Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na...

96
Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na Caatinga Estudos da Regiªo do Parque Nacional da Serra da Capivara 13

Transcript of Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na...

Page 1: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Conservação, Ecologia Humana eSustentabilidade na Caatinga

Estudos da Região do Parque Nacional da Serra da Capivara

13

Page 2: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

2 Série Meio Ambiente Debate, 13

Gustavo Krause Gonçalves SobrinhoMinistro do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal

Eduardo MartinsPresidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Celso Martins PintoDiretor de Incentivo à Pesquisa e Divulgação

José Silva QuintasChefe do Departamento de Divulgação Técnico-Científica e Educação Ambiental

Ana Maria Viana FreireCoordenadora de Divulgação Técnico-Científica

Elísio Márcio de OliveiraCoordenador de Educação Ambiental

EdiçãoIBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisDiretoria de Incentivo à Pesquisa e DivulgaçãoDepartamento de Divulgação Técnico-Científica e Educação AmbientalCoordenadoria de Divulgação Técnico-CientíficaSAIN Avenida L/4 Norte, s/n70800-200 - Brasília-DFTelefones:(061) 225-9484 e 316-1222Fax: (061) 226-5588

Brasília1997

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

Page 3: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 3

Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia LegalInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Diretoria de Incentivo à Pesquisa e Divulgação

CONSERVAÇÃO, ECOLOGIA HUMANA E SUSTENTABILIDADE NA CAATINGA

ESTUDOS DA REGIÃO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA (PI)

Moacir Bueno Arruda

Page 4: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

4 Série Meio Ambiente Debate, 13

Série Meio Ambiente em Debate, 13

RevisãoAna Maria Viana Freire

DiagramaçãoLuiz Claudio Machado

CapaPaulo Luna

Criação, Arte-final e ImpressãoDivisão de Divulgação Técnico-Científica - DITEC

ISSN 1413-2583

A77c Arruda, Moacir BuenoConservação, ecologia humana e sustentabilidade na caatinga:

estudo da região do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI) /Moacir Bueno Arruda. - Brasília: Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 1997.

96p. (Série Meio Ambiente em Debate, 13)

ISSN 1413-2583

1. Caatinga. 2. Ecossistema. 3. Ecologia humana. 4.Degradação ambiental . I . Inst i tuto Bras i le i ro do MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis. II. Título III.Série.

CDU 504.75

Page 5: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 5

Versão resumida da dissertação apresentada ao Departamento de Ecologiada Universidade de Brasília como requisito à obtenção do grau de Mestre em ECOLOGIA em19 de novembro de 1993

Page 6: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

6 Série Meio Ambiente Debate, 13

Page 7: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 7

Trabalho realizado junto ao Departamento de Ecologia do Instituto de CiênciasBiológicas da Universidade de Brasília, sob a orientação do Professor Doutor José MariaGonçalves de Almeida Júnior, com suporte financeiro do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenadoria de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior (CAPES) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis (IBAMA), através da Diretoria de Pesquisa (DIRPED/DITAM).

Aprovado por:

Prof. Dr. José Maria G. de Almeida Jr.Orientador

Dr. Sebastião KengenMembro

Prof. Dr. Valdemar RodriguesMembro

Page 8: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

8 Série Meio Ambiente Debate, 13

Page 9: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 9

AGRADECIMENTOS

A realização desta dissertação tornou-se possível graças à colaboração e apoio dediversas pessoas e instituições, às quais sou muito grato. Agradeço:

Ao Professor Doutor José Maria Gonçalves de Almeida Júnior pela oportunidadeda realização do mestrado, orientação, apoio e amizade.

Ao Professor Doutor John Duvall Hay pela afetuosa acolhida e coordenaçãodemocrática do curso. Aos professores Antônio José Andrade Rocha, Antônio Carlos Miranda,Antony Haw e Laércio Leonel Leite pelos ensinamentos e apoio prestados durante o curso.

Aos professores Sebastião Kengen, Valdemar Rodrigues, Ailton Teixeira do Vale eSebastião de Souza pela leitura crítica, correções e sugestões aos originais.

A todos os funcionários vinculados ao Departamento de Ecologia, em especial, aRibamar e a Ciça. A todos os colegas de turma, especialmente, Luiza, João, Kátia, Fátima,Dilma, Heloísa, Adriana e Marcelo.

Aos colegas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis- IBAMA, em especial a Antônio Gorgônio pelo companheirismo durante todas as fases destetrabalho; a José Itamá pelo primoroso trabalho de desenho, a Celeno Carneiro pela orientaçãocartográfica; a Flávio Simas e Hélio Ono pelo auxílio no SITIM; a Ana Lúcia pela seleção dasimagens; a Júlio Falcomer pela ajuda na discussão de geomorfologia e a Ciomara Paim pelaorientação na elaboração e análise dos formulários e entrevistas.

Aos amigos Vanilson B. A. Lima e Tereza Veet Moraes pela discussão, revisão,seleção fotográfica e afeto. As amigas Denise e Heloísa Montandon pela ajuda na tabulaçãodos dados.

A Sérgio Ricardo Gomes pelo dedicado trabalho de digitação e a Luiz ClaudioMachado,pelo trabalho de diagramação.

A Manuel Nicanor Ribeiro, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, notrabalho de guia e facilitador de contatos no campo; a Lívia Oliveira, Ivandete Coelho e Josafáde França pela aplicação dos formulários.

Ao IBAMA, nas pessoas de Eliani Alves de Carvalho, Chefe da DITAM-Divisão deTecnologias Ambientais à época, por acreditar no projeto de pesquisa e viabilizar o suportefinanceiro; a Ieda Rizzo pelo acompanhamento do projeto, inclusive no campo, e pela amizade.Ao Centro de Sensoriamento Remoto-CSR, na pessoa de Sérgio de Almeida, pela aquisiçãodos produtos de sensoriamento ao INPE e pela utilização dos laboratórios e demais recursosdo CSR.

Ao escritório da FAO de Brasília, na pessoa de Manuel Anziani Paveri, pelo apoiono treinamento para interpretação de imagens, realizado no escritório da FAO de Natal, sob aorientação da perita Carine Verslip.

Ao Instituto Nacional de Meteorologia - INMET, na pessoa de Expedito, pelofornecimento e processamento de dados meteorológicos. A Mônica Guedes pela ajuda nabibliografia e discussão.

A Fundação Museu do Homem Americano-FUNDHAM, na pessoa de DeolindaRuben Macedo, pelo acesso a biblioteca e amizade.

Ao escritório do IBAMA de São Raimundo Nonato, na pessoa de Eugênia Medeiros,pelas facilidades logísticas. Ao escritório local do IBGE, na pessoa de José Oliveira, pelo auxíliono trabalho de amostragem. Ao escritório da EMATER, na pessoa de Elias Reis, pelasinformações.

A todos os trabalhadores de São Raimundo Nonato, agricultores, caieireiros,vaqueiros, professores, donas de casa, os atores principais deste trabalho.

A todos, o meu muito obrigado.

Page 10: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

10 Série Meio Ambiente Debate, 13

Page 11: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 11

SUMÁRIO páginas

I. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 171. Objetivo..................................................................................................................... 17

2. Justificativa................................................................................................................ 18

3. Fundamentação Teórica............................................................................................. 19

II. METODOLOGIA.........................................................................................................................211. A Base Conceitual......................................................................................................21

2. Procedimentos de Pesquisa......................................................................................... 22 2.1. Pesquisa Bibliográfica e Documental............................................................ 22 2.2. Interpretação de Dados Cartográficos........................................................... 23 2.3. Trabalho de Campo....................................................................................... 24 2.4. Problemas Metodológicos na Pesquisa.......................................................... 26

III. CARACTERIZAÇÃO ECOLÓGICA DA ÁREA DE ESTUDO........................................... 271. Aspectos Abióticos.................................................................................................... 27

1.1. Localização................................................................................................. 27 1.2. Climatologia................................................................................................ 27

1.2.1. O Clima no Nordeste...................................................................... 27 1.2.2. O Clima na Área de Estudo............................................................ 28

1.2.2.1. Temperaturas...................................................................... 281.2.2.2. Precipitações....................................................................... 291.2.2.3. Insolação............................................................................. 291.2.2.4. Ventos................................................................................ 291.2.2.5. Evaporação..............................................................................301.2.2.6. Balanço Hídrico.................................................................. 30

1.3. Síntese Climática......................................................................................... 31 1.4. Drenagem e Hidrologia............................................................................... 31 1.5. Aspectos Geomorfológicos.......................................................................... 32

1.5.1. Litologia.......................................................................................... 321.5.2. Relevo............................................................................................. 33

2. Aspectos Bióticos...................................................................................................... 33 2.1. A Vegetação no Nordeste........................................................................... 33

2.1.1. A Vegetação da Área de Estudo...................................................... 34 2.1.2. A Vegetação e a Flora do Planalto Sedimentar............................... 342.1.3. A Vegetação e a Flora da Depressão Periférica................................ 34

2.2. A Fauna de Caatinga.................................................................................. 34 2.3. A Fauna Fóssil............................................................................................. 353. Aspectos Humanos.......................................................................................... 35

3.1. As Ocupações Humanas Pré-Históricas............................................... 353.2. As Tribos Indígenas............................................................................. 363.3. A Colonização Européia...................................................................... 36

IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................. 371. Antropismo e Agropecuária...................................................................................... 37

1.1. Antropismo, Espaço e Tempo.............................................................. 371.2. Antropismo na Área de Estudo e em outras Regiões do Brasil.............. 391.3. Agropecuária e Antropismo................................................................. 39

1.3.1. O Solo e Seu Uso.................................................................. 401.3.2. Evolução e Impacto da Agropecuária..................................... 41

Page 12: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

12 Série Meio Ambiente Debate, 13

2. Exploração dos Recursos Florestais............................................................................ 462.1. Consumo de Lenha para Fins Energéticos Domiciliares...................... 462.2. Consumo de Lenha nas Cerâmicas e Olarias...................................... 492.3. Consumo de Lenha nas Padarias......................................................... 512.4. Consumo de Lenha nas Caieiras......................................................... 522.5. Consumo de Lenha nas Casas de Farinha........................................... 522.6. Balanço do Consumo Dendroenergético............................................. 532.7. Recursos Florestais e Agropecuária....................................................... 54

3. Relações Ecológico-Humanas dos Habitantes de Várzea Grande e o Parque Nacionalda Serra da Capivara........................................................................................... 56

3.1. Perfil Ecológico-Humano da Várzea Grande........................................ 563.2. As Caieiras............................................................................................ 603.3. O Parque Nacional da Serra da Capivara............................................ 64

3.3.1. A Criação do Parque Nacional da Serra da Capivara.............. 653.3.2. Processo e impacto da implantação do Parque Nacional

da Serra da Capivara.............................................................. 653.3.3. Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Capivara... 68

V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES................................................................................. 691. Conclusões.................................................................................................................. 69

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................... 73

LISTA DOS NOMES CIENTÍFICOS DA FLORA.................................................................... 83

LISTA DOS NOMES CIENTÍFICOS DA FAUNA..................................................................... 91

LISTA DE TABELAS

Balanço Hídrico de S. J. Piauí (PI).................................................................................................. 30Áreas alteradas por ações antrópicas, no Brasil, por Região e por Estado........................................ 38Classes, grupos de solos e superfícies............................................................................................... 41Produção agrícola do município de São Raimundo Nonato (PI)...................................................... 42Efetivos de bovinos, caprinos e suínos do município de São Raimundo Nonato (PI)......................... 43População residente em São Raimundo Nonato,Censo IBGE, anos 1950/91................................... 45Consumo médio de combustível por domicílio, em TEP/ano, obtido na amostra da ZonaRural de São Raimundo Nonato (PI)............................................................................................... 46Consumo final domiciliar (TEP/ano) na Zona Rural de São Raimundo Nonato (1991)..................... 46Consumo médio de combustível, por domicilio, em TEP/ano, obtido na amostra da ZonaUrbana de São Raimundo Nonato (1991)........................................................................................ 47Consumo final domiciliar (TEP/ano) na Zona Urbana de São Raimundo Nonato (1991)................. 47Consumo total de combustível (TEP/ano) nos domicílios de São Raimundo Nonato (1991)............. 47Consumo anual de energéticos florestais no setor domiciliar de São Raimundo Nonato (1991)........ 48Consumo anual de lenha nas olarias permanentes de São Raimundo Nonato (1991)...................... 50Consumo anual de lenha no setor de cerâmica e olaria de São Raimundo Nonato (1991)................ 50Consumo anual de lenha nas padarias de ão Raimundo Nonato (1991).......................................... 51Consumo anual de lenha nas padarias de São Raimundo Nonato (1991)........................................ 51Consumo anual de lenha nas caieiras de São Raimundo Nonato (1991).......................................... 52Consumo anual de lenha nas casas de farinha de São Raimundo Nonato (1985)............................. 52Consumo anual de energéticos florestais em São Raimundo Nonato (1991).................................... 53Fases de produção, tempo gasto e número de trabalhadores empregados numa caieira.................... 62

Page 13: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 13

RESUMO

O semi-árido brasileiro caracteriza-se por apresentar um quadro com condiçõesambientais inóspitas, uma situação econômica de desigualdade regional com relação ao país,e as comunidades humanas submetidas a intenso estresse social. Este quadro é conseqüênciado modelo de desenvolvimento adotado para o país e para a região. Entretanto, a regiãoNordeste tem potencialidades ecológicas e humanas suficientes para se estabelecer um modelode desenvolvimento sustentado.

O processo crescente de degradação ambiental e social do Nordeste, decorrentedo atual modelo de desenvolvimento, e a carência de novos estudos e pesquisas para acompreensão desta realidade, são os principais motivos desta pesquisa.

A partir desse quadro, com o apoio de técnicas de observação participante, não-participante e análises documentais, à luz do paradigma da ecologia humana, estudou-se aárea do município de São Raimundo Nonato e do Parque Nacional da Serra da Capivara,com uma superfície de 605.000ha. O trabalho de campo foi executado de janeiro de 1991 amaio de 1992.

Analisou-se o processo histórico do antropismo, suas causas e conseqüências.Avaliou-se a apropriação dos recursos florestais, particularmente os utilizados para finsenergéticos. Estudou-se o processo ecológico-humano da interface povoado de Várzea Grande/Parque Nacional, sob o ângulo do impacto das atividades agropecuárias, caieireiras e da criaçãodo Parque.

Os resultados mostram que o modelo inadequado de desenvolvimento e deintervenção institucional, as atividades econômicas mal orientadas e a degradação ambientaldescontrolada estão levando a área a um rápido processo de colapso sócio-econômico eambiental.

A partir da discussão desses resultados, são geradas conclusões e recomendaçõespolíticas, tecno-científicas, institucionais e administrativas, com o objetivo de implementar odesenvolvimento sustentado como um processo alternativo de transformação do quadro atualnoutro em que se perenize o equilíbrio ambiental e a justiça social.

