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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE Construção do cidadão: um permanente desafio de construir a escola ética e cidadã. Flávia de Souza Martins Bahiense Orientador Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira Rio de Janeiro 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Construção do cidadão: um permanente desafio

de construir a escola ética e cidadã.

Flávia de Souza Martins Bahiense

Orientador

Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira

Rio de Janeiro

2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Construção do cidadão: um permanente desafio

de construir a escola ética e cidadã.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia.

Por: Flávia de Souza Martins Bahiense

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AGRADECIMENTOS

A todos que se fizeram presentes, aos familiares que compartilharam os

momentos de conquista e aos colegas que trilharam juntos a mesma estrada.

Aos professores, pela orientação dada no decorrer do curso que foi de grande

importância para a conclusão deste trabalho.

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“Ao perceber o ontem, o hoje e o amanhã, o ser

humano percebe a conseqüência da sua ação sobre

o mundo, nas diferentes épocas históricas. Se torna

o sujeito da sua história e por isso responsável por

ela. Faz hoje o que se tornou possível pelo ontem.

Fará amanhã o que está semeando hoje”.

Paulo Freire.

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RESUMO

Saber aprender e ensinar no século XXI é permanente desafio à construção de

um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as dimensões humanas da

ética e da cidadania ativa. Num tempo de revisões paradigmáticas em

importantes campos do conhecimento, da ciência e tecnologia, a

Psicopedagogia pode auxiliar neste movimento, propondo estratégias e ações

que viabilizem a melhoria dos processos de aprender, ensinar e conviver nos

espaços institucionais de nossa atualidade. A proposta aqui apresentada é a

de refletirmos sobre como tais ações e estratégias podem contribuir para que

aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na

magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados

sejam despertos para um viver ético e cidadão.

Palavras-chave:

Psicopedagogia, Aprendizagem significativa, Ética e Cidadania, Escola Cidadã,

Sociedade do Conhecimento.

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METODOLOGIA

A monografia foi realizada através de pesquisas bibliográficas,

explicativas, descritivas e através de análise de documentos.

A proposta é a de refletir sobre como a psicopedagogia contribuir para

que aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na

magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados

sejam despertos para um viver ético e cidadão. Refletir também sobre

questões que enfoquem a sociedade atual como um todo, levantamento de

pontos com convergentes e divergentes da problemática que envolve as

instituições fruto das dificuldades enfrentadas pela sociedade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

1.1

Desafios contextuais do saber aprender e

ensinar no século XXI.

Professor como formador de aprendizes de

cidadania.

10

13

CAPÍTULO II

2.2

Educação cidadã

Ações e estratégias contributivas as

vivências de aprendizagens significativas.

17

18

CAPÍTULO III Revisões paradigmáticas e

Psicopedagogia: o caminho sendo trilhado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS 32

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 35

ANEXO 34

ÍNDICE 37

FOLHA DE AVALIAÇÃO 38

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INTRODUÇÃO

“Ensinar e aprender têm que ver com o esforço metodicamente

crítico do professor de desvelar a compreensão de algo e com

o empenho igualmente crítico do aluno de ir entrando como

sujeito em aprendizagem no processo de desvelamento que o

professor ou professora deve deflagar.”

(FREIRE, 1996, p. 113)

Ao analisarmos as particularidades que compreendem a formação

humana, nos deparamos com diversos aspectos relacionados à educação ao

longo dos anos. Percebemos que cidadania não é algo novo, já na Grécia

antiga a população tinha grande preocupação com a formação do cidadão.

A aristocracia grega se preocupava em formar consciência que

estivessem a altura da nobreza, a democracia era algo que faziam questão de

enfatizar. Porém já nesta época a igualdade não ocorria, o poder era

concentrado nas mãos dos reis e nobres, onde excluíam trabalhadores

proletários, camponeses, mulheres e outros de exercerem sua posição como

cidadãos. Essa desigualdade intensificou-se ainda mais com o surgimento das

políticas neoliberais globalizadas, que contribuiu para tornar a realidade ainda

mais cruel e problemática. Essa visão globalizada fomentou a eclosão de

movimentos sócias ligados a grupos étnicos, sociais, urbanos e religiosos,

onde ocorreu uma proliferação de ONGs (Organizações não governamentais)

que passaram então, pressionar o poder público para que pudessem exercer

sua cidadania.

A cidadania sempre foi considerada por muitos como sendo um

passaporte para uma sociedade mais igualitária. Porém nunca foi totalmente

efetiva, pois a minoria menos favorecida, continua a ser manipulada. Tal

manipulação nos leva a pensar que precisamos incutir nesta minoria o desejo

de atuarem como cidadãos. É somente através de uma educação de

qualidade, uma educação que vise aspectos da vida social, trabalhando

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sempre a realidade é que conseguiremos levar adiante a proposta de tornar

uma cidade cidadã.

A educação brasileira passou por diversas reformas até o modelo atual

de educação. As mudanças no sistema educacional brasileiro são constantes,

entretanto no que tange ao currículo educacional. A educação foi caracterizada

como sendo privilégios de alguns e o que deveria ser um meio de socialização

e inclusão tornou-se uma forma de exclusão. Porém, durante décadas

ocorreram reformas no sistema educacional brasileiro. Uma dessas mudanças

foi a conquista e criação da nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação),

promulgada em 1996. Esta conquista nos assegura uma educação de

qualidade, gratuita e que vise a formação do cidadão.

Ao refletirmos sobre os acontecimentos políticos e sociais do nosso

país, percebemos a grande necessidade que temos de modificarmos o rumo

da educação. Através da educação poderemos modificar a vida de muitas

pessoas e conseqüentemente de uma sociedade. Contudo quando pensamos

em mudanças, analisamos aspectos da vida educacional e social que precisam

ser repensados para agir em prol de uma sociedade composta por indivíduos

realmente conscientes e atuantes.

Com um novo enfoque psicopedagogico, poderemos diminuir o índice

de dificuldade de aprendizagem, contribuindo assim, para a construção plena

do sujeito consciente, crítico, reflexivo e atuante na sociedade.

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CAPÍTULO I

DESAFIOS CONTEXTUAIS DO SABER APRENDER E

ENSINAR NO SÉCULO XXI

Saber aprender e ensinar no século XXI são permanentes desafios à

construção de um cotidiano escolar onde seja possível fazer valer as

dimensões humanas da ética e da cidadania ativa. Contribuir para que

aprendizagens significativas sejam vivenciadas por todos os envolvidos na

magia de educar, capacidade humana que faz com que sentidos e significados

sejam despertos para um viver ético e cidadão.

