contabilidade e inflação

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Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS 12 O Custo Inflacionário na Análise das Demonstrações Contábeis: Um Estudo de Caso no Período 2005 – 2006 Orleans Silva Martins (UnB/UFPB/UFRN) [email protected] Ricardo Ferreira Dantas (UnB/UFPB/UFRN) [email protected] Adriana Fernandes de Vasconcelos (UnB/UFPB/UFRN) [email protected] Resumo: Investigando o impacto negativo do atual custo inflacionário no grau de evidenciação dos resultados das empresas, através da análise de suas demonstrações contábeis, o presente estudo objetiva analisar o impacto que o custo inflacionário provoca na análise das demonstrações contábeis das empresas brasileiras. Para isso, foi realizado um estudo de caso em uma empresa brasileira do setor petroquímico. Tomando como base as demonstrações contábeis publicadas através de seus relatórios de administração, em custo histórico e em moeda de poder aquisitivo constante, foi realizado um estudo de caso comparativo entre os indicadores econômico-financeiros calculados a partir dos dois conjuntos de demonstrativos da empresa, e esses resultados foram testados estatisticamente através do teste de igualdade de médias para amostras emparelhadas. Os resultados das análises demonstraram que esses indicadores são influenciados negativamente pelo custo inflacionário, muito embora o teste de igualdade de médias não tenha identificado significância estatística entre as diferenças existentes. Palavras-chave: Inflação; Demonstrações Contábeis; Análise das Demonstrações Contábeis. 1. Introdução A inflação é um fenômeno que vem acompanhando a evolução da moeda desde a sua criação. Caracterizada pela perda do poder de compra da moeda, a inflação passou a ser tema de estudo para a contabilidade a partir do século XX. Seus primeiros registros datam da década de 20, devido, basicamente, à política de industrialização mundial e ao excesso de meio circulante existente àquela época. A partir desse período, até o início da década de 60, não houve uma grande evolução para a solução dos problemas causados pelos efeitos da inflação, o que se resumiu à criação de algumas modalidades de reavaliações opcionais pela legislação. Foi apenas em 1961, com o trabalho de Edwards e Bell (1961), que surgiu a primeira metodologia de mensuração desses efeitos, a partir do custo corrente. Nessa mesma década, no Brasil, surgia em 1966 outra importante evolução para esse tema, a tese de doutoramento de Iudícibus (1966), que desenvolvia uma metodologia de reconhecimento dos efeitos da inflação através da correção monetária. A partir desse período, a correção monetária passou a ser considerada por alguns estudiosos e pesquisadores da área contábil como uma das maiores evoluções da contabilidade. No Brasil, ela teve sua expansão ocasionada, principalmente, após a promulgação da Lei N o . 6.404/76, a Lei das Sociedades por Ações, através da imposição legal de uma metodologia de reconhecimento dos efeitos da inflação que valorizou substantivamente a qualidade da informação contábil. Editada em um período de altas taxas inflacionárias, a Lei objetivou reconhecer os efeitos dessa alta inflação nos demonstrativos das empresas, para que, assim, fosse possível a realização de uma análise financeira mais “real” sobre seus resultados. Passados os anos e observando uma redução significativa das taxas de inflação após

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O Custo Inflacionário na Análise das Demonstrações Contábeis: Um Estudo de Caso no Período 2005 – 2006

Orleans Silva Martins (UnB/UFPB/UFRN) [email protected] Ricardo Ferreira Dantas (UnB/UFPB/UFRN) [email protected]

Adriana Fernandes de Vasconcelos (UnB/UFPB/UFRN) [email protected]

Resumo: Investigando o impacto negativo do atual custo inflacionário no grau de evidenciação dos resultados das empresas, através da análise de suas demonstrações contábeis, o presente estudo objetiva analisar o impacto que o custo inflacionário provoca na análise das demonstrações contábeis das empresas brasileiras. Para isso, foi realizado um estudo de caso em uma empresa brasileira do setor petroquímico. Tomando como base as demonstrações contábeis publicadas através de seus relatórios de administração, em custo histórico e em moeda de poder aquisitivo constante, foi realizado um estudo de caso comparativo entre os indicadores econômico-financeiros calculados a partir dos dois conjuntos de demonstrativos da empresa, e esses resultados foram testados estatisticamente através do teste de igualdade de médias para amostras emparelhadas. Os resultados das análises demonstraram que esses indicadores são influenciados negativamente pelo custo inflacionário, muito embora o teste de igualdade de médias não tenha identificado significância estatística entre as diferenças existentes. Palavras-chave: Inflação; Demonstrações Contábeis; Análise das Demonstrações Contábeis.

1. Introdução A inflação é um fenômeno que vem acompanhando a evolução da moeda desde a sua

criação. Caracterizada pela perda do poder de compra da moeda, a inflação passou a ser tema de estudo para a contabilidade a partir do século XX. Seus primeiros registros datam da década de 20, devido, basicamente, à política de industrialização mundial e ao excesso de meio circulante existente àquela época. A partir desse período, até o início da década de 60, não houve uma grande evolução para a solução dos problemas causados pelos efeitos da inflação, o que se resumiu à criação de algumas modalidades de reavaliações opcionais pela legislação. Foi apenas em 1961, com o trabalho de Edwards e Bell (1961), que surgiu a primeira metodologia de mensuração desses efeitos, a partir do custo corrente. Nessa mesma década, no Brasil, surgia em 1966 outra importante evolução para esse tema, a tese de doutoramento de Iudícibus (1966), que desenvolvia uma metodologia de reconhecimento dos efeitos da inflação através da correção monetária.

