Construção Do PPP e Contribuição Da Comunidade Escolar (Dissertação)
-
Upload
anthropos1 -
Category
Documents
-
view
215 -
download
0
description
Transcript of Construção Do PPP e Contribuição Da Comunidade Escolar (Dissertação)
-
ROSE MARY RIBEIRO
CONSTRUO E APLICAO DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO:
a participao da comunidade escolar
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao
Stricto Sensu em Educao da Universidade Catlica de
Braslia para obteno do grau de mestre.
Orientadora: Prof. Dr. Cllia de Freitas Capanema.
Braslia
2004
-
2ii
-
3iii
minha famlia, que partilhou meus ideais e os alimentou,
incentivando-me a prosseguir na jornada, fossem quais fossem
os obstculos. A vocs, que mesmo distantes se mantiveram
sempre ao meu lado, lutando comigo, dedico esta conquista com
a mais profunda admirao e respeito.
-
4iv
AGRADECIMENTO
A DEUS, porque plantastes no meu corao a semente de um ideal; porque a fizestes
germinar, explodir em flores, enfim transformadas em frutos que hoje colho com a alma
repleta de gratido.
minha me, por ter me concedido o dom mais precioso do universo: A VIDA. Obrigada,
pelo sonho que realizo agora.
Ao meu pai, que mesmo ausente no plano fsico sempre est presente na saudade.
Professora Doutora Cllia de Freitas Capanema, orientadora desta dissertao, que, com sua
maneira de ser, foi estmulo, fora e motivao para o meu crescimento intelectual, minha
gratido, minha ternura e meu carinho.
Professora Doutora Beatrice Laura Carnielli, ao Professor Doutor Clio da Cunha e ao
Professor Doutor Cndido Alberto da Costa Gomes por participao na banca examinadora.
Aos professores do Mestrado em Educao da UCB, meu carinho e meu reconhecimento.
s Comunidades Escolares, que exerceram papel fundamental na realizao.
Aos funcionrios da Ps-Graduao, pela competncia sem perder a ternura.
-
5v
Aos amigos e colegas de trabalho, pelo apoio e incentivo que me prestaram.
s amigas Maria Nadurce Silva e Rosilene Beatriz Lopes, exemplo de coragem e motivao
para esta realizao.
Aos amigos Vagner de Carvalho, Ivonete da Silva Baliza e Marilene de Ftima Lopes, pela
carinhosa hospitalidade.
-
6vi
RESUMO
A presente pesquisa foi um estudo exploratrio sobre a participao da comunidade escolar na
construo e aplicao do Projeto Poltico-Pedaggico - PPP, na rede municipal de ensino de
Montes Claros, MG. O objetivo geral foi investigar a participao da comunidade escolar do
Ensino Fundamental na construo e aplicao do Projeto Poltico Pedaggico.
Especificamente, examinou concepes e princpios do PPP, identificou fatores intervenientes
e a participao da comunidade escolar no processo de construo e aplicao do projeto. A
metodologia utilizada foi a de pesquisa exploratria do tipo qualitativo, realizada em cinco
escolas pblicas municipais de Montes Claros. As tcnicas utilizadas abrangeram anlise de
documentos, questionrios aplicados a professores, funcionrios, alunos e pais, e entrevistas
semi-estruturadas com diretores e estruturadas com vice-diretores e supervisoras. Entre as
dificuldades apontadas para realizar a construo e aplicao do PPP, foram registradas a falta
de investimento, de assistncia e apoio na escola pelo poder pblico, insuficincia de recursos
e falta de autonomia para realizar o projeto proposto pela comunidade escolar. O estudo
concluiu pela importncia da participao de toda a comunidade escolar na construo e
aplicao do PPP.
Palavras Chave: projeto poltico-pedaggico, participao da comunidade escolar, gesto
democrtica, autonomia da escola.
-
7vii
ABSTRACT
This was an exploratory study on the participation of school community in the fulfillment of
the Political and Pedagogical Project PPP of schools controlled by the local city
Government of Montes Claros-MG. The general objective was to investigate the participation
of the elementary school community in the development and practice of the political and
Pedagogical Project PPP. Conceptions and principles were particularly studied. Interfering
factors and school community participation in the process of development and practice of the
project were also identified. The methodology used was one exploratory study, of a
qualitative type. Interviews and questionnaires were carried out in five local public schools,
which were carried out in five local public schools controlled by the City Government of
Montes Claros. Documents analysis, questionnaires to school staff, to students and their
parents, interviews with schools principals, vice-principals and supervisors were some
techniques used along the research. The lack of investments, of enough funds and assistance
to schools by the government, and also the lack of autonomy to fulfill the proposed PPP were
some difficulties detected. The general conclusion is that an entire participation of the school
community is paramount for the development and practice of the Political and Pedagogical
Project.
Key words: Political and Pedagogical Project PPP, school community participation,
democratic management, school autonomy.
-
8
SUMRIO
INTRODUO .......................................................................................................................... 11
CAPTULO I ANTECEDENTES E PRESSUPOSTOS DO ESTUDO............................... 14
1.1 O problema.............................................................................................................................. 14
1.2 Objetivos................................................................................................................................. 15
1.2.1 Objetivo Geral..................................................................................................................... 15
1.2.2 Objetivos Especficos......................................................................................................... 15
1.3 Metodologia............................................................................................................................ 16
1.3.1 Procedimentos...................................................................................................................... 17
1.3.2 Populao e Amostra........................................................................................................... 18
CAPTULO II - O TEMA NA LITERATURA........................................................................ 20
2.1 A Proposta Pedaggica na Legislao..................................................................................... 20
2.2 A Prtica de Gesto Democrtica............................................................................................ 25
2.3 A Participao da Comunidade Escolar.................................................................................. 35
2.4 A Autonomia da Escola........................................................................................................... 47
2.5 O Projeto Poltico-Pedaggico................................................................................................ 51
CAPTULO III COLETA DOS DADOS E DISCUSSO DOS RESULTADOS.............. 57
3.1 Caracterizao da Comunidade Escolar................................................................................. 58
3.1.1 Diretores.............................................................................................................................. 59
3.1.2 Vice-Diretores..................................................................................................................... 59
3.1.3 Supervisoras.......................................................................................................................... 60
3.1.4 Professores............................................................................................................................ 60
3.1.5 Alunos................................................................................................................................... 61
3.1.6 Funcionrios......................................................................................................................... 61
3.1.7 Pais e/ou Responsveis......................................................................................................... 63
3.2 Coleta e discusso dos Dados................................................................................................. 66
3.2.1 Concepes e princpios que sustentam a construo e aplicao do PPP.......................... 67
3.2.1.1 O Projeto Poltico-Pedaggico nos Documentos............................................................... 67
-
9
3.2.1.2 O Projeto Poltico-Pedaggico na Viso da Comunidade Escolar.................................... 71
3.2.2 Distribuio de opinies quanto criao de oportunidades pra troca de idias, inovaes e
criao conjunta na escola e na sala de aula.......................................................................................... 78
3.2.2.1 Atuao do Diretor na Construo do Projeto Poltico-Pedaggico................................. 79
3.2.2.2 Participao da Comunidade Escolar na Construo Projeto Poltico-Pedaggico......... 83
3.2.2.3 Atuao do Diretor na Aplicao do Projeto Poltico-Pedaggico................................... 87
3.2.2.3.1 Acompanhamento das Atividades Escolares.................................................................. 88
3.2.2.3.2 Avaliao de Desempenho de Professores e Funcionrios........................................... 92
3.2.2.4 Atuao da Comunidade Escolar na Aplicao do Projeto Poltico-Pedaggico.............. 96
3.2.2.5 Aspectos Facilitadores e Inibidores da Participao da Comunidade Escolar na
Construo e Aplicao do PPP na Escola.................................................................................... 103
CAPTULO IV SNTESE CONCLUSIVA E RECOMENDAES.................................. 108
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................................... 117
ANEXOS....................................................................................................................................... 121
ANEXO A - Roteiro Entrevista Diretor(a)................................................................................. 122
ANEXO B - Entrevista Vice-Diretor(a)..................................................................................... 123
ANEXO C - Roteiro da Entrevista com Supervisores(as)............................................................ 126
ANEXO D - Questionrio Professores...................................................................................... 129
ANEXO E - Questionrio Alunos............................................................................................. 133
ANEXO F - Questionrio Funcionrios.................................................................................... 136
ANEXO G - Questionrio Pais/Responsveis............................................................................ 139
-
10
LISTA DE TABELAS
1 - Distribuio da Comunidade Escolar participante do estudo.......................................... 58
2 - Distribuio dos funcionrios quanto formao........................................................... 63
3 - Distribuio de pais/Responsveis quanto a profisso e escolaridade, por escola........... 65
4 - Opinio dos segmentos quanto participao nas decises administrativas e
pedaggicas............................................................................................................................ 73
5 - Para os alunos a direo incentiva a participao em atividades extra-classe................. 74
6 - Envolvimento dos pais/responsveis nas decises para melhorar a escola e o
desempenho dos alunos.......................................................................................................... 76
7 - Distribuio de opinies quanto criao de oportunidades pra troca de idias, inovaes
e criao conjunta na escola e na sala de aula................................................................................ 77
8 - Responsabilidades e aes de cada um so atribudas coletivamente............................. 80
9 - Distribuio de opinio dos professores quanto a capacitao e a aplicao de
recursos financeiros............................................................................................................... 82
10 - Distribuio da Comunidade Escolar quanto ao conhecimento do PPP e participao
na construo e aplicao do mesmo na escola..................................................................... 86
11 - A direo faz acompanhamento contnuo das atividades escolares.............................. 91
12 - Conhecimento da existncia de rgos Colegiados nas escolas................................... 102
-
11
INTRODUO
No limiar do novo milnio, para acompanhar as mudanas ocorridas no mundo
com a recomposio do sistema capitalista, que tem incentivado um processo de
reestruturao global da economia regido pela doutrina neoliberal, a sociedade brasileira vive
um momento de rpidas transformaes econmicas e tecnolgicas, exigindo uma nova forma
de organizao escolar. Organizao essa, que deve basear-se na relao democrtica e
participativa, quando as decises sero tomadas de forma coletiva, com cada membro da
equipe assumindo sua parte no trabalho. Ou seja, atividade coletiva que implica a participao
e objetivos comuns, que depende, tambm de capacidades e responsabilidades individuais de
uma ao coordenada e controlada. Segundo Ferreira (2001), a escola, em conseqncia, est
exigindo novos contedos de formao, organizao e gesto da educao democrtica e
participativa, ressignificando o valor da teoria e da prtica na administrao da educao. Para
a autora, do conceito de uma boa ou m administrao na educao depender a vida futura de
todos que pela escola passarem. Portanto, a organizao da escola e sua gesto devem garantir
que a educao se faa com a melhor qualidade para todos, possibilitando, desta forma, que a
escola cumpra sua funo social e seu papel poltico institucional, pois estas mudanas esto
exigindo da administrao na educao e dos educadores a tarefa de traduzir as determinaes
do mundo em que vivemos, em contedos que possibilitem uma sociedade humana e cidad,
forte e capaz de enfrentar estes e outros desafios que esto por vir.
