considerações soBre a indústria do etanol do Brasil | BiocomBustíveis no Brasil: realidades e...
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|13�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
Aexperiênciabrasileiradaproduçãoeusodoálcoolcombustível:oProálcool
Emnovembrode1975,pormeiodoDecretonº76.595,oPresidenteErnestoGeiselcriouoProálcool,umprogra-
made incentivoàproduçãodoálcoolcombustívelvisandoaalternativasparaenfrentaracrisedopetróleoqueamea-çavaaseconomiasmundiaisimportadorasdoproduto.EsseProgramaalterousignificativamenteoperfildaproduçãodeaçúcareálcooldoBrasileestimulouaumentoimportantedaáreaplantadadecana-de-açúcar.
Em relaçãoaoprocessode implementaçãodoPrograma,devemserdestacadasduasfases:aprimeirainiciou-secomapromulgaçãodoDecreto-Leinº76.593,denovembrode1975,e estendeu-seaté1978. Essa etapa correspondeaousodamisturaálcool-gasolina,àimplantaçãodasdestilariasanexaseaoenvolvimentodaindústriaautomotivaparaaproduçãodecarrosaálcool.Asegundafase,iniciadaem1979,equeatingiuseuápiceem1985,éadaproduçãoemlargaescala
consideraçõessoBreaindústria
doetanoldoBrasil
márciaazanhaferrazdiasdemoraes1
1ProfªDoutoradoDepartamentodeEconomia,AdministraçãoeSociologiadaEscolaSuperiordeAgricultura“LuizdeQueiroz”–universidadedeSãoPaulo.E-mail:[email protected]
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doálcoolhidratado,paraserusadoemcarrosmovidosexclu-sivamentecomessecombustível.
DesdeacriaçãodoProálcool,em1975,aosdiasatuais,aproduçãobrasileiradeálcoolpassoudeaproximadamente555milhõesdelitrospara17,7bilhõesde litros,oquesignificaumcrescimentomédioanualde11,8%.Contudo,astaxasdecres-cimento sãodistintasduranteo tempo. Entre assafras1975/76e1978/79,aproduçãodeálcoolpassoude560milhõesdelitrospara2,49bilhõesdelitros.Nota-seumaaceleraçãodocrescimento
apartirdasegundafasedoProálcool(safra1979/80)atéoaugedoPrograma,em1985/86.Nesseperíodoaproduçãopassoude3,39bilhõesdelitrospara11,8bilhõesdelitros,oquerepresentaumataxageométricamédiaanualdecres-
DesDe a criação Do proálcool, em 1975,
aos Dias atuais, a proDução brasileira De álcool obteve um
crescimento méDio anual De 11,8%.
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|13�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
cimentode23%.Destaca-sequeocrescimentomaiorfoinaRegiãoCentro-Sul2.
A evoluçãodaproduçãodeálcoolnoBrasil apartir dolançamentodoProálcoolpodeservistanaFigura1.
Figura1.Evoluçãodaproduçãobrasileiradeálcool-1��5/��a200�/0�
Norte-Nordeste Centro-Sul
1975
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20.000
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16.000
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ApartirdoaugedoPrograma,em1985,surgeumperíododeestabilidadedaproduçãoaoredorde12bilhõesdelitros,que se estende atémeados da década de 1990. Em1986,diversosfatorescontribuíramparaqueseiniciasseumafasede avaliação do Programa pelo Governo. Conforme Santos(1993),desdejaneirodaqueleanoospreçosinternacionaisdo
2 Existem duas regiões produtoras no Brasil, diferenciadas pelo período dasafra.OsseguintesestadosfazempartedaRegiãoNorte-Nordeste:Alagoas,Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande doNorte,SergipeeTocantins.DaregiãoCentro-Sul:SãoPaulo,Paraná,MinasGerais,MatoGrosso,MatoGrossodoSul,Goiás,RiodeJaneiro,EspíritoSantoeRioGrandedoSuleSantaCatarina.
Fonte:elaborada
apartirdemoraes
(2000)euNiCA.
Fonte:elaborada
apartirdemoraes
(2000)euNiCA.