A partir desse período, a correção monetária passou a ser considerada por alguns estudiosos e pesquisadores da área contábil como uma das maiores evoluções da contabilidade. No Brasil, ela teve sua expansão ocasionada, principalmente, após a promulgação da Lei No. 6.404/76, a Lei das Sociedades por Ações, através da imposição legal de uma metodologia de reconhecimento dos efeitos da inflação que valorizou substantivamente a qualidade da informação contábil. Editada em um período de altas taxas inflacionárias, a Lei objetivou reconhecer os efeitos dessa alta inflação nos demonstrativos das empresas, para que, assim, fosse possível a realização de uma análise financeira mais “real” sobre seus resultados.

Passados os anos e observando uma redução significativa das taxas de inflação após

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uma série de planos de estabilização, o Governo editou e promulgou a Lei No. 9.249/95, de 20 de dezembro de 1995, extinguindo a obrigatoriedade da realização da correção monetária nas demonstrações contábeis para fins societários e fiscais. Essa lei foi a “divisora de águas” entre o período no qual se reconheciam os custos e efeitos da inflação no patrimônio e resultado das empresas, e o período no qual não os reconheciam. Levando em consideração que essa redução do custo inflacionário não foi a zero ponto percentual, ou seja, a inflação baixou significativamente, mas não foi extinta, estudiosos e pesquisadores passaram a discutir os prejuízos que a citada lei trouxe à qualidade da informação contábil.

Tendo como principais usuários de suas informações contábeis os agentes econômicos e os usuários externos e internos em suas tomadas de decisão, há a necessidade de uma relevância cada vez maior das informações contábeis, no sentido de que reproduzam com a maior fidelidade possível a realidade empresarial (IUDÍCIBUS, 2004). Sendo assim, atenta-se para a necessidade de reconhecimento desses custos inflacionários nos demonstrativos das empresas, tornando-os mais confiáveis e relevantes para a tomada de decisão.

Nesse sentido, o objetivo deste estudo é analisar o impacto que o custo inflacionário provoca na análise das demonstrações contábeis das empresas brasileiras. Para isso foi realizado um estudo de caso com uma empresa brasileira, de capital aberto, que elabora e publica suas demonstrações contábeis, reconhecendo o custo inflacionário em suas demonstrações e, sem reconhecê-lo. 2. O Custo Inflacionário e a Análise das Demonstrações Contábeis

A evolução do patrimônio e dos resultados de uma entidade, além de sua transparência através das demonstrações contábeis, é de interesse não só aos sócios e acionistas, mas também às entidades públicas ou privadas que tenham qualquer interesse ou vínculo jurídico com esta entidade. Sendo principal meio de comunicação entre a organização e os interessados em seus resultados, as demonstrações contábeis refletem essa evolução em determinado período. Dessa forma, elas são importantes instrumentos de auxílio aos gestores em suas tomadas de decisão, pois são fontes essenciais de informações sobre a entidade.

Um dos problemas enfrentados por estas demonstrações, sob a ótica da evidenciação, como comentado por Souza, Klann e Beuren (2006) e, apontado por pesquisadores e profissionais da área contábil, é a falta de reconhecimento do custo inflacionário, o que pode provocar distorções consideráveis no resultado das empresas. Nesse sentido, Iudícibus (2004) observa que se pode afirmar que a contabilidade se amoldaria quase perfeitamente dentro dos princípios geralmente aceitos, se não houvesse flutuações de preços na economia e, se o futuro fosse perfeitamente previsível. No entanto, como as condições econômicas reais são sensivelmente diferenciadas das que serviram de inspiração inicial para a doutrina contábil tradicional, os profissionais e estudiosos da contabilidade se encontram de frente à um impasse: ao aplicarem rigorosamente os princípios geralmente aceitos poderão produzir relatórios contábeis de pouca relevância, pelo menos sob alguns aspectos; e, ao utilizarem-se de outros critérios de avaliação para tornar os demonstrativos mais relevantes, estarão correndo o risco de serem considerados revisionistas, desobedientes aos princípios geralmente aceitos, e poderão ter seus trabalhos severamente questionados pela profissão estabelecida e representada em associações e institutos.

Ainda, observando o exposto por Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 57) sobre os Princípios Contábeis Geralmente Aceitos, nota-se que o Princípio do Custo como Base de Valor supõe que, “o custo de aquisição de um ativo ou de insumos necessários para fabricá-los e colocá-los em condições de gerar benefícios para a entidade, representa a base de valor

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para a contabilidade, expressa em termos de moeda de poder aquisitivo constante”. Já de acordo com o Princípio da Atualização Monetária, integrante dos atuais Princípios Fundamentais de Contabilidade e disposto pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC (2007, art. 8º), “os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis através do ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais”. Assim, para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações originais, é necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, reconhecendo seu custo inflacionário, a fim de que permaneçam substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por conseqüência, o patrimônio líquido.

Dessa forma, observa-se que os ativos de uma entidade devem ser avaliados por uma moeda de poder aquisitivo constante, levando-se em consideração as variações nos níveis de preço. Por essa ótica, ao se realizar a avaliação de um ativo a partir de seu custo histórico, o Princípio do Custo como Base de Valor não está sendo cumprido. Consequentemente, o princípio prima pela correção das demonstrações contábeis pela variação da moeda. Por sua vez, Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003) ainda ratificam esta afirmação quando observam que, “as demonstrações contábeis, sem prejuízo dos registros detalhados de natureza qualitativa e física, serão expressas em termos de moeda nacional de poder aquisitivo da data do último balanço patrimonial [...]” (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBCKE, 2003, p. 60).