Aos desafios de sermos pontes, enquanto ensinantes, aos nossos

aprendentes, Rubem Alves, Hugo Assman e Nilda Alves sustentaram um inicial

movimento neste sentido e Alicia Fernández, quando nos ensina sobre autoria

de pensamento, fortalece este mover no mundo, em busca de novos sentidos

e significados às ações e intervenções educativas.

No contexto que atualmente vivemos isso é um imenso ganho para

quem atua com pessoas e aprendizagem, pois possibilita a construção

metacognitiva e cria espaços e tempos de trabalho, onde o fazer pedagógico

amplia suas possibilidades. Aprender é ensinar e ensinar é aprender, como já

nos falava Paulo Freire.

No cotidiano escolar a ação educativa não é ação isenta de nossas

escolhas: quando em relação de ensinagem, cada um de nós, como

aprendentes, deve ter em mente o que Henry Adams nos ensinou: um

ensinante “sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência

termina”. A ação de ensinagem, visando aprendências e vivências

significativas, deve ser elemento de luz diante das nossas cotidianas ações.

Aprender e ensinar, hoje, deve ser algo como o trabalho de um

jardineiro, que ao cuidar do jardim, pensa na beleza das flores, dos frutos, dos

pássaros, das sutilezas e das riquezas das diferentes manifestações da vida

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que neste espaço ocorre. Saber e ensinar no século XXI são tarefas de

resgate de tempos outros, onde a ludicidade estava mais presente e com

gostos de sabores mais amenos, menos apressados e prontos.

Um dos maiores desafios é saber que milhares de brasileiros são

desescolarizados ou tem escolaridade incompleta. As causas são as mesmas:

pais analfabetos, machistas, necessidade de trabalhar, inexistência de escolas,

paternidade e maternidade precoces, baixa renda, transporte (distância entre a

moradia e a escola, direito de ir/vir com segurança) e oportunidade

(necessidades básicas para sobrevivência ameaçadas). São pessoas que, em

alguns casos, já chegaram a internalizar que são incapazes de aprender.

Outro desafio é saber que somos invadidos cotidianamente com

inúmeras informações, é lidar com esta nova sociedade, cuja revolução, nos

meios de informação, mídia e tecnologia, remete nosso pensar, refletir e agir

sobre o como ensinar e aprender numa sociedade aprendente.

A essência da pedagogia crítica freireana está no fato de permitir que o

sujeito possa enxergar a realidade em que e está inserido e intervir

conscientemente nessa realidade. Nesta direção, defende o desenvolvimento

de práticas pedagógicas que ampliem essa consciência crítica e envolvam

educador e educandos à ação transformadora de si e da realidade. Para se

alcançar esse estágio de ação transformadora sobre a realidade, Freire propõe

que educador e educandos devam assumir o papel crítico e reflexivo sobre

suas ações cotidianas.

Nessa perspectiva, atuar como educador transformador implica estar

engajado politicamente, de modo a despertar no educando a formação de uma

consciência crítica para que ele possa atuar assim na sua comunidade.

Uma pedagogia crítica busca compreender as relações existentes

entre poder e conhecimento e modos como essas forças se articulam nas

sociedades humanas.

Tanto para Freire quanto para aqueles que se alinham com seu

pensamento pedagógico, é fundamental formar o docente na mudança e para

mudança. Rejeitar a visão de um ensino técnico baseado na transmissão de

conhecimentos formais, acabados, propondo um conhecimento aberto, em

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construção, provisório, que vê a educação como um compromisso político a

favor do aprendente.

O conceito de ensinar para ele, em toda a sua complexidade e

amplitude político-ideológica e ética, assenta-se em exigências que, embora

fundadas em saberes científicos, técnicos e profissionais, superam os limites

dessas esferas para se revelarem como atributos e compromissos humanos.

(...) É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem,

sem a valentia dos que insistem mil vezes antes da

desistência. É impossível sem a capacidade forjada, inventada,

de bem cuidar, de amar. (FREIRE,1987, p. 92)

Foi Paulo Freire quem melhor definiu uma educação para e pela

cidadania quando, nos Arquivos Paulo Freire, em São Paulo, dia 19 de março

de 1997, numa entrevista à TV Educativa do Rio de Janeiro, falou de sua

concepção da escola cidadã: “A Escola Cidadã é aquela que se assume como

um centro de direitos e de deveres...é uma escola de comunidade, de

companheirismo. É uma escola que vive a experiência tensa da democracia”.

Paulo Freire associava cidadania e autonomia.

A Educação Cidadã está associada a uma concepção pedagógica

cada vez mais consolidada e que Gadotti tem chamado de “concepção

dialética da educação”, seguindo os caminhos da pedagogia práxis. Ela se

inspira, direta e indiretamente, no pensamento de Paulo Freire. Alguns dos

seus princípios pedagógicos ou de intuições originais de sua prática, são

facilmente encontrados nas experiências de educação cidadã, fundadas em

relações eminentemente democráticas.

Em síntese, ensinar pressupõe aprender, estar exposto ao

conhecimento, operar com esse conhecimento, sistematizá-lo para depois ser

capaz de transpô-lo, e para isso, muitos saberes são necessários tais como:

quem sou eu educador, quais os meus conhecimentos, quem é o aprendiz,

como é que ele aprende, o que ele já sabe, o que falta saber e qual o

procedimento mais adequado para atender a especificidade de aprendizagem

daquele aprendiz?

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1.1 - Professor como formador de aprendizes de cidadania

O método é letra morta; a ele o professor deve acrescentar a

cor, o movimento, a vida. Para um professor existem dois

sujeitos a serem estudados: [os educandos] e ele mesmo.

Duas coisas para sua realização: a educação delas e a sua

própria.

Marie Carpentier

Segundo Nóvoa (1995), nas últimas décadas, existe um mal-estar

docente, gerado pelas transformações sociais, políticas e econômicas que vem

ocorrendo no mundo de forma acelerada, e essas mudanças atingiram o

processo educativo. Por um lado, parece que a sociedade deixou de acreditar

na educação como promessa de um futuro melhor; os professores enfrentam a

sua profissão com uma atitude de desilusão e renúncia, o que degrada cada

vez mais sua imagem social. Mas o professor precisa compreender, que ele

não é o único responsável pelos problemas do ensino como é colocado pela

sociedade, mas que estes são problemas sociais que requerem soluções por

meio de políticas sociais que garantam a expansão do ensino das massas

com qualidade.

