Contemplativos do Verbo do Eterno Pai no Espírito de Amor · se decide a sorte da Igreja». ... de...

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Comissão Episcopal Vocações e Ministérios

Dia de Oração pela VIDA CONSAGRADA CONTEMPLATIVA

Contemplativos do Verbo

do Eterno Pai no Espírito de Amor

Elementos para a Reflexão e Liturgia elaborados e seleccionados por Carmelo de Cristo Redentor – Carmelitas de Aveiro

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE 19 de Junho de 2011

EEllaabboorraaddoo ppeellaass CCaarrmmeelliittaass ddee AAvveeiirroo –– CCaarrmmeelloo ddee CCrriissttoo RReeddeennttoorr Rua Nossa Senhora da Saúde, 18 I 3810 - 291 AVEIRO � [email protected] � 234 342 615

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A vida contemplativa é esta memória viva do mistério de Cristo

Mensagem

1.No dia 19 de Junho, solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja em Portugal promove, tal como noutros países e a exemplo de anos anteriores, a Jornada de Oração pela Vida Contemplativa. São várias as dioceses de Portugal que têm comunidades de vida contemplativa e certamente há religiosos(as) contemplativos(as) provenientes de todas as dioceses do nosso país. Preparar este dia na oração e na gratidão é um dever de toda a Igreja. A vida contemplativa é um dom para a Igreja e uma bênção para o Mundo. Viver, também, esta Jornada como momento para semear a esperança e cultivar o terreno fecundo onde surjam novas vocações é um imperativo que a Igreja não esquece. 2.Quero proclamar com o Salmo 124 (125): «Enche de bens, Senhor, aos bons e aos rectos de coração». E porque de bens divinos se trata, sei que, como afirma o Santo Padre Bento XVI, «uma comunidade contemplativa é um lugar em que Deus pode morar» e que cada mosteiro é, hoje, qual gruta de Elias, contemplativo de Deus, e é monte santo a que Moisés sobe para falar com o seu Senhor e Libertador do seu Povo. Dou graças a Deus pelas comunidades contemplativas presentes em Portugal e muito particularmente pela Comunidade das Irmãs Carmelitas do Convento de Cristo Redentor, em Aveiro. A esta Comunidade se deve o presente contributo de reflexão e de oração, elaborado a pedido da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios (CEVM). Neste texto, as Irmãs ajudam-nos a «buscar e a ver o que o Senhor nos deu a conhecer» (Lc 2, 1-20). A comunhão que a esta Comunidade me une, como bispo diocesano, e a alegria diariamente renovada pela bênção que ela constitui para toda a diocese de Aveiro, permite-me respaldar nas suas tão oportunas reflexões e apropriar das suas próprias palavras para esta breve mensagem. Ir a Belém, como nos convida S. Lucas, significa firmar os nossos passos no chão sagrado da procura e do encontro de Deus e descalçar as nossas sandálias para percebermos que estamos a deixar marcas das nossas pegadas em oásis de paz, iluminados pela luz da glória divina. Em Belém - Casa do Pão – o Verbo se faz carne e aí se contempla o Filho Unigénito de Deus. A vida contemplativa é esta memória viva do mistério de Cristo e o contemplativo é aquele que vai à frente, a «proclamar um ano de graça da parte do Senhor». É o enamorado de Deus, atraído pela luz, seduzido pela voz, decidido a avançar na vanguarda da Igreja, como profeta de um tempo novo.

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3.Os pastores foram humildes e singelos contemplativos, na escuridão da noite. Para eles contemplar significou estar perto de Jesus em encontro de proximidade, fixando os olhos em Jesus para ver no visível o que é invisível. Maria, Mãe de Jesus, era ali a primeira a ter a ousadia de procurar ver e contemplar o que o Anjo lhe dissera. Desde esse momento primeiro de encanto e contemplação, que não faltaram, ao longo dos séculos da vida da Igreja, atentos(as) contemplativos(as) fixando os seus olhos em Cristo para n’Ele ver o que aconteceu e o que o Senhor nos deu a conhecer. Muitos deles estão hoje connosco em mosteiros e conventos que se elevam do anonimato das casas das cidades ou emergem dos recantos serenos da beleza dos campos, como mãos erguidas de oração permanente a Deus ou como faróis que iluminam os mares das nossas vidas. Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), ela própria contemplativa, depois de um longo e belo percurso, escrevia: «Os acontecimentos visíveis da história da Igreja que renovam a face da terra preparam-se no diálogo silencioso das almas consagradas a Deus». Consciente e conhecedor desta mesma certeza, Paulo VI lembrava-nos nos momentos decisivos do Pós-Concílio que: «é no coração dos contemplativos que se decide a sorte da Igreja». Surpreende muita gente que haja hoje homens e mulheres, alguns tão jovens, que traduzem nas suas vidas este doce encanto da contemplação, trocando o rumor do mundo pelo silêncio do claustro e percebendo que não é dos que muito se afadigam com as coisas que depende o futuro do mundo novo que somos chamados a construir. Se a ânsia do ter e a sofreguidão do fazer não derem lugar ao ser de cada pessoa e ao viver em comunhão, o mundo dificilmente encontrará espaço para Deus e futuro para o Homem. O êxodo do mundo a que a vida de clausura chama os(as) contemplativos(as) não significa uma recusa da vida nem uma rejeição do mundo mas sim um amor maior por Deus, autor da vida, e um amor maior pelo mundo. Nesta hora de apelo a uma renovada evangelização e na oportunidade de um repensar em comum da pastoral na Igreja em Portugal, urge dar à vida contemplativa um lugar primordial na oração e na gratidão de todos nós. Esta é, também, a hora oportuna e necessária para pedir aos(às) contemplativos(as), com as palavras de Bento XVI: «infundi com a vossa oração um novo alento de vida na Igreja e no mundo».

+António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro, Presidente da CEVM

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Intérpretes da Igreja Esposa

«A Igreja, Esposa do Verbo, realiza singularmente o mistério da sua união exclusiva com Deus naqueles que se entregaram a uma vida integralmente contemplativa» (VS 1). Neste mesmo sentido fala João Paulo II ao apresentar a vocação à clausura como «sinal da união exclusiva da Igreja-Esposa com o seu Senhor sumamente amado» (VC 59). Bento XVI ao falar a uma comunidade contemplativa reafirma este sentir da Igreja e chama a vida contemplativa a sentir com a Igreja, dado o lugar peculiar que nela ocupa e o dom precioso que constitui no mistério da santidade da própria Igreja. Deixamos a palavra do Papa que de forma tão bela ilustra a graça singular que é a vida contemplativa de clausura:

«Queridas Irmãs,

dirijo a cada uma de vós as palavras do salmo 124 (125): “Enche de bens, Senhor, aos bons e aos rectos de coração” (v. 4.) Saúdo-vos sobretudo com este augúrio:

esteja sobre vós a bondade do Senhor.