A noo da gesto democrtica e de direitos polticos uma conquista da
modernidade. O movimento de contestao ao regime militar e a ampla mobilizao da
populao foraram as mudanas e criaram um novo ordenamento jurdico nacional em bases
-
12
democrticas, que visa construo de uma sociedade justa e solidria, sem medo da
liberdade e na busca da felicidade.
As bases legais, hoje existentes, indicam o sentido mais profundo do princpio da
gesto democrtica do ensino pblico, que tem sido objeto de discusso desde a Constituio
Federal de 1988, quando instituiu a gesto democrtica como preceito para uma nova ordem a
ser implantada e exercida nas escolas brasileiras. Foi no ano de 1996, que a Lei n 9394/96,
das Diretrizes e Bases da Educao Nacional consolidou a obrigatoriedade de ser implantada
a gesto democrtica em todas as unidades pblicas de ensino, como um mecanismo que
possibilita atender s aspiraes de uma sociedade que quer ser mais atuante e participativa
nos destinos da educao.
A institucionalizao da democracia tem estimulado o processo de mudanas na
forma de gerir escolas no Brasil, redistribuindo responsabilidades atravs da participao de
diretor, pais, alunos, funcionrios, especialistas e professores, por meio de um projeto
pedaggico compromissado com a promoo da educao em acordo com as necessidades de
uma sociedade moderna e justa.
Sendo assim, o primeiro passo para a gesto democrtica a elaborao do
Projeto Poltico Pedaggico, (daqui para frente mencionado como PPP), que deve ser
organizado com a participao de toda a comunidade escolar, que, segundo Veiga (1995, p.
22), deve ser construdo como a prpria organizao do trabalho pedaggico da escola, que
o lugar de concepo, realizao e avaliao do projeto educativo.
O presente trabalho tem a inteno de investigar a construo, participao e
aplicao do PPP na rede escolar municipal urbana de Montes Claros, por entender que o
mesmo tem reflexos no processo de democratizao da gesto escolar. Acreditando ser o PPP
o instrumento de construo da identidade da escola, como instrumento de construo da
identidade da escola, fazendo com que esta exera o seu direito diferena, singularidade,
-
13
transparncia, solidariedade e participao, na rede.
A rede escolar municipal urbana de Montes Claros atende Educao Infantil e ao
Ensino Fundamental, entretanto, a presente investigao se concentrar no Ensino
Fundamental, motivada pela longa experincia da autora como supervisora educacional,
quando constatou a necessidade do envolvimento da famlia, de alunos, de professores e
funcionrios na vida da escola, para a consolidao da gesto democrtica.
Pode-se afirmar que uma das grandes inovaes na escola brasileira o fato de a
prpria instituio escolar ter ganhado espao para se organizar junto com a comunidade em
que est inserido, o seu PPP. Assim, tratar da relao entre a educao como direito pblico e
o desenvolvimento social e econmico brasileiro discutir o papel que a educao tem
desempenhado na construo do pas que se deseja ter, em vrios momentos da nossa
Histria. Portanto, o projeto de uma sociedade que seja democrtica nas suas relaes sociais
e econmicas supe uma concepo ampla de educao, entendida como formao do cidado
ativo, apto a participar da sociedade de seu tempo.
A relevncia do tema se deve escassez de estudos dessa natureza na regio e
necessidade de se instaurar um debate, a partir desta pesquisa, sobre como enfrentar, de forma
participativa, os problemas educacionais. A importncia desta pesquisa est, ainda, na
necessidade de conhecer e avaliar a qualidade da participao da comunidade escolar da rede
pblica municipal urbana de Montes Claros na construo e aplicao do PPP.
-
14
CAPTULO I ANTECEDENTES E PRESSUPOSTOS DO ESTUDO
Este captulo problematiza o tema da pesquisa e enuncia os seus objetivos.
1.1 O problema
O sistema de ensino pblico municipal de Montes Claros j tem definidas as
normas de gesto democrtica nas escolas de educao bsica. necessrio analisar as
dificuldades de sua implantao, como: cultura autoritria do ensino, ausncia de recursos
financeiros, desmotivao de professores e falta de uma infra-estrutura que favorea a
participao dos pais, no acompanhamento da educao de seus filhos e outros fatores, que
surgiro no decorrer da pesquisa.
Nesse contexto, o Projeto Poltico-Pedaggico PPP, desempenha importante
papel, porque ele deve refletir a organizao do trabalho pedaggico da escola, e necessrio
investigar a sua construo e aplicao nas unidades de ensino.
A pesquisa visa responder s seguintes questes:
A Rede Pblica Municipal de Ensino de Montes Claros tem definida uma
concepo de PPP?
Quais os princpios e diretrizes que sustentam a elaborao e execuo do PPP?
Como supervisores, professores, funcionrios e alunos percebem a atuao do(a)
-
15
diretor(a) na construo e aplicao do PPP?
Os supervisores, professores, alunos, funcionrios e pais/responsveis da rede
municipal de ensino de Montes Claros participam da construo e aplicao do PPP das
escolas onde trabalham?
Os diretores de escola tm conseguido efetivar a participao da comunidade na
construo e aplicao do PPP?
Quais os principais aspectos facilitadores e inibidores que as escolas encontram
para efetivar a participao da comunidade?
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Investigar a participao da comunidade escolar do Ensino Fundamental da rede pblica municipal urbana de Montes Claros na construo e aplicao do Projeto
Poltico-Pedaggico - PPP.
1.2.2 Objetivos Especficos
Identificar concepes, princpios e diretrizes que sustentam a elaborao e execuo do Projeto Poltico Pedaggico - PPP na rede pblica municipal urbana de Montes
Claros.
Identificar como supervisores, professores, funcionrios e alunos percebem a atuao
-
16
do(a) diretor(a) na construo e aplicao do Projeto Poltico-Pedaggico - PPP na
escola.
Analisar a participao de professores, alunos e funcionrios da rede municipal de ensino de Montes Claros na construo e aplicao do Projeto Poltico Pedaggico
PPP nas escolas.
Detectar os fatores facilitadores e inibidores da participao da comunidade escolar na construo e aplicao do Projeto Poltico Pedaggico - PPP na rede escolar pblica
municipal de Montes Claros.
1.3 - Metodologia
Para investigar a participao da comunidade escolar na construo e aplicao do
PPP na rede escolar municipal urbana de Montes Claros, torna-se necessrio entend-lo em
seu contexto, em uma viso abrangente para compreender as inter-relaes a complexidade
em que ele se insere no dia-a-dia da escola.
Um estudo exploratrio a partir da observao do ambiente, de comportamentos e
de entrevistas com os atores possibilitou uma melhor compreenso da realidade, pois concede
a oportunidade da integrao com o contexto a ser pesquisado. A Rede Escolar Municipal de
Montes Claros formada por 39 (trinta e nove) escolas rurais e 20 (vinte) escolas urbanas que
atendem a Pr-Escola, Ensino Fundamental, Ensino Mdio na Zona Rural, Tele Salas do
Ensino Mdio e Educao de Jovens e Adultos com o Curso de Suplncia do 1 ao 8 perodo.
Atende, ainda, Educao Infantil em Unidades Municipais de Educao Infantil UMEI.
As escolas da rede municipal de Montes Claros esto organizadas na forma de
Ciclos, sendo que o Ciclo Inicial composto pelo 1 ano de escolaridade, que est subdividido
-
17
em:
a) Fase I: alunos de 06 anos de idade;
b) Fase II: alunos de 07 anos de idade;
c) 2 ano, que so consideradas turmas de alfabetizao;
d) Ciclo Intermedirio, composto por 1, 2 e 3 anos correspondem
respectivamente 3, 4 e 5 Sries e
e) Ciclo Avanado compostos pelo 6, 7 e 8 anos que correspondem
respectivamente 6, 7 e 8 Sries.
Dentro do quadro apresentado na rea explorada, 11 (onze) escolas atendem
turmas do Ensino Fundamental. Foram escolhidas, por sorteio, 05 (cinco) escolas para a
pesquisa conforme os seguintes critrios: estar localizada na rea urbana e em diferentes
bairros de Montes Claros, atender turmas do Ensino Fundamental nos turnos matutino e/ou
vespertino. Uma escola foi utilizada para aplicao de pr-testes dos instrumentos de
pesquisa.