Nóvoa (1995) diz que diante das mudanças ocorridas de forma

acelerada, aumentaram-se as responsabilidades do professor. Agora ele além

de possibilitar a apropriação do conhecimento cognitivo, precisa atuar como

facilitador da aprendizagem, organizador dos trabalhos em grupo, preocupar-

se com a integração social como também com a educação sexual do aluno.

Porém, é interessante observar que não houve mudanças significativas na

formação desses professores. Dito de outra forma, o educador está utilizando

os métodos que ele aprendeu há 20 anos atrás, num contexto que exige uma

visão ampla e atualizada em todos os sentidos, principalmente no campo da

educação.

Nóvoa (1995), coloca ainda que para agravar mais a crise de

identidade do educador, a sociedade e alguns governantes chegaram à

conclusão simplista que o professor é responsável direto pelas lacunas

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existentes no processo de ensino, e conseqüentemente, pelo fracasso escolar,

sem levar em conta, a falta de uma política educacional consistente que possa

suprir as necessidades básicas do ensino, como por exemplo a falta de

materiais didáticos, pedagógicos e o baixo salário dos professores.

Segundo Pimenta (1999), a desvalorização do professor está ligada às

concepções que o considera, como um simples técnico reprodutor dos

conhecimentos pré-elaborados. E que a sociedade contemporânea, cada vez

mais, necessita de professor/educador que seja mediador nos processos

constitutivos da cidadania dos alunos, no sentido de superar as desigualdades

escolares. Portanto, se faz necessário repensar a formação inicial e contínua

dos professores, analisando as práticas pedagógicas e docentes que os

formam.

A formação inicial composta por um currículo formal com conteúdos

fragmentados e atividades de estágios distanciados da realidade das escolas,

tem contribuído pouco na formação da identidade do profissional educador. No

que se refere à formação contínua, na qual se realiza cursos de atualização

dos conteúdos, tem se mostrado ineficiente para alterar a prática docente e

evitar o fracasso escolar. Esses fatos entre outros aspectos do processo

formativo, desvalorizam a profissão e o profissional da área educativa.

As contradições da sociedade brasileira são grandes, investe-se pouco

em educação, no entanto, exigi-se pessoas aptas e qualificadas para atuar no

mercado de trabalho. Tendo em vista estas exigências, novamente o educador

está sendo requisitado no sentido de preparar os profissionais que poderão

trabalhar em várias organizações, desenvolvendo habilidades humanas e

técnicas com objetivo de compreender as transformações provocadas pelo

avanço das ciências e das novas tecnologias, visando melhorar o

desempenho das pessoas e conseqüentemente, dos produtos e serviços.

Nota-se que apesar da desvalorização do profissional educador, e de

vários obstáculos, como o não-reconhecimento enquanto categoria,

profissionalidade dividida, baixa remuneração e tantos outros desafios, pode-

se afirmar que o pedagogo está preparado para enfrentar o mercado de

trabalho competitivo atual que exige um profissional com sólida formação,

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capaz de diagnosticar problemas e apresentar soluções no campo da

educação formal e não-formal, de modo a garantir o desenvolvimento de

múltiplas competências e saberes necessários para atuar na sociedade

informatizada.

O educador que problematiza a realidade, que desvenda conceitos é o

profissional mais indicado para atuar na formação de pessoas porque pode

ajudar a interpretar a realidade e a transformá-la. Com esse desenho, sua

formação contempla uma prática pedagógica reflexiva, transformadora e

autocrítica.

Com as transformações da sociedade, exige-se, cada vez mais,

profissionais competentes, flexíveis, criativos, críticos, conhecedores das

novas tecnologias, que saibam conviver e trabalhar em equipe, que possua

autonomia de pensamento, sociáveis, que saibam compreender processos e

incorpore novas idéias, que tenham habilidade de gestão, auto-estima. No

entanto, ao mesmo tempo em que o mundo do trabalho estabelece exigência

ao educador, de forma desafiadora desvaloriza o educador, o seu fazer

pedagógico, e reduz a formação teórica, aligeirando sua práxis.

Pergunta-se, o que fazer para sanar ou pelo menos minimizar essa

desprofissionalização dos professores? Como extirpar esse mal-estar docente?

A sociedade brasileira, na maioria das vezes, compreende o termo

educação de forma simplista, baseando-se no senso comum, o que vem

contribuindo para desvalorização do profissional da educação. Numa tentativa

de compreender a amplitude do termo educação recorre-se a autores

brasileiros que conceituam educação de forma provocativa e ao mesmo tempo

esperançosa de nosso papel na reconstrução de outro mundo.

Segundo Libâneo (2002), a “educação é um fenômeno social inerente

à constituição do homem e da sociedade, integrante, portanto, da vida social,

econômica, política e cultural”. É um processo global entranhado na prática

social, que ocorre numa variedade de instituições, nas quais os indivíduos

estão envolvidos de modo necessário e inevitável, pelo fato de pertencerem

uma sociedade. Educação no sentido amplo compreende o conjunto dos

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processos formativos que ocorrem no meio social, sejam eles intencionais ou

não-intencionais, sistematizados ou não.

A educação é uma forma de intervenção no mundo, que além do

conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados ou aprendidos, implica

tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu

desmascaramento.

Uma das tarefas básicas que definem a postura do novo

educador é a criação de uma contra-ideologia, atenta aos

serviços que a educação pode prestar a esse deserdado de

todos os bens criados pelo trabalhador, uma contra-ideologia

capaz de mover ou tirar da inviabilidade os agentes da

educação, direcionando-os para a prática de uma educação

que tente elevar a participação das mais amplas massas de

trabalhadores (GADOTTI, 2004, p. 81).

Assim, a pedagogia libertadora, concebe as transformações sociais

através de um compromisso educacional empreendedor, voltado ao dominado,

ao despertar da consciência, em prol de uma ação-reflexão. Não basta a

competência ao exercício do ato educativo é necessária uma sólida formação

política e econômica.

Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é

o da reflexão critica sobre a prática. O professor tem que está em constante

busca de aperfeiçoamento, sendo um profissional competente, responsável

para que possa formar cidadãos críticos capazes de lutar pelos seus direitos.

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CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO CIDADÃ

A palavra cidadania parece estar em todos os lugares. No discurso de

candidatos a cargos eletivos ou no de políticos eleitos, nas propagandas, na

televisão, em revistas e jornais. Mas há pouca reflexão sobre o seu verdadeiro

sentido. A palavra vem do latim civita, que quer dizer cidade. Conceito criado

na Grécia antiga, o termo se referia ao direito que as pessoas têm de participar

das decisões tomadas sobre o destino das cidades em reuniões públicas.

