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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS VANESCA PETRACCA ABDALA DE ARRUDA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL REFRATÁRIA: MANEJO CLÍNICO OU APENDICOSTOMIA? CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

VANESCA PETRACCA ABDALA DE ARRUDA

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL REFRATÁRIA: MANEJO CLÍNICO OU APENDICOSTOMIA?

CAMPINAS

2018

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VANESCA PETRACCA ABDALA DE ARRUDA

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL REFRATÁRIA: MANEJO CLÍNICO OU APENDICOSTOMIA?

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Ciências, na área de concentração em Saúde da Criança e do Adolescente.

ORIENTADORA: PROFA. DRA. ELIZETE APARECIDA LOMAZI ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA VANESCA PETRACCA ABDALA DE ARRUDA E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. ELIZETE APARECIDA LOMAZI.

CAMPINAS

2018

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BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO VANESCA PETRACCA ABDALA DE ARRUDA

Orientador (a) PROF(A). DR(A). ELIZETE APARECIDA LOMAZI

MEMBROS:

1. PROF(A). DR(A). ELIZETE APARECIDA LOMAZI

2. PROF(A). DR(A). MAURO BATISTA DE MORAIS

3. PROF(A). DR(A). GABRIEL HESSEL

Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: 30 de julho de 2018

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Dedicatória

Ao meu pai FAUAZ (in memorian), homem simples, observador da vida e um

grande conselheiro. Faz muita falta para nós!

Á minha amada mãe CORDÉLIA que até hoje nos lembra que as prioridades

da vida são Deus, a saúde, uma boa alimentação e nossa formação.

Ao meu marido UBIRATAN, meu amor e companheiro, sempre presente com

sua alegria contagiante.

Aos meus filhos MATEUS, MARIA JÚLIA e RAFAEL, estímulos diários para eu

enfrentar novos desafios.

À minha querida irmã ANDRÉA, minha maior amiga!

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Agradecimentos

A DEUS, que através da Sua graça tem me abençoado e capacitado todos os

dias de minha vida.

A Prof. Dra. ELIZETE APARECIDA LOMAZI, com uma capacidade ímpar é

exemplo de professora: me estimulou a pensar, me encorajou e possibilitou a

realização desse sonho. Muito obrigada!

Á todos PROFESSORES da Gastroenterologia Hepatologia e Nutrição

Pediátrica da UNICAMP, foram anos de muito aprendizado.

À disciplina de CIRURGIA PEDIÁTRICA da UNICAMP que se empenharam em

melhorar a qualidade de vida dos nossos pacientes.

Aos meus AMIGOS PEDIATRAS DE PIRACICABA, que me ajudaram tanto

nesses anos.

À MARTA minha funcionária há 6 anos, tem sido a segunda mãe dos meus

filhos nas minhas ausências.

Aos PACIENTES do Ambulatório da Gastroenterologia Hepatologia e Nutrição

Pediátrica da UNICAMP, que com sua ajuda gratuita permitiram esse estudo

nos fortalecendo como profissionais.

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“Eu dormia e sonhava que a vida era alegria. Despertei e vi que a

vida era serviço. Servi e aprendi que o serviço é alegria.

Só Deus é o Caminho mas você

pode indicá-lo aos outros.

Só Deus é a luz, mas você pode fazê-la brilhar aos

olhos de seu irmão.

Só Deus é a vida, mas você pode restituir aos outros

o desejo de viver.

Só Deus basta a Si mesmo, mas Ele preferiu contar com

você.”

(autor desconhecido)

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RESUMO

Objetivos: Comparar a evolução clínica em pacientes com constipação intestinal funcional refratária de acordo com padrões de trânsito colônico definidos por cintilografia e tipo de terapêutica instituída: laxativos orais e enemas anterógrados via apendicostomia ou laxativos orais e enemas via retal. Métodos: Estudo retrospectivo, incluiu 28 pacientes, mediana de idade: 7,9 anos (2,4-11), acompanhados em ambulatório terciário. Constipação intestinal funcional refratária foi definida como manutenção de incontinência fecal retentiva após seguimento mínimo de 12 meses, momento em que foi proposta a realização de apendicostomia. Dezessete pacientes optaram pelo procedimento cirúrgico. Desfechos considerados: 1. Persistência da incontinência fecal retentiva e necessidade de enemas 2. Desaparecimento da incontinência fecal retentiva, com enemas e 3. Presença de evacuações espontâneas, regulares e ausência de incontinência fecal retentiva. Resultados: Após o diagnóstico de refratariedade todos pacientes realizaram estudo cintilográfico para avaliação do padrão de trânsito colônico, sendo 14 com padrão tipo retenção distal e 14 com padrão de trânsito colônico lento. Aos 6 e aos 12 meses, somente pacientes que realizaram apendicostomia apresentaram controle da incontinência fecal retentiva realizando enemas anterógrados, 11/17 e 14/17, respectivamente, p=0,001 e p=0,001. Aos 24 meses, a frequência de controle da incontinência fecal retentiva, com uso de enemas foi superior nos operados, 13/17, nos pacientes em tratamento clínico 3/11 alcançaram esse controle, p=0,005. Um paciente em cada grupo abandonou o seguimento. Na avaliação final, presença de evacuações espontâneas foi observada em 9/16 operados e em 3/10 tratamento clínico, p=0,04, após medianas de tempo de seguimento de 2,6 e 3 anos, respectivamente, p=0,40. Ocorreram 42 complicações cirúrgicas em 14/17 pacientes. O tipo de trânsito colônico não foi associado à resposta terapêutica. Conclusão: A apendicostomia, embora associada a elevada frequência de complicações, controlou a incontinência fecal retentiva de maneira mais precoce e frequente que o tratamento clínico. A escolha de qualquer um dos métodos deverá caber à família, após adequada informação sobre riscos e benefícios de cada alternativa. Estudos de padrões de trânsito colônico não parecem ser indicativos para escolha terapêutica clínica ou cirúrgica.

PALAVRAS-CHAVE: Constipação intestinal; enema; tratamento; crianças;

adolescentes; incontinência fecal.

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ABSTRACT

Objective: To compare follow-up in patients with functional refractory

constipation while treated with appendicostomy and anterograde enema or with

oral laxatives and retrograde rectal enemas. Methods: Retrospective study has

included 28 patients, 7.9 y (2.4 – 11) followed in a tertiary inpatient pediatric

gastroenterology unit. Functional refractory constipation was defined as

unremitting retentive incontinence after at least 12 months in follow-up under

maximum tolerable dose of oral laxatives and rectal enemas. At this time,

appendicostomy was offered and performed in 17 patients. Outcomes: 1.

Unremitting RI even with oral laxatives and enemas, 2. RI controlled with

enemas and 3. RI controlled with spontaneous evacuation. Results: Outcomes

were recorded at six, 12, 24 months after refractory constipation diagnosis and

also at the end of follow-up (Median: 2.6 and 3 y, respectively, in

appendicostomy and clinical groups, p=0.40). At six- and 12-month follow-up

evaluation, only operated patients had controlled retentive incontinence, 11/17

and 14/17, respectively, p=0.001 and p=0.001. At 24 months, frequency of

controlling of the retentive incontinence was higher in appendicostomy group:

13/17, and 3/11 patients in clinical group, p=0.005. One patient in each group

left follow up. Regular spontaneous evacuation, without retentive incontinence,

were observed in 9/16 operated and in 3/10 clinical group, p=0.04, after median

follow-up of 2.6 and 3 years, respectively, p = 0.40. Surgical complications, 42

episodes, were reported in 14/17 patients. Colonic transit patterns were not

associated to outcomes in groups operated or clinical therapy. Conclusion: Appendicostomy, despite associated quite often to complications, controlled

retentive incontinence earlier and more commonly than clinical therapy. Parents

of children with refractory constipation should be informed on risks and

advantages of clinical and surgery therapy to better choosing therapeutic

alternative. Colonic transit studies seem not be used to therapeutic option.

Keywords: constipation; enema; therapeutics; child; adolescent; fecal

incontinence.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1. ESTUDO COM MARCADORES RADIOPACOS PARA DETERMINAÇÃO DO TEMPO

DE TRÂNSITO INTESTINAL. ..............................................................................22

FIGURA 2. DISTRIBUIÇÃO DO RADIOFÁRMACO NO INTESTINO AVALIADO POR

CINTILOGRAFIA EM 6, 24, 30 E 48 HORAS DE EXAME, MOSTRANDO PADRÕES DE

TRÂNSITO INTESTINAL. ...................................................................................23

FIGURA 3. TÉCNICA CIRÚRGICA DA APENDICECOSTOMIA IDEALIZADA POR MALONE. ...24

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL EM

NEONATOS E CRIANÇAS ABAIXO DE QUATRO ANOS DE IDADE. .............................16

TABELA 2. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL EM

CRIANÇAS ACIMA DE 4 ANOS DE IDADE E ADOLESCENTES. .................................16

TABELA 3. MEDICAÇÕES USADAS NA FASE DE DESIMPACTAÇÃO FECAL EM PACIENTES

COM CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL. ....................................................18

TABELA 4. MEDICAÇÕES USADAS NA FASE DE MANUTENÇÃO EM PACIENTES COM

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL. ............................................................19

TABELA 5. DISTRIBUIÇÃO DOS DADOS DEMOGRÁFICOS DE 28 PACIENTES,

CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O TIPO DE TRÂNSITO COLÔNICO: RD (N=14) OU

TCL (N=14). ................................................................................................32

TABELA 6. DISTRIBUIÇÃO DOS DADOS DEMOGRÁFICOS DE 28 PACIENTES,

DIAGNOSTICADOS COM CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL REFRATÁRIA E

CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O TIPO DE TRATAMENTO: APENDICOSTOMIA

(N=17) OU TRATAMENTO CLÍNICO (N=11). ......................................................33

TABELA 7. DISTRIBUIÇÃO DE OCORRÊNCIA DAS COMPLICAÇÕES EM 17 PACIENTES QUE

REALIZARAM APENDICOSTOMIA, MEDIANA DO TEMPO DE APRESENTAÇÃO E

NECESSIDADE DE REABORDAGENS CIRÚRGICAS. ..............................................35

TABELA 8. SINTOMAS CLÍNICOS NAS AVALIAÇÕES REALIZADAS AOS 6, 12 E 24 MESES

DE TRATAMENTO E NA AVALIAÇÃO NO FINAL DO REGISTRO DE SEGUIMENTO, EM 28

PACIENTES DISTRIBUÍDOS QUANTO AO TIPO DE TRATAMENTO: APENDICOSTOMIA OU

CLÍNICO. .......................................................................................................37

TABELA 9. DESFECHOS SEGUNDO PADRÃO DE TRÂNSITO COLÔNICO ENTRE OS

PACIENTES, DISTRIBUÍDOS QUANTO AO TIPO DE TRATAMENTO: APENDICOSTOMIA E

TRATAMENTO CLÍNICO. ...................................................................................39

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. DESFECHOS DOS PACIENTES EM TRATAMENTO CIRÚRGICO AOS 6, 12, 24

MESES E AVALIAÇÃO FINAL. ............................................................................34

GRÁFICO 2. DESFECHOS DOS PACIENTES EM TRATAMENTO CLÍNICO AOS 6, 12, 24

MESES E AVALIAÇÃO FINAL. ............................................................................36

GRÁFICO 3. PORCENTAGEM DE PACIENTES COM INCONTINÊNCIA FECAL NAS

AVALIAÇÕES REALIZADAS AOS 6, 12, 24 MESES E NA AVALIAÇÃO FINAL, APÓS

ESCOLHA DO TRATAMENTO: APENDICOSTOMIA (N=17) OU TRATAMENTO CLÍNICO

(N=11). .......................................................................................................38

GRÁFICO 4. PORCENTAGEM DE PACIENTES COM HABITO INTESTINAL REGULAR, SEM

INCONTINÊNCIA FECAL E SEM MEDICAÇÕES DURANTE OS TEMPOS 6, 12, 24 MESES

E NA AVALIAÇÃO FINAL, APÓS ESCOLHA DO TRATAMENTO: APENDICOSTOMIA OU

TRATAMENTO CLÍNICO. ...................................................................................38

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

NASPGHAN Sociedade Norte Americana de Gastrenterologia Pediátrica,

Hepatologia e Nutrição

ESPGHAN Sociedade Europeia de Gastrenterologia Pediátrica, Hepatologia e

Nutrição

CIF constipação intestinal funcional

IFR Incontinência fecal retentiva

CIFR constipação intestinal funcional refratária

PEG polietilenoglicol

RD retenção distal

TCL trânsito colônico lento

HAPCs contrações de propagação de alta amplitude

CP ondas de contração de propagação pan colônicas

EA enemas anterógrados

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SUMÁRIO

1- Introdução .................................................................................. 15