Sendo assim, subtende-se que a variação patrimonial decorrente da inflação representa a diferença entre o quantum que efetivamente cresceu o patrimônio líquido, em termos nominais, por força de ajustes de correção monetária ou variação cambial do ativo e do passivo exigível, e o quantum que deveria crescer, em termos nominais, para manter a sua integridade, em termos reais. Tal diferença constitui, por definição, a variação em termos reais sofrida pelo patrimônio líquido em decorrência do custo inflacionário (ROXO, 1979). 2.1. Correção Monetária das Demonstrações Contábeis

A correção monetária das demonstrações contábeis começou a ser exigida no Brasil a partir da promulgação da Lei no. 6.404/76, de 15 de dezembro de 1976. Inicialmente esse modelo de correção monetária ficou conhecido como “correção monetária societária”, pois era previsto pela legislação societária. Nele previa-se a atualização monetária de determinados itens não-monetários. O resultado de sua atualização era expresso em apenas uma linha, não havia a atualização dos itens considerados monetários, e não havia a atualização das demonstrações contábeis correspondentes ao ano anterior para fins de comparação.

O outro modelo de correção monetária praticado no Brasil foi o da correção monetária integral. Takamatsu e Lamounier (2006, p. 10) definem esse modelo como “o resultado do esforço da ciência contábil em tornar o conteúdo das demonstrações financeiras mais confiável, retratando a necessidade de proteger a informação contábil da deterioração do poder de compra da moeda”. Desenvolvido por alguns dos principais pensadores contábeis do Brasil, seu principal objetivo era apresentar as demonstrações contábeis em moeda de poder aquisitivo constante, tendo em vistas as distorções que a inflação provocava nas contas representativas do patrimônio e do resultado da empresa (NEVES; VICECONTI, 2003). Este modelo contemplava a atualização monetária de todos os itens não-monetários, além de todos os elementos das demonstrações contábeis, a fim de traduzi-los à moeda de capacidade aquisitiva correspondente ao final do último exercício social (IUDÍCIBUS, MARTINS E GELBCKE, 2003).

Com o chamado “período de inflação galopante”, quando o Brasil enfrentou seus maiores índices de inflação, na década de 80, a CVM editou a Instrução No. 64/87, que

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obrigava as companhias abertas à elaboração das demonstrações contábeis complementares em moeda de poder aquisitivo constante. Com isso, o método da correção monetária integral passou a ter maior aceitação entre as empresas.

Com o advento da Lei 9.249/95, de 20 de dezembro de 1995, em seus artigos 4º e 5º, foi extinta a obrigatoriedade da correção monetária para fins societários e fiscais. A correção monetária integral, por sua vez, passou a ser um instrumento gerencial para apresentação dos dados econômico-financeiros das empresas com o expurgo das variações provocadas pelas altas de preços do mercado. A partir de então, a apresentação dessas demonstrações corrigidas monetariamente se tornou uma ferramenta gerencial, demonstrando-se mais confiáveis ao processo decisório (FERNANDES; MARQUES, 2006).

Como observado em Yamamoto (2002), em conseqüência da diminuição da inflação na economia brasileira, a partir de 1994, e da desobrigação da correção monetária para fins societários e fiscais (1995), a visão tida pelas pessoas à época era de que a aplicação da contabilidade ao nível geral de preços não era mais necessária, desde que os níveis da inflação não representassem mudanças significativas no poder aquisitivo da moeda. 2.2. Análise Econômico-Financeira

A análise econômico-financeira das demonstrações contábeis é um dos estudos mais importantes da administração financeira, configurando importante instrumento de análise tanto para os administradores internos da empresa, como para os diversos segmentos de analistas externos. Para os administradores internos, a análise visa basicamente uma avaliação de seu desempenho geral, identificando os resultados de suas decisões financeiras tomadas. Já para o analista externo, representa objetivos específicos com relação à avaliação do desempenho da empresa. Em suma, o que se pretende avaliar através dessa análise são os reflexos que as decisões tomadas por um gestor determinam sobre a liquidez, a estrutura patrimonial e a rentabilidade de uma empresa (ASSAF NETO, 2007). O autor ainda afirma que, “apesar da existência de alguns critérios mais sofisticados, o uso desses índices constitui-se na técnica mais comumente empregada nessa análise” (ASSAF NETO, 2007, p. 110).

Padoveze e Benedicto (2007, p. 77) asseveram que “o grau de excelência da análise econômico-financeira está relacionado com a qualidade e extensão das informações que o analista consegue gerar”. Essas informações são justamente derivadas dos demonstrativos contábeis da empresa, a partir dos quais são gerados e interpretados os indicadores econômico-financeiros. Assaf Neto (2006) classifica esses indicadores em quatro grupos: liquidez e atividade; endividamento e estrutura; rentabilidade; e análise de ações. O autor classifica esses indicadores como sendo aqueles considerados essenciais para a análise de um investimento. Nesse sentido, ele observa que “a análise externa, desenvolvida basicamente por meio das demonstrações financeiras usualmente publicadas pela empresa, traz dificuldades adicionais de avaliação, em função das limitações contidas nos relatórios publicados” (ASSAF NETO, 2007, p. 109).