Cidadania diz respeito à capacidade de se fazer uma intervenção legitima

sobre o exercício do poder. Cidadão é quem pode participar da vida política de

uma sociedade, o que inclui escolher quem irá exercer o poder, ser eleito para

cargos públicos e influir nos assuntos que afetam a coletividade. O cidadão

participa do exercício do poder e fundamenta o soberania de um Estado.

Hoje a discussão sobre cidadania ganha novos contornos. Está em

questão a noção de cidadania planetária, que se fortalece principalmente nos

debates sobre o meio ambiente. Cria-se uma referencia de que somos todos

habitantes e cidadãos do mesmo planeta. Só que extremamente desiguais, o

que traz a questão de como compartilhar esse território. A questão do clima,

por exemplo, traz uma radicalidade a esta noção de cidadania, que antes não

se havia pensado. Desmatar a Floresta Amazônica aqui pode ter efeitos no

Japão. As emissões de gases-estufa derretem geleiras na Groelândia, o que

aumenta o nível do mar no mundo inteiro. Isso afeta a cidadania de outros.

Quando se fala em cidadania, também não se pode deixar de

mencionar a escola. Espaço público por excelência, é nela que a criança é

preparada para ser cidadã. Trata-se de uma instituição que deve garantir os

elementos básicos que ajudarão a definir de que forma os indivíduos irão se

inserir na vida social. A escola tem que valorizar as habilidades e diferenças,

mas desde que isso não afete a igualdade, o status comum de cidadania de

todos. Exercer a cidadania é reconhecer a igualdade, apesar das diferenças.

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2.2 – Ações e estratégias contributivas as vivencias de

aprendizagens significativas

A escola precisa cumprir a sua tarefa básica, que é escolarizar,

promover o acesso à informação e sobretudo contextualizá-la - o que muitas

vezes não acontece. Os estudantes precisam sair da escola com uma

capacidade mínima de contextualizar a informação, pois ela é uma ferramenta

para a compreensão da realidade em que eles estão inseridos e para a

ampliação de sua capacidade de comunicação. Se a escola fizer isso, ela

estará atuando fortemente para ampliar a cidadania, porque permitirá que os

indivíduos questionem qualquer tipo de dogmatismo.

É importante que os alunos entendam que há um sentido no que estão

fazendo e que suas famílias de alguma forma acabem percebendo e se

interessando por isso. A escola precisa deixar que seus alunos busquem

caminhos para melhorar suas vidas. Se ela fizer isso, estará dando um grande

passo à frente. Ela tornará esse individuo mais presente em seu contexto

social e conseqüentemente na cena política. Mas para isso a escola precisa ter

condições materiais e os profissionais que lá trabalham, dignidade.

A responsabilidade da escola é imensa, não apenas para trabalhar

adequadamente o legado cultural da nossa sociedade como também para

ajudar a constituir cidadãos mais responsáveis e criativos. A colaboração ativa

dos responsáveis pelas crianças e jovens é fundamental para que se atenda

aos requisitos de uma educação de qualidade. Isso precisa ser bem

compreendido, sobretudo pelos diretores das unidades de ensino, para que as

criticas e proposições desses responsáveis não sejam desconsideradas. A

escola é uma instituição voltada para a socialização política, processo pelo

qual tomamos conhecimento do que nossos antepassados nos legaram,

aprendemos a valorizar, ou não, o nosso passado e a incorporá-lo de forma

passiva, ou critica, ao nosso presente.

A importância da cidadania é equivalente à complexidade do tema. É

um conceito multifacetado que comporta valores básicos. O primeiro é a

liberdade, sem a qual ela não existe. O segundo é a igualdade, sem o que não

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existe liberdade. O terceiro valor, que surgiu mais recentemente, é a idéia de

diversidade, que não pode ser deixada de lado em nome da igualdade. O

quarto principio para garantir os outros três é reconhecer que existem

situações em que é necessário solidariedade. Nada disso faz sentido sem a

participação que pode ser considerada um quinto elemento. Para eu ter direito,

tenho que garantir que o outro também o tenha. Para garantir que isso

aconteça, tenho que participar. Como cidadania se forma em torno de direitos,

que é no que esses valores se transformam, se estes não forem garantidos

para todos, se tornam privilégios.

Direitos de cidadania são conferidos a crianças e adolescentes que

ainda não têm como arcar com as responsabilidades próprias a essa posição.

Esses direitos são assegurados por lei, porque se supõe que todas as pessoas

precisam de uma certa formação – que passa a ser responsabilidade do

Estado – para se tornarem cidadãos competentes, uma vez que não se pode

delegar tarefa tão relevante apenas aos cidadãos responsáveis por crianças e

adolescentes.

“A concepção de educação cidadã está intimamente ligada ao

movimento pela Escola Cidadã nascido, no Brasil, no final da

década de 80 e início da década de 90, fortemente enraizado

na educação popular e comunitária que, na década de 80,

traduziu-se pela expressão ‘escola pública popular’. Designa-

se comumente por ‘Escola Cidadã’ uma certa concepção e

uma certa prática da educação ‘para e pela cidadania’, que,

sob diferentes denominações, são realizadas, em diversas

regiões do país, principalmente em municipalidades onde o

poder local foi assumido por partidos do chamado campo

democrático-popular”

(Moacir Gadotti, 2004, p. 1)

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Para Moacir Gadotti1 a maior ambição da educação cidadã é contribuir

na criação das condições para o surgimento de uma nova cidadania, como

espaço de organização da sociedade para defesa de direitos e a conquista de

novos.

Hoje a idéia de exercício da cidadania está ligada também às

condições de sua efetivação. O direito político está ligado a direitos civis e

sociais. Esse tripé permitirá ao individuo ter autonomia para exercer a sua

cidadania. Para ser autônomo, é necessário que ele tenha as condições de

sua sobrevivência asseguradas. Sem isso, seria ilusão imaginar o cidadão

exercendo o seu poder político.

Desde os primórdios, cidadania esteve ligada à idéia de coletividade.

Os gregos viviam em uma sociedade muito desigual e , por isso, desse

conceito eram excluídos os escravos, as mulheres e os estrangeiros. Na

verdade, apenas 10% dos habitantes decidiam os rumos de toda uma cidade,

o que correspondia aos homens gregos. Mas era um conceito que se estendia

a todos, independentemente de quem fossem. Tratava-se de uma qualidade

política comum, que um reconhecia no outro e que supunha uma relação de

igualdade. O conceito foi mais elaborado na Roma antiga, cuja sociedade

também era escravocrata e retratava a situação política de um individuo e os

direitos dos quais poderia usufruir.