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petróleocomeçaramadeclinar;aproduçãointernacrescentedesse produto diminuía a dependência do País em relaçãoaopetróleoimportado;eosplanoseconômicosdoGovernopriorizavamocontroledainflaçãoedodéficitpúblico,evi-denciandoqueaexpansãodoProgramadeveriaserfeitapormeiodoaumentodaprodutividadedasatividadesagrícolaseindustrial,jáqueosfinanciamentosgovernamentaisparaaampliaçãodacapacidadeinstaladaestavamsuspensos.
Doladodademanda,em1989e1990,houveduascrisesde abastecimento de álcool, que marcaram profundamenteos consumidores de carrosmovidos com esse combustível,levando à queda nas vendas e à rejeição a esse produto,tendência que só se inverte com o lançamento dos carrosbicombustíveisouflex-fuel3,em2003.
Apartirdasafra1998/99,observa-seumaquedanapro-duçãodeálcool,quepodeserexplicadapeladesregulamen-taçãodosetor,comconseqüentefinalizaçãodosincentivosàprodução,epelaquedaacentuadanademandadoscarrosaálcool,queporsuavezreduziuoconsumodopróprioál-coolhidratado.Areduçãodaintervençãoestatalnosetor4,em1999,coincidiucomumagravecrisedesuperofertadoproduto,quandoosníveisdepreçodoálcoolatingirampa-tamares mais baixos inclusive que os custos de produção,instalando-segravecrisenosetor.Nesseperíodoocorreuo
3 Ocarrobicombustíveléumveículocujomotoradmiteautilizaçãodeálcoolhidratado ou de gasolina, em qualquer proporção: desde 100% álcool até100%gasolina,sendoqueoconsumidorpodefazeraescolhaemfunçãodospreçosrelativosentreosdoisprodutos,ouconformeadisponibilidadedosmesmos.AprimeiramontadoraalançarocarrobicombustívelfoiaVolkswa-gen,comoGol.
4 VerMoraes,M.A.F.D.(2000).AdesregulamentraçãodosetorsucroalcooleirodoBrasil.
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fechamentodeváriasusinaseaadequaçãodaofertaàde-mandadomercado.
Contudo,apartirde2002,observa-seoiníciodaretomadadaproduçãoevendadeálcool.Nesseperíodo,aquestãoam-bientalcomeçavaapreocupardiversospaíses,fortalecendoaproduçãodeálcoolcombustível,consideradoum“combustí-vellimpo”.Ousodecombustíveisoxigenados-comoobjeti-vodereduziraemissãodeCO2-passouaserumatendêncianospaísesdesenvolvidosapartirdemeadosde1990.
Tambémem2003,houveolançamentodoscarrosflex-fuelnoBrasil,quenãosócausouaumentodoconsumodeálcoolhidratado,mastambémfoimuitoimportanteparaaretoma-dadocrescimentodasuaprodução.Oconsumidoraderiuaonovoproduto,quepossibilitaousodequalquerproporçãoentreálcoolegasolina.
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incentivosdemercado:oscarrosflex-fueleomercadointernacionaldeálcool
Éinteressantenotarque,desdeoiníciodoProálcool,osconsumidoresreagemimediatamenteàspolíticasdeincenti-voedesincentivoaoProgramaeaospreçosrelativosentreálcoolhidratadoegasolina.Issofazcomqueastendênciasnasvendasdecarrosmovidoscomosdiferentescombustíveisserevertamempoucosmeses.Ressalta-se,portanto,aim-portânciadoconsumidornosucessodoProálcoole,nosanosrecentes,no crescimentodomercadode carrosflex-fuel.AFigura2apresentaaevoluçãodasvendasdecarrosaálcool,agasolina,e,apartirde2003,doscarrosbicombustíveis.
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etro
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rei
s
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Figura2.Evoluçãodasvendasdecarrosaálcooleagasolina
1.800.000
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Gasolina
Álcool
Flex-fuel
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Observam-semudanças importantesao longodotempo.Desde1979até1986,asvendasdecarrosaálcool,deformageral,apresentamcrescimento.Aotérminode1982,omer-cadodecarrosaálcoolestavasuperaquecido,representando38%dasvendastotaisdecarrosdepassageiros,sendoqueemdezembroessepercentualchegoua67%.Entreosanosde1983e1989,asvendasdeveículosaálcoolrepresentavam,emmédia,90%dasvendastotaisdeautomóveis.