Uma dessas limitações é o impacto causado pelos efeitos da inflação. Tendo em vista que grande parte das empresas não elabora e divulga suas demonstrações contábeis em moeda de poder aquisitivo constante, a análise realizada a partir das demonstrações a custos históricos fica sensivelmente prejudicada por não conter as variações do poder aquisitivo da moeda. Nesse sentido, Assaf Neto (2007, p. 110) ainda assevera que, “para conseguir efetivamente conclusões confiáveis em nosso ambiente econômico, é importante que sejam consideradas prioritariamente as demonstrações financeiras com correção integral e a valor presente”.

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Com o fim da obrigatoriedade da correção monetária das demonstrações contábeis, a partir de 1995, os indicadores econômico-financeiros voltaram a ser calculados a partir das demonstrações a custos históricos, de acordo com a legislação societária. Salotti et. al (2006, p. 2) salientam que,

Em princípio, se o nível de inflação tivesse sido reduzido à zero, esse procedimento não causaria problemas comparativos em relação aos anos anteriores. Porém, tal redução não ocorreu, ou seja, mesmo a inflação tendo sido reduzida a níveis significativamente menores do que os verificados no período hiperinflacionário, o seu efeito ainda estava presente.

Nesse sentido, observa-se que o não reconhecimento desse custo inflacionário

camurflado nas demonstrações contábeis das empresas pode prejudicar sensivelmente os resultados encontrados em sua análise econômico-financeira. Dessa forma, toma-se por base a afirmação de Iudícibus (2004, p. 278), de que “a gerência precisa tomar decisões em curtos intervalos de tempo. Para isso, informações contábeis baseadas em preços correntes são mais suscetíveis de fornecer melhores alternativas para o tomador de decisão”. 3. Aspéctos Metodológicos

Com o intuito de proporcionar maior familiaridade com o problema, o estudo foi desenvolvido na forma de pesquisa exploratória, por meio de um estudo de caso. Sendo assim, foram realizadas uma pesqusia bibliográfica, buscando fundamentar teoricamente os achados do estudo, e uma pesqusia documental, através da qual foram coletados os dados analisados, a partir das demonstrações contábeis da empresa ora estudada.

Partindo desse ponto, foi selecionada uma empresa que evidenciasse os efeitos do custo inflacionário em suas demonstrações contábeis, para que a partir dessas demonstrações fossem realizadas as análises sobre os impactos causados pela inflação no patrimônio e nos resultados da mesma. Dessa forma, decidiu-se pela escolha de uma empresa que já fizesse a correção monetária integral de suas demonstrações contábeis, tendo em vista possuírem maior exatidão nos cálculos e ajustes dos efeitos do custo inflacionário no patrimônio da empresa. 3.1. Coleta e Tratamento dos Dados

Através do relatório da administração do exercício social de 2006, disponibilizado no site da empresa, foram coletados os dados necessários para a realização do estudo. Tomando como base as demonstrações contábeis dos exercícios de 2005 e 2006, em custo histórico e em moeda de poder aquisitivo constante, foram utilizados o balanço patrimonial, a demonstração de resultados do exercício e as notas explicativas da empresa.

Baseando-se em Assaf Neto (2007), foram selecionados quatro grupos de indicadores econômico-financeiros para a análise do desempenho geral da empresa: liquidez, endividamento, estrutura e rentabilidade. Dessa forma, foram calculados dois indicadores de cada grupo, a partir dos quatro conjuntos de demonstrativos e, em seguida, foram comparados entre si para que pudesse ser analisado o impacto causado pela inflação nesses indicadores.

Concluída esta etapa de análise dos indicadores, foram realizadas análises estatísticas através do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) objetivando verificar se as variações encontradas são estatisticamente significativas ou não. A primeira delas foi o teste de hipóteses. Foi realizado o teste paramétrico t de Student (teste t), que objetiva analisar a hipótese de duas médias serem iguais e, se forem diferentes, estabelecer se a diferença entre essas médias possui significância estatística ou não.

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4. O Caso da Companhia Petroquímica do Sul A empresa selecionada para a realização do estudo de caso foi a Companhia

Petroquímica do Sul – COPESUL, uma das poucas que ainda publicam em seus relatórios anuais suas demonstrações contábeis em moeda de poder aquisitivo constate. A COPESUL é uma empresa de capital aberto, localizada na cidade de Triunfo, município do Rio Grande do Sul, fundada em 08 de junho de 1976, integrando o Pólo Petroquímico do Sul, implantado naquela localidade no ano de 1975, através do Governo Federal. Em 15 de maio de 1992 a Companhia foi privatizada, passando a ter seu controle acionário os grupos Ipiranga e Odebrecht que, dois anos após, em 1994, abriram o capital da empresa para negociação na bolsa de valores. Com a privatização o capital da empresa ficou composto por 29,46% em posse do Grupo Ipiranga, 29,46% em posse do Grupo Braskem/Odebrecht, 15,63% à Petrobrás Química S.A., e 25,45% a bancos, fundos de pensão e outros investidores. 4.1. Análise dos Dados

No quadro 1 são apresentados os balanços patrimoniais dos exercícios sociais de 2005 e 2006. Nele são expostos os valores de cada grupo de contas, tanto do ativo como do passivo, em seus custos históricos (CH) e em moeda de poder aquisitivo constante (MC). Podem ser observadas, também, as variações sofridas por cada um desses grupos de contas, provocadas pela correção monetária integral.

