CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e...

12
1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO NO CINEMA COMERCIAL Camila Horbatiuk Dutra 1 Resumo: Este artigo se propõe a realizar uma reflexão a respeito da forma como a mulher é representada em filmes do circuito comercial e os problemas decorrentes de certas tipificações e clichês que são costumeiros nesse meio. Por sua produção e consumo em grande escala, o cinema assim como outras mídias de comunicação em massa, como seriados televisivos, músicas e seus videoclipes, livros e revistas é responsável pela reprodução e criação de imagens, pressupostos e expectativas a respeito da realidade e indivíduos que retrata. Isso significa que a forma como as mulheres aparecem (quando aparecem) nos filmes repercute na maneira na qual são vistas por quem os assiste, e consequentemente nas suas perspectivas e relações com as mulheres com as quais interagem. Essas são mídias de produção e reprodução de informação, significado e mesmo experiência, e é nesse sentido que uma análise do que se apresenta enquanto “mulher” e “feminino” no universo cinematográfico se faz necessária. Dividido em três tópicos Consumo e o corpo da mulher, Personagens femininas e (a ausência de) agência e Representatividade do feminino no cinema comercial , o artigo se desenvolve a partir de um referencial teórico da Antropologia, contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência, representatividade. Introdução Desde que surgiu, em finais do séc. XIX, o cinema, como arte e veículo de comunicação em massa, tem somente se expandido, alcançado audiências cada vez maiores e multiplicado propósitos e formatos utilizados. Ele também se tornou uma ferramenta importante na divulgação da diversidade de conhecimentos e modos de vida existente, como acontece com produções feitas por populações não hegemônicas um bom exemplo sendo o projeto “Vídeo nas Aldeias”, idealizado por Vincent Carelli e levado adiante por roteiristas, diretores, atores e produtores indígenas das mais diversas etnias. Cada filme realizado tem suas particularidades sua temática, forma de abordagem, nacionalidade, até especificidades como roteirista, diretor/a e atores/atrizes têm seus diferenciais que fazem um filme ser muito diferente dos outros. Apesar disso, há que se reconhecer que existe uma certa padronização no estilo e formato de filmes que compõem o ranking de mais consumidos no mundo. A indústria cinematográfica estadunidense tem sido a de maior alcance e peso 1 Bacharel em Antropologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2016) e atualmente finalizando o Mestrado em Antropologia Social na mesma instituição (UFSC), em Florianópolis, Brasil.

Transcript of CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e...

Page 1: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

1

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO NO CINEMA

COMERCIAL

Camila Horbatiuk Dutra1

Resumo: Este artigo se propõe a realizar uma reflexão a respeito da forma como a mulher é

representada em filmes do circuito comercial e os problemas decorrentes de certas tipificações e

clichês que são costumeiros nesse meio. Por sua produção e consumo em grande escala, o cinema –

assim como outras mídias de comunicação em massa, como seriados televisivos, músicas e seus

videoclipes, livros e revistas – é responsável pela reprodução e criação de imagens, pressupostos e

expectativas a respeito da realidade e indivíduos que retrata. Isso significa que a forma como as

mulheres aparecem (quando aparecem) nos filmes repercute na maneira na qual são vistas por quem

os assiste, e consequentemente nas suas perspectivas e relações com as mulheres com as quais

interagem. Essas são mídias de produção e reprodução de informação, significado e mesmo

experiência, e é nesse sentido que uma análise do que se apresenta enquanto “mulher” e “feminino”

no universo cinematográfico se faz necessária. Dividido em três tópicos – Consumo e o corpo da

mulher, Personagens femininas e (a ausência de) agência e Representatividade do feminino no

cinema comercial –, o artigo se desenvolve a partir de um referencial teórico da Antropologia,

contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros.

Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência, representatividade.

Introdução

Desde que surgiu, em finais do séc. XIX, o cinema, como arte e veículo de comunicação em

massa, tem somente se expandido, alcançado audiências cada vez maiores e multiplicado propósitos

e formatos utilizados. Ele também se tornou uma ferramenta importante na divulgação da

diversidade de conhecimentos e modos de vida existente, como acontece com produções feitas por

populações não hegemônicas – um bom exemplo sendo o projeto “Vídeo nas Aldeias”, idealizado

por Vincent Carelli e levado adiante por roteiristas, diretores, atores e produtores indígenas das mais

diversas etnias.

