Considerações Sobre o Lugar Da Alteridade Em Merleau-Ponty

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O LUGAR DA ALTERIDADE EM MERLEAU-PONTY Reflexão, Campinas, 31(89), p. 11-23, jan./jun., 2006 Artigo Artigo Artigo Artigo Artigo Considerações sobre o lugar da alteridade em Merleau-Ponty Considérations sur l’endroit de l’alterité chez Merleau-Ponty Prof.Dr.Osvaldo FONTES FILHO Departamento de Filosofia/PUC-SP Departamento de Filosofia/PUC-SP Departamento de Filosofia/PUC-SP Departamento de Filosofia/PUC-SP Departamento de Filosofia/PUC-SP Pós-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp- Pós-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp- Pós-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp- Pós-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp- Pós-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp- S.J.do Rio Preto S.J.do Rio Preto S.J.do Rio Preto S.J.do Rio Preto S.J.do Rio Preto Resumo “Saber obscuro”, vai-e-vem an-árquico e a-teleológico entre as sedimentações históricas, a filosofia empreende um percurso acidentado, descontínuo, em vez de um rumo desimpedido ao apodíctico. Se Merleau-Ponty acaba por lhe encontrar uma “comunidade fenomenológica encarnada”, onde ela se faz polissêmica, é porque a filosofia persegue ao longo das múltiplas clivagens do ser um sentido sem conceito dado a priori . Donde o seu registro em uma particular interioridade, diversa daquela do Ego constituinte: intentionaler Innerlichkeit , segundo a expressão retomada de Husserl, intencionalidade que refere o lugar necessariamente não-simbólico da diferenciação entre as experiências. É em torno desse lugar que se discorrerá aqui, segundo a última filosofia de Merleau-Ponty. Retendo a atenção sobre “nossa ausência na presença e nossa não-coincidência com os outros”, algumas notas de trabalho de Le visible et l’invisible revelam o mundo da experiência sensível como uma “arquitetônica espácio-temporal”: modulação no lugar de cruzamento de suas várias dimensões e sentidos, ela é o que se esgueira entre a visada de um e de outro, sempre mais longe que o lugar aonde se olha, entregue à sua alteridade. Palavras-chave alavras-chave alavras-chave alavras-chave alavras-chave: alteridade, comunidade encarnada, experiência, lugar, Merleau-Ponty. Résumé “Savoir obscur”, va-et-vient an-archique et a-téléologique entre les sédimentations historiques, la philosophie entreprend un parcours accidenté, discontinu, au lieu d’une voie desencombrée vers l’apodictique. Si Merleau-Ponty arrive à lui trouver une “communauté phénoménologique incarnée”, où elle se fait polysémique, c’est en raison du fait que la philosophie poursuit au long des multiples clivages de l’être un sens sans concept donné a priori. D’où son registre dans une particulière intériorité, différente de celle de l’Ego constituant: intentionaler Innerlichkeit, selon les termes repris à Husserl, intentionnalité qui signale le lieu nécessairement non-symbolique de différenciation entre les expériences. C’est autour de ce lieu qu’on discutera ici, d’après la dernière philosophie de Merleau-Ponty. Retenues par “notre absence dans la présence, notre non-coïncidence avec les autres”, quelques notes de travail de Le visible et l’invisible révèlent le monde de l’expérience sensible comme une “architectonique spatio-temporelle”: modulation dans le lieu de croisement entre ses diverses dimensions et sens, elle est ce qui s’esquive entre la visée de l’un et de l’autre, toujours un peu plus loin que l’endroit où l’on regarde, livrée à son altérité.. Mots-clé Mots-clé Mots-clé Mots-clé Mots-clé: altérité, communauté incarnée, expérience, lieu, Merleau-Ponty. REFLEX1.pmd 3/9/2007, 15:08 11

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Tema principal do artigo é sobre o conceito de intersubjetividade em Merleau-Ponty.

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    ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

    Consideraes sobre o lugar da alteridadeem Merleau-Ponty

    Considrations sur lendroit de lalterit chez Merleau-Ponty

    Prof.Dr.Osvaldo FONTES FILHO Departamento de Filosofia/PUC-SPDepartamento de Filosofia/PUC-SPDepartamento de Filosofia/PUC-SPDepartamento de Filosofia/PUC-SPDepartamento de Filosofia/PUC-SP

    Ps-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp-Ps-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp-Ps-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp-Ps-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp-Ps-Doutorando CNPq-IBILCE/Unesp- S.J.do Rio PretoS.J.do Rio PretoS.J.do Rio PretoS.J.do Rio PretoS.J.do Rio Preto

    Resumo

    Saber obscuro, vai-e-vem an-rquico e a-teleolgico entre as sedimentaes histricas, a filosofia empreende um percursoacidentado, descontnuo, em vez de um rumo desimpedido ao apodctico. Se Merleau-Ponty acaba por lhe encontrar umacomunidade fenomenolgica encarnada, onde ela se faz polissmica, porque a filosofia persegue ao longo das mltiplasclivagens do ser um sentido sem conceito dado a priori. Donde o seu registro em uma particular interioridade, diversa daquelado Ego constituinte: intentionaler Innerlichkeit, segundo a expresso retomada de Husserl, intencionalidade que refere o lugarnecessariamente no-simblico da diferenciao entre as experincias. em torno desse lugar que se discorrer aqui, segundo altima filosofia de Merleau-Ponty. Retendo a ateno sobre nossa ausncia na presena e nossa no-coincidncia com osoutros, algumas notas de trabalho de Le visible et linvisible revelam o mundo da experincia sensvel como uma arquitetnicaespcio-temporal: modulao no lugar de cruzamento de suas vrias dimenses e sentidos, ela o que se esgueira entre avisada de um e de outro, sempre mais longe que o lugar aonde se olha, entregue sua alteridade.

    PPPPPalavras-chavealavras-chavealavras-chavealavras-chavealavras-chave: alteridade, comunidade encarnada, experincia, lugar, Merleau-Ponty.

    Rsum

    Savoir obscur , va-et-vient an-archique et a-tlologique entre les sdimentations historiques, la philosophie entreprend unparcours accident, discontinu, au lieu dune voie desencombre vers lapodictique. Si Merleau-Ponty arrive lui trouver unecommunaut phnomnologique incarne, o elle se fait polysmique, cest en raison du fait que la philosophie poursuit aulong des multiples clivages de ltre un sens sans concept donn a priori. Do son registre dans une particulire intriorit,diffrente de celle de lEgo constituant: intentionaler Innerlichkeit, selon les termes repris Husserl, intentionnalit qui signale lelieu ncessairement non-symbolique de diffrenciation entre les expriences. Cest autour de ce lieu quon discutera ici, daprsla dernire philosophie de Merleau-Ponty. Retenues par notre absence dans la prsence, notre non-concidence avec lesautres, quelques notes de travail de Le visible et linvisible rvlent le monde de lexprience sensible comme une architectoniquespatio-temporelle: modulation dans le lieu de croisement entre ses diverses dimensions et sens, elle est ce qui sesquive entre lavise de lun et de lautre, toujours un peu plus loin que lendroit o lon regarde, livre son altrit..