Balanço Patrimonial CH MC Variação CH MC Variação

2006 2006 % 2005 2005 % Ativo Circulante 1.261.805 1.266.691 0,39% 907.875 942.622 3,83% Realizável a Longo Prazo 154.168 154.168 0,00% 154.906 160.871 3,85% Permanente 1.050.182 1.801.807 71,57% 1.125.823 2.149.880 90,96% Total do Ativo 2.466.605 3.223.116 30,67% 2.188.604 3.253.373 48,65% Passivo Circulante 840.694 840.585 -0,01% 694.827 721.448 3,83% Exigível a Longo Prazo 325.751 583.209 79,04% 246.450 589.508 139,20% Patrimônio Líquido 1.300.160 1.799.322 38,39% 1.247.327 1.942.417 55,73% Total do Passivo 2.466.605 3.223.116 30,67% 2.188.604 3.253.373 48,65%

QUADRO 1 – COPESUL. Variação do balanço patrimonial da empresa após a correção monetária integral. 2005 – 2006. Fonte: Dados da empresa.

Para realização da correção monetária integral de suas demonstrações contábeis,

elaboradas através do princípio da atualização monetária e apresentada em consonância com a Instrução CVM no. 248, de 29 de março de 1996, e com o comunicado IBRACON no. 99/006, de 13 de dezembro de 1999, a Companhia Petroquímica do Sul utilizou como índice de inflação o IGP-M (índice geral de preços) do ano de 2006, calculado pela Fundação Getúlio Vargas, acumulado em 3,83% no exercício.

Dessa forma, observa-se que a realização da correção monetária não provocou grandes variações percentuais nos grupos de contas do ativo circulante e do realizável a longo prazo do exercício social de 2006, enquanto que no exercício de 2005 essa variação ficou em torno de 3,85%. Esse fato pode ser explicado pela grande presença de itens monetários nessas contas, os quais não sofrem grandes influências pela inflação por já representarem o próprio poder aquisitivo da moeda. Já o ativo permanente da empresa demonstrou uma grande vulnerabilidade ao custo inflacionário da moeda, apresentando uma desvalorização acumulada de torno de 71,57% no exercício de 2006 e, cerca de 90,96% no exercício de 2005.

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O passivo da empresa demonstrou maior vulnerabilidade à inflação. Apenas seu passivo circulante não sofreu grandes variações, ao passo que no exercício de 2006 foi observada uma redução de 0,01% em seus valores e, no exercício de 2005 um aumento percentual igual ao índice inflacionário do exercício de 2006, 3,83%. Já seu exigível a longo prazo demonstrou um aumento de 79,04% no exercício de 2006, e de 139,20% no exercício de 2005. O patrimônio líquido da empresa demonstrou uma desvalorização de torno de 38,39% em 2006 e de 55,73% em 2005.

Sendo assim, pode-se observar que alguns grupos de contas como o ativo permanente, o passivo exigível a longo prazo e o patrimônio líquido da empresa, foram fortemente influenciados pelos efeitos da inflação. Com isso, pode-se idealizar que, ao se calcular os indicadores econômico-financeiros que envolva algum desses grupos de contas, seus valores serão sensivelmente influenciados pelo custo inflacionário.

O quadro 2 apresenta a análise vertical do balanço patrimonial da empresa, nos dois exercícios examinados e, em custos históricos e em moeda de poder aquisitivo constante, além da variação ocasionada pela correção monetária dessas demonstrações.

Balanço Patrimonial CH MC Variação CH MC Variação

2006 2006 MC-CH 2005 2005 MC-CH Ativo Circulante 51,16% 39,30% -11,86% 41,48% 28,98% -12,50% Realizável a Longo Prazo 6,26% 4,80% -1,46% 7,08% 4,94% -2,14% Permanente 42,58% 55,90% 13,32% 51,44% 66,08% 14,64% Total do Ativo 100,00% 100,00% - 100,00% 100,00% - Passivo Circulante 34,08% 26,08% -8,00% 31,75% 22,18% -9,57% Exigível a Longo Prazo 13,21% 18,09% 4,88% 11,26% 18,12% 6,86% Patrimônio Líquido 52,71% 55,83% 3,12% 56,99% 59,70% 2,71% Total do Passivo 100,00% 100,00% - 100,00% 100,00% -

QUADRO 2 – COPESUL. Variação da análise vertical entre os balanços patrimoniais em custos históricos e o em moeda de poder aquisitivo constante. 2005 – 2006. Fonte: Elaboração Própria.

Examinando-o detalhadamente se observa que, seguindo o ocorrido no quadro 1, os

grupos de contas do ativo circulante e realizável a longo prazo demonstraram variações negativas após a realização da correção monetária. O mesmo aconteceu com o passivo circulante, que teve sua representatividade percentual em relação ao total do passivo reduzida em 8,00% no exercício de 2006, e em 9,57% em 2005.

Já o ativo permanente obteve um aumento de 13,32% em sua representatividade no exercício de 2006 e, 14,64% no de 2005. O passivo exigível a longo prazo e o patrimônio líquido também seguiram essa tendência. Isso pode ser explicado pelo fato de a empresa possui grande parte de seu patrimônio formado por ativos permanentes e valores a receber adquiridos à longas datas, o que os faz ter seus valores aumentados consideravelmente quanto corrigidos monetariamente.

No quadro 3 são apresentadas as análises horizontais dos balanços patrimoniais dos exercícios de 2006 e 2005, a custos históricos e a moeda de poder aquisitivo constante.