Page 14: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

14 Série Meio Ambiente Debate, 13

Page 15: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 15

ABSTRACT

Facing an intensive environmental and social degradation process, Brazilian semi-arid has been characterized by its inhospitable conditions. It�s environmental, social andeconomical situation consists a deep contrast, both at regional and national levels. As a resultof the natural and historical process, human communities inhabiting its tipical �caatinga�,bioma under a severe social stress. A scenary easily understandable by the development modeladapted by Brazil and imposed to the North east region.

Although dramatic, such a scenary is still reversible, since the northeast Brazilianregion has enough ecological and human potential to react adequately to rany set of actionscapable of promoting transition from present destructive model to a sustainable model ofdevelopment. Trying to contribute to this conceptual and pragmatical effort, the present workaims to describe this picture, not yet appropriately studied through scientific researches, and, atthe same time, it is a proposition in order to change the �Caatinga� situation.

In the light of human ecology paradigm, and with the support of participatory andnon-participatory observation techniques and document analysis, the present research hastaken as its study the area of São Raimundo Nonato (County) and the National Park of Serrada Capivara (PARNA), performing a total of 605,000ha. Historical process of anthropism hasbeen analysed, as well as its causes and consequences; the use of forest resources, particularlyfor energy purposes. Human ecological interface at Varzea Grande community / PARNA hasbeen studied, with a phocus over the impact of lime kiln activities and the PARNA creation.

Results are clearly indicating the inadequacy of governamental measures either indevelopment and conservation terms, demonstrating how institutional interventions andeconomic activities without taking into consideration the environment lead to its degradationout of control, bringing the region to a quick environmental and social colapse process.

The discussion of these results generated political, technical, scientifical, institutionaland administrative recommendations, wich can contribute to a sustainable development model.Sustainable development model is understood as a process capable of transforming the presentpicture into a new scenary where environmental balance and social justice would emerge.

Page 16: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

16 Série Meio Ambiente Debate, 13

Page 17: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 17

I - INTRODUÇÃO

As últimas três décadas constituíram-se numa crescente amplificação dos problemasambientais e de simultâneas discussões em torno dos mesmos. O Brasil foi um país privilegiadocom a generosa riqueza dos seus ecossistemas, por outro lado, é notável pela magnitude dosseus problemas ambientais e condições sociais, resultantes do inadequado modelo dedesenvolvimento adotado.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, aECO-92, foi o maior evento planetário, onde se discutiu o destino da Terra, sob o ponto devista do paradigma ecologista emergente, definido por CAPRA ( 1975 ), como uma constelaçãoholística de conceitos, valores e percepções, baseados no compartilhamento.

Debalde todo o esforço dos ecologistas, �o país tem 120 milhões de pobres; destes,54 milhões em nível de miséria, dos quais 20 milhões apenas vegetam na mais obsolutaindigência� ( BUARQUE, 1990:69 ). O Brasil é o segundo maior bolsão de miséria do mundo.A esperança média de vida para o Nordeste é inferior a 50 anos ( op. cit. ). Esta condiçãohumana se insere num ambiente com a crescente perda da sua biodiversidade, com a erosãoe envenenamento do solo e dos rios, e a transformação das cidades em habitats insalubres,resultante de modelos de desenvolvimento �absurdos porque insustentáveis, isto é, suicidas�( LUTZENBERGER, 1990:13 ).

Ao considerarmos este quadro da atual condição do desenvolvimentobrasileiro, a contextualização do Nordeste, certamente ocupará a posição mais crítica nosaspectos sócio-econômico e ambiental. Inserido neste cenário e embasado nestas preocupaçõesé que se desenvolve o presente estudo.

1. OBJETIVO

Esta dissertação tem como objetivo geral apresentar o estudo realizado sobre asrelações sócio-ambientais de uma comunidade no bioma de Caatinga, sob a perspectiva daEcologia Humana. A ênfase do estudo reside nas condições de fragilidade sócio-ambientais aque foi submetido um conjunto específico de ecossistemas e comunidades humanas, por ummodelo de desenvolvimento equivocado. A hipótese básica no estudo afirma que sob umaperspectiva evolutiva e histórica seria possível indicar os rumos do desenvolvimento sócio-econômico e ambiental da área de estudo, de forma a orientar adequadamente uma políticade gestão ambiental promotora do desenvolvimento sustentado.

O estudo tomou como contexto empírico uma amostra de um conjunto deecossistemas do bioma da Caatinga, mais precisamente o município de São Raimundo Nonatoe o Parque Nacional da Serra da Capivara. O Paque Nacional, por sua vez, inclui partes dosMunicípios de São Raimundo Nonato, São João do Piauí e Canto do Buriti. De acordo com aperspectiva adotada neste trabalho, a criação do Parque Nacional é fundamental para osobjetivos propostos, pois permite verificar quais os impactos da sua criação, em termosevolutivos e históricos, sobre os ecossistemas e as comunidades humanas.

Mais especificamente, o trabalho se desenvolve a partir de uma caracterização daárea de estudo. O detalhamento da caracterização, além do que seria usual, visa delinear ocenário onde o antropismo vem se desenvolvendo. Uma vez traçado o cenário, o estudo tomacomo objetivo específico a medição do antropismo, situando os dados levantados sob umaperspectiva histórica. A intenção é avaliar a aceleração dos processos antrópicos, que ao queindicam as imagens de satélite tornam-se significativos no período coberto pelo estudo. Estamedição em perspectiva histórica é importante porque proporciona o cruzamento de fatoresespaciais e históricos, definindo a evolução do antropismo. É neste ponto que o trabalhoprocura avançar em relação a outros estudos semelhantes ( e.g. IBGE, 1984, 1990a ),

Page 18: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

18 Série Meio Ambiente Debate, 13

procurando demonstrar a correlação da aceleração do antropismo com causas históricas. Apartir desta correlação, o estudo aprofunda a discussão em torno da atividade agropecuária,uma vez que esta é a principal atividade sócio-econômica influente em termos de impactoantrópico.

A atividade de exploração da madeira para fins energéticos entra como um fatorsecundário em termos de impacto antrópico. Constitui-se, também, em objetivo específico dapesquisa avaliar esta atividade, determinando como o seu uso, assim como o consumo delenha para fins energéticos se encaixam na matriz dos fatores correlatos em termos de impactoantrópico. Todavia, esteestudo é aprofundado devido a carência de maior conhecimento elaborado a seu respeito.

Delimitados esses fatores, os objetivos do estudo se voltam para a definição doperfil ecológico-humano dos habitantes da Várzea Grande, restringindo, assim, o foco doestudo, que até então cobre uma área mais abrangente, envolvendo o Município de SãoRaimundo Nonato e o Parque Nacional da Serra da Capivara ( PARNA ). Nesse perfil ensaia-se uma descrição das formas e modo de produção econômica, da qualidade de vida, e aspectossócio-culturais e ambientais relevantes do povoado de Várzea Grande, situado no entorno doParque Nacional.

A compreensão das interações ecológico-humanas de Várzea Grande, passafundamentalmente pelo estudo detalhado da atividade caieireira, devido a sua importânciasócio-econômica e ao seu grande impacto sobre os maciços calcários e os registrosarqueológicos, bem como a demanda de lenha que provoca grandes desmatamentos.

Além disso, o estudo volta-se para a criação e implantação do PARNA, avaliandoa importância do seu impacto sócio-econômico e cultural. Fator esse que pode ser melhorcompreendido como uma interface de influência recíproca entre a comunidade e o meioambiente, mediados por instâncias institucionais que se configuram a partir da ação do Estado.

2. JUSTIFICATIVA

A importância da escolha da região de São Raimundo Nonato para este trabalhodeve-se a dois fatores: o fato da área estudada estar sob condições de estresse social e ecológico;e por ser o bioma da Caatinga, onde se localiza a área de estudo, ainda pouco conhecido. Oconhecimento científico sobre o bioma da Caatinga é um fator crucial, uma vez que estandobastante avançado o seu processo de degradação, torna-se fundamental que novos trabalhosde pesquisa sejam urgentemente realizados, no sentido de contribuir para um minuciosoentendimento dos seus processos naturais, com vistas à adequada gestão ambiental da Unidadede Conservação, bem como da interface comunidade / Parna.

O estudo das interações entre as atividades sócio-econômicas e as unidades deconservação consistem, na atualidade, em um setor de vanguarda da pesquisa ecológica,tanto pelo avanço e a gravidade da crise sócio-ambiental global, como pela dificuldadeencontrada mundialmente para a implantação dos inúmeros planos de manejo existentes.

O processo de antropismo dos ecossistemas brasileiros, constitui-se num dosfenômenos de maior magnitude e impacto gerado pelo modelo de desenvolvimento adotado.Trinta e três por cento da superfície do país já foi antropizada, e a região Nordeste já perdeu53% da sua cobertura vegetal. Esta questão tem sido negligenciada pelos estudos e a próprialegislação referenciam apenas os aspectos quantitativos do antropismo, relegando a segundoplano os aspectos processuais ( e.g. RADAMBRASIL, 1973; IBDF, 1985a, 1985b; IBAMA,1990a, 1990b; IBGE, 1990b ). Alguns estudos realizaram a análise evolutiva e processual doantropismo, tais como: IBDF ( 1984 ), SEMA ( 1986 ); CIMA ( 1991 ).

Assim, é de fundamental importância estudar-se a relação da comunidade com oseu meio, como se dá o processo de utilização dos recursos naturais, como vive e sobrevive o

Page 19: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 19

homem que habita próximo a uma área delimitada para conservação. Essa compreensão édecisiva para o sucesso das estratégias de preservação dos ecossistemas. Na atualidade oconhecimento existente sobre como viver dignamente, com qualidade de vida e de formaintegrada ao meio ambiente é um fator fundamental para a sobrevivência da espécie humanacomo um todo (IUCN.UNEP.WWF, 1991; MORAN, 1990).

Dois exemplos importantes na produção desse conhecimento são a busca poralternativas para uma utilização dos recursos naturais para fins energéticos, atualmenteexplorados de forma não sustentável; e a busca por uma agricultura sustentável, uma vez que,como procura mostrar este trabalho, para o caso estudado, tanto a agricultura tradicionalquanto a agricultura industrial podem ser bastante destrutivas. No caso estudado, a transiçãoentre formas tradicionais de agricultura para a agricultura intensiva industrial moderna gerouum conjunto de tensões políticas, econômicas e conceituais bastante problemáticas e não-resolvidas.

De modo geral, é possível inferir que como tal transição ainda deverá se estenderpor algum tempo, especialmente em áreas de fronteira da expansão dos sistemas econômicostransnacionais, é necessário que sejam buscadas formas sustentáveis para estas práticas, paraas quais um conhecimento inteiramente novo precisa ser formulado. É importante lembrarque se não forem buscadas alternativas e efetivadas propostas, o processo de degradação quejá atingiu metade da caatinga prosseguirá de forma inexorável até a total destruição destebioma (CIMA, 1991). Segundo estimativas apresentadas neste trabalho, tal fato poderá ocorrerna área de estudo ainda em meados da próxima década. No entanto, a existência de antropismosna parte ainda não-degradada não impede que esta possa ser adequadamente gerida, incluindoa possibilidade da recuperação e preservação da área degradada.

Daí a importância de estudar o parque, por ser uma das amostras maisrepresentativas do bioma da Caatinga, mantendo sob os seus limites 130 mil ha conservados,que servem como reserva de biodiversidade. Outro fator peculiar que reforça de maneiradecisiva a importância da área para efeito do estudo realizado é a questão do patrimônioarqueológico localizado dentro e no entorno do Parna da Serra da Capivara. Este PatrimônioNatural e Cultural da Humanidade, oficialmente reconhecido e tombado pela UNESCO, deimportância indiscutível, ainda está muito pouco estudado apesar dos esforços pioneiros atéagora empreendidos (GUIDON & DELIBRIAS, 1986; EMPERAIRE, 1980, 1987; CHAME,1988). Sem dúvida, os estudos e ações realizados no sentido da conservação dos seus recursosnaturais, contribuirão para o estudo e a preservação das relíquias arqueológicas. Ao que indica,as pesquisas até agora realizadas estão revolucionando conceitos e teorias sobre a origem dohomem americano (GUIDON, 1990; GUIDON & DELIBRIAS, 1986).

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta dissertação investiga como vive o homem da região e como ele interage como meio natural. Partindo-se de uma caracterização da caatinga sob o ponto de vista ecológico,ou seja, das características do seu clima; solo e subsolo; da geomorfologia; da vegetação eflora; e da fauna da região, o trabalho enfatiza, também, os aspectos sócio-econômicos eculturais da população local, com vistas a uma compreensão histórica, holística, sistêmica eevolutiva do processo de ocupação da área de estudo, como recomenda o paradigma daEcologia Humana, fundamentado em seus aspectos teóricos por autores como LIMA (1984);MACHADO (1984), MORAN (1975a, 1975b, 1976, 1977, 1983, 1984, 1990a, 1990b);ALMEIDA JR. (1990).

O paradigma da Ecologia Humana, caracterizado por uma abordagem holística,sistêmica, evolucionária e multidisciplinar (ALMEIDA JR. 1990:546), é uma tentativa de suprirlacunas da pesquisa ecológica, que, em geral, negligencia a importância dos aspectos humanos,

Page 20: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

20 Série Meio Ambiente Debate, 13

deixando assim de considerar adequadamente estes aspectos para o entendimento da interaçãohomem/ambiente. Apesar da constante referência ao aspecto multidisciplinar da problemáticasócio-ambiental, poucos têm sido os trabalhos acadêmicos dedicados ao estudo das interaçõeshomem/ambiente ( POSEY, 1983; FEARNESIDE, 1985; MORAN, 1990a ). Envolvendo temasque vão desde a adaptação humana, as interações entre saúde e ambiente, os assentamentoshumanos, o papel da educação ambiental e da mobilização comunitária para a defesa danatureza e muitos outros, a Ecologia Humana busca a compreensão dos processos envolvidosna dinâmica ecológica das comunidades humanas em suas interações com o meio natural,estudando a sua capacidade de adaptação e suas estratégias de sobrevivência, bem como osefeitos destes processos sobre os sistemas naturais e das implicações políticas que determiname ao mesmo tempo permeiam estes processos ( LIMA 1984 ).