    Mots-clMots-clMots-clMots-clMots-cl: altrit, communaut incarne, exprience, lieu, Merleau-Ponty.

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    [...] somos tanto mais cegos ao olhodo outro quando este se mostra capazde ver e podemos trocar com ele umolhar. Lei do quiasma no cruzamento ouno-cruzamento dos olhares: a fascina-o pela vista do outro irredutvel fascinao pelo olho do outro, mesmoincompatvel com ela. Esse quiasma noexclui, ao contrrio, ele convoca a obses-so de uma fascinao pelo outroJacques Derrida, Mmoires daveugle

    Quem quer que esteja fascinado, o queele v, ele no o v propriamente falan-do, mas isto o toca em uma proximida-de imediata, isto o apreende e o envol-ve por completo, embora isto o deixeabsolutamente distncia Maurice Blanchot, Lespace littraire

    Nada h mais para olhar seno um olhar,aquele que v e o que visto so exa-tamente substituveis, os dois olhares nose imobilizam um sobre o outro, nadapode distra-los e distingui-los um dooutro, pois que as coisas so abolidas eque cada qual s tem de se haver comseu duploMaurice Merleau-Ponty, Signes

    Na experincia perceptiva do outrem, nos-so olhar erra por entre os indcios de um volumeque invariavelmente permanece ocluso. Visada apartir de seu invlucro exterior, da interioridadede outrem temos de nos contentar com indcios,signos por vezes equvocos de uma presena defato longnqua, vivida em defasagem da nossa. Delano obtemos mais que certa forma de ausncia. E,no entanto, a essa ausncia que nos reportamos.Onde situ-la? Como percorrer essa distncia queh no dentro mais prximo do outrem? Umcartesiano no se embaraaria com tal questo:todo objeto est na extenso, diria ele, ao passoque o contedo vivido encontra-se fora dela,dentro da psique. J para os partidrios das

    sensaes, permanece a impresso que o invlucrocorpreo contm um vazio, mas um particular va-zio, posto que mais que ausncia de matria: vida vivida alhures, em simultaneidade com estanossa, em hiato com ela. Uma vez que a que ooutrem se abriga, da que nos fala.

    Cumpre considerar isso, se se quiser fazerjus ao paradoxo interno da percepo, qual seja,o de que todo mundo privado torna-se instru-mento manejado pelo outro (Merleau-Ponty,1992, p. 22). Paradoxo que, diga-se, em nadaafeta o sujeito reflexivo. Concebendo-se como re-presentao, atividade sinttica, conscincia, eleno v em outrem seno um no-eu, pois queseu raciocnio por analogia no o capacita a trans-ferir a um outro a ipseidade que experimenta em si(Merleau-Ponty, 1996, p.364). Na verdade,a analogia no funda a experincia de outrem, delaprocede: ela vem somente confirm-la e nutrir comometdico um conhecimento j presente na experi-ncia das mutualidades. Essa constatao ratificaem Le visible et linvisible a necessidade de repen-sar a experincia da alteridade, de modo a que ooutro, seus sentidos e sentires, no se deixe repre-sentar unicamente pela negao das diferenciaesde um eu (Merleau-Ponty,1992, p.191).

    Post festum, o ego reflexionante est de an-temo condicionado pelo que Merleau-Ponty cha-ma a situao total, ou seja, o entrelaamentoentre as vidas, a confrontao entre os camposperceptivos, a mistura das duraes (cf. 1992,p.56). Assim apresentado o mundo, no caos domisto e no lugar das transferncias entre ipseidades,-se conduzido para alm das alternativas doobjetivismo: a coisa visada em minha cabea, ooutrem atrs de seu corpo; o esprito como oque pensa, o mundo como o que pensado. Naverdade, a experincia como no-saber origin-rio abre para o que no se : excentricidade, ca-pacidade de se ausentar de si. Ela desmonta assima anlise constituinte que, realizada do ponto devista do fechamento do ego todo objeto umaunidade de sentido constitudo no interior da psi-

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    que , desconsidera os sentidos vividos fora de si,no mundo.

    Assumir, como o faz Merleau-Ponty, umasituao de reteno das sensaes no tecidopr-analtico de um Ser selvagem ou vertical lu-gar aonde passamos uns nos outros (Merleau-Ponty,1992, p. 257) , contornar conhecida tensona operao reflexiva: interior ao ego haveria umser cujo sentido o de transcender esse ego. Essatenso pe em jogo as duas dimenses constitutivasda metafsica: a exigncia idealista, em virtude daqual outrem, como a coisa, deve aparecer comounidade de sentido; e a fidelidade experinciaque exige que outrem transgrida a esfera prpria efaa surgir, nos limites do vivido, um suplementode presena, incompatvel com a incluso de todosentido nesse vivido. Mas como possvel que seproduza na interioridade um vazio capaz deabrigar uma outra conscincia? Para a reflexo, noparece haver termo de compromisso entre a apre-sentao objetiva da ipseidade alheia e a sua con-dio de ipseidade. Assim que outrem aborda-do a partir da oposio do alter e do ego paraempregar a terminologia husserliana , suatranscendncia que inevitavelmente se perde.

    Ora, a carne de que fala o ltimoMerleau-Ponty no trnsito de intencionalidadea intencionalidade, mas modalidade rtmica da si-tuao de entrelaamento do mundo com o esp-rito e do esprito com o mundo (Merleau-Ponty,1992, p.54). Ocorre, porm, de a conscinciaconstituinte ser incapaz de se reconhecer nessa si-tuao. Na considerao de sua alteridade, porpartir da solido do ego, isto , sob fundo de umaausncia do mundo, ela nunca se atm ao cartereminentemente produtivo da tenso entreimanncia e transcendncia. Por um lado, a posi-o de outrem como outro-eu-mesmo no de fatopossvel se a conscincia que a efetua: ter cons-cincia de outrem seria constitu-lo como consti-tuinte, e como constituinte em relao ao ato mes-mo pelo qual constitudo (Merleau-Ponty,1960, p.117). Por outro lado, a conscincia

    no consegue desvelar uma alteridade em si, o ser-o-outro-de-si-mesmo.