A Oração Litúrgica, como claustrais, marca os ritmos dos vossos dias e torna-vos intérpretes da Igreja-Esposa, que se une de forma especial, com o seu Senhor. Ordenada a esta oração coral, que encontra o seu cume na participação quotidiana no Sacrifício Eucarístico, a vossa consagração ao Senhor no silêncio e no ocultamento torna-se fecunda e cheia de frutos, não apenas em ordem ao caminho de santificação e purificação, mas também em relação a esse apostolado de intercessão que fazeis por toda a Igreja, para que possa aparecer pura e santa na presença do Senhor. Vós que conheceis bem a eficácia da oração, experimentais em cada dia quantas graças de santificação esta pode obter na Igreja.

Queridas Irmãs, a comunidade [contemplativa] que formais é um lugar em que o Senhor pode morar; esta é para vós a Nova Jerusalém, para a que sobem as tribos do Senhor para louvar o nome do Senhor (cfr Sl 121,4). Sede agradecidas à divina Providência pelo dom sublime e gratuito da vocação monástica, à que o Senhor vos chamou sem mérito algum da vossa parte. Com Isaías podeis afirmar “o Senhor me plasmou desde o seio materno” (Is 49,5). Antes ainda que vós nascêsseis, o Senhor tinha reservado para Si o vosso coração para o poder encher do seu amor. Através do sacramento do Baptismo recebestes em vós a graça divina e, imersas na sua morte e ressurreição, fostes consagradas a Jesus, para lhe pertencer exclusivamente. A forma de vida que recebestes, na modalidade de clausura, coloca-vos, como membros vivos e vitais, no coração do corpo místico do Senhor, que é a Igreja; e como o coração faz circular o sangue e mantém com vida o corpo inteiro, assim a vossa existência escondida com Cristo, entretecida

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de trabalho e de oração, contribui para sustentar a Igreja, instrumento de salvação para cada homem que o Senhor redimiu com o seu Sangue.

É a esta fonte inesgotável a que vos aproximais com a oração, apresentando na presença do Altíssimo as necessidades espirituais e materiais de tantos irmãos em dificuldade, a vida sem sentido de quantos se afastam do Senhor. Como não ter compaixão por aqueles que parecem andar perdidos sem meta? Como não desejar que na sua vida aconteça o encontro com Jesus, o único que dá sentido à existência? O santo desejo de que o reino de Deus se instaure no coração de cada homem, identifica-se com a própria oração, como nos ensina Santo Agostinho: Ipsum desiderium tuum, oratio tua est; et si continuum desiderium, continua oratio (cfr Ep. 130, 18-20) [O próprio desejo de ti é oração tua; e se o desejo continua, continua a oração]; por isso como fogo que arde e nunca se apaga, o coração permanece de pé, não deixa nunca de desejar e eleva sempre a Deus o hino de louvor.

Reconhecei por isso, queridas Irmãs, que em tudo o que fazeis, mais além dos momentos pessoais de oração, o vosso coração continua a ser guiado pelo desejo de amar a Deus. Com o bispo de Hipona, reconhecei que foi o Senhor que pôs nos vossos corações o seu amor, desejo que dilata o coração, até torná-lo capaz de acolher o próprio Deus (cfr In O. Ev. tr.40, 10). É este o horizonte da peregrinação terrena! Esta é a vossa meta! Por isto escolhestes viver no ocultamento e na renúncia aos bens terrenos: para desejar acima de tudo esse bem sem igual, essa pérola que merece a renuncia a qualquer outro bem para possuí-la.

Que possais dizer todos os dias o vosso “sim” aos desígnios de Deus, com a mesma humildade com que a Virgem Santa disse o seu “sim”. Ela que no silêncio acolheu a Palavra de Deus, vos guie na vossa consagração virginal, para que possais experimentar no ocultamento a profunda intimidade vivida por Ela com Jesus.»

Benedictus XVI Visita ao Mosteiro Dominicano de Santa Maria do Rosário, da Homilia na celebração da Hora

intermédia, 24 de Junho de 2010

L'Osservatore Romano, (Português) 26.06.2010 p. 16

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“Vamos ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer”

Lc 2,15

A vida contemplativa é a ‘memória viva’ do mistério de Cristo em todo o seu esplendor. A ela estamos todos chamados, porque todos somos convidados “àquele misterioso encontro com Deus que é a oração” (VS 1). Porém, de entre nós, Deus escolhe alguns para que no silêncio e na solidão do claustro se entreguem mais plenamente a este memorial divino realizado pelo Eterno Pai, que é o ‘contínuo descontinuo’ da ‘encarnação’ do Seu Verbo, isto é, a ‘re-criação’ de cada ser humano que se abre à graça e se deixa configurar com Cristo, na totalidade do seu mistério. Levados pela mão de S. Lucas vamos aproximar-nos do mistério da vida contemplativa pela porta do nascimento de Cristo, mais precisamente da figura dos Pastores. Depois do Anjo do Senhor lhes ter

aparecido e os ter envolvido à luz da glória do Senhor, depois de terem escutado o anúncio da grande alegria, que é o nascimento de Cristo Senhor, e terem ouvido uma multidão celeste a louvar a Deus, dizem entre si: “Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer.” (Lc 2, 1-20) O mistério da vida contemplativa está aqui, neste ‘vamos ver o que o Senhor nos deu a conhecer’. O Senhor vem ao encontro e revela-se, dá-se a conhecer, estabelece um diálogo de fidelidade e amor com cada um dos que chama e introdu-los no dinamismo próprio do mistério da ‘Encarnação’ que é a própria contemplação. A vida contemplativa é o deixar-se envolver e submergir pela corrente de amor que é a história da salvação. Cada mosteiro contemplativo é uma ‘Belém’, uma ‘casa do pão’ como significa Bethelem - um espaço em que o ‘Verbo se faz carne e contemplamos a sua glória de Unigénito do Pai’ (Jo 1,14). Uma gruta como aquela em que Elias esperou a

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passagem do Deus vivo (1Rs 19). Ou um monte em que Moisés sobe para falar com Deus. Ir a ‘Belém’ é ‘descalçar as sandálias’ e entrar na terra sagrada que é o mistério da Encarnação, o assumir, de Deus, da nossa natureza humana. Entrar na gruta de Belém é ir a esse “lugar solitário”, esse ‘lugar separado’ pela presença do próprio mistério divino. Um mosteiro é essa ‘gruta de Belém’, esse ‘oásis de paz’ iluminado pela luz da glória do Unigénito do Pai, em que “acolhendo o Verbo na fé e no silêncio adorador, os contemplativos se colocam ao serviço do mistério da Encarnação” (VS 4). O chamamento à vida contemplativa é um dom gratuito e amoroso do nosso Deus, como é o chamamento à santidade feito a todos os cristãos. O contemplativo é aquele que enamorado pela Beleza de Deus, se deixa atrair pela Sua luz e conduzir pela Sua voz e decide pôr-se a caminho para ver o que aconteceu e que o Senhor lhe deu a conhecer. Neste seu pôr-se a caminho, Ele assume a vanguarda de toda a Igreja e ‘proclama o ano da graça do Senhor’ tornando-se profeta do tempo novo, fazendo suas com verdade e realismo as palavras do discípulo amado: «O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, de facto, a Vida manifestou-se; nós vimo-la, dela damos testemunho e anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós, o que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.»