2- Objetivos ................................................................................... 26

3- Casuística e Métodos ................................................................. 27

4- Resultados ................................................................................. 32

5- Discussão................................................................................... 40

6- Referências bibliográficas .......................................................... 53

7- Anexos ....................................................................................... 63

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1. INTRODUÇÃO

Constipação intestinal caracteriza-se, independente da frequência

das evacuações semanais, pela eliminação de fezes ressecadas, em cíbalos,

na forma de seixos ou cilíndricas com rachaduras, com dor ou esforço durante

a passagem das fezes pelo canal anal ou pela presença de fezes volumosas

que entopem o vaso sanitário, mesmo que esporadicamente, ou pode ser

caracterizada quando as evacuações ocorrem em uma frequência menor que 3

vezes na semana. Será considerada crônica se sintomas persistirem por mais

que duas semanas (1, 2).

A constipação intestinal crônica classifica-se como orgânica quando

for secundária a doença metabólica (hipercalemia), neurogênica (doença de

Parkinson, esclerodermia, Doença de Hirschsprung, displasia neuronal

intestinal), endócrina (hipotireoidismo, diabetes), malformação anatômica

(estenose anal, ânus imperfurado), pós-cirurgia (episiotomias com lesão de

plexo anal) e, ainda, decorrente de efeito de fármacos (metilfenidato, fenitoína,

imipramina, fenotiazida, antiácidos e medicamentos contendo codeína) mas,

em 90% das crianças será classificada como uma doença funcional (3).

A constipação intestinal funcional tem uma evolução superior a 1 mês

de duração, em que a determinação da condição não pode ser associada a

anormalidades identificáveis com o uso dos instrumentos laboratoriais

disponíveis na prática clínica e seu diagnóstico é realizado através de critérios

que incluem manifestações clínicas (4, 5).

Propostas para definir o conjunto de sintomas que permitam o

diagnóstico da CIF têm sido apresentadas em várias diretrizes diagnósticas,

entre elas, os critérios de Roma, os consensos de Paris e de Boston, as

diretrizes da Sociedade Norte Americana de Gastrenterologia Pediátrica,

Hepatologia e Nutrição (NASPGHAN) e as da Sociedade Europeia de

Gastrenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (ESPGHAN) (2, 4-7).

Os critérios de Roma consistem no instrumento mais comumente

utilizado para alocação de sujeitos com constipação intestinal funcional em

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ensaios clínicos. Em maio de 2016 foi publicada a 4ª versão desse critério, e 3ª

versão do critério para diagnóstico das doenças funcionais em crianças (4, 5).

Os critérios diagnósticos para CIF estão apresentados nas tabelas 1 e 2.

Tabela 1: Critérios diagnósticos para constipação intestinal funcional em neonatos e crianças abaixo de quatro anos de idade.

Devem estar presentes dois ou mais dos seguintes sintomas, ocorrendo pelo menos uma vez por semana e há pelo menos um mês em crianças até quatro anos de idade:

- Duas ou menos evacuações por semana

- Presença de postura retentiva ou excessiva retenção de fezes

- Dor abdominal

- Fezes calibrosas

- Grande massa fecal no reto

Em crianças que adquiriram controle esfincteriano ainda devem ser observadas:

- Pelo menos um episódio na semana de incontinência fecal

- Presença de fezes calibrosas que podem obstruir o vaso sanitário

Tabela 2. Critérios diagnósticos para constipação intestinal funcional em crianças acima de 4 anos de idade e adolescentes.

Devem estar presentes dois ou mais dos seguintes sintomas, ocorrendo pelo menos uma vez por semana e há pelo menos um mês:

- Duas ou menos evacuações no vaso sanitário por semana

- Pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana

- História de postura retentiva ou excessiva retenção voluntária de fezes

- Dor abdominal

- Presença de grande massa fecal no reto

- História de fezes calibrosas que podem obstruir o vaso sanitário

Após avaliação clínica, os sintomas serão insuficientes para diagnóstico de Síndrome do Intestino Irritável ou qualquer outra condição médica.

Comparada à versão anterior, os critérios de Roma III de 2006, a única

mudança foi redução da duração dos sintomas de dois para um mês para

preenchimento do critério (8, 9). As justificativas para firmar o diagnóstico com

menor duração dos sintomas foram harmonizar o critério com diretrizes mais

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recentes da ESPGHAN e da NASPGHAN e evitar atrasos no diagnóstico já que

estão relacionados com pior prognóstico quanto à resposta terapêutica (7).

A prevalência da constipação intestinal funcional na faixa etária

pediátrica é alta em todo o mundo e acomete entre 0,7% a 29,8%,

respectivamente, em crianças avaliadas em comunidades e pela busca ativa de

cuidados em serviços de saúde de diferentes graus de complexidade (10). Os

estudos realizados no Brasil, em ambulatórios de pediatria, unidades básicas

de saúde, escolas e em comunidades identificaram prevalências variando de

14,7% a 38,4% (11-15). Na infância, a prevalência é semelhante entre os sexos

e nos adolescentes há um predomínio do sexo feminino, como visto nos

adultos (10).

Apesar das divergências quanto aos critérios para o diagnóstico da CIF,

a orientação para o seu tratamento é concordante entre as diretrizes, tento

como objetivo a eliminação confortável e regular de fezes pastosas. O

tratamento consiste na remoção da impactação fecal, se presente, modificação

comportamental para a criança, mudanças na dieta e terapia farmacológica de

manutenção.

A remoção da impactação fecal é conduta inicial e é realizada com uso

de medicação via oral em doses altas ou enemas retais. Esse procedimento

deve ser repetido sempre que houver recorrência clínica.

Após a remoção da impactação, é iniciada a terapia de manutenção que

consiste no uso de medicação via oral com doses adequadas a cada paciente.

Para fase de remoção da impactação fecal ou fase de manutenção, o

polietilenoglicol é atualmente a medicação de escolha (4, 5). Posologia do PEG

e outras medicações indicadas para o tratamento da remoção da impactação

fecal ou de manutenção estão apresentadas nas tabelas 3 e 4.

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Tabela 3. Medicações usadas na fase de desimpactação fecal em pacientes com constipação intestinal funcional.

Medicação Dosagem Oral Osmóticos Polietilenoglicol 3550 1,5 g/kg/dia Polietilenoglicol solução *& 25 ml/kg via sonda nasogástrica Citrato de Magnésio solução& < 6 anos: 2 a 4 ml/kg/dia 6 a 12 anos: 100 a 150 ml/dia > 12 anos: 150 a 300 ml/dia Estimulantes do trato digestório Senna & Solução (8,8mg/5 ml) 2 a 6 anos de idade: 2,5 a 7,5 ml/dia 6 a 12 anos de idade: 5 a 15 ml /dia Comprimidos (8,6 mg/comprimido) ½ a 1 e ½ cp ao dia 6 a 12 anos de idade: 1 a 2 cp/dia Bisacodil (Ducolax) > 2 anos: 5 a 15 mg (1 a 3 cp) dose única Lubrificantes

Óleo Mineral 15 a 30 ml por dia por ano de idade por dia Medicação de uso retal Enemas (uma vez ao dia) Salina 5 a 10 ml/kg Óleo Mineral 15 a 30 ml por ano de idade até 240 ml Fosfatados de sódio 2 a 12 anos de idade: 66 ml do enema (NÃO USAR em MENORES DE 2 ANOS) Supositórios (uma vez ao dia) Bisacodil >2 anos: 5 a 10 mg (1/2 a 1 supositório) Glicerina * ½ a 1 supositório infantil >6anos: supositório adulto Outros Desimpactação manual, sob anestesia geral *pode ser usado em menores de 1 ano de idade & não disponível no Brasil

Kg: kilo, g: grama, mg: miligrama Cp: comprimido

Fonte: Nurko S, Zimmerman LA. Evaluation and treatment of constipation in children and adolescents. Am Fam Physician. 2014;90(2):82-90.

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Tabela 4. Medicações usadas na fase de manutenção em pacientes com constipação intestinal funcional.

Medicações Dosagem Efeitos adversos Osmóticos Polietilenoglicol 3550 * & 0,5 a 0,8 g/kg até 17 g/dia flatulência e anafilaxia Lactulose 1ml/kg/dia, uma a duas vezes

ao dia Cólica e flatulência

Hidróxido de Magnésia <2 anos: 0,5 ml/kg/dia 2 a 5 anos: 5 a 15 ml / dia 6 a 11 anos: 15 a 30 ml /dia >12 anos: 30 a 60 ml /dia

Lactentes são suscetíveis a intoxicação do magnésio (hipermagnesemia, hiperfosfatemia e hipocalemia)

Sorbitol (suco de ameixa)& 1 a 3 ml/kg/dia, uma a duas vezes ao dia

Similar a lactose

Estimulantes Senna & # Solução (8,8 mg/5ml) Comprimidos (8,6mg/cp)

- 1 mês a 2 anos de idade: 1,25 a 2,5 ml ao deitar (<5 ml por dia), 8,8mg/dia - 2 a 6 anos: 2,5 a 3,75 ml (ou ½ cp ao dia) - 6 a 12 anos: 5 a 7,5 ml ou 1 cp ao dietar - >12 anos: 10 a 15 ml ou 2 cp ao deitar

Hepatite idiosincrásica, colite melânica, osteopatia hipertrófica, nefropatia analgésica

Bisacodil (ducolax) > 2 anos: 5 a 15 mg (1 a 3 cp) 1x ao dia

Dor abdominal, diarreia, hipocalemia, alteração na mucosa retal, proctite, urolitíase (1 caso descrito)

Lubrificantes Óleo Mineral Crianças: 5 a 15 ml por dia

Adolescentes: 15 a 45 ml por dia

Pneumonia lipoídica se aspirado, reação de corpo estranho no intestino, pode interferir com absorção de substâncias lipossolúveis.

*primeira linha de tratamento & pode ser usado em < de 1 ano # Não disponível no Brasil Kg: kilo, g: grama, mg:miligrama cp: comprimido

Concomitantemente, as famílias são aconselhadas a mudanças de

hábitos alimentares como adequação do consumo de fibras e ingestão de

líquidos e também para as crianças que ainda não desenvolveram o controle

do esfíncter anal, as famílias são orientadas a retardar o treino esfincteriano até

resolução dos sintomas e as que possuem controle esfincteriano são

incentivadas a um treino da evacuação, devendo permanecer por 5 a 10

minutos sentadas no vaso sanitário no período pós prandial (16).

As medidas de desfecho de sucesso terapêutico da constipação

intestinal funcional são heterogêneas nos ensaios clínicos (17). Metanálises e

Fonte: Nurko S, Zimmerman LA. Evaluation and treatment of constipation in children and adolescents. Am Fam Physician2. 2014;90(2):82-90.

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revisões sistemáticas realizadas para avaliar a eficácia das diferentes medidas

apontam para o fato de que não há definição consensual ou protocolos

validados, baseados em relatos de pacientes, sobre o que configuraria um

desfecho favorável. Considerando a possibilidade de utilização de medidas de

desfecho individualizadas entre os estudos clínicos, verifica-se que cerca de

50% dos pacientes que aderem ao tratamento recomendado pelas diretrizes

consensuais da ESPGHAN e NASPGHAN apresenta resolução dos sintomas

que lhes permita a descontinuidade dos laxativos após um ano de tratamento.

A maioria das crianças com CIF requer tratamento prolongado e apresenta

recidivas frequentes (18, 19).

Em 30% das crianças com constipação intestinal funcional, o paciente

não recupera a capacidade de evacuar espontaneamente, os episódios de

incontinência fecal são recorrentes, doses máximas de laxativos são ineficazes

e há refratariedade mesmo com uso regular de enemas aplicados via retal,

podendo a manifestação clínica atingir a vida adulta (7, 20, 21). Nessas

crianças com resposta insatisfatória à terapia proposta pelos consensos, sendo

afastada uma causa orgânica que justifique os sintomas, a condição tem sido

denominada de constipação intestinal crônica resistente ao tratamento,

constipação intestinal funcional refratária ou intratável, ou constipação intestinal

crônica idiopática (7, 20, 22).

Na constipação intestinal funcional refratária são incluídas, portanto,

crianças que não respondem ao manejo clínico. Até 2014, não havia uma

especificação quanto ao tempo de sintomas para a sua definição. Desde então,

a NASPGHAN e a ESPGHAN definiram essa condição, baseada na opinião de

especialistas, como a persistência de sintomas por pelo menos 3 meses

considerando um tratamento convencional adequado e uso de doses máximas

toleráveis de laxativos osmóticos (7). O conjunto dos estudos tem considerado

a constipação intestinal refratária após 2 ou 3 anos de seguimento clínico,

período em que deve ser assegurada a adesão completa ao tratamento (20,

23).

Clinicamente essas crianças permanecem longos períodos sem evacuar,

sendo frequente a percepção de massa abdominal ao exame físico, piora da

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incontinência fecal pela retenção excessiva de fezes e quando conseguem

evacuar as fezes podem apresentar-se ressecadas ou pastosas.

A CIFR representa um grupo complexo e heterogêneo de pacientes e

considerando que não é possível identificar nesses pacientes, malformações

anorretais, doenças metabólicas ou endócrinas, uso de medicações ou

procedimentos cirúrgicos que justifiquem a persistência dos sintomas, atribui-se

a essa condição uma etiologia funcional.

Nas últimas duas décadas, foi descrito nesses pacientes, alterações no

padrão do trânsito colônico, o que poderia justificar uma causa primária para a

persistência dos sintomas independente da otimização do tratamento clínico.

Com a utilização de marcadores radiopacos ou radiofármacos, dois padrões

disfuncionais de trânsito colônico foram descritos: retenção distal (RD) e

trânsito colônico lento, contudo, em 20% dos casos refratários ao tratamento, o

tempo de trânsito foi normal (20).

Os marcadores radiopacos são anéis plásticos colocados em uma

cápsula a ser deglutida. A interpretação do exame é baseada na identificação

dos marcadores em três regiões do intestino: direita, esquerda ou

retossigmoide. Realiza-se uma radiografia simples de abdômen cinco dias após

a ingestão da cápsula. Considera-se TCL se houver uma retenção de mais de

20% dos marcadores no quinto dia do exame (maior que 120 horas) no cólon

direito e RD se os marcadores permanecerem na região do retossigmoide após

mesmo período. Alternativamente, o exame pode ser realizado com a ingestão

das cápsulas com anéis de vários formatos e em dias subsequentes e a

radiografia realizada em intervalo de três dias (Fig. 1) (24-26).

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22

Figura 1. Estudo com marcadores radiopacos para determinação do tempo de trânsito intestinal.

O estudo cintilográfico do trânsito intestinal é a forma mais acurada e

com menor radiação para avaliar o tempo do trânsito colônico. Após o paciente

receber a dose do radiofármaco por via oral, imagens seriadas são realizadas e

o tempo para o radiofármaco atingir o reto é registrado. No TCL, o

radiofármaco permanece disperso no cólon proximal por mais de 48 horas e na

RD o radiofármaco estaciona por mais de 48 horas no cólon esquerdo ou

retossigmoide (27, 28). O estudo cintilográfico apresenta inúmeras vantagens

como utilização de dose mais baixa de radiação, permite aquisição de múltiplas

imagens estimando o tempo de esvaziamento gástrico, o tempo de trânsito do

intestino delgado e do colón e ainda, permite identificar o local de

estacionamento do radiofármaco, o que possibilita uma subclassificação do

TCL e também indica o segmento colônico alterado para uma provável

ressecção quando indicada (Fig. 2) (29, 30).

Fonte:

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Figura 2. Distribuição do radiofármaco no intestino avaliado por cintilografia em 6, 24, 30 e 48 horas de exame, mostrando padrões de trânsito intestinal.

Alterações em estudos do padrão colônico, estudos manométricos e

também em biópsias do cólon de pacientes com TCL justificam para alguns

autores considerar a CIFR, uma doença orgânica (20). A literatura ainda

discute se esses achados são a causa ou a consequência de um período muito

prolongado de constipação intestinal, uma vez que pacientes que melhoram da

CIFR também podem apresentar melhora nos resultados desses exames (31,

32).

Fonte: Sutcliffe JR, King SK, Hutson JM, Cook DJ, Southwell BR. Gastrointestinal transit in children with chronic idiopathic constipation. Pediatr Surg Int. 2009;25(6):465-72.

Normal : a refeição atinge o ceco às 6

horas e é evacuada em 30 a 58 horas

Retenção anorretal: até 24 h de estudo, a

maior parte do radiofármaco atingiu o

anorreto onde permanece até 48 h.

Retarde pancolônico: o radiofármaco caminha lentamente pelo cólon

Retarde no trânsito do delgado e grosso: há

radiofármaco no delgado às 6 h (30% do

ingerido). Radioatividade persiste no colon até as 48 h

Retenção isolada no cólon transverso

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24

Com a persistência da refratariedade ao

tratamento clínico, o planejamento

terapêutico para esses pacientes inclui a

consideração de um procedimento cirúrgico,

pois a incontinência fecal retentivas interfere

negativamente no convívio social dos

pacientes e de seus familiares. A qualidade

de vida desses pacientes foi descrita com

sendo inferior a qualidade de vida de

portadores de doença inflamatória intestinal

e doença do refluxo gastroesofágico (33-35).

Entre as opções cirúrgicas disponíveis para CIFR encontram-se os

procedimentos no canal anal, colectomias parciais ou totais, derivação do

trânsito intestinal com realização de ileostomia ou colostomia e confecção de

um estoma na parede abdominal para realização de enemas anterógrados (32,

36).

A miectomia do esfíncter anal interno, realizada em pacientes com

hipertonicidade dessa região, apresentou 30% de sucesso clínico e 11% de

incontinência fecal pós cirurgia (37). Foi descrito também a realização de um

estoma temporário ou permanente para CIFR com resultados satisfatórios em

83 - 95 % dos pacientes. Não foi isento de complicações (10 a 25% dos casos)

como prolapso do estoma, escoriação de pele e adesões, com a possibilidade

de restabelecer o trânsito intestinal em 46% dos pacientes (32, 38). A

ressecção colônica nos pacientes pediátricos teve sucesso em 84% dos casos,

apesar de associar-se a morbidade pós cirúrgica em 17% dos casos e

necessidade de nova cirurgia em aproximadamente 10% dos pacientes (38). É

a última opção terapêutica já que é um procedimento mutilante e irreversível.

Considerando o impacto negativo das derivações intestinais e também a

chance de permanência da incontinência fecal nas grandes ressecções

intestinais, a construção de um estoma para a realização dos EA tem sido a

escolha inicial para esses pacientes (32). Essa técnica cirúrgica foi elaborada

Malone PS, Ransley PG, Kiely EM. Preliminary report: the antegrade continence enema. Lancet. 1990;336(8725):1217-8.

Figura 3. Técnica cirúrgica da apendicecostomia idealizada por Malone.

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25

por Malone em 1990 para tratamento dos constipados crônicos com causas

orgânicas associadas ou CIFR (39).

Baseando-se nos princípios prévios de Mitrofanoff que havia descrito a

criação de um canal cateterizável para pacientes com bexiga neurogênica,

Malone idealizou a criação de um estoma com a utilização do apêndice cecal

fixando-o na parede abdominal – apendicecostomia (fig. 3) (39, 40). Essa

estomia seria de fácil cateterização sendo possível a infusão de soluções

diretamente no cólon direito com o objetivo de esvaziar o intestino e evitar a

incontinência fecal.

A cirurgia foi amplamente difundida em todo o mundo com sucesso

clínico entre 33 a 100 % dos casos, mas associada também a muitas

complicações como estenose do estoma, extravasamento de liquido pelo

estoma, dor durante a infusão das soluções, entre outras. As complicações do

procedimento levaram à necessidade de reabordagens cirúrgicas em muitos

pacientes e também trouxeram mudanças na técnica operatória.

Apesar das complicações, essa forma de lavagem do cólon tornou-se

superior aos enemas retrógrados por trazer maior conforto e independência

aos pacientes, principalmente para os adolescentes que se recusam a fazer os

enemas retrógrados, aceitando o desconforto dos episódios recorrentes de

incontinência fecal (34).

Na literatura, há registro de 9 estudos que descrevem o uso dos enemas

anterógrados em corte homogêneas de pacientes com CIR e somente um

estudo é prospectivo. Esses estudos avaliaram um total 340 crianças que

realizaram enemas anterógrados, com sucesso clínico após a cirurgia entre 33

a 100% dos casos considerando vários desfechos como melhora da

incontinência fecal, hábito intestinal regular e melhora da qualidade de vida.

Falha do procedimento foi relatada em 5 a 50% dos casos e complicações

estiveram presentes em 8 a 80% dos pacientes (38). Não há nenhum estudo

brasileiro que descreva a evolução de crianças ou adolescentes que utilizaram

os enemas anterógrados para o tratamento da constipação intestinal funcional

refratária.

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26

2. OBJETIVOS

2.1. GERAL:

Descrever a evolução em longo prazo de pacientes com constipação intestinal

funcional refratária, acompanhados em serviço universitário.

2.2. ESPECÍFICOS:

Descrever os desfechos em longo prazo da evolução de pacientes com

constipação intestinal funcional refratária, acompanhados em serviço

universitário, de acordo com o padrão de trânsito colônico por estudo

cintilográfico.

Determinar desfechos em longo prazo da evolução de pacientes com

constipação intestinal funcional refratária, acompanhados em serviço

universitário, de acordo com a instituição de terapêutica cirúrgica ou

conservadora.

Determinar os resultados do procedimento de apendicostomia (técnica de

Malone modificada) para enemas anterógrados de continência.

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27

3. CASUÍSTICA E MÉTODOS

3.1. DESENHO: Estudo retrospectivo que incluiu crianças e adolescentes,

com constipação intestinal funcional, onde os sintomas preenchiam

critérios diagnósticos do Roma III e que, enquanto acompanhadas no

ambulatório de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital de Clínicas da

Universidade de Campinas, mantiveram a IFR após um mínimo de 12

meses de seguimento sendo considerados refratários ao tratamento. Os

pacientes realizaram cintilografia para avaliação do padrão de trânsito

colônico e as apendicostomias foram realizados no período de junho de

2010 a julho de 2014.

Foram avaliados:

(1) Sintomas clínicos de acordo com o padrão de trânsito colônico e opção

terapêutica

(2) Aceitação da cirurgia de apendicostomia

(3) Comparação da melhora dos sintomas aos 6, 12, 24 meses e ao final do

seguimento, de acordo com a opção terapêutica instituída:

a. Persistência da incontinência fecal retentiva, com utilização de

enemas

b. Desaparecimento da incontinência fecal retentiva, com utilização

de enemas

c. Aquisição de hábito intestinal espontâneo e regular

(4) Frequência de complicações do procedimento cirúrgico

(5) Comparação dos desfechos descritos no item 3, avaliados no final do

estudo, de acordo com tipo de trânsito colônico - TCL ou RD

3.1.1. Critérios de inclusão:

Foram incluídos nesse estudo, pacientes com quadro clínico evolutivo

compatível com a definição de CIFR utilizada no serviço, sem sinais clínicos de

alarme que justificasse a investigação de causas orgânicas (7, 41) e em que os

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28

responsáveis e os pacientes aceitaram participar do estudo, assinando o

Termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO 1).

Constipação intestinal funcional refratária foi caracterizada por não

resposta terapêutica ou insucesso em estabelecer evacuações espontâneas,

com persistência de incontinência fecal retentiva, após 12 meses de aplicação

do protocolo utilizado em nosso ambulatório:

1. Avaliação com retornos sistematizados e o comparecimento aos

retornos controlado, sendo questionada a obtenção da medicação pela família,

(recursos próprios ou doação), inquerido sobre eventuais efeitos colaterais da

medicação e orientado quanto a não modificação nas doses das medicações

sem consulta médica. A presença de impactação fecal era considerada pelo

relato de incontinência fecal retentiva na anamnese, presença de massa fecal

na palpação do abdome e toque retal. Na impossibilidade de realização de

toque retal, por não consentimento do paciente, radiografia simples de abdome

em AP era solicitada. Confirmada a impactação fecal, o paciente era admitido

ao hospital universitário.

2. Internação para remoção da impactação fecal com realização de

enemas retais com solução glicerinada a 12%, 20 ml/Kg, 3 vezes ao dia por 3 a

5 dias, a depender da avaliação clínica do débito dos enemas. Avaliação

radiológica era realizada antes da alta hospitalar para confirmar a

desimpactação fecal.

3. Ingestão de doses máximas de laxativos osmóticos, prescritos de

acordo com os protocolos de consenso das sociedades americana e europeia

de Gastroenterologia Pediátrica e Nutrição (7), por pelo menos 12 meses,

período em que a adesão à terapia foi verificada sistematicamente, por

anamnese, em consultas mensais, sendo verificado que em um ou mais

momentos nesse período, o paciente manteve incontinência fecal retentiva.

Doses de hidróxido de magnésio ou lactulose variaram de 1 a 2

mL/kg/dia e as doses de Polietilenoglicol 3350 de 1,4 g/kg/dia. As doses eram

aumentadas progressivamente até que os pacientes apresentassem sintomas

intoleráveis causados pelo efeito osmótico do laxativo, como cólica abdominal,

flatulência, vômito. Como orientação adicional, recomendava-se o consumo

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29

diário de 18 gramas de fibras/dia (meia xícara de FibraMais®, Nestlé, SP,

Brasil) ou de duas colheres de sopa de farelo de trigo batido com banana e

leite.

Em julho de 2015, foram elegíveis e incluídos 28 pacientes e os dados

de seus prontuários foram registrados de acordo com ficha elaborada para

esse fim (ANEXO 2 e 3).

3.1.2. Critérios de exclusão:

Foram excluídos pacientes com constipação intestinal crônica

secundária a causas orgânicas. Para tal exclusão, os pacientes realizaram, por

protocolo, anamnese, exame físico e manometria anorretal.

A manometria anorretal foi realizada com um sistema de perfusão

contínua e um sistema hidráulico pneumático de baixa complacência de

perfusão capilar contínua (Arndorfer, Inc., WI, EUA) interligado com um sistema

computadorizado com o uso de um software comercialmente disponível

(Gastrosoft, Polygram Lower GI, versão 6.4, Windows, Synetics Medical Inc.,

TX, EUA e Dynapack MPX 816, Dynamed, SP, Brasil) e uma sonda

manométrica axial de oito canais (Dynamed Pro-life Technology, produtos

hospitalares, São Paulo, SP, Brasil). Esse exame foi realizado após a

desimpactação retal. Foram considerados os valores normais de manometria

relatados por Kumar et al (42).

3.2. CINTILOGRAFIA DO TRÂNSITO INTESTINAL

Cintilografia para estudo do trânsito intestinal foi realizada em todos os

pacientes. O estudo cintilográfico foi realizado de acordo com protocolo do

serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas da UNICAMP, descrito

previamente (43) . Laxativos foram interrompidos cinco dias antes de

internação hospitalar, agendado exclusivamente para realização do estudo.

Doze horas antes do início do estudo, uma lavagem intestinal via retal era

realizada com infusão de 20 mL/Kg de solução glicerinada a 12%, com

dosagem máxima de 500 mL. No período do estudo, o paciente permanecia

sem medicação e mantinha dieta e atividades normais.

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30

Na manhã do primeiro dia do estudo, era ingerida uma refeição líquida

com 9,25 MBq/Kg (no máximo 370 MBq) de fitato-99mTc diluído em 20 mL de

leite. Foram feitas imagens estáticas da vista anterior do abdômen

imediatamente após a ingestão do contraste radioativo e, depois de duas, seis,

24, 30 e 48 horas da ingestão. Imagens obtidas imediatamente e em duas e

seis horas após a ingestão do radiofármaco foram usadas para avaliar o

trânsito do esvaziamento gástrico e do intestino delgado. Imagens obtidas entre

seis e 48 horas permitiram a avaliação do trânsito intestinal. A análise do

trânsito intestinal teve como base a avaliação visual qualitativa das imagens

obtidas a cada intervalo de tempo e considerando a progressão do

radiofármaco pelo cólon. Dois profissionais de medicina nuclear analisaram as

imagens cintilográficas sem conhecimento das informações clínicas. As

imagens foram agrupadas por análise visual; a classificação foi feita de acordo

com o padrão de distribuição do radiofármaco no cólon nos momentos

referentes as seis, 24, 30 e 48 horas após a ingestão. Dois tipos de padrões

motores de trânsito colônico foram encontrados: trânsito colônico lento,

quando as imagens de 48 horas mostraram grande parte do marcador retido no

cólon proximal e transverso e padrão de retenção distal, em que, 30 horas após

o estudo o radiofármaco havia passado o cólon transverso, e se manteve retido

na região do retossigmoide por, no mínimo, 48 horas de observação.

No período de seguimento, apendicostomia para realização de enemas

anterógrados foi indicada para todos os pacientes com diagnóstico definido de

constipação intestinal refratária, independente das características clínicas

individuais e do padrão de trânsito colônico.

3.3. TÉCNICA OPERATÓRIA

A apendicostomia foi realizada por meio de laparotomia ou laparoscopia.

O apêndice era liberado de quaisquer adesões e trazido até a cicatriz umbilical

onde uma aba de pele era confeccionada na junção entre o apêndice e a pele,

a fim de ampliar o estoma e para que o apêndice pudesse ser cateterizado com

facilidade (44). No pós-operatório, um cateter Foley 10 a 12 French era mantido

no estoma. Todos os pacientes receberam cefazolina no intraoperatório e

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31

cefalexina no pós operatório por 48 horas. O período médio de internação foi

de dois dias. Após duas semanas, a cateterização intermitente era iniciada.

3.4. SOLUÇÔES PARA ENEMAS

3.4.1. ENEMAS VIA APENDICOSTOMIA

Os enemas eram realizados quando evacuações espontâneas não

ocorressem após 48 horas. Solução salina 0,9% ou solução glicerinada 12%

nos volumes de 10 a 20 ml/kg, era infundida com o paciente sentado no

sanitário. Caso apresentassem evacuações espontâneas e não utilizassem a

estomia, os pacientes eram orientados a cateterizar o orifício ao menos uma

vez ao dia, com o objetivo de evitar estenose.

3.4.2. ENEMAS VIA RETAIS

Pacientes que permaneceram em tratamento clínico, foram orientados a

usar enemas retais com solução glicerinada a 12%, 20 ml/Kg e volume máximo

de 500 ml, caso não apresentassem evacuações espontâneas a cada dois

dias.

3.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados foram analisados usando o programa SPSS para Windows

(versão 20.0; SPSS, Chicago. IL). Os valores de idade, duração da constipação

intestinal, o tempo de acompanhamento prévio e após a indicação do

procedimento cirúrgico foram comparados pelo teste de Mann-Whitney,

distribuídos de acordo com o tipo de trânsito colônico e a realização ou não do

procedimento cirúrgico. A análise comparativa do desfecho funcional quanto ao

tipo de tratamento instituído e o padrão de trânsito colônico foi realizada pelo

teste Exato de Fisher. O valor de p < 0,05 foi considerado significativo. Os

dados são apresentados por mediana (variação).

O estudo foi aprovado e autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da

instituição, em 28 de julho de 2015, #: 163.392. CAAE 47138715.9.0000.5404.

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32

4. RESULTADOS

4.1. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

Num período de 5 anos, 28 pacientes com constipação intestinal

funcional refratária foram diagnosticados, 21 do sexo masculino.

4.2. ESTUDO DO TEMPO DE TRÂNSITO COLÔNICO

Todos os pacientes tinham histórico de incontinência fecal retentiva e

realizaram estudo do trânsito colônico por cintilografia. Os pacientes avaliados

apresentaram os dois tipos de padrões de trânsito disfuncionais: RD e TCL.

Não foram identificados pacientes refratários com tempo de trânsito colônico

normal. Na tabela 5, verifica-se que as características clínicas avaliadas foram

semelhantes para os dois padrões de trânsito colônico. O achado de massa

abdominal palpável ao exame físico só esteve presente nos pacientes com

padrão de trânsito tipo RD.

Tabela 5. Distribuição dos dados demográficos de 28 pacientes, classificados de acordo com o tipo de trânsito colônico: RD (N=14) ou TCL (N=14).

Características clínicas Mediana (min - max)

em anos (a)

Total Tipo Trânsito Colônico P*

N=28

RD N=14

8 meninos

TCL N= 14

11 meninos

Idade referida como de início da constipação intestinal funcional

1 (0,08-7)

2 (0,08-7)

0,8 (0,08-7)

0,30

Idade no início na especialidade 7,9 (2,4-11)

8 (2,4-11)

7 (3,0-11)

0,80

Duração da constipação intestinal funcional até encaminhamento ao serviço terciário

5 (1,3-10,6)

4,7 (1,4- 10)

5,6 (1,2-10,5)

0,47

Tempo de seguimento na especialidade até a avaliação final

5,7 (1,7-12)

6,4 (1,6-12)

5,2 (2,0-10)

0,89

Tempo total de constipação intestinal funcional

11,4 (4,3-18,3)

11,7 (4,3-18,3)

11 (6,4-16)

0,81

* Mann-Whitney

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33

4.3. RESULTADOS REFERENTES À OPÇÃO TERAPÊUTICA

Entre os 28 pacientes refratários, 17 optaram pela realização da

apendicostomia e 11 permaneceram em tratamento clínico. Os dados clínicos

dos pacientes quanto ao tipo de tratamento realizado estão apresentados na

tabela 6.

Tabela 6. Distribuição dos dados demográficos de 28 pacientes, diagnosticados com constipação intestinal funcional refratária e classificados de acordo com o tipo de tratamento: Apendicostomia (N=17) ou tratamento clínico (N=11).

Características clínicas Mediana (min - max)

em anos (a)

Total Tipo Tratamento P*

N=28

Apendicostomia N=17

13 meninos

Clínico N=11

9 meninos

Idade referida como de início da constipação intestinal funcional

1 (0,08-7)

1 (0,08-7)

1 (0,08-3)

0,68

Idade no início na especialidade 7,9 (2,4-11)

8,3 (2,5-10,8)

6,7 (2,4-11)

0,70

Duração da constipação intestinal funcional até encaminhamento ao serviço terciário.

5 (1,3-10,6)

5,4 (1,3- 9,7)

5 (2-10,6)

0,62

Tempo total de Constipação intestinal funcional (História pregressa + Serviço Terciário)

11,4 (4,4-18,3)

12 (6,4-18,3)

10,8 (4,4-16)

0,20

Tempo de seguimento na especialidade até a avaliação final

5,7 (1,7-12)

6,4 (2,4-12)

4 (1,7 -7)

0,008

Tempo de seguimento após a opção terapêutica

3,3 (0,7-6)

2,6 (1,4-5)

3 (0,7-6)

0,40

* Mann-Whitney

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34

4.3.1. EVOLUÇÃO GRUPO CIRÚRGICO

Resposta terapêutica após a apendicostomia, avaliada aos 6, 12, 24

meses e ao final deste estudo está representada no gráfico 1.

Gráfico 1. Desfechos dos pacientes em tratamento cirúrgico aos 6, 12, 24 meses e avaliação final.

Após a apendicostomia e o término do período de seguimento registrado

nesse estudo, mediana de 2,5 anos (1,4 - 5,0 anos), com o abandono de um

paciente após 3,6 anos de seguimento no ambulatório, 2/16 pacientes

suspenderam o uso da apendicostomia por estenose da estomia após,

respectivamente, 4 meses e 2,4 anos da realização da cirurgia, voltando a

utilizar enemas retais e persistindo com incontinência fecal, 5/16 permaneciam

realizando enemas por ostomia e estavam sem incontinência fecal, mediana de

tempo após apendicostomia de 5 anos (3 - 5,5 anos) e, finalmente, 9/16 não

utilizavam mais os enemas alcançando desfecho de evacuações espontâneas,

sem incontinência fecal, numa mediana de tempo de 2,2 anos (1,5 – 5 anos).

17

6

32 2

11

1413

5

2

9

0123456789

1011121314151617

0 6 12 24 31

incontinência fecal e enemas sem incontinência fecal, com enemas habito regular

Tempo de tratamento em meses

Núm

ero

de p

acie

ntes

em

tr

atam

ento

cirú

rgic

o

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4.3.1.1 COMPLICAÇÕES DA APENDICOSTOMIA

As complicações apresentadas pelos pacientes que realizaram

apendicostomia estão apresentadas na tabela 7. Ocorreram 42 complicações

entre os 17 pacientes (alguns pacientes tiveram mais de uma complicação) que

resultaram em necessidade de reintervenção cirúrgica em 22 das complicações

e abandono da estomia em 2. Por dificuldades técnicas, em dois pacientes

houve necessidade de reconstrução do estoma do lado D: Left Malone (45). Na

presença de vazamento pelo estoma era realizado a construção de uma

válvula antirrefluxo com re-confecção do estoma. O uso da apendicostomia foi

descontinuado em três situações: um paciente com obesidade mórbida o que

contraindicou reabordagem, o segundo desistiu da reabordagem cirúrgica após

estenose do estoma e o último, abandonou o tratamento após sete

complicações.

Tabela 7. Distribuição de ocorrência das complicações em 17 pacientes que realizaram apendicostomia, mediana do tempo de apresentação e necessidade de reabordagens cirúrgicas.

Complicações

Ocorrência

Número de pacientes

acometidos

Tempo após cirurgia (meses) *

Frequência de reabordagens

cirúrgicas

Estenoses 17 10 5

(2 – 22) 15

Vazamento pela ostomia

15 10 4

(1 – 44) 7

Perfuração de alça intestinal

2 2 Na cirurgia -

Dor com a utilização da

ostomia 1 1 23 -

Tecido de granulação

3 2 1

(0,4 – 4) -

Infecção da ostomia

4 3 3

(2 – 8) -

* meses (mediana, min – máx.)

4.3.1.2 ADESÃO AO PROCEDIMENTO

Em 14/17 pacientes (82,3%) a adesão se manteve mesmo após a

ocorrência de complicações.

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4.3.2 EVOLUÇÃO NO GRUPO TRATAMENTO CLÍNICO

A resposta terapêutica após a decisão pela manutenção do tratamento

clínico, avaliada aos 6, 12, 24 meses e ao final deste estudo estão

representados no gráfico 2.

Gráfico 2. Desfechos dos pacientes em tratamento clínico aos 6, 12, 24 meses e avaliação final.

A mediana de idade dos pacientes no desfecho foi de 10,5 anos (6,8 –

15 anos). Na avaliação final, após abandono de um paciente que acompanhou

no ambulatório por 2,1 anos, 6/10 pacientes mantinham incontinência fecal

após seguimento por 2,3 anos (2-5 anos), 1/10 apresentava controle dos

incontinência fecal após 4,8 anos de acompanhamento, com realização de

enemas retais e 3/10 evacuavam espontaneamente sem enemas, após 5,8

anos (4-6 anos).

4.3.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS GRUPOS CLÍNICOS E CIRÚRGICOS

Análise comparativa entre os grupos apendicostomia e clínico, aos 6, 12,

24 meses e ao final desse estudo, quanto aos desfechos está apresentada na

Tabela 8 e gráficos 3,4.

11 11 11

8

6

3

1

3

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

0 6 12 24 36

incontinência fecal e enemas sem incontinência fecal, com enemas habito regular

Tempo de tratamento em meses

Núm

ero

de p

acie

ntes

em

tr

atam

ento

clín

ico

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Tabela 8. Sintomas clínicos nas avaliações realizadas aos 6, 12 e 24 meses de tratamento e na avaliação no final do registro de seguimento, em 28 pacientes distribuídos quanto ao tipo de tratamento: Apendicostomia ou clínico.

d = Teste Exato de Fisher

* 1 paciente abandonou o seguimento 3,6 anos após a realização da apendicostomia

** 1 paciente abandonou o seguimento após 2,1 anos de seguimento

*** tempo de seguimento após opção terapêutica: Apendicostomia: 2,5 anos (1,4 – 5); Tratamento clínico: 3 anos (0,8 – 6)

As medianas de tempo para a aquisição do desfecho ausência de

incontinência fecal foram de 1 mês (1 - 15 m) entre os operados e de 24 meses

(18 - 48 m) no grupo tratamento clínico, p=0,002, Mann-Whitney. As medianas

de tempo para a aquisição de recuperação de evacuações espontâneas foram

de 29 meses (12-74 m) nos operados e 31 meses (20-72 m), naqueles que

receberam tratamento clínico, p=0,184, Mann-Whitney.

AVALIAÇÕES Tipo de tratamento pd

Apendicostomia (N=17)

Clínico (N=11)

6 MESES Incontinência fecal e enemas 6(35,3%) 11(100%) 0,001 Sem incontinência fecal, enemas 11(64,7) 0(0,0%) Hábito regular 0(0,0%) 0(0,0%) 12 MESES Incontinência fecal e enemas 3(17,6%) 11(100%) 0,001 Sem incontinência fecal, enemas 14(82,4%) 0(0,0%) Hábito regular 0(0,0%) 0(0,0%) 24 MESES Incontinência fecal e enemas 2(11,8%) 8(72,7%) 0,005 Sem incontinência fecal, enemas 13(76,4%) 3(27,3%) Hábito regular 2(11,8%) 0(0,0%) AVALIAÇÃO FINAL *** (N=16)* (N=10)** Incontinência fecal e enemas 2(12,5%) 6(54,6%) 0,04 Sem incontinência fecal, enemas 5(32,3%) 1(9,0%) Hábito regular 9(56,2%) 3(27,4%)

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Gráfico 3. Porcentagem de pacientes com incontinência fecal nas avaliações realizadas aos 6, 12, 24 meses e na avaliação final, após escolha do tratamento: apendicostomia (N=17) ou tratamento clínico (N=11).

Gráfico 4. Porcentagem de pacientes com habito intestinal regular, sem incontinência fecal e sem medicações durante os tempos 6, 12, 24 meses e na avaliação final, após escolha do tratamento: apendicostomia ou tratamento clínico.

0102030405060708090

100

0 6 12 24 30

Apendicostomia Tratamento Clínico

Tempo de tratamento em meses

Tempo de tratamento em meses

Porc

enta

gem

de

paci

ente

s co

m in

cont

inên

cia

feca

l Po

rcen

tage

m d

e pa

cien

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hábi

to in

test

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regu

lar

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4.3.4 ANÁLISE REFERENTE AO ESTUDO DO TRÂNSITO COLÔNICO

Os tipos de trânsito colônico não apresentaram associação com melhora

dos sintomas nos dois grupos de tratamento (Tab. 9).

Tabela 9. Desfechos segundo padrão de trânsito colônico entre os pacientes, distribuídos quanto ao tipo de tratamento: apendicostomia e tratamento clínico.

Tipo de tratamento Total Trânsito Colônico pd RD TCL Apendicostomia

N=16* N=7 N=9

Incontinência fecal e enemas 3 (17,7%) 1(14,3%) 2 (20,0%) 1,00 Sem incontinência fecal, enemas 5 (29,4%) 2 (28,5%) 3 (30,0%) Hábito regular 8 (47,0%) 4 (57,2%) 4(40,0% Tratamento Clínico

N=10** N=6 N=4

Incontinência fecal e enemas 6 (54,5%) 4 (57,1%) 2 (50,0%) 0,87 Sem incontinência fecal, enemas 1 (9,0%) 1 (14,3%) 0 (0,0%) Hábito regular 3(27,2%) 1 (14,3%) 2 (50,0%) RD=retenção distal, TCL=trânsito colônico lento

* 1 paciente abandonou o seguimento 3,6 anos após a realização da apendicostomia

** 1 paciente abandonou o seguimento após 2,1 anos de seguimento

d Teste Exato de Fisher

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5. DISCUSSÃO

Avaliamos a evolução em longo prazo de crianças com constipação

intestinal funcional refratária e incontinência fecal retentiva sem resposta à

terapia com laxativos orais associados a fibras alimentares. Cerca de 2/3 dos

pacientes realizaram apendicostomia para uso de enemas anterógrados de

continência. A confecção da apendicostomia possibilitou alívio rápido e efetivo

da incontinência fecal e em uma mediana de tempo de seguimento de 43

meses, metade dos pacientes que realizou o procedimento evoluiu para

resolução total dos sintomas, contudo, a ocorrência de complicações do

estoma foi próxima da universal. Crianças com CIFR de evolução prolongada

representam um grupo complexo e heterogêneo de pacientes, no qual as

variáveis desencadeantes dos sintomas e das alterações de trânsito colônico

não estão plenamente estabelecidas e não foram completamente contornáveis

com os métodos utilizados para manejo. Na presente série de casos, alguns

pacientes continuam apresentando os mesmos sintomas por anos, a despeito

de estarem em seguimento médico.