Com a Revolução Francesa, em 1789, o conceito de cidadania passou

a incluir todos os indivíduos nascidos em um determinado território, mas

continuou a excluir os estrangeiros. Esta é a noção que se perpetua até hoje,

pois os que nascem em território estrangeiro não têm os mesmos direitos

políticos dos que nascem em solo nativo. No entanto, estas noções estão em

xeque hoje, pois esta definição dá conta de uma cidadania formal nas

sociedades, mas não de uma cidadania completa. Há uma nova noção que

questiona essa idéia de território e introduz outra, que é a de ser membro

efetivo de uma sociedade. Por isso vemos movimentos que reivindicam

1 GADOTTI, M. Educação cidadã para uma cidade educadora. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/Portugues/FME_e_FSM/FME_Ed_Cid_p_Cid_Educadora_2004.pdf> Acessado em 21/01/2008.

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igualdade, como os de moradores de favelas, mulheres, sem-terra, sem-teto...

Há a construção de uma cidadania de inclusão.

No Brasil, o conceito de cidadania também se modificou ao longo do

tempo. Ele surgiu vinculado à difusão do pensamento liberal no século XVIII e

sobretudo quando se constituiu um Estado independente em 1822. No entanto,

o Brasil era uma sociedade formada com base na escravidão e os escravos

não tinham acesso à cidadania. Mesmo entre homens livres não havia

igualdade de direitos. A Constituição de 1822 mantinha uma diferenciação

baseada na renda e na propriedade. A participação no limitado processo de

escolha de representantes da época era condicionada à propriedade de bens

materiais, principalmente a terra, e portanto restrita a uma minoria. Os que não

se enquadravam nessa categoria não podiam eleger ou ser eleitos para as

assembléias provinciais ou a nacional. As mulheres usufruíam direitos civis,

mas não, direitos políticos.

Com o advento da República, a escravidão foi superada, mas não os

efeitos de séculos de regime escravocrata. Mesmo assim o exercício do poder

político foi ampliado. Uma das medidas tomadas, por exemplo, foi a de

naturalizar todos os estrangeiros que não se manifestassem contrários à

naturalização. Também se eliminaram as restrições de propriedade. Mas uma

grande restrição não foi eliminada: a da alfabetização. O significado disso não

era pouca coisa, pois naquele momento era muito alto o percentual de homens

não-alfabetizados e pobres, que formavam a base da população

economicamente ativa.

Essas concepções sobre cidadania tiveram origem no período do

Iluminismo, sobretudo pela leitura positivista posta em prática no Brasil.

Considerava-se que apenas os que tinham consciência política – obtida

através da formação intelectual e cultural que hoje poderíamos definir como

formação escolar – poderiam participar plenamente do processo político. Com

isso se eliminou a base camponesa, que foi alvo, principalmente no início da

República, de repressão e dada a movimentos que tomaram um caráter

messiânico, articulando política e religião, mas que tinham uma base social

claramente camponesa, cujo maior exemplo, mas não o único, foi Canudos.

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Ao longo da República, principalmente até a Revolução de 1930, o

Brasil se transformou em uma sociedade capitalista, com um processo de

urbanização e industrialização em curso, especialmente no Sudeste. Esse

contexto foi cenário de uma série de demandas sociais, com destaque para a

luta pelos direitos trabalhistas, que se articularam a direitos políticos, civis e

sociais. Isso se deu principalmente pelo crescimento do movimento operário,

que reivindicava o reconhecimento de que o exercício da cidadania não era

apenas o do voto, mas estava ligado às condições de vida do indivíduo, à

superação das desigualdades, da tradição oligárquica e à necessidade de

assegurar a liberdade de expressão, manifestação e organização.

O cidadão passou a ser visto como um indivíduo marcado por sua

classe social e que tem demandas específicas que precisam ser atendidas

pelo Estado. A partir da década de 1930, a questão social deixou de ser caso

de polícia. Pelo contrário, foi aberta uma discussão sobre a ampliação e a

configuração legal de direitos sociais, como o reconhecimento de que isso não

podia ficar restrito ao universo masculino, tendo que ser ampliado às mulheres.

O regime militar em vigor a partir de 1964 foi uma resposta

conservadora a reivindicações sociais, mais especificamente às chamadas

reformas de base, principalmente a agrária. Em termos políticos, questões

como a organização sindical e partidária, ambas remanescentes da época do

Estado Novo e mantidas sob intervenção direta do Estado para que pudessem

ser um elemento de desequilíbrio do jogo político nacional, foram mantidas

pela ditadura. Mas ao longo do tempo, como resultado do próprio

desenvolvimento capitalista que o regime militar possibilitou, surgiram

demandas sociais que precisavam ser respondidas, como a universalização da

seguridade social que se configurou no último terço do período da ditadura.

Ocorreu uma afirmação legal desses direitos, que eram expressão do

próprio desenvolvimento da sociedade brasileira, com todas as suas limitações

de uma sociedade capitalista mais industrializada e urbanizada que tinha que

responder às pressões sociais que surgiam. A ditadura, por mais que tenha

sido um movimento de repressão política, não significou necessariamente a

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eliminação dos movimentos sociais. Essas respostas apareceram, ainda que a

conta-gotas.

O próprio fim do regime militar se deu através de um processo de

transição que durou 10 anos, do inicio do governo Geisel até o fim do governo

Figueiredo. O regime totalitário não foi superado no âmbito de um processo de

insurreição popular. Pelo contrário, o processo foi marcado por uma série de

negociações.

Essa transição possibilitou a Constituição de 1988, a carta que mais

ampliou direitos no Brasil, e que representou um grande salto. Ela afirmou

muito mais os direitos sociais do indivíduo. Foi a que mais claramente

estabeleceu que o Estado deve atuar em áreas como seguridade, educação,

saúde, tendo o dever de garantir o direito do cidadão brasileiro. Isso foi de

enorme importância. Ela também permitiu que superássemos, depois de quase

100 anos de República, o velho estigma de que os analfabetos não podiam ter

cidadania plena. Durante muito tempo perdurou a noção de que o

analfabetismo se dava quase por inércia pessoal e não pelo resultado das

características da sociedade brasileira.

Esta mudança se torna ainda mais significativa quando levamos em

conta que embora o número de analfabetos tivesse se reduzido ao longo do

tempo, de acordo com o historiador José Murilo de Carvalho2, em 1990 ainda

havia no Brasil cerca de 30 milhões de analfabetos com mais de cinco anos de

idade. Em 1998, 8% dos eleitores ainda eram analfabetos. Para ele, “a medida

significou (...) ampliação importante da franquia eleitoral e pôs fim a uma

discriminação injustificável”.