    A percepo de outrem como um vivido-alhures vir apenas daquelas particulares experi-ncias onde, em razo de paradoxal permuta, oobjeto intencional vem desinvestir a intenciona-lidade. Somente uma percepo submetida transcendncia experimenta de fato a experinciade outrem. Contra-efetuado por sua prpriaexteriorizao, o corpo-de-carne que se preencheda espessura do mundo, que se abre para o queele no , supe um reenvio do mundo que obscu-rece seu prprio corpo. Sem perceb-lo explicita-mente, ele que est construdo em torno dos arran-jos internos do sensorium que o pem em condi-es de circunscrever os objetos do mundo, temseu olhar confrontado pela denegao dos senti-dos desse mundo toda forma corporal sempresupe o alhures invisvel de seu sentido. Umapluralidade de sentires pode, ento, ser reconhe-cida e descrita como o que dado com atranscendncia do mundo:

    a transcendncia objetiva no poste-rior posio do outro: o mundo j esta em sua transcendncia objetiva antesdessa anlise, e seu prprio sentidoque vai ser explicitado como sentido ...[A introduo do outro no , pois, oque produz a transcendncia objetiva:o outro um de seus ndices, um mo-mento, mas no prprio mundo que seencontrar a possibilidade do outro](MERLEAU-PONTY, 1992, p. 169).

    A experincia da viso no promove o de-senrolar de um mundo objetivo diante de uma cons-cincia ubqua. Lio que j estava na fenome-nologia da percepo: contemplo um mundo queme tampa a vista, cerca-me, excede-me; no maispostado diante mas em torno de mim, de modoque esse envolvimento , por princpio, irredutvela uma apreenso frontal. Embora eu esteja nele si-tuado, no tem sentido a consignao precisa de

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    um limite entre ele e mim, entre o que lhe perten-ceria e o que eu possuiria como prprio. O pr-prio como circunscrio de um vivido, de um cor-po sentido, desqualificado nesse fundo deindivisibilidade que o mundo. De fato,

    cabe-nos rejeitar os preconceitos secu-lares que colocam o corpo no mundo eo vidente no corpo ou, inversamente, omundo e o corpo do vidente, comonuma caixa [] Onde colocar no cor-po o vidente, j que evidentemente nocorpo h apenas trevas repletas de r-gos, isto , ainda o visvel ? O mun-do visto no est em meu corpo e meucorpo no est no mundo visvel emltima instncia : carne aplicada a outracarne, o mundo no a envolve nem por ela envolvido (MERLEAU-PONTY,1992, p. 134).

    A viso no se distingue do advento dovisvel, no se produz em mim, mas alhures, jun-to coisa: a exterioridade do mundo somente acessvel para uma experincia absolutamente forade si mesma, ausente de si; que se confunde, en-fim, com a espessura do mundo. Experincia deviso total, como a chama Merleau-Ponty.

    possvel surpreender essa viso total naexperincia da percepo esttica, ocasio demetamorfose do corpo na visibilidade que o en-volve. Aqui, o olhar se obriga a abandonar aespacialidade por segregao do ponto de vistapara ingressar na textura espacial malevel eindeterminada, em perptua latncia de determi-nao, das formas e das cores. Perceber estetica-mente, esclarece Jos Gil, tecer um plano doolhar que prolonga o plano espacial das formas.Nessa empresa, o olhar deixa de depender docorpo, deixa de se submeter a um ponto de vista:

    o olhar deixa de estar fixado no corpoporque os prprios lugares do quadrose tornaram lugares de viso, o olhar neles plenamente viso, j no vm poisarneste ponto ou naquele, esse plano que

    une olhar e quadro mudou-se em corpoonde vidente e visto pertencem a umanica e mltipla viso. J no h pontode vista porque j no h corpo [...]J no vejo o quadro, participo na vi-so total (Merleau-Ponty) que o cor-po-plano oferece. J no h ponto devista, porque eu me torno cor, torno-meforma e movimento das formas e dascores; no as vejo, mas a prpria visi-bilidade delas que sou (GIL, 1996,p.305).

    Radicalizao da carne, que carrega nostraos de uma dessubjetivao. O plano das for-mas e das cores potencializa a disposio naturalque submete o corpo vidente e as coisas visveis sua indefinio e espessura originrias. Razo por-que meu corpo o meio nico para chegar aomago das coisas, fazendo-me mundo e fazen-do-as carne (Merleau-Ponty, 1992, p.132).Na dimenso participativa da carne (intercorpo-reidade), eis a unidade originria do mesmo e dooutro.

    *

    Cristalizao momentnea de um viver,encarnao de uma vida, todos os movimentos deuma personagem outra que a nossa, em seus inter-valos, modulaes, mudanas de orientao, sodiferenciaes de uma mesma dimenso, momen-tos de uma nica abertura para o mundo, momen-tos referidos em sua prpria singularidade a outrosgestos possveis. No situveis sobre o plano ob-jetivo, que os submete alternativa do movimentoe do repouso, esses gestos no se sucedem demaneira descontnua, mas escorregam uns nos ou-tros: testemunham a unidade de uma potncia, deum eu posso cuja capacidade no tem medidaobjetiva. No h localizao fixa de um outrem:observado em seu devir, o que de fato se v adinmica difusa de um desdobramento de mundo.No h, por um lado, um corpo objetivo, e, poroutro lado, movimentos que o animam; h, antes,um nico visvel que em todos os pontos de si

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    mesmo d-se como diferenciao de certo modode abertura para o mundo.

    legtima a impresso que o vivido deoutrem sempre escapa a nosso olhar, escolho nopreenchimento de nossa prpria intencionalidadeOnde estaria afinal o outro neste corpo que ve-mos? Em uma nota de trabalho de O visvel e oinvisvel, a derradeira ontologia de Merleau-Pontyd sua resposta:

    ele (como o sentido da frase) ima-nente ao corpo (no se pode destac-lo para p-lo parte) e, contudo, mais do que a soma dos signos ou signi-ficaes por ela veiculados. aquilo deque as significaes so sempre imagemparcial e no exaustiva, e que contu-do atesta estar presente por inteiro emcada uma delas. Encarnao inacabadasempre em curso Para alm do corpoobjetivo como o sentido do quadro estpara alm da tela (MERLEAU-PONTY,1992, p.196).