Cada filme realizado tem suas particularidades – sua temática, forma de abordagem,

nacionalidade, até especificidades como roteirista, diretor/a e atores/atrizes têm seus diferenciais

que fazem um filme ser muito diferente dos outros. Apesar disso, há que se reconhecer que existe

uma certa padronização no estilo e formato de filmes que compõem o ranking de mais consumidos

no mundo. A indústria cinematográfica estadunidense tem sido a de maior alcance e peso

1 Bacharel em Antropologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2016) e atualmente finalizando o Mestrado

em Antropologia Social na mesma instituição (UFSC), em Florianópolis, Brasil.

Page 2: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

2

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

internacionalmente há décadas2, e seu predomínio não é diferente no Brasil. Seja por salas de

cinema tradicionais, canais de televisão (gratuitos ou pagos), serviços de streaming ou pirataria, o

cinema comercial estadunidense marca sua indisputável hegemonia, e isso significa que certas

narrativas provenientes desses filmes, mais do que daqueles de outros países ou até mesmo dos

nacionais, exercem forte influência no repertório imaginativo do público brasileiro.

Considerando a preponderância de filmes do circuito comercial dos Estados Unidos nas

audiências do mundo todo e, em especial, no Brasil, e levando em conta o peso dessa indústria na

construção de representações coletivas sobre as realidades e indivíduos que nos cercam, vou

explorar neste breve artigo a importância de olharmos para a forma como estão sendo arquitetados

os imaginários referente às mulheres através dessa mídia. Faço a ressalva de que não se trata, aqui,

de ignorar as questões envolvendo a representação de personagens masculinos no cinema – que não

são, obviamente, menos importantes ou problemáticas que as que versam de sua contrapartida –,

mas de evidenciar demandas de um gênero numericamente menos representado e cujos efeitos de

tal representação sofre com mais intensidade.

Este artigo se propõe, assim, a realizar uma reflexão a respeito da forma como a mulher é

representada em filmes do circuito comercial e os problemas decorrentes de certas tipificações e

clichês que são costumeiros nesse meio. Por sua produção e consumo em grande escala, o cinema –

assim como outras mídias de comunicação em massa, como seriados televisivos, músicas e seus

videoclipes, livros e revistas – é responsável pela reprodução e criação de imagens, pressupostos e

expectativas a respeito da realidade e indivíduos que retrata. Isso significa que a forma como as

mulheres aparecem (quando aparecem) nos filmes repercute na maneira na qual são vistas por quem

os assiste, e consequentemente nas suas perspectivas e relações com as mulheres com as quais

interagem. Essas são mídias de produção e reprodução de informação, significado e mesmo

experiência, e é nesse sentido que uma análise do que se apresenta enquanto “mulher” e “feminino”

no universo cinematográfico se faz necessária. Dividido em três tópicos – Consumo e o corpo da

mulher, Personagens femininas e (a ausência de) agência e Representatividade do feminino no

cinema comercial –, o artigo se desenvolve a partir de um referencial teórico da Antropologia,

contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros.

Consumo e o corpo da mulher

2 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2004 Liberdade Cultural num Mundo Diversificado.

Page 3: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

3

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Em um livro que reúne artigos sobre publicidade sob o olhar da Antropologia, Everardo

Rocha apresenta e discute anúncios publicitários e suas relações de produção e consumo com a

sociedade de onde provém3. Há que se reconhecer, é claro, que tais anúncios não consistem em

filmes do circuito comercial – o foco, afinal, deste artigo. Dentre as diferenças mais evidentes estão

o propósito explicitamente comercial da publicidade, que faz a ponte entre produção e consumo de

bens, e o propósito primário do cinema, que é o entretenimento. Igualmente, também ressalto que o

próprio universo (mecanismos, ferramentas e lógica) da comunicação em massa mudou

significativamente da época em que foram feitos os anúncios estudados por Rocha e o momento

atual.

Apresentadas tais ressalvas, argumento que, por serem produções da indústria cultural e se

caracterizarem enquanto mídias de comunicação em massa, anúncios publicitários e filmes do

circuito comercial têm muito em comum, de forma que é possível substituir o primeiro termo pelo

segundo em várias passagens do livro de Rocha sem prejuízos na compreensão e interpretação do

texto, especialmente se considerarmos que o importante para esta discussão não é o formato da

mídia, e sim sua relação com o imaginário coletivo de onde e para o qual é produzida.