Maria é a primeira a ter a ousadia de ir ver o que o Anjo do Senhor lhe tinha dito acerca de Isabel (Lc 1, 39-45) e a confirmar no mais íntimo e profundo do seu ser como a «palavra do Senhor é viva e eficaz» (Hb 4) e que como diz o Senhor pelo Profeta Isaías «a palavra que sai da minha boca: não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha vontade e sem cumprir a sua missão» (Is 55, 11). Ela vê acontecer na sua própria vida a realização de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor.

Contemplar é “ir ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer”. E os primeiros contemplativos da história são os pastores. São eles que na escuridão da noite vêem a glória do Senhor, envolve-os a sua luz, e, escutam a voz que lhes diz: «anuncio-vos uma grande alegria: nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo-Senhor.» O dom da vocação contemplativa é sempre um ver na noite da fé a luz de Deus e ouvir a sua voz, manifestada no Verbo, palavra única do Pai. Um ver na fé para conhecer no amor e viver em esperança. Uma esperança que é espera orante da voz que nos manifesta a grandeza do Amor divino e nos

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oferece o dom da paz. «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados». Os contemplativos envolvidos pela luz do Senhor e deslumbrados pela sua glória deixam-se inundar pela grande alegria do ‘hoje’ da salvação oferecida pela presença divina e ‘aderem totalmente ao Senhor’ (cf. VS 1). «Vendo-O [os pastores] contaram o que lhes fora dito a respeito deste menino» (Lc 2,17). A contemplação confirma o que se vê pela fé. Pela fé eles acreditaram e pelo conhecimento amaram, como diz S. João «quem ama conhece a Deus», e, tornaram-se testemunhas vivas da Sabedoria do Amor de Deus, «Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu próprio Filho, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna». No hoje da contemplação, o contemplativo é chamado a viver o encontro com o mistério do Salvador que é Cristo Senhor e a tornar-se discípulo, testemunha e profeta da Sabedoria do Amor de Deus. Na raiz da vocação do contemplativo está um encontro de amizade com a pessoa de Jesus. Um encontro com o Verbo Encarnado, o mesmo ‘Verbo’ no qual ele é dito e se acolhe do Eterno Pai, aprendendo assim a viver na intimidade da exultação da filiação divina. É este encontro que faz do contemplativo uma pessoa ‘escondida com Cristo em Deus’, porque antes de se ‘esconder’ na clausura do mosteiro, Deus escondeu-o, com Cristo e em Cristo, no seu mistério de amor. Neste ‘vamos ver o que aconteceu e Deus nos deu a conhecer’ antevê-se que Deus realiza na história o que faz ver na fé, realiza na vida o que faz ‘pré-sentir’ no íntimo do coração. Deus revela-se como único Deus verdadeiro e vivo por palavras e por obras, para que pudessem ser conhecidos, por experiência, os seus planos sobre a humanidade e pudessem ser compreendidos mais profunda e claramente (cf. VD 11). A vida do contemplativo forja-se na contemplação dos sinais de Deus na história e no mundo descobrindo o realismo do Verbo. A realidade da contemplação emerge do reconhecimento de tudo ter sido feito no Verbo e por Ele tudo subsistir (Jo 1,3). Bento XVI diz-nos que «realista é quem reconhece o fundamento de tudo no Verbo de Deus», assim, o Verbo torna-se

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por essência a terra sagrada que o contemplativo pisa. O ‘livro da Sabedoria Eterna’ com que olha a realidade e com que ”dócil ao Mestre interior que é o Espírito Santo e vivificado pelos seus dons, deixa a sua vida conformar-se com a do Filho bem amado do Pai, como expressão de louvor e glória” (VS 3).

No seu ‘ir ver’ orante do mistério de Cristo, ele aprende a ver a realidade desde o Deus que o possui e que possui todas as coisas. O contemplativo é aquele que tem o olhar de enamorado, próprio de Deus, e por isso não conhece a Deus desde o homem, mas o homem desde Deus. Conhece cada ser humano em Deus e este é o verdadeiro encontro com ‘o mistério do Salvador que é Cristo Senhor’, porque, a todos, o Pai «do alto dos céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo» (Ef 1,3). A vida contemplativa claustral vivida nesta tensão vigilante de ‘ir ver o que Deus nos deu a conhecer’, converte-se numa resposta ao amor absoluto de Deus pela sua criatura e na realização do seu desejo eterno de acolhê-la no mistério de intimidade com o Verbo (cf. VS 3). A docilidade dos Pastores a esta inspiração divina é resposta ao diálogo Trinitário no amoroso acto de

condescendência divina, e, em cada contemplativo, é participação no Espírito, no diálogo do Pai com o Filho, na manifestação da beleza que é a Verdade de Deus – O Verbo Eterno luz dos homens – (Jo 1, 4). E a luz está em participar no eterno diálogo de amor, em “espírito e verdade”, que é a plenitude da aliança com cada contemplativo.

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Contemplativos do ‘Verbum Domini’

“Desde os primeiros séculos da Igreja, houve homens e mulheres que se sentiram chamados a imitar a condição de servo abraçada pelo Verbo Encarnado, e puseram-se a segui-Lo vivendo de um modo específico e radical, as exigências derivadas da participação baptismal no mistério pascal da sua morte e ressurreição. Deste modo, fazendo-se portadores da Cruz, comprometeram-se a tornarem-se portadores do Espírito, homens e mulheres autenticamente espirituais” (VC 6).

O contemplativo tem consciência de que «é criado na Palavra e vive nela; e não se pode compreender a si mesmo, se não se abre a este diálogo.» (VD 22) Por isso no seu diálogo com Deus, sob a hermenêutica do Verbo, realiza-se a profecia: «Tu és meu filho eu hoje te gerei.» A Palavra de Deus revela a natureza filial e relacional da sua vida. Por graça, é verdadeiramente chamado a configurar-se com Cristo, o Filho do Pai, e a ser transformados n’Ele.

«Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente, para me estabelecer em Vós, imóvel e pacífica como se já a minha alma estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundeza do vosso Mistério. Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada amada e o lugar do vosso repouso. Que nunca aí eu vos deixe só, mas que esteja lá inteiramente, toda acordada em minha fé, perfeita adoradora, toda entregue á vossa Acção criadora.» (Elevação à Trindade)

De Deus Pai, fonte e origem da Palavra

«A economia da revelação tem o seu início e a sua origem em Deus Pai. Pela sua palavra «foram feitos os céus, pelo sopro da sua boca todos os seus exércitos» (Sl 33, 6). No Filho, «Logos feito carne» (cf. Jo 1, 14), que veio para cumprir a vontade d’Aquele que O enviou (cf. Jo 4, 34), Deus, fonte da revelação, manifesta-Se como Pai e leva à perfeição a educação divina do homem, já anteriormente animada pela palavra dos

profetas e pelas maravilhas realizadas na criação e na história do seu povo e de todos os homens.» O apogeu da revelação de Deus Pai é oferecido pelo Filho com o dom do Paráclito (cf. Jo 14, 16), Espírito do Pai e do Filho, que nos

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«guiará para a verdade total» (Jo 16, 13). Deste modo, todas as promessas de Deus se tornam «sim» em Jesus Cristo (cf. 2 Cor 1, 20). Abre-se assim, para o homem, a possibilidade de percorrer o caminho que o conduz ao Pai (cf. Jo 14, 6), para que no fim «Deus seja tudo em todos» (1 Cor 15, 28).» (VD 20)

Deus manifesta-se como Pai que leva à perfeição a educação do homem divino que está chamado a ser o contemplativo. A experiência inefável da sua Paternidade Divina leva o contemplativo a reconhecê-LO como aquele que o envolve e sustém, e como Aquele que está para além de si mesmo, que é o seu Criador desde toda a eternidade. Como Cristo, também o contemplativo exterioriza a sua relação com o Pai em momentos de solidão e oração, de encontro e comunhão. «A vida contemplativa associada à oração de Jesus num lugar solitário, é por si mesma, uma forma singular de participação na relação de Cristo com o Pai.» A clausura é uma forma particular de estar com Cristo, através da ‘pobreza radical’, e a oração e solidão, formas de união com Cristo “num caminho de contínua ascensão para a casa do Pai”.

«Vós, ó Pai, inclinai-vos sobre esta vossa pobre pequena criatura, “cobri-a com a vossa sombra”, não vede nela senão “o Bem-amado no qual pusestes todas as vossas complacências”.» (Elevação á Trindade)

Do Verbo Palavra do Pai

«A partir do olhar sobre a realidade como obra da Santíssima Trindade, através do Verbo divino, podemos compreender as palavras: “Tendo Deus falado outrora aos nossos pais, muitas vezes e de muitas maneiras, pelos Profetas, agora falou-nos nestes últimos tempos pelo Filho, a Quem constituiu herdeiro de tudo e por Quem igualmente criou o mundo” (Hb 1, 1-2).

Esta condescendência de Deus realiza-se, de modo insuperável, na encarnação do Verbo. A Palavra eterna que se exprime na criação e comunica na história da salvação, tornou-se em Cristo um homem, «nascido de mulher» (Gl 4, 4). Vemo-nos colocados diante da própria pessoa de Jesus. A sua história, única e singular, é a palavra definitiva que Deus diz à humanidade. (VD 11) (…) O próprio Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez--Se criança, para que a Palavra

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possa ser compreendida por nós». Agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré.

No Mistério Pascal, Jesus manifesta-se como a palavra da Nova e Eterna Aliança: a liberdade de Deus e a liberdade do homem encontram-se definitivamente na sua carne crucificada, num pacto indissolúvel válido para sempre. (…) Cristo, Palavra de Deus encarnada, crucificada e ressuscitada, é Senhor de todas as coisas; todas as coisas ficam recapituladas nele para sempre. (VD 12) O mistério pascal apresentado no Novo Testamento surge como a realização íntima do desígnio divino no Verbo encarnado, sublinhando assim a unidade deste desígnio de acordo com as Escrituras. Estamos no coração da Palavra que é Cristo.

A vitória de Cristo sobre a morte se verifica através da força criadora da Palavra de Deus. Esta força divina proporciona esperança e alegria: tal é, em definitivo, o conteúdo libertador da revelação pascal. Na Páscoa, Deus revela-Se a Si mesmo juntamente com a força do Amor trinitário que aniquila as forças destruidoras do mal e da morte.

Assim, recordando estes elementos essenciais da nossa fé, podemos contemplar a unidade profunda entre criação e nova criação e de toda a história da salvação em Cristo. Jesus, o Filho do Homem compendia em Si mesmo a terra e o céu, a criação e o Criador, a carne e o Espírito. É o centro do universo e da história, porque n’Ele se unem sem se confundir o Autor e a sua obra» (VD 13).

O encontro do contemplativo com Jesus, o Verbo do Pai, é um encontro de proximidade e companhia, porque Ele é o Emmanuel, o Deus que encarnou para ser um Deus-connosco. Aqui a experiência é de um Deus próximo que se pôs ao seu lado de maneira decidida e eterna, um Deus que o introduz na plenitude do seu mistério e o faz testemunha da imutabilidade divina pela unidade de amor manifestada desde a criação até à nova criação, desde o Faça-se do Eterno Pai até ao ‘Eis que venho ó Pai para fazer a tua vontade’; desde o ‘Tudo está consumado. Nas tuas mãos entrego o meu espírito’ até ‘A paz esteja convosco. Não temais sou Eu. Recebei o Espírito Santo”. O contemplativo guiado pelo Verbo do Eterno Pai está chamado a alcançar aquela mesma unidade que amorosamente move toda a Trindade no conselho de amor que mantém entre si e no colóquio com que sustém todo o universo. Encontra-se a si mesmo no Verbo, dito pelo Pai, e converte-se em testemunha

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íntima do mistério de Cristo. A vocação claustral é a expressão máxima do mistério da união da Igreja-Esposa com o seu Senhor. Na clausura os contemplativos realizam o êxodo do mundo para encontrar a Deus na solidão do “deserto claustral” como comunhão esponsal da solidão de Jesus e de toda a sua vida interior (cf. VS 4). Imbuída deste diálogo Trinitário e perfeita adoradora da Santíssima Trindade a

Beata Isabel da Trindade exclama:

«Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-vos de glória, quereria amar-vos… até morrer de amor! Mas sinto a minha incapacidade e peço-vos para me “revestirdes de Vós mesmo”, para identificar a minha alma com todos os movimentos da vossa alma, me submergir, me invadir, e vos substituir a mim, a fim que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador e como Salvador. Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-vos, quero tornar-me inteiramente dócil ao vosso ensino, a fim de tudo aprender de Vós. Depois, por entre todas as noites, todos os vazios, todas as incapacidades, quero fixar-vos sempre e permanecer sob a vossa grandiosa luz; ó meu Astro amado, fascinai-me para que já não possa sair da vossa irradiação.» (Elevação á Trindade)

Da Palavra de Deus e do Espírito Santo

A Palavra de Deus exprime-se em palavras humanas graças à obra do Espírito Santo. A missão do Filho e a do Espírito Santo são inseparáveis e constituem uma única economia da salvação. O mesmo Espírito, que actua na encarnação do Verbo no seio da Virgem Maria, guia Jesus ao longo de toda a sua missão e é prometido aos discípulos. O mesmo Espírito que falou por meio dos profetas, sustenta e inspira a Igreja no dever de anunciar a Palavra de Deus e na pregação dos Apóstolos; e, enfim, é este Espírito que inspira os autores das Sagradas Escrituras.