Mesmo com as desigualdades históricas da sociedade brasileira, a

cidadania formal evoluiu muito rapidamente. Nos anos 1950, a porcentagem da

população com direito a votar chegava a 15%. Hoje, o Brasil é um dos países

mais inclusivos em termos de número de votantes. De acordo com o Tribunal

Superior Eleitoral (TSE), quase 126 milhões de eleitores votaram em 2006.

Aqui o não-cidadão é muito camuflado. Aqui quem é negro e muito pobre, na

2 CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001, p. 200.

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verdade, é um não-cidadão. Mas tem algum acesso à cidadania, que é maior

do que o de um imigrante na França, por exemplo, que não tem. A cidadania

política, social e cultural evolui com o estado da civilização. Sempre é possível

ser mais cidadão em uma sociedade. Agora, trata-se de virtude coletiva. É a

sociedade que ganha se há mais cidadania. Você cria igualdade e, por isso, é

uma noção radicalmente associada à democracia.

A democracia é o único regime ou forma de poder político que atribui

sua constituição à cidadania. Os cidadãos são os constituintes do poder, da

economia, do modo de funcionamento da sociedade. Em sua opinião, a

democracia pode ser definida como a transformação do conflito em algo

construtivo; o ato de, a partir de visões diferentes, encontrar o compromisso

possível. Na democracia, você reconhece o outro como igual a você. Essa

disputa de espaços que reconhece que ninguém pode eliminar ninguém,

aceitando o princípio da minoria, é o princípio da cidadania. O regime

democrático tem como referência a cidadania. Não existe democracia sem ela.

O problema num país com uma desigualdade histórica como o Brasil é que os

representantes se consideram donos da coisa pública e não representantes

constituídos.

Cidadania também tem a ver com espaço público. É nele que o

indivíduo se torna cidadão. Quando mulheres querem ter seu trabalho

reconhecido e demandam igualdade de tratamento e salário, elas reivindicam

uma igualdade cidadã. Fazendo isso, também trazem o público para dentro de

casa. Historicamente, a vida privada foi tratada como algo que não deveria ser

discutido publicamente. O que a luta social está fazendo é dar publicidade a

histórias da vida privada. Temas como relações entre marido e mulher, entre

pais e filhos, são privados, mas têm regras cidadãs que precisam ser

construídas para regê-los.

Nós negamos e camuflamos o racismo e a desigualdade. Achamos

que pobreza é de responsabilidade do indivíduo e não uma criação da

sociedade. Isso ainda é muito forte. Esses são fatores limitadores. É preciso

enfrentar certos problemas e isso é tarefa coletiva da cidadania. Se os

problemas não forem enfrentados, estaremos negando cidadania.

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O Brasil hoje enfrenta dilemas como a descrença e o afastamento da

população em relação ao poder. Primeiramente, porque a complexidade da

luta política é tanta que ela se torna incompreensível e tende a ser substituída

por formas simplistas e quase sempre de forte conteúdo moralista. Isso é em

grande parte alimentado pelos segmentos mais conservadores, principalmente

parte da imprensa, que situam o jogo político como questão eminentemente

moral entre homens honestos e desonestos. O que acaba por reafirmar

concepções mais simplistas e maniqueístas que fazem, por exemplo, com que

a esfera política seja vista cada vez mais como esfera midiática. Ou seja, o que

conta é a forma como você apresenta a imagem do político e não exatamente

o seu conteúdo. Essa situação contribui para manter problemas antigos que

ainda não conseguimos solucionar, como o clientelismo e as dificuldades de

organização política, e levam a um certo conservadorismo que reafirma o

individualismo.

O nível de desenvolvimento econômico e capitalista da sociedade

brasileira faz com que certas demandas da sociedade sejam parcialmente

atendidas, o que atenua a pressão por mudanças. Só venceremos as

desigualdades sociais se existir pressão da sociedade para a sua superação.

Isso não tem ocorrido com a força que poderíamos esperar ou que

precisaríamos para ter respostas mais rápidas. Por exemplo, o crescimento da

economia informal em um nível muito intenso nas áreas urbanas do Brasil

respondeu a um problema de desemprego e assegurou que você tenha uma

seguridade social universalizada, embora aquém do esperado. Essa resposta

não equaciona o futuro.

Estamos hoje sujeitos a perder uma idéia de cidadania que veio do

enfrentamento do regime militar devido a problemas como o forte aumento da

violência e certas dificuldades que não fomos capazes de enfrentar, como a

grande desigualdade e a falta de políticas sociais inclusivas. O papel

constituinte da cidadania foi maior que o resultado prático e, para mudar isso, é

importante trazer as decisões para mais perto do povo.

A maioria dos brasileiros conhece o local onde vive, sabe quais são os

problemas que existem ali e o que precisa ser feito. Seria muito importante

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termos uma estrutura de poder que valorizasse e permitisse o exercício pleno

dessa cidadania e fosse complementar a ela. Para isso seria necessário

promover mudanças que a sociedade brasileira ainda não conseguiu viabilizar.

Entre elas, está a de acabar com o autoritarismo, o privilégio, o patrimonialismo

e o uso de recursos públicos para interesses privados.

A responsabilidade da sociedade na promoção da cidadania é grande.

É preciso haver vigilância permanente e participação para pressionar o Estado

e fazer com que cidadania e democracia avancem. Temos uma situação no

Brasil de cidadania formal extensiva, mas temos amplos setores invisíveis. O

tráfico ou uma milícia, ao controlar uma comunidade, a privatiza e aqueles

cidadãos se tornam invisíveis, sem voz, capacidade de participar ou

autonomia.

Nem sempre a maneira pela qual o debate sobre cidadania se

desenvolve contribui para o fortalecimento de uma boa prática cidadã, pois as

pessoas se preocupam com seus direitos, mas não conhecem claramente as

suas obrigações. Ela afirma que o Estado, que tem a obrigação de defender

esses direitos, não é um ente que paira de forma onipotente sobre a

sociedade. Os recursos de que dispõe para empreender políticas públicas são

extraídos dela. Essas políticas não dependem apenas de dinheiro, mas

também da imaginação capaz de diagnosticar e propor soluções para a vida de

todos. Aqui se colocam as obrigações do cidadão.

Esse entendimento de que nosso bairro, cidade, estado, nação e

planeta estão como estão porque nós os fazemos assim parece-me ser o que

mais está faltando na discussão em curso. O cidadão brasileiro parece que

ainda não entendeu que sua responsabilidade não se esgota no gesto eleitoral

e na crítica corriqueira ao poder estabelecido.