Apartirde1989,provavelmentedevidoàgravecriseoca-sionadapela faltadoálcoolocorridonessaépoca,aparti-cipaçãodas vendasde carros a álcool começouadiminuire, em 1990, a porcentagem de vendas desses veículos emrelação ao total representava apenas 11%. Em 1995, estaporcentagempassouasomente2,2%dasvendastotais,sen-doque,em2000,chegouaaproximadamente1%.
Conforme salientado anteriormente, em 2003 ocorreramduasimportantesalteraçõesnoagronegóciodacana-de-açú-car,quealteraramsignificativamenteasperspectivasdede-
Fonte:elaboradoa
partirdedadosda
Anfavea.
Fonte:elaboradoa
partirdedadosda
Anfavea.
144| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas
mandapeloálcoolcombustívelnomédioprazo:aprimeirafoio lançamentodocarrobicombustível(flex-fuel),asegundafoiodesenvolvimentodomercadoexternoparaoálcool.
Éimportanteobservarqueoveículoflex-fueldáaoconsu-midorodireitodeescolherocombustívelquequerutilizar,considerando-sequestõesdeeficiência(potência,consumo)edepreçosrelativosentreálcoolhidratadoegasolina.
Oimpactodolançamentodesseprodutodeveseranalisadosobdoisaspectos:oprimeiro,jámencionado,éodaautono-miadoconsumidor,quecontribuiparaafastarapreocupaçãocomoriscododesabastecimentoocorridonopassado(jáquenafaltadeálcoolhidratadooconsumidorpodeabastecercomgasolina).Osegundoaspectoéregularomercado:numcená-riodesfavorávelaousodoálcoolhidratadodevidoarelaçãodepreçoscomagasolina,osconsumidorestendemamigrarparaessecombustível, reduzindoademandapeloálcoolhidrata-do,comconseqüentereduçãodepreços,tornandonovamenteatrativoseuuso.
Ademais,deveserconsideradooimpactosobreaprodu-çãodeálcool,decorrentedoaumentodademandaadicional
peloálcoolhidratadoadvindadasvendasdoscar-rosbicombustíveis,numcenáriodepreçosfavorá-velparaessecombustível.Nessasituação,pode-seimaginarquetodocompradordecarroflex-fueléumconsumidorpotencialdoálcoolhidratado,eademandaporesseprodutotendeacrescerpropor-cionalmenteàsvendasdessesveículos.
Quanto ao mercado internacional de álcool, éumaoportunidadeexcelenteparaoPaís,conside-rando-seasvantagenscomparativasquetemosnaproduçãodesseproduto,eo fatodeoálcool serum combustível renovávelmenos poluente que a
quanto ao mercaDo internacional
De álcool, é uma oportuniDaDe
excelente para o país, consiDeranDo-
se as vantagens comparativas que
temos na proDução Desse proDuto.
|145consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
gasolina.DesdeaassinaturadoProtocolodeQuioto,diversospaísesdesenvolvidosestãoprocurandoalternativasaopetró-leo,deformaareduziremsuasemissõesdeCO2,oqueabreexcelentesoportunidadesparaoálcoolcombustível.
Contudo,omercadointernacionaldeálcool,emboracon-creto,deveserencaradocomodemédioalongoprazo,poisdiversasbarreirastêmqueservencidas,desdeasprotecio-nistas,impostasporalgunspaísesdesenvolvidos,atéascul-turais.Poucospaísesatualmenteconhecemousodoálcoolcombustívelemlargaescala,sendonecessáriodivulgaraex-periênciabrasileira.
Alémdisso,ospaísesquejádemonstraraminteressecon-cretonousodoálcoolanidroparamisturanagasolina,comooJapão,precisamdeumagarantiadeabastecimento,eapre-çoscondizentes,jáquenãoqueremcorreroriscodepreçosdecorrentesdaexistênciadeapenasumfornecedormundialdoproduto,nocasooBrasil.Gargalosdelogísticatambémprecisamsersolucionadosseaumentaremasexportações.