Sem a acção eficaz do «Espírito da Verdade» (Jo 14, 16), não se podem compreender as palavras do Senhor. Tal como a Palavra de Deus vem até nós no corpo de Cristo, no corpo eucarístico e no corpo das Escrituras por meio do Espírito Santo, assim também só pode ser acolhida e compreendida verdadeiramente graças ao mesmo Espírito. (VD 15, 16)

É o encontro com o Espírito, que manifesta a Deus como contemporâneo de cada contemplativo, isto é, presente na sua própria história, porque é o Deus presente no mais íntimo da sua consciência. É o Deus que é comunhão e comunicação no Espírito Santo. Desta forma, o contemplativo é aquele que se

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expõe à acção eficaz do Espírito da verdade e recebe dele o alimento da vida. Iluminado pelo Espírito, que o justifica, descobre o verdadeiro sentido das coisas que a palavra de Deus encerra e aproxima-se da verdade do próprio Deus. É o amor derramado no coração do contemplativo que o torna cooperador na verdade e participante na obra Redentora de Cristo, em benefício de todo o seu Corpo (cf. VS 7). É o «Espírito da Verdade» que faz o contemplativo situar-se na linha da verdadeira e fundamental missão apostólica que lhe é própria: «ocupar-se unicamente de Deus”, pois está chamado a “conversar com o Esposo divino, meditando a sua lei dia e noite, para receber o dom da sabedoria do Verbo e unificar-se com Ele, sob o impulso do Espírito Santo» (VS 5).

«Ó Fogo consumidor, Espírito de amor, “sobrevinde a mim”, a fim de que se faça na minha alma como que uma encarnação do Verbo: que eu Lhe seja uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove todo o seu Mistério.» (Elevação à Trindade)

Este diálogo que se dá no mais profundo do ser humano, que é o contemplativo, só acontece no recolhimento, silêncio e solidão, onde se «procura livremente a Deus e se vive não só para Ele e com Ele, mas também exclusivamente d’Ele».

«Ó meus Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão infinita, Imensidade em que me perco, entrego-me a Vós como uma presa. Sepultai-vos em mim para que eu me sepulte em Vós, esperando ir contemplar na vossa luz o abismo das vossas grandezas.»

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Da Encarnação à Eucaristia

A vida contemplativa é semelhante aos vitrais duma catedral, só se vêem bem por dentro. Vistos por fora e com o sol a reflectir neles mais parecem pedaços de vidro escuro, agrupados de forma desordenada e unidos por filamentos de chumbo. Vistos por dentro, e em contraluz, mostram toda a sua beleza, arte e riqueza simbólica que os olhos não se cansam de contemplar. Vista com critérios humanos a vida contemplativa torna-se incompreensível, mas vista com critérios evangélicos a vida contemplativa manifesta a beleza do próprio Deus. O mosteiro contemplativo é precisamente o espaço da manifestação da Beleza de Deus. E quanto mais o contemplativo fixa

o olhar em Cristo, Verbo do Pai, mais beleza encontra e mais beleza irradia. «Mais se converte numa silenciosa irradiação de amor e de graça no coração palpitante da Igreja» (VS 3). Fixar o olhar em Cristo, ver no ‘visível o que é invisível’ e desejar completar na própria carne o que falta à paixão de Cristo é o verdadeiro sentido e a única missão da vida do contemplativo. João XXIII ao falar do apostolado dos contemplativos dirá: “O verdadeiro apostolado consiste na participação na obra de salvação de Cristo, coisa que não se pode realizar sem um intenso espírito de oração e sacrifício. O Salvador redimiu o mundo, escravo do pecado, especialmente com a sua oração ao Pai e sacrificando-se a si mesmo.” A vida contemplativa é absolutamente vital para a Igreja e para a humanidade sempre necessitadas do oxigénio purificado e renovador da graça, aspirado e distribuído pela oração e imolação dos contemplativos. João Paulo II ao dirigir-se aos contemplativos de Portugal dirá: “A vossa imolação silenciosa proclama o absoluto de Deus e interpela os homens-irmãos a interrogarem-se sobre o sentido da vida; e o vosso amor aplicado na adoração e na súplica derrama-se, “como bom odor de Cristo”, na história dos mesmos homens: dos que já conhecem e dos que ainda não conhecem o Senhor da história e a salvação que Ele propõe; uns e outros chamados a construir a justiça e a convivência fraterna cada vez mais segundo os desígnios divinos.”

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Esta missão de oração e imolação a que o contemplativo está chamado haure toda a sua beleza naquele momento em que na Cruz, Cristo, na oferta que faz de si mesmo ao Pai diz: “Tudo está consumado.” O contemplativo atrás destas palavras encontra a força da nova Criação e por isso nelas, ele, encontra a antecipação do reino celeste: “Eis que faço novas todas as coisas”. Entregar-se à imolação e à oração, “completar no seu corpo o que falta à paixão de Cristo”, não é senão participar na nova criação, viver em dinamismo eucarístico, ser canal de vida divina para humanidade. Numa palavra: ser sacramento de esperança celeste que é comunicação que Deus quer fazer de si mesmo a todos os homens. Ao completar na sua carne o que falta à paixão de Cristo, ou, ao ser para o “Verbo Eterno como que uma humanidade de acréscimo”, o contemplativo é essencialmente um enamorado da vida divina escondida em Deus e, por isso, ele realiza este anseio, na oferta que faz de si mesmo com Cristo ao Pai, numa plena atitude de louvor e acção de graças. Ao dom de Cristo-Esposo que na cruz ofereceu todo o seu corpo, o contemplativo responde de forma semelhante com o dom do seu “corpo”, oferecendo-se com Jesus Cristo ao Pai e colaborando na obra da Redenção. A vida contemplativa adquire assim um valor eucarístico, em que para além do aspecto de sacrifício e expiação, assume o de agradecimento ao Pai, participando na acção de graças do Filho Bem-Amado. (cf. VS 3) Testemunha desta realidade, a Bem-aventurada Isabel da Trindade afirma que: “o contemplativo vive em louvor de glória, sempre ocupado na acção de graças e, por isso, todos os seus movimentos, pensamentos e sentimentos, ao mesmo tempo que o enraízam mais intensamente no amor, são como que um eco do Sanctus Eterno.”

