Contemporânea número 02 - agosto de 2012

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1 CONTEMPORÂNEA Nesta edição: NÚMERO AGOSTO 2012 02 PROSSEGUINDO COM A quase REVISTA Em seu segundo número, Contemporânea, nossa quase revista, segue seu propósito de colocar ideias em movimento. São sete os textos. Em Arte e Crítica podemos ler um comentário de Michelle Gonçalves sobre o filme Cheyenne This Must Be The Place (Aqui é o meu lugar), de Paolo Sorrentini, em que Sean Penn incorpora as diabrites de um rockstar anacronicamente gótico a reconstruir uma memória que ele ainda não conhece. Em Cultura do Futebol temos duas contribuições. A primeira é de Mozart Maragno, cujo tema é o lugar e as expectativas que o futebol encontra no imaginário e nas demandas nacionais no contexto dos Jogos Olímpicos. Logo após publicamos a primeira resenha de Contemporânea, de Carlus Augustus Jourand Correia, sobre o livro O Jogo da Minha Vida: história e reflexões de um atleta, de Paulo André, zagueiro do atual campeão da Copa Libertadores da América, O Corinthians Paulista. Carlus mostra as ambiguidades do discurso nativo, apontando também em sua fecundidade como fonte histórica e sociológica. Política e Sociedade reúne três contribuições, todas sobre os Jogos Olímpicos. A primeira, escrita por mim, é uma reflexão sobre os Jogos como fenômeno contemporâneo, nascentes junto com os primeiros suspiros do que Eric Hobsbawm chamou de short century, mas em movimento que se atualiza em tempos em que tudo parece ser imagem. Wagner Camargo comenta o desempenho brasileiro nos Jogos de Londres, analisando-os nos termos das posições geopolíticas das nações olímpicas, dos investimentos nacionais e das expectativas que temos sobre o sucesso e o fracasso de nossos atletas. Finalizando esta seção, Michelle Gonçalves narra uma experiência como espectadora presente nas últimas Olimpíadas, mostrando como o prazer sensorial corresponde, em certa medida, àquele identificado por Hans Ulrich Gumbrecht, o de fruir a beleza dos esportes. Educação recebe um breve texto meu sobre a importância da educação infantil para a formação das crianças, em especial no que se refere, no interesse desta consideração, à formação para a vida pública e ao combate contra todo tipo de obscurantismo. Contemporânea segue recebendo textos, sempre procurando conversa livre, a boa polêmica, o livre pensamento. Sintam-se convidados a ler, criticar, escrever. Ilha de Santa Catarina, 20 de setembro de 2012. Alexandre Fernandez Vaz Arte e Crítica CHEYENNE THIS MUST BE THE PLACE Michelle Carreirão Gonçalves Cultura do Futebol FUTEBOL EM SUA FACETA "GENI" Mozart Maragno RESENHA: BENINI, Paulo André Cren. O Jogo da Minha Vida: história e reflexões de um atleta. São Paulo: Leya, 2012 Carlus Augustus Jourand Correia Política e Sociedade OLIMPÍADAS Alexandre Fernandez Vaz POLÍTICA ESPORTIVA, MEDALHAS E UMA GEOPOLÍTICA À BRASILEIRA Wagner Xavier de Camargo LONDRES 2012: UMA EXPERIÊNCIA OLÍMPICA Michelle Carreirão Gonçalves Educação EDUCAÇÃO INFANTIL: CARÁTER PÚBLICO E FORMAÇÃO ILUMINISTA Alexandre Fernandez Vaz Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea http://nucleodeestudosepesquisas.blogspot.com.br/ [email protected] 1

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CONTEMPORÂNEA

Nesta edição:

NÚ ME RO

A G OS T O 2 01 2

02

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PROSSEGUINDO COM A quase REVISTA

Em seu segundo número, Contemporânea, nossa quase revista, segue seu propósito de colocar ideias em movimento. São sete os

textos. Em Arte e Crítica podemos ler um comentário de Michelle Gonçalves sobre o filme Cheyenne – This Must Be The Place (Aqui

é o meu lugar), de Paolo Sorrentini, em que Sean Penn incorpora as diabrites de um rockstar anacronicamente gótico a reconstruir

uma memória que ele ainda não conhece.

Em Cultura do Futebol temos duas contribuições. A primeira é de Mozart Maragno, cujo tema é o lugar e as expectativas que o

futebol encontra no imaginário e nas demandas nacionais no contexto dos Jogos Olímpicos. Logo após publicamos a primeira

resenha de Contemporânea, de Carlus Augustus Jourand Correia, sobre o livro O Jogo da Minha Vida: história e reflexões de um

atleta, de Paulo André, zagueiro do atual campeão da Copa Libertadores da América, O Corinthians Paulista. Carlus mostra as

ambiguidades do discurso nativo, apontando também em sua fecundidade como fonte histórica e sociológica.

Política e Sociedade reúne três contribuições, todas sobre os Jogos Olímpicos. A primeira, escrita por mim, é uma reflexão sobre

os Jogos como fenômeno contemporâneo, nascentes junto com os primeiros suspiros do que Eric Hobsbawm chamou de short

century, mas em movimento que se atualiza em tempos em que tudo parece ser imagem. Wagner Camargo comenta o

desempenho brasileiro nos Jogos de Londres, analisando-os nos termos das posições geopolíticas das nações olímpicas, dos

investimentos nacionais e das expectativas que temos sobre o sucesso e o fracasso de nossos atletas. Finalizando esta seção,

Michelle Gonçalves narra uma experiência como espectadora presente nas últimas Olimpíadas, mostrando como o prazer

sensorial corresponde, em certa medida, àquele identificado por Hans Ulrich Gumbrecht, o de fruir a beleza dos esportes.

Educação recebe um breve texto meu sobre a importância da educação infantil para a formação das crianças, em especial no que

se refere, no interesse desta consideração, à formação para a vida pública e ao combate contra todo tipo de obscurantismo.

Contemporânea segue recebendo textos, sempre procurando conversa livre, a boa polêmica, o livre pensamento. Sintam-se

convidados a ler, criticar, escrever.

