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  • 8/16/2019 Contaminação de Aquifero

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    Quim. Nova, Vol. 30, No. 7, 1539-1544, 2007

          A     r      t       i     g     o

    *e-mail: [email protected]

    CONTAMINAÇÃO DE AQÜÍFERO POR HIDROCARBONETOS: ESTUDO DE CASO NA VILA TUPI, PORTOVELHO – RONDÔNIA

    Elcimar Juarez Forte*Laboratório Central de Polícia Técnica, Polícia Civil de Rondônia, Rua José Adelino da Silva, 4111, 78930-830 Porto Velho -RO, Brasil

    Mariangela Soares Azevedo, Ronaldo Cavalcante de Oliveira e

     

    Ronaldo de AlmeidaDepartamento de Química, Universidade Federal de Rondônia, Rodovia BR 364, km 9,5, 78900-500 Porto Velho – RO, Brasil

    Recebido em 2/6/06; aceito em 9/3/07; publicado na web em 30/7/07

    HYDROCARBON CONTAMINATION IN GROUNDWATER: THE CASE OF TUPI VILLAGE, PORTO VELHO-RO. Undergroundstorage tanks (UST) are widely used in the Porto Velho area. A large number of these USTs are in bad condition due to corrosion processescausing groundwater contamination. A large number of these leaking underground fuel tanks (LUFT) are in urban areas but due to thelack of water quality monitoring, they are only detected when there is a high contamination level. This study identified petroleumhydrocarbons, derived from a LUFT, by a silica gel/petroleum ether partitioning gravimetric method and by gas chromatographicanalysis of samples collected in wells dug in a gas station and in houses in the aforementioned neighborhood.

    Keywords: contamination; fuels; hydrocarbons.

    INTRODUÇÃO

    No Brasil as preocupações relacionadas ao potencial de conta-minação de águas subterrâneas por derramamentos de combustí-veis vêm crescendo em diversas cidades, fazendo com que muitaselaborem legislação sobre o tema, como é o caso de São Paulo, BeloHorizonte, Florianópolis e Curitiba.

    No estado de São Paulo, no período de 1984 a 2001, foram rea-lizados 438 atendimentos emergenciais envolvendo vazamento decombustíveis em postos de revenda e de prestação de serviços. Cer-ca de 10% de todas as emergências atendidas no estado, conforme aDivisão de Tecnologia de Riscos Ambientais da CETESB são pro-venientes de vazamentos em postos e sistemas retalhistas de com-bustíveis1.

    Conforme dados da Agência Nacional de Petróleo – ANP2, nofinal de 2001 tinham cadastro no Brasil 32.697 postos, registro este12,3% superior ao ano anterior. A cidade de Porto Velho dispõe deaproximadamente 97 postos revendedores de combustíveis, de acor-do com dados da ANP2 e Secretaria de Estado de DesenvolvimentoAmbiental de Rondônia - SEDAM, tendo, portanto, um númeroaproximado de 400 tanques de armazenamento de combustíveis,sem contar com as 14 empresas que atuam como Bases de Distri-

    buição de Combustíveis Líquidos Derivados de Petróleo e de Álco-ol. Não se sabem as condições da maioria desses tanques, que têmuma vida útil de 15 anos aproximadamente.

    Com 334.661 habitantes, conforme censo demográfico de 2000do IBGE, Porto Velho tem 2,4% de domicílios abastecidos com águapotável, cuja captação é feita principalmente de mananciais de su-perfície3. Poços tubulares e escavados do tipo “Amazonas” são asfontes de água do restante, nem sempre construídos obedecendo acritérios técnicos, tornando a população usuária deste tipo de abas-tecimento vulnerável aos riscos de consumir água contaminada porcombustíveis provenientes de vazamentos de tanques dearmazenamento subterrâneos dos postos revendedores e distribui-doras, além de outros contaminantes. Esses vazamentos podem acar-

    retar sérios impactos ambientais devido à contaminação do solo edas águas subterrâneas, comprometendo a qualidade dos recursoshídricos e seu uso para abastecimento.