    O corpo permite a analogia com a obra dearte por ser, como esta, uma articulao do mundopor recortes em sua espessura. De fato, ele comoum sentido encarnado cujas manifestaes so sig-nos indefinidamente fluidos, errantes. Esse senti-do assemelha-se ao de um quadro por seu carterkantianamente esttico, isto , como um sentidosem conceito dado a priori conceito que reificariao outro, ou o projetaria sobre o plano do Mesmo.A ontologia merleau-pontyana mostra, e o entrela-ce das mos ilustra, que esse sentido faz-se por

    defasagem e imbricao mtuas de dois visveis queno se superpem a ponto de coincidir: coinci-dncia parcial. Por conseguinte, ele se faz comoinvis vel, na temporal izao originar iamenteintersubjetiva da implicao das lacunas do outronas minhas, no interior de um Ser a mltiplas en-tradas (Merleau-Ponty, 1996, p.364). fatoque h algo da vida de outrem que sempre meescapar, assim como atravs de outrem que chegoa compreender que h algo de minha prpria vidaque sempre me escapar. Razo porque Merleau--Ponty entende a imbricao intersubjetiva nocomo interseco entre duas positividades, mascomo uma juno distncia, modo de se encon-trar em algum lugar, no invisvel (cf. Merleau-Ponty,1992, p.287). Ainda que remeta ao alhures,essa imbricao permite localizar em uma nicamassa sensvel os mundos estesiolgicos de nos-sos diversos sentidos. A carne, esse lugar queMerleau-Ponty afiana no ter recebido batismofilosfico, tecido elementar que rene.

    Insistamos um pouco mais na analogia queparece fazer do corpo-outro uma superfcie a serlida. Outrem como fenmeno caracterizar-se-ia poruma estrutura diacrtica: assim como no significantevicejam oposies e parentescos de toda ordem,o corpo-outro advm como a diferenciao de seuscomportamentos. Mais que soma de signos vis-veis, ele encarnao de sentidos que retm umirredutvel in-apercebido. semelhana da pala-vra, massa trabalhada do interior por uma esp-cie de ebulio (apud Heidsieck, 1993, p.15)que a abre para jogos interminveis de investimen-to sensorial no Ser1. Assim, embora de outrem cada

    (1) Na Prose du monde, Merieau-Ponty retoma de Saussure a acepo da linguagem como um mundo que se toca e se compreende, que no poisobjeto para um sujeito externo, mas algo acessvel do interior (1969, pp.34-35). Uma nota de trabalho de outubro de 1959 deixa claro queessa interioridade da expresso descarta a possibilidade de se tom-la como instrumento de alguma instncia subjetiva: A natureza mesma daexpresso, o fato de no se poder nela enumerar o que dito e o que subentendido, nem mesmo os meios de expresso, aqueles que soempregados e aqueles que no o so (vocabulrio de uma lngua) , mostra que a expresso est presente por inteira em cada ato de expresso,que a linguagem por inteiro dobra cada palavra como uma Sub-Palavra, ou melhor, que cada palavra apenas uma dobra na palavra, que em suanatureza ela figura sobre fundo (de silncio ativo ou Gestalt), que ela , mais que proposio no sentido da lgica, proposio no sentido deClaudel, um Etwas, uma Gestalt que se esvazia interiormente de sua carne para deixar transparecer uma estrutura, uma massa trabalhada do interiorpor uma espdie de ebulio, um nicho no Ser, um desvio em relao no-diferena ou in-diferena, luz vindo de onde -? Certamente no dosatos do sujeito nem de seu fazer (apud Heidsieck, 1993, p.15, grifos nossos). A mesma expresso ressurge em Le visible et linvisible: [...]o corpo visvel, graas a um trabalho sobre si mesmo, arruma o nicho de onde elaborar uma viso sua, desencadeia a longa maturao ao fim daqual, de repente, ele ver, isto , ser visvel para si mesmo; instituir a interminvel gravitao, a infatigvel metamorfose do vidente e do visvel,cujo princpio est estabelecido, e que posta em andamento com a primeira viso. O que chamamos carne, essa massa interiormente trabalhada,no tem, portanto,, nome em filosofia (1992, p. 142, grifos nossos).

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    gesto produza somente uma imagem parcial e noexaustiva, ele atesta-se por inteiro em cada umadelas, ou melhor, manifesta-se como suas diferen-as, isto , segundo as configuraes nas quaisadvm. Assim como a frase, o sentido de outrempreserva sua riqueza porque permanece retido nossignos que o do a entender. O outro est entreseus gestos visveis, em sua juntura, imerso em umcorpo vivo, investido pelos comportamentos queinveste.

    Por isso possvel falar a seu respeito comode uma iminncia sempre diferida, como nas se-guintes passagens:

    [...] como a coisa percebida, outrempermanece longnquo e como que at-mosfrico. a dimenso que d coeso presena de outrem. Como o corpoprprio, preciso dizer de outrem queele no est alhures, mas no se podedizer que ele esteja aqui ou agora nosentido dos objetos (MERLEAU-PONTY,1992, p.215); .

    Outrem nunca se apresenta de frente,ele cerca-me, envolve-me, rodeia-me, suapresena permanece difusa como umaobsesso. Sendo ele mesmo um aqui,reflui para meu aqui, ele uma pre-sena; ele habita o mundo, nele irra-dia, investe-o por todos lados, semprepara alm do ponto onde eu o fixo,quase no mundo, coisa iminente. Ele esse duplo errante, a um tempo prxi-mo e afastado, que vem descentrar mi-nha perspectiva sobre o mundo. Ele estsempre um pouco mais longe do lugaronde olho [...] (MERLEAU-PONTY,1996, p.189).

    A fenomenologia mostrara a Merleau-Pontycomo todo sensvel nunca se manifesta sob a forma

    de um indivduo acabado. As coisas no se apre-sentam pacificadas num espraiamento partes extrapartes, no so homogneas em relao ao mundode que fazem parte. Assentam-se, antes, em falsabase (Merleau-Ponty, 1992, p. 286), ao ladodo ponto onde so procuradas, irradiando a ou-tros pontos. A coisa vista , fundamentalmente,corpo atmosfrico. Analogamente, outrem nose manifesta como conscincia, capacidade de sn-tese, ou ento como sensvel insecvel. Dele cum-priria falar como de um eixo de coeso em tornodo qua l se const i tu i o mundo como suacomplementaridade.