1.3.1 Procedimentos
A coleta de informaes incluiu anlise documental do seguinte material: PPP das
escolas a serem pesquisadas, Atas de Reunies e outros documentos julgados relevantes.
Foram utilizados tambm questionrio, entrevista estruturada e entrevista semi-estruturada.
A anlise documental foi importante para completar informaes que podem
revelar novos aspectos das questes estudadas. Para Ldke e Andr (1986), os documentos
constituem uma fonte de onde podem ser retiradas evidncias que fundamentem afirmaes e
declaraes do pesquisador. No so apenas fontes de informaes contextualizadas, mas
-
18
surgem num determinado contexto e fornecem informaes sobre esse mesmo contexto.
considerado documento todo material escrito que possa contribuir para o estudo, trazendo
dados e informaes sobre comportamentos, pensamentos, aes e sentimentos humanos que
tenham relao com a investigao.
O questionrio foi utilizado para alunos, professores, funcionrios e para
pais/responsveis, com o objetivo de identificar a participao da comunidade escolar na
construo e aplicao do Projeto Poltico-Pedaggico da escola.
A entrevista estruturada foi realizada com vice-diretores e supervisoras e a semi-
estruturada com diretores. Para Gaskell (2000, p.65) a entrevista qualitativa fornece dados
bsicos para o desenvolvimento e a compreenso das relaes entre os atores e a situao
vivida. O objetivo foi compreender as crenas, atitudes, valores e motivaes, em relao aos
comportamentos das pessoas envolvidas no contexto escolar.
Segundo Ldke e Andr (1986), na entrevista, a relao que se cria de interao.
Havendo uma atmosfera de influencia recproca entre quem pergunta e quem responde. A
entrevista permite observar as reaes dos entrevistados, o grau de entendimento que
demonstram a respeito do assunto, comentrios e opinies emitidas.
As entrevistas e questionrios foram aplicados como pr-testes em uma unidade
de ensino que no fez parte da pesquisa. O objetivo dos pr-testes melhorar a qualidade dos
instrumentos de coleta de dados e garantir sua validade.
1.3.2 Populao e Amostra
O pessoal envolvido nestas escolas compreendeu: 05 diretores; 05 vice-diretores;
10 supervisoras; 240 professores; aproximadamente 3.733 alunos; dos quais, 1.450 esto nas
-
19
turmas dos 1, 2 e 3 anos do Ciclo Avanado do Ensino Fundamental; 124 funcionrios
dentre eles: 05 Secretrias; 39 Auxiliares de Secretaria; 70 Ajudantes de Servios Gerais; 05
Digitadores e 05 Inspetoras de Alunos. Contou-se, ainda, com a participao de
pais/responsveis por alunos de cada escola.
A amostragem foi composta por parte da comunidade escolar das unidades de
ensino que foram investigadas: toda populao de Diretores, Vices-diretores, Supervisoras,
Professores 10%; Funcionrios 10%; alunos 10%, das turmas do 6, 7 e 8 ano; Pais e/ou
Responsveis 10%. A amostra foi selecionada aleatoriamente.
Os dados coletados pelos questionrios tiveram tratamento estatstico baseado no
SPSS (Statistical Package for Social Sciences), que, segundo Gaskell (2000, p. 87), fornece
uma ligao entre os enfoques qualitativos e quantitativos e propicia abordagens como traar
perfis, tabulaes cruzadas e anlise de correspondncia.
-
20
CAPTULO II - O TEMA NA LITERATURA
Para proporcionar melhor compreenso do tema, a fundamentao terica foi
organizada em cinco partes:
1- A Proposta Pedaggica na Legislao;
2- A Prtica da Gesto Democrtica;
3- A Participao da Comunidade Escolar;
4- A Autonomia da Escola;
5- O Projeto Poltico-Pedaggico.
2.1 A Proposta Pedaggica na Legislao
A sociedade brasileira, a partir da redemocratizao do Pas, passou por um
processo de reorganizao social, poltica e econmica que est expresso na Constituio
Federal, promulgada em 1988, em seu Artigo 1, que prev a democracia participativa e
representativa, reconhecendo que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos, ou indiretamente.
Nesta Constituio, Toschi (2003, p.247) afirma que, pela primeira vez, o
municpio foi reconhecido como instncia administrativa, possibilitando-lhe, no campo da
educao, a organizao de seus sistemas de ensino em colaborao com a Unio e com os
Estados, porm sem competncia para legislar sobre ele. Libneo (2003) complementa que,
-
21
como conseqncia, as Secretarias de Educao tm o dever e a responsabilidade de fazer as
escolas funcionarem e, para isso, necessrio que os professores tomem conhecimento de
certas normas e diretrizes, se convenam de sua legitimidade e passem a agir de acordo com
as expectativas dos dirigentes. A direo da escola, por sua vez, deve reunir o corpo docente
para comunicar novas normas legais, diretrizes pedaggicas e mudanas de rotina de trabalho.
Quanto ao professor, para ser um ativo participante no processo de tomadas de deciso na
escola, precisa conhecer bem a estrutura e a organizao do ensino, as polticas educacionais e
as normas legais, os mecanismos de sua elaborao e divulgao, bem como desenvolver
habilidades de participao e de atuao em trabalho de equipe.
O Art. 205: A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser
promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho,
assegura que a educao deve ser desenvolvida com a participao de diferentes segmentos da
sociedade, em uma ao articulada e de co-responsabilidade, em relao qual o Estado e a
famlia tm papis decisivos. Assim, cabe famlia uma ao direta nesse processo, como
tomar providncias para que seus filhos freqentem efetivamente a escola, incluindo desde a
matrcula, o acompanhamento e a avaliao do trabalho realizado pela instituio, at a
cobrana e a fiscalizao das aes do Estado. Isso requer o seu engajamento no processo de
construo e execuo do PPP da escola.
A Constituio Federal, elaborada para atender s necessidades da nova gesto
democrtica, garantiu no Inciso VI do Artigo 206, o princpio no ensino pblico, na forma da
lei. Segundo Sousa (2002), no campo educacional houve avanos ao reafirm-lo na gesto e
ainda ao assegurar o carter democrtico do ensino pblico, de tal forma que as instituies de
ensino possam criar uma cultura poltico-educativa de exerccio do princpio e da prtica
democrtica no seu cotidiano. Toschi (2003, p.251) descreve que a educao brasileira passa
-
22
a visar ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exerccio da cidadania e
sua qualificao para o trabalho.
Toschi (2003, p.139) afirma que as mudanas democrticas, para serem efetivas,
devem ocorrer dos nveis federal e estadual para o municipal. A democratizao da gesto do
ensino pblico nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princpios da participao dos
profissionais da educao na elaborao do projeto pedaggico da escola e da participao da
comunidade escolar e local em conselhos escolares e equivalentes.
Como tambm Sousa (2002), consolida o que ao administrar uma escola o gestor
deve abandonar o tradicional modelo de concentrao da autoridade nas mos de uma s
pessoa, o diretor, evoluindo para formas coletivas que propiciem a distribuio da autoridade
de maneira adequada a atingir os objetivos identificados com a transformao social.
Lembrando que a busca de uma forma de gesto cooperativa na escola no deve ser feita de
modo voluntarista, contra o diretor, mas a favor da promoo da racionalidade interna e
externa da escola, pois h uma demanda, na sociedade, por uma gesto democrtica da escola
com participao dos diversos atores envolvidos no processo educativo.
Para Oliveira (2001), desde os anos 90, que a sociedade passou a reivindicar
maior democracia na gesto da educao. A luta pela democratizao da educao bsica,
ento, assume o aspecto de ampla defesa do direito escolarizao para todos,
universalizao do ensino e defesa de maior participao da comunidade na gesto da escola
conceitos contemplados na Constituio de 1988.
A LDB de 1996 reafirma essa idia no Artigo 3 no Inciso VIII, os sistemas de
ensino definiro as normas democrticas do ensino pblico na educao bsica, de acordo
com as peculiaridades. Quando remete aos estabelecimentos de ensino as incumbncias de
elaborao e execuo de suas propostas pedaggicas, no Art. 12, Inciso VI determina a
articulao com a famlia e a comunidade, criando processos de integrao da sociedade com
-
23
a escola e, no Inciso VII, comprova a informao da participao dos pais e responsveis
sobre a freqncia e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execuo de sua proposta
pedaggica. No Art.13, no Inciso I, dever dos docentes a participao na elaborao da
proposta pedaggica do estabelecimento de ensino.
A nova LDB trata, ainda, da gesto da educao, ao determinar os princpios que
devem reger o ensino e indica que um deles a gesto democrtica. No Art. 14 so previstos
os princpios nos Incisos:
I - participao dos profissionais da educao na elaborao do projeto
pedaggico da escola;
II - participao das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes.
No Art. 15 tratada a questo da autonomia escolar em dispositivo que prev: os
sistemas de ensino asseguraro s unidades escolares pblicas de educao bsica que os
integram progressivos graus de autonomia pedaggica e administrativa e de gesto financeira,
observadas as normas gerais de direito financeiro pblico. Isto significa que os
estabelecimentos de ensino, quanto sua tarefa de possibilitar a aprendizagem dos estudantes,
gozam da autonomia pedaggica, para o que os sistemas de ensino assegurem crescentes
graus e diversas formas de apoio. Segundo Texeira (2002, p.160), escola permitido a
adaptao sua realidade, conforme proposta pedaggica elaborada com a participao do
pessoal da escola e da comunidade. Essa possibilidade reforada pelos Artigos 23 e 24,
permitindo que cada unidade escolar busque os meios adequados para melhorar a qualidade
do ensino que ministra. Ainda, revela que no caso do estabelecimento de ensino, as
autonomias pedaggica, administrativa e a de gesto financeira trazem novas competncias a
serem assumidas pelo diretor e por todo o pessoal da escola, que, de forma coletiva, deve
definir o PPP da escola e os meios de transformar em realidade as propostas nele contidas.
