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  • 8/18/2019 Constituição Do Sujeito

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    Constituição do sujeito, subjetividade e identidade

     

    Norma Veras Leite CiarliniPsicólogaUniversidade Potiguar – UNPE-mail: [email protected]

     

    Construction of the ubject, ubjectivit! and "dentit!

     

    RESUMO

     

    Este artigo tem por objetivo, faer uma articula!"o entre o processo deconstitui!"o do sujeito e a subjetividade, dentro da abordagem sócio#$istórica de

    %&gots'&, com a identidade (ue, por sua ve, ser) compreendida na perspectivateórica de *iampa, (ue a concebe como +metamorfose-

     

    Palavras#c$ave. Sujeito, Subjetividade e /dentidade-

     

    01S2R0*2

     

    2$is article $as t$e aim to ma'e an articulation bet3een t$e subject constitutionprocess and t$e subjectivit&, 3it$in t$e Social#4istorical approac$ of %&gots'&, 3it$t$e identit& 3$ic$, in turn, 3ill be understood in t$e *iampa 2$eoretical

    Perspective, 3$ic$ conceives it as a +metamorp$osis- 

    5e& 3ords. Subject, Subjectivit& and /dentit&-

     

    0 trajetória %&gots'&ana apresenta contribui!6es valiosas no (ueconcerne a compreens"o do $omem en(uanto um processo social e um fen7meno$istórico-

      Entender como esse $omem 8 constitu9do implica, basicamente, emcompreende#lo como o resultado de um processo sócio#$istórico no (ual, atribui :linguagem, import;ncia singular, visto (ue, a concep!"o de sujeito se fa a partirdesta< atrav8s de intera!6es (ue o sujeito estabelece com os representantes de

    sua cultura, tornado#a significativa atrav8s dos recursos e=pressivos por elesusados- 0ssim, 8 na linguagem, (ue o sujeito, mediante o interc;mbio social comoutros sujeitos, planeja suas a!6es, imagina, cria, reflete, representa e significa arealidade-

      Por outro lado, a constitui!"o do sujeito e da subjetividade implica aintersubjetividade, pois acontece pelo outro e pela palavra numa dimens"ointersubjetiva- >ogo, a intersubjetividade 8 vista n"o no plano do outro e sim, darela!"o do sujeito com o outro-

      Uma id8ia central na teoria %&gots'&ana para a compreens"o de suasconcep!6es sobre a constitui!"o do sujeito como processo sócio#$istórico 8 a id8iade media!"o- Ele enfatia (ue a constru!"o do con$ecimento 8 uma intera!"o

    mediada por v)rias rela!6es, ou seja, o con$ecimento n"o est) sendo visto comouma a!"o do sujeito sobre a realidade, e sim, pela media!"o feita por outro sujeito-Nesse sentido, %&gots'& distinguiu dois tipos de mediadores. os instrumentos ?no

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    sentido de regular as a!6es sobre os objetos@ e os signos ?criado para regular asa!6es sobre o psi(uismo@-

      Para %&gots'&, o sujeito n"o 8 apenas ativo, mas interativo, por(ue formacon$ecimentos e se constitui a partir das rela!6es interpessoais- A na troca comoutros sujeitos e consigo próprio (ue se v"o internaliando con$ecimentos, pap8is

    e fun!6es sociais, o (ue permite a forma!"o de con$ecimentos e da própriaconsciBncia, sendo esta, cun$ada na vida social, uma ve (ue as formas culturaisde organia!"o da vida e dos sujeitos $umanos fornecem aos indiv9duos os meios?con$ecimentos, t8cnicas e instrumentos@ e os motivos para suas a!6es-

      0 e=periBncia e o con$ecimento socialmente produidos e acumulados aolongo da $istória, pelas gera!6es precedentes, s"o apropriados pelos sujeitosatrav8s das rela!6es sociais (ue l$es fornecem os recursos s9gnicos mediadores dasa!6es $umanas- O sujeito apropria#se, portanto, do saber socialmente produidoatrav8s das a!6es partil$adas com outros significativos, incorporando#assignifica!6es a elas atribu9das e modificando#as conforme sua vivBncia singular-Estas a!6es, por sua ve, ocorrem em situa!6es tamb8m sociais e $istoricamentedeterminadas-

      0 concep!"o de ser $umano na teoria %&gots'&ana resgata o papel ativo ecriativo do $omem e da cultura, pois o $omem constitui a cultura econcomitantemente 8 constitu9do por ela-