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CAPÍTULO III

REVISÕES PARADIGMÁTICAS E PSICOPEDAGOGIA:

O CAMINHO SENDO TRILHADO

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que

ensina.” (Cora Coralina)

Saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio

contextual de estarmos em processo de construção de uma sociedade do

conhecimento que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva

utilização das tecnologias da comunicação e informação. Fica cada vez mais

claro que o conhecimento é determinante recurso social, econômico, cultural e

humano neste novo período de nossa evolução histórica: a sociedade

aprendente.

Assim, aprender e ensinar no século XXI, é necessariamente lidar com

a aprendizagem numa perspectiva de construção de ecologias cognitivas, onde

a capacidade de aprender está sendo cada vez mais necessária nas distintas

interações que, enquanto sujeitos, estabelecemos com os outros, com o meio,

ou seja, com a sociedade.

O desafio que se configura, então, é pensar como nossas escolas, em

suas ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a

demanda por aprendizagens significativas e por efetivas construções de

conhecimentos. Em nosso momento histórico atual, reside nos projetos

político-pedagógicos a busca por coerência entre as práticas de ensinagens e

os novos paradigmas científicos que, no contexto das emergentes mudanças,

devem estar presentes nas reformulações pedagógicas.

Na sociedade aprendente do século XXI, é a prática educativa em si

que necessita ser revisada, com profundidade, em suas abordagens didáticas,

em suas concepções epistemológicas e nos seus distintos aspectos

curriculares, pois o avanço crescente da ciência, das tecnologias e dos meios

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de comunicação exige a presença da coerência nos contextos educacionais,

visando atender demandas contemporâneas pela disseminação de novos

paradigmas científicos, necessários à economia globalizada.

Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada,

irremediavelmente, no ensinar para aprender, visto que a maior demanda

educacional contemporânea é formar sujeitos aprendentes, capazes de

aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. Um valioso aspecto a

ser observado é a busca por ativas metodologias pedagógicas, que fomente,

nas redes informatizadas, às necessidades de acesso às informações e ao

conhecimento.

É impossível pensar no exercício da cidadania sem que o individuo

tenha acesso à formação acadêmica. Percebe-se hoje que para exercer

qualquer profissão, seja simples ou complexa, o individuo será submetido a

treinamentos, não só em relação à função exercida, mas, treinamentos de

ética, qualidade, perfil do cliente, economia, etc. A pessoa é valorizada pelo

seu diploma e principalmente pela capacidade de construir conhecimento, de

gerar instrumentos e serviços adequados ao contexto sócio-econômico-

cultural.

Sabemos que só possuir a informação não basta, o que fará a

diferença é a forma em que o individuo integra uma formação, formando-a em

aprendizagem e pondo-a em serviço da comunidade. Assim surge a

necessidade de investigar como se constitui o sujeito e como ele se relaciona

com o meio, como sua transformação é realizada ao longo da vida, os recursos

de conhecimento que dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e

aprende, para que essa investigação ocorra surge então no cenário

educacional a psicopedagogia.

De acordo com Fagali (2003) um dos nossos maiores desafios é o

aprender a transitar. A Psicopedagogia, no Brasil, tem contribuído de modo

significativo, para a necessária revisão da prática escolar cotidiana, inserindo,

nos espaços e tempos institucionais, novos paradigmas e novas dimensões

para o ato educativo.

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A Psicopedagogia é caracterizada pela relação multiprofissional de

áreas do conhecimento como: psicologia cognitiva, psicanálise, sociologia,

lingüística, entre outras. Com a compreensão das diferentes visões foi possível

compreender o processo de aprendizagem, com seus inúmeros fatores que

influenciam o aprendente, possibilitando ou não seu aprendizado. Esta nova

ciência analisa e investiga o aprendente em sua totalidade, constatando que o

mesmo é dotado de uma dimensão orgânica, afetiva, cognitiva e cultural que

atuam em equilíbrio, possibilitando a construção do conhecimento.

A Psicopedagogia surge a fim de abrir espaço para as descobertas,

investigações, criando condições para a troca e conseqüentemente possibilita

a expansão do conhecimento, permitindo o intercambio cultural das ciências

que se reportam à compreensão do sujeito, o qual será autor do seu próprio

pensamento. Está é a construção do sujeito autônomo, critico e capaz de

discernir conscientemente sobre questões político-social-econômico.

A Psicopedagogia no Brasil, hoje, tem relevante papel neste sentido,

organizando práticas docentes em associação a esta nova realidade. O

ensinante na educação básica, e nos demais níveis de escolaridade, com o

auxilio do profissional psicopedagogo, pode superar as possíveis dificuldades

relativas às mudanças essenciais que a práxis pedagógica contemporânea

necessita. O ensinante, mesmo sem ser o único elemento significativo em todo

este movimento, continua sendo o protagonista no que diz respeito às

decisões pedagógicas, apesar de outros tantos fatores que neste processo

interferem. O ensinante, como fundamental elemento - e por seu papel em

cada sala de aula que atua-, pode favorecer a mudança, visto ser ele que

direciona sua própria prática pedagógica. Hoje, com o apoio e o trabalho dos

profissionais psicopedagogos inserindo-se em diferentes espaços

institucionais, metodologias mais criativas ganham espaço no cotidiano

escolar.

Segundo Laura Monte Serrat Barbosa: “... a Psicopedagogia é uma só;

acontece em diferentes espaços, com objetivos específicos, mas a forma de

pensar sobre o aprendiz, de ver o processo de aprendizagem, de considerar o

mundo e o conhecimento é a mesma. O objeto de estudo – a aprendizagem –

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é o mesmo e, por isso, não precisamos seguir modelos médicos e psicológicos

e subdividir nossa área. Somos especialistas em aprendizagem, independente

do espaço no qual essa aprendizagem se processa.”3

É, sem dúvida, uma realidade nova, complexa e desafiadora para a

educação como um todo - e para a Psicopedagogia em particular - esta

sociedade contemporânea, do conhecimento e aprendente, que pode ser

vislumbrada como um campo aberto para novos estudos, novas pesquisas e

propostas educativas. A crise vivenciada no exercício da prática docente, em

todos os níveis de ensino, estimula a busca por novos caminhos necessários à

educação, que atendam aos novos paradigmas de nosso tempo.