-
24
Bordignon; Gracindo (2001, p.172) acreditam que se a finalidade do Sistema
Municipal de Ensino apoiar, incentivar e garantir as condies para a concretizao do PPP
das escolas da sua jurisdio, ele no pode ser um mero controlador das aes das mesmas.
Por isso, definir objetivos implica identificar necessidades e problemas, alm de priorizar as
aes para a superao da situao, sempre no rumo do desejado.
Segundo Sousa (2002), no basta a lei determinar a gesto democrtica para o
ensino pblico. Na realidade, as exigncias legais feitas para a gesto democrtica da escola
devem ser vistas como uma das garantias do direito Educao, independentemente da
condio social, poltica ou cultural do cidado.
Para Severino (2000), por maiores que tenham sido as frustraes histricas, uma
esperana sempre renasce, reafirmando quase que arquetipicamente sua f na eficcia da
legislao, reinaugurando-a como instrumento mediador da realizao de efeitos sociais,
capazes de transformar a realidade. Tornando a sociedade brasileira cada vez mais humana,
mais justa e mais eqitativa, a lei conceitua, mas no obriga, no assegura seu prprio
cumprimento, e tudo passa a depender das medidas que os gestores do sistema venham a
tomar.
Segundo Cury (2002), nascem, assim, as perspectivas de democratizao da
escola brasileira, seja como desconstruo de desigualdades, de discriminaes, de posturas
autoritrias, seja como construo de um espao de criao de igualdade de oportunidades e
de tratamento igualitrio de cidados entre si. O autor lembra que a importncia da Legislao
em geral, s passa a ser reconhecida quando ela aplicada na prtica. Todos querem uma lei
que seja, ao mesmo tempo, adequada s circunstncias e exercida no dia-a-dia.
A gesto das escolas , essencialmente, administrar a elaborao e o
acompanhamento do projeto de qualidade da educao que se deseja atravs do PPP da
escola, a fim de se caracterizar a especificidade da organizao escolar. Essa especificidade
-
25
precisa ser identificada a partir da leitura das demandas da sociedade e dos espaos abertos na
legislao.
Cury (1997, p.108) afirma que a gesto democrtica da educao, como
princpio, deve perpassar o conjunto dos rgos e instituies que tm por funo o dever de
educar. Os professores e demais membros da comunidade escolar, ao assumir a incumbncia
dada pela LDB de elaborar o PPP da escola, estaro exercitando a participao no
gerenciamento das polticas educacionais. A elaborao do PPP uma constante recriao da
atividade educativa, porque implica constante planejamento e avaliao do processo
educativo. A participao pode ser a oportunidade de estar (re) formulando as expectativas de
todos esses segmentos em relao educao que desenvolvem.
2.2 A Prtica de Gesto Democrtica
A diviso do trabalho, como um dos princpios de administrao capitalista,
empregada na escola e a coordenao administrativa do diretor, demonstra que o seu poder de
deciso permaneceu intocado por um longo perodo da administrao escolar brasileira. Mas
uma nova estrutura de gesto escolar busca a representao de integrantes da comunidade
interna e externa, como meio de promover a participao coletiva, buscando uma gesto
descentralizada com a finalidade de alcanar uma educao preocupada com a aprendizagem
de qualidade.
Para Libneo (2003) a gesto educacional centrada na escola pode ser vista de
duas maneiras. Na perspectiva neoliberal, ao liberar boa parte das responsabilidades do
Estado, deixando s comunidades e s escolas a iniciativa de planejar, organizar e avaliar os
servios educacionais. Na perspectiva sociocrtica, ao valorizar as aes concretas dos
-
26
profissionais na escola decorrentes de sua iniciativa, de seus interesses, de suas interaes
com a autonomia e a participao, em razo do interesse pblico dos servios educacionais
prestados, sem, com isso, desobrigar o Estado de suas responsabilidades.
Uma abordagem importante feita por Bastos (2001), ao citar que a gesto
democrtica da educao, reivindicada pelos movimentos sociais durante o perodo da
ditadura militar, abriu uma perspectiva para resgatar o carter pblico da administrao
pblica, ao estabelecer o controle da sociedade civil sobre a educao, garantindo a liberdade
de expresso, de pensamento, de criao e de organizao coletiva da escola pblica.
Nesta mesma linha de pensamento Sander (1995), afirma ser a participao e
democracia, na realidade, dois conceitos estreitamente associados, impondo, desse modo, a
necessidade de construir perspectivas democrticas da educao como processo de
participao cidad luz do conceito de qualidade de vida humana. A educao uma
exigncia prioritria de todo projeto de transformao social. acentuada nos pases da
Amrica Latina e do Caribe para consolidar suas conquistas polticas, necessrias para criar
sistemas efetivos de educao e gesto educacional, na convico de que a escola e a
universidade so instncias poderosas para a construo da democracia como caminho
poltico para alcanar elevados nveis de qualidade de vida humana coletiva.
Para Lck (2000), o conceito de gesto j pressupe a idia de participao, que
deve ser um trabalho associado de pessoas analisando situaes, decidindo sobre seu
encaminhamento e agindo sobre elas em conjunto, pois o xito de uma organizao depende
da ao construtiva conjunta de seus componentes, da vontade coletiva. Requer esforos de
toda comunidade escolar como o diretor, professores, alunos e pais na direo de aes
administrativas e pedaggicas que viabilizem a soluo de problemas cujos resultados
culminem na realizao dos fins educativos.
Para Silva (2002), fundamental o envolvimento de todos os participantes do
-
27
cotidiano escolar nessa nova modalidade de administrar a escola, cabendo aos profissionais da
educao, com competncia tcnica, poltica e humana, assegurar uma adequada leitura da
realidade, inclusive no enfrentamento das prticas sociais, bem como na superao de
obstculos que sero o suporte de uma escola que se pretende cidad. Portanto, vivenciar a
gesto democrtica nas escolas significa estar em consonncia com esse momento de
cidadania que reclama uma participao cada vez mais rica e atuante da sociedade.
Democracia significa para Carvalho (1979) a representao da vontade do todo,
mas como o todo no , necessariamente, a maioria, deve-se encontrar um mtodo pelo qual
as idias da maioria e da minoria possam estar to intimamente relacionadas, que os
indivduos sejam capazes de criar idias de grupo e produzirem uma genuna vontade
coletiva.
Para a gesto ser verdadeiramente democrtica, necessrio que todos os que
esto direta ou indiretamente envolvidos no processo escolar participem das decises que
dizem respeito organizao e ao funcionamento da escola. Mas falta aos pais, ainda,
conscincia do papel que podem desempenhar e contribuir para a melhoria da qualidade na
educao dos filhos. Os professores, principalmente, no demonstram estar motivados para
incentivar, ou despertar essa participao, embora a valorizem, pois temem a interferncia dos
pais nos aspectos pedaggicos da escola.
Em funo da descrena generalizada, o professor no valoriza o seu papel na
sociedade, mas, ao mesmo tempo, os discursos do governo, do sindicato e da sociedade
enfatizam o valor do exerccio do magistrio. importante avaliar o que o prprio professor
est fazendo para se auto desvalorizar, pois comum ouvir piadas na mdia sobre os baixos
salrios dos professores e essas atitudes parecem influenciar a auto-estima deles, fazendo-os
desmerecer-se, e at mesmo acreditar cada vez menos na importncia do seu papel na
sociedade.
-
28
Mas os avanos tecnolgicos, as exigncias da globalizao, um mercado de
trabalho cada vez mais competitivo e parte integrante de uma sociedade em mutao e por isto
desafiadora, levaram diversos segmentos sociais, polticos e econmicos a uma postura
diferenciada e a enfrentar os desafios da democratizao na gesto escolar.
preciso enfrentar os desafios democratizando realmente a instituio educativa.
Trazer o aluno e sua famlia para dentro da escola, propiciando sua permanncia. O diretor
deve ser, antes de tudo, um educador, um articulador e exercer sempre liderana democrtica
que seja capaz de dividir o poder de deciso e de deliberao sobre os assuntos escolares com
professores, funcionrios da escola, pais de alunos, alunos e comunidade escolar, criando e
estimulando a participao de todos. Isso no significa abrir mo de responsabilidades ou
funes ligadas ao seu cargo.
As medidas centralizadoras da Unio e dos Estados, quanto organizao dos
sistemas escolares, foram sempre uma tradio no mbito educacional. Os papis
desempenhados pelos integrantes dos sistemas escolares estiveram sempre bem delineados e
determinados, funcionando de maneira isolada e estanque em suas formas de atuao. O
diretor dirige a escola, o professor ensina e o aluno estuda, cada qual cumprindo normas e
regulamentos cristalizados emanados dos rgos superiores.
Cada segmento cumprindo suas tarefas isoladamente, sem preocupao com a
qualidade do trabalho oferecido para a sociedade. Para o diretor o professor era o nico
responsvel pela boa ou m qualidade do ensino; e at mesmo se o aluno aprendia ou no.
Enquanto isto, para os professores os alunos eram os nicos responsveis pela qualidade e
quantidade do que conseguiam aprender; e para a famlia o professor era o nico responsvel
pela aprendizagem de seus filhos.
A nova ordem social, inclusive a relao de poder entre Estado e a sociedade
quanto poltica para a educao, tem exigido dessa relao de poder uma nova postura no
-
29
mbito da administrao. A gesto da escola deve contribuir para a construo do
conhecimento da clientela escolarizvel do pas, destacando a formao cidad do educando.