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14�| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas
ocrescimentodaproduçãodecana-de-açúcar
Aelevaçãodaproduçãodeálcool fezcomque tambémseaumentassemuitoademandadecana-de-açúcardoPaís,comconseqüenteacréscimodesuaproduçãoeexpansãopararegiões não tradicionalmente produtoras. Entre os anos de1975a2006,aproduçãobrasileiradecana-de-açúcarpassoude 88,9 milhões para 456 milhões de toneladas, um cres-cimentode413%;aopassoqueaáreaplantadasaltoude1,9milhõespara6,2milhõesdehectares,representandoumcrescimentode226,3%.
Observa-se que o aumento da área foimenor que o daprodução,oqueindicaumcrescimentoimportantedapro-dutividadeagrícola,decorrentesdeinvestimentospúblicoseprivados.ConformeMacedo(2007),entre1980e1990obser-vou-seaintroduçãodenovasvariedadesdecana-de-açúcar
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|14�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
(desenvolvidasnoBrasil),usodevinhaçacomofertilizante,controlebiológicodabrocadacana,otimizaçãodasopera-çõesagrícolas,entreoutros.
Noiníciodoperíodo,aprodutividadeagrícolaerade46,8toneladasdecana-de-açúcarporhectare,e,em2006,atingiu74,1toneladasporhectare.AFigura3indicaocrescimentodaprodução,áreacolhidaeprodutividade,considerando-seoiníciodoperíodocomobase100.
Figura3.Cana-de-Açúcar:produção,áreacolhidaeprodutividade
1979
1977
1975
600
500
400
300
200
100
Área Colhida Produção Produtividade
0
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1983
1985
1987
1989
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1993
1995
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1999
2001
2003
2005
Osganhosdeprodutividadeforamtambémobservadosnaáreaindustrial.ConformeNastari(2005),osganhosdeprodu-tividadeagroindustrialcresceramemmédia3,77%aoanodu-rante1975e2005.Em1975,produzia-se2024litrosdeálcoolhidratadoequivalenteporhectare. Trinta anosdepois, essevaloratingiu5931 litrosporhectare.Naárea industrial,osinvestimentosrealizadosforamprincipalmentenodesenvolvi-mentodenovossistemasdemoagem,fermentaçõescomca-pacidadesmaioreseautonomiaemenergia(Macedo,2007).
Fonte:elaborada
apartirdosdados
doministérioda
Agricultura,Pecuária
eAbastecimento,
iBGEeuNiCA.
Fonte:elaborada
apartirdosdados
doministérioda
Agricultura,Pecuária
eAbastecimento,
iBGEeuNiCA.
14�| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas
Competitividadedaagroindústriabrasileira
Os ganhos de produtividade agrícola e industrial resul-taramemreduções importantesdoscustosdeproduçãoaolongodo tempo, sendoatualmenteoBrasil opaís comosmenorescustosdeproduçãomundial.Dadoograndenúme-rodeprodutoresqueutilizamdiferentessistemasprodutivos(solos, custos da terra, níveis tecnológicos, mecanização,matéria-primaprópriaoucomprada,etc),édifícilumaesti-mativaprecisadoscustosdeprodução.Carvalho(2002)apre-sentaumacomparaçãoentreoscustosdeproduçãodoálcoolproduzidoapartirdasprincipaismatérias-primasutilizadas.Destaca-sequeoálcooldecana-de-açúcarproduzidonoBra-siltemomenorcusto,conformeilustradonaTabela1.
Tabela1.Comparaçãocustosmédiosdeproduçãoálcoolanidro
Observa-seque,emcomparaçãocomaregiãoCentro-SuldoBrasil, o álcooldemilhoproduzidonosEstadosUnidosapresentaumcusto73%maiselevado;oálcoolproduzidoapartirdetrigooubeterrabatemcustos189%maisaltos.