Ao discutir a importância do papel da educação na integração sociedade/ambiente,LIMA ( 1984 ) afirma que os estudos em Ecologia Humana, partindo da relevância da entidadebiossocial do homem e através da pesquisa em uma comunidade, procuram identificar de queforma se viabiliza, na prática, a integração do homem com o meio ambiente. Esta abordagembusca mostrar como a comunidade vivencia a problemática da intervenção ambiental, quetende a desarticulá-la do seu habitat. Segundo esta perspectiva, as relações entre odesenvolvimento econômico e a qualidade ambiental são abordadas e entendidas a partir domodelo ecossistêmico, ou seja, a Ecologia Humana procura descrever estas relações atravésde uma matriz econômico-ecológica que pode ser aplicada analítica e sinteticamente pararevelar prioridades em termos de planejamento ( SCHRER, 1982 ). Para FEARNSIDE ( 1983,1985 ) os modelos em Ecologia Humana devem ser capazes de prever a capacidade desuporte humano, discutindo a sua importância para o planejamento demográfico e para odesenvolvimento regional. Para POSEY ( 1983, 1986 ), KERR e POSEY ( 1984 ), ANDERSONe POSEY ( 1985 ) o paradigma da Ecologia Humana permite, através do estudo da complexaagricultura dos índios Kayapó, discutir a importância da cultura ecológica e agrícola indígenapara o conhecimento e a exploração racional de recursos naturais. MORAN ( 1990a ) lembraainda, que a Ecologia Humana interessa-se pelos processos adaptativos e desadaptativos deuma população humana, enfatizando a preocupação não somente com a adaptação, mascom a desadaptação. Segundo MORAN ( 1990a ), a adaptação bem sucedida em relação aum problema leva, na maioria dos casos, à desadaptação em outro nível. Este autor estendeainda o campo da Ecologia Humana para o estudo das crenças e representações simbólicasde uma sociedade para o entendimento dos processos sociais que produzem laços dereciprocidade, reforçando práticas que, em lugar de maximizar a utilidade dos recursos paraindivíduos, generalizam o padrão de todos os indivíduos de uma sociedade, redistribuindo osbens produzidos por todos para o bem comum ( MORAN, 1990a ).

A utilização da abordagem teórica e metodológica da Ecologia Humana, leva emconta a diferença entre o tempo social e o tempo biológico, buscando simultaneamente umacompreensão qualitativa/interpretativa e uma descrição analítica/quantitativa - importanteaspecto para este trabalho.

Adotamos, também, neste estudo, uma postura crítica com relação as idéias e açõesconservacionistas no Brasil, que historicamente primaram pelo preservacionismo edesconsideraram a importância das comunidades humanas na conservação dos ecossistemase das áreas protegidas ( IBDF, 1982; SEMA, 1988 ). A tendência internacional doconservacionismo tem evoluído no sentido de aliar a conservação dos ecossistemas e dasáreas protegidas às comunidades nativas ( FAO, 1976; IUCN, 1986; DIEGUES, 1993 ), comoparte das estratégias para o desenvolvimento sustentado ( IUCN.UNEP.WWF, 1991 ).

Page 21: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 21

II - METODOLOGIA

1. A Base Conceitual

A base metodológica deste estudo, foi norteada pelo paradigma da EcologiaHumana, caracterizado por uma abordagem holística, sistêmica, evolucionária e multidiciplinar,conforme preceituam LIMA ( 1984 ), MORAN ( 1990a ) e ALMEIDA JR. ( 1990 ).

A partir deste século, a ecologia humana foi usada na pesquisa científica com umaabordagem que a tornava uma mera extensão da sociologia e da geografia humana até 1925( ALMEIDA JR., 1990 ). Com o �Grupo de Chicago� e sua perspectiva interdisciplinar,envolvendo a sociologia, geografia urbana e a ecologia, constituiu-se uma nova abordagem,conhecida como ecologia urbana ( ACCOT, 1990 ). A ecologia humana recebeu aportesdisciplinares crescentes, especialmente da antropologia, ecologia, epidemiologia e psicologiasocial. A criação do Programa o Homem e a Biosfera ( MAB ), pela UNESCO, em 1971,objetivou contextualizar o Homem como ator central na biosfera e responsável pelodesenvolvimento. O Programa MAB apoiou-se no conceito básico da �conservação para umdesenvolvimento duradouro�, ou seja, o ecodesenvolvimento ( CASTRI, 1981 ).

Algumas contribuições foram determinantes para a ecologia humanacontemporânea -principal instrumento metodológico neste estudo - como a ecologia cultural( STEWARD, 1955 ), o papel da energia na evolução cultural ( WHITE, 1943 ); a identificaçãodos sistemas ( BERTALANFFY, 1968 ) e dos ecossistemas ( ODUM, 1986 ); e o conceito deadaptação de populações às �circunstâncias ambientais, como o estresse nutricional, o calorextremo, a altitude ou a seca ( MORAN, 1990a ). A ecologia humana contemporâneadesenvolve-se como um campo ecoantropológico, necessariamente multidisciplinar, na buscade conhecer o homem como espécie biocultural, em estado de interdependência com fatoresabióticos, bióticos e culturais ( ALMEIDA JR, 1990 ).

A presente pesquisa tem como referencial teórico e metodológico a base conceitualda ecologia humana contemporânea. A metodologia da pesquisa apoia-se nos padrõesinterativos do homem da Caatinga com o seu ambiente, intermediado pelos fluxos energético-materiais e informacionais (assimbólicos e simbólicos), pelas estratégias bioculturais desobrevivência e processos bioculturais de adaptação, num contexto aberto, de dimensõesespaciais e temporais, conforme proposta por ALMEIDA JR. ( 1990 ).

A área de estudo constituída pelo município de São Raimundo Nonato e ParqueNacional da Serra da Capivara é enfocada como um conjunto de ecossistemas, onde se buscaentender o processo integrativo com sua estrutura, dinâmica e evolução peculiares, conformeo modelo de paradigma da ecologia humana, concebido por ALMEIDA JR. ( 1990 ).

A caracterização ambiental da área de estudo é uma pré-condição essencial parase entender como se desenvolve o processo de interação homem/meio ambiente numa visãointegrada. MORAN ( 1990a ), ao tratar da estratégia e da metodologia, considera acaracterização ambiental fundamental na pesquisa da ecologia humana e aduz que �umaecologia humana que não contextualiza o homem dentro do seu ambiente físico, de sua históriae de sua percepção ambiental é incapaz de explicar a complexidade das inter-relações humanas�.MORAN ( 1990a ) propõe que se faça uma detalhada caracterização do ecossistema,considerando todos os componentes influentes como o clima, os solos, a flora e a fauna.Seguindo esta recomendação, o presente trabalho considerou a necessidade da caracterizaçãoecológica da área de estudo nos seus aspectos abióticos, bióticos e antrópicos.

Bucando compreender a interação homem/meio ambiente para uma avaliaçãodos efeitos da atividade humana sobre o meio ambiente, a caracterização realizada pretendeuavaliar o dano ou eliminação da cobertura vegetal nativa, por efeito do antropismo. Antropismo,neste estudo, é entendido como as alterações provocadas na vegetação pelo homem,

Page 22: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

22 Série Meio Ambiente Debate, 13

observáveis e mensuráveis ( IBGE, 1990a ). O antropismo tem sido sistematicamente avaliadode forma quantitativa desde 1973, e. g. Projeto RADAMBRASIL ( 1973 ), IBDF ( 1980 ),IBAMA ( 1990a ), dentre outros. Segundo LORENSI ( 1987 ), o monitoramento florestal noBrasil através da interpretação de imagens orbitais leva em conta aspectos temporais, espectraise espaciais ( p. ex. IBDF, 1980, 1981, 1982 ). No presente estudo, além da análise histórica doantropismo, realiza-se também uma avaliação qualitativa, correlacionando-se os períodos deantropismo e suas respectivas causas e conseqüências. Esta metodologia quantitativa/qualitativado antropismo é inovadora, exigindo estudos multidiciplinares do comportamento sócio-econômico e cultural do homem no ecossistema. MORAN ( 1990 ) entende que a ecologiahumana deve estudar o uso dos recursos florestais com o apoio da etnobotânicia, bem comoa forma de organização da agricultura e seu calendário. No presente estudo, a quantificaçãodo antropismo, suas causas e conseqüências são primariamente correlacionadas com asatividades econômicas agropecuárias, baseadas em análises documentais.

O consumo de recursos florestais para fins energéticos - lenha e carvão vegetal - foiestudado no Rio Grande do Norte pelo Projeto PNUD/FAO/IBDF/BRA/82/008, usando-se ametodologia de estudo dendroenergética, introduzida por RIEGELHAUPT em 1985. Ametodologia quantitativa-descritiva, também adotada no presente estudo, consiste na aplicaçãode formulários na amostra dos setores domiciliar, comercial/industrial e caieireiro. Uma vezprocedido o levantamento, obtém-se as informações sobre o consumo de lenha e gás liquefeitode petróleo ( GLP ), características dos fornos e modo de produção RIEGELHAUPT ( 1985 )e PNUD.FAO.IBAMA ( 1990 ).

O aprofundamento da compreensão ecoantropológica partiu do delineamento doperfil ecológico-humano da área de estudo em termos gerais, posteriormente restringindo oenfoque sobre a pequena comunidade de Várzea Grande. Neste sentido, a pesquisa se orientoupelas sugestões de MORAN ( 1990 ), que no seu capítulo referente a metodologia sugere quese investigue aspectos importantes como a organização social e atividades correlatas, a produçãoeconômica, os problemas; o censo e a estrutura demográfica; a nutrição, saúde e epidemiologia;e os aspectos culturais. O estudo destes aspectos, somados ao estudo do sistema de produçãodas caieiras norteou-se pelos conceitos de MALINOWSKI sobre técnicas observacionaisparticipantes, conforme descritas por PELTO & PELTO ( 1978 ).

2. Procedimentos de Pesquisa

A ecologia humana tem sido pouco utilizada como instrumento de pesquisa noBrasil, especialmente nos estudos concernentes a ecossistemas frágeis e comunidadescircunscritas ou adjacentes a unidades de conservação, conforme a proposta deste estudopara a região de São Raimundo Nonato e o PARNA da Serra da Capivara. Daí a necessidadeda superação das dificuldades com uma pesquisa planejada da coleta e interpretação dosdados, até os trabalhos de campo e de laboratório ( GOODE & HATT, 1975 ). Com a definiçãoda temática, elaborou-se um projeto de pesquisa que previa as seguintes fases:

i. coleta de dados com revisão bibliográfica e documental;ii. interpretação de dados bibliográficos, documentais e cartográficos;iii. trabalho de campo;iv. trabalho de síntese e redação da dissertação.

2.1. Pesquisa bibliográfica e documentalO primeiro passo foi a realização de um levantamento bibliográfico e documental

sobre ecologia humana, antropismo, dendroenergética, conservacionismo, semi-árido brasileiroe a região de São Raimundo Nonato, cujas informações foram identificadas, compiladas e

Page 23: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 23

fichadas, conforme sugere MARCONI & LAKATOS ( 1990 ). Foram realizadas buscas eletrônicasutilizando-se palavras chaves no CNIA/IBAMA - Centro Nacional de Informações Ambientais,no SEMEAR - Sistema em Linha Especializado em Armazenamento e Recuperação deInformações, no Centro de Informações da CETESB - Companhia Estadual de Tecnologia eSaneamento Ambiental e na Universidade de Brasília.

Foram realizados levantamentos de livros, periódicos, anais, anuários, relatórios edocumentos oficiais, legislação e mapas nas bibliotecas da Universidade de Brasília,Universidade de São Paulo, SUDENE - Superintendencia para o Desenvolvimento do Nordeste,Universidade do Piauí, CEPATSA - Centro de Pesquisa Agropecuária Tropical do Semi-Áridode Petrolina e CSR - Centro de Sensoriamento Remoto do IBAMA.

2.2. Interpretação de Dados CartográficosA seleção e interpretação de imagens - O Projeto PNUD/FAO/IBAMA/BRA 87/007

estudou a vegetação lenhosa nativa do Rio Grande do Norte, utilizando-se imagens TM( TematicMapper ) do LANDSAT 5, com composições coloridas �falsa cor�, impressos em papel, naescala 1:100.000. No presente estudo, optou-se por estes critérios e adotou-se a composiçãodos canais 3,4 e 5 BGR ( azul, verde, vermelho ) que são as mais adequadas, especialmentena interpretação da vegetação da Caatinga. Optou-se pela escolha das imagens mais recentese que apresentassem o mínimo de cobertura de nuvens, preferencialmente da época seca(agosto a novembro ). Após a delimitação geográfica da área de estudo, adquiriram-se asimagens em papel, transparências e fitas �streamer�.

Foram selecionadas as seguintes imagens:

WRS 218/066A bandas 3,4,5 07.AGO.89WRS 218/066C bandas 3,4,5 07.AGO.89WRS 219/066B bandas 3,4,5 17.AGO.90WRS 219/066D bandas 3,4,5 17.AGO.90

A interpretação visual foi realizada sobre mesa de luz, com o auxílio de lupas deaumento em capas de papel acetato dupla face. Estas capas foram previamente mapeadas,com base nas cartas topográficas da SUDENE/DSG, em escala compatível com as das imagens( 1/100.000 ), contendo cidades, estradas, rios, açudes e limites. Nesta interpretação objetivou-se mapear a área de vegetação nativa remanescente e as antropizadas à época da passagemdo satélite. As áreas de interpretação duvidosa foram checadas em campo.

Quantificação do antropismo - Para se realizar a avaliação espaço-temporal doantropismo, foi utilizada uma série histórica de mapas de antropismo que haviam sidoproduzidos. Utilizaram os mapas de antropismo do RADAMBRASIL ( 1973 ) da área de estudo,na escala de 1/250.000; as Cartas de Vegetação Natural e Antrópica do Nordeste,confeccionadas pelo IBGE.IBDF.SUDENE ( 1984 ) na escala 1/250.000; e os mapas daAtualização do Antropismo da Região Nordeste, também realizada pelo IBGE.IBAMA.SUDENE( 1990 ), na escala 1/250/000.1 A quantificação das áreas com remanescentes de vegetação edos polígonos de antropismo foi realizada com o emprego do planímetro de pontos sobrepostoàs capas de acetato, onde foram desenhados os polígonos. O planímetro era sempre alinhadoa partir de uma linha-base para se evitar distorções, conforme sugere LORENSI ( 1987 ). Ovalor de cada ponto ( P ), em hectare ( ha ) é: P=( D2 x 4 )/1010, onde �D� é o denominadorda escala considerada, P=25ha. O antropismo medido para 1990, baseou-se em imagensque foram convertidas da escala de 1/100.000 para 1/250.000 com o auxílio de um pantógrafo

1 Os mapas do RADAMBRASIL (1973) foram baseados em informações geradas por radar; os mapas do IBGE/IBDF/SUDENE (1984) e

BRASIL/IBAMA/SUDENE (1990) foram baseados em imagens de satélite.

Page 24: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

24 Série Meio Ambiente Debate, 13

para compatibilizá-las com os mapas dos períodos anteriores, e porque a escala de 1/250.000foi definida como a mais adequada à área de estudo. A partir da série histórica de áreasantropizadas de 1973, 1983, 1989 e 1990, plotaram-se todos os polígonos num mesmo acetato-base, confeccionando-se assim, o Mapa de Antropismo ( em Apêndice ).

A partir do Mapa Base na escala 1/250.000, confeccionou-se o Mapa deGeomorfologia ( em Apêndice ), baseado no mapa de PELLERIN (1987). Confeccionou-se,também, o Mapa de Solos ( em Apêndice ), baseado no Mapa Exploratório-Reconhecimentode Solos do Estado do Piauí ( 1983 ), escala 1/100.000, convertido para a escala 1/250.000com auxílio do pantógrafo. As diversas classes de solos também tiveram suas superfíciesquantificadas.

O SITIM - Sistema de Tratamento de Informações foi utilizado para se realizarestudos em diferentes escalas para as áreas desejadas, com o uso de fitas �streamer� e auxíliode monitor para fotografias das áreas desejadas.

2.3. Trabalho de CampoO interesse em se estudar e selecionar áreas com comunidades socialmente carentes,

circunscritas ou adjacentes à unidade de conservação, levou a avaliação de alguns casos comoo PARNA da Chapada dos Veadeiros e a comunidade de São Jorge-GO, o PARNA de Jaú e acidade de Novo Airão-AM, a Reserva Biológica do Poço das Antas e a Cidade de Silva Jardim-RJ, e o PARNA da Serra da Capivara e o município de São Raimundo Nonato-PI. Os quatrocasos foram estudados, através de documentos e consultas com técnicos conhecedores decada caso e após a primeira visita de reconhecimento a São Raimundo Nonato, em julho de1990, optou-se por esta área de estudo por ser ecologicamente frágil, conter comunidadessocialmente carentes e a existência do PARNA da Serra da Capivara.

Para se viabilizar a pesquisa e se criar condições logísticas de campo, elaborou-seum Projeto de Pesquisa que foi submetido ao FUNAM - Fundo Nacional do Meio Ambiente eao IBAMA. O projeto foi selecionado no segundo semestre de 1990 pela DITAM - Divisão deTecnologias Ambientais, da DIRPED - Diretoria de Incentivo a Pesquisa e Divulgação do IBAMA.Foram realizadas oito viagens ao campo entre janeiro de 1991 e maio de 1992.

O trabalho de campo consistiu nas tarefas de reconhecer a área de estudo e ascomunidades humanas, realizar a reambulação para a verificação das dúvidas encontradas naleitura e interpretação das imagens para a quantificação do antropismo, e a aplicação dosformulários e roteiros de entrevistas. Foi realizado também, um inventário florestal no municípiode São Raimundo Nonato, em 23 parcelas de 20 x 20m, todavia o inventário florestal não foiconsiderado na discussão desta dissertação por decisão do autor e do orientador. O trabalhode campo contou com o apoio logístico dos escritórios locais do IBAMA, IBGE e EMATER.

No trabalho de campo as técnicas utilizadas para a coleta de dados foram asseguintes: a) observação direta intensiva participante; b) observação direta extensiva (MARCONI& LAKATOS, 1990).

Segundo MALINOWSKI, a observação participante torna-se possível na convivênciacom a comunidade, onde se busca apreender a sua cultura, sua língua, seus valores e é básicapor fornecer informações preliminares para o desenvolvimento de outras técnicas comoentrevistas, questionários e formulários ( PELTO & PELTO, 1978 ). Baseado em PHILLIPS(1974 ), adotou-se a técnica �observador como participante�, onde o pesquisador se identificajunto à comunidade e dedica o seu tempo nas tarefas relacionadas com a pesquisa.

Nos primeiros contatos com a comunidade, foi utilizada a técnica de entrevista semroteiro, ou conversas informais, observações das condições ambientais e do modo de produçãosócio-econômico. Esta fase foi importante para se preparar a coleta de dados baseada emtrês formulários e um roteiro de entrevista, os quais passaram por um pré-teste com a aplicaçãode 10 formulários e entrevistas ( PELTO & PELTO, 1978 ). Ao final, foram elaborados os

Page 25: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 25

seguintes instrumentos de coleta de dados: a) Formulário sobre o consumo energético domiciliar;b) Formulário sobre o consumo energético do Setor Industrial e Comercial; c) Formulário doSetor Caieireiro; d) Roteiro de entrevista padronizado para se traçar o perfil ecológico-humanode Várzea Grande ( em Apêndice ).

Adotou-se também a técnica para se obter dados através de informantes-chaves,conforme sugere PELTO & PELTO ( 1978 ). Foram selecionados alguns informantes por critérioda área de interesse de pesquisa e de sua representatividade. Foram selecionadas as seguintespessoas: um diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Raimundo Nonato, overeador de Várzea Grande, um líder dos caieireiros, um lenhador, o líder dos caminhoneirosde lenha, a dona da lanchonete de Várzea Grande, os chefes dos escritórios do IBAMA, IBGEe EMATER, e uma funcionária da FUNDHAM. Estas pessoas foram peças chaves no andamentoda pesquisa, gerando informações e prestando colaborações.

Para a obtenção dos dados referentes ao consumo de lenha no município de SãoRaimundo Nonato foram realizados três tipos de levantamento, com respectivos formulários.O levantamento no setor domiciliar com 2 subsetores: urbano e rural; nos Setores Industrial eComercial ( cerâmicas, olarias e padarias ); e no setor caieireiro ( RIEGELHAUPT, 1985;PNUD.FAO.IBAMA, 1990 ). Foram utilizadas unidades de conversão dos dados obtidos,conforme o quadro abaixo.

Quadro de Unidades e Pesos de Combustíveis Domésticosusados em São Raimundo Nonato

( baseado em RIEGELHAUPT, 1985 )

COMBUSTÍVEL UNIDADE PESO ( Kg )

GLP Botijão 13,0

Carvão Vegetal Lata de tinta 0,5Meia lata de manteiga 1,0Lata de querosene 5,0Saco ( 4 latas ) 20,0

Lenha Feixe de homem 35,0Feixe de homem idoso 23,0Feixe de mulher 30,0Feixe de mulher idosa 23,0Feixe de criança ( 10/15a ) 15,0Feixe de criança (5/10a) 5,0Carga de cavalo 147,0Carga de burro grande 136,0Carga de burro pequeno 102,0Carga de mão 58,0Carroça de burro 300,0Carroça de cavalo 300,0Carroça de boi 440,0Feixe de bicicleta 30,0

Page 26: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

26 Série Meio Ambiente Debate, 13

As equivalências de cada tipo de Combustível em TEP ( Tonelada Equivalente dePetróleo ) são: 1 TEP=10,800 x 106 Kcal; 1t GLP=1,090 TEP; 1t de lenha=0,234 TEP.

A pesquisa do consumo de lenha do setor domiciliar urbano de São RaimundoNonato foi realizada por amostragem aleatória estratificada. A estratificação foi baseada nasvariáveis local de residência e renda. Com base nas informações prestadas pelo escritório localdo IBGE, dividiu-se a cidade em três setores: a) o setor A, onde residem as famílias de rendamais alta, representado por um bairro; b) o setor B, onde habitam as famílias de renda média,representado por três bairros; c) e o setor C, onde vive a população de renda mais baixa,representado por sete bairros.

A amostra foi proporcional ao número de domicílios existentes nos setores em quese dividiu a cidade, de forma que para cada domicílio amostrado no setor A ( estrato alto )foram amostrados 3 no setor B ( estrato médio ) e 7 no setor C ( estrato baixo ). A seleção dasamostras foi feita por sorteio de ruas, e em cada rua sorteou-se o número dos domicílios. Adistribuição dos domicílios amostrados ficaram da seguinte forma:

Estrato A 05 domicílios 10%Estrato B 15 domicílios 29%Estrato C 31 domicílios 61%

No setor domiciliar rural foram escolhidos cinco aglomerados mais representativosdo município em termos populacionais. Nestes aglomerados as casas a serem pesquisadasforam escolhidas aleatoriamente. A amostra aleatória simples pesquisou 65 domicílios.

A amostragem utilizada para o setor industrial e comercial foi feita por tipo deestabelecimento ( cerâmicas, olarias, padarias ) aleatoriamente ( vide tabela 18 ). O formuláriodo setor caieireiro foi aplicado aos doze grupos de trabalhadores caieireiros contactados duranteo ano de 1991 na área das caieiras.

O roteiro de entrevistas padronizado para se obter dados com o objetivo de traçaro perfil ecológico-humano de Várzea Grande foi aplicado em 25 domicílios com o sorteioaleatório das residências.

Os formulários e o roteiro de entrevista foram aplicados no ano de 1991. As amostrasforam planejadas e executadas de forma a serem as mais representativas possíveis, dentro daslimitações logísticas e financeiras. Embora as técnicas de amostragem tenham sido baseadasem RIEGELHAUPT ( 1985 ) e PNUD.FAO.IBAMA ( 1990 ), o percentual populacional dasamostras foi sempre maior que os adotados por aqueles autores, para se aumentar a margemde segurança dos resultados.

A tabulação dos dados foi do tipo manual, conforme sugere MARCONI & LAKATOS( 1990 ), organizados em tabelas e gráficos analisados, interpretados e discutidos no capítuloResultados e Discussão.

2.4. Problemas Metodológicos na PesquisaConforme já foi referido, a base metodológica da pesquisa foi norteada pelo

paradigma da ecologia humana. Foram utilizadas metodologias específicas para cada problemainvestigado, compatibilizadas entre si e no todo com a ecologia humana. Algumas dificuldadeshaviam sido previstas, baseadas no alerta de MALINOWSKY ( in PELTO 1977 e PELTO &PELTO 1978 ) que critica a metodologia das pesquisas da seguinte forma: a) sem se conheceruma comunidade não é possível investigá-la adequadamente; b) quantificação - os fatos nãosão quantificados na maioria das pesquisas; c) especificidade - em geral, os métodos não sãoespecificados e nem comprovados com dados; d) representatividade - muitos pesquisadoresnão especificam o universo de coleta de dados; e) comparabilidade - trabalhos realizados deforma personalizada dificultam sua comparação com outras pesquisas.

Page 27: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 27

Os moradores da comunidade da Várzea Grande e da região do PARNA são pessoasdóceis, porém de difícil aproximação, isto decorre não só das diferenças de visão de mundodos moradores e dos pesquisadores, mas fundamentalmente pela lembrança que os moradorestêm dos pesquisadores que ali estiveram presentes e estimularam a criação do Parque quesubtraiu-lhes as terras. Os habitantes também tiveram relações historicamente traumáticascom representantes de instâncias de poder institucional, tais como: ex-IBDF, INTERPI, IBAMAe Polícia Federal. As relações são ainda muito tensas com o IBAMA e a Policial Federal que láestiveram para proibir a atividade caieireira, por solicitação da FUNDHAM. Estas dificuldadesforam superadas com a pesquisa participante, alianças com líderes locais e bom senso.

As condições operacionais na área de estudo também foram difíceis, devido àdistância, à adversidade climática e às dificuldades de locomoção por estradas e caminhosquase intransitáveis. No entorno do PARNA e das caieiras, todo o trabalho de campo foirealizado a pé.

Outra limitação foi o trabalho com valores monetários de preços e salários, poislevantamentos realizados em meses diferentes (e também dados secundários de anos anteriores)são dificilmente comparáveis devido à inflação2.

III - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

1. ASPECTOS ABIÓTICOS

1.1. LocalizaçãoA área de estudo engloba o Município de São Raimundo Nonato e o Parque

Nacional da Serra da Capivara ( PI ). O Parque Nacional, por sua vez, estende-se por terrasdos Muncípios de São Raimundo Nonato, São Jõao do Piauí, Canto do Burití e Coronel JoséDias.

A área de estudo possui uma superfície de 605.000ha, localizada entre os paralelos08o24' e 09o30' de latitude Sul e os meridianos 42o00' e 43o03' de longitude Oeste de Greenwich.

O Município de São Raimundo Nonato pertence à Mesorregião do SudoestePiauiense e à Microrregião de São Raimundo Nonato.3 O Paque Nacional da Serra da Capivaratem uma área de 129.140ha.

1.2. ClimatologiaO clima é um dos fatores ecológicos mais relevantes quando se estuda o Semi-

Árido brasileiro, e sempre foi apontado como o grande vilão das mazelas nordestinas. A grandecirculação é citada como a principal responsável pela seca, dentre outros fatores.

1.2.1. O Clima no NordesteQuase todas as sínteses paleoclimáticas revelam que a região Nordeste e o

domínio das Caatingas apresentam um longo e constante ambiente tropical de aridez. Análisesbiogeoquímicas sugerem a existência de ambiente seco desde muito cedo ( Terciário? ), eindícios registrados no depósito de seixos do Quaternário em São João do Piauí ( Pellerin1984 ). A Região Nordeste se caracteriza por apresentar temperaturas elevadas e ser a regiãomais seca do país. A sua variabilidade espacial e temporal de precipitação é elevada, o que é

2 Nota: Recurso informático - A dissertação foi editada com o editor-texto �Word Perfect 5.1.�. As tabelas mais complexas foram editadascom o programa �Flow Charting 3�. Os cálculos do Balanço Hídrico foram efetuados com o recurso do programa �GB - Graph in the Box

1.2�. A figura nº 14, colorida, foi desenhada com o auxílio do programa �Color Draw�.3 A atual divisão das Meso e Microrregiões foi introduzida a partir do último censo de 1991, pelo IBGE. Anteriormente, o Município de São

Raimundo Nonato pertencia à Mesorregião do Sudeste Piauiense e Microrregião de São Raimundo Nonato.

Page 28: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

28 Série Meio Ambiente Debate, 13

característico de climas semi-áridos. Os índices, de um ano para outro, apresentam desvio deaté 200%.4 A análise climatológica sugere que a semi-aridez é causada por mecanismos dacirculação geral da atmosfera, conhecida como circulação de HADLEY-WALKER. A interaçãodas células de HADLEY e WALKER determinam a variabilidade e a intensidade de aridez(SILVA 1980). O alto valor do albedo da superfície com vegetação rala, associados àscaracterísticas topográficas podem acentuar as condições de seca. Entretanto, é possível que ofator mais importante na definição do regime de chuva anual seja a posição latitudinal daZCIT ( Zona de Convergência Intertropical ) sobre o Atlântico Equatorial que nos anos de secanão cruza o equador, não atingindo o Nordeste. A ZCIT é uma banda de baixa pressão, quepropicia a condensação do vapor d�água e pode resultar em chuvas. Outro importante fatorpropiciador de chuvas no Nordeste são os Sistemas Frontais, oriundos de altas e médias latitudesdo Hemisfério Sul, podendo atingir até 13oS, acompanhados de precipitações. Os VórticesClônicos de Altos Níveis, oriundos do Oceano Atlântico Sul, podem provocar precipitaçõesnos setores norte e nordeste do Nordeste. Ao estudar a climatologia do Nordeste, NIMER(1989a:359) conclui que �É verdade que o regime anual de precipitação é muito irregular, istoé, o afastamento da precipitação efetiva em relação à média é dos piores, porém o conhecimentode sua exata distorção e sua previsão, ambas perfeitamente possíveis, viriam minimizar seusefeitos�.