Ilha de Santa Catarina, 20 de setembro de 2012. Alexandre Fernandez Vaz

Arte e Crítica CHEYENNE – THIS MUST BE THE PLACE

Michelle Carreirão Gonçalves

Cultura do Futebol FUTEBOL EM SUA FACETA "GENI" Mozart Maragno

RESENHA: BENINI, Paulo André Cren. O Jogo da Minha Vida: história e reflexões de um atleta. São Paulo: Leya,

2012

Carlus Augustus Jourand Correia

Política e Sociedade OLIMPÍADAS

Alexandre Fernandez Vaz

POLÍTICA ESPORTIVA, MEDALHAS E UMA GEOPOLÍTICA À BRASILEIRA

Wagner Xavier de Camargo

LONDRES 2012: UMA EXPERIÊNCIA OLÍMPICA

Michelle Carreirão Gonçalves

Educação EDUCAÇÃO INFANTIL: CARÁTER PÚBLICO E FORMAÇÃO ILUMINISTA

Alexandre Fernandez Vaz

Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

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Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

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Sobre a autora

Michelle Carreirão Gonçalves é

Licenciada em Educação

Física/UFSC; Mestre em

Educação/UFSC; Graduanda do

curso de Filosofia/UFSC;

Doutoranda do Programa de Pós-

Graduação em Educação/UFSC;

Bolsista CNPq (UFSC/Leibniz

Universität Hannover); Membro do

Núcleo de Estudos e Pesquisas

Educação e Sociedade

Contemporânea.

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U7

Contato:

[email protected]

ARTE E CRÍTICA

CHEYENNE – THIS MUST BE THE PLACE

Michelle Carreirão Gonçalves

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação /UFSC

Dia desses assisti ao filme Cheyenne – This Must Be

The Place (Aqui é o meu lugar, no Brasil) em um Freiluftkino

(cinema a céu a aberto) de Berlim. O título é uma

homenagem à homônima canção dos Talking Heads, no

filme interpretada pelo ex-vocalista da banda, David

Byrne, em pequena e especial participação. A experiência

de assistir um filme em um parque, sentada numa cadeira

do tipo espreguiçadeira, enrolada num cobertor (sim,

porque as noites de verão alemão, muitas vezes, são frias),

em meio a árvores e tendo apenas o céu estrelado sobre

minha cabeça, já valeria a viagem. Mas o filme também

não decepcionou.

Cheyenne é o personagem principal interpretado

por Sean Penn, um roqueiro gótico que parece ter parado

nos anos 1980, com suas roupas pretas, cabelo

desarrumado, maquiagem carregadíssima no pó branco,

no lápis preto e no batom vermelho. A referência é

claramente Robert Smith, vocalista do The Cure, que fez

muito sucesso naquela década, com músicas como Boys

Don’t Cry e Friday I’m in Love. Além disso, há pitadas de

Edward Mãos de Tesoura – interpretado por Johny Deep no

filme homônimo (Edward Scissorhands, 1990) – e do

também roqueiro Ozzy Osbourne, que aparecem nos

trejeitos de Cheyenne, no jeito de andar, de falar e olhar.

Cheyenne é um rockstar decadente que tem em

Dublin uma vida chata, cercado por sua mulher-bombeira

(Frances MacDormand), um cachorro e uma fã

inseparável, Mary (Eve Hewson que, por sinal, é filha de

Bono Vox, do U2, mais uma referência ao rock). Seus dias

são gastos entre ir ao supermercado, isolar-se na solidão

da casa, ou ainda, tentar mediar o desespero da mãe de

Mary, por conta de um mistério que envolve seu filho

Tony. A reviravolta acontece quando Cheyenne tem de

voltar à Nova York para rever o pai à beira da morte e

com quem não mantinha contato havia trinta anos. Mas

ele chega tarde, por conta de uma das suas

excentricidades, e não consegue se despedir. No

momento em que reencontra a família judia, descobre que

o pai passou grande parte da vida procurando o

torturador que o havia supliciado em Auschwitz. É aí que

o filme muda de vez. Cheyenne toma para si a busca do

pai, e sai rodando pelo interior dos EUA, no melhor estilo

road movie.

É interessante como o diretor italiano Paolo

Sorrentino trabalha com um jogo de cores nas diferentes

passagens de Cheyenne. Em Dublin, os tons são mais

acinzentados, mais escuros, assim como a vida monótona

e depressiva; em Nova York as cores são vivas, agitadas

como a grande metrópole; no interior estadunidense, mais

no Novo México, as tonalidades passam por colorações

amareladas, áridas, secas como a terra; já em Utah é

possível ver o branco e o azul gélido, anunciando o que

está por vir.

A saga de Cheyenne em busca do algoz de seu pai

é claramente seu movimento de maturação. Ele sai de

Dublin, da segurança do lar, seu esconderijo de menino,

com o andar cabisbaixo e o olhar desprotegido, encarando

a dureza e a indiferença na cidade grande, as dores e a

insensibilidade no interior, a decadência e a outra versão

da história no “fim do mundo”. E faz isso com sua roupa,

penteado e maquiagem de adolescente, carregando sua

inseparável mala de rodinhas. Por sinal, Cheyenne

aparece quase todo o filme, puxando algo (antes da mala,

há uma cesta de compras, também com rodas), um

apêndice, um peso que saiu de seus ombros

(parafraseando o próprio personagem numa das cenas em

que conversa com o inventor da mala com rodas), mas

que o persegue, que dificulta sua caminhada, que o atrasa,

que o torna cada vez mais deprimido. Não se sabe se o

que ele carrega é culpa pelo que ocorreu com seus fãs,

mágoa pelo rompimento com o pai, ou mesmo a

fragilidade e incapacidade de tomar sua vida nas próprias

mãos (sua esposa é a figura forte e dominante da casa e,

nesse sentido, mais próxima do arquétipo masculino; ela é

pai ao dar segurança, mãe ao consolar, esposa na

intimidade da cama). De toda forma, é somente depois de

sofrer seu tardio e longo rito de passagem, que Cheyenne

consegue encontrar seu lugar, deixando para trás a

fantasia de uma vida infanto-juvenil alegre e leve, e

assumindo, finalmente, os riscos, a responsabilidade, as

dores e as delícias de ser adulto.

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Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

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Sobre o autor

Mozart Maragno é Licenciado em

Educação Física UFSC, Mestrando

do PPPGE/UFSC e Servidor do

Instituto Federal de Santa Catarina –

Campus Ararangua.

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Contato:

[email protected]

CULTURA DO FUTEBOL

FUTEBOL EM SUA FACETA "GENI"

Mozart Maragno

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação /UFSC

No momento de fechamento olímpico, quando a

seleção brasileira de futebol masculino foi medalha de

prata - ou seja, um resultado abaixo do que era esperado

pelo grupo, pela imprensa, pelos torcedores –,

identifiquei um fenômeno interessante nas redes sociais,

caixa de ressonância “à quente” do cotidiano: um

ressentimento em relação ao futebol masculino, sobretudo

quando colocado em contraposição às modalidades

esportivas com menos visibilidade e apoio. Esse

ressentimento, essas manifestações, em alguns momentos

hostis diante de um fracasso futebolístico, não são algo

recente. Vários dos estudos sócio-culturais dedicados a

eventos de futebol já apresentaram interessantes análises

sobre a temática. Não foram poucas as ocasiões em que

vilões foram eleitos no futebol brasileiro. A derrota na

Copa do Mundo de 1950 é um belo exemplo disso –

mesmo que trabalhos acadêmicos, como o de Antonio

Jorge Soares, em seu doutoramento, não corroborem

todas as “teses” enfatizadas no discurso popular das

últimas décadas. No caso da medalha de prata de

Londres, com Neymar, Mano Menezes e companhia,

aparece um elemento novo, isto é, a crítica de amantes de

outras modalidades que denunciam a monocultura

esportiva do país, as regalias que os atletas de futebol têm

e os demais não, que atrasariam o desenvolvimento

brasileiro rumo a ser potência olímpica. Isso tudo, claro, é

visão de sujeitos que se manifestam no contexto citado.