    O mundo jamais se manifesta como plenaexterioridade, de modo que a apario de outremcorresponde a um ressalto de sua massa interior-mente trabalhada por fora da conseqente alu-so naquele de cada sensvel aos demais. Na ver-dade, sabe-se como a filosofia da carne situa omundo tanto aqum da interioridade quanto almda exterioridade. O mundo concreo de um Siuniversal que, em virtude dessa universalidade, v-seinclinado a se pluralizar. H um mundo apenas namedida em que ele no se oferece pura intuio,mas se posterga junto a uma viso esparsa. Razoporque sempre habitado por sua prpriaalteridade: o que nele transcende uma viso domomento alimenta uma sensibilidade difusa, dis-persa, isto , pregnante de outras vises2. Irredutvelaos estados de conscincia dos sujeitos insulares,inscrito no eixo de individuao das conscincias,o mundo anuncia uma multiplicidade de visespossveis que se individuam na espessura dos istosmundanos, que se diferenciam na obscuridade dossentires singulares. Assim, toda viso variante deuma nica Viso que somente garante unidade aose diferenciar em vises distintas e insulares. Todasensao repousa sobre a espessura do Ser sens-vel, sobre um cmulo de subjetividade que tambm cmulo de materialidade e, conseqen-

    (2) A carne presena como horizonte, mais que horizonte de presena. a idia de uma anterioridade que est aqui em causa: a procura por umfundamento ou origem reenvia sempre a um ponto de vista objetivo que apreende, invariavelmente no regime da re-presentao, outrem e o mundoem exterioridade, embora um e outro devam ser apreendidos conjuntamente, isto , inscritos na profundidade/espessura do Sensvel, como momentosde sua modulao reverberante.

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    temente, abertura em sua prpria insularidade paraos outros sentientes.

    Uma vez considerada tal tpica do Sens-vel, inevitvel que a distncia a outrem torne-seuma estranha proximidade, como afirma Merleau--Ponty em Signes, pois o sensvel , precisamen-te, aquilo que sem se mexer do seu lugar podeassediar mais de um corpo. De fato, o objetocuja textura interrogada pelo olhar no pertencea nenhum espao de conscincia: ele matriacirculante entre os corpos de viso que se deixamassim preencher pela carne universal do mundo.De modo que uma miraculosa multiplicao dosensvel esclareceria o que separa (ou une) as di-ferentes paisagens ao longo do tempo e do espa-o, e o que faz de cada uma um segmento dadurvel carne do mundo (Merleau-Ponty, 1960,p. 23). Nas Notes de Cours l-se:

    O visvel que vemos, de que falamos o mesmo de que falavam, que viamPlato e Aristteles, o mesmo numerica-mente: por detrs de cada paisagem deminha vista, mesmo se no o Himeto,o Ilissos ou os pltanos de Delfos, poisque uma paisagem, no um grupo desensaes efmeras, tampouco juzos,atos espirituais sem fogo nem lugar, masum segmento da durvel carne do mun-do, esto escondidas as paisagens detodos os homens que existiram, de to-dos aqueles que existiro, de todosaqueles que teriam podido ou pode-riam ser, indivisos entre eles e eu, comoo objeto que detenho entre minha modireita e minha mo esquerda. De Platoa ns, o homem grego desapareceu, umoutro homem se fez, que coloca seu sa-bor prprio, seu prprio odor em tudoaquilo que empreende, mas quando ele

    l Plato, quando segue no l da Grciaantiga Plato e reencontra a nervura dosdilogos, ento, no centro de si mesmo,e sincronicamente, algo se mexe e revive,algo que foi e o pensamento de Plato.A Natureza e a Palavra, o visvel e o es-crito, de outro e do mesmo modo, re-criam a cada instante uma simultaneida-de universal (1996, pp. 374-375)3.

    foroso constatar: algo que foi e revivena unidade de um si, em razo de sua participa-o na carne sem idade que o engloba! No seescapa impresso que a paisagem presta-se a umponto de vista absoluto, sorvedouro das efemridesdo vivido, em outras palavras, de sua alteridade.Uma outra paisagem, um olhar diverso que, ali-s, no seria de todo hostil ao Merleau-Ponty deoutros momentos talvez possa falar mais apropri-adamente.

    Olho o campo aberto da paisagem.Aqui e ali, outros corpos idnticos ao meusurgem e, de sbito, a minha viso tolda--se, o fulgor das coisas embacia-se notanto na minha prpria percepo dosobjectos como no meu pensamento dapaisagem. Obscurecimento sob o vis-vel, encoberto nele, uma vez que nelenada mudou. Somente sei agora que nelealguma coisa me escapa, alguma coisaque eu no poderia ver. Tudo permane-ceu semelhante, mas sinto que estes cor-pos agem como buracos negros cuja obs-curidade, todavia, no visvel [...]Doravante, cada coisa puxada nadireco de plos que se esgueiram vista, entrando assim num espao depossibilidades desconhecidas. Outrosseres como eu vem as mesmas coisas que

    (3) Vale mencionar que a perspectiva da universalidade do sensvel, que em Le visible et linvisible Merleau-Ponty nomeia a Weltlichkeit dos espritos,reelabora o motivo da histria existencial que, na Phnomnologie de la perception, era a histria de uma liberdade s voltas com o destino e afatalidade. O outro deve ser tomado no circuito que o liga ao mundo, circuito comum a todos; de modo que o destino e a fatalidade de outremnunca so vistos de fora, mas vividos do interior de uma mesma tessitura mundana, no lugar de todos os transitivismos (cf. Merleau-Ponty, 1992,p. 322).

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    eu e no sei o que eles vem. A sombraprojectada do corpo do outro estende-se a tudo, criva a luz de incerteza e dedvidas, carregando de desconhecidotoda a evidncia. O olhar do outroafecta o meu de um ndice de cegueira.Mas a cegueira provoca a imaginao(GIL, 1996, p.226).

    Sorvedouro outro, pois, esse de que falaJos Gil, e que solicita o esgueire de vista e, por-que no diz-lo, um outro-sorvedouro, que acen-tua a deriva do olhar, at a cegueira. Comea en-to o esgueire da imaginao. O espao , aqui,o da inscrio do desconhecido, espao onde apercepo vem buscar possveis alhures para su-plantar o ponto de vista da viso situado no aquiobjetivo do corpo prprio frente ao objeto perce-bido (Gil, 1996, p.227) a fim de transform-loem ponto de vista do que se situa no vago e inde-finido, ou seja, no espao esttico ou imaginrio.

    Quanto viso inscrita na durvel carnedo mundo, somente lhe restaria nutrir a relaosujeito-objeto, no jogo das evidncias, do tudoou nada? Dizer que um corpo vidente, salientaMerleau-Ponty, afirmar para a experincia quese tem dessa vidncia a propriedade de fundar eenunciar a viso que outrem possui (cf. Merleau--Ponty, 1992, p.327). A fim de ser viso, ocorpo deporta-se para uma visibilidade, em cujoreverso outras vises surgem sem comprometer a sua.Isso porque

    a experincia do meu corpo e a dooutro so elas prprias os dois ladosde um mesmo ser : quando digo quevejo o outro, acontece sobretudo queobjetivo meu corpo, outrem o hori-zonte ou o outro lado dessa experincia(MERLEAU-PONTY, 1992, p. 278).