A indústria cultural coloca a sociedade que a produz diante de um amplo repertório de ideias, emoções, sensações, escolhas, imposições e práticas. Um complexo universo ideológico é composto pelas representações dessa sociedade, que são ali elaboradas, construídas, repetidas, transformadas pela veiculação rotineira nos textos e imagens de anúncios publicitários, jornais, novelas, revistas, noticiários, filmes, etc. (ROCHA, 2006: 42)

Essa é a premissa na qual se baseia este artigo: existe, entre a indústria cultural – e aqui podemos

incluir também (mas não exclusivamente) músicas, programas de televisão, jornais, revistas e demais

produções artísticas – e sua sociedade de origem uma espécie de polinização recíproca, em que a primeira

é produzida pela segunda, ao mesmo tempo em que reproduz e cria certas imagens e concepções sobre

ela. Ou seja, tanto a indústria cultural quanto a sociedade criam e são criadas uma pela outra, como as duas

faces de uma fita de Möbius, fomentando uma relação simbiótica cujas implicações sentimos no nosso

cotidiano, ao usar informações provenientes de diferentes mídias para apreciar e julgar pessoas e situações

com que nos deparamos.

Há um artigo em particular que chama atenção nesta obra de Everardo Rocha, e sobre o qual vou

elaborar aqui: “A mulher, o corpo e o silêncio: identidade feminina na publicidade”. Neste capítulo, o autor

analisa anúncios de produtos das classes “cosméticos e toilette” e “vestuário e têxteis” publicados nas

3 “Representações do consumo: Estudos sobre a narrativa publicitária” Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Mauad, 2006

Page 4: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

4

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

revistas Veja, Nova, Cláudia, IstoÉ e Playboy durante o segundo semestre de 1980 para discutir a

representação feminina nesta mídia, chegando à conclusão de que existem três principais características

presentes nas mulheres retratadas: a demarcação de individualidade; a fragmentação do corpo; e o

silêncio.

Afirmar a individualidade da mulher na publicidade se trata mais de uma estratégia de venda do

que necessariamente uma problemática específica do gênero feminino, pois o consumidor deve se

identificar com a imagem que vê para considerar que aquele produto pode ser de seu interesse. A questão

se torna de gênero quando se percebe que tais propagandas associam a individualidade ao corpo da

mulher, ou ainda mais explicitamente, com partes desse corpo. O indivíduo-mulher da publicidade,

conforme Rocha pôde averiguar em seu estudo, é fortemente marcado por uma supervalorização do seu

corpo, como se não apenas essa fosse uma característica de sua individualidade, mas seu principal atributo:

Nesse plano, a mulher indivíduo vira corpo e o que entra em jogo é a sua posse, uso, beleza, tratamento e realce, pois o corpo é a propriedade, bem e valor fundamental – no limite exclusivo – dessa individualidade. O corpo como propriedade, pertencimento e posse, um território de ação feminina, fica estabelecido com muita nitidez em diversos anúncios. (2006: 55)

Não é preciso procurar muito para perceber que essa lógica extrapola os limites cronológicos dessa

pesquisa e se faz presente até os dias de hoje – as propagandas de marcas de cerveja brasileiras são

notórias pela objetificação do corpo feminino, mas não são as únicas. O corpo da mulher – e mesmo por

vezes, como Rocha explica, apenas parte dele4 – aparece como “recompensa” ao uso de desodorantes,

roupas ou perfumes masculinos, é chamariz para eventos culturais como o Carnaval e entretenimento de

programas de auditório.

No cinema, a “mulher-troféu” – uma derivação da “donzela em perigo” – é uma das versões mais

conhecidas dessa objetificação5. Ela é a personagem – sempre jovem, magra, de corpo curvilíneo e na

maioria das vezes branca – que o protagonista salva e/ou conquista, normalmente no final do filme, como

se fosse o prêmio por algum comportamento heroico. São as princesas a serem resgatadas ou mulheres a

serem protegidas que sustentam a lógica por trás da noção atual de “friend zone”, que alega que, por

ajudarem (ou simplesmente mostrarem respeito) alguma mulher, os homens têm direito a alguma

retribuição, normalmente em forma de relações românticas ou sexuais. Quando não recebem tal

retribuição, e são vistos como “apenas um amigo” pela mulher, tal comportamento é entendido como uma

4 “Esse corpo, que pode se dissolver em diversos fragmentos, é o principal poder desse indivíduo mulher. Através dele, e quase que exclusivamente pelo seu uso, a mulher se faz ousada, moderna, sedutora, assumida, etc.” (ROCHA, 2006: 62) 5 http://nodeoito.com/mulher-trofeu-do-heroi-na-cultura-pop/

Page 5: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

5

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

depreciação e até mesmo insulto pelo homem em questão e seus pares. Vemos a “mulher-troféu” em

produções como “Shrek”, “Homem-Aranha”, “Transformers”, “Homem-de-Fero”, e o filme que popularizou

a noção de “friend zone” foi “Apenas amigos”.