1.2.2. O Clima na Área de EstudoO DNOCS ( Departamento Nacional de Obras Contra a Seca ) possui vários postos

pluviométricos localizados em São Raimundo Nonato. Os dados destes postos estão disponíveisno Banco de Dados Hidroclimatológicos do Nordeste, na SUDENE, Recife. ( SUDENE, 1990).Entretanto, estes dados restringem-se exclusivamente a pluviometria. Desta forma, buscou-sedados de uma das estações meteorológicas do DNMET ( Departamento Nacional deMeteorologia ). Optou-se por uma estação localizada em São Jõao do Piauí, por ter os dadosmais completos e com um maior período de obervação. Esta estação está classificada comoEstação Climatológia Principal pela Organização Mundial de Meteorologia e situa-se a cercade 20 km ao norte da área de estudo.

1.2.2.1. TemperaturasA temperatura anual média compensada, no período de 1978 a 1989, foi de 26,8°C,

considerada elevada.As temperaturas mensais média, apesar de elevadas, apresentaram uma reduzida

amplitude de oscilação no período observado. Variaram entre 25,6°C, em março e 29,1°C,em outubro, com uma amplitude de 3,5°C. Entre os meses de agosto e novembro astemperaturas médias oscilaram entre 27,1°C (agosto) e 29,1°C (outubro). Os demais mesesficaram abaixo da média anual.

A temperatura máxima média foi de 33,9°C. Os valores apresentaram oscilaçõesentre 32,1°C (fevereiro) e 36,3°C (outubro). A temperatura mínima média foi de 20,9°C (Tabela1 ). A oscilação da média mensal situou-se entre 19,9°C (maio) e 22,6°C (setembro).

A temperatura máxima absoluta registrada foi de 40,6°C em 21/12/82. Os valoresda temperatura máxima absoluta oscilaram entre 37,3°C, em 28/07/83 e 40,6°C em 21/12/82. A temperatura mínima absoluta foi de 11,9°C em 08/01/92. As oscilações foram entre11,9°C e 17,9°C em 20/04/78. Segundo NIMER (1989a), a região é cortada pela isoterma de24°C.

4 As calamidades ambientais e sociais decorrentes das secas, levaram o Governo Federal a demarcar em 1951, o �Polígono das Secas - áreacircunscrita pela isoieta de 1000mm - composta por uma superfície de 940.000 km2, que em princípio, receberia apoio oficial prioritário(BRASIL/SUDENE 1970:4).

Page 29: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 29

1.2.2.2. PrecipitaçõesSe em relação à temperatura, a Região Nordeste apresenta homogeneidade espacial

e variação anual pouco relevante, o mesmo não acontece com a pluviosidade, que devido àsua repartição e irregularidade, assume importância maior do ponto de vista climático e,sobretudo, pelas conseqüências sócio-econômicas (NIMER 1989a). A chuva é o fator ecológicomais importante para a população do sertão e sua economia.

A análise dos dados pluviométricos de São Raimundo Nonato, no período de 1978a 1989 mostra que a precipitação média anual chegou a 757,7mm. As precipitações anuaisabsolutas, entre 1978 a 1989, oscilaram entre 418,7mm (1983) e 1.096,2 mm (1988), o quecorresponde a uma amplitude de variação de 677,5mm. Ocorrem ciclos de anos secos comoa última seca de 1978 a 83, com déficits; seguidos de anos chuvosos, como os de 1984 a 1989com excedentes e inundações.

Analisando uma série de longo prazo do DNOCS, de 1911 a 1990, observou-seque em 1932 houve uma precipitação de 454mm, ano em que se configurou o �flagelo� de1932. Opostamente, ocorreu 1.158mm em 1947, ano de grandes inundações ( SUDENE1990 ).

As precipitações médias mensais ( 1978-1989 ) mostraram que os meses deprecipitações mais abundantes foram novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março e abril(707,7mm acumulados ), que representaram 93,40% das precipitações do ano todo. O primeirotrimestre apresentou a maior precipitação média ( 141,6mm ), sendo que em março choveu182,5mm, fevereiro 125,6mm e janeiro 116,3mm. As precipitações médias mensais menossignificativas ocorreram nos meses de maio, junho, julho, agosto, setembro e outubro ( 50mmacumulados), o que correspondeu a apenas 6,6% das precipitações médias em um ano. Oterceiro trimestre apresentou a maior estiagem, sendo que em agosto choveu em média 0,2mm,julho 1,0mm e setembro 7,6mm.

Os inícios e o fins do período chuvoso são muito irregulares e suas previsões muitoimportantes para a agricultura. No período de 1978 a 1989, o início das chuvas ocorreu emoutubro, em sete anos ( 58,3% ); iniciou em setembro, em quatro anos ( 33,3% ), porém comprecipitações modestas; e iniciou em novembro somente uma vez ( 8,3% ). No Nordeste,como um todo, o início das chuvas pode variar muito. É importante que, após as primeiraschuvas, ocorram mais chuvas com regularidade, senão, haverá o murchamento e perecimentodas plantas ( HALL, 1978 ). O período de 1978 a 1983, particularmente seco, apresentouchuvas significativas apenas em novembro. Já o ano de 1988, o mais pluvioso da série estudada,teve bons índices em setembro e outubro, porém choveu apenas 12,4mm em novembro ( amédia mensal é de 80,4mm ) e então voltou a chover copiosamente em dezembro. Por outrolado, a extensão do período chuvoso também é prejudicial à agricultura, por exemplo, os anosde 1985 e 1989 apresentaram chuvas excessivas em maio, o que também provocou queda nacolheita.

1.2.2.3. InsolaçãoDurante o período de observação ( 1978-1989 ), aferiu-se uma insolação média

de 2.738,3 horas por ano. Constata-se que existe uma típica marcha anual da insolação. Noperíodo de inverno seco ( julho a setembro ) a insolação média mensal atinge a maior média,281,5 horas, com a média mensal máxima em agosto, 287,8 horas. Durante o período chuvoso( novembro a abril ), ocorre uma notável redução na insolação média mensal, que se limita a119,9 horas, com a média mensal em fevereiro de 164,2 horas.

1.2.2.4. VentosA velocidade média do vento ( no período 1978-1989 ) foi de 2,8m/s ( Tabela 1 ).

Page 30: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

30 Série Meio Ambiente Debate, 13

As velocidades médias mensais oscilaram de 2,0m/s a 3,7m/s em fevereiro e setembro,respectivamente. O período que registrou a velocidade média mais elevada foi de junho aoutubro, com 3,4m/s, que coincide com a seca. O período que registrou a velocidade médiainferior foi o de novembro a abril, com 2,2m/s que coincide com as chuvas. Pela escalaBANFORT, o vento é �uma leve brisa� na área de estudo. A direção predominante do ventono período observado foi de sudeste/nordeste de novembro a março e de sudeste/este de abrila outubro. Segundo GTZ (1989:44), �O vento sudeste é proveniente da zona de alta pressãoestacionária do Atlântico Sul, transportando massas de ar seco. No verão o vento sopra dazona equatorial de depressão em direção ao sul, transportando umidade�.

1.2.2.5. EvaporaçãoA evaporação anual absoluta montou a 2.928mm, valores superiores aos aferidos

no Piauí central - 2.055mm ( GTZ, 1989 ) e 2.350mm - ( BGR/SUDENE ). A evaporaçãomensal média apresentou as suas mais baixas taxas no período chuvoso ( primeiro trimestre )com a menor taxa de 110,8mm em março. Os maiores níveis de evaporação ocorreram noperíodo seco, de agosto a outubro ( com o maior nível de 385,9mm em agosto). A evaporaçãodiária média variou de 3,5mm em março a 12,4mm em agosto ( dados fornecidos pelo DNMETde Recife ).

1.2.2.6. Balanço HídricoNa estação seca, São Raimundo Nonato registra umidade relativa de até 35% em

agosto. O balanço hídrico médio anual ( 1978-1989 ) observado na área de estudo foi de866mm ( Tabela 2 ). A evaporação registrada de abril a janeiro permaneceu acima dos valoresregistrados para a precipitação, ou seja, o balanço hídrico é negativo durante dez meses. Osdéficits de água foram superiores a 100mm de junho a outubro, registrando 143mm emsetembro. Somente nos meses de fevereiro e março não houve déficit, apenas reposição deágua do solo. Tabela 2

Balanço Hídrico de S. J. Piauí (Thornthwaite-Mather, 1995)

Mês T EP P P-EP ARM ALT ER DEF EXC

JAN 26,2 135 116 -20 0 0 116 19 0FEV 26 117 125 7 7 7 117 0 0MAR 25,6 120 182 61 69 61 120 0 0ABR 25,9 119 92 -28 52 -17 108 10 0MAI 25,8 119 8 -112 17 -36 43 76 0JUN 26,1 120 7 -114 5 -12 18 101 0JUL 26,2 126 1 -126 1 -4 4 121 0AGO 27,1 142 0 -143 0 -2 1 140 0SET 28,5 150 7 -144 0 0 7 143 0OUT 29,1 163 25 -139 0 0 25 138 0NOV 28,5 155 80 -76 0 0 80 75 0DEZ 26,7 147 110 -38 0 0 110 37 0

C.A.D.:100mm A= 3.831736 I = 152.6364 T - temperatura EP - evapotranspiração potencialP - precipitação ARM - armazenamento ALT - alteração de água no solo ER - evapotranspiração realDEF - déficit EXC - excedente hídrico

Local: São João do Piauí Fonte: DNMET / Recife

Page 31: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 31

O Estado do Piauí, conforme a umidade relativa, é composto por quatro zonas:úmida, semi-úmida, semi-seca e seca, que variam decrescentemente de noroeste para sudeste.No litoral ocorrem taxas superiores a 80%, e no sudeste inferiores a 60% ( SUDENE, in CEPRO1983 ).

Para NIMER ( 1989a:355 ), a classificação climática do Nordeste brasileiro é muitoheterogênea, ocorrendo climas super-úmidos, úmidos, semi-úmidos e semi-áridos, não obstante,o que bem caracteriza o Nordeste, é a presença de climas semi-áridos que cobrem cerca de50% do seu território. A ocorrência de Caatingas no Nordeste ( NIMER, 1989b ) está semprerelacionada à existência de deficiências hídricas durante 7 a 12 meses, independentementeda natureza do solo.

1.3. Síntese ClimáticaO modelo contábil de balanço hídrico desenvolvido por THORNTHWAITE &

MATHER ( 1955 ), baseia-se no comportamento padrão das variáveis: precipitação,temperatura, evapotranspiração potencial de água, armazenamento e disponibilidade de águano solo. Utilizou-se aqui o sistema classificador de THORNTHWAITE ( 1948,1957 ), adaptadopor NIMER ( 1989b ), para definir o tipo do clima da área de estudo, com a seguinte equação,e dados da Tabela 2:

Im=( EXC x 100 ) - ( DEF x 60 ), onde EP

Im -> índice de umidade efetiva

EXC -> excedente hídrico anual

DEF -> deficiência hídrica anual

EP -> evapotranspiração potencial

Assim, quando -20 < Im < -40, o clima é semi-árido ( D ); se o excesso deágua é nulo ( d ); se a evaporação é superior a 1.140mm, o clima é megatérmico ( A� ),conclui-se então, que a classificação do clima é: Clima semi-árido de fórmula DdA�.

Na classificação de THORNTHWAITE adaptada por NIMER ( 1989b ) o clima emSão João do Piauí é semi-árido de fórmula Dd1A�3a, e em São Raimundo Nonato é semi-árido de fórmula Dd1A�3a�.

GALVÃO ( 1967 ) e RADAMBRASIL ( 1973:III/90 ), usando a classificação deGAUSSEN, concluiram que o clima de São Raimundo Nonato é Termoxeroquimênico, paraEMPERAIRE ( 1980 ) o clima é clima tropical quente de fórmula ecológica T5, S5, X3.

GUERRA ( 1955 ), usando a classificação de GAUSSEM, conclui que o clima deSão Raimundo Nonato é clima semi-árido quente de fórmula BShw, próprio de Caatinga.

1.4. Drenagem e HidrologiaA rede hidrográfica do Nordeste Oriental é �um magro sistema de cursos d�água

de áreas semi-áridas, intermitentes e irregulares, dotados de fraquíssimo poderio energético�.Esta definição de AB�SABER ( 1957 ), se compatibiliza com as características hidrográficas daárea da presente pesquisa. A rede hidrográfica do Estado do Piauí é constituída por bacias demédio e pequeno porte da margem direita da bacia do Rio Parnaíba. Os afluentes da margem

Page 32: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

32 Série Meio Ambiente Debate, 13

esquerda do Parnaíba estão no Maranhão e são perenes. Os afluentes da margem direita,estão no Piauí e são intermitentes; os principais rios são: Uruçui Preto, Gurguéia, Canindé-Piauí, Poti, Gongá e Itaueira.

A área de estudo está localizada na bacia do rio Piauí que serpenteia de oeste paranordeste e tem por afluentes os seguintes riachos: Umbuzeiro, Canário, Veredão, São Lourenço,Cavaleiro, Santa Tereza, Tanque Novo, Bom Jesus, Angical, Lages, Mulungu, Boqueirão, PedraBranca. A região de São Raimundo Nonato e São João do Piauí está situada na confluênciada Bacia Sedimentar do Maranhão com a Depressão Periférica do Médio São Francisco.Segundo PELLERIN ( 1984 ), a área se estende por três conjuntos geomorfológicos cujasredes hidrográficas apresentam fisionomias, diferenciadas a saber:

1. Os planaltos areníticos ( chapadas ) do reverso da Cuesta têm a rede hidrográficalarga com os vales paralelos orientados no sentido norte-sul ( riachos da Serra Branca, Boqueirãoe Bom Jesus ).

2. A zona cuesta ( Serra Nova, da Capivara, Talhada ), situada no reverso areníticoduro, apresenta uma rede de canions dendriformes; estes estreitos corredores, que terminamem bonqueirões, são rapidamente inundados durante as chuvas intensas.

3. A região do pedimento, situada ao sul e a leste da Serra da Capivara se constituinuma vasta planície, cujos vales suaves que compõem a rede hidrográfica, convergem para acalha do rio Piauí.

A região do pedimento é a melhor servida de águas superficiais e apresenta muitaslagoas endorréicas, de forma circular e rasa, que tendem a secar na estação seca. Os povoados,como a Vargem Grande e outros, assim como os núcleos rurais geralmente possuem açudespara abastecimento, alguns deles construídos pelo DNOCS. No município de São RaimundoNonato está sendo construída a barragem da Onça no leito do rio Piauí para geração deenergia. Poços domésticos e cacimbas são construídos para se enfrentar a seca e somente ospoços artesianos produzem água de boa qualidade. Água leve também é encontrada emgalerias dos serrotes calcários. As depressões localizadas nas rochas do sopé dos paredões dacuesta - os caldeirões - acumulam água durante as chuvas. Na serra, na base da falésia,existem fontes que minam água durante o ano todo. A região do pedimento, por ser maisgenerosa em água, é a mais habitada e cultivada ( Pellerin, 1984 ).

1.5. Aspectos Geomorfológicos

1.5.1. LitologiaA área de estudo está assentada no contato de duas grandes unidades morfo-

estruturais: o escudo metamórfico sedimentar pré-cambriano e o planalto sedimentar paleozóicodo Piauí-Maranhão ( vide Mapa de Geomorfologia, em Apêndice ).

Localizado ao sul da área de estudo, o escudo está modelado em terrenos cristalinos.Esta depressão de características semi-áridas e com altitude média de 400/300m é denominadapelo RADAMBRASIL ( 1973 ) de Depressão Periférica do Médio São Francisco. Sua superfícieé um pedimento regular, com fraca declividade. Próximo de Várzea Grande encontram-semaciços calcários que são explorados para a produção de cal.

Localizado ao norte da área de estudo, o Planalto da Bacia Sedimentar Piauí-Maranhão ( RADAMBRASIL, 1973 ) se constitui numa superfície monótona, com estruturapredominantemente arenítica, com altitude média de 500/600m. Suas bordas formam escarpascuestiformes que representam o relevo mais importante da região .

As principais unidades morfo-estruturais da área de estudo são:

Page 33: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 33

1. A Depressão Periférica do Médio São Francisco, situada no escudo cristalinopré-cambriano, ao sul e a leste da área de estudo, contém rochas dos Grupos Caraíba e Salgueiro(RADAMBRASIL, 1973 ); o escudo foi datado de 1,8 bilhões de anos ( proterozóico inferior)até 3,0 bilhões de anos ( arqueozóico ) por INDA e BARBOZA, 1978 in PELLERIN ( 1984 ).

2. O Planalto da Bacia Sedimentar Piauí-Maranhão está localizado ao norte daáreas de estudo, com estrutura arenítica, formando cuestas e morros testemunhos na áreadissecada; possui formações que vão desde o silúrio-devoniano ( Paleozóico ) até o triássico(Mesozóico ); seguindo a ordem do perfil esquemático do RADAMBRASIL ( 1973 ), verificam-se as seguintes formações rochosas, descritas a seguir.

1.5.2. RelevoA área de estudo está localizada entre as bacias dos rios São Francisco e Parnaíba,

na região do alto rio Piauí. Segundo PELLERIN ( 1984 ), a região de São Raimundo Nonatoe Parque Nacional da Serra da Capivara se estende sobre três conjuntos geomorfológicos compatamares de altitudes diferentes, a saber:

1. Na região noroeste da área de estudo os planaltos areníticos no reverso dacuesta, as chapadas, ligeiramente inclinadas de norte para oeste, variam de 500 a 600m dealtitude; as chapadas são cortadas por vales encaixados com orientação norte-sul, bordejadospor relevo ruiniforme, são os vales da Serra Branca, dos riachos do Boqueirão, Nova Olinda eBom Jesus. Na região norte, o relevo evolui de chapadas para faixas tabulares, em seguidareduzindo-se a morros residuais isolados;

2. Pouco acima do centro da área de estudo, está a zona da cuesta, composta pelasserras da Capivara, Nova e Talhada, com orientação sudoeste-nordeste. Estas serras sãoextensões da serra Bom Jesus da Gurguéia; as larguras variam de 3 a 7km, e a amplitude entreo planalto e o pedimento pode chegar até 250m. Entretanto, a cuesta é dupla, existe umtabuleiro intermediário na região do Zabelê; o entalhe em cañons é dendriforme e de paredesruiniformes;

3. Ao sul e leste da área de estudo está o pedimento sobre o escudo cristalino pré-cambriano; esta planície com largura de 60 a 80km se estende de oeste para leste com altitudesque variam de 300 a 400m; o pedimento declina suavemente das bordas para o centro nadireção da calha do rio Piauí; o norte, mais aplainado ( série de micaxistos ), tem poucosrelevos, inselbergs de granito e maciços calcários; ao sul o relevo é mais significativo ( sériegnáissica ) e apresenta numerosos inselbergs.

Os solos da área de estudo têm a metade da superfície composta por latossolos. Ossolos podzólicos cobrem uma superfície de 20%, os solos litólicos 20%, e os solos bruno 7%.Os solos são predominantemente areno-argilosos, ácidos, pobres em matéria orgânica e debaixa fertilidade. Os solos serão discutidos detalhadamente no Cap. IV, item 1.3.1.

2 - ASPECTOS BIÓTICOS

2.1. A Vegetação no NordesteA Região Nordeste é ocupada por variadas paisagens fitogeográficas, relacionadas

com a pluralidade climática e o quadro geomorfológico. O termo caatinga, de origem lingüística

Page 34: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

34 Série Meio Ambiente Debate, 13

Tupi ( caa-mata; tinga-branca, clara, aberta ) designa o bioma mais heterogêneo do Brasil,com um grande número de tipos e associações vegetais, fisionômica e floristicamente diferentes( EGLER, 1951 ).

O Zoneamento Ecológico da Região Nordeste mostra que a caatinga correspondeà Região Fitoecológica da Estepe ( Caatinga ) e que recobre a área de 570.000km2 do semi-árido ( IBGE - 1990 ). A caatinga, adaptada às condições ecológicas regionais, é resultado deum processo natural seletivo, constituindo-se de árvores, e arbustos espinhentos e suculentosmuito ramificados; o estrato herbáceo se desenvolve com muito vigor após as chuvas. A maioriadas plantas apresentam uma ou mais das seguintes características adaptativas: microfilia,cerificação, estômatos depressivos, afilia, geofitismo, crassifolia, xilopolismo e suculência caulinar.

Existe uma série de trabalhos, enfocando aspectos botânicos da caatinga, como asua flora, dispersão, fisiologia e características, entre os quais, podem se destacar MARTIUS(1840 ), LUETZELBURGER ( 1922 ), VASCONCELOS SOBRINHO ( 1941 ) e ANDRADELIMA ( 1989 ).

2.1.1 - A Vegetação da Área de EstudoA caatinga da região de São Raimundo Nonato e do Parque Nacional da Serra da

Capivara foi contemplada com a pesquisa da botânica francesa LAURE EMPERAIRE, queesteve na área durante vários anos, estudando as formações vegetais correspondentes a cadaunidade geomorfológica, de acordo com os critérios de solos, estrutura da vegetação,composição florística e degradada. A caracterização da vegetação da área de estudo estáfundamentada nos trabalhos de EMPERAIRE (1980, 1987)5, que identificou quatorze formaçõesvegetais, utilizando para a análise da vegetação, a definição de sete estratos, conforme a alturae a flora. Entretanto, estes estudo não contemplam a parte sudeste da área, do presente estudo,ao sul do rio Piauí.

2.1.2 - A Vegetação e a Flora do Planalto SedimentarAs formações identificadas são: a Caatinga Arbustiva Densa do Reverso da Cuesta;

as Formações Arbóreas da Frente da Cuesta e das Ravinas: a Caatinga Arbustiva Aberta dasBordas da Chapada ; as Caatingas Arbustivas Arbóreas dos Vales; e a Caatinga do TabuleiroEstrutural.

2.1.3. A Vegetação e a Flora da Depressão PeriféricaAs formações identificadas são: as Caatingas das Áreas de Micaxisto; as Caatingas

dos Batólitos Graníticos; as Caatingas Degradadas dos Gnaisses e Migmatitos e a CaatingaArbórea Aberta dos Maciços Calcários.

2.2. A Fauna da CaatingaA Província da Caatinga é uma área que está incluída no Domínio Chaquenho.

Segundo os critérios biogeográficos usados por CABRERA ( 1973 ), a província fitogeográfica,coincide com a zoogeográfica. A �larga faixa de campos e savanas, com os bosques abertosdas caatingas e cerrados e do Chaco� ( MELLO-LEITÃO, 1943:446 ), corresponde a provínciazoogeográfica Cariri-Bororo. A província Cariri compreende as zonas das Caatingas. Aoestudarem os répteis, em diversos trabalhos, VANZOLINI ( 1968, 1974, 1976, 1981 ),VANZOLINI et al ( 1980 ), VANZOLINI & WILLIANS ( 1981 ), bem como os mamíferos,(MARES, 1981, 1985 ) constataram que a fauna da Caatinga é constituída por espécies comunsàs do cerrado, porém com menor biodiversidade, quase sem endemismos e sem adaptações

5 Laure Emperaire produziu duas teses acadêmicas sobre a área de estudo, com os seguintes temas: La caatinga du sud-est du Piauí ( Bresil):Etude Ethnobotanique ( 1980 ); e Vegetation e gestion des ressources naturelles dans la caatinga du sud-est du Piaui ( Bresil ), em 1987.

Page 35: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 35

fisiológicas para ambientes xéricos. É aceita a hipótese que as faunas do Cerrado e da Caatingasejam originárias de ambientes mésicos, daí a importância das matas de galeria que interdigitamenormes áreas, permitirem a migração e a subsistência das espécies que aí encontram ambientemais favorável. Os chamados enclaves ou refúgios mésicos podem ser as matas de galeria,formações de relevo ou boqueirões, que servem de ilhas durante a seca, facilitando a expansãodas populações nas estações favoráveis ( MARES et al., 1981, 1985; REDFORD & FONSECA,1986 ).

A fauna do sudeste do Piauí e da área de estudo foi pouco estudada, havendoalgumas publicações disponíveis: CHAME, ARAÚJO & FERREIRA ( 1985 ), FUMDHAM(1987), CHAME ( 1988 ), IBAMA ( 1991 ), CHAME ( 1992 ). Entretanto, a fauna da região eespecialmente a do Parque Nacional da Serra da Capivara, é um importante campo de pesquisapor ser uma das mais representativas amostras da Caatinga, talvez a mais preservada e deveráser profundamente estudada. Na área do Parque Nacional existem diversas espécies da fauna,ameaçadas de extinção. Veja lista de espécies em anexo.

2.3. A Fauna FóssilO paleontólogo francês CLAUDE GUÉRIN ( 1987 ) estudou a fauna de vertebrados

do Pleistoceno encontrados próximos aos afloramentos calcários e da lagoa São Víctor, noentorno do Parque Nacional. Foram identificadas, aproximadamente, 30 espécies devertebrados, dos quais, pelo menos uma dúzia, fazem parte da fauna atual. Do ponto de vistapaleoecológico, a fauna do pleistoceno parece caracterizar uma paisagem de savana,entrecortada de zonas florestais sob um clima bem mais úmido que o atual.

3. ASPECTOS HUMANOS

3.1. As Ocupações Humanas Pré-históricasA região de São Raimundo Nonato e do Parque Nacional da Serra da Capivara é

profícua em sítios arqueológicos. Já foram catalogados mais de trezentos e sessenta sítios quecontêm inscrições rupestres, material lítico e cerâmicas. A arqueóloga Niede Guidon, juntamentecom os pesquisadores do Museu do Homem Americano, trabalha na área desde 1973, tendorealizado importantes descobertas para a compreensão da trajetória do homem ancestralamericano. Para GUIDON ( 1990 ), estas descobertas colocam em cheque a hipótese dacolonização da América, através do estreito de Behring, que limita a presença humana háapenas 12.000 anos A.P. ( antes do presente ). A arte figurativa, que retrata os relatos dascrenças, hábitos, figuras animais, e geométricas, surgiu somente há 12 milênios ( GUIDON,1990; GUIDON & DELÍBRIAS, 1986 ).

Os caçadores e coletores do Pleistoceno deixaram seus registros na Toca doBoqueirão da Pedra Furada, que foram datados por PARENTI et al. ( 1990 ), com 14C, em até47 mil anos A.P. Os homens do pleistoceno dependiam dos recursos naturais da região, comoa água, as plantas e os animais, cujos vestígios são encontrados próximos às fogueiras pré-históricas. Para SCHMITZ ( 1990 ), o Nordeste funcionou como um centro irradiador depopulações e culturas para outras áreas.

No transcurso do Holoceno ( 12.000 a 3.000 anos A.P. ), influenciaram fatoresambientais que propiciaram a expansão das populações dos caçadores-coletores da regiãoNordeste e Centro-Oeste do Brasil. O período que vai de 12.000 a 6.000 anos A.P., caracterizou-se pela intensificação da produção de material lítico de boa qualidade e da arte rupestre naregião de São Raimundo Nonato. O seu apogeu foi atingido há aproximadamente 6.000 anosA.P. A bela arte produzida por estes povos, denomina-se tradição Nordeste. A partir daí, pareceter ocorrido uma aridificação do clima, migrações e decadência da arte rupestre, com adominância da tradição Agreste que desaparece aproximadamente há 3.000 anos A.P.

Page 36: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

36 Série Meio Ambiente Debate, 13

(SCHMITZ 1990; GUIDON, 1990; IBAMA, 1991 ).Aproximadamente há 3.000 anos A.P., surgiram no sudeste do Piauí, populações

que praticavam a agricultura, fabricavam cerâmicas e teciam. Apesar da abundância dos restosde cerâmicas e vestígios sobre este período, existem raros estudos como o de MARANCA(1976 ). As aldeias eram circulares e densamente povoadas. Plantavam feijão, milho, amendoime cabaça. Produziam artefatos de pedra mais sofisticados como machados polidos e diversosutensílios de cerâmica de boa qualidade. Havia rituais para os mortos que eram envolvidosem um tecido de caroá e depositados em urnas de cerâmicas ( MONZON, 1980 ).

3.2. As Tribos IndígenasA história étnica dos índios do Piauí é semelhante a história das populações indígenas

do Brasil e da América: a partir do descobrimento, foram dizimados pelos colonizadoreseuropeus.

Existem poucos estudos sobre os povos indígenas do Piauí, porém, o antropólogoLuiz MOTT ( 1985 ) realizou uma investigação histórica, baseada em provas documentais.6

Ao analisar a literatura, observa-se que o grupo da língua Jê é composto por diversas triboscomo os Pimenteiras, Acroás, Macoazes, Cherens, Gueguêz, Kamakam e Jeicó. O grupo delíngua Cariri ainda sobrevive no nordeste e teve tribos de Cariri e Tremembé. Cabe ressaltarque os índios Pimenteiras aparecem freqüentemente nos relatos, desde o século XVII, eocupavam grande extensão, porém, segundo Mott, foram dizimados entre 1776 e 1784.

No começo da colonização do Piauí e da região de São Raimundo Nonato existiamos índios das seguintes tribos indígenas: os Pimenteiras, que dominavam toda a região do altoPiauí e alto Gurguéia; os Acroás, Gueguêz e os Kamakan, que habitavam provavelmente atéSão Raimundo Nonato; Os Cariri, que habitam, ainda hoje, a Bahia e Pernambuco e osTremembé que habitavam do rio Gurupi até o rio Apodi. Os estudos etnográficos, poucoprecisos, poderão ser elucidados com as investigações no campo da arqueologia ( MISSÃOFRANCO-BRASILEIRA, 1978 ).