Outra questão importante refere-se à eficiência energé-tica,queéaquantidadedeenergiaproduzidaemrelaçãoà
País Anidro (US$/l)
Matéria-Prima
BR:Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar
BR:Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar
EUA 0,33 Milho
UE 0,55 Trigo-Beterraba
País Anidro (US$/l)
Matéria-Prima
BR:Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar
BR:Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar
EUA 0,33 Milho
UE 0,55 Trigo-BeterrabaFonte:Carvalho,
2002
Fonte:Carvalho,
2002
|14�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
Competitividadedaagroindústriabrasileira
Os ganhos de produtividade agrícola e industrial resul-taramemreduções importantesdoscustosdeproduçãoaolongodo tempo, sendoatualmenteoBrasil opaís comosmenorescustosdeproduçãomundial.Dadoograndenúme-rodeprodutoresqueutilizamdiferentessistemasprodutivos(solos, custos da terra, níveis tecnológicos, mecanização,matéria-primaprópriaoucomprada,etc),édifícilumaesti-mativaprecisadoscustosdeprodução.Carvalho(2002)apre-sentaumacomparaçãoentreoscustosdeproduçãodoálcoolproduzidoapartirdasprincipaismatérias-primasutilizadas.Destaca-sequeoálcooldecana-de-açúcarproduzidonoBra-siltemomenorcusto,conformeilustradonaTabela1.
Tabela1.Comparaçãocustosmédiosdeproduçãoálcoolanidro
Observa-seque,emcomparaçãocomaregiãoCentro-SuldoBrasil, o álcooldemilhoproduzidonosEstadosUnidosapresentaumcusto73%maiselevado;oálcoolproduzidoapartirdetrigooubeterrabatemcustos189%maisaltos.
Outra questão importante refere-se à eficiência energé-tica,queéaquantidadedeenergiaproduzidaemrelaçãoà
País Anidro (US$/l)
Matéria-Prima
BR:Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar
BR:Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar
EUA 0,33 Milho
UE 0,55 Trigo-Beterraba
País Anidro (US$/l)
Matéria-Prima
BR:Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar
BR:Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar
EUA 0,33 Milho
UE 0,55 Trigo-BeterrabaFonte:Carvalho,
2002
Fonte:Carvalho,
2002
quantidadedeenergianecessáriaparaproduzi-la.Novamenteoálcooldecana-de-açúcarapresentaomelhordesempenho.A tabela 2 traz o balanço energético das principaismaté-rias-primasatualmenteutilizadasparaaproduçãodeálcool.Observa-se quepara a cana-de-açúcar, cada quantidadedeenergiafóssilutilizadaresultanaproduçãode8,3unidadesdeenergiarenovável,ouseja,umbalançoenergéticoextre-mamentefavorávelparaesseproduto.
Tabela2.Balançoenergéticoprincipaismatérias-primas
Localizaçãodaproduçãoeestruturademercado
Ocrescimentodaproduçãodeálcool,conformesalienta-do anteriormente, deu-seprincipalmentena região Centro-Sul.Nasafra2006/07,areferidaregiãofoiresponsávelpor87,5%daproduçãonacionaldecana-de-açúcar,por85,5%daproduçãodeaçúcare90,5%daproduçãodeálcool.SãoPaulo,omaiorestadoprodutordoPaís,namesmasafrafoiresponsávelpor63%detodaacanaproduzidanoBrasil,por63,3%daproduçãonacionaldeálcoolepor65%daprodução
Matéria-Prima Energia Renovável Produzida/ Energia Fóssil Consumida
Trigo 1,2
Milho 1,3–1,8
Beterraba 1,9
Cana-de-Açucar 8,3
Matéria-Prima Energia Renovável Produzida/ Energia Fóssil Consumida
Trigo 1,2
Milho 1,3–1,8
Beterraba 1,9
Cana-de-Açucar 8,3
Fonte:macedoet
alii,F.o.Lichts2004,
internationalEnergy
Agency
Fonte:macedoet
alii,F.o.Lichts2004,
internationalEnergy
Agency
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deaçúcar.AFigura4trazaproduçãoporregião,paraoBrasileparaoestadodeSãoPaulo.