A aprendizagem significativa, a mediação adequada no ato de

aprender e a invenção de novos modelos pedagógicos devem ser perseguidas

para atender as demandas de nosso tempo. Isto significa que precisamos, no

cotidiano escolar, nos espaços e tempos das instituições educacionais, fazer

mudanças, promover rupturas e ir além dos modos tradicionais de ensino e

aprendizagem. Mudanças significativas nas posturas dos ensinantes devem

ocorrer, pois a urgência é efetivar e instaurar o desejo de uma comunicação

dialógica, que entenda o aprendente como um sujeito ativo, histórico que

precisa de técnicas e instrumentos, mas necessita também compreender a

realidade de seu tempo, de seu contexto social, e de ser visto em suas

múltiplas interações e em suas diferentes capacidades perceptivas, sensoriais

e cognitivas, ou seja, que seja percebido com um sujeito em suas múltiplas

dimensões.

Lidar com a diversidade cultural, com a pluralidade, com a alteridade,

com processos de identidade, de inclusão e de validação de cada aprendente.

No exercício de uma cidadania ativa, de uma vivência ética nos espaços e

tempos das instituições, esta proposição pode ampliar possibilidades de

encontro, do sujeito com si mesmo, com os outros, com o mundo e suas

complexidades. E neste movimento, aprendentes e ensinantes iniciam um

novo caminhar, onde novos modos de ensinar e aprender estejam em

3 BARBOSA, Laura Monte Serrat. Uma só psicopedagogia e vários âmbitos de ação. Disponível em: <http://www.abpp.com.br/abppprsul/artigos.htm> Acessado em 21/01/2008

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movimento de ressignificar às relações interpessoais e criar, desta forma,

novas relações com o próprio processo de construir conhecimentos, novos

comportamentos, novos estímulos de percepção, novas racionalidades e novas

visões de mundo, a partir de suas autorias de pensamento em movimento.

Neste sentido, devemos nos movimentar com a finalidade de

elaborarmos “de modo consciente, nossas ações e práticas cotidianas, onde

nossos valores, saberes e rituais se constituem numa elaboração-

aprendizagem que se confunde com a construção de nossas subjetividades,

de nossa profissionalidade, de nossa formação pessoal. Este é um movimento

de construção, que devemos perceber como processo de articulação com o

outro, com o mundo e com os nossos tantos dilemas, presentes no nosso

acionar cotidiano.”4

4 BEAUCLAIR, João. Educação & Psicopedagogia: aprender e ensinar nos movimentos de

autoria. Pulso Editorial, São José dos Campos, 2007, p.81.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A magia de educar: aprender é ensinar, ensinar é aprender... “ O

grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode,

mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode, é

reconhecer os limites que sua prática impõe e perceber que o seu trabalho não

é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte”5.

Aprender é uma de nossas capacidades humanas, que faz com que

sentidos e significados sejam despertos para um viver ético e cidadão. Em

nossa contemporaneidade, os caminhos que estamos a vislumbrar sobre o

aprender e o ensinar contemporâneo, podem apontar para novos modos de

ser e estar atuando em Educação, Psicopedagogia e Aprendizagem. Tais

caminhos podem gerar novas modalidades de ensino onde o autoritarismo

ceda espaço para a solidariedade e para o desenvolvimento de novas

habilidades criativas, colaborativas e comunicacionais essenciais ao processo

de construção do conhecimento.

Deste modo, nosso maior desafio é promover espaços e tempos nas

instituições educacionais para que a aprendizagem seja, de fato, cooperativa,

lembrando com Jean Piaget o quanto a cooperação é fundamental fator para o

desenvolvimento humano.

Para aprender e ensinar no século XXI é preciso, essencialmente,

cooperar, operar junto com, favorecendo o equilíbrio nos intercâmbios

presentes na sociedade de nosso tempo e resultando numa aprendizagem que

traga à luz internos processos de desenvolvimento que só acontecem quando,

enquanto aprendentes, os seres humanos interagem com os outros.

Para que a educação cumpra seu papel, precisamos ter consciência de

que a transmissão de regras e valores que precisam ser repassador para todas

as gerações, onde permitirá o pilar de uma educação cidadã – igualdade,

liberdade, dignidade, solidariedade e oportunidades. O exercício da cidadania

5 FREIRE, Paulo. A pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Editora Unesp, 2001, p.98.

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dependerá de como nós educadores repassamos a idéia de dignidade

humana, visando uma reflexão critica e consciente por parte de nossos

aprendentes. Como formadores de sujeitos e não de objetos, precisamos

refletir na possibilidade de modificarmos a realidade na qual a sociedade está

submetida, diminuindo assim, a desigualdade social que assola e contamina a

existência humana. Este ideal de sociedade, embora pareça utópico, é a

perspectiva que devemos lutar para conseguirmos, pois como diz Paulo Freire,

“tenho plena consciência de que esta não pode ser uma luta vã. Nossa posição

no mundo não é a de quem se adapta, mas a de quem nele se insere. É a

posição de quem luta, para não ser apenas objeto, mas sujeito da historia”.

(Freire, 1977, p.60)

É primordial termos em mente que a educação é uma forma efetiva de

intervenção político e social, significando então, que o papel do educador na

construção do cidadão é essencial. Nosso objetivo deve ser o de formarmos

sujeitos capazes de enfrentar os desafios impostos por esta realidade, sendo

atuantes, conscientes e críticos.

Portanto uma educação cidadã precisa de educadores que estejam

comprometidos com estas mudanças, capazes de intervir no processo quando

este estiver deficitário, que sejam capazes de incorporar à sua prática, uma

realidade que seja condizente com o cotidiano do educando, visando o

crescimento do mesmo e a sua inserção como cidadão critico no mundo atual.

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ANEXO

Reportagem

FOLHA – Gávia/Leblon – Rio de Janeiro, fevereiro 2008 – Ano 7 – nº 51

O caos da vida cidadã – O carioca paga a conta da sua incapacidade de se mobilizar por melhores serviços públicos

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

EPÍGRAFE 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Desafios contextuais do saber aprender e ensinar no século XXI. 10

1.1 - Professor como formador de aprendizes de cidadania. 13

CAPÍTULO II

Educação cidadã 17

2.2 - Ações e estratégias contributivas as vivências de aprendizagens

significativas. 18

CAPÍTULO III 27

CONSIDERAÇÕES FINAIS 32

ANEXO 34

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 35

ÍNDICE 37

Page 38: Construção do cidadão: um permanente desafio de construir ... · A aristocracia grega se preocupava em formar consciência que ... A educação foi caracterizada como sendo privilégios

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Construção do cidadão: um permanente desafio de

construir a escola ética e cidadã

Autora: Flávia de Souza Martins Bahiense

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: