Constância

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ConstnciaVila-PoemaAvanar manualmente

Fotografia: Dias dos Reis

Constncia uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Santarm, regio Centro e sub-regio do Mdio Tejo, com cerca de 900 habitantes. conhecida por ter sido local de residncia de Lus de Cames, que ali escreveu alguns dos seus poemas lricos, por ocasio do seu desterro no Ribatejo.

Casa de Cames ou Casa dos Arcos, em Constncia, atualmente Casa-Memria de Cames, construo quinhentista, ter sido, possivelmente, habitada por Lus Vaz de Cames.Uma antiga e arraigada tradio popular afirma que Lus de Cames, o maior dos poetas portugueses, viveu em Constncia durante algum tempo, cumprindo pena a que fora condenado, e aponta as runas de uma velha casa beira-Tejo como sendo as da que o acolheu nesse desterro.

Sobre aquelas runas, classificadas como imvel de interesse pblico, foi erguida a Casa-Memria de Cames, onde funciona o Centro Internacional de Estudos Camonianos.

Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passarNo Mundo graves tormentos; E pera mais me espantar, Os maus vi sempre nadar Em mar de contentamentos. Cuidando alcanar assim O bem to mal ordenado, Fui mau, mas fui castigado. Assim que, s pera mim, Anda o Mundo concertado.

Jacek KrenzMudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiana; Todo o mundo composto de mudana, Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperana; Do mal ficam as mgoas na lembrana, E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o cho de verde manto, Que j coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,Outra mudana faz de mor espanto: Que no se muda j como soa.

Esttua em Homenagem a Cames, de autoria do mestre Lagoa Henriques, ao lado do Jardim-Horto Camoniano.Julga-me a gente toda por perdido, Vendo-me to entregue a meu cuidado,Andar sempre dos homens apartado E dos tratos humanos esquecido.

Mas eu, que tenho o mundo conhecido, E quase que sobre ele ando dobrado,Tenho por baixo, rstico, enganado Quem no com meu mal engrandecido.

V revolvendo a terra, o mar e o vento,Busque riquezas, honras a outra gente,Vencendo ferro, fogo, frio e calma;

Que eu s em humilde estado me contentoDe trazer esculpido eternamente Vosso fermoso gesto dentro na alma.

Fotografia: Paulo MendonaAmor fogo que arde sem se ver; ferida que di e no se sente; um contentamento descontente; dor que desatina sem doer;

um no querer mais que bem querer; solitrio andar por entre a gente; nunca contentar-se de contente; cuidar que se ganha em se perder;

querer estar preso por vontade; servir a quem vence, o vencedor; ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor Nos coraes humanos amizade, Se to contrrio a si o mesmo Amor?

Busque Amor novas artes, novo engenho,para matar-me, e novas esquivanas;que no pode tirar-me as esperanas,que mal me tirar o que eu no tenho.

Olhai de que esperanas me mantenho!vede que perigosas seguranas:que no temo contrastes nem mudanas,andando em bravo mar perdido o lenho

Mas, conquanto no pode haver desgostoonde esperana falta, l me escondeAmor um mal, que mata e no se v;

que dias h que na alma me tem postoum no sei qu, que nasce no sei onde,vem no sei como e di no sei por qu.

Fotografia: Jos Morais Sarmento

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O culto divinal se celebrava No templo donde toda criatura Louva o Feitor divino, que a feitura Com seu sagrado sangue restaurava.

Amor ali, que o tempo me aguardava Onde a vontade tinha mais segura, Com uma rara e anglica figura A vista da razo me salteava.

Eu crendo que o lugar me defendia De seu livre costume, no sabendo Que nenhum confiado lhe fugia,

Deixei-me cativar; mas hoje vendo, Senhora, que por vosso me queria, Do tempo que fui livre me arrependo.

Jardim Horto-Camoniano - Fotografia: Carlos Loff FonsecaQuando de minhas mgoas a comprida Maginao os olhos me adormece, Em sonhos aquela alma me aparece, Que para mi foi sonho nesta vida.

L numa soidade, onde estendida A vista por o campo desfalece, Corro aps ela; e ela ento parece Que mais de mi se alonga, compelida.

Brado: No me fujais, sombra benina. Ela (os olhos em mi c'um brando pejo, Como quem diz que j no pode ser)

Torna a fugir-me; torno a bradar: Dina... E antes que diga mene, acordo, e vejo Que nem um breve engano posso ter.

Tanto de meu estado me acho incerto,Que em vivo ardor tremendo estou de frio; Sem causa, juntamente choro e rio, O mundo todo abarco, e nada aperto.

tudo quanto sinto um desconcerto: Da alma um fogo me sai, da vista um rio; Agora espero, agora desconfio; Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao cu voando; Num' hora acho mil anos, e de jeito Que em mil anos no posso achar um' hora.

Se me pergunta algum porque assim ando, Respondo que no sei; porm suspeito Que s porque vos vi, minha Senhora. Fotografia: Nuno Timteo

Fotografia: Paulo Mendona

Enquanto quis Fortuna que tivesseEsperana de algum contentamento,O gosto de um suave pensamentoMe fez que seus versos escrevesse.

Porm, temendo Amor que aviso desseMinha escritura a algum juzo isento,Escureceu-me o engenho co tormento,Para que seus enganos no dissesse.

vs que Amor obriga a ser sujeitosA diversas vontades! Quando lerdesNum breve livro casos to diversos,

Verdades puras so, e no defeitos...E sabei que, segundo o amor tiverdes,Tereis o entendimento de meus versos!

Fotografia: Jos Morais Sarmento

Com grandes esperanas j cantei,Com que os deuses no Olimpo conquistara;Depois vim a chorar porque cantara,E agora choro j porque chorei.

Se cuido nas passadas que j dei,Custa-me esta lembrana s to cara,Que a dor de ver as mgoas que passara,Tenho por a mor mgoa que passei.

Pois logo, se est claro que um tormentoD causa que outro na alma se acrescente,J nunca posso ter contentamento.

Mas esta fantasia se me mente?Oh ocioso e cego pensamento!Ainda eu imagino em ser contente?

Fotografia: Jos Morais Sarmento

Alma minha gentil, que te partiste To cedo desta vida descontente, Repousa l no cu eternamente, E viva eu c na terra sempre triste.

Se l no assento etreo, onde subiste, Memria desta vida se consente, No te esqueas daquele amor ardente, Que j nos olhos meus to puro viste.

E se vires que pode merecer-te Alga cousa a dor que me ficou Da mgoa, sem remdio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que to cedo de c me leve a ver-te, Quo cedo de meus olhos te levou. Pintura: Jos Estrela

Descala vai para a fonte Lianor pela verdura;Vai fermosa, e no segura.

Leva na cabea o pote, O testo nas mos de prata, Cinta de fina escarlata, Sainho de chamelote; Traz a vasquinha de cote, Mais branca que a neve pura.Vai fermosa e no segura.

Descobre a touca a garganta, Cabelos de ouro entranado Fita de cor de encarnado, To linda que o mundo espanta. Chove nela graa tanta, Que d graa fermosura. Vai fermosa e no segura. Pintura: Rui Albuquerque

Eu cantarei de amor to docemente,Por uns termos em si to concertados,Que dois mil acidentes namoradosFaa sentir ao peito que no sente.

Farei que Amor a todos avivente,Pintando mil segredos delicados,Brandas iras, suspiros magoados,Temerosa ousadia, e pena, ausente.

Tambm, Senhora, do desprezo honestoDe vossa vista branda e rigorosa,Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porm para cantar de vosso gestoA composio alta e milagrosa,Aqui falta saber, engenho, e arte.

Erros meus, m Fortuna, Amor ardente Em minha perdio se conjuraram; Os erros e a Fortuna sobejaram, Que para mim bastava Amor somente.

Tudo passei; mas tenho to presente A grande dor das cousas que passaram, Que j as frequncias suas me ensinaram A desejos deixar de ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos; Dei causa a que a Fortuna castigasse As minhas mal fundadas esperanas.

De Amor no vi seno breves enganos. Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse Este meu duro Gnio de vinganas!

Fotografia: Nuno TimteoOh como se me alonga de ano em ano A peregrinao cansada minha! Como se encurta, e como ao fim caminha Este meu breve e vo discurso humano!

Minguando a idade vai, crescendo o dano; Perdeu-se-me um remdio, que inda tinha; Se por experincia se adivinha, Qualquer grande esperana grande engano.

Corro aps este bem que no se alcana; No meio do caminho me falece; Mil vezes caio, e perco a confiana.

Quando ele foge, eu tardo; e na tardana, Se os olhos ergo a ver se inda aparece, De vista se me perde, e da esperana.

Alegres campos, verdes arvoredos, Claras e frescas guas de cristal, Que em vs os debuxais ao natural, Discorrendo da altura dos rochedos;

Silvestres montes, speros penedos Compostos de concerto desigual; Sabei que, sem licena de meu mal, J no podeis fazer meus olhos ledos.

E pois j me no vedes como vistes, No me alegrem verduras deleitosas, Nem guas que correndo alegres vm.

Semearei em vs lembranas tristes, Regar-vos-ei com lgrimas saudosas, E nascero saudades de meu bem. Fotografia: Vtor Oliveira

Lus Vaz de Cames, poeta portugus, filho de Simo Vaz de Cames e Ana de S e Macedo, nasceu em Coimbra ou Lisboa - no se sabe o local exato - supostamente em 1525. Pensa-se que estudou Literatura e Filosofia em Coimbra, tendo tido como protetor o seu tio paterno, D. Bento de Cames, frade de Santa Cruz e chanceler da Universidade. Tudo parece indicar que pertencia pequena nobreza. o autor do poema pico "Os Lusadas", uma das obras mais importantes da Literatura portuguesa, que celebra os feitos martimos e guerreiros de Portugal, e o maior poeta do Classicismo portugus.Atribuem-se-lhe vrios desterros, sendo um para Ceuta, onde se bateu como soldado e em combate perdeu o olho direito - perda referida na Cano Lembrana da Longa Saudade - e outro para Constncia, entre 1547 e 1550, obrigado, diz-se, por ofensas a uma certa dama da corte. Embarca para a ndia em 1553, onde participa de vrias expedies militares. Em 1556 vai para a China, tambm em vrias expedies. Em 1570 volta para Lisboa, j com os manuscritos do poema "Os Lusadas", que foi publicado em 1572, com a ajuda do rei D. Sebastio. Uma das amadas de Cames foi a jovem chinesa Dinamene, que morreu afogada em um naufrgio. Diz a lenda que Cames conseguiu salvar o manuscrito de Os Lusadas, segurando com uma das mos e nadando com a outra. Cames escreve vrios sonetos lamentando a morte da amada. O mais famoso "A Saudade do Ser Amado". Cames deixou alm de "Os Lusadas", um conjunto de poesias lricas e as comdias "El-Rei Seleuco", "Filodemo" e "Anfitries". Lus Vaz de Cames morreu em Lisboa, no dia 10 de junho 1580, em absoluta pobreza.

Fotografia: Dias dos ReisPoemas: Lus Vaz de CamesMsica: Verdes Anos Carlos ParedesFotos (Internet): Constncia, PortugalGuida [email protected]

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