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Da Eucaristia à Missão

Santa Teresa Benedicta da Cruz (Edite Stein) dizia que: «Os acontecimentos visíveis da história da Igreja que renovam a face da terra preparam-se no diálogo silencioso das almas consagradas a Deus». Imagem perfeita desta realidade é o diálogo da encarnação entre o Anjo e Maria no silêncio da casa de Nazaré. Fazendo-se eco das suas palavras Paulo VI dirá: “É no coração dos contemplativos que se decide a sorte da Igreja”. São eles que imploram para a Igreja o dom do Espírito, “infundi com a vossa oração um novo alento de vida na Igreja e no homem actual” (João Paulo II). É a vida contemplativa que na sua missão orante, «precisamente o seu modo característico de ser Igreja», sustenta a comunhão de todo o corpo místico de Cristo: «Com a vossa oração chegais ao coração de cada diocese e de cada comunidade eclesial, para que sobre elas se derramem as bênçãos do Senhor. Isso será de grande consolo para acção pastoral dos bispos e dos sacerdotes; alentará o apostolado dos religiosos e religiosas de vida activa e favorecerá a prática religiosa e o compromisso evangélico de todos os fiéis leigos» (João Paulo II). Os contemplativos são os que estão com Maria em oração no cenáculo e invocam a vinda do Espírito Santo. São eles que deixando-se modelar pela acção do Espírito, se tornam eficazes intercessores, com os mesmos sentimentos de Cristo, e secundam a oração que com gemidos inefáveis o Espírito faz no seu interior, para bem da Igreja e da humanidade inteira, pedindo incessantemente que Deus envie de novo o Espírito Santo, para que renove a face da terra e para que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Paulo VI dirá na Evangelii Nutiandi, o Espírito Santo é «o agente principal da evangelização: é Ele quem impele cada um a anunciar o Evangelho e quem no fundo das consciências faz aceitar e compreender a palavra da salvação» (EN 75). Os mosteiros contemplativos espalhados pelo mundo, como oásis de oração e especial consagração a Deus no silêncio do claustro dão testemunho da beleza e da fecundidade missionária da «vida escondida com Cristo em Deus» (Cl 3,3). Na tarefa da nova Evangelização, e perante as imensas necessidades espirituais e materiais da humanidade a Igreja tem necessidade do carisma contemplativo. Numa carta dirigida às Carmelitas Descalças, extensiva a todos os contemplativos, João Paulo II dizia: «Nesta hora magnífica e crucial da história ressoam actuais e prementes os desejos de Teresa de Jesus, com a sua exortação a viverdes a contemplação ao serviço do Reino de Cristo: “para isso vos reuniu o Senhor; este é o vosso chamamento; estas devem ser as vossas incumbências;

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estas hão-de ser as vossas aspirações; aqui as vossas lágrimas, estas as vossas súplicas…”. Vós que sois a vanguarda da Igreja rumo ao Reino sede testemunhas do Deus vivo para o mundo de hoje.» Os contemplativos são o sinal mais eloquente da presença de Deus no meio dos povos e das culturas. Eles são o sacramento de Deus vivo oferecido por Cristo a toda a humanidade. A vida contemplativa evoca a Palavra do Pai dita no silêncio e acolhida no segredo do coração como fonte da nova evangelização, por isso, os contemplativos são convidados a participar de forma activa na Nova Evangelização, «permanecendo na fonte da vida trinitária e vivendo no coração da Igreja» (VS 6). Deus ama de tal modo o mundo, que lhe dá os contemplativos como expressão da sua aliança com cada homem e mulher, para que acreditando tenham a vida eterna, como afirma S. João: “conheçam o Pai como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem Ele enviou” (cf. Jo 17,3).

O Amor feito dom

À pergunta “O que tem a vida contemplativa para oferecer à nossa sociedade?” respondemos: o mesmo que Cristo teve para oferecer ao mundo: a gratuidade do amor ao fazer-se um de nós e ao ser solidário connosco. Diz-nos S. Paulo, na Carta aos Filipenses que: «Ele que era de condição divina não se valeu da sua igualdade com Deus. (…) Como homem humilhou-se ainda mais obedecendo até à morte (…) por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todos os nomes (…) para que toda a língua proclame a glória de Deus Pai.» Assim como Cristo “veio para os seus e os seus não o acolheram”, a vida contemplativa também não é acolhida por muitos. A lógica da gratuidade do amor torna-se estranha para uma sociedade que faz do individualismo, da eficiência, da competição e do lucro critério de vida. É normal que a ‘inacção activa’ da vida contemplativa e a misteriosa eficácia da oração, visível apenas aos olhos da fé, constitua uma provocação para muitos, que teimam em dizer que ela não responde às urgentes necessidades do século XXI. Uma afirmação destas significa não compreender o mistério de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus e só alcançar a plenitude do ser e da existência na relação com o seu Criador e com os outros homens seus irmãos. Significa não compreender o mistério da Igreja na sua totalidade, pois é desse mistério que brota e se desenvolve a vida contemplativa.

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É neste espírito de gratuidade e fugindo da lógica da eficiência, que a vida contemplativa contribui para a construção da sociedade humana através da edificação do Reino com o testemunho do amor fraterno, da oração pública e privada, comunitária e pessoal e o espírito de sacrifício que evoca o desprendimento dos bens deste mundo, que tantas vezes são obstáculo para o estabelecimento do reino de Deus entre nós. O pleno sentido da vida de um contemplativo encontra-se no primeiro mandamento: «Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento» (Lc 10,27), amando todos os irmãos e irmãs em Deus. Ele procura a perfeição do amor, escolhendo a Deus como “o único necessário” (Lc 10, 42) amando-O como o tudo de todas as coisas. (cf VS 5) É Pio XII que falando da vida contemplativa nos manifesta a beleza que a gratuidade do amor duma vida entregue a Deus pela Igreja e pela humanidade encerra.

«Esta forma de espírito contemplativo que procura a Deus no silêncio e na abnegação de si mesmo, é um movimento profundo do Espírito que nunca terminará enquanto hajam corações para escutar a sua voz… Existem assim no meio das grandes cidades modernas, nos países mais ricos ou nas selvas africanas, pessoas capazes de dedicar toda a sua vida à adoração e ao louvor, que se consagram voluntariamente à acção de graças e à intercessão, que se constituem livremente nos fiadores da humanidade perante o seu Criador, os protectores e os advogados diante do seu Pai celestial. Que vitória do Todo poderoso! Que glória para o Salvador! Pois bem a vida contemplativa não é, na sua essência outra coisa».

O dom que Deus faz de si ao contemplativo e a incondicional entrega deste a Deus, a união exclusiva com Deus, é o supremo grau de oração contemplativa. Esta oração faz de cada contemplativo o coração da Igreja, porque o faz reviver, em si mesmo, o amor sacerdotal de Jesus. De ânimo livre e hospitaleiro, “com a ternura de Cristo”, os contemplativos trazem no coração os

sofrimentos e as ansiedades daqueles que recorrem à sua ajuda e de todos os homens e mulheres, profundamente solidárias com as vicissitudes da Igreja e da humanidade actual (cf. VS 8) Escondidos com Cristo em Deus não podem irradiar senão o amor divino de que estão cheios e assim colaboram na perfeição de toda a humanidade “até que Deus seja tudo em todos”.

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A Loucura da Vida Contemplativa – Testemunho

J.M. � J.T. 19 de Agosto de 1894

«Fico muito satisfeita, minha querida irmãzinha, por tu não sentires atracção sensível ao vires para o Carmelo, é uma delicadeza de Jesus que quer receber de ti um presente. Ele sabe que é muito mais doce dar do que receber. Temos só o breve instante da vida para dar a Deus… e Ele prepara-se para dizer: «Agora é a minha vez…» Que felicidade sofrer por aquele que nos ama até à loucura e passar por loucas aos olhos do mundo. Julgam-se os outros por si mesmo, e como o mundo é insensato pensa naturalmente que as insensatas somos nós!... Mas no fim de contas, não somos as primeiras, o único crime que foi censurado a Jesus por Herodes foi o de ser louco e eu penso como ele!... sim era loucura procurar os pobres dos coraçõezitos dos mortais para deles fazer seus tronos, Ele o Rei de Glória que está sentado sobre os querubins…Ele a quem nem os céus podem conter…Estava louco o nosso Bem-amado, os seus íntimos, os seus semelhantes, Ele que era perfeitamente feliz com as duas pessoas adoráveis da Trindade!... Nunca poderemos fazer por Ele as loucuras que fez por nós, e as nossas acções não merecem este nome, porque são apenas actos muito razoáveis e muito abaixo daquilo que o nosso amor queria realizar. Portanto, o mundo é que é insensato visto que ignora o que Jesus fez para o salvar, é o açambarcador que seduz as almas e as conduz a fontes sem água… Nós também não somos nem preguiçosas nem pródigas. Jesus defendeu-nos na pessoa de Madalena. Estava à mesa, Marta servia, Lázaro comia com Ele e com os discípulos. Quanto a Maria, não pensava em tomar alimento mas em dar prazer Àquele que amava, por isso pegou num vaso de perfume de elevado preço e derramou-o sobre a cabeça de Jesus quebrando o vaso, então a casa toda ficou cheia do odor do perfume mas os Apóstolos murmuravam contra Madalena…Foi mesmo como para nós, os cristãos mais fervorosos, os sacerdotes acham que somos exageradas, que devíamos servir como Marta em vez de consagrar a Jesus os vasos das nossas vidas com os perfumes que neles estão encerrados…E todavia, que importa que os nossos vasos sejam quebrados se Jesus é consolado e se o mundo, mesmo sem querer, se vê obrigado a cheirar os perfumes que deles se exalam e que servem para purificar o ar envenenado que constantemente respira.

Teresa do Menino Jesus »

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O Retrato bíblico do contemplativo

Deixamos algumas pinceladas que podem servir para cada um “pintar” o seu

próprio retrato do contemplativo. O contemplativo é o que:

Como Maria de Nazaré, acredita na promessa de Amor que Deus faz à sua vida e

se deixa possuir pela alegria interior de possuir exclusivamente ao Senhor. «Feliz

de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do

Senhor» (Lc 1,45).

Como Zaqueu é convidado a descer depressa, porque hoje Deus quer ficar na sua

casa. A descer ao mais profundo, porque no hoje da graça Deus habita no mais

íntimo de si mesmo “no céu da sua alma” (Lc 19, 5-6).

Como a Samaritana, diz: “Dá-me dessa água para que não volte a ter mais sede”

e escuta o convite de Jesus a adorar em espírito e verdade, “pois são tais

adoradores que o Pai procura”(Jo 4, 23-24).

Como o Cego de Nascença, vive as noites escuras da fé, para que «nele sejam

manifestadas as obras de Deus» (Jo 9,3).

Como Maria «escolheu a melhor parte, o único necessário que não lhe será

tirado» e permanece aos pés do Mestre a escutar a sua palavra (Lc 10,42).

Como Marta, faz de toda a sua vida uma confissão a divindade do Messias: «Eu

creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vem ao mundo» (Jo 11,27).

Como os discípulos de Emaús sente “arder o coração” ao receber a luz do

Espírito da Verdade para compreender as Escrituras e quando na Eucaristia se

lhe abrem os olhos da fé e da vida para o memorial do Amor divino.

Como Pedro, quando a sua oração se traduz pela total confiança e entrega

amorosa ao Senhor e à sua vontade: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que te

amo» (Jo 21, 17).

Como João se mantém reclinado sobre o peito do Senhor, e por isso, pode dizer:

«O que ouvimos e vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que

nossas mãos tocaram acerca do Verbo da vida (…) isso vos anunciamos, para que

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estejais em comunhão connosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com seu

Filho Jesus Cristo» (1 Jo 1, 1-3).

O que «permanece em oração com Maria a mãe de Jesus, num só coração e

numa só alma» esperando a vinda do Espírito Santo, assumindo a voz da Igreja

Esposa que canta os louvores do Senhor e intercede pelo Povo de Deus a

caminho da Nova Jerusalém. (Act 1,14)

Como Jesus, quando possuído pelo Espírito de Amor reza com a vida a oração

sacerdotal do Cordeiro Imolado: «Por eles a mim mesmo me consagro, para que

eles sejam consagrados na verdade. A Tua palavra é a verdade» e faz do seu

projecto de vida o princípio da realização do pedido de Jesus ao Pai: «Que eles

sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para

que o mundo creia que tu me enviaste (…) e os amaste como me amaste a mim»

(Jo 17, 19-23).

Inundado da alegria do Espírito exclama: «Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e

da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes e as

revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado» (Lc 10,21).

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Sugestões para a Liturgia

Admonição

Celebrar a Solenidade da Santíssima Trindade é celebrar a mútua implicação do ser de Deus e de cada ser humano. Deus é comunhão de Amor, é Trindade, é família e cada um de nós está, também chamado a ser comunhão.

Na família Trinitária goza-se eternamente o mistério do Amor. Nesta família existe ‘um só coração e uma só alma’ e cada um dá aos outros tudo o que tem. São três pessoas que vivem plenamente o Amor, na geração, no acolhimento e na comunhão.

Expressões humanas desta Família Trinitária são as nossas comunidades cristãs, a Igreja Universal, os matrimónios, os grupos cristãos e as comunidades de vida religiosa. Hoje, somos convidados a rezar especialmente pelas comunidades de vida contemplativa.

A vida contemplativa é a imagem do Povo de Deus sentado com Cristo à direita do Pai, como plenitude do povo que caminha e que torna presente no mundo o Cristo itinerante e Salvador. O contemplativo é aquele que vive imerso na presença de Deus, submergido pelo Seu amor e, em ‘espírito e verdade’ ora ao Pai pelos seus irmãos.

Demos, graças a Deus, pelo dom da vida contemplativa e peçamos-lhe que desperte nas nossas comunidades e famílias vocações para a vida de clausura.

Preces Pró-Orantibus

Pai Eterno, Fonte de vida divina, submergi na corrente do vosso amor aqueles que chamais à vida claustral, e, fazei-nos descobrir que o único necessário das nossas vidas é o Amor, que sois Vós mesmo, despertando, entre nós, vocações para a Vida Contemplativa. Nós vos rogamos: ouvi-nos, Senhor.

Verbo Eterno, Palavra única do Pai, vós que viestes revelar ao mundo o rosto amoroso de Deus e oferecer a todos a vida eterna, renovai na oração dos contemplativos a vossa ‘oração sacerdotal’, para que surja uma nova humanidade, livre, gozosa, diferente, em que ‘Deus seja tudo em todos’. Nós vos rogamos: ouvi-nos, Senhor.

Espírito de Comunhão, Vós que congregais todos os povos na unidade do Pai e do Filho e atrais ao conhecimento da Verdade, conduzi os contemplativos para a “Verdade plena”, para que pelo dom das suas vidas, possam colaborar mais eficazmente na obra da Redenção. Nós vos rogamos: ouvi-nos, Senhor.

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Poesia

Contempla com o Coração A contemplação do coração é olhar a vida por dentro com os olhos da alma e a luz da fé; É o descansarmos na confiança de estarmos a ser amados neste preciso momento; É o deixarmos que Deus nos sussurre baixinho: “Ainda que tenhas de passar pelo fogo nada temas porque Eu estou contigo”; É o acreditar na realidade divina que se esconde sob a frágil humanidade da nossa existência; A Contemplação do Coração É a leitura gozosa do Evangelho que Deus vai escrevendo com a nossa vida; É a bênção da Presença de Deus feita “nova encarnação” e manifesta em nosso ser como nova criação; É abrir para o alto as asas do entendimento e acolher de Deus a luz que nos converte em sacramento; A Contemplação do Coração Não se dá em nenhum momento porque ela é vida momento após momento; Ela resgata-nos do sem sentido e faz-nos sentir de Deus o Amor de Filho querido; É um eterno enamoramento, para o qual Deus espera o nosso consentimento; A Contemplação do Coração É o que te faz saber que Deus é um só contigo, feito carne no teu ser… Faz sacramento do teu viver, celebra o memorial da contemplação e verás os frutos amadurecer em fecundidade de oração; Deixa que Deus te consagre em cada amanhecer, porque só assim saberás o que é a Deus pertencer; Contempla com o coração tudo o que te acontecer, porque um dia verás que era a TRINDADE que te estava a envolver. Contempla com o Coração E verás a beleza de Deus em ti florescer! CONTEMPLA COM O CORAÇÃO

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Oração

Elevação à Santíssima Trindade

Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente, para me estabelecer em Vós, imóvel e pacífica como se já a minha alma estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundeza do vosso Mistério. Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada amada e o lugar do vosso repouso. Que nunca aí eu vos deixe só, mas que esteja lá inteiramente, toda acordada em minha fé, perfeita adoradora, toda entregue á vossa Acção criadora.

Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-vos de glória, quereria amar-vos… até morrer de amor! Mas sinto a minha incapacidade e peço-vos para me “revestirdes de Vós mesmo”, para identificar a minha alma com todos os movimentos da vossa alma, me submergir, me invadir, e vos substituir a mim, a fim que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador e como Salvador.

Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-vos, quero tornar-me inteiramente dócil ao vosso ensino, a fim de tudo aprender de Vós. Depois, por entre todas as noites, todos os vazios, todas as incapacidades, quero fixar-vos sempre e permanecer sob a vossa grandiosa luz; ó meu Astro amado, fascinai-me para que já não possa sair da vossa irradiação.

Ó Fogo consumidor, Espírito de amor, “sobrevinde a mim”, a fim de que se faça na minha alma como que uma encarnação do Verbo: que eu Lhe seja uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove todo o seu Mistério. E Vós, ó Pai, inclinai-vos sobre esta vossa pobre pequena criatura, “cobri-a com a vossa sombra”, não vede nela senão “o Bem Amado no qual pusestes todas as vossas complacências”.

Ó meus Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão infinita, Imensidade em que me perco, entrego-me a Vós como uma presa. Sepultai-vos em mim para que eu me sepulte em Vós, esperando ir contemplar na vossa luz o abismo das vossas grandezas.

Beata Isabel da Trindade

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Siglas VS CONGREGAÇÃO PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E SOCIEDADES DE

VIDA APOSTÓLICA. VERBI SPONSA. Instrução sobre a vida contemplativa e a clausura das monjas. 13 de Maio de 1999

VC JOÃO PAULO II. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL VITA CONSECRATA sobre a Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo. 25 de Março de 1996

VD BENTO XVI. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL VERBUM DOMINI sobre a palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. 30 de Setembro de 2010

Créditos de imagens Capa BARTOLO di Fredi, A adoração dos Pastores (c. 1475). Musée du Petit Palais, Avignon.

In. http://www.culture.gouv.fr/Wave/image/joconde/0073/m094704_04-006473_p.jpg

p. 8 L’Osservatore Romano. Edição Semanal em Português, 26 de Junho de 2010, p. 16

p. 9 A adoração dos Pastores. BARTOLO di Fredi [detalhe]

p. 11 A adoração dos Pastores. BARTOLO di Fredi [detalhe]

p. 12 A adoração dos Pastores. BARTOLO di Fredi [detalhe]

p. 13 L’Osservatore Romano. Edição Semanal em Português, 13 de Novembro de 2010, capa

p. 14 Beata Isabel da Trindade.

In. http://www.flickr.com/photos/giovanicarvalho/5270428041/in/set-72157625622814558

p. 17 Andrei Rublev, Trindade.

In. http://sumateologica.files.wordpress.com/2010/12/andrei_rublev_trindade.jpg

p. 18 Vitral. In. http://www.jaro.com.br/oleo_sobre_tela_vitral.htm

p. 19 A Última Ceia.

In. http://www.holytransfiguration.info/wp-content/uploads/2007/01/LastSupper55.jpg

p. 22 O Carmelo. In. http://carmeloaveiro.carmelitas.pt/carmelo.htm

p. 25 Tratar de amizade.

In. http://carmeloaveiro.carmelitas.pt/tratar%20a%20amizade.htm

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Indice

A vida contemplativa é esta memória viva do mistério de Cristo. Mensagem ................................... 5

Intérpretes da Igreja Esposa ................................................................................................................................ 7

“Vamos ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer” Lc 2,15.......................................... 9

Contemplativos do ‘Verbum Domini’ ............................................................................................................. 13

De Deus Pai, fonte e origem da Palavra .............................................................................................. 13

Do Verbo Palavra do Pai .......................................................................................................................... 14

Da Palavra de Deus e do Espírito Santo ............................................................................................. 16

Da Encarnação à Eucaristia................................................................................................................................ 18

Da Eucaristia à Missão ......................................................................................................................................... 20

O Amor feito dom .................................................................................................................................................. 21

A Loucura da Vida Contemplativa – Testemunho ...................................................................................... 23

O Retrato bíblico do contemplativo ................................................................................................................ 24

Sugestões para a Liturgia.................................................................................................................................... 27

Admonição .................................................................................................................................................... 27

Preces Pró-Orantibus ................................................................................................................................ 27

Poesia - Contempla com o Coração ................................................................................................................. 28

Oração - Elevação à Santíssima Trindade ..................................................................................................... 29

Siglas .......................................................................................................................................................................... 30

Créditos de imagens .................................................................................................................................. 30

CCoommiissssããoo EEppiissccooppaall VVooccaaççõõeess ee MMiinniissttéérriiooss