Contexto filosófico PI

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Contexto filosófico em reação a sociedade: ALIENAÇÃO - A palavra alienação vem do latim alienus, que veio a dar “alheio”, significando "o que pertence a um outro". No domínio estritamente filosófico, o tema da alienação é trazido para primeiro plano por Hegel e retomado, posteriormente, por Feuerbach, por Marx. Tanto em Marx quanto em Hegel, alienação está ligada ao trabalho. Para Hegel, o trabalho é a essência do homem, quer dizer, é somente por meio de seu trabalho que o homem pode realizar plenamente suas habilidades em produções materiais. Alienação, para Marx, tem um sentido negativo (em Hegel, é algo positivo) em que o trabalho, ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. Hoje em dia há a tendência para utilizar o termo nos mais variados domínios, dando-lhe o significado extremamente lato de todo o processo mediante o qual o homem deixa de ser autônomo, de ser dono de si mesmo, para se tornar propriedade (escravo) de um outro – algo ou alguém - que por ele decide acerca da sua vida. É precisamente nesse sentido que se fala na “alienação” provocada pela ideologia, pela droga, pelo materialismo, etc. A divisão do trabalho e acumulação de capital, que, juntos, formam a base de uma sociedade capitalista, são também as fontes de alienação moderna, segundo Marx, por meio das quais se constitui um sistema de dominação, segundo podemos ler nesse trecho do livro: Nós ganhávamos três mil e quinhentos por dia e parecíamos satisfeitos. Ríamos e pilheriávamos. No entanto nenhum de nós conseguia economizar um tostão que fosse. A despensa levava todo nosso saldo. A maioria dos trabalhadores devia ao coronel e estava amarrada à fazenda. Também quem entendia as contas de João Vermelho, o despenseiro? Éramos todos analfabetos. Devíamos... Honório devia mais de novecentos mil-réis e agora nem podia se tratar. Um impaludismo crônico quase o impedia de andar. Assim mesmo partia às seis horas da manhã para podar as roças, depois de comer um prato de feijão com carne seca. Era um tipo curioso aquele Honório. Preto, forte, alto, brigão, estava na fazenda há quase dez anos. Um bom camarada, capaz de se sacrificar pelos outros. Apesar dele dever muito, o coronel o conservava.” ( Cacau/pag. 6 ). www.lusosofia.net Título: Alienação Autor: Joaquim Mateus Paulo Serra Coleção: Artigos LUSOSOFIA. Universidade da Beira Interior Covilhã, 2008. Ideologia - Há vários sentidos para a palavra ideologia. Em sentido amplo, é o conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão. Quando perguntamos qual é

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Contexto filosófico em reação a sociedade:

ALIENAÇÃO - A palavra alienação vem do latim alienus, que veio a dar “alheio”, significando "o que pertence a um outro". No domínio estritamente filosófico, o tema da alienação é trazido para primeiro plano por Hegel e retomado, posteriormente, por Feuerbach, por Marx. Tanto em Marx quanto em Hegel, alienação está ligada ao trabalho. Para Hegel, o trabalho é a essência do homem, quer dizer, é somente por meio de seu trabalho que o homem pode realizar plenamente suas habilidades em produções materiais. Alienação, para Marx, tem um sentido negativo (em Hegel, é algo positivo) em que o trabalho, ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. Hoje em dia há a tendência para utilizar o termo nos mais variados domínios, dando-lhe o significado extremamente lato de todo o processo mediante o qual o homem deixa de ser autônomo, de ser dono de si mesmo, para se tornar propriedade (escravo) de um outro – algo ou alguém - que por ele decide acerca da sua vida. É precisamente nesse sentido que se fala na “alienação” provocada pela ideologia, pela droga, pelo materialismo, etc.

A divisão do trabalho e acumulação de capital, que, juntos, formam a base de uma sociedade capitalista, são também as fontes de alienação moderna, segundo Marx, por meio das quais se constitui um sistema de dominação, segundo podemos ler nesse trecho do livro: “Nós ganhávamos três mil e quinhentos por dia e parecíamos satisfeitos. Ríamos e pilheriávamos. No entanto nenhum de nós conseguia economizar um tostão que fosse. A despensa levava todo nosso saldo. A maioria dos trabalhadores devia ao coronel e estava amarrada à fazenda. Também quem entendia as contas de João Vermelho, o despenseiro? Éramos todos analfabetos. Devíamos... Honório devia mais de novecentos mil-réis e agora nem podia se tratar. Um impaludismo crônico quase o impedia de andar. Assim mesmo partia às seis horas da manhã para podar as roças, depois de comer um prato de feijão com carne seca. Era um tipo curioso aquele Honório. Preto, forte, alto, brigão, estava na fazenda há quase dez anos. Um bom camarada, capaz de se sacrificar pelos outros. Apesar dele dever muito, o coronel o conservava.” ( Cacau/pag. 6 ).

www.lusosofia.netTítulo: AlienaçãoAutor: Joaquim Mateus Paulo SerraColeção: Artigos LUSOSOFIA. Universidade da Beira InteriorCovilhã, 2008.