As três medalhas do boxe brasileiro, por exemplo,

acenderam o alerta para essa comparação. Justamente o

boxe, cujos protagonistas são profundamente humildes

em origem e percorreram os caminhos mais tortuosos

para o sucesso esportivo máximo, que é subir ao pódio

nos Jogos Olímpicos. Os irmãos capixabas Yamaguchi e

Esquiva Falcão, com histórias de vida cinematográficas,

conquistaram, nas próprias palavras deles, “mais que o

futebol” em Londres. Isso, não há dúvidas, pode provocar

comoção geral durante as duas sagradas semanas.

Esquiva foi tão medalha de prata quanto a estrela

Neymar, de salário estratosférico, de mil e uma

propagandas na televisão, xodó, ídolo, “queridinho da

mídia”. O sucesso permanente do voleibol e, em outras

Olimpíadas, do futebol feminino, também gerou reações

duras diante de mais um “fracasso” dos rapazes (a

medalha de ouro inédita não veio mais uma vez). Embora

com toda estrutura gerada ao longo de muitos anos, o

voleibol, evidente, não desfruta das mesmas condições

midiáticas do futebol e, com muita luta, encaixa uma final

de liga nacional em emissora aberta. O futebol feminino,

pela própria gestão (?) da CBF, já escancara as diferenças.

O contraste é claro, sedutor para a tradicional acidez

nativa em relação aos bem sucedidos, mas perigoso.

Vamos para as obviedades que o leitor está cansado de

saber: o futebol é o esporte mais popular do planeta, o de

maior mercado, de maior mídia, com maior penetração

popular. Tudo isso proporciona aos bem sucedidos, como

é o caso de Neymar, um status que o boxeador olímpico

jamais terá. O garoto de Mogi das Cruzes também não

teve uma trajetória tranquila. A cobrança e pressão

apareceram desde cedo. Trata-se de um fenômeno

esportivo como poucos. Raros são os chegam à sua

condição aos 20 anos de idade. O futebol, por outro lado,

tem um grau de imprevisibilidade muito maior que o

voleibol ou o boxe. Outra obviedade: uma equipe de

menor condição técnica pode mais facilmente

surpreender. Lembro que o futebol brasileiro jamais pode

ser menos que o máximo, que campeão. E mesmo quando

ganha, se não for de uma forma mais próxima das

“tradições nacionais”, com o “nosso jeito”, com o “futebol-

arte”, pode ser uma conquista com asteriscos (a seleção

campeã de 1994 não seria um exemplo de tensão nesse

sentido?). Diante desse grau de exigência, Londres 2012

mais uma vez foi um prato cheio para as comparações e a

malhação da Geni, o futebol masculino brasileiro, já

cobrado na máxima potência seja em Copas do Mundo ou

em qualquer amistoso. Refresco a memória do leitor de

quando o intelectual Emerson Leão já dizia que “na

seleção, tudo vale tudo”. Dessa forma, no momento em

que o esporte bretão vira parte de um todo muito menos

badalado no dia a dia, como nos Jogos Olímpicos, acaba

sendo alvo preferencial do ressentimento geral. Nada que

surpreenda em termos de Brasil, onde a oscilação que o

futebol provoca entre o “somos os melhores do mundo” e

a autodepreciação implacável é cotidiana.

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Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

Sobre o autor

Carlus Augustus Jourand Correia é

graduado em História pela

Universidade Federal Fluminense

(UFF) e mestrando em Educação

pela Universidade Federal do Rio de

Janeiro(UFRJ). Membro do

Laboratório de Estudos do Corpo

(LABEC) e do Núcleo de Estudos e

Pesquisa em Esporte e Sociedade

(NEPESS) desenvolve pesquisas na

área de História, Sociologia e

Educação com enfoque nas relações

entre esporte, sociedade e educação

no Brasil e no Mundo.

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Contato:

[email protected]

CULTURA DO FUTEBOL

RESENHA

BENINI, Paulo André Cren. O Jogo da Minha Vida:

história e reflexões de um atleta. São Paulo: Leya, 2012

Carlus Augustus Jourand Correia

Mestrando em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

O Jogo da Minha Vida: Historias e reflexões de um

atleta é um livro exemplar em diversos aspectos. O

esporte e mais especificamente o futebol é, há muito

tempo, teorizado, discutido e narrado por historiadores,

antropólogos, sociólogos e diversos outros pensadores

das Ciências Humanas. Contudo, esse debate e esses

estudos ainda carecem muito da participação ativa dos

nativos do futebol quando se trata de expor suas ideias e

tomar a palavra para si.

Nesse ponto as autobiografias dos atletas ainda

são escassas, sendo um dos poucos exemplos a do ex-

atleta Zé Mario1. O livro de Paulo André vem acrescentar

muito em nosso conhecimento sobre futebol e nossas

indagações não só sobre o jogo, mas também sobre a

estrutura por trás dele.

Paulo André é atualmente jogador do

Corinthians, atuando como zagueiro, mas também

desempenha as ocupações de escritor e artista plástico.

Iniciou a carreira aos 15 anos no São Paulo Futebol Clube

e passou por diversos clubes no Brasil, tais como Guarani

de Campinas e Atlético Paranaense. Além disso, atuou

três anos na Europa, jogando pelo Le Mans da França,

regressando em 2009 para defender o Corinthians. Paulo

André pode ser considerado uma exceção no meio

futebolítisco atual, caracterizado pelo tom blasé dos

discursos. Muito articulado com as palavras e as ideias,

busca conciliar ao máximo o futebol e os estudos de

forma autodidata, para que possa praticar a reconversão

profissional ao final de sua carreira, como ele mesmo

destaca no livro. Toda essa sua trajetória é o combustível

e o fio condutor da autobiografia.

