considerações soBre a indústria do etanol do Brasil | BiocomBustíveis no Brasil: realidades e...

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| 13 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA DO ETANOL DO BRASIL A experiência brasileira da produção e uso do álcool combustível: o Proálcool E m novembro de 1975, por meio do Decreto nº 76.595, o Presidente Ernesto Geisel criou o Proálcool, um progra- ma de incentivo à produção do álcool combustível visando a alternativas para enfrentar a crise do petróleo que amea- çava as economias mundiais importadoras do produto. Esse Programa alterou significativamente o perfil da produção de açúcar e álcool do Brasil e estimulou aumento importante da área plantada de cana-de-açúcar. Em relação ao processo de implementação do Programa, devem ser destacadas duas fases: a primeira iniciou-se com a promulgação do Decreto-Lei nº 76.593, de novembro de 1975, e estendeu-se até 1978. Essa etapa corresponde ao uso da mistura álcool-gasolina, à implantação das destilarias anexas e ao envolvimento da indústria automotiva para a produção de carros a álcool. A segunda fase, iniciada em 1979, e que atingiu seu ápice em 1985, é a da produção em larga escala CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA DO ETANOL DO BRASIL Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes 1 1 Profª Doutora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo. E-mail: mafdmora@esalq. usp.br

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|13�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

Aexperiênciabrasileiradaproduçãoeusodoálcoolcombustível:oProálcool

Emnovembrode1975,pormeiodoDecretonº76.595,oPresidenteErnestoGeiselcriouoProálcool,umprogra-

made incentivoàproduçãodoálcoolcombustívelvisandoaalternativasparaenfrentaracrisedopetróleoqueamea-çavaaseconomiasmundiaisimportadorasdoproduto.EsseProgramaalterousignificativamenteoperfildaproduçãodeaçúcareálcooldoBrasileestimulouaumentoimportantedaáreaplantadadecana-de-açúcar.

Em relaçãoaoprocessode implementaçãodoPrograma,devemserdestacadasduasfases:aprimeirainiciou-secomapromulgaçãodoDecreto-Leinº76.593,denovembrode1975,e estendeu-seaté1978. Essa etapa correspondeaousodamisturaálcool-gasolina,àimplantaçãodasdestilariasanexaseaoenvolvimentodaindústriaautomotivaparaaproduçãodecarrosaálcool.Asegundafase,iniciadaem1979,equeatingiuseuápiceem1985,éadaproduçãoemlargaescala

consideraçõessoBreaindústria

doetanoldoBrasil

márciaazanhaferrazdiasdemoraes1

1ProfªDoutoradoDepartamentodeEconomia,AdministraçãoeSociologiadaEscolaSuperiordeAgricultura“LuizdeQueiroz”–universidadedeSãoPaulo.E-mail:[email protected]

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doálcoolhidratado,paraserusadoemcarrosmovidosexclu-sivamentecomessecombustível.

DesdeacriaçãodoProálcool,em1975,aosdiasatuais,aproduçãobrasileiradeálcoolpassoudeaproximadamente555milhõesdelitrospara17,7bilhõesde litros,oquesignificaumcrescimentomédioanualde11,8%.Contudo,astaxasdecres-cimento sãodistintasduranteo tempo. Entre assafras1975/76e1978/79,aproduçãodeálcoolpassoude560milhõesdelitrospara2,49bilhõesdelitros.Nota-seumaaceleraçãodocrescimento

apartirdasegundafasedoProálcool(safra1979/80)atéoaugedoPrograma,em1985/86.Nesseperíodoaproduçãopassoude3,39bilhõesdelitrospara11,8bilhõesdelitros,oquerepresentaumataxageométricamédiaanualdecres-

DesDe a criação Do proálcool, em 1975,

aos Dias atuais, a proDução brasileira De álcool obteve um

crescimento méDio anual De 11,8%.

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cimentode23%.Destaca-sequeocrescimentomaiorfoinaRegiãoCentro-Sul2.

A evoluçãodaproduçãodeálcoolnoBrasil apartir dolançamentodoProálcoolpodeservistanaFigura1.