      0 cultura 8 vista por %&gots'& como um produto, ao mesmo tempo, davida social e da atividade social do $omem- 0ssim, ele compreende a cultura comouma pr)tica social resultante das rela!6es sociais próprias de uma determinadasociedade e tamb8m como um produto do trabal$o social- 0 naturea da culturaest) relacionada com o car)ter duplamente instrumental, t8cnico e simbólico daatividade $umana- Cesta forma, podemos dier (ue para %&gots'&, a cultura 8 atotalidade das produ!6es $umanas, sejam elas, t8cnicas, art9sticas, cient9ficas ouorganiadas na forma de institui!6es e pr)ticas sociais-

      E, como essa perspectiva Sócio#4istórica concebe a subjetividadeD Pararesponder essa (uest"o 8 preciso voltar um pouco no tempo e acompan$ar comofoi se constituindo $istoricamente este conceito-

    E como essa perspectiva sócio#$istórica concebe a subjetividadeD Pararesponder essa (uest"o 8 preciso voltar um pouco no tempo e acompan$ar comofoi se constituindo $istoricamente este conceito-

      0 no!"o de sujeito e a constitui!"o da subjetividade emergiram namodernidade no momento $istórico em (ue a psicologia se constitu9a como ciBncia-Esse momento foi marcado por grandes transforma!6es econ7micas, pol9ticas esociais, resultado da mudan!a do modo de produ!"o feudal para o modo deprodu!"o capitalista- Essa mudan!a trou=e para o pensamento moderno uma novaconcep!"o de mundo e de $omem- O $omem passou a ser visto como indiv9duolivre sujeito de sua vida, capa de livre arb9trio e de escol$er o seu lugar nasociedade- /sso se tornou poss9vel uma ve (ue a sociedade capitalista funcionacomo um mercado no (ual todos podem vender e comprar- Essa necessidade deprodu!"o de mercadorias acaba por impor aos $omens sua participa!"o nasociedade como indiv9duos, produtoresconsumidores de mercadorias ?Fon!alves,GHHI@- Essa Bnfase no indiv9duo como sujeito individual, livre, produtorconsumidorpossibilitou (ue a subjetividade pudesse ser pensada como uma e=periBnciaindividual privada, universal e aprofundada- No entanto, o capitalismo em seudesenvolvimento vai revelando (ue liberdades, igualdadediferen!as s"o apenasuma ilus"o- 0ssim, o sujeito afirmado como individual e livre passa a ser ao mesmotempo e contraditoriamente negado- O mesmo momento $istórico (ue possibilitoua Bnfase no indiv9duo e em sua subjetividade contraditoriamente apresentou a

    objetividade como uma necessidade do con$ecimento- O s8culo J/J consolidou ae=periBncia da subjetividade privatiada e, ao mesmo tempo, a crise dessa

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    subjetividade-

    0ssim, a modernidade como fruto de um per9odo $istórico altamente din;mico eprodutivo, fundado em contradi!6es c$eias de possibilidades de supera!"o, n"o sóp6e de forma contraditória a (uest"o da rela!"o entre objetividade e subjetiva!"o,mas de modo igualmente contraditório apresenta as possibilidades de sua

    supera!"o, no mesmo s8culo J/J, com o pensamento dial8tico ?Fon!alves, GHHI,p- KL@- No materialismo $istórico e dial8tico, o $omem só se constitui indiv9duopor(ue 8 social e $istórico- 0o sujeito individual, racional e natural do liberalismoop6e o sujeito social, ativo e $istórico-

    0s contradi!6es $istóricas da realidade material continuam presentes nacontemporaneidade- 0ssim, a c$amada pós#modernidade ou modernidadecontempor;nea apresenta#se como a manifesta!"o $istórica das id8ias (uerepresentam o capitalismo em sua fase atual, o capitalismo tardio- Nessasconcep!6es pós#modernas aparecem id8ias sobre o sujeito e a subjetividade (ueresultam de cr9ticas a concep!6es desenvolvidas na modernidade, mas (ue acabamlevando a uma nega!"o, descaracteria!"o ou mesmo a uma volatilia!"o dosujeito-

      O pensamento pós#moderno rejeita o con$ecimento totaliante, os valoresuniversais, (ual(uer tipo de e=plica!"o causal, id8ias gerais de igualdade, aconcep!"o mar=ista de emancipa!"o $umana geral- Cireciona seus ata(ues a tudo(ue se apro=ima de reducionismo, fundacionismo, essencialismo- 0o inv8s de tudoisso, enfatia a diferen!a, as identidades particulares ?se=o, ra!a, etnia,se=ualidade@, os con$ecimentos particulares, a naturea fragmentada do mundo edo con$ecimento $umano ?reitas, I@-

      Op6e#se ao mar=ismo, criticando nele v)rios aspectos. sua vis"o monol9ticado mundo (ue redu a variada comple=idade da e=periBncia $umana< o modo deprodu!"o como um determinante $istórico< o recon$ecimento da identidade declasse e n"o de outras identidades< a constru!"o social do con$ecimento em lugar

    da constru!"o discursiva da realidade- 2udo isso tem suas implica!6es pol9ticas. osujeito descentrado, as identidades t"o vari)veis, incertas e fr)geis impedem abase para a solidariedade e a!"o coletiva fundamentadas em uma identidade socialcomum ?uma classe@, em uma e=periBncia comum, em interesses comuns-

    2entando compreender a mensagem do pós#modernismo, apontada nospar)grafos anterior, percebo (ue esta recoloca a (uest"o da rela!"o objetividadesubjetividade, mas n"o por sua supera!"o dial8tica e sim por sua nega!"o- +Nega#se : objetividade, j) (ue a realidade 8 cria!"o do signo- E nega#se a subjetividade,ao menos a(uela com poder de criar e modificar a realidade- O sujeito se tornafluido, tamb8m ele se modifica pelo signo ?Fon!alves, GHHI, p-Q@-

    Entendendo (ue tanto as no!6es de sujeito como de subjetividade s"o umproduto $istórico, as possibilidades de contradi!6es podem tamb8m ser

    compreendidas- Para a supera!"o destas contradi!6es da contemporaneidade apsicologia sócio#$istórica apresenta#se, como aconteceu na modernidade, comouma alternativa vi)vel-

    0 psicologia sócio#$istórica (ue tem como fundamento o materialismo $istóricoe dial8tico, compreende o sujeito e a subjetividade como produ!6es $istóricasnuma rela!"o dial8tica com a realidade- Para essa perspectiva teórica as fun!6esmentais superiores s"o uma constru!"o social (ue se realia a partir de um planointersubjetivo (ue 8 transformado em um plano intrasubjetividade- 0ssim, asubjetividade 8 constitu9da atrav8s de media!6es sociais, implicando, portantonecessariamente a rela!"o com um outro, via linguagem-

    *onsubstancia#se na linguagem a s9ntese superadora entre objetividade e

    subjetividade, pois o signo, produto social, criado por um grupo culturalmenteorganiado, designa a realidade objetiva sendo ao mesmo tempo uma constru!"osubjetiva compartil$ada por diferentes indiv9duos atrav8s da atribui!"o de

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    significados e tamb8m uma constru!"o subjetiva individual (ue se realia pelainternalia!"o- 0 internalia!"o 8 um processo de reconstru!"o interna de umaatividade e=terna- Reconstru!"o essa (ue consiste na apropria!"o do significadoconstru9do socialmente e transformado pelo sujeito num sentido pessoal, portantopróprio- %&gots'& ?II@ concebe o $omem como um ser inserido em sua cultura e

    em suas rela!6es sociais o (ual est) continuamente internaliando formasconcretas de sua atividade interativa- A nesse movimento e=ternointerno,socialindividual, outroseu (ue vai se constituindo a subjetividade $umana comointersubjetividade a partir do significado intercambiado-

    0ssim, procuramos at8 a(ui focaliar sujeito e subjetividade faendo uma leituradesses conceitos no interior da abordagem teórica sócio#$istórica- %amos agoratentar refletir : lu da perspectiva de *iampa como se d) a constitui!"o daidentidade-

    *omo a identidade significa n"o apenas o (ue sou, mas (uem sou situado notempo e no espa!o sociais, ela constitui#se como uma e=periencia cultural, onde apresen!a do outro 8 condi!"o de possibilidade para a constitui!"o e afirma!"o daidentidade en(uanto singularidade- >ogo, a identidade n"o 8 inata e pode ser

    entendida como uma forma sócio#$istórica de individualidade- O conte=to socialfornece as condi!6es para os mais variados modos e alternativas de identidade- Otermo identidade pode, ent"o, ser utiliado para e=pressar, de certa forma, umasingularidade constru9da na rela!"o com outros $omens-