A obra está dividida em três partes. A primeira

intitula-se Futebol amador e nela Paulo André relata desde

o momento em que decidiu se tornar um jogador de

futebol, na infância, até a assinatura de seu primeiro

contrato profissional, com o Guarani de Campinas. Nessa

primeira parte são descritas as “veias abertas da formação

de atletas”2, ou seja, as dificuldades e o cotidiano das

categorias de base no futebol brasileiro vivenciadas por

ele.

O autor procura desconstruir as ideias divulgadas

na grande mídia sobre o sucesso da profissão de jogador

de futebol e suas facilidades. Com isso, Paulo André

relata o caminho percorrido por ele antes de ser

profissional e as várias dificuldades e incertezas que o

esporte lhe proporcionou, além dos diversos sacrifícios

que precisou enfrentar para alcançar seu objetivo.

profissionalização não elimina as dificuldades enfrentadas

no futebol, mas as transforma em outras, principalmente

em relação aos cuidados com o corpo, ao enfrentamento

das lesões e à convivência com empresários e dirigentes.

Em contrapartida, são relatas as alegrias de jogar futebol,

principalmente no momento das vitórias, e a possibilidade

de obter recursos financeiros para ajudar a família,

conhecer novos lugares no mundo e aprender sobre novas

culturas. A atuação pelo Corinthians ganha força em

função da conquista do título Brasileiro.

A terceira e última parte traz para os leitores as

ideias e questionamentos de um jogador para com seu

esporte, ou mais próximo de nossa realidade do

trabalhador com o seu próprio labor. Paulo André

praticamente conversa com o leitor e expõem suas

concepções sobre como se comportar como atleta, sobre as

mazelas na formação no futebol e como o cuidar do corpo

e da mente, elementos fundamentais para o sucesso e

desenvolvimento do jogador profissional. Através de suas

reflexões, o autor desnuda a estrutura do futebol nacional

e dialoga com os vários atores participantes desse

processo, tais como pais, dirigentes, expectadores e os

jogadores, estejam eles em formação ou sendo já

profissionais.

O livro O Jogo da Minha vida é, no entanto, muito

mais que uma biografia, um rico material para pensarmos

a realidade do futebol brasileiro através dos olhos de um

nativo do campo esportivo que possui o devido

distanciamento que nos leva a bem compreender os

problemas e a estrutura do futebol nacional,

principalmente no que concerne à formação de nossos

atletas. O livro é um retrato do futebol nacional e a

história de Paulo André poderia ser, na verdade, a de

muitos outros jovens no Brasil, sendo necessário para isso

que apenas fosse trocado nome do autor.

Talvez a primeira parte do livro seja a mais

interessante por mostrar uma realidade ainda pouco

conhecida ou divulgada na mídia para os espectadores de

futebol. Nela é evidenciado um esporte sem

regulamentação ou fiscalização efetiva, que estimula seus

jovens a buscar a profissionalização no futebol, mas que

quase não oferece amparo para seu desenvolvimento

esportivo, e muito menos incentivo para a formação de

um cidadão nos bancos escolares. Por isso, no texto são

mostradas as dificuldades de conciliação da escola com o

futebol, produzindo jovens que somente sabem jogar, mas

sem possibilidade de reconversão profissional em caso de

não obterem sucesso na carreira ou quando se retirarem

dos palcos esportivos.

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Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

Além disso, é posta em análise a quantidade de

jovens que serão excretados desse circuito futebolístico e

que, sem escolarização adequada, acabarão ocupando

postos de trabalho subvalorizados. Nesse ponto devemos

lembrar que os relatos de Paulo André, corroboram as

assertivas de Arlei Damo sobre a formação de

futebolísticas à "brasileira"3, ou seja, privilegiando quase

exclusivamente a obtenção de capitais futebolísticos.

Apesar de Paulo André poder ser caracterizado

como um jogador exceção na sua concepção de

estruturação sobre o futebol no Brasil e no mundo, em

determinados elementos esse atleta ainda perpetua em

seus discursos alguns elementos do senso comum

futebolístico.

Com isso, é interessante analisar o livro também como um

discurso cristalizado do atleta e como a representação de

sua visão sobre o esporte e o futebol. Nesse ponto, cabe

ressaltar novamente que Paulo André é um nativo desse

campo e com isso possui, por dentro dessa estrutura,

certo conhecimento de seu funcionamento, mas talvez

não consiga observá-la como um maior distanciamento

em determinados pontos.

“os nativos, mestres e aprendizes têm um domínio difuso do que sejam as categorias amplas instituídas pelo Estado e pela FIFA, o que não impede que eles as manipulem e observem-nas”4

Esse talvez seja o motivo pelo qual ao longo de

todo o livro ele realize diversas críticas ao futebol

brasileiro, à formação das categorias de base e ao

comportamento dos atletas, mas sem indicar com precisão

a quem as críticas se dirigem. Isso mostra como ele tem o

conhecimento dos problemas, consequência direta de

suas experiências cotidianas, mas não consegue

compreender os delineamentos macrossociais desses

processos.

Nesse ponto o livro procura romper com as

representações do jogador apenas como ícone pop da

cultura globalizada e igualmente discutir a própria

estrutura de formação dos atletas. No entanto, não

consegue avançar mais em suas análises, pois recai em

discursos pré-formatados sobre o sucesso e sua relação

direta com o comprometimento nos treinos, na obediência

as hierarquias e ordens dentro do clube e na manutenção

do condicionamento físico. Dessa forma, reproduz as

concepções dominantes sobre o comportamento esperado

dos atletas.

Toda essa obra é na verdade a narração de uma

trajetória vitoriosa de um atleta que supera as

adversidades e os problemas por meio do trabalho duro,

da privação e da responsabilidade. A fala de Paulo André

é um elogio ao profissionalismo do jogador de futebol,

para que ele se torne um atleta e não apenas um jogador,

como destaca o autor.

Esse discurso do atleta que começou a jogar a

partir de 1995 é consequência direta do processo de

transformação pelo qual passa o futebol brasileiro desde o

final da década de 1990, com uma maior

profissionalização dos campeonatos e da estrutura dos

clubes de futebol. Nessa questão a profissionalização do

jogador também é requerida e preconizada pelos

instrumentos midiáticos, os investidores e os torcedores.

Isso porque estando o futebol imbricado no sistema

capitalista mundial e sendo dentro dele uma mercadoria,

a obtenção de lucros e manutenção como produto

atraente está diretamente relacionada com a forma de

gestão e atuação dos atores diretamente envolvidos com o

jogo.

Esse processo foi influenciado pelo processo de

hipermercantilização do esporte mundial verificado a

partir da década de 1970 com o desenvolvimento

tecnológico, proporcionado pelo avanço dos meios de

comunicação e transporte, o desenvolvimento da televisão

e a ampliação do número de pessoas interessadas em

acompanhar as competições. Através disso, ocorreu a

multiplicação do público e conseqüentemente, o potencial

mercantil do esporte, fato que traria mudanças na

organização dos torneios e nas próprias regras que dão

formato às modalidades esportivas.