A objetificação da mulher pela mídia é o resultado de um olhar masculino e heteronormativo – ou

seja, mesmo quando o público-alvo não é explicitamente o gênero masculino, as imagens são feitas para

apelar prioritariamente a homens heterosexuais –, o que, por sua vez, é uma implicação da falta de

mulheres por trás da produção audiovisual e de mídias. Um estudo da New York Film Academy fez uma

análise dos 500 filmes de Hollywood de maior sucesso entre 2007 e 2012 e demonstrou como a

desigualdade de gênero é latente em muitos aspectos dessa indústria6. Apesar de compormos metade dos

consumidores de cinema, constatou-se uma média de 2,5 atores para cada atriz nas telas, sendo que das

personagens femininas retratadas nesses filmes, quase 30% fazia uso de roupas sensuais (em oposição a

7% dos personagens masculinos) e 26,2% ficavam parcialmente nuas (a porcentagem cai para 9,4% quando

se trata dos homens em cena). O estudo também comprova um aumento significativo na quantidade de

personagens femininas em filmes cuja direção foi feita por uma mulher (10,6% a mais) e quando há

roteiristas mulheres envolvidas no projeto (8.7%). Se voltamos nosso olhar para o Brasil, podemos perceber

facilmente alguns dos efeitos desse tipo de representação; o Instituto Geena Davis fez uma pesquisa com

mulheres brasileiras sobre programas televisivos e filmes e chegaram a esses números7: 73% percebe a

imagem da brasileira nessas mídias como hipersexualizada, 25% afirma que histórias de mulheres fortes as

encorajou a sair de uma relação violenta, e 51% acredita que essas mídias reforçam a naturalização do

assédio às mulheres.

Ter mulheres nos bastidores da indústria cinematográfica, redigindo, produzindo e dirigindo filmes

não é apenas uma questão de representatividade numérica – ter mais mulheres nos filmes –, mas

principalmente de representatividade da diversidade de olhares, características e vivências que compõem

as experiências de ser mulher nos dias atuais. Quanto mais mulheres tivermos escrevendo e dando vida a

personagens e enredos, maior a gama de histórias podemos contar, mais mulheres se verão representadas

com densidade e complexidade. É também uma questão de criar novas referências ao imaginário coletivo

sobre o que é ser mulher, e como agimos e somos tratadas, e o que podemos fazer.

Personagens femininas e a (ausência de) agência

6 http://www.nyfa.edu/film-school-blog/gender-inequality-in-film/ 7 http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/03/1747417-audiovisual-do-brasil-e-sexista-diz-pesquisa-de-ong-de-geena-davis.shtml

Page 6: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

6

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Quando tratando de agência (no sentido de qualidade daquele que age) e relações de poder8, a

antropóloga Sherry Ortner encontrou nos contos dos Irmãos Grimm uma fonte de material de análise para

trabalhar a construção textual da agência. Em tais histórias – os tradicionais contos de fadas –, a presença

ou ausência de agência se determina como atividade e passividade, sendo a primeira a perseguição de

projetos, e a segunda a ausência mesmo de desejo de projetos. Ainda que haja um certo equilíbrio entre

protagonismos femininos e masculinos nos contos analisados, é interessante apontar que as heroínas

meninas/mulheres são, quase sempre, “heroínas vítimas”:

Embora sejam as protagonistas, a ação da história se desenrola em virtude de coisas ruins que lhes acontecem, e não pelo fato de as protagonistas tomarem a iniciativa de ações, como no caso da maioria dos heróis masculinos. Assim, a passividade está, até certo ponto, incorporada à maioria dessas meninas desde o início. (ORTNER, 2007: 60)

Apesar disso, muitas vezes as protagonistas tomam atitudes (têm agência) em algum momento no

início do conto. Nesse caso, o problema é que elas invariavelmente são castigadas por essas atitudes, e se

vêm impelidas à passividade – como Aurora em “A bela adormecida”, que espeta o dedo em um fuso e

desmaia, ou Branca de Neve em “Branca de Neve e os Sete Anões”, que é enganada pela Rainha e também

desmaia, ambas passando boa parte de suas histórias completamente imóveis.

