair daí, e vamos conversar face a face – então o

pai saiu nervoso, batendo os pés com força no chão,

determinado.

Alicia se levantou da cama, pegou o travesseiro e gritou

com todo o seu ar sufocado, assim como vó Nona a ensinou fazer

quando a raiva dominava seu corpo. Mordia e batia o travesseiro.

Até cansar-se e cair sobre a sua cama exausta e com mais fome

do que já estava. Pois vó Nona foi proibida de levar o café da

manhã para ela.

Era inevitável. Uma tartaruga pode viver dentro de seu

casco por muito tempo, toda escondida como Alicia dentro de seu

quarto. Mas uma hora ou outra, a tartaruga tem que colocar sua

cabeça para fora se quiser se alimentar, expondo-se. Alicia

estava com uma baita fome, pois já era quatro horas da tarde e

seu estomago rugia. Ela sentia a necessidade de “por a cabeça

para fora” expor-se, para se alimentar.

Ao abrir a porta delicadamente, espiou para ver se alguém a

aguardava e tudo parecia quieto no corredor. Na ponta dos pés

saiu pisando leve, até chegar às escadas. Começou a descer

degrau por degrau. A sala estava vazia e tudo estava demasiado

quieto. O que lhe dava uma sensação aliviada e ao mesmo tempo

temerosa. Inexplicável como dois opostos podem coexistir num

mesmo ser.

Ao terminar de descer as escadas deu um suspiro e seguiu

caminho até a cozinha que também estava vazia. Foi à geladeira

e encheu um copo de leite gelado, colocou achocolatado, pegou

um pão do saco de pães e comeu molhando-o dentro do leite. Era

simplesmente delicioso, simples, mas delicioso para quem

estava passando por muita fome como ela.

Capitulo 10

Decisão difícil

Quando estava quase no final do seu leite, ela ouviu o

barulho de seu balanço. Um gemido de ferro meio enferrujado

precisando de óleo lubrificante. Devagar a jovem andou até a

janela da cozinha que dava para o quintal dos fundos. Observou

seu pai triste sentado sobre o balanço, balançando-se devagar e

deprimido. Sentiu um pesar em seu pequeno coração. Sabia que

a culpa era sua, por ser tão intransigente em não aceitar conhecer

a tal mulher. Suspirou, desta vez de pesar; e deixando o copo na

pia, foi em direção a seu pai.

– Pai... – parecia um sussurro.

Oslávo levantou a cabeça para encarar a filha. Mas não

respondeu.

– Eu... – continuou a menina – Eu não queria mesmo uma

nova mãe. Acho que... acho que isso é porque não quero

esquecer minha antiga mãe. Mesmo assim, eu não quero que

fique triste. Então... se é tão importante para você que eu conheça

essa Minerva. Vou conhecê-la. Mas deixe-me decidir se irei ou

não morar com vocês.

Oslávo sorriu não crendo no que ouvira. Se levantou do

balanço e abraçou Alicia com muito carinho.

– Minha filha querida... Desculpa por ser tão duro. Você

cresceu bastante, coisa que nem vi acontecer direito. Esta uma

moça linda e sábia.

Alicia riu-se.

– Para pai! Ta me paparicando. Exagerado.

Mas quando seu pai levantou a cabeça com lagrimas nos

olhos o coração da menina afrouxou-se, percebia o como era

importante para seu pai que ela aceitasse a tal mulher. O como

ele amava Minerva. A jovem engoliu em seco e uma sensação de

culpa enorme caiu sobre seus ombros, fazendo sentir-se na

obrigação de tolerar aquilo. Aceitar, talvez não. Mas tolerar, por

seu pai, por seu amor ao seu pai. E assim foi.

No jantar Alicia arrumou-se como se fosse sair, havia

chamado Mari que sentava-se ao seu lado. Estava ansiosa.

Anteriormente não, pois nem queria ver a tal mulher. Mas como

havia decidido tolerar a situação, queria ver logo o que poderia

esperar pela frente. Um primeiro encontro nem sempre nos diz

sobre quem é uma pessoa, normalmente o tempo é quem diz.