Isso ficou bem claro na associação da FIFA com as

grandes empresas multinacionais, como a Adidas e a

Coca-Cola principalmente a partir do início da década de

1980 transformando essa federação esportiva quase que

numa empresa do ramo do entretenimento. Assim a

exposição cada vez maior desses esportes em um contexto

televisivo na década de 1980 e sua consolidação na década

de 1990 proporcionou o consumo deles em formas

inéditas e estabeleceu a construção de um esporte-

espetáculo e do jogador-mercadoria.

O jogador não é mais somente um especialista em

determinado ofício, ele é também uma imagem a ser

veiculada a produtos e demandas que só podem ser

valorizados se suas performances dentro e fora de campo

estiverem boas. Sendo essas performances fora de campo

entendidas como as práticas sociais valorizadas numa

sociedade capitalista, tais como o ascetismo, a disciplina e

o profissionalismo em suas atitudes.

O trabalho duro, compromissado e árduo é, dessa

forma, parte do profissionalismo propagandeado pelo

autor e visto como condição sine qua non para a

sobrevivência dos mais aptos, como descreve na terceira

parte, intitulada de Reflexões. Com isso, mesmo que não

perceba, reitera o discurso do mercado com sua mão

invisível premiando e selecionando os atletas que mais se

encaixam na lógica de comportamento do modelo

considerado ideal e valorizado nesses novos tempos de

mercantilização do esporte. O atleta-máquina, dócil, mas

também consciente de suas funções como atleta.

A biografia de Paulo André avança bastante ao

“colocar para jogo” bastidores da formação, com

indagações e opiniões de alguém que está cotidianamente

imerso nesse campo e pode, dessa forma, suscitar debates

para além da academia. Mas essa imersão no campo

esportivo ao mesmo tempo internaliza discursos e

posicionamentos que valorizam atitudes, e concepções

responsáveis pela legitimação das práticas do mercado

dentro do futebol. Sendo assim a imersão no campo é um

elemento importante para compreender questões muitas

vezes conhecidas apenas pelos nativos, mas também pode

trazer os perigos de concepções naturalizadas e

atemporais, como se determinadas práticas realizadas por

eles fossem um processo natural, inexorável e realizados

“desde sempre”.

No mais o livro deve ser visto como um olhar do

nativo sobre sua realidade, mas também como uma fonte

histórica e sociológica do futebol nacional, observando-se

em seu interior a construção do discurso e o contexto no

qual foi produzido.

1 BARROS, José Mario de. Futebol: Porque foi... Porque não é mais. São Paulo: Sprint Editora,1990. 2Esse termo é uma paráfrase ao livro de Eduardo Galeano intitulado “As veias abertas da América Latina”. Nesse livro o autor disserta sobre a história da América latina expondo eventos de grande impacto para a história do continente. 3Esse denominação de modelo à “brasileira” foi cunhado pelo antropólogo Arlei Sander Damo (2007) para descrever as especificidades da formação dos atletas brasileiros mais focados na obtenção de capitais futebolísticos do que na formação educacional básica. 4DAMO, Arlei Sander. Do Dom a Profissão: formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo e Rothschild Editora, Anpocs, 2007. Pág 145

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Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

Sobre o autor

Alexandre Fernandez Vaz é Doutor

pela Leibniz Universität Hannover.

Professor dos Programas de Pós-

graduação em Educação e

Interdisciplinar em Ciências

Humanas da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC).

Coordenador do Núcleo de Estudos

e Pesquisas Educação e Sociedade

Contemporânea (UFSC/CNPq).

Pesquisador CNPq.

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POLÍTICA E SOCIEDADE

OLIMPÍADAS

Alexandre Fernandez Vaz

Professor da UFSC

Os Jogos Olímpicos de Londres atualizaram o

mito do encontro esportivo entre nações celebrado a cada

quatro anos. Decalcando as Olimpíadas da Antiguidade,

os Jogos modernos deveriam reafirmar a paz e a união

entre os povos, suspendendo as eventuais guerras para

sua realização, segundo o espírito do ideário do Barão de

Coubertin. Ele e outros aristocratas, no final do século

dezenove, levaram adiante aquele objetivo que quase

soava anacrônico em tempos já de sociedade burguesa

consolidada: reunir atletas para, sem interesse financeiro,

representarem a si e a seus países em uma contenda

esportiva. O prazer desinteressado deveria vir antes da

busca frenética por recordes e vitórias.

Quase que um último suspiro da aristocracia, em

seu impulso neoclássico de restauração de um poder

ferido de morte cem anos antes, com a Revolução

Francesa, os Jogos proibiram durante muito tempo a

participação de profissionais. Nada mais estranho ao

mundo aristocrático do que a democracia e o trabalho

para o próprio sustento, de forma que aqueles que

ganhavam a vida com o próprio corpo deveriam ficar

alheios à festa. Em arroubo sexista, inicialmente também

vedavam a participação de mulheres, já presentes, no

entanto, na segunda edição das Olimpíadas.

Nas Olimpíadas de Londres não vimos nada

disso. Lá estavam atletas altamente profissionais a

disputar medalhas acompanhadas de bônus por vitórias e

de uma exposição jamais experimentada. Historicamente,

a presença de profissionais nas competições foi sendo

paulatinamente tolerada, primeiro no futebol, depois em

outros esportes. A discussão foi inteiramente superada

com o fim da Guerra Fria. Os países que compunham o

Pacto de Varsóvia se orgulhavam de promover o espírito

olímpico, negando o profissionalismo, mas abrigando,

sob forte apoio estatal, seus atletas, demarcando um dos

muitos paradoxos do socialismo real, a defesa de um

modelo esportivo aristocrático. Pensando bem, é enorme

a coerência da plutocracia soviética com o esporte

olímpico, em especial no contexto da corrida tecnológica

perpetrada por ela e pelos países da OTAN. Conquista do

espaço, armamentos para os conflitos do Terceiro Mundo

e instrumentalização dos corpos no esporte (em que

pontificava o doping), foram armas importantes na

batalha sem fronteiras que sucedeu a II Guerra Mundial e

que durou até o início dos anos 1990, quando o Império

Soviético caiu "como um castelo de cartas", segundo a

expressão do historiador Eric Hobsbawm.