Figura4.Produçãodecana-de-açúcar,açúcareálcoolporregiãoprodutora
050
100150200250300350400450
48
334382
241
NNE CS Brazil SP
Cana-de-AçúcarMilhões t
1509
1429815807
10001
02000400060008000
1000012000140001600018000
NNE CS Brazil SP
ÁlcoolMil litros
3807
22406
26213
17188
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
NNE CS Brazil SP
AçúcarMil t
Fonte:elaborado
apartirdosdados
doministério
daAgricultura,
Pecuáriae
Abastecimento.
Fonte:elaborado
apartirdosdados
doministério
daAgricultura,
Pecuáriae
Abastecimento.
|151consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
Damesma forma,amaiorpartedasusinasedestilariaslocaliza-senaregiãoCentro-Sul,principalmentenoestadodeSãoPaulo.Observa-seque,em2006,dototalde363uni-dadesexistentes,46,5%,ouseja,169unidadesprodutoraslocalizavam-seemSãoPaulo.
Figura5.Númerodeusinas/destilariasporEstado–200�
26 1630
2629
169
020406080
100120140160180
AL AM BA CE GOES MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RS SE SP TO
Apartirdadesregulamentaçãodosetor,em1999,dadooambienteinstitucionalmaispropícioaosinvestimentos,ob-servou-se a formaçãodegrupos econômicosprodutoresdeaçúcareálcool,pormeiodoprocessodefusõeseaquisições.Emboratenhaocorridoaentradadecapitalexternodeváriasnacionalidades,taiscomofrancês(Coinbra-LouisDreyfus,Te-reos),americano(Cargill,InfinityBioenergy,Globex,Brenco)easiático(Noble),agrandemaioriadaproduçãoaindaédecapitalnacional,vistoqueaparticipaçãodosgruposestran-geirosfoidaordemde5%nasafra2006/07.
Em2006,osvintemaioresgruposdoBrasilforamrespon-sáveispor41,3%daproduçãodecana-de-açúcar,por39,3%da produção de álcool e por 46% da produção de açúcar.Apesar do acelerado movimento de fusões e aquisições, aindústrianacionaldeaçúcareálcoolnãoeraconcentrada:o
152| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas
CR4,ouseja,arazãodeconcentraçãodos4maioresgruposprodutoresdeálcoolerade14,9%.
OmaiorgrupoprodutordoBrasiléoGrupoCosan,que,em2006,tinha17usinasedestilarias,sendoresponsávelporaproximadamente7%daproduçãobrasileiradeálcool,11,1%daproduçãodeaçúcare9%damoagemtotaldecana-de-açúcar.Ressalta-sequeamoagemdogrupoCosan,quefoide34milhõesdetoneladasdecana-de-açúcarnaqueleano,representou71%daproduçãodaregiãoNorte-Nordeste.
Geraçãodeempregos
Noanode2005,trabalhavamnosetordecana-de-açúcar,açúcar e álcool doBrasil, segundo os dados dos RegistrosAdministrativosdoMinistériodoTrabalhoeEmprego(RAIS),982.604empregados.ATabela3trazaevoluçãodonúmerodetrabalhadoresformaisenvolvidosnaproduçãodecana-de-açúcar,açúcareálcool,paraasduasregiõesprodutoras,eototaldoBrasil,paraosanosde2000a2005.
Tabela3.Númerodeempregadosformaisporregiãoprodutora–2000a2005
Nota-seque,paraoBrasilcomoumtodo,entre2000e2005,considerando-seostrêssetores(cana-de-açúcar,açú-
Região Produtora
2000 2001 2002 2004 2005
NNE 250.224 302.720 289.507 343.026 364.443
CS 392.624 433.170 475.086 557.742 618.161
TotalBrasil 642.848 735.890 764.593 900.768 982.604
Região Produtora
2000 2001 2002 2004 2005
NNE 250.224 302.720 289.507 343.026 364.443
CS 392.624 433.170 475.086 557.742 618.161
TotalBrasil 642.848 735.890 764.593 900.768 982.604
Fonte:Elaboradoa
partirdemT-brais
(váriosanos).
