Consul to Rios

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Consultórios 1 Fonte Revista Projeto Design Edição 355 Setembro de 2009, editora Arco Editorial Em hospitais, clínicas, maternidades e outros edifícios de saúde, o cuidado para impedir a contaminação de pacientes torna ainda mais rigorosa a especificação de materiais de acabamento. Regulamentado pela Anvisa, o processo deve atender às necessidades próprias de áreas definidas como críticas e semicríticas, atento ainda à resistência ao uso e à limpeza e a eventuais obras de reparos, que não devem interferir com a rotina das instituições. A complexidade dos projetos de edifícios de saúde é diretamente proporcional ao porte do empreendimento e exige que o arquiteto conheça as diferentes atividades realizadas em cada ambiente, considerando fluxos operacionais, circulações, equipamentos e serviços. Não menos complexa é a etapa de especificação dos materiais de acabamento, que devem apresentar características adequadas à aplicação hospitalar, tais como resistência ao uso intensivo, à abrasão causada por macas ou cadeiras de rodas e às limpezas e desinfecções freqüentes. Deve-se considerar também a facilidade de substituição em pequenas áreas, sem a necessidade de obras que impliquem interdição do espaço, poeira e barulho. Materiais com superfície ranhurada ou com relevos, propícios ao acúmulo de sujeira, devem ser evitados. Nos hospitais, os ambientes são classificados em acordo com o risco de o paciente contrair infecções e a escolha dos materiais é pautada pelas especificidades dos locais onde serão aplicados. As áreas críticas são aquelas que oferecem maior potencial de contaminação, tais como centro cirúrgico, central de esterilização de materiais, berçário, pronto-socorro, quartos de UTI e enfermarias de emergência. As semicríticas são as ocupadas por pacientes com doenças não infecciosas ou infecciosas não transmissíveis, tais como setores de diagnóstico (salas de radiologia ou ultrassonografia, por exemplo), de internação, enfermarias e corredores. Já as áreas não críticas são aquelas às quais os pacientes não têm acesso, como a administração ou a manutenção. Materiais e criatividade “As normas foram atualizadas e ficaram mais rigorosas. Temos a RDC 50, da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], regulamento técnico de 2002 que normatiza o planejamento de edifícios de saúde, incluindo a especificação dos acabamentos”, explica a arquiteta Ana Carolina Tabach, coordenadora de projetos do escritório Bross Consultoria e Arquitetura, que há 50 anos atua no

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Consultórios 1

Fonte Revista Projeto Design

Edição 355 Setembro de 2009, editora Arco Editorial

Em hospitais, clínicas, maternidades e outros edifícios de saúde, o cuidado para impedir a contaminação de pacientes torna ainda mais rigorosa a especificação de materiais de acabamento. Regulamentado pela Anvisa, o processo deve atender às necessidades próprias de áreas definidas como críticas e semicríticas, atento ainda à resistência ao uso e à limpeza e a eventuais obras de reparos, que não devem interferir com a rotina das instituições.

A complexidade dos projetos de edifícios de saúde é diretamente proporcional ao porte do empreendimento e exige que o arquiteto conheça as diferentes atividades realizadas em cada ambiente, considerando fluxos operacionais, circulações, equipamentos e serviços. Não menos complexa é a etapa de especificação dos materiais de acabamento, que devem apresentar características adequadas à aplicação hospitalar, tais como resistência ao uso intensivo, à abrasão causada por macas ou cadeiras de rodas e às limpezas e desinfecções freqüentes. Deve-se considerar também a facilidade de substituição em pequenas áreas, sem a necessidade de obras que impliquem interdição do espaço, poeira e barulho. Materiais com superfície ranhurada ou com relevos, propícios ao acúmulo de sujeira, devem ser evitados.