Figura1.Evoluçãodaproduçãobrasileiradeálcool-1��5/��a200�/0�

Norte-Nordeste Centro-Sul

1975

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20.000

18.000

16.000

14.000

12.000

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ApartirdoaugedoPrograma,em1985,surgeumperíododeestabilidadedaproduçãoaoredorde12bilhõesdelitros,que se estende atémeados da década de 1990. Em1986,diversosfatorescontribuíramparaqueseiniciasseumafasede avaliação do Programa pelo Governo. Conforme Santos(1993),desdejaneirodaqueleanoospreçosinternacionaisdo

2 Existem duas regiões produtoras no Brasil, diferenciadas pelo período dasafra.OsseguintesestadosfazempartedaRegiãoNorte-Nordeste:Alagoas,Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande doNorte,SergipeeTocantins.DaregiãoCentro-Sul:SãoPaulo,Paraná,MinasGerais,MatoGrosso,MatoGrossodoSul,Goiás,RiodeJaneiro,EspíritoSantoeRioGrandedoSuleSantaCatarina.

Fonte:elaborada

apartirdemoraes

(2000)euNiCA.

Fonte:elaborada

apartirdemoraes

(2000)euNiCA.

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petróleocomeçaramadeclinar;aproduçãointernacrescentedesse produto diminuía a dependência do País em relaçãoaopetróleoimportado;eosplanoseconômicosdoGovernopriorizavamocontroledainflaçãoedodéficitpúblico,evi-denciandoqueaexpansãodoProgramadeveriaserfeitapormeiodoaumentodaprodutividadedasatividadesagrícolaseindustrial,jáqueosfinanciamentosgovernamentaisparaaampliaçãodacapacidadeinstaladaestavamsuspensos.

Doladodademanda,em1989e1990,houveduascrisesde abastecimento de álcool, que marcaram profundamenteos consumidores de carrosmovidos com esse combustível,levando à queda nas vendas e à rejeição a esse produto,tendência que só se inverte com o lançamento dos carrosbicombustíveisouflex-fuel3,em2003.

Apartirdasafra1998/99,observa-seumaquedanapro-duçãodeálcool,quepodeserexplicadapeladesregulamen-taçãodosetor,comconseqüentefinalizaçãodosincentivosàprodução,epelaquedaacentuadanademandadoscarrosaálcool,queporsuavezreduziuoconsumodopróprioál-coolhidratado.Areduçãodaintervençãoestatalnosetor4,em1999,coincidiucomumagravecrisedesuperofertadoproduto,quandoosníveisdepreçodoálcoolatingirampa-tamares mais baixos inclusive que os custos de produção,instalando-segravecrisenosetor.Nesseperíodoocorreuo

3 Ocarrobicombustíveléumveículocujomotoradmiteautilizaçãodeálcoolhidratado ou de gasolina, em qualquer proporção: desde 100% álcool até100%gasolina,sendoqueoconsumidorpodefazeraescolhaemfunçãodospreçosrelativosentreosdoisprodutos,ouconformeadisponibilidadedosmesmos.AprimeiramontadoraalançarocarrobicombustívelfoiaVolkswa-gen,comoGol.

4 VerMoraes,M.A.F.D.(2000).AdesregulamentraçãodosetorsucroalcooleirodoBrasil.

|141consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

fechamentodeváriasusinaseaadequaçãodaofertaàde-mandadomercado.

Contudo,apartirde2002,observa-seoiníciodaretomadadaproduçãoevendadeálcool.Nesseperíodo,aquestãoam-bientalcomeçavaapreocupardiversospaíses,fortalecendoaproduçãodeálcoolcombustível,consideradoum“combustí-vellimpo”.Ousodecombustíveisoxigenados-comoobjeti-vodereduziraemissãodeCO2-passouaserumatendêncianospaísesdesenvolvidosapartirdemeadosde1990.

Tambémem2003,houveolançamentodoscarrosflex-fuelnoBrasil,quenãosócausouaumentodoconsumodeálcoolhidratado,mastambémfoimuitoimportanteparaaretoma-dadocrescimentodasuaprodução.Oconsumidoraderiuaonovoproduto,quepossibilitaousodequalquerproporçãoentreálcoolegasolina.

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incentivosdemercado:oscarrosflex-fueleomercadointernacionaldeálcool

Éinteressantenotarque,desdeoiníciodoProálcool,osconsumidoresreagemimediatamenteàspolíticasdeincenti-voedesincentivoaoProgramaeaospreçosrelativosentreálcoolhidratadoegasolina.Issofazcomqueastendênciasnasvendasdecarrosmovidoscomosdiferentescombustíveisserevertamempoucosmeses.Ressalta-se,portanto,aim-portânciadoconsumidornosucessodoProálcoole,nosanosrecentes,no crescimentodomercadode carrosflex-fuel.AFigura2apresentaaevoluçãodasvendasdecarrosaálcool,agasolina,e,apartirde2003,doscarrosbicombustíveis.

Ban

cod

eim

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etro

bras

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rei

s

|143consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

Figura2.Evoluçãodasvendasdecarrosaálcooleagasolina

1.800.000

1.600.000

1.400.000

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1.000.000

800.000

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2001

2003

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600.000

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200.000

Gasolina

Álcool

Flex-fuel

0

Observam-semudanças importantesao longodotempo.Desde1979até1986,asvendasdecarrosaálcool,deformageral,apresentamcrescimento.Aotérminode1982,omer-cadodecarrosaálcoolestavasuperaquecido,representando38%dasvendastotaisdecarrosdepassageiros,sendoqueemdezembroessepercentualchegoua67%.Entreosanosde1983e1989,asvendasdeveículosaálcoolrepresentavam,emmédia,90%dasvendastotaisdeautomóveis.

Apartirde1989,provavelmentedevidoàgravecriseoca-sionadapela faltadoálcoolocorridonessaépoca,aparti-cipaçãodas vendasde carros a álcool começouadiminuire, em 1990, a porcentagem de vendas desses veículos emrelação ao total representava apenas 11%. Em 1995, estaporcentagempassouasomente2,2%dasvendastotais,sen-doque,em2000,chegouaaproximadamente1%.

Conforme salientado anteriormente, em 2003 ocorreramduasimportantesalteraçõesnoagronegóciodacana-de-açú-car,quealteraramsignificativamenteasperspectivasdede-

Fonte:elaboradoa

partirdedadosda

Anfavea.

Fonte:elaboradoa

partirdedadosda

Anfavea.

144| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas

mandapeloálcoolcombustívelnomédioprazo:aprimeirafoio lançamentodocarrobicombustível(flex-fuel),asegundafoiodesenvolvimentodomercadoexternoparaoálcool.

Éimportanteobservarqueoveículoflex-fueldáaoconsu-midorodireitodeescolherocombustívelquequerutilizar,considerando-sequestõesdeeficiência(potência,consumo)edepreçosrelativosentreálcoolhidratadoegasolina.

Oimpactodolançamentodesseprodutodeveseranalisadosobdoisaspectos:oprimeiro,jámencionado,éodaautono-miadoconsumidor,quecontribuiparaafastarapreocupaçãocomoriscododesabastecimentoocorridonopassado(jáquenafaltadeálcoolhidratadooconsumidorpodeabastecercomgasolina).Osegundoaspectoéregularomercado:numcená-riodesfavorávelaousodoálcoolhidratadodevidoarelaçãodepreçoscomagasolina,osconsumidorestendemamigrarparaessecombustível, reduzindoademandapeloálcoolhidrata-do,comconseqüentereduçãodepreços,tornandonovamenteatrativoseuuso.

Ademais,deveserconsideradooimpactosobreaprodu-çãodeálcool,decorrentedoaumentodademandaadicional

peloálcoolhidratadoadvindadasvendasdoscar-rosbicombustíveis,numcenáriodepreçosfavorá-velparaessecombustível.Nessasituação,pode-seimaginarquetodocompradordecarroflex-fueléumconsumidorpotencialdoálcoolhidratado,eademandaporesseprodutotendeacrescerpropor-cionalmenteàsvendasdessesveículos.

Quanto ao mercado internacional de álcool, éumaoportunidadeexcelenteparaoPaís,conside-rando-seasvantagenscomparativasquetemosnaproduçãodesseproduto,eo fatodeoálcool serum combustível renovávelmenos poluente que a

quanto ao mercaDo internacional

De álcool, é uma oportuniDaDe

excelente para o país, consiDeranDo-

se as vantagens comparativas que

temos na proDução Desse proDuto.

|145consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

gasolina.DesdeaassinaturadoProtocolodeQuioto,diversospaísesdesenvolvidosestãoprocurandoalternativasaopetró-leo,deformaareduziremsuasemissõesdeCO2,oqueabreexcelentesoportunidadesparaoálcoolcombustível.

Contudo,omercadointernacionaldeálcool,emboracon-creto,deveserencaradocomodemédioalongoprazo,poisdiversasbarreirastêmqueservencidas,desdeasprotecio-nistas,impostasporalgunspaísesdesenvolvidos,atéascul-turais.Poucospaísesatualmenteconhecemousodoálcoolcombustívelemlargaescala,sendonecessáriodivulgaraex-periênciabrasileira.

Alémdisso,ospaísesquejádemonstraraminteressecon-cretonousodoálcoolanidroparamisturanagasolina,comooJapão,precisamdeumagarantiadeabastecimento,eapre-çoscondizentes,jáquenãoqueremcorreroriscodepreçosdecorrentesdaexistênciadeapenasumfornecedormundialdoproduto,nocasooBrasil.Gargalosdelogísticatambémprecisamsersolucionadosseaumentaremasexportações.

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14�| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas

ocrescimentodaproduçãodecana-de-açúcar

Aelevaçãodaproduçãodeálcool fezcomque tambémseaumentassemuitoademandadecana-de-açúcardoPaís,comconseqüenteacréscimodesuaproduçãoeexpansãopararegiões não tradicionalmente produtoras. Entre os anos de1975a2006,aproduçãobrasileiradecana-de-açúcarpassoude 88,9 milhões para 456 milhões de toneladas, um cres-cimentode413%;aopassoqueaáreaplantadasaltoude1,9milhõespara6,2milhõesdehectares,representandoumcrescimentode226,3%.

Observa-se que o aumento da área foimenor que o daprodução,oqueindicaumcrescimentoimportantedapro-dutividadeagrícola,decorrentesdeinvestimentospúblicoseprivados.ConformeMacedo(2007),entre1980e1990obser-vou-seaintroduçãodenovasvariedadesdecana-de-açúcar

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|14�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

(desenvolvidasnoBrasil),usodevinhaçacomofertilizante,controlebiológicodabrocadacana,otimizaçãodasopera-çõesagrícolas,entreoutros.

Noiníciodoperíodo,aprodutividadeagrícolaerade46,8toneladasdecana-de-açúcarporhectare,e,em2006,atingiu74,1toneladasporhectare.AFigura3indicaocrescimentodaprodução,áreacolhidaeprodutividade,considerando-seoiníciodoperíodocomobase100.

Figura3.Cana-de-Açúcar:produção,áreacolhidaeprodutividade

1979

1977

1975

600

500

400

300

200

100

Área Colhida Produção Produtividade

0

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Osganhosdeprodutividadeforamtambémobservadosnaáreaindustrial.ConformeNastari(2005),osganhosdeprodu-tividadeagroindustrialcresceramemmédia3,77%aoanodu-rante1975e2005.Em1975,produzia-se2024litrosdeálcoolhidratadoequivalenteporhectare. Trinta anosdepois, essevaloratingiu5931 litrosporhectare.Naárea industrial,osinvestimentosrealizadosforamprincipalmentenodesenvolvi-mentodenovossistemasdemoagem,fermentaçõescomca-pacidadesmaioreseautonomiaemenergia(Macedo,2007).

Fonte:elaborada

apartirdosdados

doministérioda

Agricultura,Pecuária

eAbastecimento,

iBGEeuNiCA.

Fonte:elaborada

apartirdosdados

doministérioda

Agricultura,Pecuária

eAbastecimento,

iBGEeuNiCA.

14�| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas

Competitividadedaagroindústriabrasileira

Os ganhos de produtividade agrícola e industrial resul-taramemreduções importantesdoscustosdeproduçãoaolongodo tempo, sendoatualmenteoBrasil opaís comosmenorescustosdeproduçãomundial.Dadoograndenúme-rodeprodutoresqueutilizamdiferentessistemasprodutivos(solos, custos da terra, níveis tecnológicos, mecanização,matéria-primaprópriaoucomprada,etc),édifícilumaesti-mativaprecisadoscustosdeprodução.Carvalho(2002)apre-sentaumacomparaçãoentreoscustosdeproduçãodoálcoolproduzidoapartirdasprincipaismatérias-primasutilizadas.Destaca-sequeoálcooldecana-de-açúcarproduzidonoBra-siltemomenorcusto,conformeilustradonaTabela1.

Tabela1.Comparaçãocustosmédiosdeproduçãoálcoolanidro

Observa-seque,emcomparaçãocomaregiãoCentro-SuldoBrasil, o álcooldemilhoproduzidonosEstadosUnidosapresentaumcusto73%maiselevado;oálcoolproduzidoapartirdetrigooubeterrabatemcustos189%maisaltos.

Outra questão importante refere-se à eficiência energé-tica,queéaquantidadedeenergiaproduzidaemrelaçãoà

País Anidro (US$/l)

Matéria-Prima

BR:Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar

BR:Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar

EUA 0,33 Milho

UE 0,55 Trigo-Beterraba

País Anidro (US$/l)

Matéria-Prima

BR:Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar

BR:Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar

EUA 0,33 Milho

UE 0,55 Trigo-BeterrabaFonte:Carvalho,

2002

Fonte:Carvalho,

2002

|14�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

Competitividadedaagroindústriabrasileira

Os ganhos de produtividade agrícola e industrial resul-taramemreduções importantesdoscustosdeproduçãoaolongodo tempo, sendoatualmenteoBrasil opaís comosmenorescustosdeproduçãomundial.Dadoograndenúme-rodeprodutoresqueutilizamdiferentessistemasprodutivos(solos, custos da terra, níveis tecnológicos, mecanização,matéria-primaprópriaoucomprada,etc),édifícilumaesti-mativaprecisadoscustosdeprodução.Carvalho(2002)apre-sentaumacomparaçãoentreoscustosdeproduçãodoálcoolproduzidoapartirdasprincipaismatérias-primasutilizadas.Destaca-sequeoálcooldecana-de-açúcarproduzidonoBra-siltemomenorcusto,conformeilustradonaTabela1.

Tabela1.Comparaçãocustosmédiosdeproduçãoálcoolanidro

Observa-seque,emcomparaçãocomaregiãoCentro-SuldoBrasil, o álcooldemilhoproduzidonosEstadosUnidosapresentaumcusto73%maiselevado;oálcoolproduzidoapartirdetrigooubeterrabatemcustos189%maisaltos.

Outra questão importante refere-se à eficiência energé-tica,queéaquantidadedeenergiaproduzidaemrelaçãoà

País Anidro (US$/l)

Matéria-Prima

BR:Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar

BR:Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar

EUA 0,33 Milho

UE 0,55 Trigo-Beterraba

País Anidro (US$/l)

Matéria-Prima

BR:Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar

BR:Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar

EUA 0,33 Milho

UE 0,55 Trigo-BeterrabaFonte:Carvalho,

2002

Fonte:Carvalho,

2002

quantidadedeenergianecessáriaparaproduzi-la.Novamenteoálcooldecana-de-açúcarapresentaomelhordesempenho.A tabela 2 traz o balanço energético das principaismaté-rias-primasatualmenteutilizadasparaaproduçãodeálcool.Observa-se quepara a cana-de-açúcar, cada quantidadedeenergiafóssilutilizadaresultanaproduçãode8,3unidadesdeenergiarenovável,ouseja,umbalançoenergéticoextre-mamentefavorávelparaesseproduto.

Tabela2.Balançoenergéticoprincipaismatérias-primas

Localizaçãodaproduçãoeestruturademercado

Ocrescimentodaproduçãodeálcool,conformesalienta-do anteriormente, deu-seprincipalmentena região Centro-Sul.Nasafra2006/07,areferidaregiãofoiresponsávelpor87,5%daproduçãonacionaldecana-de-açúcar,por85,5%daproduçãodeaçúcare90,5%daproduçãodeálcool.SãoPaulo,omaiorestadoprodutordoPaís,namesmasafrafoiresponsávelpor63%detodaacanaproduzidanoBrasil,por63,3%daproduçãonacionaldeálcoolepor65%daprodução

Matéria-Prima Energia Renovável Produzida/ Energia Fóssil Consumida

Trigo 1,2

Milho 1,3–1,8

Beterraba 1,9

Cana-de-Açucar 8,3

Matéria-Prima Energia Renovável Produzida/ Energia Fóssil Consumida

Trigo 1,2

Milho 1,3–1,8

Beterraba 1,9

Cana-de-Açucar 8,3

Fonte:macedoet

alii,F.o.Lichts2004,

internationalEnergy

Agency

Fonte:macedoet

alii,F.o.Lichts2004,

internationalEnergy

Agency

150| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas

deaçúcar.AFigura4trazaproduçãoporregião,paraoBrasileparaoestadodeSãoPaulo.

Figura4.Produçãodecana-de-açúcar,açúcareálcoolporregiãoprodutora

050

100150200250300350400450

48

334382

241

NNE CS Brazil SP

Cana-de-AçúcarMilhões t

1509

1429815807

10001

02000400060008000

1000012000140001600018000

NNE CS Brazil SP

ÁlcoolMil litros

3807

22406

26213

17188

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

NNE CS Brazil SP

AçúcarMil t

Fonte:elaborado

apartirdosdados

doministério

daAgricultura,

Pecuáriae

Abastecimento.

Fonte:elaborado

apartirdosdados

doministério

daAgricultura,

Pecuáriae

Abastecimento.

|151consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

Damesma forma,amaiorpartedasusinasedestilariaslocaliza-senaregiãoCentro-Sul,principalmentenoestadodeSãoPaulo.Observa-seque,em2006,dototalde363uni-dadesexistentes,46,5%,ouseja,169unidadesprodutoraslocalizavam-seemSãoPaulo.

Figura5.Númerodeusinas/destilariasporEstado–200�

26 1630

2629

169

020406080

100120140160180

AL AM BA CE GOES MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RS SE SP TO

Apartirdadesregulamentaçãodosetor,em1999,dadooambienteinstitucionalmaispropícioaosinvestimentos,ob-servou-se a formaçãodegrupos econômicosprodutoresdeaçúcareálcool,pormeiodoprocessodefusõeseaquisições.Emboratenhaocorridoaentradadecapitalexternodeváriasnacionalidades,taiscomofrancês(Coinbra-LouisDreyfus,Te-reos),americano(Cargill,InfinityBioenergy,Globex,Brenco)easiático(Noble),agrandemaioriadaproduçãoaindaédecapitalnacional,vistoqueaparticipaçãodosgruposestran-geirosfoidaordemde5%nasafra2006/07.

Em2006,osvintemaioresgruposdoBrasilforamrespon-sáveispor41,3%daproduçãodecana-de-açúcar,por39,3%da produção de álcool e por 46% da produção de açúcar.Apesar do acelerado movimento de fusões e aquisições, aindústrianacionaldeaçúcareálcoolnãoeraconcentrada:o

152| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas

CR4,ouseja,arazãodeconcentraçãodos4maioresgruposprodutoresdeálcoolerade14,9%.

OmaiorgrupoprodutordoBrasiléoGrupoCosan,que,em2006,tinha17usinasedestilarias,sendoresponsávelporaproximadamente7%daproduçãobrasileiradeálcool,11,1%daproduçãodeaçúcare9%damoagemtotaldecana-de-açúcar.Ressalta-sequeamoagemdogrupoCosan,quefoide34milhõesdetoneladasdecana-de-açúcarnaqueleano,representou71%daproduçãodaregiãoNorte-Nordeste.

Geraçãodeempregos

Noanode2005,trabalhavamnosetordecana-de-açúcar,açúcar e álcool doBrasil, segundo os dados dos RegistrosAdministrativosdoMinistériodoTrabalhoeEmprego(RAIS),982.604empregados.ATabela3trazaevoluçãodonúmerodetrabalhadoresformaisenvolvidosnaproduçãodecana-de-açúcar,açúcareálcool,paraasduasregiõesprodutoras,eototaldoBrasil,paraosanosde2000a2005.

Tabela3.Númerodeempregadosformaisporregiãoprodutora–2000a2005

Nota-seque,paraoBrasilcomoumtodo,entre2000e2005,considerando-seostrêssetores(cana-de-açúcar,açú-

Região Produtora

2000 2001 2002 2004 2005

NNE 250.224 302.720 289.507 343.026 364.443

CS 392.624 433.170 475.086 557.742 618.161

TotalBrasil 642.848 735.890 764.593 900.768 982.604

Região Produtora

2000 2001 2002 2004 2005

NNE 250.224 302.720 289.507 343.026 364.443

CS 392.624 433.170 475.086 557.742 618.161

TotalBrasil 642.848 735.890 764.593 900.768 982.604

Fonte:Elaboradoa

partirdemT-brais

(váriosanos).

Fonte:Elaboradoa

partirdemT-brais

(váriosanos).

|153consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

careálcool)conjuntamente,houveaumentoexpressivode52,9% do número de empregados formais, que passou de642.848empregadosem2000para982.604em2005.Entreesses,63%,ouseja,618.161empregados,estavamnaregiãoCentro-SuldoPaís.

Na Tabela4 apresenta-seonúmerodeempregados for-maisporregiãoprodutoraeporsetor:cana-de-açúcar,açúcare álcool. Observa-se que, em 2005, existiam 414.668 em-pregadosnaatividadedacana-de-açúcarnoBrasil,439.573empregadosnaproduçãodeaçúcareumcontingentemenor,masaindaimportante,naindústriadoálcool:128.363em-pregados.

Tabela4.Númerodeempregadosformaisporregiãoprodutoraeporsetor–2000a2005

Percebe-se que, entre 2000 e 2005, o crescimento dosempregados formais das usinas de açúcar (101,9%) e des-tilariasdeálcool(88,4%)doBrasilfoimaiordoqueodos

Região 2000 2001 2002 2004 2005

Cana-de-Açúcar

NNE 81.191 97.496 86.329 104.820 100.494

CS 275.795 302.830 281.291 283.301 314.174

TotalBrasil 356.986 400.326 367.620 388.121 414.668

Açúcar

NNE 143.303 183.517 174.934 211.864 232.120

CS 74.421 84.920 126.939 193.626 207.453

TotalBrasil 217.724 268.437 301.873 405.490 439.573

Álcool

NNE 25.730 21.707 28.244 26.342 31.829

CS 42.408 45.420 66.856 80.815 96.534

TotalBrasil 68.138 67.127 95.100 107.157 128.363

TotalBrasil3setores 642.848 735.890 764.593 900.768 982.604

Região 2000 2001 2002 2004 2005

Cana-de-Açúcar

NNE 81.191 97.496 86.329 104.820 100.494

CS 275.795 302.830 281.291 283.301 314.174

TotalBrasil 356.986 400.326 367.620 388.121 414.668

Açúcar

NNE 143.303 183.517 174.934 211.864 232.120

CS 74.421 84.920 126.939 193.626 207.453

TotalBrasil 217.724 268.437 301.873 405.490 439.573

Álcool

NNE 25.730 21.707 28.244 26.342 31.829

CS 42.408 45.420 66.856 80.815 96.534

TotalBrasil 68.138 67.127 95.100 107.157 128.363

TotalBrasil3setores 642.848 735.890 764.593 900.768 982.604

Fonte:Elaboradoa

partirdemT-brais

(váriosanos).

Fonte:Elaboradoa

partirdemT-brais

(váriosanos).

154| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas

trabalhadoresrurais(16,2%)envolvidoscomaproduçãodecana-de-açúcar,provavelmenteemdecorrênciadoprocessodemecanizaçãodacolheitadecana.Éimportanteobservarquenesseperíodohouvecrescimentodaproduçãodecana-de-açúcar:em2000,aproduçãonacionalfoide325,33mi-lhõesdetoneladase,em2005,foide419,56milhões(Mi-nistériodaAgricultura,PecuáriaeAbastecimento,2005),ouseja,umcrescimentodaproduçãodaordemde28,9%.Nota-setambémque,em2000,55%eramempregadosrurais.Jáem2005suaparticipaçãocaiupara42,2%.

Ressalta-seograndenúmerodetrabalhadoresformalmen-teempregadosnostrêssetoresdaagroindústriacanavieira– cana-de-açúcar, açúcar e álcool -, que, em2005, foi de982.604trabalhadores.Nãoseincluinessetotalosemprega-dosdeoutrossetoresrelacionadoscomacadeiaprodutiva,porexemplo,adubosefertilizantes,tratoreseequipamentos,comercialização,transporte,etc.

Div

ulga

ção/

uni

ca

|155consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

Consideraçõesfinais

OBrasiléinternacionalmentereconhecidopelopioneiris-moemdesenvolveraproduçãoeusoemlargaescaladeumcombustívelrenovável,produzidoapartirdacana-de-açúcar,comaltaeficiênciaenergéticaecomosmenorescustosdeproduçãodomundo.

AmotivaçãoprincipaldoProálcool,naépocadeseulan-çamento,era reduzir adependênciadoPaísem relaçãoaopetróleoimportado,bemcomoatenuarosimpactossobreosindicadoresmacroeconômicosdoPaís.Alémdisso,possibili-touaoBrasildeterodomíniodatecnologiadaproduçãodeálcooledesenvolvercarroscommotoresalimentadosexclu-sivamentepeloálcoolhidratado.Maisrecentemente,aindús-triaautomobilísticanacional lançouocarrobicombustível,amplamenteaceitopeloconsumidorbrasileiro.

Grandesforamoscrescimentosdaproduçãodecana-de-açúcar,deálcooledeaçúcardesdeacriaçãodoProálcool,em1975,oquefoipossíveldevidoàsextensõesterritoriaisdoPaís,aosinvestimentosemtecnologiaindustrialeagrícola,incluindoasnovasvariedadesdecana-de-açúcarmaisprodu-tivas.Tambémoenvolvimentodaindústriaautomobilística,acriaçãodarededepostoscomofertadeálcoolhidratadoemtodooterritórionacional,acriaçãodetanquescoletores,dedutosparatransporte,dentreoutrasações,foramessen-ciaisparaosucessodoPrograma.

SenaépocadacriaçãodoProálcooloprincipalatrativodousodoálcoolcombustívelfoiareduçãodadependênciaemrelaçãoaopetróleoimportado,atualmenteacrescentam-seosbenefíciosambientaisligadosàsreduçõeslíquidasdasemissõesdeCO2.Ofatodeserrenovávelemenospoluentedoqueagasolinatornouoálcoolumaalternativainteressante

15�| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas

paraospaísesquedesejamreduzirsuasemissõesdecarbono,oquepoderepresentaroportunidadesimportantesaoBrasil,dadasuacompetitividadeedisponibilidadedeterras.

Nestanovafase,alémdaviabilidadeeconômica,fatoresambientaisesociaisligadosàproduçãosãoigualmenterele-vantes.Nessesentido,éimportanteressaltaropotencialdegeraçãodeempregosdaagroindústriacanavieira:em2005,982 mil pessoas foram inseridas formalmente no mercado.Nesse cenário de crescimento emaior inserção internacio-nalmente, ressaltam-seosdesafios logísticoseaexpansãosustentáveldaprodução,incluindo-se,portanto,oscuidadoscomomeio-ambienteeapreocupaçãocomasquestõesso-ciais,de formaaestenderosbenefíciosgeradosnacadeiaprodutivaaosempregadosagrícolaseindustriais.

Bibliografia

AssociaçãoNacionaldosFabricantesdeVeículosAutomo-tores(Anfavea).http:www.anfavea.com.br

CARVALHO, L.C.C. Etanol: perspectivas demercado. In:MORAES,M.A.F.D;SHIKIDA,P.F.A.Agroindústria canavieira no Brasil: evolução, desenvolvimento e desafios.SãoPaulo:Atlas,2002.cap.2,p.43-68.

MACEDO, I.C. Greenhouse gas emissions and bio-ethanol production / utilization in Brazil.Piracicaba:CTC,05/97,jan.1997.14p.

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|15�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil

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SANTOS,M.H.C.Política e políticas de uma energia alter-nativa: o caso do Proálcool. Rio de Janeiro: Notrya, 1993.352p.