Neste estudo, consideramos como tendo constipação intestinal funcional

refratária ao tratamento clínico os pacientes que tiveram um tempo de

seguimento mínimo de 12 meses sem melhora clínica e sob observação

sistemática da adesão à terapêutica. A adesão é um fator que compromete

particularmente a evolução clínica de crianças com constipação intestinal

funcional no Brasil (46), sendo assim, consideramos que 12 meses de terapia

seria um tempo suficiente para certificar que a refratariedade terapêutica

estaria ocorrendo em situação de adesão às recomendações. Consultas

mensais foram agendadas para monitorizar sistematicamente, por meio de

anamnese a adesão às drogas e dieta.

A constipação intestinal funcional é um problema comum na prática

pediátrica, sendo que para os gastroenterologistas 20 a 25% das consultas são

devidas a constipação intestinal (1). Apesar de ser causa frequente em

consultas ambulatoriais, o sintoma é pouco identificado e valorizado em sua

fase inicial, pois a morbidade discreta não traz preocupação suficiente aos

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cuidadores para uma queixa espontânea em consultas de rotina e casos leves

e moderados são sub diagnosticados (13, 47).

Catto-Smith et al (48) descreveram um leve pico de incidência da

constipação intestinal funcional após o controle esfincteriano quando a

passagem recorrente de fezes endurecidas causando dor levaria ao

comportamento retentivo, podendo as vezes ser entendido pelos pais como um

esforço para realizar a evacuação, atrasando a procura por atendimento

médico. Já Blum et al (49) acompanharam prospectivamente lactentes antes

da aquisição do controle esfincteriano e observaram que eliminação de fezes

ressecadas, associadas a dor e dificuldade ocorrem antes mesmo do início do

treino esfincteriano, portanto, a experiência de desconforto parece ser o

desencadeante do comportamento retentivo que dá origem à condição de CIF

e não o contrário. Em acordo com os relatos de Blum outros autores mostraram

que 20% das crianças iniciam a constipação intestinal num momento próximo

ao nascimento, 50% no primeiro ano de vida e somente 25% na época do

treinamento esfincteriano (47, 50).

Com a inibição frequente da evacuação ocorre estase fecal

prolongada com desidratação das fezes que se tornam mais volumosas e

difíceis de serem eliminadas. O acúmulo constante das fezes proporciona a

distensão retal progressiva com perda da sua sensibilidade local e

incontinência fecal retentiva (51), momento que evidencia a cronicidade do

quadro e alerta a família para a necessidade de avaliação médica.

Os critérios de Roma tem sido amplamente usado para diagnóstico de

CIF em ensaios clínicos, mas, desde sua publicação em 1999, têm sido objeto

de críticas, uma vez que os escassos estudos para sua validação como

ferramenta diagnóstica demonstraram baixa correlação com critério clínico

livre, questionários diagnósticos e testes terapêuticos pois não é totalmente

inclusivo, particularmente no diagnóstico dos quadros leves (52-55).

Questionários aplicados sistematicamente a pediatras gerais identificaram que

é um critério de pouca aceitação na prática pediátrica. No Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition (JPGN), em 2015, três publicações

demonstraram que menos da metade dos pediatras usam esse instrumento. No

Brasil, essa avaliação foi realizada entre 400 pediatras que compareceram em

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um congresso e 77% deles não utilizavam os critérios de Roma para o

diagnóstico de CIF (56-58).

Apesar das dificuldades diagnósticas, 70 a 75% das crianças com CIF,

após um período 24 meses, retornam à um habito evacuatório normal e sem

necessidade de seguimento clínico. Os demais, mesmo após exclusão de

causas orgânicas, serão refratários ao tratamento e precisarão de seguimento

médico por um longo período (18, 19).

Os pacientes avaliados iniciaram os sintomas da constipação intestinal

funcional com um mediana de idade de um ano e permaneceram sintomáticos

por uma mediana de idade de cinco anos até serem encaminhados para o

gastroenterologista, confirmando a não valorização dos sintomas e a falta de

uma ferramenta diagnóstica abrangente para ser utilizada nas diferentes

formas de apresentação da constipação intestinal, o que pode estar

colaborando também para um atraso do tratamento desses pacientes e

agravamento do quadro. A interrupção terapêutica desse ciclo poderia impedir

a evolução para cronicidade e o surgimento de complicações anatômicas e da

dinâmica evacuatória (59).

A fisiopatologia da CIFR não está totalmente definida, mas a

identificação de padrões de trânsito colônico disfuncionais têm ajudado a

explicar em alguns pacientes a refratariedade do quadro. O termo TCL vem

sendo usado na literatura médica para designar inércia colônica desde a

década de 70, após a publicação em 1969 do primeiro artigo em adultos que

descreveu a técnica de estudo do tempo de trânsito intestinal usando

marcadores radiopacos (24). Benninga et al em 1996 ao realizarem estudo do

trânsito intestinal em crianças com CIFR também descreveram em 25% dos

pacientes o TCL, caracterizando também as crianças com uma forma distinta

de constipação intestinal (25). TCL em adultos e crianças têm a mesma

sintomatologia, mas são entidades distintas. Enquanto nos adultos há uma

maior prevalência em mulheres jovens ou puérperas, em crianças a distribuição

entre os sexos é semelhante e os sintomas se iniciam em uma fase bem

precoce da vida (28).

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43

A cintilografia do trânsito intestinal para determinação do padrão do

trânsito colônico foi o método de escolha para nossos pacientes por ser essa

técnica de avaliação superior aos marcadores radiopacos (29, 30).

Estudos da motilidade colônica realizados em indivíduos saudáveis

demonstraram que as porções proximal e distal do cólon apresentam funções

motoras diferentes (60). O radiofármaco persiste no cólon ascendente por até

12 horas. Com 24 horas, a radioatividade distribui-se igualmente ao longo do

cólon ascendente, transverso e porção distal do cólon. Após 48 horas da

ingestão da refeição teste, a maior parte do traçador já foi evacuada. O cólon

transverso parece funcionar como um reservatório, enquanto o esquerdo

funciona como um tubo propulsor. Camilleri e Zinsmeister (61) concluíram que

a avaliação do trânsito colônico nas primeiras 24 horas tem alta sensibilidade

para detecção de disfunções motoras, uma vez que o esvaziamento da porção

proximal é significantemente diferente entre indivíduos saudáveis e constipados

e imagens registradas entre 24 e 48 horas também são consideradas o melhor

indicador para o diagnóstico em ensaios clínicos (62).

Pacientes pediátricos com CIFR têm registrado padrões descritos

como normal ou disfuncional. YiK et al (63) identificaram pacientes sem

evidências de dismotilidade colônica com padrão normal, trânsito colônico

proximal acelerado (trânsito no cólon proximal entre 6 e 24 horas) e trânsito

colônico lento. Outro estudo observou predominância de trânsito colônico lento

(28) enquanto outros autores verificaram maior número de crianças com

retenção distal (64). Esta variabilidade pode estar relacionada a diferenças nos

critérios de duração da doença, encaminhamento dos pacientes para os

exames, técnica para realização da cintilografia, envolvendo preparo do cólon,

tipo e modo de ingestão da refeição teste, e, finalmente, diferenças nas fases

de aquisição das imagens (29). Antes da cintilografia, nossos pacientes

receberam um enema de limpeza para impactação fecal, tal decisão foi

baseada no entendimento de que uma massa fecal dura poderia interferir no

trânsito gastrointestinal, desde que, geralmente, crianças com massa fecal

difícil de evacuar evitam a evacuação por ter dor ou desconforto (65, 66).

Outros pesquisadores não têm realizado desimpactação retal antes do exame.

Estudos em adultos constipados não confirmaram uma relação entre a limpeza

retal e tempo de trânsito colônico (67).

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Uma outra questão técnica deve ser considerada. Os padrões de trânsito colônico

encontrados nesses pacientes foram definidos visualmente. Reprodutibilidade da avaliação

visual de padrões de trânsito do cólon foi demonstrada anteriormente, bem como taxas

elevadas de concordância interobservador. Avaliação visual das imagens cintilográficas foi

comparada por análise do centro geométrico (68). A inspeção visual foi considerada

adequada para apreciação geral do padrão de trânsito, a análise do centro

geométrico indica o local de maior intensidade do radiofármaco, apesar de não

permitir uma clara visão do trânsito (68).

Considerando que as disfunções do trânsito intestinal podem estar

presentes em 60% das crianças com constipação intestinal funcional refratária

(27) seria útil diferenciá-las clinicamente, mas um estudo retrospectivo

correlacionou os sintomas da CIFR com os tipos de trânsito colônico e os

autores concluíram que isso não era possível com base nos sintomas (69).

Apesar da frequência do sintoma não ser suficiente para definir um padrão de

trânsito intestinal, algumas queixas são encontradas mais comumente em

pacientes com TCL: fezes pastosas apesar de evacuações infrequentes

associadas a dor, distensão abdominal e incontinência fecal, eliminação tardia

do mecônio, constipação intestinal de início precoce, geralmente no primeiro

ano de vida e ausência de massa fecal palpável no cólon distal e reto sigmoide.

Nos pacientes com RD, em geral, as fezes são calibrosas e ressecadas e no

exame físico é frequente o achado de massa abdominal palpável no colón (27,

69, 70).

As evacuações de fezes pastosas características do TCL, são

contraditórias às fezes ressecadas presentes nos quadros de constipação

intestinal, e ainda quando associada a ausência de massa fecal palpável no

reto traz maior dificuldade ao seu diagnóstico (20). Esses achados clínicos

ainda não são contemplados pelos critérios de Roma.

Diferentes centros de pesquisa têm publicado avaliações clínicas,

laboratoriais, da fisiopatogenia, terapêutica e evolução de pacientes refratários

contudo, a história natural da constipação intestinal funcional refratária não está

estabelecida e questiona-se se o retardo de trânsito é uma condição primária

decorrente de mecanismo de distúrbios intrínsecos da motilidade colônica ou

uma evolução em longo prazo dos pacientes em que a terapêutica da

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constipação intestinal funcional por comportamento retentivo foi negligenciada

(20).

A identificação de dois padrões motores diferenciados parece indicar

que o trânsito colônico lento é uma condição intrínseca e de mecanismo

fisiopatogênico distinto da constipação intestinal por comportamento retentivo

(27, 69, 70). Stanton et al (71) avaliaram a motilidade colônica de crianças com

TCL por 24 horas, através da manometria pan colônica e relataram redução da

frequência, amplitude e duração das contrações de propagação de altas

amplitudes, compatível com os achados manométricos de adultos com TCL

(72). Por outro lado King et al (73) com o mesmo desenho de estudo

mostraram HAPCs com frequência e amplitudes normais e redução significante

de ondas de atividade motora de propagação anterógrada contudo a amplitude

das ondas de pressão foram semelhantes aos controles normais, sugerindo

então que TCL não seria uma alteração miopática intrínseca do cólon e sim

uma anormalidade da inervação colônica. Apesar das divergências os dois

estudos identificaram de forma semelhante falha na resposta a um estímulo

fisiológico normal como ingerir uma refeição e assumir decúbito ortostático,

achado presente em estudos manométricos de indivíduos saudáveis.