Ortner sugere a leitura dos contos como histórias de passagem para a vida adulta: os rapazes

concretizam sua agência completando uma tarefa difícil, salvando a donzela e encontrando objetos

perdidos, enquanto que as meninas e moças, para atingirem a idade adulta (e se casarem), precisam

renunciar a qualquer agência – pois são punidas por qualquer atitude que tomem, e compensadas por sua

passividade. Nas estórias onde a personagem feminina é heroína – como a versão de “Chapeuzinho

Vermelho” em que a personagem-título e sua avó conseguem matar o lobo sozinhas, ou em “João e Maria”,

com Maria sendo quem derrota a bruxa – essas personagens são privadas da recompensa de felicidade

eterna e matrimônio (ou seja, não completam a passagem para a vida adulta) que espera suas

companheiras não-agentes, retornando à casa de suas mães, para lá ficarem, como crianças.

Dentro da política cultural de diferença e de desigualdade de gênero que informa os contos, porém, crescer significa que as duas partes desta relação – que, no final das contas, é desigual – não podem “ter” agência. Isso é expresso em uma linguagem de (complementaridade de) atividade e passividade. O príncipe não pode ser herói se a princesa puder salvar-se a si mesma; até pior, o príncipe não pode ser herói se a princesa puder salvá-lo. (2007: 62)

8 “Poder e Projetos: Reflexões sobre a Agência” In: Reunião Brasileira de Antropologia (2ª : Goiânia : 2006) Conferências e práticas antropológicas / textos de Bárbara Glowczewski, ... (et.alli.) ; organizadores Miriam Pillar Grossi, Cornelia Eckert, Peter Henry Fry. – Blumenau : Nova Letra, 2007.

Page 7: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

7

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Minha intenção em apontar para essa análise de Ortner está no fato de que muitos dos traços

apontados pela autora como pertencentes às personagens femininas – passividade, humildade,

subordinação, repercussões negativas à tomada de agência – se mantiveram na adaptação desses contos às

telas de cinema, e se propagaram para outros filmes de contos de fadas, como alguns dos clássicos de

animação dos estúdios Disney: “A Pequena Sereia”, “Cinderela”, “A Bela e a Fera”, por exemplo.

O maior problema dessas representações é o reforço da noção que os atributos físicos de uma

mulher são mais importantes que suas ações ou suas falas em produções voltadas para o público infantil.

Faço um parêntesis aqui para retornar a um ponto abordado anteriormente neste ensaio. Everardo Rocha

aponta para três características das mulheres nos anúncios estudados: a individualidade da consumidora, o

corpo (e sua fragmentação), e o seu silêncio: “Como a individualidade feminina que a publicidade projeta é,

preferencialmente, traduzida pelo corpo, a palavra terá de ser expressa por uma outra instância: o

produto.” (ROCHA, 2006: 60-61). Enquanto na publicidade é o produto que fala pela mulher, no cinema

esse papel é atribuído ao homem, de forma que a mulher se mantém em silêncio também nesse formato

de mídia.

Muitas pesquisas9 têm apresentado dados preocupantes com relação não apenas ao número de

personagens femininas nos filmes, mas também à qualidade de sua presença em cena. A porcentagem de

tempo de fala das meninas e mulheres em filmes, se comparada à dos meninos e homens costuma ser

notavelmente menor. Se tomarmos, por exemplo, um estudo do Instituto Geena Davis em que foram

analisados os 200 filmes de mais sucesso de bilheteria entre 2014 e 2015, veremos que os personagens

masculinos tiveram entre duas e três vezes mais tempo de fala que as femininas, sendo que a maior

diferença se encontra em filmes com protagonistas masculinos (nos filmes que contam com mulheres como

protagonistas há um equilíbrio nos tempos de fala)10.

Ao constatar a discrepância de tempo de fala entre os personagens de filmes, a cartunista Alison

Bechdel criou, em 1985, através de uma história em quadrinhos, o chamado “Teste Bechdel”, que consistia

em três perguntas a se fazer para ter uma noção – mesmo que superficial – da ausência e do silêncio

femininos em qualquer filme11. As perguntas eram as seguintes: há, em tal filme, ao menos duas mulheres

com nomes, que conversam entre si, e cujo assunto da conversa não seja um homem? É claro que esses

três requisitos não refletem a qualidade dos filmes ou mesmo das falas dessas personagens, mas expõem a

realidade da indústria cinematográfica enquanto domínio masculino – feito por homens e para homens.