O esporte sempre andou pari passu com as

imagens que o divulgam. Contemporâneo do cinema e da

grande imprensa, os Jogos Olímpicos foram, em

Berlim/1936, tema de uma das primeiras transmissões

televisivas experimentais. Aquela Olimpíada inaugurou

ainda a moderna maneira de filmar e, portanto, de ver

esportes. Tudo o que se assiste hoje na TV pôde ser

antevisto antevisto no documentário de Leni Riefenstahl,

Olympia, na captação de imagens, na montagem ou na

narrativa. Nazista desde sua concepção, o projeto de

Riefenstahl não é, no entanto, mostra de uma suposta

"traição" aos ideais olímpicos pelos Jogos organizados

pelo Nacional-socialismo. O Barão de Coubertin não se

absteve de cantar louvores ao regime nazista que, por sua

vez, não se furtou de fazer o elogio ao corpo esportivo

"puro", asséptico, higiênico, sem misturas, máculas ou

história, condição que corresponde ao totalitarismo.

Apesar das inúmeras e rigorosas regras para a

captação e divulgação de imagens, os Jogos de Londres

foram, sem dúvidas, a edição olímpica em que elas com

mais velocidade e alcance estiveram disponíveis. De

atletas e público foi exigida toda uma etiqueta a ser

cumprida nos locais de competição, sendo a preocupação

maior a de não ferir os interesses dos patrocinadores. Nas

praças esportivas não se podia consumir alimentos que

não os oficiais, tampouco estava autoriza a manifestação

política.

De fato, os Jogos já foram lugar de embates

históricos para além dos campos esportivos, como o gesto

de dois velocistas estadunidenses medalhistas no México,

em 1968, punhos em luvas negras erguidos durante o

hasteamento da bandeira a execução do hino nacional na

cerimônia de premiação. Ou como os boicotes de países

africanos em 1976, dos Estados Unidos e vários aliados em

1980, dos soviéticos e sua área de influência em 1984.

Foram também lugar de terrorismo, a exemplo do

sequestro e assassinato de onze atletas israelenses nos

Jogos de Munique, em 5 de setembro de1972, por um

comando palestino que desejava intercambiá-los por

presos em Israel. A assepsia política atual não visa a

proteção do ideal aristocrata da paz nesses dias de Jogos,

como faz supor a indústria do entretenimento, mas a

proteção do grande negócio que o evento é.

Terá sido impossível controlar as milhares de

pessoas com seus refinados aparatos tecnológicos a captar,

montar e divulgar imagens e textos de forma quase

instantânea. Os próprios expectadores foram personagens

dos enredos que inundam as redes sociais, assim como os

atletas. Walter Benjamin disse nos anos 1930, que o ator de

cinema atuava no enfrentamento da câmera; Riefenstahl

inventou os atletas como atores modernos, assim como

fizera com os políticos em Triunfo da Vontade,

documentário sobre um congresso do Partido Nazista. O

esporte há muito que não é apenas documentado ou

transmitido, mas produzido e realizado para ser

capturado pelas lentes que cada vez mais são o

prolongamento do olho. Mercadoria espetacular, os Jogos

já não foram apenas em Londres, mas em todos os lugares

ao mesmo tempo.

O ideário aristocrata já não está presente nas

Olimpíadas, o que não deixa de ser uma vantagem.

Espetáculo global de atletas que devemos admirar pelas

proezas, negócio dos mais lucrativos a mobilizar

sentimentos difusos em nosso tempo, como o

nacionalismo e a identificação patriótica. Melhor seria ver

tudo isso como um jogo, que sempre tem algo de gratuito

e simplório, de fascinante e grandioso. Aos Jogos

Olímpicos, a devida importância. E nada mais.

1 Uma versão deste texto foi publicada no Diário Catarinense (DC

Cultura) em 11 de agosto de 2012, sob o título de Olimpíada da

imagem.

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Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

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Sobre o autor

Wagner Xavier de Camargo é

cientista social com mestrado em

Educação Física. Doutor em Ciências

Humanas pela Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC), foi

bolsista da Deutscher Akademischer

Austausch-Dienst (DAAD) em

estágio internacional na Freie

Universität Berlin (FU Berlin),

Alemanha. Insere-se no campo dos

estudos antropológicos das práticas

esportivas e dedica-se, com especial

destaque, à investigação das

relações de gênero entre

masculinidades nos esportes de

competição.

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POLÍTICA E SOCIEDADE

POLÍTICA ESPORTIVA, MEDALHAS E UMA

GEOPOLÍTICA À BRASILEIRA

Os jornais televisivos e virtuais noticiaram no

último dia das Olimpíadas de Londres, que o Comitê

Olímpico Brasileiro (COB) anunciou ter cumprido a meta

esportiva planejada para o Brasil nos Jogos. Segundo

consta, com R$ 100 milhões a mais para o esporte em

relação ao que fora repassado pelas loterias no ciclo

olímpico chinês (à época, R$ 231 milhões), o país cumpriu

sua “missão”.

Que geopolítica esportiva é essa, que com esse

plus de milhões, só garantiu duas medalhas a mais em

relação ao resultado de 2008? Como se pode avaliar a

campanha do país no conjunto dos resultados obtidos

nestes Jogos Olímpicos? As marcas e medalhas

aguardadas na natação não vieram a contento. Nas classes

da vela, outras decepções: o "feijão com arroz básico" não

garantiu o que o potencial da modalidade predizia. O

atletismo só flertou com possibilidades e nada trouxe. No

hipismo, diz-se que faltaram cavalos adequados. E teve

até algoz do lado das forças (sobre)naturais, como ventos

demoníacos e usurpadores de chances. O boxe é caso

excepcional e merece ser considerado à parte. No

alvorecer de sábado, penúltimo dia de competições na

capital londrina, os meios de comunicação destacavam –

alguns de modo modesto, outros mais enfáticos – que a

campanha brasileira foi “a melhor dos últimos vinte

anos”. Atente-se para o detalhe: desde Barcelona-92 não

íamos tão bem no quesito “total de medalhas”!

Ou seja, mesmo não entrando no mérito da

distribuição de ouros, pratas e bronzes, depois das 15

medalhas em Atlanta-96, 12 em Sydney-2000, 10 em

Atenas-04, 15 em Pequim-08, agora foram as incríveis 17

medalhas conquistadas! Realmente um feito

surpreendente! Sozinho nesta versão olímpica, Michael

Phelps conseguiu mais ouros que os/as atletas/as

brasileiros/as (e mesmo que todas as modalidades em

que o país esteve presente) lá nos Jogos. Sabe-se,

igualmente, que ele conquistou, em sua jovem carreira

esportiva, mais ouros do que a Argentina em toda a sua

história olímpica.

Mas não pensem que apenas o Brasil tem este

histórico de resultados parcos, quase insignificantes.

Depois dos promissores anos do início do século XX, a

Grã-Bretanha amargou desempenhos relativamente

fracos no quadro geral de medalhas, o que a levou a uma

política de remodelamento do sistema e replanejamento a

médio e longo prazos após o fiasco de Atlanta-96 (quando

os britânicos conquistaram, no total, apenas 15 medalhas).