Biópsias por laparoscopia em crianças com TCL permitiram identificar

deficiência de um neurotransmissor excitatório da musculatura circular do colón

chamado substância P em 1/3 dos pacientes, em outras crianças, deficiência

de um neuropeptídio inibitório, o peptídeo intestinal vasoativo (VIP) e uma

pequena parte com redução das células de Cajal (27, 29, 74). Esses achados

ajudariam a elucidar uma fisiopatologia para o TCL e a necessidade dos

estudos de trânsito colônico como instrumento capaz de classificar os

pacientes refratários quanto à etiologia e proposta terapêutica.

Avaliações do papel do estudo cintilográfico do trânsito colônico têm

concluído que essa avaliação apresenta plausibilidade biológica e associação

com as manifestações clínicas das doenças que afetam a motilidade colônica

(43). Hutson et al (27) publicaram recomendações terapêuticas para pacientes

com TCL, indicando que enemas retrógrados não são efetivos nessa condição.

A recomendação terapêutica para pacientes refratários com tempo de

trânsito normal, retenção distal e trânsito lento são diferenciadas para alguns

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autores. Enquanto pacientes com RD e tempo de trânsito normal são

aconselhados a manter o uso de laxativos orais, dieta com adequação de fibras

e mudanças comportamentais, as propostas de tratamento para pacientes com

TCL incluem terapêutica cirúrgica, mais usualmente a apendicostomia para

realização de enemas anterógrados (75-77).

Os dados na população pediátrica não são suficientes para definir

indicações cirúrgicas com base no padrão de trânsito colônico, os dados

avaliados no presente estudo não identificaram associação da apendicostomia

a desfechos mais favoráveis em pacientes com padrão de trânsito colônico

lento.

A literatura, via de regra, não tem realizado o estudo do tempo de

trânsito intestinal nos pacientes refratários e após a confirmação da não

resposta ao tratamento clínico tem oferecido uma opção cirúrgica a esses

pacientes em função da péssima qualidade de vida a que estão submetidos,

pois mesmo os pacientes com diagnóstico de RD podem permanecer com

sintomas importantes apesar da realização do tratamento clínico e se beneficiar

do procedimento cirúrgico (23, 38, 78, 79).

A ESPGHAN e NASPGHAN, em 2014, apesar de reconhecerem o TCL

em CIFR, orientam a não realização sistemática da cintilografia de trânsito

colônico nos pacientes refratários visto que os estudos não mostraram sua real

importância no diagnóstico da CIFR mas sugerem a realização de EA nos

pacientes refratários após discussão dos benefícios e complicações com

pacientes e familiares (7).

No presente estudo, pacientes com constipação intestinal funcional

refratária ao tratamento, orientados de acordo com diretrizes de consenso

internacionais, apresentaram distúrbios da motilidade colônica: retenção do

contraste no cólon proximal e retenção no segmento colônico distal, compatível

com região do retossigmoide (63, 76, 80, 81). Através da revisão dos

prontuários não foi possível recuperar informações sobre a consistência das

fezes e tempo de eliminação de mecônio desses pacientes o que impossibilitou

classifica-los clinicamente quanto ao padrão de trânsito, mas a massa

abdominal palpável foi característica do grupo com RD. A apendicostomia para

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47

EA foi realizada nos pacientes que aceitaram o procedimento, independente do

padrão de trânsito colônico.

Uma revisão sistemática dos tratamentos cirúrgicos possíveis da CIFR

mostrou que os resultados são baseados em baixa qualidade de evidência pois

os estudos são em sua maioria retrospectivos, não controlados e não

randomizados, portanto a indicação deve ter muita cautela. O consenso entre

os cirurgiões é que as cirurgias devem ser reservadas somente para os casos

extremos, com falha ao tratamento clínico e a preservação do cólon é o

objetivo principal enquanto terapias mais efetivas e menos agressivas são

desenvolvidas, além do fato que as ressecções intestinais estão associadas a

maior falha terapêutica (28, 32, 38). O tempo de seguimento na especialidade

entre os pacientes que decidiram pela apendicostomia foi significativamente

maior, o que pode justificar em parte a escolha da terapia cirúrgica pois

estavam a mais anos em seguimento e sem melhora clínica.

Na literatura, o sucesso dos EA avaliados em CIFR foi relatado entre

63 a 100% dos casos com base em diferentes desfechos, tais como

continência parcial com incontinência fecal esporádica, continência total com

remissão completa da incontinência fecal e recuperação de hábito intestinal

regular (22, 23, 82-86). Somente dois estudos com coortes heterogêneas (com

CIFR e refratários secundários a causas orgânicas) descreveram melhora

clínica somente em 33 e 37,5% dos pacientes com CIFR (1/3 e 3/8 pacientes

com CIFR avaliados respectivamente) (87, 88). Na presente casuística,

avaliamos como resposta favorável aos EA via apendicostomia a remissão

completa da incontinência fecal e recuperação do hábito intestinal normal pois

a melhora nesses desfechos traz como consequência melhora dos sintomas

associados a constipação intestinal como dor abdominal e reintegração social.

A remissão da IFR foi mais frequente e precoce no grupo cirúrgico.

Dolejs et al (89) observaram que aos 3 meses após a apendicostomia, 96%

(89/93) dos pacientes apresentaram controle dos sintomas. Aos 6 meses após

a realização da apendicostomia, 82% dos nossos pacientes avaliados não

apresentavam mais incontinência fecal por retenção. A ocorrência de

complicações próximas a realização do procedimento pode ter contribuído para

atraso na remissão da IFR na presente casuística.

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48

Na avaliação final e com uma mediana de tempo de seguimento

semelhante após a opção de tratamento entre os grupos avaliados, a

recuperação de hábito regular foi mais prevalente no grupo cirúrgico. A

presença de evacuações espontâneas e regulares com reversão da

apendicostomia foi descrita após uma mediana de 22,5 meses (13 – 74,4

meses) da realização da cirurgia em 3 a 41% de pacientes com CIFR (22, 23,

82, 84, 89). Recuperação dos movimentos evacuatórios espontâneos é um

desfecho alcançado, em média, em menos da metade dos pacientes com

constipação refratária que realizaram apendicostomia, mesmo com

seguimentos em longo prazo (90-92).

Mugie et al (91) acreditam que a melhora da constipação intestinal com

a realização da apendicostomia pode ser atribuída à diminuição da dilatação

colônica, melhora no comportamento retentivo, descanso do colón e

recuperação da capacidade motora propulsiva do cólon, fenômeno identificado

por Rodriguez e colaboradores pela realização de manometria colônica antes e

após apendicostomia, em 40 crianças com constipação intestinal funcional

refratária (90).

Apesar de Van den Berg et al (92) descreverem que ausência de HAPCs

no cólon foi associada com insucesso da cirurgia (P = .03) e a resposta da

motilidade colôncia após o bisacodil foi preditivo de resultado satisfatório ( P =

.03), a realização de manometria colônica pré operatória não deve ser utilizada

para indicação de estomias nesses pacientes mas pode ser útil após a cirurgia

para ajudar na decisão do fechamento do estoma naqueles com melhora

clínica, já que mostra a recuperação da motilidade colônica. Christison-Lagay

(32) et al realizaram manometria do cólon pré operatória em 15 crianças

submetidas a estomias para EA, três pacientes com manometria pré operatória

normal tiveram resultados pós cirúrgicos insatisfatórios. Em nove crianças com

manometria anormal definida por ausência ou diminuição HAPCs ou um reflexo

gastrocolônico fraco ou ausente, sete evoluíram bem, com remissão dos

sintomas e embora 3 crianças fossem diagnosticas com inércia colônica, 2

deles tiveram resultados satisfatórios com a cirurgia. Outros autores aventaram

que aqueles pacientes que não alcançam essa resposta possivelmente sejam

aqueles com distúrbios primários da motilidade colônica (93). Nos casos em

que não há melhora clínica com o EA, a manometria colônica pode ainda

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mostrar a área de ausência da motilidade e ajudar na decisão do local da

ressecção.

O insucesso dos EA já foi atribuído à idade de realização do

procedimento, considerando-se que crianças menores de seis anos teriam

mais dificuldade em aceitar o procedimento que exige tempo de espera diária

para infusão dos enemas, cateterização frequente do estoma e cuidados locais

(88, 94). Freeman et al (95) avaliaram os benefícios de realizar a cirurgia antes

da idade escolar e demonstraram que 87,5% dos pais relataram o desejo que o

procedimento fosse realizado antes desse período. Chang et al (96) após três

anos realizando estomias no lado direito do abdome de pacientes com CIFR,

mudaram a técnica cirúrgica e passaram a realizá-la do lado esquerdo, com

alça de sigmoide ou íleo para diminuir o tempo prolongado da infusão e

quantidade de volume necessária para limpeza do colón, já que era queixa

frequente dos pacientes. Concluíram que o EA infundidos no lado direito do

cólon embora mais demorados eram mais eficientes.

O insucesso também foi associado ao uso incorreto dos enemas, que

devem ser realizados no período pós-prandial em infusões com duração de 30

a 60 minutos e também ao tipo e volume da solução infundida. Não há estudos

controlados para avaliar a melhor solução de irrigação e diferentes serviços

tem empregado as mais variáveis orientações de composição e volumes das

soluções de irrigação, assim como a adição ou não de agentes osmoticamente

ativos. Siddiqui et al (93) verificaram que a solução salina apresenta menor

risco de resultar em desequilíbrio eletrolítico e que a adição de agentes

osmóticos (polietilenoglicol) aumenta as taxas de sucesso da irrigação. As

soluções fosfatadas devem ser prescritas com muita cautela pois houve relato

de óbito de uma criança após sua utilização (87, 94). Avaliações frequentes

para ajustes do volume ou modificações das soluções são necessárias após a

cirurgia até que um regime eficaz de infusão seja estabelecido e não traga

desapontamento aos pacientes logo no início do tratamento. A escolha da

solução glicerinada ou solução fisiológica para os pacientes avaliados é

justificada pela facilidade de aquisição nos postos de saúde e também por

apresentarem resposta satisfatória. Os pacientes que abandonam o uso da

apendicostomia queixam-se de dor durante a cateterização ou na infusão, ou

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porque, apesar do uso correto dos enemas, não observam a melhora rápida

que esperavam obter (22, 85).

Altas taxas de complicações são registradas em todas as casuísticas

referentes as estomias para EA avaliadas pelos autores (22, 97). As

complicações mais prevalentes e, que em geral exigem reabordagens

cirúrgicas são a estenose do estoma e vazamento de líquidos pelo estoma. Na

tentativa de minimizar essas complicações foram propostas várias

modificações na técnica cirúrgica inicial do Malone: confecções de aba de pele

com outras formas de sutura na pele: forma V, VQY, implantação de

dispositivos em cecostomias como Tubo Chait, botton, uso de broviacs,

“stopper” e left de Malone (34, 87, 97-100). Um protocolo de treinamento de

uso e cuidados com a apendicostomia não foi estabelecido no

acompanhamento de nossos casos o que pode explicar, em parte, o grande

número de complicações.