    O carter provisrio das notas de trabalhono deve, porm, iludir sobre a natureza daalteridade. Fato que o eu e o outrem no consti-tuem plos positivos. A anlise do quiasma carnal

    mostra como o sujeito somente se realiza ao sedespossuir em favor do mundo; sua viso somentetem sentido como momento de uma visibilidadeuniversal, um modo precrio de falar da carne domundo. Isso significa que o para-si permaneceiminente e o sujeito do sentir na verdade anni-mo, geral, desprovido da positividade que lhepermitiria se cindir dos outros. A intersubjetividadepode entrar em sua definio porque o prpriodos eus carnais a unidade de um j e de umainda no. Renaud Barbaras explica:

    De fato, enquanto no h mundo se-no para um corpo que se faz mundo eque portanto ainda no acede plenaconscincia de si, a relao com ou ou-tros de algum modo precede, pela me-diao da pertena ao mundo, a iden-tidade pessoal. Contudo, porque omundo no a negao da subjetivida-de mas sentido na carne, tramado devisibilidade, o sentir j individualiza-do e a relao inter-subjetiva no vai ata confuso pura e simples: ela aceita neladiferenas, permanece inter-subjectivida-de (BARBARAS, 1991, p.289).

    O eu e seu outro so dois antros, descreveMerleau-Ponty, duas aberturas, dois palcos ondealgo vai acontecer e ambos pertencem ao mes-mo mundo, ao palco do ser (Merleau-Ponty,1992, p. 317). O que ali se encena, poder-se-iadizer, o perseverar da filosofia como o trabalhode articulao que alerta para a incorporao maisque para o recorte entre plos carnais.

    A anlise da experincia perceptiva j mos-trara para Merleau-Ponty que a individualidadeda coisa condiciona-se participao na universa-lidade do mundo: a coisa permanece pr-indivi-dual, sua singularidade generalidade. Do mes-mo modo, o eu situa-se aqum de sua oposio aoutrem: confunde-se com uma generalidade que sincretismo, transitivismo, pr-egologia(Merleau-Ponty, 1992, p.274). Termos quedizem o regime de um Ineinander, tecido con-

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    juntivo que no nem objeto, nem sujeito,tampouco alma do grupo (1992, p.170); que, antes, co-funcionamento do eu e do outro(1992, p.200), conjuno/disjuno, superf-cie de separao entre mim e o outro [], lugarde nossa unio, a nica Erfllung de sua vida e deminha vida (1992, p.214).

    O discurso de Merleau-Ponty por vezes nodisfara seu interesse em localizar com preciso tallugar. Mesmo porque

    em direo a essa superfcie de sepa-rao e unio que se dirigem os existen-ciais da minha histria pessoal, ela olugar geomtr ico das projees eintrojees, a charneira invisvel sobre aqual a minha vida e a vida dos outrosgiram para balouar de uma para outra,a membrura da intersubjetividade(MERLEAU-PONTY, 1992, p. 214).

    A relao com outrem se d nesse pontode contato que tambm ponto de disjuno,nessa superfcie de separao onde as indivi-dualidades, ao se encontrarem, so repelidas emdireo sua diferena; lugar onde se constituem aum tempo a diferena e a identidade das cons-cincias e, conseqentemente, a profundidade e afenomenalidade do mundo. Portanto, cumpre enten-der essa trama do Ineinander, figura do um-no-ou-tro, como uma realidade ltima, irredutvel, enfim,como a dimenso fundamental do mundo.

    somente por comodidade que se fala deconscincias, mas no h de fato conscinciasque resumiriam a profundidade do mundo inconstncia de um puro pensamento. No exis-te indivisvel de pensamento, natureza simples [...]que ou apreendida totalmente ou no o , deuma forma total (Merleau-Ponty, 1992, p.327).H sim intersubjetividade, charneira em torno daqual o mundo conquista sua unidade (guarde-mos, aqui, o parntesis fenomenolgico), realizaum sentido ao se dispersar em uma pluralidade deexperincias, condio mesma de preservao desua profundidade. H campos em interseco.

    E se ocorre falar de um campo dos campos, comoo faz Merleau-Ponty (1992, p.281), retenha-seque seu regime no causal: a carne elementoonde a unidade dos plos carnais a um tempo seanuncia e se diferencia, anuncia-se diferenciando-se.A intersubjetividade , assim, sinnimo da dimen-sionalidade fundamental, termo ltimo para a car-ne do mundo, o que explica seus modos deindividuao e generalizao.

    Um mundo que no projetivo, masque realiza a sua unidade atravs dasincompossibilidades como a de meumundo e do mundo de outro [...] Oquiasma em lugar do Para-Outrem : istoquer dizer que no h apenas rivalida-de eu-outrem, mas co-funcionamento.Funcionamos como um nico corpo(MERLEAU-PONTY, 1992, p. 200;grifos nossos).

    *

    Mencionamos acima uma superfcie de se-parao entre mim e outro, superfcie que tam-bm de juno, em torno da qual giram os existen-ciais para se entrecruzarem e se entretecerem unsaos outros na membrura da intersubjetividade.Se Merleau-Ponty afirma que ela lugar geom-trico das projees e introjees, a expresso traito somente o carter provisrio das notas de tra-balho. Na verdade, seu empenho o de garantirpara a Weltlichkeit dos espritos (em curso deencarnao inacabada) outra espacialidade queno a da extenso positiva. Esta, de fato, no dconta dos entrecruzamentos mltiplos e selvagensonde se ancoram os existenciais, verdadeiras cons-telaes invisveis que disseminam os sentidos. Aquesto do outrem insinua a complexidade de umpensamento dos sentidos como existenciais encar-nados; pensamento que, alis, oferece uma pers-pectiva renovada do inteligvel para alm do uni-verso das significaes ou das coisas ditas.Ela permite, ainda, apreender toda a dimenso

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    de no-presena, de ausncia da vida de outremna nossa, e a maneira pela qual essa ausncia sedistribui em lacunas, em buracos de ausncia napresena que do ao sentido os horizontesfenomenolgicos de sua profundidade. Leia-se, apropsito, a seguinte nota de trabalho:

    Fala-se sempre do problema do outro,de intersubjetividade, etc ... Na rea-lidade, o que se deve compreender ,alm das pessoas, os existenciais se-gundo os quais ns as compreendemose que so o sentido sedimentado detodas as nossas experincias voluntriase involuntrias. Este inconsciente a serprocurado, no no fundo de ns mes-mos, atrs das costas de nossa consci-ncia, mas diante de ns como articu-laes de nosso campo. inconscien-te porquanto no objeto, sendo aqui-lo por que os objetos so possveis, aconstelao onde se l nosso futuro Estentre eles como o intervalo das rvoresentre as rvores, ou como seu nvel co-mum. a Urgemeinschaftung de nossavida intencional, o Ineinander dos ou-tros em ns e de ns neles.