3.3. A Colonização EuropéiaUm dos primeiros bandeirantes a desbravar o Piauí, foi Domingos Jorge Velho em

1662. Domingos Afonso Sertão, o �mafrense�, chegou ao Piauí em 1794, tendo partido dovale do São Francisco, onde possuía fazendas, com o fito de expandir seus domínios. Estaocupação, é claro, só foi possível com a eliminação das tribos indígenas. O comandante JoséDias foi ordenado para conquistar a região de São Raimundo Nonato, o que resultou nadizimação das tribos ( MOTT, 1985 ).

A conquista do Piauí se deu em conseqüência da expansão da economia açucareira.As terras do Piauí não eram próprias ao plantio, porém possibilitaram o desenvolvimentopastoril, transformando-se na principal área pastoril do Nordeste, sendo considerada por séculoscomo o �curral e açougue� das áreas canavieiras. Em 1697, o Piauí já tinha 129 fazendas degado; em 1730, 400 fazendas; em 1772, 578 fazendas e em 1818, 795 fazendas. A pecuáriatornou-se o mais importante fator econômico do Piauí, porém, a partir de 1760, passou asofrer a concorrência de Minas Gerais. As terras para o uso agrícola começaram a ser utilizadasnos espaços desocupados entre as fazendas. A agricultura praticada era exclusivamente parafins de subsistência ( MOTT, 1985 ).

A evolução político-administrativa do município de São Raimundo Nonato, temcomo ponto de partida a doação da fazenda Conceição, propriedade do �Mafrense�, aosjesuítas, que construíram uma casa e deram o nome de Sobrado da Conceição. O lugar

6 Luiz R. B. MOTT. 1985. Piauí Colonial; população, economia e sociedade. Governo do Estado do Piauí, Teresina, 144p. Nos referimos aoartigo que tem por título: Etno-história dos índios do Piauí Colonial..

Page 37: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 37

denominado Confusões, foi elevado à condiçãode Distrito Eclesiástico de São RaimundoNonato por Decreto Imperial em 1832. O município foi criado em 1850, a comarca em 1859,e adquiriu o Foro de Cidade em 1912. Por ser um municípiomuito extenso, São RaimundoNonato sofreu vários desmembramentos ( IBGE, 1984 ).

IV - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo consideram-se as interações ecológico-humanas na área de estudo,de tal forma que em cada seção são inicialmente apresentados os resultados obtidos nostrabalhos de campo e de laboratório e, em seguida, as discussões.

1. Antropismo e Agropecuária

1.1. Antropismo, Espaço e Tempo

Antropismo, no "sensu lato", significa todas as alterações provocadas ao meioambiente resultantes da ação do homem. Nesta seção, antropismo significa as alteraçõesprovocadas pelo homem na vegetação, e que sejam observáveis e mensuráveis, a partir deimagens TM ( Tematic Mapper ) do satélite LANDSAT, na escala 1:250.000. Os resultadoscartográficos da interpretação da série histórica das imagens foram representados no Mapa deAntropismo7. Foi estudado o período de 1973 a 1990, considerando-se as avaições realizadasem 1973, 1983, 1989 e 1990.

Este estudo permite avaliar espacial e temporalmente a evolução quantitativa doantropismo e dos remanescentes da cobertura vegetal da área do município de São RaimundoNonato e do Parque Nacional da Serra da Capivara8. Foi produzido um Mapa de Antropismo( em apêndice ), a partir do qual foram quantificados os dados em valores absolutos de superfíciee percentuais, encontrados na Tabela 3.

Do início da ocupação humana até o ano de 1973, observou-se a alteração de29.925ha da cobertura vegetal, que corresponde a 4,94% da área de estudo. Entre 1973 e1983 observou-se um antropismo de 151.525ha, que é mais de 5 vezes maior que o até entãoocorrido. Em termos percentuais correspondeu a 29,99% da área ( Tabela 3 ). Entre 1983 e1989 foi quantificada a alteração de 68.549ha, que atingiu 41,32% da área (Tabela 3 ). De1989 a 1990 o desmatamento medido foi de 17.250ha. O antropismo total medido até 1990foi de 267.249ha, qie correspondem a 44,17% da área de estudo (Tabela 3).

No período de 1973 a 1983 a evolução do antropismo medido teve uma média de15.152ha/ano. Entre 1983 e 1989, o antropismo médio foi de 11.424ha/ano. E no período deum ano, entre 1989 e 1990, o antropismo medido foi de 17.250ha ( Tabela 3 ).

Ao se observar o Mapa de Antropismo ( em anexo ), onde estão lançados osresultados da série histórica de imagens constata-se que a evolução espacial do antropismotem os seus primórdios ( até 1973 ) no entorno da cidade de São Raimundo Nonato e emduas áreas nos extremos leste e oeste do município. O período de 1973 a 1983 acumulou amaior superfície antropizada e majoritariamente situada a sudoeste e sul do município. Foramtambém desmatadas áreas consideráveis a nordeste do município, nas proximidades do limitesul do PARNA. O antropismo verificado de 1983 a 1989 apresenta um caráter difuso por toda

7 BRASIL/IBGE (1990a), em Atualização do Antropismo da Região Nordeste, conceitua antropismo como devastação na vegetação provocada

pela interferência do homem.8 Diversos autores usam vários sinônimos para denominar os remanescentes da cobertura vegetal, tais como, cobertura original, coberturaprimária, cobertura primitiva, floresta nativa, etc.

Page 38: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

38 Série Meio Ambiente Debate, 13

área de estudo, tendo ocorrido principalmente ao sudeste, noroeste e demais regiões domunicípio.

Por outro lado, ao se considerar as áreas remanescentes de cobertura vegetal até1990, constata-se que estão principalmente localizadas a nordeste e centro-leste esecundariamente, a noroeste e nordeste da área de estudo ( Mapa de antropismo ). Ressalta-se aqui que os 130.000ha que compõem o PARNA estão destinados à preservação permanente,havendo uma pequena parcela antropizada e que será discutida adiante.

A literatura consultada sobre antropismo evidencia dois fatos: 1. a ausência dediscussões conceituais, teóricas, e metodológicas a respeito do antropismo; 2. a maioria dostrabalhos apresenta um caráter quase que exclusivo de quantificação espacial das áreasantropizadas.

Antrópico, �diz-se das vegetações resultantes da ação do homem sobre a vegetaçãonatural� ( Dicionário de Aurélio Buarque, 1986:134 ). Para Dias ( 1990:583 ), paisagensantrópicas são �pastagens plantadas, culturas temporárias (especialmente soja, milho e arroz),culturas perenes ( eucalipto, pinheiros, manga e café ), represamento, áreas urbanas e áreasdegradadas abandonadas (desmatamentos, garimpos, áreas decapeadas, postos e roçasabandonadas, voçorocas, lixo. A maioria da bibliografia consultada, revela trabalhos de cunhoquantitativo de áreas antropizadas, sem a desejada clarificação a respeito da evolução histórica,causas e conseqüências do antropismo. O Projeto Radam ( 1973 ) no seu Levantamento deRecursos Naturais, volume 1, no capítulo referente à vegetação, fez um estudo fitogeográfico,onde o antropismo também é mapeado, porém não há análise evolutiva do processo.

O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal ( IBDF ) criou o Programa deMonitoramento da Cobertura Florestal do Brasil ( PMCB ) e celebrou um convênio com oInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( INPE ), em 1977, que se dividiu em três subprojetos-Desmatamento, Reflorestamento e Parques Nacionais. Foram elaborados diversos trabalhossobre avaliação das alterações da cobertura vegetal, todos na linha quantitativista, tais como,Relatório do Projeto Desmatamento ( Amazônia Brasileira - IBDF, 1980 ); Levantamento dasAlterações Antrópicas na Cobertura Florestal dos Estados do Amazonas, Acre, Mato Grosso,Territórios de Roraima e Rondônia - Análise da Potencialidade Florestal ( IBDF, 1981 );Alterações da Cobertura Vegetal Natural de Áreas Parciais dos Estados do Pará e Maranhão(IBDF 1982).9

Tabela 3Incremento do Antropismo na Área de Estudo

Antropismo Incremento (%) Antropismo Antropismo Antropismoano antropismo incremento acumulado total da anual

noPeríodo (ha) (ha) área (%) (ha)

1973(1) 29.925 5 29.295 5 -1983(2) 151.525 25 181.450 30 15.1521989(3) 68.549 11 249.999 41 11.4241990 17.250 3 267.249 44 17.250

Total 267.249 - 267.249 44 14.608

Superfície total da área de estudo 605.000ha

(1) BRASIL/IBGE (1973) 1:250.000 (2) BRASIL/IBGE (1985) 1:250.000 (3) BRASIL/IBGE (1990) 1:250.000

9Outros trabalhos nesta linha de antropismo quantitativista, são, IBDF ( 1985a, 1985b, 1985c, 1988a, 1988b ), IBAMA ( 1990a, 1990b,1990c, 1991b, 1991c, 1991d, 1992 ), IBGE ( 1983, 1989, 1990 ), LORENSI ( 1987 ), FUNDAÇÃO S.O.S. MATA ATLÂNTICA ( 1992 ).

Page 39: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 39

Poucos estudos realizaram a avaliação quantitativa acompanhada da análiseevolutiva das causas e conseqüências do antropismo, dentre estes, aqui revelamos alguns, taiscomo, IBDF ( 1984 ), SEMA ( 1986 ), EMPERAIRE ( 1987 ), GORGÔNIO ( 1990 ), KENGEN( 1990 ), NAHUZ ( 1990 ), DIAS ( 1990 ) e CIMA ( 1991 ).

1.2. Antropismo na Área de Estudo e em outras Regiões do BrasilO processo histórico de desmatamento do Brasil iniciou-se em 1500, porém, o

maior incremento ocorreu mesmo nas últimas três décadas. Nesta seção, serão apresentadosdados recentes do antropismo no Brasil, para se comparar com os da área de estudo.

O Brasil, com sua superfície de 8.511.996 km², apresentava em 1990 uma áreaantropizada de 2.782.300 km², o que compreendia 32,7% de seu território. A Região Sul tevea maior superfície relativa da cobertura vegetal alterada, o equivalente a 83,5%, seguida daRegião Sudeste com 79,5%, em terceiro lugar a Região Nordeste com 52,7%, em seguida aRegião Centro-Oeste com 34,0% e a Região Norte com a menor alteração, 5,2% ( Tabela 4 ).

Apesar da Região Nordeste estar em terceiro lugar em percentual de coberturavegetal alterada, alguns de seus estados apresentam altas taxas de alteração, como o Ceará eAlagoas, comparáveis às taxas das Regiões Sul e Sudeste. Neste contexto, o Estado do Piauíapresenta uma taxa de 43,4% de alteração, que é uma das menores do Nordeste, 9,3% abaixoda média. Todavia, suas marcas estão aquém da Região Norte, onde alguns estados como oAmapá, Amazonas e Roraima ostentam 0,9%, 1,4% e 1,7% respectivamente ( Tabela 4 ).

O presente estudo revelou que a alteração da cobertura vegetal da área estudadafoi de 44,17% em 1990. Este percentual é semelhante ao do estado do Piauí, 43,4%; 8,5%abaixo da taxa da Região Nordeste ( 52,7% ), sem dúvida a presença do PARNA contribuiubastante para isto. ( Tabelas 3 e 4 ).

Ao avaliar o antropismo nos ecossistemas brasileiros, depara-se com os seguintesdados: a Amazônia brasileira apresentou uma taxa de desmatamento de 9,7% em 1990 (CIMA,1991 ). Da Mata Atlântica, em 1990, restavam apenas cerca de 12% da cobertura original.Para o bioma do Cerrado, foi estimado para 1985 o remanescente de apenas cerca de 7% dapaisagem natural preservada ( DIAS, 1990 ).

Se, por hipótese, para a área em estudo adotar-se como referência a média anualantropizada no do período 1986-1990, obter-se-á o valor de 12.589 ha/ano. Considerando-se que, dos 605.000ha da área de estudo, já foram antropizados até 1990, 267.249ha, e dosquais, subtrai-se 2.275ha, internos ao PARNA, obtém-se 264.974ha. Supunha-se que a áreatotal do PARNA seja preservada, então, também se subtrai 129.140ha. Resta portanto, umaárea remanescente de cobertura vegetal de 210.886 ha, passíveis de antropismo. 10

Se a área remanescente de cobertura vegetal é de 210.886ha e adotando-se oincremento anual médio de antropismo em 12.589ha, estima-se que dentro deaproximadamente 16 anos, ao final do ano 2006, toda a cobertura vegetal estará antropizada.Esta projeção é válida, considerando-se a presente situação, contudo, as projeções demográficasapontam para o crescimento populacional.

1.3. Agropecuária e AntropismoA conquista do Piauí e o início da ocupação de São Raimundo Nonato durante o

período colonial foram discutidas na seção �3.3. A Colonização Européia�. Nesta seção,avançar-se-á na análise da evolução das atividades agropecuárias e no conseqüente antropismo.

Primeiramente, introduzir-se-ão dados pedológicos da área de estudo, baseadosprincipalmente no levantamento Exploratório-Reconhecimento de Solos do Estado do Piauí,EMBRAPA ( Vol, I e II, 1986 ), fonte do Mapa de Solos e da quantificação das dezessete

10A área de 2.275ha antropizadas dentro dos limites do PARNA, supõe-se aqui, que estará regenerada em 30 anos.

Page 40: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

40 Série Meio Ambiente Debate, 13

classes de solos ( Tabela 5 ). O estudo das condições climatológicas, geomorfológicas pedológicase bióticas foram pré-requisitos para a compreensão da evolução dos processos de ocupação eantropismo.

1.3.1. O Solo e Seu UsoEMBRAPA ( 1986 ), mapeou 17 classes de solos no perímetro da área de estudo;

RADAMBRASIL ( 1973 ), também estudou a área e adotou uma sistemática mais simples;PELLERIN ( 1984 ), realizou um estudo geomorfológico, onde também caracterizou ascondições dos solos. Estes estudos são coincidentes na avaliação de que os solos são, emgeral, predominantemente areno-argilosos, com pH ácido, pobres em matéria orgânica e debaixa fertilidade para o desenvolvimento da agricultura. De modo genérico, observa-se queos solos do planalto sedimentar são mais ácidos, com baixa capacidade de retenção e imprópriospara a agricultura. Os solos do pedimento são mais argilosos, menos ácidos, têm umacapacidade de retenção maior e são mais ocupados com agricultura - RADAMBRASIL (1973),PELLERIN ( 1984 ), EMBRAPA ( 1986 ).