Em nosso serviço, optamos pela confecção da apendicostomia com

apêndice in situ, por via laparoscópica e sem uso de dispositivos, para

realização de enemas anterógrados, pois ainda é o procedimento de escolha

na literatura para apendicostomia (44). Inicialmente as estomias eram

apendicecostomia confeccionadas através de laparotomia, com os anos houve

aprimoramento da técnica cirúrgica e a estomia passou a ser confeccionada

somente utilizando-se o apêndice por laparotomia e mais recentemente é

realizada via laparoscópica (38, 39, 101, 102). Em metanálise recentemente

publicada, Li C e colaboradores comparam a apendicostomia à cecostomia,

concluindo que as duas técnicas apresentam percentuais similares de controle

da incontinência, a apendicostomia para irrigação anterógrada, contudo,

associa-se mais frequentemente a complicações que requerem reabordagem

cirúrgica (103). Os dispositivos dificilmente causam estenoses ou vazamentos,

mas são associados a outras complicações: se deslocam do ostoma, causam

mais infecções e tecidos de granulação com necessidade de reabordagem

cirúrgica em 29% das vezes além de serem identificados visualmente (100,

104).

Apesar da alta frequência de complicações, observamos que o

procedimento foi bem aceito pelos familiares e pacientes, provavelmente a

aceitação relaciona-se ao controle da incontinência fecal. Benefícios do

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procedimento na qualidade de vida de crianças com constipação intestinal

refratária foram descritos como significantes (78).

Ainda é necessária uma maior mediana de tempo de acompanhamento

do grupo cirúrgico, superior a 5 anos, para determinar se sua efetividade para

controle dos sintomas permanece definitiva. Avaliações realizadas em coortes

heterogêneas após 5 anos da apendicostomia identificaram que 18% dos

pacientes haviam abandonado seu uso. As razões foram: pouca efetividade,

complicações, não adaptação e dor. O estudo falhou em não fazer uma

associação do diagnóstico com o insucesso do procedimento (105). Esses

mesmos autores realizaram uma nova avaliação aos 10 anos pós confecção da

apendicostomia e 41% dos pacientes já haviam abandonado dos EA referindo

os mesmos motivos citados anteriormente. Não houve associação entre o

diagnóstico e o desuso da estomia para EA. Muitos indivíduos se sentiram

abandonados quando foram transferidos para o seguimento dos adultos, o que

pode ter colaborado com o insucesso (106).

Outras possibilidades de tratamento cirúrgico no CIFR seriam as

diversões intestinais e as ressecções colônicas. Anteriormente ao uso dos EA

as diversões foram muito utilizadas, principalmente em adultos e com bons

resultados, mas considerando o desconforto de uma colostomia para esses

pacientes jovens, associado a boa resposta dos EA, as diversões intestinais

têm sido utilizadas em alguns casos de falha terapêutica aos EA. Já as

ressecções colônicas são pouco indicadas na gastroenterologia pediátrica para

CIFR devido seu percentual de insucesso e agressividade do procedimento

(32, 38).

O longo tempo de duração da incontinência fecal identificada nos

nossos pacientes e a idade tardia em que iniciaram o acompanhamento

sistemático num serviço terciário podem ter influenciado na recuperação de

evacuações espontâneas, independente da abordagem terapêutica. Apesar

do índice elevado de complicações a apendicostomia parece ser alternativa

superior ao tratamento clínico para o controle precoce da incontinência fecal,

sintoma de maior efeito negativo na qualidade de vida desses pacientes e

também para o restabelecimento de um hábito intestinal regular e sem a

necessidade de um procedimento cirúrgico mais agressivo.

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A confecção de estomias para realização de enemas anterógrados para

a constipação intestinal funcional refratária poderá ser realizada em casos

comprovadamente não responsivos ao tratamento convencional, sem a

necessidade de realização prévia de estudos que avaliam os padrões de

trânsito colônico. A decisão cabe aos familiares após conhecimento dos

benefícios e riscos do procedimento.

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7. ANEXOS

ANEXO 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO para a PESQUISA:

“Constipação intestinal refratária: manejo clínico ou apendicostomia?”

As informações contidas nessa folha, fornecidas por ELIZETE APARECIDA

LOMAZI têm por objetivo firmar acordo escrito com o (a) voluntária(o) para

participação de uma pesquisa, autorizando sua participação com pleno

conhecimento da natureza dos procedimentos envolvidos.

1) Natureza da pesquisa: Recuperação de informações sobre os sintomas e

exames que foram realizados para diagnóstico e seguimento dos pacientes

durante seu tratamento no ambulatório de Gastropediatria do Hospital de

Clínicas da UNICAMP para estudar, analisar e publicar essas informações

numa revista para médicos.

2) Participantes da pesquisa: Pacientes com constipação intestinal funcional

refratária ao tratamento clínico.

3) Envolvimento na pesquisa: Você tem liberdade de se recusar a participar.

Seu filho continuará recebendo todo o atendimento necessário independente

da sua decisão de participar ou não. Sempre que quiser poderá pedir mais

informações sobre a pesquisa pelos telefones abaixo.

4) Sobre as coletas ou entrevistas: O prontuário (a pasta) do paciente será

revisado e os sintomas declarados durante as consultas bem como os exames

realizados para diagnóstico e seguimento evolutivo serão registrados numa

ficha. Todas as fichas serão estudadas. Essas informações serão publicadas

numa revista para médicos. O nome do paciente não será divulgado, para que

não possa ser identificado.

5) Riscos e desconforto: Os dados a serem registrados são referentes aos

sintomas que você falou para o médico durante as consultas no ambulatório de

Gastropediatria do HC-UNICAMP e também os exames que você realizou

durante o diagnóstico e seguimento neste ambulatório.

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6) Confidencialidade: Os dados da (o) voluntária (o) serão identificados com

UM NÚMERO e não com o nome. Apenas os membros da pesquisa terão

conhecimento dos dados, assegurando assim sua privacidade.

7) Benefícios: Ao participar desta pesquisa você não terá nenhum benefício.

Entretanto, esperamos que este estudo contribua com informações importantes

para o tratamento dos pacientes que, no futuro sejam atendidos com a mesma

doença.

8) Pagamento: Você não terá nenhum tipo de despesa ao autorizar sua

participação nesta pesquisa, você terá que vir ao hospital para as consultas e

exames de rotina e nada será pago pela participação.

9) Liberdade de recusar ou retirar o consentimento: Você tem a liberdade

de retirar seu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do

estudo sem penalidades.

APÓS ESTES ESCLARECIMENTOS, SOLICITAMOS O SEU

CONSENTIMENTO DE FORMA LIVRE PARA PERMITIR SUA

PARTICIPAÇÃO NESTA PESQUISA. PORTANTO, SE VOCÊ DESEJA

PARTICIPAR E NÃO TEM DÚVIDAS SOBRE ISSO, PREENCHA OS ITENS

QUE SEGUEM:

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CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, _________________________________________________________,

RG____________________, após a leitura e compreensão destas

informações, entendo que a participação de

___________________________________(escrever o nome do menor), sob

minha responsabilidade, é voluntária, e que ele (a) pode sair a qualquer

momento do estudo, sem prejuízo algum. Confiro que recebi cópia deste termo

de consentimento, e autorizo a execução do trabalho de pesquisa e a

divulgação dos dados obtidos neste estudo.

Obs. : Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. Campinas, ________/_________/_________

Telefone para contato:__________________________________________

Nome do Voluntário:___________________________________________

Assinatura do Responsável:______________________________________

Assinatura do Pesquisador:______________________________________

Contatos: ELIZETE APARECIDA LOMAZI (19) 3521 78 61 ou (19) 3521 7646

Comissão de Ética em Pesquisa (19) 3521 8936 ou (19) 3521 7187

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ANEXO 2 - FICHA DE COLETA DE DADOS – GRUPO CIRÚRGICO

1 - Identificação:

Caso:_______ HC:_______________ DN:______________ Sexo:______

2 - Características clínicas da Constipação intestinal Funcional Refratária:

- Idade do Início dos sintomas_________ meses

- Duração da CIF até encaminhamento a gastroped/UNICAMP: _____meses

- Idade de Início de seguimento na Gastroped/UNICAMP: _________meses

- Massa abdominal palpável: sim ( ) não ( )

- Incontinência fecal: sim ( ) não ( )

3 - Exames Complementares:

- Estudo Nuclear do Trânsito colônico: RD ( ) TCL ( )

4 - Avaliação da apendicostomia:

- Idade de Realização: _________ meses

- Tempo de acompanhamento e tratamento na gastroped/UNICAMP até realizar a apendicostomia:________ meses

- Tempo de utilização do apendicostomia _______meses

Desfecho do procedimento:

6 meses:

( ) em uso, sem incontinência fecal ( )em uso, com incontinência fecal ( ) cura

12 meses:

( ) em uso, sem incontinência fecal ( )em uso, com incontinência fecal ( ) cura

24 meses:

( ) em uso, sem incontinência fecal ( )em uso, com incontinência fecal ( ) cura

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Avaliação final:

( ) em uso, sem incontinência fecal ( )em uso, com incontinência fecal ( ) cura

Complicações da apendicostomia:

( ) Tecido de granulação, nº episódios _______ , tempo pós cirurgia________

( ) Extravasamento pelo ostoma, nº episódios____, tempo pós cirugia_______

( ) Válvula antirrefluxo, nº episódios____, tempo pós cirurgia_________

( ) Infecção da ferida operatória, nº episódios___, tempo pós cirurgia______

( ) Estenose, nº episódios___, tempo pós ACE_________

( ) Dor durante a infusão do enema, nº episódios_____, tempo pós cirurgia___

( ) Perfuração, nº episódios_____, tempo pós cirurgia_________

( ) Reabordagens, nº episódios_____, tempo pós cirurgia_________

Tempo total de seguimento na gastro (pre e Pós cirurgia)______meses

Tempo total de constipação intestinal (história pregressa + gastro/UNICAMP)_____meses

Abandono, após _____meses de seguimento, motivo_____________

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ANEXO 3 - FICHA DE COLETA DE DADOS – GRUPO CLÍNICO

1 - Identificação: Caso:___ HC:________ DN:_________ Sexo:______

2 - Características clínicas da Constipação intestinal Funcional Refratária:

- Idade do Início dos sintomas_________ meses

- Duração da CIF até encaminhamento a gastroped/UNICAMP: _____ meses

- Idade de Início de seguimento na Gastroped/UNICAMP: _________meses

- Massa abdominal palpável: sim ( ) não ( )

- Incontinência fecal: sim ( ) não ( )

- Sintomas urinários associados: ( ) sim ( ) não

3 - Exames Complementares:

- Estudo Nuclear do Trânsito colônico: RD ( ) TCL ( )

4 - Evolução do tratamento na gastroped/UNICAMP:

Tempo de seguimento na gastroped/UNICAMP após optar pelo tratamento clínico__________

Tempo total de seguimento na gastroped/UNICAMP : _____________meses

Tempo total de constipação intestinal Funcional (história pregressa + seguimento na gastro)______

- Desfecho do tratamento:

6 meses: ( )enemas, sem incontinência fecal ( )enemas, com incontinência fecal ( )cura

12 meses: ( )enemas, sem incontinência fecal ( )enemas, com incontinência fecal ( )cura

24 meses: ( )enemas, sem incontinência fecal ( )enemas, com incontinência fecal ( )cura

Desfecho final: ( )enemas, sem incontinência fecal ( )enemas, com incontinência fecal ( )cura

Idade na avaliação do desfecho final ________________meses

Abandono, após _______meses de seguimento, motivo____________