Nos hospitais, os ambientes são classificados em acordo com o risco de o paciente contrair infecções e a escolha dos materiais é pautada pelas especificidades dos locais onde serão aplicados. As áreas críticas são aquelas que oferecem maior potencial de contaminação, tais como centro cirúrgico, central de esterilização de materiais, berçário, pronto-socorro, quartos de UTI e enfermarias de emergência. As semicríticas são as ocupadas por pacientes com doenças não infecciosas ou infecciosas não transmissíveis, tais como setores de diagnóstico (salas de radiologia ou ultrassonografia, por exemplo), de internação, enfermarias e corredores. Já as áreas não críticas são aquelas às quais os pacientes não têm acesso, como a administração ou a manutenção.

Materiais e criatividade

“As normas foram atualizadas e ficaram mais rigorosas. Temos a RDC 50, da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], regulamento técnico de 2002 que normatiza o planejamento de edifícios de saúde, incluindo a especificação dos acabamentos”, explica a arquiteta Ana Carolina Tabach, coordenadora de projetos do escritório Bross Consultoria e Arquitetura, que há 50 anos atua no

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segmento hospitalar. A escolha dos materiais é feita em função do tipo de ambiente em que serão aplicados. “Nos setores nobres, como a recepção, trabalhamos com mais liberdade. Nas áreas críticas, o foco está em facilitar a limpeza e evitar a contaminação. Nos bons hospitais, os quartos atendem às necessidades hospitalares, mas com o mesmo cuidado e aconchego dos hotéis”, detalha a arquiteta.

Independentemente dos materiais empregados, é necessário usar a criatividade e os recursos do design e da luz natural para dar mais riqueza e humanizar os espaços, evitando-se as composições monótonas ou excessivas. Na ala infantil, elementos mais lúdicos e alegres quebram o aspecto típico de hospital e tornam os ambientes mais agradáveis às crianças.

Opções para piso

O material especificado desempenha papel importante no empreendimento de saúde e, além de seguir as normas, o arquiteto deve usar bom senso ao escolhê-los. “O granito é um ótimo revestimento e, pela RDC 50, pode ser usado em muitos ambientes. Porém, como é um material difícil de trocar, não é indicado para áreas de atenção ao paciente, por exemplo. Consideramos seu uso somente nas áreas nobres”, observa Ana Carolina.

Para todas as áreas de atenção ao paciente, o piso vinílico em mantas ou em placas, sempre em versões de alto tráfego, é apontado por especialistas como o ideal. Entre suas vantagens estão a diversidade de padrões e a opção por composições de função acústica. As mantas, comercializadas em rolos de 20 metros de comprimento e dois de largura, permitem juntas a quente, o que dá característica monolítica ao piso e descarta a existência de frestas onde possam se acumular sujeira ou micro-organismos. Além de simplificar a limpeza e evitar contaminações, esse piso possibilita a fácil e rápida substituição de pequenas áreas no caso de dano localizado.

Nas áreas molhadas, quanto menos juntas, menor é a possibilidade de contaminação. Nelas se pode empregar porcelanato ou cerâmicas de baixo índice de absorção de água, mas com rejuntes de base epóxi, uma vez que os comuns favorecem a proliferação de micro-organismos. Outra boa opção é o piso epóxi, autonivelante e sem juntas, especialmente recomendado para setores com pacientes imunodeprimidos, como unidades de transplante de medula. “O piso sem juntas facilita o controle de contaminações”, explica a arquiteta. Para os ambientes de serviço, como cozinha, lavanderia ou almoxarifado, Ana Carolina sugere pisos monolíticos, moldados in loco ou em placas, que apresentam resistência elevada e custo mais baixo.

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Até pouco tempo atrás, era necessário executar in loco os pisos condutivos, que protegem médicos e pacientes contra o risco de choques elétricos nas salas de cirurgia, anestesia, parto e hemodinâmica. Uma malha de cobre era disposta sobre o piso, aterrada e depois recoberta por nata de cimento. Hoje existe o piso vinílico na versão condutiva, já com a malha de cobre incorporada. Basta instalar o material e fazer o aterramento. “A cola aplicada também dissipa a energia e contribui para evitar choques”, detalha Ana Carolina.