Fonte:Elaboradoa
partirdemT-brais
(váriosanos).
|153consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
careálcool)conjuntamente,houveaumentoexpressivode52,9% do número de empregados formais, que passou de642.848empregadosem2000para982.604em2005.Entreesses,63%,ouseja,618.161empregados,estavamnaregiãoCentro-SuldoPaís.
Na Tabela4 apresenta-seonúmerodeempregados for-maisporregiãoprodutoraeporsetor:cana-de-açúcar,açúcare álcool. Observa-se que, em 2005, existiam 414.668 em-pregadosnaatividadedacana-de-açúcarnoBrasil,439.573empregadosnaproduçãodeaçúcareumcontingentemenor,masaindaimportante,naindústriadoálcool:128.363em-pregados.
Tabela4.Númerodeempregadosformaisporregiãoprodutoraeporsetor–2000a2005
Percebe-se que, entre 2000 e 2005, o crescimento dosempregados formais das usinas de açúcar (101,9%) e des-tilariasdeálcool(88,4%)doBrasilfoimaiordoqueodos
Região 2000 2001 2002 2004 2005
Cana-de-Açúcar
NNE 81.191 97.496 86.329 104.820 100.494
CS 275.795 302.830 281.291 283.301 314.174
TotalBrasil 356.986 400.326 367.620 388.121 414.668
Açúcar
NNE 143.303 183.517 174.934 211.864 232.120
CS 74.421 84.920 126.939 193.626 207.453
TotalBrasil 217.724 268.437 301.873 405.490 439.573
Álcool
NNE 25.730 21.707 28.244 26.342 31.829
CS 42.408 45.420 66.856 80.815 96.534
TotalBrasil 68.138 67.127 95.100 107.157 128.363
TotalBrasil3setores 642.848 735.890 764.593 900.768 982.604
Região 2000 2001 2002 2004 2005
Cana-de-Açúcar
NNE 81.191 97.496 86.329 104.820 100.494
CS 275.795 302.830 281.291 283.301 314.174
TotalBrasil 356.986 400.326 367.620 388.121 414.668
Açúcar
NNE 143.303 183.517 174.934 211.864 232.120
CS 74.421 84.920 126.939 193.626 207.453
TotalBrasil 217.724 268.437 301.873 405.490 439.573
Álcool
NNE 25.730 21.707 28.244 26.342 31.829
CS 42.408 45.420 66.856 80.815 96.534
TotalBrasil 68.138 67.127 95.100 107.157 128.363
TotalBrasil3setores 642.848 735.890 764.593 900.768 982.604
Fonte:Elaboradoa
partirdemT-brais
(váriosanos).
Fonte:Elaboradoa
partirdemT-brais
(váriosanos).
154| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas
trabalhadoresrurais(16,2%)envolvidoscomaproduçãodecana-de-açúcar,provavelmenteemdecorrênciadoprocessodemecanizaçãodacolheitadecana.Éimportanteobservarquenesseperíodohouvecrescimentodaproduçãodecana-de-açúcar:em2000,aproduçãonacionalfoide325,33mi-lhõesdetoneladase,em2005,foide419,56milhões(Mi-nistériodaAgricultura,PecuáriaeAbastecimento,2005),ouseja,umcrescimentodaproduçãodaordemde28,9%.Nota-setambémque,em2000,55%eramempregadosrurais.Jáem2005suaparticipaçãocaiupara42,2%.
Ressalta-seograndenúmerodetrabalhadoresformalmen-teempregadosnostrêssetoresdaagroindústriacanavieira– cana-de-açúcar, açúcar e álcool -, que, em2005, foi de982.604trabalhadores.Nãoseincluinessetotalosemprega-dosdeoutrossetoresrelacionadoscomacadeiaprodutiva,porexemplo,adubosefertilizantes,tratoreseequipamentos,comercialização,transporte,etc.
Div
ulga
ção/
uni
ca
|155consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
Consideraçõesfinais
OBrasiléinternacionalmentereconhecidopelopioneiris-moemdesenvolveraproduçãoeusoemlargaescaladeumcombustívelrenovável,produzidoapartirdacana-de-açúcar,comaltaeficiênciaenergéticaecomosmenorescustosdeproduçãodomundo.