9Ver: https://seejane.org/research-informs-empowers/data/, http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/2013-08-15/com-poucos-e-piores-papeis-femininos-hollywood-esquece-mulheres-da-plateia.html 10 https://seejane.org/research-informs-empowers/data/ 11 https://feministfrequency.com/video/the-bechdel-test-for-women-in-movies/ , http://bechdeltest.com/

Page 8: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

8

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Apesar de parecer um teste relativamente simples, há muitos filmes famosos que não passam nele,

como “A Rede Social”, “Forrest Gump”, “Avatar”, “Star Wars” (a trilogia original), “Senhor dos Anéis” (todos

os filmes da trilogia), “Piratas do Caribe: O baú da morte”, “Ultimato Bourne”, “500 Dias com Ela”, “Como

se Fosse a Primeira Vez”, “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” e assim por diante12. Mesmo

sendo bastante simples, o Teste Bechdel é um bom começo para percebermos e questionarmos a lógica

que seguem os diretores e roteiristas ao escreverem e dirigirem os filmes que chegam até nós pelas salas

de cinema ou programações de TV – uma lógica que implica na presença feminina sempre relacionada a

algum homem e com poucas interações entre mulheres.

É fácil perceber, assim, como a representatividade feminina nos filmes de circuito comercial é

bastante problemática: há o silenciamento das vozes, a invizibilização de personagens, a hipersexualização

e objetificação dos corpos e a heteronormatividade compulsória que permeia a abundante maioria das

relações nas telas. Mesmo quando aparecemos, temos falas e nosso propósito não é a satisfação e/ou

sedução masculina, nossa representação cinematográfica ainda apresenta falhas, com muitas das

narrativas caindo em um padrão repetitivo de caracterizações e histórias superficiais e estereotipadas.

Representatividade do feminino no cinema comercial

Essa ausência de mulheres nas telas e a forma como as poucas mulheres que aparecem são

retratadas levou a crítica de mídia Anita Sarkeesian a lançar, em 2011, um conjunto de vídeos

chamados “Tropes vs. Women” no seu canal do Youtube “Feminist Frequency”, onde fala de seis

tropes (arquétipos, clichês) que se repetem quando o assunto é personagens femininas em filmes do

circuito comercial. Os clichês são os seguintes: o Princípio Smurfette; a Manic Pixie Dream Girl; a

Mulher na Geladeira; a Sedutora Maligna; a Gravidez Mística e a Feminista Espantalho13.

Esses arquétipos se referem, respectivamente na ordem em que foram listados, aos filmes

com uma única mulher no elenco; às musas idealizadas de forma a terem como único propósito o

crescimento emocional do personagem principal; às mulheres que são (por vezes brutalmente)

mortas para o desenvolvimento do enredo, seja para servirem de fonte de vingança ou para a

complexificação do personagem principal; às personagens que se valem de sua sensualidade para

atrair e manipular os homens, às vezes chegando a matá-los para cumprir suas intenções nefastas;

àquelas que ficam grávidas por terem seus ovários invadidos por aliens, porque serviram de

12 A lista completa e atualizada de filmes que passam ou não no Teste é acessível no site oficial: http://bechdeltest.com/ 13 https://www.youtube.com/watch?v=uqJUxqkcnKA&list=PLBBDFEC9F5893C4AF

Page 9: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

9

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

incubadoras para demônios ou que, de alguma forma, se tornam anfitriãs biológicas de seres

supernaturais, extraterrestres ou simplesmente desconhecidos; e as personagens que se identificam

(ou são identificadas) como feministas e, de forma bastante simplista, exagerada e muitas vezes mal

representada, servem de recurso cômico ao filme. Alguns exemplos de filmes conhecidos que

apresentam um (ou vários) desses arquétipos são: “Matrix”, “Os Vingadores”, “Tudo acontece em

Elizabethtown”, “500 dias com ela”, “Rocky Balboa”, “Homens de Preto II”, “Transformers 2”, “A

Saga Crepúsculo: Amanhecer”, “Prometheus” e “Legalmente Loira”.