Mas em alguns casos, isso é tão claro como água. Não precisa de

premonição, apenas boa observação.

A mesa estava posta, vovó Nona estava calada, coisa

anormal. Não quis responder quando Alicia havia perguntado sua

opinião sobre a namorado do pai. Disse: “Você mesma tem de

julgar, não cabe a eu pregar rótulos nas pessoas”. Isso já havia

deixado a jovem desconfiada, afinal, vó Nona era extremamente

falante e não escondia sua opinião sobre nada. Falava até sobre

as pessoas da novela como se fossem reais.

O momento chegou, pois Alicia ouviu a porta da sala se abrir

e passos vindos para a cozinha. Seu pai entrou segurando a mão

de uma moça nova com ar de empresária, com cabelos tão

sedosos que pareciam saídos de um comercial de Shampoo.

Ela era linda! Lembrava uma Barbie. Mas, algo... algo

estava errado nela. Alicia tentou segurar seu olhar examinador,

mas não deu. Ao ignorar toda a sua beleza, Alicia se colocou a

examinar os traços do seu olhar, era vidrante, aparentemente

malicioso. Lembrou-lhe as cobras que viu no livro de ciências da

escola. Seu andar era elegante, mas sinuoso... tudo naquela

mulher era sinuoso. Era como se nela algo estivesse escondido,

muito bem escondido e Alicia precisava saber o que era.

Minerva sorrindo aproximou-se de Alicia que continuava

imóvel a examinando e buscando em sua mente coisas as quais

pudesse comparar com aquela mulher. O que lhe vinha a mente

eram todos animais peçonhentos, perigosos. Ao ser tocada de

leve no braço por Minerva, Alicia deu um pequeno tremor, era

como se Minerva a tivesse picado com os dentes venenosos de

cobra que a jovem via nela. Mas isso a fez despertar.

Seu olhar era assombrado. Minerva era para ela como um

fantasma, uma criatura da noite, destas que fazem a gente tremer

só de imaginar deparar-se com elas.

– Então você é a pequena Alicia? – perguntou Minerva já

sabendo a resposta. Alicia estava pronta para correr, mas ao

olhar seu pai com feições de alegria e expectativa, desarmou-se.

– É... sou eu – respondeu por fim sem espírito.

Minerva acariciou suas bochechas o que fez Alicia fechar os

olhos com expressão enojada, mas firme.

Minerva se endireitou e sorriu.

– Você é linda! – mas em seu olhar tinha uma nuvem

ardilosa. Era como se estivesse dizendo o contrário por dentro,

como se a tivesse odiado.

Capitulo 11

Encontro

Minerva voltou e sentou-se ao lado de Oslávo. Quando

Alicia virou-se para Mari sua expressão era bem clara. Não havia

gostado dela. As duas tinham muita cumplicidade. Ao olhar para

sua avó, esta não lhe correspondeu o olhar. Apenas virou-se para

a pia lavando louça imaginária dentro dela. “Vó Nona não quer

que eu perceba algo” pensou a jovem.

Durante o jantar Oslávo falou sobre os novos planos com

respeito ao casamento todo animado falou também sobre os

vestidos que iria mandar fazer para sua filha e Mari que seriam as

daminhas de honra.

Alicia nada falou com “um a mais”. Respondia curtamente o

que lhe perguntavam da forma mais rápida que podia. E evitava

encarar Minerva, pois sem saber exatamente o porquê, seu corpo

sentia medo dela. Quando seus olhares se batiam por acidente,

Minerva reluzia algo como antipatia disfarçada de simpatia.

O jantar acabou, as crianças deixaram os adultos na mesa e

saíram para o quinta de trás da casa. Era noite e estava iluminado

com o luar e as lâmpadas artificiais.

Elas andaram até o balanço. Mari sentou-se nele, enquanto

Alicia sentou-se no chão, observava uma mariposa pequena

bater contra a luz da lâmpada e cair desorientada. Novamente ia

até a luz e novamente caia desorientada. Então encarou Mari que

a olhava com uma interrogação no rosto e disse da forma mais

adulta que conseguia dizer.

– Sabe Mari, essa mariposa sou eu...

Continua na parte 4...