    Para (ue a (uest"o da identidade seja mel$or esclarecida, torna#se necess)riopartir da an)lise de algumas especificidades (ue a constituem- *iampa ?IK@ $)muito tem se dedicado ao estudo da identidade, norteado por uma concep!"osócio#$istórica de $omem- Para ele, a compreens"o da identidade e=ige (ue setome como ponto de partida a representa!"o da identidade como um produto, paraent"o analisar seu próprio processo de constru!"o- Por e=emplo, : pergunta +(uemsou euD seria insatisfatória para a configura!"o de uma concep!"o sobreidentidade, uma ve (ue capta somente o aspecto representacional da no!"o de

    identidade ?en(uanto produto@, dei=ando de lado seus aspectos constitutivos deprodu!"o-

    Para mel$or compreender a identidade en(uanto processo, cujo movimento 8 oaspecto central, deve#se levar em considera!"o o seu car)ter dial8tico- Nadial8tica, onde o movimento 8 uma caracter9stica inerente a todas as coisas e estasnecessitam ser consideradas em sue devir, a naturea e a sociedade devem servistas como elementos (ue est"o em constante transforma!"o- 0ssim, como foidito (ue o movimento 8 uma caracter9stica inerente a todas as coisas, a identidadea9 se inclui- +/dentidade 8 movimento, 8 desenvolvimento do concreto--- 8metamorfose ?*iampa, I p-K@- >ogo, ao inv8s de se perguntar como aidentidade 8 constru9da, seria mais sensato (uestionar como vai sendo constru9da-Seria mais correto abord)#la en(uanto processo de identifica!"o, e n"o apenasen(uanto produto-

    A no nascimento (ue a plasticidade, ou possibilidades, apresentam#se em suaplenitude, pois ao nascer, o sujeito encontra um mundo j) constitu9do e sobre elelan!am#se as e=pectativas da sociedade- O $omem, en(uanto ser ativo, apropria#se da realidade social, atribuindo um sentido pessoal :s significa!6es sociais- Cadasas condi!6es objetivas, as e=pectativas da sociedade, bem como as e=pectativasinternaliadas pelo próprio $omem, a identidade vai sendo constru9da numconstante processo de vir a ser-

     +Somos personagens de uma $istória (ue nós mesmos criamos, faendo#nosautores e personagens ao mesmo tempo- Esta frase de *iampa ?I@ pode noslevar a compreender (ue a identidade implica uma multiplicidade de pap8is bem

    como um universo de personagens j) e=istentes e de outros ainda poss9veis, ondea personagem ora confunde, ora se diferencia do papel, visto (ue o sujeito n"o

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    apenas absorve passivamente o mundo social ?com suas institui!6es, pap8is eidentidades@ mas apropria#se dele de maneira ativa, ou seja, cria sentido para omundo em (ue vive- O mundo objetivo 8 apreendido com plena significa!"osubjetiva, atribuindo#l$es sentidos : realidade objetiva- A no desenvolvimento deatividades (ue o $omem vai construindo sua $istória- 2ra!a camin$os muda sua

    rota, altera sua +pr8#destina!"o pelas a!6es (ue realia junto a outros $omens-Por isso, deve ser visto como +se faendo, e n"o como algo +feito, +acabado-

     

    #efer$ncias %iblio&r'ficas:

    •  RE/20S, M-2-0- 1a'$tin e a Psicologia- /n araco et alii ?org-@ (i'lo&oscom %a)htin- *uritiba. Editora UPR, I, p- IQ#I-

     • 

    FONT0>%ES, M-F-M- * +sicolo&ia como ci$ncia do sujeito e dasubjetividade: a historicidade como noção b'sica- /n 1oc', 0 M- 1- et alii?org-@Psicologia sócio#$istórica- S"o Paulo. *orte, GHHI, p- L#QG-

    •    - * +sicolo&ia como ci$ncia do sujeito e da subjetividade: odebate +s-moderno- /n 1oc', 0 M- 1- et alii ?org-@ Psicologia sócio#$istórica-S"o Paulo. *orte, GHHI, p- QL#L-

    •  %VFO2S5V, >- S- * formação social da mente- S"o Paulo. Martins ontes,II-

    ublicado em /0/112