    Este trabalho se fixou na Vila Tupi aproveitando-se requisiçãoda SEDAM ao Instituto de Criminalística e ao Laboratório Centralde Polícia Técnica da Polícia Civil do Estado de Rondônia para queparticipassem de estudos visando identificar possíveis contamina-ções na água de poços de residências da Vila Tupi, localizadas pró-ximas a um posto revendedor de combustíveis situado na Rua Cam-pos Sales com BR-364, na cidade de Porto Velho e em outras áreasda cidade.

    Quando ocorre um vazamento de combustível a partir de tan-ques de armazenamento subterrâneos, forças gravitacionais atuamdirecionando o fluxo para as porções mais profundas do solo (Figu-ra 1). Os hidrocarbonetos de petróleo penetram no subsolo comolíquido de forma não aquosa – “NAPL (Non-Aqueous PhaseLiquids)”. Conforme sua densidade, os NAPLs são divididos emlíquidos leves na fase não aquosa – “LNAPL (Light Non-AqueousPhase Liquids)” - que são compostos com densidade menor que aágua (como exemplo os hidrocarbonetos do petróleo: benzeno,tolueno, etilbenzeno, xilenos) e líquidos densos na fase não aquosa– “DNAPL (Dense Non-Aqueous Phase Liquids)” - compostos com

    densidades maiores que a da água4.Os principais contaminantes capazes de impactar o meio ambi-

    ente em casos de derramamentos de combustíveis são oshidrocarbonetos mono aromáticos5  (benzeno, tolueno, etilbenzenoe xilenos - os BTEX) e os policíclicos aromáticos, como naftaleno ebenzopireno6. O benzeno é sabidamente carcinogênico, sendo osoutros, tolueno, etilbenzeno e os xilenos, considerados tóxicos7,8.

    A gasolina é composta por hidrocarbonetos e aditivos usados paramelhorar o desempenho do combustível e do motor e apresenta boamobilidade, atingindo a água subterrânea por infiltração quando de umderramamento9. O diesel é composto por hidrocarbonetos contendo 10a 12 carbonos e, devido ao maior peso molecular, seus componentessão menos voláteis, menos solúveis em água e apresentam menor mo-bilidade no ambiente que os componentes da gasolina. As proporçõesde BTEX presentes no diesel são geralmente baixas10.

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    Normalmente, um vazamento de combustível em um tanquede abastecimento promove diferentes fases de contaminação: livre(ou móvel), adsorvida, dissolvida, vaporizada e condensada11,12.

    Os principais fenômenos físicos que controlam a migração decompostos orgânicos no solo são: advecção – que é o mecanismo noqual os contaminantes seguem coincidentemente o fluxo subterrâ-neo; dispersão – mecanismo responsável pela diminuição de con-centração dos contaminantes e, atenuação – que é a redução de

    contaminantes transportados pela advecção. A advecção e a disper-são irão transportar e espalhar, respectivamente, a pluma no meioporoso13,14.

    Nas contaminações com a gasolina brasileira, o etanol adicio-nado15 adquire grande importância, pois sua presença altera o com-portamento da gasolina em termos de solubilidade, mobilidade edegradação16. Ao entrar em contato com a água, o etanol passa paraa fase aquosa, aumentando a solubilidade dos compostos mono aro-máticos BTEX. A degradação natural (biodegradação) do etanol serápreferencial sobre os constituintes solúveis da gasolina17, aumen-tando a persistência destes compostos na água subterrânea18.

    O alcance da pluma de contaminação sob a zona de gasolina nafase livre pode chegar a distâncias consideráveis. Plumas contendo

    misturas de gasolina e álcool irão contaminar áreas maiores queplumas sem a presença de etanol19. O avanço das manchas poluidoraspode ser acelerado pela exploração do aqüífero, na medida em queaumenta a velocidade do fluxo subterrâneo em direção às áreas ondeestá havendo a retirada de água20.

    Este trabalho teve como objetivo verificar a presença dehidrocarbonetos para caracterizar a contaminação e a migração dapluma, utilizando a partição gravimétrica, técnica acessível para arealidade de Rondônia, não se atendo à avaliação da periculosidade.

    PARTE EXPERIMENTAL

    Área de estudo

    A Vila Tupi está localizada na zona sul da cidade de Porto Velho,no entroncamento da BR-364 sentido Acre e Rua Campos Sales (Lati-tude 20L 401286.877, Longitude 9029021.633, coordenadas do Poçode Monitoramento 04), sendo área residencial, contando com comérci-os e com cerca de 100 famílias residindo no local. Distando aproxima-damente 50 m da Vila, na confluência da BR-364 com Rua CamposSales, no lado oposto (Latitude 20L 401326.517, Longitude 9028977.242– coordenadas do Poço de Monitoramento nº 02), em nível mais eleva-do que a Vila situa-se um posto revendedor de combustíveis, potencialfonte poluidora do lençol freático por combustível.

    Durante fevereiro de 2004, foram realizadas 10 perfurações de

    sondagem (Poços de Monitoramento) no pátio do posto se

    direcionando até a Vila Tupi, sendo 6 utilizadas neste trabalho21.Foram identificados sedimentos argilosos, areno-argilosos, areno-sos e seixos inconsolidados, além de concreções lateríticas caracte-rizando coberturas aluvionares encaixadas em um vale. Verificou-se a presença de aterro na área em que se localizam os poços PM-01 e PM-02, visto que o terreno do posto é originariamente emdesnível, com parte de suas instalações edificada em área aterrada.

    O fluxo subterrâneo, um parâmetro importante na avaliação de

    risco de contaminação das águas subterrâneas e que é indispensá-vel no estudo da evolução de plumas de contaminação, dá-se de SEpara NW, ou seja, da BR-364 em direção a Vila Tupi, com o postotopograficamente intermediário21.

    Materiais e métodos

    Na área estudada, do Posto até a Vila Tupi, foram utilizadoscomo pontos de coleta de amostras os poços de monitoramento per-furados por Melo Jr. e Costi21, com n amostral igual a 6, além de 4amostras coletadas de poços de residências da Vila.

    Para coleta foram utilizados frascos de vidro de boca larga, corâmbar, com capacidade para 1,0 L, usados comumente para acondicio-

    nar reagentes químicos, previamente descontaminados no Laboratóriode Biogeoquímica Ambiental da Universidade Federal de Rondônia –UNIR, segundo metodologia CETESB22. Também foram usados umamostrador para água fabricado em PVC e válvula de retenção; medi-dor eletrônico de nível da água; kit (modelo Meter-handylab Schott®)para determinação in loco dos parâmetros físico-químicos da água (pH,condutividade elétrica, temperatura do ar e temperatura da água); re-ceptor de GPS (modelo GPS III Plus Garmin’s®) para obtenção dascoordenadas geográficas (em UTM – “Universal Transversal Mercator”– ver os mapas de isoconcentrações) dos poços amostrados.

    O índice de hidrocarbonetos - “TPH (Total PetroleumHydrocarbon)” - foi determinado com cromatógrafo a gás (SiemensSichchromat) equipado com detector de ionização de chama (DIC),coluna CP SIL 8CB 10 m X 0,25 mm, autosampler Varian (Método

    DIN ISO 9377-2, com Limite de Detecção de 0,1 mg L-1). A princi-pal limitação deste parâmetro consiste no fato de que oshidrocarbonetos totais de petróleo (TPH) são indicadores da pre-sença ou não de hidrocarbonetos no meio, não determinando, entre-tanto, o tipo de substância presente, impossibilitando a avaliaçãodo grau de periculosidade individual.

    O teor de BTEX23 foi analisado com o equipamento ThermoquestGCQ (“high resolution gás chromatograph”), sistema íon trap,autosampler CTC, headspace sampler Varian, detector MSD, colu-na CP SIL 8CB MS 30 m X 0,25 mm. Tanto o teor de BTEX quantoTPH foram determinados pelo Laboratório Innolab do Rio de Janei-ro, que utilizou ainda padrões de hidrocarbonetos C-10 até C-38 eos padrões deuterados Perdeuterobenzene, Toluene-d8, D-orto-

    Xileno nas análises de BTEX.As análises de óleos e graxas, uma adaptação de Macedo24 do“Standard Methods”, e hidrocarbonetos por partição gravimétrica,também uma adaptação do Standard Methods25 foram efetuadas noLaboratório de Biogeoquímica Ambiental da UNIR, sendo usadosos seguintes reagentes, todos em grau P.A.: ácido clorídrico 1:1 (v/ v) da Merck, éter de petróleo (Vetec), sulfato de sódio anidro (Vetec)e sílica gel para cromatografia em coluna (Vetec). Como vidrariaforam usados erlenmeyer de 500 mL, funil de separação de 2,0 Lcom rolha e torneira de teflon, balão de destilação de 125 mL, alémde bomba de vácuo, banho-maria e papel de filtro, sendo realizadosbranco do equipamento (amostrador) e branco com água destilada.

    O perfil cromatográfico foi realizado no Centro de Perícias Ci-entíficas Renato Chaves, Gerência de Castanhal, no estado do Pará,

    utilizando um cromatógrafo a gás GC-3300, da Varian com detector

     Figura 1. Contaminação de solo e água subterrânea. Adaptada da ref. 5

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    de ionização de chama, injetor split-less, colunas porapak 30 m eOV-17, sendo usado o head space (aquecimento da amostra em frascotipo penicilina lacrado em estufa de esterilização a 150 ºC); nitro-gênio como gás de arraste.

    No Laboratório de Biogeoquímica Ambiental da UNIR, com osoftware Surfer 8.0 da Golden Software, Inc.26, utilizado em análiseshidrogeológicas, foram confeccionados, utilizando-se o método dekrigagem27, mapas de sentido do fluxo subterrâneo, cotas de nível e

    nível de água. Os mapas de isoconcentrações de óleos e graxas ehidrocarbonetos foram confeccionados utilizando-se o método deinterpolação a partir do algoritmo inverso da distância ao quadrado.

    Amostragem

    A amostragem foi realizada em três etapas. Na primeira etapa,no período de 7 a 9/7/2003, foram coletadas amostras de água sub-terrânea provenientes de poços de 3 residências da Vila Tupi(identificadas como AM-01, AM-02 e AM-03), que após serem acon-dicionadas em embalagem térmica foram encaminhadas para análi-se em laboratório no Rio de Janeiro, sendo submetidas aos examesde TPH e BTEX no Laboratório Innolab do Brasil, pertencente ao

    grupo Innolab GmbH.

    A segunda etapa foi realizada no dia 14 de abril de 2004, sendocoletadas amostras de água dos 6 poços de monitoramento (PM-01a PM-06) instalados pela equipe do Serviço Geológico do Brasil -CPRM e amostra de água da casa de um morador da Vila Tupi(AM-01), com o auxílio de um amostrador de água, confeccionadoem PVC tendo uma válvula de retenção. As amostras foram acondi-cionadas em frascos de vidro de cor âmbar, boca larga, com capaci-dade para 1 L. Vale ressaltar que, a coleta do poço AM-01 também

    fora realizada anteriormente, em julho de 2003.Em julho de 2004, um ano após a primeira amostragem, foram

    coletadas novas amostras dos 6 piezômetros e da residênciaamostrados em abril e de mais um poço com aproximadamente 10,0m de profundidade de uma residência da Vila Tupi (AM-02/04).Neste período, não se coletou amostras do Poço de Monitoramento01, devido o mesmo ter apresentado percolação de cimento quandodo processo de cimentação do poço. A Figura 2 mostra croqui delocalização da Vila Tupi e de todos os pontos amostrados, verifican-do-se ainda a posição dos TSACs (Tanques Subterrâneos deArmazenamento de Combustíveis) do Posto.

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Análise instrumental – TPH e BTEX

    Os resultados das amostras coletadas em julho de 2003 cons-tam na Tabela 1 e foram extraídos do boletim de análise química doInnolab.

    Conforme o próprio método utilizado na determinação do índi-ce de hidrocarbonetos, é feita uma extração e posterior concentra-ção, havendo perdas principalmente dos componentes voláteis, comoos BTEX’s. Mesmo assim, foi detectada a presença dehidrocarbonetos totais de petróleo nas amostras AM-01 e AM-02. Anão detecção de TPH na amostra AM-03 não necessariamente indi-ca a ausência de derivados de petróleo, como observado nos resul-

    tados das análises de BTEX.Na amostra AM-01 detectaram-se todos os componentespesquisados (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos) na quantidadetotal de 113 µg L-1. A concentração de benzeno – 34 µg L-1 na amostraAM-01 (amostragem de julho de 2003) - ultrapassa os valores permi-tidos para consumo humano pela Portaria MS 518/04 do Ministérioda Saúde28, que substituiu a Portaria MS 1469/2000, que fixa a quan-tidade de benzeno em 5 µg L-1 e que é utilizado pela CETESB29, porex., como valor para intervenção, sendo necessárias, para estes valo-res, medidas de remediação imediatas. Também ultrapassa o valormáximo permitido nos corpos d’água conforme a Resolução nº 20/86do CONAMA30, que fixa em 10 µg L-1.

    É bom salientar que o Estado de Rondônia no Decreto nº 7903,de 01 de julho de 1997, que regulamenta a Lei Estadual nº 547 de

    30 de dezembro de 1993 e que dispõe sobre proteção, recuperação,

     Figura 2. Croqui de localização da Vila Tupi e de todos os pontos amostrados

    Tabela 1. Resultado das concentrações de TPH e BTEX, em mg L-1

    Parâmetros AM-01 AM-02 AM-03

    *Benzeno 34

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    controle, fiscalização e melhoria da qualidade do meio ambiente,fixou como limite os mesmos valores da Resolução nº 20/86 doCONAMA, não específicos para águas subterrâneas31. Os valoresdetectados indicam um grave risco no consumo dessa água pelapopulação que, por exposição crônica, pode desenvolver doençasdo sistema nervoso central ou leucemia18.

    A detecção de BTEX nas amostras AM-01, AM-02 e AM-03mostra que a pluma poluidora avançou em direção à Vila, tendo em

    vista a distância das residências ao posto de gasolina. O alto índicepluviométrico na cidade de Porto Velho e a exploração dos aqüíferosdos quais são retiradas as águas contribuem decisivamente para esteavanço, na medida em que aumenta a velocidade do fluxo subterrâ-neo em direção às áreas onde está havendo a retirada de água, ca-racterizado pelo bombeamento, que pode alterar as configuraçõesdo fluxo de água subterrânea e, conseqüentemente, alterar o movi-mento de uma pluma contaminante20.

    Óleos, graxas e hidrocarbonetos – método de partiçãogravimétrica

    Em abril de 2004 foram verificados parâmetros físicos, como

    temperatura da água, pH e condutividade elétrica da água; tempe-ratura do ar e profundidade do nível da água a partir da superfície,sendo observado odor característico de combustível derivado depetróleo em algumas amostras, fortalecendo as evidências da pre-sença de hidrocarbonetos.

    Na amostragem efetuada em julho de 2004 ainda se observou oodor característico de combustível nos poços de monitoramento 02e 03 e nos poços das residências amostradas. Foi observada tam-bém variação considerável do nível das águas (NA), em relação àsuperfície, de uma amostragem para outra. Foram efetuadas análi-ses visando determinar a concentração de óleos, graxas ehidrocarbonetos (Tabela 2).

    Observando-se, na Tabela 2, os valores detectados e os mapasde isoconcentrações de óleos, graxas e de hidrocarbonetos do PM-

    03 do mês de julho de 2004, verifica-se que essas são maiores queas concentrações do PM-02. Em abril de 2004 ocorreu o inverso.

    Os mesmos mapas mostram, nos períodos amostrados, a disper-são da pluma de contaminantes a partir do posto e a persistênciados hidrocarbonetos, sendo observada uma diminuição nos teoresdos parâmetros pesquisados caracterizando uma atenuação natural.Verifica-se ainda um espalhamento da pluma e sua migração acom-panhando o fluxo subterrâneo (Figuras 3 a 6), devendo ser tomadasmedidas urgentes na área, como a interdição preventiva dos poçosde abastecimento das residências da Vila e realizados estudos maisdetalhados visando medidas de remediação pois os moradores, apersistirem no consumo destas águas, continuarão a sentir os pro-blemas da contaminação caracterizada pela presença indesejável

    de hidrocarbonetos, haja vista a sazonalidade do aqüífero, que semovimenta verticalmente acompanhando os movimentos de cheia eseca, observada na variação do nível da água (N.A.) constante naTabela 2.

    Salienta-se que no período de janeiro a maio e setembro a de-zembro ocorre excedente hídrico significativo em Porto Velho, acimade 900mm/ano, que possibilita a recarga do aqüífero32. Nos meses de junho a agosto as precipitações pluviométricas diminuem significati-vamente, ocorrendo uma deficiência hídrica, ou seja, a precipitação émenor que a umidade requerida pela evapotranspiração32.