No geral, em filmes de ficção científica, ação, aventura e comédia, as mulheres são

retratadas de forma bastante superficial e, normalmente, em número muito reduzido, de maneira que

uma verdadeira diversidade – em raças ou etnias, orientações sexuais, faixa etária, posicionamentos

políticos, profissões, etc – se torna algo difícil de encontrar. As poucas que aparecem são

personagens pouco desenvolvidos e que acabam sucumbindo a algum desses clichês – ou em mais

de um ao mesmo tempo. Nesse sentido, os filmes cujo enredo se centram em histórias de mulheres

saem em vantagem: a quantidade de personagens femininas que aparecem é muito maior, e assim

costuma haver uma maior diversidade delas.

Mesmo quando são protagonistas, entretanto, as mulheres também sofrem com enredos

clichês, sendo constantemente colocadas em situações em que a beleza física é o seu principal

atributo (e que transformações de vestuário ajudam a personagem a alcançar todo seu potencial e

encontrar um marido), são obrigadas a escolher entre carreira e vida pessoal (onde, novamente, o

casamento aparece como principal argumento), brigam com outras mulheres, são lindas-porém-

desastradas, ou largam tudo (seus empregos, cidade, até família e amigos) para ir atrás do

“verdadeiro amor”14. Essas poucas histórias se repetem em “Uma linda mulher”, “O diário da

princesa”, “Miss Simpatia”, “A Proposta”, “Sem reservas”, “Casa comigo?”, “Escrito nas estrelas”,

“Tudo para ficar com ele”, “Cartas para Julieta”, “É pura sorte”, “Sorte no amor”, “Noivas em

guerra”, “Você de novo” e “Garotas malvadas”.

São muitos os problemas decorrentes do uso e repetição de cada um desses arquétipos e

clichês, principalmente no que se refere às suas influências na criação de expectativas e construção

de imaginários a respeito de mulheres. A presença de personagens femininas sempre brancas,

jovens, magras, que se encaixam no padrão de beleza vigente, cujas histórias giram em torno de

seus relacionamentos afetivos com homens, e são contadas por homens é prejudicial em muitos

sentidos, tanto para meninas e mulheres, que enxergam nessas narrativas um modelo ou padrão a

14 “6 estereótipos femininos que Hollywood precisa parar de usar” (2015), de Lara Vascouto.

Page 10: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

10

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

ser seguido, quanto para os meninos e homens, que incluem em seu repertório cultural formas de

agir e se relacionar com mulheres e o que esperar delas.

Há, porém, um outro problema quando se fala em representatividade feminina no cinema

comercial: existe toda uma diversidade de histórias que nunca são contadas e personagens que

raramente são vistas. São as mulheres negras, gordas, lésbicas, bissexuais, transexuais, assexuais,

intersexuais e queer, mulheres mais velhas, de diferentes etnias, mulheres portadoras de deficiências

motoras e intelectuais, entre tantas outras. Essas realidades, quando aparecem, são retratadas por

personagens unidimensionais, cujo propósito único é satisfazer o olhar masculino, como acontece

com a hipersexualização de mulheres do espectro LGBTQ+ e mulheres de etnias diversas,

consideradas “exóticas”. Existe uma ausência significativa de mulheres contado suas próprias

histórias, especialmente aquelas que fogem aos padrões já estipulados.

Considerações finais

Diante do cenário que apresentei neste artigo, pode parecer que a indústria cinematográfica

ostenta um sem-fim de falhas irreparáveis no que se refere à representação do gênero feminino. O

caso não é assim tão desesperador, é claro, pois há filmes que questionam os estereótipos e quebram

os padrões, mesmo dentro do circuito comercial aqui discutido, além de filmes de fora deste circuito

que fogem (e mesmo alguns que sempre fugiram) dessas formas de apresentar as mulheres. Há um

avanço significativo sendo feito nessa indústria nos últimos tempos, e filmes como “Star Wars: O

Despertar da Força”, “Rogue One”, “As caça-fantasmas”, “Frozen”, “Moana” e “Mulher

Maravilha” são alguns dos lançamentos recentes que chamaram atenção por saírem dos moldes com

suas personagens femininas complexas, protagonistas e cujos objetivos não envolviam o

desenvolvimento de um relacionamento romântico com um homem.