Nas versões sucessivas foram 28 (Sydney-2000),

30 (Atenas-04) e 47 medalhas (Pequim-08). O principal

foco foi incentivar esportes até então nacionalmente

pouco desenvolvidos, como o ciclismo. A Coréia do Sul é

é exemplo similar. O jovem país participou pela primeira

vez das Olimpíadas em Londres-1948 e durante quase

quarenta anos manteve-se nas últimas posições do

famigerado quadro. A ascensão como Tigre Asiático e o

redimensionamento da economia traduziram-se em

investimento em educação com reflexos claros no esporte,

como se tem constatado. Se somadas as desta versão

olímpica de verão, o país totaliza 244 medalhas em sua

história.

Estes dois países são exemplos a serem seguidos.

Terminam estas Olimpíadas em colocações

inquestionáveis: a Grã-Bretanha em 3º lugar, com 29

ouros, e a Coréia do Sul em 5º lugar, com 13 ouros.

Muitos dirão que tais efeitos foram possíveis

porque tais países sediaram Olimpíadas – isto é, o

planejamento governamental refletiu-se em méritos

esportivos. Eu não apostaria tantas fichas neste

argumento. E mais: os resultados concretos (e

sistematicamente melhorados em termos de número de

medalhas) são sintomas de, no mínimo, forte investimento

no esporte de base e clara política de detecção de talentos,

além de investimentos permanentes na manutenção de

jovens no meio esportivo. Não é preciso ir muito longe

para colher um exemplo disso: se na Colômbia o grande

capital de fomento ao esporte vem da esfera pública

(como acontece em nosso país), distintamente daqui, lá se

mantém um programa de incentivo a milhares de crianças

com aptidão esportiva que necessitam do desempenho

escolar para obterem o auxílio. Aqui os oficiais Comitês

Olímpico e Paralímpico investem unidirecionalmente no

alto nível e algumas ONGs que se propõem a inserir e

estimular crianças e adolescentes carentes em programas

esportivos, acabam suspeitas de corrupção e desvio de

verbas públicas.

A reincidência à pergunta é para fazer pensar: que

geopolítica é esta em que um resultado de 17 medalhas é

ovacionado? Só se for à moda brasileira mesmo. Aliás,

como já disse certa vez o inigualável Nelson Rodrigues:

"O brasileiro não está preparado para ser 'o maior do

mundo' em coisa nenhuma. Ser 'o maior do mundo' em

qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma

grave, pesada e sufocante responsabilidade." Por essas

lógicas ilógicas é que continuamos fadados a vestir a

fantasia de “sempre brasileiros”: fazemos festa por duas

anacrônicas medalhas a mais no quadro geral, bebemos

nossa cerveja, amamos nossas mulheres (mulatas,

obviamente, porque vivemos de estereótipos) e na

segunda-feira de trabalho já esquecemos tudo o que

aconteceu. E que venha a festa apoteótica “Rio-2016”!

Wagner Xavier de Camargo

Doutor em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina

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Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

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1

Sobre a autora

Michelle Carreirão Gonçalves é

Licenciada em Educação

Física/UFSC; Mestre em

Educação/UFSC; Graduanda do

curso de Filosofia/UFSC;

Doutoranda do Programa de Pós-

Graduação em Educação/UFSC;

Bolsista CNPq (UFSC/Leibniz

Universität Hannover); Membro do

Núcleo de Estudos e Pesquisas

Educação e Sociedade

Contemporânea.

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LONDRES 2012: UMA EXPERIÊNCIA OLÍMPICA

Michelle Carreirão Gonçalves

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação /UFSC

Sou fã de esportes. Adoro assistir as mais

diversas competições. E em tempos de Jogos Olímpicos,

fico completamente fora do ar, curtindo na frente da TV

as duas semanas em que ocorre o maior evento esportivo

mundial. Neste ano, por conta da proximidade

geográfica, tive a oportunidade de estar na cidade sede

dos Jogos durante os últimos dias da Olimpíada.

Londres estava incrivelmente organizada e

preparada para receber os milhares de visitantes vindos

de todos os cantos do mundo para prestigiar, ver, torcer,

sofrer e se alegrar com os Jogos. A cada esquina era

possível encontrar duplas de policiais fazendo a

segurança, mas também dando informações, auxiliando

no que fosse preciso. Nas estações do Underground (o

metrô londrino), muitos voluntários dando dicas,

mostrando as direções e caminhos para os mais variados

locais de competição. Eles também podiam ser vistos nos

parques e em diferentes lugares da cidade, com suas

camisetas rosa e sua boa vontade, sempre prontos para

ajudar. Muitos falavam outros idiomas, algo inclusive

sinalizado nas respectivas camisetas (encontrei um desses

Staffs que tinha um pequeno botton dizendo “Ich spreche

Deutsch” – “Falo alemão” – e fiquei muito feliz, apesar de

estar me virando em inglês). E havia ainda as pessoas

comuns, moradores da cidade, que foram também muito

receptivos. Numa manhã, um senhor que saía de um

prédio, ao ver eu e minha companheira de viagem,

Viviane Silveira, perdidas com um mapa na mão,

atravessou a rua, mudou sua rota e veio nos perguntar,

“What are you looking for?”

Para quem não tinha ingressos para assistir suas

modalidades preferidas, era possível ir até algum grande

parque, como o Hyde ou o Victoria, e assistir, numa

imponente estrutura montada com telões, praça de

alimentação, banheiros e atividades de lazer, o que

estivesse sendo transmitido por lá, geralmente disputas

com participação de equipes da Grã-Bretanha ou as finais

das modalidades.

Fiquei impressionada com a quantidade de “sem

ingressos” pela cidade. Havia bastante gente tentando

descolar algo em frente aos estádios e ginásios, horas

antes das partidas. Muitos brasileiros, inclusive. Por sinal,

a presença brasileira também me impressionou, com suas

fantasias verde-e-amarelas, suas bandeiras enchendo a

cidade. Nada como viver em tempos de economia

aquecida em terras tupiniquins.

Pelas ruas da cidade, por todos os cantos, gente,

muita gente, com as mais diversas caras, línguas e cores.

Vestindo uniformes, camisetas, trazendo bandeiras.

Atletas

Atletas misturavam-se com ex-atletas e não atletas. Os

pontos turísticos estavam abarrotados de curiosos com

suas máquinas fotográficas, câmeras, celulares e tablets nas

mãos, querendo registrar o momento, os lugares, captar

aquela atmosfera em que os heróis olímpicos descem e se

misturam aos homens comuns. Já nas arenas, o

movimento era outro: as ordinary people procuravam se

diferenciar por meio de pinturas, de fantasias, de gritos,

enfim, das diversas formas de chamar a atenção da

câmera de TV. Ali, nada parecia mais importante do que

ser filmado e ter a imagem projetada no telão da arena.