Ideologia - Há vários sentidos para a palavra ideologia. Em sentido amplo, é o conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão. Quando perguntamos qual é a ideologia de determinado pensador, estamos nos referindo à doutrina, ao corpo sistemático de idéias e ao seu posicionamento interpretativo diante de certos fatos. É nesse sentido que falamos em ideologia liberal ou ideologia marxista. O conceito de ideologia tem outros sentidos mais específicos, elaborados por autores como Destutt de Tracy, Comte, Durkheim, Weber, Manheim. Mas é sobre tudo com Marx que a explicitação do conceito enriqueceu o debate em tomo do assunto e de sua aplicação. Para ele, diante da tentativa humana de explicar a realidade e dar regras de ação, é preciso considerar também as

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formas de conhecimento ilusório que levam ao mascaramento dos conflitos sociais. Segundo a concepção marxista, a ideologia adquire um sentido negativo, como instrumento de dominação. Por exemplo, quando dizemos que "o trabalho "dignifica o homem", estamos diante de uma afirmação difícil de ser contestada: o homem se distingue do animal pelo trabalho, com o qual humaniza a natureza e a si mesmo. No entanto torna-se um conceito ideológico quando se trata de uma abstração, ou seja, toda vez que considerarmos apenas a idéia de trabalho, independentemente da análise da situação concreta e particular da realidade histórico-social em que os operários realizam esse trabalho. Nesse caso, o que descobrimos é exatamente o contrário: o embrutecimento e a reificação ("coisíficação") do homem, e não a valorização da sua dignidade, como no diálogo entre José Cordeiro e Mária a filha do coronel:

“Ela tomou do papel e leu. Reconheceu:

– Pedido de colaboração para um anuário daqui. Eu estou com vontade de fazer urna descrição da fazenda...

– Boa idéia.

– ... das festas, da beleza das roças, da vida boa vocês...

– Boa?

– E então, é má?

– É péssima.

– Vocês têm casa, comida, roupa e saldo.

– Raras vezes.

– Acham isso pouco?

– Bastaria à senhorita?

– Você é ousado. Com que direito me interroga?

– A senhorita vai escrever sobre a nossa vida e eu não quero que a senhorita seja desonesta.

– Procure seu lugar...

– Se esse anuário publicasse eu também ia escrever uma coisa sobre a nossa vida.” ( Cacau/pag.72 ).

E na página seguinte :

“– Você não é igual a eles... Como veio parar aqui?

– Nós todos somos iguais. Somos todos explorados...

– Não seja tolo. – Enraivecia-se. – Vocês também odeiam a gente sem saber se há bons e maus.

Eu contei-lhe a minha história, que ela ouviu silenciosa.

Concluí:

– Como vê, senhorita, sou igual a todos eles. Nós somos uma laia à parte. Eu vim de gente boa. Hoje, porém, sou inteiramente deles e estou contente com isso.

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– Com passar mal?

– Não vale a pena ser rico. E quem sabe se um dia isso mudará...

– Você é socialista?

– Não conheço essa palavra.

Não conhecia, de fato. Mária não explicou. Talvez ela mesma não soubesse o que significava perfeitamente.

– Você não pensa como Algemiro, em enriquecer?

– Não.

– Por quê?

– Porque não sei explorar trabalhadores.” (Cacau/pag. 73 )

www.textosfilo.blogspot.com

Marlene Santosi – professora de filosofia/SP

Referência: (Marilena Chauí, livro - O que é ideologia. p. 113.)

Associativismo - O termo associativismo deriva de associações, pois remete ao sentimento que os associados devem compartilhar, de repartir os dividendos e ajudar-se nas dificuldades.

A convivência associativa exige das pessoas regras e comportamentos universais, na medida em que bens e costumes são compartilhados. As associações somam serviços, atividades e conhecimentos na busca de um mesmo conjunto de interesses e podem ser formais, legalmente organizadas, ou informais, sem valor legal.

Neste sentido, consensualmente, os direitos e deveres são iguais, permitindo que seus associados atinjam objetivos maiores e de forma mais rápida do que se estivessem trabalhando sozinhos, já que as pessoas desenvolvem o seu trabalho em equipe.

www.algosobre.com.br

Aucélio gusmão – associativismo e participação.

www.projetos.unioeste.br

Projeto Gerart 2009 – pag. 01

VASCONCELOS, E. P. L. Associativismo e cooperativismo: conhecer e participar. Belo Horizonte: EMATER - MG, sd.

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Podemos identificar esse comportamento em algumas passagens do livro, que ilustram nitidamente o compartilhamento de sofrimentos e de esperança por uma melhor condição de vida e trabalho:

”Ninguém reclamava. Tudo estava certo. A gente vivia quase fora do mundo e a nossa miséria não interessava a ninguém. A gente ia vivendo por viver. Só muito de longe surgia a idéia de que um dia aquilo podia mudar. Como, não sabíamos. Nós todos não poderíamos chegar a fazendeiros. Em mil, um enriquecia. Na Fazenda Fraternidade só Algemiro conseguira alguma coisa. O coronel comprara para ele uma roca que valia uns trinta contos e que ele pagava com as safras. Como havíamos pois de sair daquela situação de miséria? Pensávamos nisso às vezes. Colodino principalmente.

Honório afirmava:

– Um dia eu mato esses coronéis todos e a gente divide isso. Nós ríamos. E não sei por que a riqueza não nos tentava muito. Nós queríamos um pouco mais de conforto para a nossa bem grande miséria. Mais animais do que homens, tínhamos um vocabulário reduzidíssimo onde os palavrões imperavam. Eu, naquele tempo, como os outros trabalhadores, nada sabia das lutas de classes. Mas adivinhávamos qualquer coisa.”

( Cacau – pag. 32,33 )