AmotivaçãoprincipaldoProálcool,naépocadeseulan-çamento,era reduzir adependênciadoPaísem relaçãoaopetróleoimportado,bemcomoatenuarosimpactossobreosindicadoresmacroeconômicosdoPaís.Alémdisso,possibili-touaoBrasildeterodomíniodatecnologiadaproduçãodeálcooledesenvolvercarroscommotoresalimentadosexclu-sivamentepeloálcoolhidratado.Maisrecentemente,aindús-triaautomobilísticanacional lançouocarrobicombustível,amplamenteaceitopeloconsumidorbrasileiro.
Grandesforamoscrescimentosdaproduçãodecana-de-açúcar,deálcooledeaçúcardesdeacriaçãodoProálcool,em1975,oquefoipossíveldevidoàsextensõesterritoriaisdoPaís,aosinvestimentosemtecnologiaindustrialeagrícola,incluindoasnovasvariedadesdecana-de-açúcarmaisprodu-tivas.Tambémoenvolvimentodaindústriaautomobilística,acriaçãodarededepostoscomofertadeálcoolhidratadoemtodooterritórionacional,acriaçãodetanquescoletores,dedutosparatransporte,dentreoutrasações,foramessen-ciaisparaosucessodoPrograma.
SenaépocadacriaçãodoProálcooloprincipalatrativodousodoálcoolcombustívelfoiareduçãodadependênciaemrelaçãoaopetróleoimportado,atualmenteacrescentam-seosbenefíciosambientaisligadosàsreduçõeslíquidasdasemissõesdeCO2.Ofatodeserrenovávelemenospoluentedoqueagasolinatornouoálcoolumaalternativainteressante
15�| BiocomBustíveisnoBrasil:realidadeseperspectivas
paraospaísesquedesejamreduzirsuasemissõesdecarbono,oquepoderepresentaroportunidadesimportantesaoBrasil,dadasuacompetitividadeedisponibilidadedeterras.
Nestanovafase,alémdaviabilidadeeconômica,fatoresambientaisesociaisligadosàproduçãosãoigualmenterele-vantes.Nessesentido,éimportanteressaltaropotencialdegeraçãodeempregosdaagroindústriacanavieira:em2005,982 mil pessoas foram inseridas formalmente no mercado.Nesse cenário de crescimento emaior inserção internacio-nalmente, ressaltam-seosdesafios logísticoseaexpansãosustentáveldaprodução,incluindo-se,portanto,oscuidadoscomomeio-ambienteeapreocupaçãocomasquestõesso-ciais,de formaaestenderosbenefíciosgeradosnacadeiaprodutivaaosempregadosagrícolaseindustriais.
Bibliografia
AssociaçãoNacionaldosFabricantesdeVeículosAutomo-tores(Anfavea).http:www.anfavea.com.br
CARVALHO, L.C.C. Etanol: perspectivas demercado. In:MORAES,M.A.F.D;SHIKIDA,P.F.A.Agroindústria canavieira no Brasil: evolução, desenvolvimento e desafios.SãoPaulo:Atlas,2002.cap.2,p.43-68.
MACEDO, I.C. Greenhouse gas emissions and bio-ethanol production / utilization in Brazil.Piracicaba:CTC,05/97,jan.1997.14p.
MACEDO, .I.C. A energia da cana-de-açúcar. Doze estu-dos sobre a agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil e sua sustentabilidade.SãoPaulo:Berlendis&Vertecchia:Unica.2ª.Ed.2007
|15�consideraçõessoBreaindústriadoetanoldoBrasil
MORAES,M.A.F.D.A desregulamentação do setor sucroalco-oleiro do Brasil.Americana:CaminhoEditorial,2000,238p.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTE-CIMENTO. http://www.agricultuta.gov.br. Acessado em27/05/2007.
REGISTROSADMINISTRATIVOS.RAIS.MinistériodoTraba-lhoeEmprego.CD-ROM.Váriosanos
SANTOS,M.H.C.Política e políticas de uma energia alter-nativa: o caso do Proálcool. Rio de Janeiro: Notrya, 1993.352p.