    CONCLUSÕES

    Verificou-se a presença de hidrocarbonetos derivados de petróleo

    nas amostras de água analisadas e coletadas de poços de monitoramento

    Tabela 2. Valores em mg L-1 de óleos, graxas e hidrocarbonetos nasamostras de água e nível das águas (N.A.) em m, nos meses de abrile julho de 2004

    Amostras Óleos e Graxas Hidrocarbonetos Nível da(mg L-1) (mg L-1) água (m)

    Abr Jul Abr Jul Abr Jul

    PM-01 193 - 95 - 2,90 -PM-02 104 47 46 28 4,85 5,58PM-03 88 67 38 65 5,33 5,97PM-04 63 34 14 23 4,32 5,21PM-05 65 19 41 8 2,80 3,61PM-06 80 26 32 9 6,20 6,99AM-01 53 33 23 14 3,60 5,00AM-02/04 - 31 - 23 - 7,40

     Figura 3. Mapa (com coordenadas em UTM) das concentrações de óleos egraxas – abril de 2004

     Figura 4.   Mapa (com coordenadas em UTM) das concentrações dehidrocarbonetos – abril de 2004

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    1543Contaminação de aqüífero por hidrocarbonetos: estudo de caso na Vila TupiVol. 30, No. 7 

    e de poços utilizados como fontes de abastecimento na Vila Tupi, emPorto Velho, caracterizando ação antropogênica na área estudada.

    As metodologias empregadas serviram para o diagnóstico dehidrocarbonetos, podendo inclusive ser utilizadas no monitoramentode aqüíferos por postos revendedores de combustíveis, atentando-se, porém, para o uso em problemas de derramamento de combustí-veis ou quando de vazamento muito antigo, quando o solo já estarásaturado. A análise para hidrocarbonetos é mais específica e é feitaa partir dos resquícios dos resíduos de óleos e graxas analisados.Deve-se levar em conta ainda que estas análises não possibilitam aavaliação do grau de periculosidade individual.

    O uso da cromatografia gasosa é conveniente, principalmente

    pelo baixo custo do traçado do perfil cromatográfico. Foi caracteri-

     Figura 5. Mapa (com coordenadas em UTM) das concentrações de óleos egraxas - julho de 2004

     Figura 6.   Mapa (com coordenadas em UTM) das concentrações dehidrocarbonetos – julho de 2004

    zado o deslocamento da pluma de contaminação acompanhando ofluxo subterrâneo na direção da Vila Tupi, tendo em vista as carac-terísticas físico-químicas dos hidrocarbonetos detectados e obombeamento dos aqüíferos, aumentando a extensão da pluma. Apermeabilidade do solo na área e o alto índice pluviométrico nacidade de Porto Velho também contribuem para este deslocamento,além da influência do etanol.

    Os dados obtidos de amostras de água coletadas dos poços de

    monitoramento distribuídos na área estudada e de poços de abaste-cimento de residências da Vila Tupi, que apresentaram teores deóleos e graxas de 193 mg L-1 (máximo) em abril de 2004 no PM-01e 19 mg L-1  (mínimo) em julho de 2004 no PM-05 e teores dehidrocarbonetos entre 95 mg L-1 (máximo) em abril de 2004 no PM-01 e 14 mg L -1  (mínimo) em julho de 2004 na amostra AM-01,permitem concluir que os hidrocarbonetos detectados nas águassubterrâneas analisadas são oriundos do posto revendedor de com-bustíveis localizado próximo à Vila, única fonte potencial de conta-minação por estes compostos nas proximidades.

    O teor de benzeno (34 µg L-1) encontrado na amostra de águaAM-01, do poço de uma residência da Vila Tupi, ultrapassa o valorfixado de 5 µg L-1 pela Portaria MS 518/04 para potabilidade, valor

    usado pela CETESB para intervenção em uma área contaminada.O plano de estudos proposto neste trabalho pode ser aplicado paradiversas áreas que possuam fontes potenciais de contaminação porhidrocarbonetos, como postos revendedores de combustíveis, distribui-doras de combustíveis, lava jatos e oficinas mecânicas. É importante, apartir desta metodologia, expandir os estudos visando estabelecer va-lores orientadores para a proteção da qualidade de solos e águas sub-terrâneas da cidade de Porto Velho e do Estado de Rondônia, visandoestratégias para minimizar os danos causados ao meio ambiente.

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