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Balanço Patrimonial Custo Histórico Moeda Constante Variação 2006 AH 2005 2006 AH 2005 AH

Ativo Circulante 1.261.805 38,98% 907.875 1.266.691 34,38% 942.622 -4,60% Realizável a Longo Prazo 154.618 -0,19% 154.906 154.618 -3,89% 160.871 -3,70% PERMANENTE 1.050.182 -6,72% 1.125.823 1.801.807 -16,19% 2.149.880 -9,47% Total do Ativo 2.466.605 12,70% 2.188.604 3.223.116 -0,93% 3.253.373 -13,63% Passivo Circulante 840.694 20,99% 694.827 840.585 16,51% 721.448 -4,48% Exigível a Longo Prazo 325.751 32,18% 246.450 583.209 -1,07% 589.508 -33,25% Patrimônio Líquido 1.300.160 4,24% 1.247.327 1.799.322 -7,37% 1.942.417 -11,60% Total do Passivo 2.466.605 12,70% 2.188.604 3.223.116 -0,93% 3.253.373 -13,63%

QUADRO 3 – COPESUL. Variação da análise horizontal entre os balanços patrimoniais em custos históricos e em moeda de poder aquisitivo constante. 2005 – 2006. Fonte: Elaboração própria.

Analisando e comparando as duas análises horizontais, além de suas variações,

observa-se que as taxas de crescimento calculadas pela empresa em custos históricos são relativamente diferentes das taxas calculadas depois de considerados os efeitos da inflação sobre o patrimônio da mesma. Nota-se que são bem menores do que os demonstrados na análise realizada a custos históricos.

Dessa forma, a evolução patrimonial considerada conquistada pela empresa é menor do que se imaginava. Principalmente quando se trata do passivo exigível a longo prazo e do patrimônio líquido da empresa, que demonstravam um crescimento antes da correção monetária de 32,18% e 4,24%, respectivamente, e, após a realização da correção, passam a apresentar um decréscimo de -1,07% e -7,37%, respectivamente.

Observa-se que essas alterações proporcionadas pelo reconhecimento dos efeitos da inflação podem alterar consideravelmente uma análise econômico-financeira. Em suma, o que pode parecer à primeira vista uma evolução patrimonial, pode esconder, na verdade, um decréscimo. Sendo assim, o quadro 4 trás uma análise econômico-financeira de quatro indicadores: estrutura de capital, liquidez, endividamento e rentabilidade. Calculados antes e após a correção monetária, os indicadores são comparados entre custo histórico e moeda de poder aquisitivo constante.

2006 2006 2005 2005 Estrutura de Capital CH MC CH MC Relação Capital Terceiros/Passivo Total 0,47 0,44 0,43 0,40 Imobilização dos Recursos Permanentes 0,65 0,76 0,75 0,85 Liquidez CH MC CH MC Liquidez Corrente 1,50 1,51 1,31 1,31 Liquidez Imediata 0,24 0,24 0,16 0,16 Endividamento CH MC CH MC Endividamento Geral 0,90 0,79 0,75 0,67 Endividamento Financeiro 0,29 0,35 0,43 0,46 Rentabilidade CH MC CH MC Retorno Sobre o Ativo (ROA) 0,26 0,21 0,28 0,19 Lucro Líquido por Ação 4,10 3,07 3,77 2,81

QUADRO 4 – COPESUL. Análise dos indicadores econômico-financeiros da empresa antes e depois da correção monetária integral. 2005 – 2006. Fonte: Elaboração própria.

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Analisando o impacto ocasionado pelo reconhecimento do custo inflacionário nas demonstrações, nota-se que os indicadores de estrutura de capital mostraram que a relação do capital de terceiros com o capital próprio é menor do que se imaginava. Já a imobilização dos recursos permanentes se mostrou maior do que seus valores sem os efeitos da inflação. Os indicadores de liquidez não revelaram variações significativas. Já os indicadores de endividamento revelaram que os índices de endividamento geral da Companhia eram menores. No entanto, seu endividamento financeiro demonstrou possuir uma relação maior com o patrimônio da Companhia. Em se tratando de sua rentabilidade, os dois indicadores retrataram uma redução significativa do lucro da Companhia, o que pode levar à tomada de decisões equivocadas.

Sendo assim, fica evidente que o custo inflacionário impacta negativamente a evidenciação dos resultados da empresa através de suas demonstrações contábeis e que, a realização da correção monetária integral nessas demonstrações provoca significativas alterações em suas análises. Então, na tentativa de se testar e comprovar estatisticamente essa assertiva, foi realizado o teste de igualdade de médias para verificar se essas variações são significativas ou não estatisticamente. 4.2. Análise Estatística

O teste de hipótese de igualdade de média para amostras emparelhadas (teste t) é utilizado para amostras relacionadas, e focaliza a análise do efeito de um “tratamento” nos dados em determinado momento. No caso deste estudo, esse “tratamento” nos dados é a correção monetária integral. Bussab e Morettin (1987, p. 283) explicam que “esse teste é usado quando as observações das duas amostras são feitas no mesmo indivíduo, por exemplo, medindo uma característica do indivíduo antes e depois dele ser submetido a um tratamento”.

Esse teste é classificado como um teste paramétrico, o qual compreende observações de premissas, tendo como a principal delas a exigência da distribuição normal entre as médias. Uma amostra tem distribuição normal quando seus elementos são distribuídos simetricamente em torno da média, com aproximadamente 50% antes e 50% após a média. Como observado em Gujarati (2006, p. 89), “se estivermos lidando com uma amostra de tamanho pequeno, ou finito, digamos, de menos de cem observações, a premissa de normalidade assume um papel fundamental”. Para tanto, foi realizado o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov para a amostra selecionada, como se observa na tabela 1.