Retomando a discussão inicial sobre as mídias de comunicação em massa enquanto

construtoras do imaginário cultura e sua relação simbiótica com a sociedade, não faz sentido termos

tido, por tanto tempo, tantas representações do feminino no cinema que não condiziam com a

realidade. O movimento feito assemelhava-se mais a uma alimentação unilateral da indústria à

sociedade, e pouco da sociedade à indústria, causando assim a disparidade entre uma e outra. Parece

haver agora um esforço no sentido de tentar equiparar os dois polos, diversificando as histórias e

reforçando a presença – e principalmente agência – das mulheres nas telas e por trás delas.

Referências

Page 11: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

11

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

ORTNER, Sherry. “Poder e Projetos: Reflexões sobre a Agência” In: Reunião Brasileira de Antropologia (2ª:

Goiânia: 2006) Conferências e práticas antropológicas / textos de Bárbara Glowczewski, ... (et.alli.) ;

organizadores Miriam Pillar Grossi, Cornelia Eckert, Peter Henry Fry. – Blumenau : Nova Letra, 2007.

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2004 Liberdade Cultural num Mundo Diversificado.

ROCHA, Everardo. “Representações do consumo: Estudos sobre a narrativa publicitária”. Rio de Janeiro: Ed.

PUC-Rio: Mauad, 2006

Sites consultados

FEMINIST FREQUENCY. “Tropes vs. Women”. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=uqJUxqkcnKA&list=PLBBDFEC9F5893C4AF [acessado em

07/07/17]

GEENA DAVIS INSTITUTE ON GENDER IN MEDIA. “The Reel Truth: Women aren’t seen or

heard”. Disponível em: https://seejane.org/research-informs-empowers/data/ [acessado em

07/07/17]

New York Film Academy Blog. “Gender Indequality in Film” Diposnível em:

http://www.nyfa.edu/film-school-blog/gender-inequality-in-film/ [acessado em 07/07/17]

PÉCORA, Luisa. “Com poucos e piores papeis femininos, Holywood ‘esquece’ mulheres da

plateia”. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/2013-08-15/com-poucos-e-

piores-papeis-femininos-hollywood-esquece-mulheres-da-plateia.html [acessado em 07/07/17]

PESSOA, Gabriela Sá. “Audiovisual do Brasil é sexista, diz pesquisa de ONG de Geena Davis”.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/03/1747417-audiovisual-do-brasil-e-

sexista-diz-pesquisa-de-ong-de-geena-davis.shtml [acessado em 07/07/17]

SARKEESIAN, Anita. “The Bechdel Test for Women in Movies”. Disponível em:

https://feministfrequency.com/video/the-bechdel-test-for-women-in-movies/ [acessado em

07/07/17]

Teste Bechdel. Disponível em : http://bechdeltest.com/ [acessado em 07/07/17]

VASCOUTO, Laura. “6 Estereótipos Femininos que Hollywood presica parar de usar”. Disponível

em: http://nodeoito.com/6-estereotipos-femininos-que-hollywood-precisa-parar-de-usar/ [acessado

em 07/07/17]

VASCOUTO, Laura. “Mulher-Troféu: A mulher como recompensa do herói na cultura pop”.

Disponível em: http://nodeoito.com/mulher-trofeu-do-heroi-na-cultura-pop/ [acessado em 07/07/17]

Page 12: CONSUMO, REPRESENTAÇÃO E AGÊNCIA DO FEMININO … · contando com autores como Everardo Rocha e Sherry Ortner, entre outros. Palavras-chave: Cinema, gênero, consumo, agência,

12

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Consumption, Representation and Agency of Women in Comercial Cinema

Astract: This article proposes a reflection on the way in which women are represented in

commercial films and the problems arising from certain typifications and cliches that are customary

in this medium. Because of its large-scale production and consumption, cinema - as well as other

mass media, such as television series, music and video clips, books and magazines - is responsible

for the reproduction and creation of images, assumptions, and expectations about reality and

individuals it portrays. This means that the way women appear (when they appear) in movies has

repercussions on the way they are seen by the viewer, and consequently on their perspectives and

relationships with the women with whom they interact. These are means of production and

reproduction of information, meaning and even experience, and it is in this sense that an analysis of

what is presented as "woman" and "female" in the cinematic universe becomes necessary. Divided

into three topics - Consumption and woman's body, Female characters and (the absence of) agency

and Representation of the feminine in the commercial cinema -, the article develops from a

theoretical reference of Anthropology, counting on authors like Everardo Rocha and Sherry Ortner,

among others.

Keywords: Cinema, gender, consumption, agency, representativity.