Nem mesmo a torcida pela seleção preferida parecia ser

mais importante.

Nesse lugar cheio de deuses disfarçados de mortais,

e de mortais tentando ter seu momento estrelar, também

não contive a emoção ao me deparar com alguns atletas

conhecidos do Brasil: Flavio Canto (ex-judoca,

comentarista de uma emissora de TV), Fabiano Peçanha

(corredor de 1500m e 800m, prova que disputou), Virna

(ex-jogadora de vôlei, também comentarista) e Dani Lins

(levantadora da seleção de vôlei, medalhista de ouro).

Mas foi o encontro fortuito com um campeão

olímpico que me emocionou de um jeito inimaginável.

Quando aquele sujeito muito alto passou na direção

contrária a minha, entrando na estação de metrô,

reconheci seu rosto. Para confirmar, li em seu crachá:

Joaquim Cruz. Eu e minha parceira de aventura olímpica

não acreditamos no que vimos. Pensamos: “com ele

precisamos tirar uma foto”. E o chamamos de Joaquim,

assim, como se fôssemos íntimas. Ele se virou e pareceu

um pouco assustado, um tanto surpreso talvez, porque

não esperava ser parado ali, ainda mais por duas fãs que

não são da geração que o viu correr e brilhar nas pistas do

mundo (ele foi campeão olímpico em 1984, quando eu

tinha apenas 1 ano de idade). Mas foi incrivelmente

simpático e atencioso. Aquele foi meu momento olímpico,

completamente mágico, quando Joaquim Cruz, um dos

meus ídolos do atletismo, dedicou um breve instante do

seu tempo para oferecer uma imagem sorridente para a

fotografia, capturada pela objetiva e retida de modo

singular na minha memória. E é a ele e a todos os atletas

que me fizeram e ainda me fazem emocionar, me

surpreender e me fascinar ao ver esportes, que agradeço.

Nisso concordo com Gumbrecht: não há nada mais

importante a agradecer ao esporte do que o prazer que ele

nos proporciona.

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Uma quase Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea

Sobre o autor

Alexandre Fernandez Vaz é Doutor

pela Leibniz Universität Hannover.

Professor dos Programas de Pós-

graduação em Educação e

Interdisciplinar em Ciências

Humanas da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC).

Coordenador do Núcleo de Estudos

e Pesquisas Educação e Sociedade

Contemporânea (UFSC/CNPq).

Pesquisador CNPq.

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EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO INFANTIL:

CARÁTER PÚBLICO E FORMAÇÃO ILUMINISTA

Alexandre Fernandez Vaz

Professor da UFSC

A educação infantil é direito das famílias, em

especial das crianças, e, como tal, obrigação do Estado.

Meninos e meninas frequentam as instituições de

educação infantil não só porque os pais trabalham, mas

porque lá podem e devem ter experiências educativas

singulares. Professoras com formação especializada e

outros profissionais cuidam dos pequenos, colocando-os

em contato mais próximo com o mundo elaborado pela

ciência e pela arte, com o quê já existia antes de eles

nascerem e é constantemente renovado. Brincar é

atividade própria das crianças, ainda que não

exclusivamente delas. Na educação infantil encontram

espaço, tempo, materiais e mediações de pares e de

adultos para isso. Com as brincadeiras e outras

atividades, propostas ou espontâneas, elas aprendem

conceitos, desenvolvem o senso estético e a moralidade.

As brincadeiras são experimentações lúdicas que não

prescindem de um movimento que é similar ao da

composição da obra de arte, combinando a abertura dos

sentidos com o esforço intelectual.

Assim como depois fará a escola, a educação

infantil deve preparar as crianças para a vida pública,

para no futuro atuarem criticamente em sociedade. Como

bem destacou Hannah Arendt, cabe aos adultos

mostrarem a elas o mundo que as recebe, ao mesmo

tempo em que devem protegê-las, desencarregando-as de

tarefas e expectativas que são daqueles que já cresceram.

O imenso desafio que se coloca para a educação é o de

efetivar a formação dos pequenos frente a este mundo,

sem deixar que neles se perca a possibilidade de

transformação deste mesmo mundo.

Como espaço de formação, a educação infantil

diferencia-se da família em concepção, organização e

práticas. Não há dúvidas sobre a importância da presença

da família nas instituições de educação infantil, mas elas

devem ter calendários distintos porque atuam na

formação de forma diversa. Os eventos nas instituições,

por exemplo, devem ser distintos das celebrações

domésticas. É preciso diferenciar espaço público de vida

privada.

A educação pública não pode, por exemplo, fazer

proselitismo religioso, mas reforçar o próprio caráter

laico, inclusive por respeito à pluralidade de crianças que

recebe. É bom que no interior da instituição os adultos

coloquem entre parênteses suas crenças e que ajam sob os

desígnios da razão pública. Professoras que expõem as

crianças a canções e filmes religiosos, que as ensinam a

rezar e as ameaçam com castigos "divinos", ou com

quaisquer outros, devem rever sua prática.

Da mesma forma, a pauta da educação infantil

não pode ser a do calendário do comércio e do consumo.

Para ser formativa, ela deve apresentar às crianças formas

de interpretar o mundo que não equiparem poder de

compra e fascinação pela mercadoria a sucesso e

felicidade. Os pequenos são expostos a todo tipo de

demanda do mercado, em especial neste país, em que a

televisão como alternativa de entretenimento, tem uma

onipresença brutal na vida de cada um de nós. A presença

agressiva da propaganda, com ofertas em cores e formas

com personagens e brinquedos que parecem exigir um

gozo sem limites, exige a disposição para o combate

pedagógico. Oferecer outros modelos de interpretação do

mundo, distintos da indústria do entretenimento, é algo

que a educação não deve prescindir.

A educação infantil é essencial para a formação

das crianças. Mas, para que sua promessa se cumpra,

precisamos levar muito a sério, e em sentido extenso, o

caráter público da educação. Pequenos iluministas,

sensíveis e não conformistas, para que possam se tornar

pessoas críticas e autônomas, é o que queremos que as

crianças sejam.

1 O texto é devedor de contribuições de Ana Cristina Richter,

Gisele Carreirão Gonçalves, Josiana Piccolli e Michelle Carreirão

Gonçalves, sem que isso as torne responsáveis por qualquer dos

equívocos nele presentes. Uma versão mais resumida foi

publicada na coluna Opinião, do Diário Catarinense, n. 9649, em

19.ix.2012, p. 18, sob o título de Por uma educação infantil.

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