A abordagem participativa na gesto escolar demanda participao de todos os
interessados no processo decisrio da escola, envolvendo-os tambm na realizao das
mltiplas tarefas de gesto. Nos mais bem-sucedidos exemplos de gesto escolar participativa
os diretores dedicam uma quantidade considervel de tempo capacitao profissional e ao
desenvolvimento de um sistema de acompanhamento escolar e de experincias pedaggicas
caracterizadas pela reflexo-ao.
Segundo Ferreira (2001), o que desenvolve uma escola cidad so as mudanas
que esto exigindo da administrao da educao e dos educadores a tarefa de traduzir as
determinaes do mundo atual em contedos que possibilitem uma sociedade mais humana e
cidad, forte e capaz de enfrentar todos os desafios atuais e vindouros. A educao
mediao processada no ntimo da prtica social global, e estas mudanas esto exigindo da
administrao da educao novas formas de organizao e gesto possibilitando a
participao efetiva de todos no processo do conhecimento e de tomada de decises. A gesto
democrtica tornou-se um dos principais fundamentos do PPP da escola, mas para ganhar
forma necessria uma organizao que possibilite a participao dos diferentes segmentos
envolvidos nela.
Os pais, alunos, professores, pessoal administrativo podem participar da
construo do PPP atravs do Colegiado Escolar, que tem um papel de ser espao de sua
elaborao. Sua constituio e organizao devem ser, de fato, democrticas, com os seus
membros escolhidos pelos seus pares, de maneira a atender aos interesses da maioria da
comunidade. A gesto deve partir da discusso democrtica dos problemas de funcionamento,
em todos os nveis da unidade de ensino, tomando decises com as quais todos se
comprometem.
-
30
A participao da comunidade fundamental na construo de uma educao
democrtica. Por isso, a educao deve ser pensada dentro do projeto mais amplo de uma
sociedade que busca a conquista da justia social e a construo de um mundo melhor, o qual
requer a igualdade de condies para todos.
Assim, a escola deve ser organizada como um espao democrtico, no qual, por
meio do dilogo, do questionamento e da crtica. A educao deve ser fortalecida e dando voz
aos diferentes segmentos da comunidade escolar, pertencentes aos diversos grupos sociais e
culturais. Ela deve se transformar em um espao pblico, onde diferentes vozes tenham
possibilidade de articular seus discursos, estabelecendo um dilogo em que as diferenas
sejam respeitadas, na busca do bem coletivo. No ambiente escolar deve ser assegurada a
discusso aberta para o processo de seleo democrtica da direo escolar, a composio do
grmio estudantil, a escolha de representantes das classes. Todos os atores da escola devem
ser envolvidos na elaborao de normas disciplinares, organizao e planejamento da escola e
da sala de aula e dos momentos de avaliao.
Para Bastos (2001), fundamental que a gesto democrtica atinja todas as esferas
da escola e chegue sala de aula. Enquanto a democracia no chegar ao trabalho de sala de
aula, a escola no pode ser considerada democrtica. A sala de aula no s lugar do
contedo, tambm o lugar da disputa pelo saber, da construo da subjetividade, e da
educao poltica. importante a escola criar oportunidades para os alunos vivenciarem
prticas simuladas de eleies para os cargos eletivos do Municpio, Estado e da Unio,
promovendo estudos e debates das propostas dos candidatos. a escola trazendo para o seu
cotidiano o debate e a vivncia da sociedade, trabalhando com contedos articulados aos
contedos curriculares. O trabalho coletivo fortalecido no embate de propostas, opinies e
projetos dentro dos princpios da democracia, como respeito maioria, solidariedade e tica,
atendendo proposta da escola democrtica, a construo PPP com a participao dos que
-
31
fazem a escola e a comunidade em geral.
A convivncia democrtica no ambiente escolar ser marcada: pelo incentivo
liberdade de expresso, ao dilogo e ao companheirismo; pelo entendimento de que todos
devem ganhar por meio da participao coletiva; pela ajuda aos grupos a serem autnomos e
reflexivos, por meio de debates; respeito hierarquia; participao coletiva responsvel com a
presena da autoridade crtica: auto-avaliao e esprito solidrio. Assim, a convivncia
democrtica na escola pode contribuir para a concretizao das determinaes legais em
relao ao principio da gesto democrtica, como orientador do ensino pblico.
Segundo Sousa (2002), a democracia no se garante por si s nem por meio de
discursos dissociados de prticas coerentes com eles. Tanto no mbito da sociedade quanto no
interior da escola, a democracia precisa de mecanismos que garantam sua construo e
continuidade. Portanto, importante que a prtica pedaggica da escola e o trabalho
desenvolvido pelo professor em sala de aula dem testemunho desses valores democrticos no
ambiente escolar. A gesto democrtica caracteriza-se por entender que todos devem
conhecer os princpios da gesto e interferir nos processos que eles orientam, decidindo os
rumos que a escola dever tomar. Pressupe a participao coletiva nas decises que visem
assegurar o alcance das contribuies para a formao e o exerccio pleno da cidadania. Uma
escola verdadeiramente democrtica no se contenta em democratizar a oferta e as formas de
acesso aos servios educacionais que presta comunidade. Ao contrrio, procura avanar na
luta contra a realidade, que impede um nmero de crianas e jovens de ingressarem e
permanecerem nela com qualidade, entendendo que, enquanto houver crianas sem acesso
educao formal por falta de vagas, no possvel afirmar que se tem, de fato, uma escola
democrtica.
Para os educadores, a democratizao o desenvolvimento de processos
pedaggicos que permitam a permanncia do educando no sistema escolar, atravs da
-
32
ampliao de oportunidades educacionais, pela participao de professores e pais nas decises
tomadas, nas eleies para diretores, colegiado ou conselho escolar, conselho de classe e
assemblias.
A administrao escolar est comprometida com a transformao social, e com
alguns pressupostos bsicos estabelecidos para que tal prtica administrativa se concretize.
Mas, para Alonso (1988), o problema central da escola brasileira parece situar-se em uma
falha de natureza administrativa, qual seja a sua incapacidade de ajustar-se s exigncias da
vida contempornea, ajustamento esse que requer, necessariamente, ao organizada e
planejada, realizada por pessoas qualificadas, a fim de que sejam atendidas as crescentes
demandas quantitativas e qualitativas da sociedade atual.
Gadotti e Romo (1998, p.35) afirmam que a escola deve formar para a cidadania
e, para isso, ela deve dar exemplos. A gesto democrtica um passo importante no
aprendizado da democracia. A escola no tem um fim em si mesma. Ela est a servio da
comunidade. A gesto democrtica da escola est prestando um servio tambm
comunidade que a mantm. S a construo de uma cultura democrtica promove o
aprendizado coletivo de princpios de convivncia, tambm democrticos, e contribui para o
distanciamento daqueles que estimulam uma convivncia marcada pelo autoritarismo.
Para Spsito (2001), mais do que integrao da escola com a famlia e a
comunidade ou colaborao dos pais, preciso entender essa presena como mecanismo de
representao e participao poltica. evidente que o entendimento da gesto da escola sob a
tica da poltica constitui j um avano, particularmente para os setores docentes que, em seus
movimentos, lutam por uma ampliao de sua participao nas decises que dizem respeito ao
sistema educativo e aos processos incidentes sobre a realizao das polticas desse setor. No
h democratizao possvel, ou gesto democrtica da educao ao lado de estruturas
administrativas burocratizadas, e, conseqentemente, centralizadas e verticalizadas,
-
33
caractersticas rotineiras dos organismos pblicos no Brasil, na rea da educao. O maior
desafio para a comunidade escolar, a gesto democrtica, deve ser um instrumento de
transformao das prticas escolares, no a sua reiterao. O que obriga, necessariamente, a
reformulao do PPP.
Para Bordignon; Gracindo (2001, p.175), a gesto democrtica da educao o
principal instrumento para transformar o processo educativo em uma prtica social voltada
para a construo da cidadania, que, realizada pelas escolas, pode produzir maior qualidade e
eficincia da educao. Para ser eficiente precisa ser concebida, tendo em conta as condies
reais da comunidade em que ser aplicada.
Carvalho (1979, p.57) afirma que uma sociedade democrtica deve conseguir
tudo o que cada homem tem para dar. Esta f na viso construtiva de uma sociedade coletiva
considera o valor individual como a base da democracia, a afirmao individual como
processo e a responsabilidade individual como fora motora. A essncia da democracia no
est nas instituies, nem mesmo na fraternidade, mas naquela organizao de homens que
melhor possibilita a criao da idia comum. A tarefa consiste em libertar o esprito criativo
do homem.
Ningum pode ensinar o que democracia. Chega-se ao conceito vivenciando-o,
vivendo a vida com os outros e aprendendo por experincias as obrigaes que esta vida
exige. O segredo de viver em sociedade no que os homens tm necessidade uns dos outros,
mas sim que eles necessitam das mesmas coisas.
Libneo (2003) acredita nas escolas como ambientes formativos, o que significa
que as prticas de organizao e de gesto educam, isto , podem criar ou modificar os modos
de pensar e agir das pessoas. Tambm a organizao escolar aprende com as pessoas, uma vez
que sua estrutura e seus processos de gesto podem ser construdos pelos prprios membros
que a compem. Ou seja, as pessoas mudam com as prticas organizativas, e as organizaes
-
34
mudam com as pessoas. Reunies que se destinam apenas comunicao de decises
impedem os professores de participar no processo decisrio ou de fazer leitura crtica das
medidas ou textos legais.