    So esses existenciais que constituem osentido (substituvel) daquilo que di-zemos e ouvimos. So eles a armaduradeste mundo invisvel que, com a fala,comea a impregnar todas as coisas quevemos, como o outro espao nosesquizofrnicos toma posse do espaosensorial e visvel No que, por suavez, ele o venha a ser: nunca h no vis-vel seno runas do esprito, o mundosempre se assemelhar ao Frum, pelomenos aos olhos do filsofo, que no moranele inteiramente (MERLEAU-PONTY,1992, p. 174).

    O trecho seminal para o entendimentoda questo da alteridade, mas, por investi-la apartir de figuras traindo a necessidade de pensaruma tpica , exige uma leitura mais cuidadosa.Tentemo-la a seguir.

    Merleau-Ponty fala da Urgemeinschaftungda vida intencional, a formao de sua comunida-de originria, o quiasma dos outros em ns e dens neles. mundo invisvel, que Merleau-Pontyafirma ser um campo de runas do esprito. Quan-to aos existenciais, so o sentido sedimentadode todas as nossas experincias voluntrias einvoluntrias. Histrica, a facticidade torna-secomunitria, pois que o depsito sedimentadoaonde o sentido da experincia humana vem, porassim dizer, se inscrever (cf. Richir, 1992, p.10).Por sua constituio mesma, que sedimentao,a estrutura existencial cliva-se em multiplicidadesde possveis existenciais, cujos sentidos so cons-telao de sedimentos que estruturam a priori aexperincia do mundo. Essa constelao articu-lao de campo, no interior da qual ganham senti-do projetos, isto , onde se pode ler nosso futu-ro. Se essa leitura se faz por intervalos, pornivelamento, ela confirma um vivido aberto paraseus outros, e, mesmo, um vivido constelar. Essaconstelao armadura do invisvel, pois que assedimentaes so a invisveis de sentidos. Por-tanto, o inconsciente de que fala Merleau-Pontyno possui contedo positivo mas, antes, sedimen-taes plurais, indefinidamente mltiplas, de sen-tidos. Feito por assim dizer de vazios, ele comoo intervalo das rvores entre as rvores, produz aprofundidade (o espaamento/a espacializao)da experincia, sua paisagem4. nos vazios dasarticulaes ou das constelaes invisveis de ade-so ao Ser que se aloja o sentido substituvel doque se diz e se entende. Assim, a palavra no adisposio temporal de significaes j feitas. Elaconstitui a maneira comunitria (o nvel comum)pela qual cada palavra ou pensamento aciona a

    (4) Em nota concernente filosofia do freudismo, o inconsciente e o eu (bem como noes correlatas) so instados a passar pelo crivo da carne: Todaa arquitetura das noes da psicologia (percepo, idia, afeio, prazer, desejo, amor, Eros), tudo isso, toda essa quinquilharia se ilumina, derepente, quando se deixa de pensar esses termos como positivos [...] para pens-los [...] como diferenciaes de uma nica e macia adeso aoSer que a carne (Merleau-Ponty, 1964, p. 324).

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    viscosidade dos sentidos por entre as estruturasexistenciais e invisveis de sentidos j sedimentados.Modo de impregnao muda e invisvel, a pala-vra uma espcie de logos endiathetos, fonte dologos prophorikos, lugar de possveis novas sedi-mentaes inconscientes do sentido. Enfim, ela forma particular de historicidade selvagem.

    Cumpriria falar aqui de uma redescrio detoda a vida interhumana, nos termos da articula-o dos existenciais entre os atos e visadas e nopor detrs deles. Mesmo porque a Weltlichkeitdos espritos assegurada pelas razes que esteslanam, no certamente no espao cartesiano, masno mundo esttico (Merleau-Ponty, 1992,p.269). Redescrio, por conseguinte, da verda-de, a ser compreendida tambm como diferenci-aes de uma arquitetnica espcio-temporal.Com efeito,

    a sensibilidade dos outros o outrolado do seu corpo estesiolgico. E esseoutro lado, nichturprsentierbar, possoadivinh-lo, pela articulao do corpodo outro com o meu sensvel, articula-o que no me esvazia, que no he-morragia da minha conscincia, masque, pelo contrrio, me desdobra numalter ego. O outro nasce no corpo (deoutrem) por falsa base desse corpo, seuinvestimento num Verhalten, sua transfor-mao interior de que sou testemunha.O acasalamento dos corpos, isto , oajustar de suas intenes numa sErfllung, numa s parede em que sechocam os dois lados, est latente naconsiderao de um s mundo sensvel,participvel por todos, e oferecido acada um (MERLEAU-PONTY,1992, pp.213-214).

    A escrita tateante, mas a filosofia est aquievidentemente investida de seus recursos nocionais procura por uma estilstica da carne. Um corpoestesiolgico que se desdobra em sua alteridade

    deixa escoar outro elemento que sua conscincia.A carne se reproduz numa sui generis articulao.

    Uma vez considerada a natureza partici-pativa da carne, cumpre por fim perguntar pelohiato entre o anrquico dos sentidos encarnados eo maquinal de sua repetio simblica. Como evi-tar que a selvageria historial seja recuperada pelatpica regrada dos smbolos? Para respond-lo,insistiremos uma ltima vez no motivo do espritoselvagem. L-se em uma nota de trabalho de fe-vereiro de 1959:

    a linguagem realiza quebrando o siln-cio o que silncio queria e no conse-guia. O silncio continua a envolver alinguagem ; silncio da linguagem abso-luta, da linguagem pensante. Mas es-ses desenvolvimentos [...] devem desa-guar numa teoria do esprito selvagem,que esprito da prxis. Como todaprx is, a linguagem supe umSelbstversvndlich, um institudo, que Stiftung preparando uma Endstiftung Trata-se de apreender aquilo que, atra-vs da comunidade sucessiva e simult-nea dos sujeitos falantes, quer, fala e,finalmente, pensa (MERLEAU-PONTY,1992, p. 171).