Paredes e forros

Existem também revestimentos vinílicos de diferentes espessuras e próprios para paredes. “Os mais finos atendem especialmente à internação e os mais espessos podem até substituir os azulejos nas áreas molhadas”, afirma a arquiteta. Se esse revestimento for aplicado nas paredes das áreas críticas, as juntas também deverão ser a quente. “Juntas secas não são recomendadas em locais em que se requer total assepsia”, ela destaca. Quando a opção é pela pintura, as possibilidades estão na linha hospitalar, que inclui tintas látex ou esmalte, ambas sem cheiro. Para o centro cirúrgico, sujeito a lavagens constantes, o ideal é trabalhar com a tinta epóxi, de maior resistência e durabilidade.

Também existem restrições aos forros. Nas áreas críticas, a opção mais indicada é o forro monolítico de gesso, uma vez que o acabamento deve ser totalmente livre de emendas para evitar o risco de contaminação. O forro modular, removível, pode ser empregado nas demais áreas, especialmente nos corredores, onde estão concentradas as instalações.

Resistência do PVC

No Brasil, ainda não existem luminárias de uso específico em hospitais, por isso a escolha do modelo depende de análise criteriosa. Ele deve ser fechado, apresentar difusor de vidro ou acrílico, ser de fácil limpeza e não ter reentrâncias que permitam o acúmulo de pó. “Há um modelo importado que tem essas características. Ele combina as funções de luz geral, luz indireta e foco no paciente, tudo com acionamentos independentes”, destaca Ana Carolina.

A fim de evitar a ocorrência de reparos constantes, portas e paredes precisam ser protegidos contra o impacto provocado pelo trânsito de macas. As portas das áreas de atenção ao paciente podem ser revestidas por laminado melamínico, material resistente e de fácil limpeza. Para os setores de serviços podem ser utilizados revestimentos de PVC, cujo custo é menor. Para as paredes, usase o bate-maca, elemento de PVC em versões para fixação rente

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à superfície ou afastado, o que lhe permite ter a função de corrimão. Material de grande resistência, o PVC também aparece em produtos específicos para proteger batentes e cantos vivos de áreas de grande circulação de macas e carrinhos. “Isso não existia no Brasil até há pouco tempo. É uma proteção que traz economia porque evita danos e reparos”, explica a arquiteta.

Torneiras adequadas

As bancadas de apoio também empregam diferentes elementos, conforme o local. Nas áreas críticas são usados materiais monolíticos e sem porosidade, como aço inoxidável ou revestimento que combina resina acrílica e minerais naturais. Como tem certa porosidade, o granito não é indicado.

A escolha das maçanetas requer atenção ao design, sejam elas fabricadas com latão, alumínio ou aço inox. A preferência recai nos modelos com curvaturas fechadas ou do tipo alavanca, que não dão margem a pequenos acidentes com pacientes e dificultam que roupas ou lençóis enrosquem na haste.

Para a maior parte dos banheiros, a melhor escolha são as torneiras com temporizador por pressão manual. Nas áreas de atendimento ao paciente as opções estão nas torneiras com acionamento mecânico (abertura e fechamento com o cotovelo), acionadas por botão instalado no piso ou ainda por sensor de aproximação (fotocélula). Para o lavabo pré-cirúrgico, onde os profissionais higienizam mãos, unhas e braços, há as versões com controle no pé ou por fotocélula. Nos quartos dos pacientes, é possível empregar misturadores do tipo monocomando para pia, chuveiro e duchinha. Recursos que permitam estabelecer previamente a temperatura da água evitam que o paciente seja atingido por um jato fervente. São preferíveis metais da linha verde, com menor consumo de água, assim como bacias com descargas seletivas e lâmpadas econômicas. Quanto ao mobiliário, são ideais os de materiais resistentes e fácil limpeza, como o laminado melamínico.