Segundo Bordignon; Gracindo (2001), a gesto democrtica da escola autnoma
consiste na identificao de necessidades, na negociao de propsitos, na definio clara de
objetivos e estratgias de ao, nas linhas de compromissos, na coordenao e
acompanhamento de decises pactuadas, e na mediao de conflitos, com aes voltadas para
a transformao social.
A gesto democrtica da escola exige uma mudana de mentalidade de todos os
membros da comunidade escolar. Ela implica que a comunidade, como usuria da escola, seja
os seus dirigentes e gestores, e no apenas os seus fiscalizadores ou meros receptores dos
servios educacionais. Na gesto democrtica, pais, alunos, professores e funcionrios
assumem sua parte de responsabilidade pelo projeto da escola. Devem estar presentes na
circulao das informaes, na diviso de trabalho, no estabelecimento do calendrio escolar,
na distribuio de aulas, no processo de elaborao ou de criao de novos cursos ou de novas
disciplinas, na formao de grupos de trabalho, na capacitao dos professores e funcionrios.
Paro (1997) lembra que h pessoas trabalhando na escola, especialmente em
postos de direo, que se dizem democratas apenas porque so liberais com alunos,
professores, funcionrios ou pais, porque lhes do abertura ou permitem que tomem parte
desta ou daquela deciso. Mas se a participao depende de algum que d abertura ou que
permite sua manifestao, ento a prtica em que tem lugar essa participao no pode ser
considerada democrtica, pois democracia no se concede, se realiza. No h ditador
democrtico. E se quiser caminhar para essa democratizao, precisa-se de superar a atual
situao que faz a democracia depender de concesses e criar mecanismos que construam um
processo inerentemente democrtico na escola.
-
35
Para esse autor, a democracia, enquanto valor universal e prtica de colaborao
recproca entre grupos e pessoas, um processo globalizante que, tendencialmente, deve
envolver cada indivduo, na plenitude de sua personalidade. No deve haver democracia plena
sem pessoas para exerc-la. Acredita ser difcil um professor relacionar-se de forma
conseqente num processo de participao democrtico da comunidade na escola, se sua
relao com os alunos em sala de aula continua autoritria, se a escola, em seu dia-a-dia, est
permeada pelo autoritarismo nas relaes que envolvem direo, professores, demais
funcionrios e alunos.
Bastos (2001) reitera que s a perspectiva da gesto democrtica j abre para a
comunidade da escola o compromisso de reeducar o seu dirigente, e colocar diante dele a
necessidade de administrar a escola com as representaes de todos os alunos, pais e
comunidade conscientes da necessidade de um projeto democrtico de educao. Uma
representao que pode construir ncleos de presso para cobrar o compromisso com a
participao de todos na construo de uma escola democrtica.
Hora (1997), entende ser a principal funo do administrador escolar a de realizar
uma liderana poltica, cultural e pedaggica, sem perder de vista a competncia tcnica para
administrar a instituio que dirige, e assim, demonstra que o diretor e a escola contam com
possibilidades de, em cumprimento da legislao que os rege, usar sua criatividade e colocar o
processo administrativo a servio do pedaggico e, facilitar a elaborao de projetos
educacionais, que sejam resultantes de uma construo coletiva dos componentes da escola.
2.3 A Participao da Comunidade Escolar
A sociedade exige da escola aes mais criativas, atitudes mais participativas e
-
36
cidads. Espera que a escola garanta uma educao que desenvolva nos alunos experincias e
habilidades no campo do saber, dando-lhes condies de aprendizagem e formao de pessoas
conscientes com capacidade e dinamismo, enfim, um cidado consciente de seu papel social,
que no se intimide frente aos avanos das cincias e das tecnologias, cujos novos desafios os
conduzam a novos paradigmas.
A situao precria de recursos das escolas pblicas cria um mal-estar entre pais,
professores, funcionrios e alunos que gostariam de ter uma escola da qual pudessem se
orgulhar. A escola, por ser pblica, no poder deixar de criar mecanismos envolvendo a
comunidade no dia-a-dia. Mesmo a escola que atenda s classes menos favorecidas deve-se
desenvolver trabalho com os pais, levando-os a compartilhar das decises e compreender a
importncia de sua participao nas decises em que a escola precisa de sua presena.
Lck (2000) afirma que em nome da construo de uma sociedade democrtica ou
da promoo de maior envolvimento das pessoas nas organizaes, deve-se realizar atividades
que possibilitem e at condicionem a sua participao. A abordagem participativa na gesto
escolar demanda maior participao de todos os interessados no processo decisrio da escola,
envolvendo-os tambm na realizao das mltiplas tarefas de gesto. comum a queixa de
diretores escolares, de que tm de fazer tudo sozinhos, que no encontram apoio para o
trabalho da escola como um todo, limitando-se os professores a suas responsabilidades de
sala de aula e muitas vezes, nem mesmo assumem a responsabilidade por fazer bem seu
trabalho de sala de aula. Quanto aos pais, a participao , na maioria das vezes, apenas
desejada para tratar de questes superficiais da vida escolar como, por exemplo, aspectos
fsicos e materiais da escola. Mas, tambm, comum a escola que cultua o isolamento do
professor, porque se acredita que a sua responsabilidade comea e termina na sala de aula. A
mudana desta situao pode ocorrer pela adoo de prticas participativas em que os
professores aprendam nas situaes de trabalho e compartilhem com os colegas
-
37
conhecimentos, metodologias e dificuldades, discutam e tomem decises sobre a vida escolar.
Isto torna a escola uma comunidade democrtica, aberta, de aprendizagem, de ao e de
reflexo.
Casassus (2002), acredita que a qualidade da aprendizagem dos alunos em
grande parte influenciada pela qualidade dos processos ocorridos na sala de aula, e a
qualidade dos processos de aula passa pela compreenso que os docentes tm do que l
ocorre. Grande parte do que acontece numa sala de aula depende do que pensam e fazem os
professores. Por isto importante conhecer os docentes, saber quem so, o que pensam e
fazem. Quando os pais se relacionam e se envolvem mais ativamente com as atividades da
escola, principalmente em atividades de apoio na sala de aula, o efeito positivo. No entanto,
o impacto maior quando os pais participam das decises e das atividades da escola em seu
conjunto.
Dalms (2001), acredita que ao definir a metodologia do planejamento a
instituio pode assumir diferentes linhas de aes: a primeira que ao planejar para a
comunidade o poder exercido de maneira autocrtica, dominadora e at ditatorial. Assim, a
participao tanto na preparao, quanto na elaborao nula, ou seja, sem a presena da
comunidade escolar, e a execuo imposta. uma gesto exercida por uma pessoa e no por
todos. assumida por uma parte do grupo e no por todos. A segunda que ao planejar com a
comunidade o poder est a servio, e a participao da comunidade na preparao e na
elaborao controlada. A execuo do plano acontece a partir do consenso e do resultado de
uma negociao. A pouca participao da comunidade acontece atravs de representaes,
insignificantes e pequenas e s vezes ilusria. O poder continua nas mos de poucos, que o
controlam constantemente. A ltima quando o planejamento da comunidade, o poder
exercido como um servio. a autogesto. Portanto, participao da comunidade na
preparao, na elaborao do planejamento, em sua execuo e seu resultado de co-
-
38
responsabilidade e de comunho. o modelo ideal de planejamento de participao e de
gesto. S assim poder acontecer participao comunitria para a transformao social em
favor da justia, da fraternidade e da libertao total.
fundamental que o dirigente tenha em mente que uma cultura s mudada pelo
alargamento da conscincia e da competncia tcnica para tanto. Para que isso acontea,
portanto, compete a ele criar e sustentar um ambiente propcio participao plena, no
processo social escolar, dos seus profissionais, de alunos e de seus pais para desenvolverem
conscincia social crtica e o sentido de cidadania. Essas mudanas s acontecem quando os
gestores motivarem os atores da vida escolar a participarem das atividades. Lima (1971, p. 35)
diz: motivar no seno mobilizar as foras fsicas e psicolgicas e levar os participantes ao
pleno engajamento.
Severino (2001), lembra que se quer, hoje, um profissional com capacidade de
inovao, de participao ativa nos processos de reconstruo da sociedade, via
implementao da cidadania, um profissional qualificado, consciente do significado da
educao e capaz de estend-lo aos educandos.
Os gestores tm encontrado dificuldades para garantir a participao e o processo
democrtico, j que existem diferentes opinies e idias entre as pessoas da escola. A
continuidade dos trabalhos no acontece por causa da rotatividade de professores e a falta de
tempo para as atividades extraclasse. desafio para um gestor escolar criar ou abrir espaos
para que as atividades coletivas possam acontecer na escola e, ao mesmo tempo, conseguir a
participao dos diversos segmentos da sua comunidade, respeitando seus diferentes estilos
culturais, ticos e polticos. So desafios que, para Paro (1997) e Hora (1997) representam
obstculos.
Para Severino (2000, p.60), os grupos com interesses diferentes e opostos, que
podem lutar por seus objetivos, acabam travando uma luta ideolgica, ou seja, buscam servir-
-
39
se da legislao como um instrumento da garantia de direitos. S assim, segundo BrzezinskI
(2000, p.153), a educao escolar pode cumprir o papel essencial na aquisio de
conhecimentos provendo o homem de condies de participao na vida social.
Libneo (2003) lembra ser vital para o processo democrtico, que o ambiente
escolar tenha um bom clima de trabalho, em que a direo contribua para conseguir o
empenho de todos, em que os professores aceitem aprender com a experincia dos colegas,
trocando-as entre si, de modo que tenham uma opinio comum sobre critrios de ensino de
qualidade na escola.