    Trata-se aqui de reconstituir a prpria pre-sena de uma cu l tu ra, i s to , daque laintersubjetividade, no perspectiva mas vertical,que, estendida ao passado, eternidade existen-cial, esprito selvagem (Merleau-Ponty, 1992,p. 229). Sabe-se que essa reconstituio tarefada fala mais que da lngua, esta que no vai almdo que nas Notes de Cours Merleau-Ponty dizser a mitologia laboriosa da psique (1996,p.361): sensao, imagem, ateno, lembrana,noes que se encarregam de montar um mundointerior, duplo e fantasma de uma exterioridadeque no responde a outra entidade seno causa-lidade fsica. Ora, importa de fato uma visadavertical do esprito onde este no seja insular,mas meio onde ocorre ao distncia (mem-ria) (Merleau-Ponty, 1992, p.221). O espri-

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    to selvagem o esprito de uma comunidadefenomenolgica encarnada. Histrica na sedimen-tao dos existenciais que promove, ela constituia um tempo o presente vivo de uma cultura e aeternidade existencial, imemorial, da comunidadede carne. Portanto, h nessa comunidade umahistoricidade escondida ou implcita por detrs dahistoricidade explcita, simblica, dos aconteci-mentos, da vida e da morte das civilizaes ouculturas. H uma verticalidade apartada das pers-pectivas relativas desta ou daquela cultura,verticalidade que as dota de um nico e mesmomovimento. De que ordem seria esse movimento?

    Na mesma nota em questo, a selvageriado esprito recebe por modelo a prxis da lingua-gem, englobante de uma prxis do silncio.Merleau-Ponty ope ali uma Stiftung primeira daordem do bvio (Selbstversvndlich), da institui-o simblica da linguagem ao movimento mes-mo da fala, que realiza algo do silncio ao romp--lo. Essa Stiftung, instituio simblica, prepara umainstituio final (Endstiftung), nova, mas cuja no-vidade no poderia estar j pr-inscrita na institui-o inicial: ela , antes, o resultado sedimentadode um devir da prxis do sentido, por naturezaaventuroso (an-rquico) e no pr-determinado. esse movimento que constitui a selvageria do es-prito; ele deve Stiftung simblica to somenteseu ponto de partida, mas dela escapa por suacongnita heterogeneidade. Toda sua eficcia resi-de no hiato entre Stiftung e Endstiftung, nessa di-ferena aparentemente insuplantvel (e jamaiscodificvel) entre silncio e linguagem, no interiordas reelaboraes simblicas intraculturais que sedo nos modos da defasagem.

    Ocorre, porm, de Merleau-Ponty proje-tar, a partir da historicidade selvagem, o esclareci-mento a um tempo da sincronia e da diacronia doquerer, do falar e do pensar de uma comunidade.Tratar-se-ia, qui, da reintroduo um tanto ines-perada de uma substncia do esprito selvagem?Este, para alm de uma Weltgeist atravs daarticulao das instituies simblicas, trabalho de

    periodizao histrica , apontaria para o quepropriamente quer, fala ou pensa atravs dessesdiferentes perodos. Retorno insidioso do Sujeito,instncia de universalidade? Michel Haar teria ra-zo ao salientar que uma palavra diretamente ins-crita na carne e diretamente conduzida por ela se-ria necessariamente uma palavra fora de poca, isto, uma lngua natural que somente saberia dizera quase-eternidade do sensvel.(Haar, 1999,p. 24)? Em outros termos, a Palavra-em-si de umSer-em-si. Ora, a selvageria do esprito refere oque intrinsecamente an-rquico e a-teleolgico.A eternidade existencial, imemorialidade da car-ne do esprito, acomodaria sem contradies umahistoricidade bem comportada, simblica, aindaque dotada de uma deriva interna pelo movimen-to selvagem do esprito selvagem?

    Seja como for, a perspectiva retorna em notade trabalho de fevereiro de 1959 intituladaWesen da histria:

    O ser sociedade de uma sociedade:este todo que rene todas as posies evontades, claras ou cegas, nela prisio-neiras, este todo annimo que atravsdelas hinauswollt, este Ineinander queningum v, no sendo ademais alma dogrupo, nem objeto, nem sujeito, mas seutecido conjuntivo que west j que ha-ver resultado [...] (MERLEAU-PONTY,1992, p. 170).

    Esse todo, ainda que dele se fale comode um tecido conjuntivo de visadas e vontades,no estaria re-substancializado e, sobretudo,re-subjetivado ao se anunciar como um querercoletivo (hinauswollt)? Seria possvel, aps as re-vises da ontologia merleau-pontyana, apontar paraum senso comum da comunidade fenomenolgicaencarnada? Marc Richir insiste em denotar a im-propriedade de tal perspectiva. Retenhamos aquisua observao:

    se ele quisesse algo, esse algo somentepoderia ser selbstversvndlich, obvieda-

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    de, o que no mais permitiria compre-ender em que a histria sem trgua olugar do conflito, o que rebateria, ain-da, a comunidade sobre o plano de umasociedade integralmente instituda sim-bolicamente na clareza ou no explcito,sem opacidade do que bvio(RICHIR, 1992, p.20).

    Esse todo visado por Merleau-Ponty se-ria uma iluso transcendental, o horizonte sim-blico de uma tarefa infinita, isto , um horizonteteleolgico de sentido (1992, p.20). evi-dncia, a questo da alteridade parede perder aintensidade que ganhara em outras passagens.

    *

    Para finalizar, talvez fosse o caso de focali-zarmos uma perspectiva outra, aquela que se ofe-recia em Sens et non-sens. Merleau-Ponty ocupa-va-se a da operao a cada vez original de umasociedade em vias de estabelecer o sistema de sig-nificaes coletivas atravs dos quais seus mem-bros comunicam. Sua posio , a respeito, pe-remptria: esses membros o fazem no luz deuma substncia imutvel, de uma causa que a tudose presta, de uma fora vaga definida por sua ni-ca potncia de coero, mas em meio ambivalncia, onde unio e repulso, desejo e te-mor se alternam. Razo porque o social investe oindivduo; nesse investimento, solicita-o e amea-a-o a um s tempo, faz com que cada conscin-cia se perca e se reencontre na relao com as de-mais, pois que no h conscincia coletiva, masinter-subjetividade na sua acepo plena, qual seja,relao viva e tenso entre os indivduos(Merleau-Ponty, 1948, p. 179). Parece ser essa

    vivacidade e essa tenso que a ltima ontologiada carne de Merleau-Ponty procurou localizarem uma filigranada tpica do nexus paisagemhistrica assim como inscrio quase geogrficada histria (Merleau-Ponty, 1992, p.233) ,ainda que sabedora que entre o eu e o outro osentido est. sempre um pouco mais longe que olugar aonde se olha (cf. 1992, p.235).

    Referncias bibliogrficas

    MERLEAU-PONTY, M.. O visvel e o invisvel, trad.J.A. Gianotti e A. Mora dOliveira. So Paulo:Perspectiva, 1992

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    Notes des cours 1959-1961. Paris:Gallimard, 1996

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    O. FO

    NTES FILH

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    Reflexo, Campinas, 31(89), p. 11-23, jan./jun., 2006

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