TABELA 1 – COPESUL. Teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov para uma amostra. 2005 – 2006.

One-Sample Kolmogorov-Smirnov Test 2006CH 2006MC 2005CH 2005MC N 8 8 8 8 Normal Parameters (a,b)

Mean 0,9213 0,9850 0,856 1,0513 Std. Deviation 0,96621 1,18116 0,8744 1,30284 Most Extreme Differences

Absolute 0,304 0,329 0,253 0,296 Positive 0,304 0,329 0,253 0,296 Negative -0,231 -0,242 -0,213 -0,267 Kolmogorov-Smirnov Z 0,838 0,860 0,930 0,715 Asymp. Sig. (2-tailed) 0,484 0,450 0,352 0,686

Fonte: Elaboração própria com auxílio do software SPSS.

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Analisando os resultados do teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov, tendo como pontos de partida o nível de significância de 5% (α = 0,05), a hipótese nula como sendo “H0 : Amostra segue distribuição normal” e, a hipótese alternativa “H1 : Amostra não segue distribuição normal”, observa-se que os “p-values” calculados das quatro amostras estão presentes na área de aceitação de H0, ou seja, todas as amostras possuem distribuição normal. Sendo assim, justifica-se a utilização do teste t (paramétrico) para amostras emparelhadas.

Outra premissa necessária para a correta aplicação do teste de igualdade de médias para amostras emparelhadas é a presença de alta correlação entre as amostras. Como observam Wagner, Motta e Dorneller (2004, p. 95-96), “uma vez que duas variáveis representam o mesmo grupo medido em momentos diferentes (ou dois grupos relacionados), o valor do coeficiente de correlação deverá ser alto, e o valor do teste de significância deverá ser baixo (tipicamente inferior a 0,05)”. Dessa forma, foram realizados os cálculos das correlações existentes entre as amostras, como pode ser observado na tabela 2.

TABELA 2 – COPESUL. Cálculo da correlação existente entre as amostras emparelhadas. 2005 – 2006.

Paired Samples Correlations N Correlation Sig. Pair 1 2006CH & 2006MC 8 0,991 0,000 Pair 2 2005CH & 2005MC 8 0,989 0,000

Fonte: Elaboração própria com auxílio do software SPSS. O par 1 é composto pelas médias dos indicadores econômico-financeiros do ano de

2006, calculados a partir das demonstrações a custos históricos e em moeda de poder aquisitivo constante. Já o par 2, é composto pelas médias dos indicadores do ano de 2005 calculados, também, a partir das demonstrações a custos históricos e em moeda de poder aquisitivo constante.

Sendo assim, levando em consideração que o intervalo da correlação entre duas amostras varia entre -1 e 1, e, ainda, que quando maior mais correlacionadas são as amostras, nota-se que as amostras emparelhadas possuem alta correlação, apresentando, respectivamente, correlação de 0,991 os indicadores do ano de 2006 e, 0,989 os do ano de 2005. Assim, o cálculo da correlação das amostras emparelhadas revelou que elas são fortemente correlacionadas, ou seja, suas variações seguem o mesmo sentido. Dessa forma, conclui-se que o teste de igualdade de médias pode ser aplicado ao caso estudado.

TABELA 3 – COPESUL. Teste t de igualdade de médias para amostras emparelhadas. 2005 – 2006.

Paired Differences

t df Sig.

(2-tailed) Mean Std.

Deviation

Std. Error Mean

95% Confidence Interval of the

Difference Lower Upper

Pair 1 2006CH- 2006MC 0,13000 0,36975 0,13073 -0,17912 0,43912 0,994 7 0,353 Pair 2 2005CH- 2005MC 0,12875 0,34128 0,12066 -0,15656 0,41406 1,067 7 0,321

Fonte: Elaboração própria com auxílio do software SPSS. O teste de igualdade de médias para amostras emparelhadas revelou não haver

significância estatística entre as diferenças de médias dos indicadores calculados a partir das demonstrações contábeis a custos históricos e em moeda de poder aquisitivo constante. De acordo com a tabela 3 se pode observar que o valor médio das variáveis contidas no par 1

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(2006CH – 2006MC) foi de 0,130. Já para o par 2 (2005CH – 2005MC) esse valor foi de aproximadamente 0,129. Tomando-se como base o valor do t-tabelado de 1,96 para o nível de significância de 5% (α = 0,05) e, que os “t-values” dos pares 1 e 2 são, respectivamente, 0,994 e 1,067, observa-se que os dois pares se apresentam na região de aceitação da hipótese nula (H0). Sendo assim, pode-se concluir que não há diferenças significativas entre as médias dos indicadores calculados antes ou após a correção monetária integral. 4.3. Discussão dos Resultados

Analisando as demonstrações contábeis da Companhia, em custo histórico e em moeda de poder aquisitivo constante, pode-se constatar o impacto negativo que o custo inflacionário causa a estas demonstrações. Aumentando significativamente seu ativo permanente, seu passivo exigível a longo prazo e seu patrimônio líquido, o reconhecimento desses efeitos altera sensivelmente os valores dos indicadores econômico-financeiros da Companhia. Conseqüentemente, isso pode levar seus gestores a decisões equivocadas sobre seu futuro.