Entre os fatores que proporcionam melhor qualidade das aprendizagens dos
alunos, esto as caractersticas organizacionais como: a capacidade de liderana dos
dirigentes; as prticas de gesto participativa; o ambiente da escola; a criao das condies
necessrias para o ensino e a aprendizagem; a cultura organizacional instituinte; o
relacionamento entre os membros da escola; as oportunidades de reflexo conjunta e as trocas
de experincias entre os professores.
A participao que se defende na gesto democrtica significa a interveno dos
profissionais da educao, dos alunos e dos pais no processo escolar possibilitando
comunidade o conhecimento e a avaliao dos servios oferecidos e a interveno organizada
na vida escolar.
A participao significa o compartilhamento de resultados, essencial para que
sejam feitos os ajustes no processo educativo e nas polticas educacionais, com vistas a
garantir a justia social. A participao da comunidade um componente essencial para o
sucesso do processo educativo, porque a educao no se realiza sem a sua contribuio e sua
presena indispensvel na gesto da educao e na avaliao das polticas educacionais. A
ao da famlia junto escola concretiza-se com a participao no conjunto das atividades, em
diferentes momentos, desde a elaborao do planejamento, at a execuo e a avaliao do
-
40
PPP. A proposta pedaggica a marca registrada da escola, identidade do estabelecimento.
Agora, boa parte das decises fica no mbito do coletivo dos professores e com eles a
responsabilidade do controle e do ato criativo.
Entretanto Paro (1997), afirma que o professor, pela natureza do trabalho que
exerce e pelos fins a que serve a educao, precisa avanar mais, atingindo um nvel de
conscincia e de prtica poltica que contemplem sua articulao com os interesses dos
usurios de seus servios.
Atravs da administrao participativa, ocorre a extino do autoritarismo
centralizado, a eliminao da diferena entre dirigentes e dirigidos. Efetiva, assim, a
participao dos diferentes segmentos sociais da comunidade na tomada de decises,
alcanando-se o fortalecimento do gestor da escola em relao s normas emanadas dos
rgos administrativos centrais.
Spsito (2001) concorda ser preciso ousar e lutar por um novo projeto e constru-
lo com base na democratizao da sociedade e na ruptura dos mecanismos e das armadilhas
da dominao poltica, tradicionalmente originada no mbito da Estado.
Para Puing (2000, p.28), uma escola democrtica deve basear-se na participao
de todos que integram a comunidade escolar e de cada grupo-classe, desde o papel que cabe a
cada um e com os limites que, cada caso, seja lgico estabelecer. A participao democrtica
deve construir um clima que permita a todos ser parte ativa na instituio docente, de maneira
que possam coordenar os respectivos pontos de vista desejos, objetivos, obrigaes e
responsabilidades tudo convergindo em projetos em que se reconhea o sentido do conjunto
das tarefas escolares. Uma gesto aberta aos membros da comunidade escolar, deve facilitar a
participao de todos nos processos de planificao, de execuo e de avaliao das propostas
curriculares e administrativas. Portanto, uma gesto participativa supe uma escola com um
certo nvel de autonomia que permita orientar de maneira singular os seus projetos.
-
41
Capanema (1996, p.4) sustenta que para aperfeioar os sistemas educativos a
descentralizao das tomadas de deciso o caminho obrigatrio. A descentralizao tem
como corolrio a co-responsabilidade de todos os atores sociais envolvidos no processo
educativo: administradores, professores, alunos, pais, funcionrios e comunidade local. A
institucionalizao da democracia tem estimulado o processo de mudanas na forma de gerir
escolas no Brasil, redistribuindo responsabilidades atravs da participao, por meio de um
projeto pedaggico compromissado com a promoo da educao de acordo com as
necessidades de uma sociedade moderna e justa.
Se o gestor quer que as pessoas participem, deve, desde o incio, lev-las a srio,
pois quando houver desejo real de planejamento participativo fundamental recolher o que
elas sentem, desejam e pensam e a maneira como pensam, desejam e sentem, utilizando as
suas prprias palavras tanto escritas quanto faladas. importante ter conscincia de que, para
construir um processo participativo com distribuio do poder, no suficiente pedir
sugestes e aproveitar aquelas que paream simpticas ou que coincidam com pensamentos
ou expectativas dos que as coordenam, necessrio que o projeto se construa com o saber,
com o querer e com o fazer de todos.
Portanto, trabalhar participativamente, para Gandin (2001), s ser possvel se
houver uma preocupao com a produo de texto que represente o pensamento coletivo. Se
no existir um processo de registrar o que se organizou e se decidiu e de avaliar este resultado
para seguir construindo, pode-se at chegar a expressar o que querem alguns, mas no se
alcanar aquilo que possa ser o compromisso de todos ou quase todos ou, ainda, de uma
maioria capaz de levar adiante o processo.
Lck (2000) caracteriza a participao, em seu sentido pleno, por uma fora de
atuao consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu
poder de exercer influncia na determinao da dinmica dessa unidade social, de sua cultura
-
42
e de seus resultados. Para ela, toda pessoa tem o poder de influenciar o contexto de que faz
parte, exercendo-o independentemente da sua conscincia desse fato e da direo e inteno
de sua atividade. Mas na prtica cotidiana falta comunidade escolar a conscincia desse
poder de participao que tem, decorrendo assim resultados negativos para a organizao
social e para as pessoas que constituem o ambiente escolar.
Entretanto, o crescente envolvimento da escola como agente educativo no pode
excluir a responsabilidade da famlia e de outros agentes na formao das crianas e dos
adolescentes. Trata-se de um grande desafio, que deve ser construdo coletivamente. pelo
esforo conjunto de todos os atores que fazem a vida escolar que ser possvel construo
do PPP.
Uma escola democrtica define-se pela participao dos discentes e docentes no
trabalho, na convivncia e nas atividades de integrao. Uma escola democrtica tem a
participao como exerccio da palavra e no compromisso da ao. Uma participao baseada
simultaneamente no dilogo e na realizao dos acordos e dos projetos coletivos num esforo
para intervir no momento de ao e concretizao dos projetos previstos. Tem como tarefa
proporcionar atividades que possibilitam aos discentes participarem e organizarem prticas
pedaggicas que sejam prprias para a instituio. Deseja que alunos sejam protagonistas da
prpria educao. Assim, facilita a participao e atribui responsabilidades e tarefas que
podem assumir, tomando parte direta em todos os aspectos do processo formativo.
Paro (2001) acredita que a participao da populao na escola s conseguir
alguma mudana a partir da participao dos pais e responsveis pelos alunos, oferecendo
ocasies de dilogo, de convivncia verdadeiramente humana. E a direo deve estar
consciente de que, para a abertura dos portes e muros, a escola deve estar predisposta a
mudanas na gesto e na forma de participao da comunidade. Portanto, necessrio
entend-la como uma participao poltica, que deve ser entendida como direito concreto de
-
43
cidadania e no como ddiva de uma ou outra escola.
Para Bordignon; Gracindo (2001), essa nova concepo organizacional no
diminui a importncia e autoridade dos gestores educacionais, pois as relaes de poder que
se estabelecem no interior das escolas, so compreendidas a partir da identificao do sujeito,
como aquele que tem poder e que ensina, e do objeto, como aquele que obedece e que
aprende. A verticalidade das relaes se assenta no princpio de autoridade do chefe e
estabelece o clima propcio s relaes autoritrias de dominao e subservincia aptas a
formar indivduos que se tornam objetos passivos na relao social, e no indivduos que
sejam sujeitos ativos e participantes de seu tempo.
Para Libneo (2003), a idia de que todos devem estar envolvidos com os
objetivos e os processos da gesto no pode ser confundida com um falso igualitarismo entre
funes e papis dos membros da equipe escolar. A nfase na natureza e nas caractersticas da
gesto visa assinalar que as escolas precisam funcionar bem, estando a servio dos objetivos
de aprendizagem, o que implica funes e papis diferenciados para pedagogos, docentes,
funcionrios e estudantes. A gesto participativa, alm de ser a forma de exerccio
democrtico da gesto e um direito de cidadania, implica em deveres e responsabilidades. A
gesto democrtica uma atividade coletiva que implica a participao e objetivos comuns, e
que depende de capacidades e responsabilidades individuais e de uma ao coordenada e
controlada. A participao o principal meio de assegurar a gesto democrtica,
possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de
decises e no funcionamento da organizao escolar.
A escola deve formar para e pela cidadania e a gesto democrtica um passo
importante no aprendizado da democracia. A participao na gesto melhora o ensino e
proporciona melhor conhecimento do seu funcionamento e de todos os seus atores; propicia o
contato permanente entre professores e alunos, levando, assim, ao conhecimento mtuo, e,
-
44
conseqentemente, aproximando tambm as necessidades dos alunos aos contedos ensinados
pelos professores.
Portanto, preciso levar em conta que o desenvolvimento do pensamento envolve
a maturao, as vivncias cotidianas, a reflexo, as indagaes e a busca de resposta para os
problemas levantados. Cabe, desse modo, expandir os campos possveis do conhecimento,
alm das suas experincias e vivncias, atravs de uma relao inovadora com a escola e seus
profissionais, tendo como ponto de partida a discusso com o que a escola tem feito de
inovador e, tambm, aproveitar tudo que ela tem conseguido mudar, entender e embasar em
suas prticas.
Para Paro (1997, p.47) importante que se considere tanto a viso da escola a
respeito da comunidade quanto sua postura diante da prpria participao popular.
necessrio detectar se h o interesse efetivo da participao desta comunidade na escola, e
levar em conta a dimenso do modo de pensar e agir das pessoas que a atuam, pois s a
participao de todos no processo educativo faz com que se sintam parte da escola, porque ela
existe para eles e por eles.
Dalms (2001) considera ideal a elaborao do planejamento que envolve as
pessoas como sujeitos e, com presena constante destes na execuo e avaliao, no apenas
como indivduos, mas sujeitos de um processo que os envolve como grupo, visando ao
desenvolvimento individual e comunitrio.