Mesmo com a constatação de que não existem diferenças estatisticamente significativas entre as médias dos indicadores econômico-financeiros da empresa estudada, é consenso entre os estudiosos da área contábil que estas diferenças causam impactos negativos na análise de desempenho das empresas. Por menores que estas variações sejam, podem significar valores monetários consideráveis quando se trata de grandes quantias negociadas, ou por longos períodos de tempo. 5. Considerações Finais

Amparando-se em uma base teórica composta por referenciados autores, partiu-se para a investigação sobre o impacto que o custo inflacionário provoca na análise das demonstrações contábeis das empresas brasileiras. No tocante a isto, foi realizado um estudo de caso onde se observou que as demonstrações da empresa estudada são sensivelmente impactadas pela inflação e que, como reflexo disso, seus indicadores econômico-financeiros se mostraram vulneráveis a estes efeitos.

Em suma, quatro importantes conclusões podem ser enumeradas: 1. Observou-se que o custo inflacionário impacta negativamente a análise das

demonstrações contábeis da empresa estudada, tendo em vista que, após a realização da correção monetária destas demonstrações, seus indicativos e percentuais de resultado reduziram significativamente;

2. O patrimônio da empresa se encontra “inflado” pelo custo inflacionário, tendo em vista que à custos históricos apresenta um crescimento de 4,24% e, considerando o custo inflacionário, passa a apresentar uma desvalorização de 7,37%;

3. O teste estatístico de igualdade de médias para amostras emparelhadas revelou não haver significância estatística entre as diferenças de médias dos indicadores analisados, tendo apresentado, respectivamente, “t-values” nos valores de 0,994 e 1,067, estabelecendo-se na área de aceitação da hipótese nula (H0);

4. Apesar de não ter havido significância estatística entre as diferenças de médias existentes, esta diferença pode ser caracterizada como uma deficiência da informação contábil, o que é ratificado por Iudícibus (2004, p. 278), ao observar que “[...] informações contábeis baseadas em preços correntes são mais suscetíveis de fornecer melhores alternativas para o tomador de decisão”

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Por fim, atenta-se para as limitações que este estudo possui, tendo em vista ser um estudo de um fato isolado, realizado em um período de apenas dois exercícios sociais, o que impede a realização de inferências sobre o impacto do custo inflacionário sobre vários exercícios futuros, ou generalizações indevidas a partir de um caso. No entanto, observa-se que estas limitações não invalidam os achados pelo estudo, ratificando que os efeitos da inflação ainda estão bastante presentes nas operações dessas empresas, o que serve de sugestão para novos estudos em novos ambientes empresariais. Referências ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2006. ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007. BUSSAB, W.O.; MORETTIN, P.A. Estatística básica. 4. ed. São Paulo: Atual, 1987. CFC – CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC No. 750/93, de 29 de dezembro de 1993. Dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC). Disponível em: <http://www.cfc.org.br>. Acesso em: 25 nov. 2007. EDWARDS, E.O.; BELL, P.W. Theory and measurement of business income. Berkeley: University of California, 1961. FERNANDES, L.P.; MARQUES, J.A.V.C. Impacto na análise econômico-financeira do não reconhecimento dos efeitos da inflação: o caso COPESUL no período 1999-2003. Revista UnB Contábil. Brasília: v. 9, n. 1, p. 59-83, jan./jun. 2006. IUDÍCIBUS, S.; MARTINS, E.; GELBCKE, E.R. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. GUJARATI, D. Econometria básica. 4. ed. Trad. Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Elservier, 2006. IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004. IUDÍCIBUS, S. Contribuição à teoria dos ajustamentos contábeis. São Paulo, SP, 1966. Tese (Doutorado em Contabilidade e Controldoria). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1966. NEVES, S.; VICECONTI, P.E.V. Contabilidade avançada e análise das demonstrações financeiras. 12. ed. São Paulo: Frase, 2003. PADOVEZE, C.L; BENEDICTO, G.C. Análise das demonstrações financeiras. 2. ed. Rev. Amp. São Paulo: Thomson Learning, 2007. ROXO, A.A.O. A correção monetária de demonstrativos contábeis, na legislação vigente. Revista de Administração de Empresas. Rio de Janeiro: v. 19, n. 1, p. 57-65, jan./mar. 1979. SALOTTI, B.M.; et al. Um estudo empírico sobre o fim da correção monetária integral e seu impacto na análise das demonstrações contábeis: uma análise setorial. Revista UnB Contábil. Brasília: v. 9, n. 1, p. 189-221, jan./jun. 2006. SOUZA, J.C.; KLANN, R.C.; BEUREN, I.M. O impacto do não reconhecimento da inflação nas demonstrações contábeis na distribuição de dividendos. In: Seminário de Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau, 2., 2006, Blumenau/SC. Anais... Blumenau: FURB, 2006. TAKAMATSU, R.T.; LAMOUNIER, W.M. A importância da atualização monetária de valores para a análise das demonstrações financeiras. In: Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade, 3., São Paulo/SP. Anais... São Paulo: USP, 2006. WAGNER, M.B.; MOTTA, V.T.; DORNELLES, C.C. SPSS passo a passo: statistical package for the social sciences. Rio Grande do Sul: Educs, 2004. YAMAMOTO, M.M. The history of inflation recognition in Brazil’s accounting statement. In: Workshop on Accounting in Historical Perspective, 3., Lisboa. Anais... Lisboa: European Institute for Advanced Studies in Management, 2002.