Hora (1997, p.57) assegura que atravs deste mecanismo de ao coletiva que
efetivamente sero canalizados os esforos da comunidade escolar em direo renovao da
escola, melhoria do ensino e de uma sociedade humana mais democrtica. A educao
escolar constitui um dos instrumentos de consecuo de uma sociedade democrtica, na
medida em que universaliza os saberes sistematizados, fundamentais para o exerccio da
cidadania. Exerce no apenas a integrao do educando na sociedade, mas a sua formao
-
45
integral como cidado e agente transformador que possibilita o desenvolvimento de sua
criatividade e de sua capacidade de crtica.
Alunos, professores, pais e funcionrios consideram que a falta de vontade, o
autoritarismo, o medo e a desconfiana so condies que dificultam a participao na gesto
escolar. Enquanto que a garantia do direito de todos, a existncia de uma proposta de trabalho
coletivo, a confiana, o conhecimento dos problemas e a disponibilidade de tempo facilitam
essa participao.
Para Alonso (1988) o diretor o responsvel pela direo geral da escola, no
podendo omitir-se transferindo sua autoridade total aos especialistas, que teriam a palavra
final. Pelo contrrio, cabe-lhe integrar a contribuio dos vrios especialistas existentes na
escola ou no sistema, e definir os modos de ao mais ajustados quela realidade. O grande
desafio para o diretor est justamente em alcanar resultados por meio de outros e no pela
sua prpria realizao pessoal, o que nem sempre produz satisfao da comunidade escolar.
Gandin (2001) refora que trabalhar participativamente significa o grupo est
sempre junto num processo de construo de idias e de prticas, de tal modo que todos
estejam caminhando no mesmo rumo, com cada pessoa e cada conjunto menor de pessoas
realizando suas tarefas prprias. Isto quer dizer que cada um traz suas idias, sua paixo, seus
anseios e suas dificuldades e todos iro organizando este tesouro e decidindo sobre ele a cada
momento.
Para que isto acontea Gandin (1988) reafirma que hoje somos chamados a
participar. No uma participao cedida e controlada, mas uma participao que signifique
realmente uma posse de poder de uma sociedade para a realizao do grande ideal de ser, ao
mesmo tempo, justa e livre.
Vianna (1986, p.23) declara que o planejamento participativo se constitui numa
atividade de trabalho, que se caracteriza pela integrao de todos os setores da atividade
-
46
humana social, num processo global, para a soluo dos problemas comuns. No entanto,
existe a possibilidade de se praticar a gesto escolar pura e simplesmente como uma
administrao modernizada, atualizada em seus aspectos externos, entretanto h a antiga tica
de controle sobre as pessoas e processos. possvel existir gesto participativa. Nela os
participantes do contexto organizacional so apenas convidados a praticar uma medocre
verbalizao e discusso em grupos sobre questes j definidas anteriormente, e que passaro
a ser legitimadas por essa discusso.
As relaes de poder, que se estabelecem no interior das escolas, so
compreendidas a partir da identificao do sujeito como aquele que tem poder e que ensina, e
do objeto, como aquele que obedece e que aprende. A verticalidade das relaes se assenta no
principio de autoridade do chefe e estabelece o clima propcio s relaes autoritrias, de
dominao e subservincia, aptas a formar indivduos que se tornam objetos passivos na
relao social, e no indivduos que sejam sujeitos ativos e participantes de seu tempo.
Vianna (1986), que percebe o homem como ser social, que partilha vivncias e
busca a realizao pessoal na participao comunitria, prope uma nova ao, cuja fora
reside na participao de muitas pessoas, politicamente agindo em funo de necessidades,
interesses e objetivos comuns. Urge um planejamento flexvel, adaptado a cada situao
especfica envolvendo decises comunitrias e que se constitua em processo poltico
vinculado deciso da maioria, cujo objetivo final seja a formao do brasileiro, individual e
socialmente considerado, a partir do engajamento dele na maioria das mudanas estruturais.
desafio para um gestor escolar criar ou abrir espaos para que as atividades coletivas possam
acontecer na escola e ao mesmo tempo conseguir a participao dos diversos segmentos da
sua comunidade, respeitando seus diferentes estilos culturais, ticos e polticos.
Bruno (2002) coloca que melhorar a qualidade da educao vai muito alm da
promoo de reformas curriculares, implica, antes de tudo, criar novas formas de organizao
-
47
do trabalho na escola, que se constituam alternativas prticas possveis de se desenvolverem e
de se generalizarem, pautadas, no pelas hierarquias de comando, mas por laos de
solidariedade, que consolidam formas coletivas de trabalho, instituindo uma lgica inovadora
nas relaes sociais.
Ferreira (2001) diz ser consenso hoje que os professores gostam de trabalhar,
como alunos e pais tambm gostam de estar, em escolas bem dirigidas e organizadas,
constituindo a gesto democrtica um componente decisivo em todo o processo coletivo de
construo do planejamento, organizao e desenvolvimento do projeto poltico-pedaggico e
de um ensino de qualidade.
2.4 A Autonomia da Escola
Autonomia significa a capacidade das pessoas e dos grupos para a livre
determinao da conduo da prpria vida. A autonomia garante escola a condio de uma
identidade prpria, levando em conta as caractersticas e as diferenas regionais. Uma
verdadeira ao educativa na escola deve, necessariamente, buscar o desenvolvimento da
autonomia. Assim, adotar mecanismos que levem em conta a importncia da participao dos
alunos e demais integrantes da organizao do trabalho pedaggico, e a reflexo sobre o tema
autonomia como projeto. Um projeto algo que se constri com vistas ao futuro, ele aponta
para algo que est por vir. Pressupondo, ento, que a autonomia, assim como a liberdade,
algo a ser construdo, que no est pronto.
Segundo Capanema (1996, p.98) a questo democrtica pressupe autonomia da
escola. Para essa autora, senso comum que o fortalecimento da escola, para torn-la mais
autnoma, menos burocratizada e auto-reguladora de seus planos e aes, o melhor caminho
-
48
para se chegar qualidade do ensino.
Para Maldi (2002), a autonomia permite escola a busca de solues prprias,
mais adequadas s necessidades e aspiraes dos alunos e de sua famlia. A participao abre
espao para tomada democrtica de decises, bem como a captao e incorporao de
recursos da comunidade. O autocontrole permite o retorno de informaes, indispensvel para
um funcionamento adequado da escola e para uma participao efetiva.
Carvalho (1979) acredita ser uma questo de coerncia que s numa escola
democrtica o indivduo torna-se responsvel e comprometido. A responsabilidade da ordem
escolar transferida para os membros do grupo o melhor treino que se pode propiciar para a
formao de indivduos autnomos e responsveis. O verdadeiro educador procura criar
autonomia, pois acredita que, s assim, o indivduo encontrar o seu prprio caminho.
Portanto, um dos mais importantes papis do educador criar condies para o exerccio da
autonomia, condio real para a democracia.
Ferreira (2001) afirma ser importante o carter formador de cidadania
proporcionado pelo exerccio da gesto democrtica possibilitar a efetiva participao de
todos na construo e gesto do projeto de trabalho na escola, que formar seres humanos. A
autoformao de todos os envolvidos pela e para a leitura, a interpretao, o debate e o
posicionamento podem fornecer subsdios para novas polticas, re-pensar o exerccio da
prtica profissional, as estruturas de poder autoritrio que ainda existem na ampla sociedade e
conseqentemente, no mbito educacional e escolar.
Libneo (2003, p.295) v a escola e seu modo de se organizar como um ambiente
educativo, isto , um espao de formao e de aprendizagem construdo por seus
componentes, um lugar em que os profissionais podem decidir sobre seu trabalho e aprender
mais sobre sua profisso, j que todas as pessoas que trabalham na escola realizam aes
educativas, diferenciadas conforme as suas peculiares responsabilidades embora no tenham
-
49
as mesmas responsabilidades nem atuem de forma igual.
Assim, autonomia escolar implica uma gesto descentralizada em que a escola
executa um planejamento compatvel com as realidades locais, aplica processos de tomada de
decises sobre problemas especficos, introduz mudanas nos currculos e nas prticas de
avaliao, decide sobre utilizao e controle de recursos financeiros.
Paro (1997, p.11) chama ateno para o fato de a escola no ter autonomia. Se a
escola impotente, o prprio trabalhador, enquanto usurio, que fica privado de uma das
instncias por meio das quais ele poderia apropriar-se do saber e da conscincia crtica.
Portanto, conferir autonomia escola deve consistir em conferir poder e condies concretas
para que ela alcance objetivos educacionais articulados com os interesses das camadas
trabalhadoras. A autonomia da escola pode contribuir, ainda, para que pais, professores,
alunos, funcionrios e grupos organizados da comunidade possam se conscientizar da
necessidade e importncia de sua efetiva participao nos processos de tomada de decises
para a melhoria da qualidade de ensino-aprendizagem e funcionamento da instituio em que
esto todos ligados.
Texeira (2002) afirma que a autonomia no significa independncia ou liberdade
absoluta. Tratando-se do organismo escolar, a autonomia sempre relativa. Como instituio
social, a escola existe para atender aos objetivos estabelecidos pela sociedade e est exposta
ao jogo de presses resultantes das relaes sociais que a perpassam. Assim, a flexibilizao
da organizao escolar no pode nunca ser entendida como espao para criao de uma escola
dissociada do projeto social da sociedade em que est inserida. Uma escola autnoma aquela
que busca, de modo prprio, inserir-se na sociedade a que serve.
Hora (1997) admite que a administrao escolar, no cenrio do sistema capitalista,
no , portanto, uma f