Os Latossolos se estendem por 50% da superfície da área de estudo e sãopredominantemente amarelo e vermelho-amarelo ( vide Tabela 5 ).

Os Latossolos Amarelos têm o horizonte B latossólico, de coloração amarelada;profundos, de bem a acentuadamente drenados, de textura variando de média a muito argilosano horizonte B; predominantemente álicos e ácidos. Os Latossolos Amarelos de classes LA 21e LA 22 predominam no planalto sedimentar; segundo RADAM ( 1973:III / 54 ), os solos destaregião são inaptos para o uso agrícola devido à baixa fertilidade e deficiência hídrica, masapropriados para pastagem, na realidade, estas áreas são desabitadas. As classe de solos LA33 e LA 37 ocupam uma boa parte do pedimento, em relevo suave ondulado, são deficientesem água, possuem uma maior ocupação humana, porém são restritos para culturas de cicloscurto e longo.

Os solos Podzólicos ocupam 23% da superfície da área de estudo, sendopredominantemente de cor vermelho-amarelo ( Tabela 5 ). Os solos Podzólicos vermelho-amarelo possuem o horizonte B textural, textura média, argila de atividade baixa. Forammapeados solos de classe PV 18, PE 18, PE 23, PE 24, PE 26, sobre terrenos suavementeondulados e ondulados, na bacia do rio Piauí e suas bacias secundárias dos riachos SãoLourenço, Veredão, Cavaleiro, Santa Tereza, Tanque Novo, Umbuzeiro; a vegetação primáriaé a caatinga, apresentando fertilidade média e deficiência em água. Estas áreas são bemocupadas por populações rurais que praticam culturas de ciclo curto e longo, predominando oplantio de milho, feijão e a prática do pastoreio.

Os solos Litólicos são pouco desenvolvidos, rasos e muito rasos, com horizonte Aassente sobre a rocha ou seus derivados, apresentam quase sempre pedregosidade erochosidade superficiais ( EMBRAPA, 1986 ). A textura é média com cascalho ou arenosa.Ocupam 20% da área de estudo ( Tabela 5 ).

Os solos Litólicos, na verdade, aparecem aqui, associados a solos PodzólicosVermelho-Amarelos, Latossolos Amarelos e Bruno Não-Cálcico. Os solos Litólicos de classeR18 e R20 ocorrem no planalto sedimentar, especialmente, numa longa faixa sobre a Serra daCapivara; são álicos, montanhosos, fortemente ondulados e ondulados; são susceptíveis aerosão, com baixa fertilidade e deficiência hídrica. Os solos de classe R10, R 26 e R27, ocorremsobre o cristalino, na bacia do rio Piauí em terrenos suavemente ondulados a ondulados; sãoácidos, arenosos, rochosos e pedregosos, com baixa fertilidade.

Os solos Bruno Não-Cálcico ( NC 4 ) - vide Mapa de Solos - têm horizonte Btextural com argila de atividade alta, horizonte A moderado ou fraco, geralmente poucoprofundos; são solos neutros e não álicos. A textura é média/argilosa; ocupam terrenossuavemente ondulados e ondulados no entorno de São Raimundo Nonato ( 7% da área de

Page 41: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 41

estudo - Tabela 5 ); são de alta fertilidade natural, próprios para culturas de algodão, milho,palma forrageira, pastagens e pecuária extensiva de bovinos, caprinos e ovinos ( EMBRAPA1986 ). A sobreposição dos Mapas de geomorfologia, Solos e Antropismo, mostra relaçõesque existem entre as condições geormorfológicas e a fertilidade dos solos, desses com avegetação e a ocupação humana.

1.3.2. Evolução e Impacto da AgropecuáriaOeiras sempre foi o distrito mais importante na pecuária estadual e São Raimundo

Nonato também ocupou posição privilegiada no período colonial. Todavia, na segunda metadedo século XVIII até início do século XIX, a agricultura de subsistência ampliou o seu espaçocom a retração da pecuária, são plantados mandioca, feijão e milho.

Nesta análise evolutiva das ações da colonização, é digno de registro a exploraçãode um recurso natural para fins industriais, o látex, extraído da maniçoba (diversas espécies deManihot), no final do século XIX e início do século XX. Em 1910, a exploração da maniçobarepresentou 86% das receitas de São Raimundo Nonato, o que provocou imigração aomunicípio, que triplicou a população entre 1890 e 1920 ( EMPERAIRE, 1987 ).

Tabela 5Classes, Grupos de Solos e Superfícies (ha)( * )

Classes Grupo (1) Código Superfície (%)

Latossolo 302.700 50Latossolo Amarelo LA21 140.300

LA22 10.725LA33 87.725LA37 55.800LV2 8.150

Podzólico 139.700 23P. Vermelho Concrecionario PV18 11.125P.Vermelo Am. Eutrófico PV18 41.475

PE23 14.525PE24 20.475PE25 45.525PE26 6.575

Bruno B. Não-calcário NC4 40.675 7

Litólicos 121.925 20R10 1.350R18 40.625R20 44.050R26 1.250R27 34.650

Total 605.000 100

( * ) Esta tabela e as que doravante não apresentarem a fonte no seu rodapé, compôem-se de dados gerado no presente estudo.

Page 42: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

42 Série Meio Ambiente Debate, 13

Alguns resultados estatísticos do IBGE na década de 40 mostram a predominânciada pecuária, com um rebanho total de bovinos, suínos, ovinos e caprinos de 135.729 cabeças,sendo 61.381 bovinos e 51.533 caprinos, mais o rebanho de 22.815 de outras espécies. Aárea cultivada pela agricultura tradicional foi de 11.779 ha ( IBGE, 1945 ).

Os primeiros estudos sobre antropismo, baseados em fotos aéreas de 1959(ARAÚJO, 1985; EMPERAIRE, 1987 ), mostravam a região das chapadas desabitada. Nadepressão periférica as áreas cultivadas se estendem pelos vales do Piauí e seus afluentes,enquanto nas proximidades de São Raimundo Nonato e região de Bonfim, em parcelas isoladasou agrupadas.

Segundo o Censo Agropecuário de 1970, agricultura ocupou 27.370ha domunicípio, produzindo principalmente mandioca, feijão e algodão, cujas produções estãoindicadas na Tabela 6. A pecuária apresentou os efetivos dos rebanhos com 42.972 bovinos,88.519 caprinos e 48.277 suínos ( Tabela 7 ). Foram extraídos também, 111.000m3 de lenhae produzidas 115.000 estacas. Constata-se que de 1945 a 1970 a área usada para a agriculturaé aumentada em quase 2,5 vezes, porém o efetivo de bovino reduziu-se em 25%. É difícilestimar a área usada pelos rebanhos já que o regime é de pecuária extensiva porque o gado écriado solto na caatinga. Os dados apresentados pelo Censo representam somente o conjuntodos informantes, além de que, os rebanhos (p. ex. bovino e caprino) pastam em áreas que sesobrepõem.

Em 1973, teve-se o primeiro resultado quantitativo de antropismo, baseado noProjeto Radam que utilizou o radar para o estudo da fitofisionomia e o antropismo. O antropismomedido foi de 29.925ha ( 5% ) da área de estudo, conforme discutido no item 1.1. O CensoAgropecuário de 1975 mostrou que a agricultura usou 29.464ha para produzir principalmentemandioca, mamona, milho, feijão e algodão ( Tabela 6 ). Foram extraídos 71.200m3 de lenhae 47.300m3 de madeira em tora. A produção agrícola teve a sua tonelagem mais que duplicadaquando comparada com os resultados de 1970, de forma que a agricultura de subsistênciateve um bom incremento na produção de feijão e milho. A produção de mandioca aumentou2,6 vezes e a produção de mamona para fins industriais duplicou ( Tabela 6 ). Os efetivos debovinos, caprinos e suínos, aumentaram respectivamente, 19%, 76% e 104%.

Tabela 6Produção Agrícola do Município de São Raimundo Nonato (T)

Produto Mandioca Feijão Milho Mamona Algodão CajúAno

1970 (1) 9.983 1.378 1.972 1.965 18 -

1975 (1) 25.976 1.967 2.522 3.716 81 -

1985 (1) 14.984 3.303 4.906 3.298 122 23

1991 (2) 204.470 6.300 5.795 3.400 - 2.638

(1) Fonte: BRASIL/IBGE. Censos Agropecuários

(2) Fonte: BRASIL/IBGE. Produção Agrícola Municipal

Page 43: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 43

11 Ve A - setores vegetal e animal; i - industrial; (a) - alimentícios: (ma) - mandioca, (mo) - mamona, (fe) - feijão; (b) - bovino. Índices: 1 - 20%

a menos de 40%, 2 - 40% a menos de 60%, 3 - 60% a menos de 80% e 4 - 80% a mais da produção (op. cit:35).12 Há de se considerar que uma pequena fatia ao sul de São Raimundo Nonato foi desmembrada para a Criação do município de DirceuArcoverde em 1983.

Tabela 7Efetivos de Bovinos, Caprinos e Suínos do Município de São Raimundo Nonato

Animal Ano Bovino Caprino Suíno1970 (1) 42.972 88.590 48.2771975 (1) 51.321 180.906 84.9121985 (1) 39.723 194.667 46.5251990 (2) 35.231 119.430 41.931

(1) Fonte: BRASIL.IBGE. Censos Agropecuários

(2) Fonte: BRASIL.IBGE. Produção Agrícola Municipal

O Piauí, inclusive São Raimundo Nonato, no quinqüênio 1971-1975 já vivia ofamigerado �milagre econômico�. Neste período, foi pavimentada a rodovia PI-140 ( Floriano-São Raimundo Nonato ) e construídas a BR-020 ( Fortaleza-Brasília ) que corta o PARNA, eoutras estradas secundárias. Nesta época, o Banco do Nordeste e Banco do Brasil ofereceraminsumos financeiros para a agricultura. Neste período, ficou clara a tendência do crescimentocomparativo da agricultura, em relação a pecuária.

A SUDENE, baseando-se nos resultados do Censo Agropecuário de 1980, enfatizaque a área de São Raimundo Nonato é �onde as atividades agrícolas têm maior destaque,obtendo-se grande produção de algodão, mamona e de outros produtos, associados ao sistemade cultivo tradicional: mandioca, feijão e milho� ( SUDENE, 1982:35 ). A atividade agrícolaresulta na combinação gado-mamona, associada a cultivos secundários de feijão, mandioca emilho; a produção vegetal com fins industriais levou nove indústrias a se instalarem no município.Baseada na combinação da produção, o Município foi classificado assim:

São Raimundo Nonato - Va3 (ma2, fe1) i1 (mo4) + A4 b2 ,

ou seja, produção orientada para a lavoura de produtos alimentícios e fortemente orientadapara fins industriais da mamona. A pecuária é destinada à produção bovina, porém comrebanho de caprino 200% superior ao bovino. 11

Em 1983, o IBGE realizou o trabalho de atualização do antropismo do Nordeste,que revelou o brutal incremento de 151.525ha (25%), após 1973, conforme foi discutido noitem 1.1. Foram ocupados solos menos produtivos que os do entorno de São RaimundoNonato, assentados no sudoeste, sul do município e a noroeste do rio Piauí, sobre o grupoCaraíba. Foram ocupadas também parcelas isoladas de solos a nordeste do município,assentados sobre o grupo Salgueiro, próximos a Várzea Grande.

O Censo Agropecuário de 1985 12 mostra que a produção da agricultura tradicionalcontinuou na sua curva ascendente; todavia, o ano de 1985 apresentou uma baixa na produçãode mandioca ( Tabela 6 ). A pecuária, que no quinqüênio 1971-1975, perdera espaço relativopara a agricultura, nesta década perde também em números absolutos, pois os efetivos dosbovinos e suínos sofreram decrementos de 30% e 83%, respectivamente, enquanto o rebanhocaprino foi o maior do estado. Estes dados sugerem que a pecuária ficou mais voltada paraatender ao mercado local.

O aumento da área plantada e da produção ocorreu principalmente pelo incrementodos investimentos financeiros, pois as técnicas agrícolas tradicionais permaneceram. Todavia,

Page 44: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

44 Série Meio Ambiente Debate, 13

a partir de 1979 começaram a ser implantados os projetos de reflorestamento, através doFISET ( Fundo de Investimento Setorial Florestal-IBDF ). Segundo dados coletados junto aoIBAMA, no período de 1979 a 1983, foi incentivada a plantação de 450ha de caju, ao sul daVárzea Grande.

A extração de lenha e de madeira, embora subavaliadas pelas estatísticas, sãoresponsáveis por boa parte dos desmatamentos e serão estudadas mais detalhadamente, naseção 2.

Fatores Exógenos - Dois fatores conjunturais importantes interferem na agropecuáriado Semi-Árido: i. a aridez causada por mecanismos da circulação geral da atmosfera, estudadano Cap. II ( 1.2. )13; ii. a política de desenvolvimento agropecuário, com seus estímulosfinanceiros e técnicos. A partir de 1976, a SUDENE implantou no Semi-Árido o ProjetoSertanejo, com investimentos do Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento,que objetivava, inicialmente, facilitar o crédito rural, criar melhores condições de recursoshídricos, proporcionar a assistência técnica e possibilitar o acesso à terra ( CEPA-PI, 1977 ). OProjeto Sertanejo foi desativado em 1983 e a sua avaliação mostrou que, na prática, a pecuáriamonopolizou o recebimento dos recursos financeiros e acelerou o processo de concentraçãode terras. O impacto do Projeto sobre a agricultura de subsistência e comercial foi modesto(EMPERAIRE 1987 ). O FINOR ( Fundo de Investimentos do Nordeste ) e outros �subsídios�foram aplicados ao Nordeste, além de empreendimentos de grupos privados, oriundos deoutros estados, que investiram no município.

Os resultados apresentados no item 1.1. Antropismo, referentes ao período de 1983a 1989/90, foram de 115.724 ha de área antropizada, atingindo 44% da área de estudo(Tabela 3 ) A marcha da fronteira agropecuária do sul - principalmente do sudoeste - para onorte, bem como a expansão centrífuga a partir da sede do município continuaram, numritmo de cerca de 12.256 ha/ano, pouco abaixo do período anterior, 15.152 ha/ano. Novasparcelas antropizadas, agregadas e/ou isoladas, surgiram em todos os quadrantes da área deestudo, inclusive dentro do PARNA.

A ocupação preferencial da depressão periférica sedimentar, deu-se na busca dosmelhores solos e também das melhores condições de drenagem e hidrologia da bacia do rioPiauí e afluentes que são melhores servidas de águas de superfície, subterrâneas e lagoasendorréicas ( Cap. III, 1.4. ). Entretanto, o fato novo neste período ( 1983-1989/90 ) é que aschapadas, principalmente a noroeste, foram ocupadas.

A produção agrícola de São Raimundo Nonato, em 1991, mostrou o crescimentoascendente da agricultura em todos os ítens, quando comparados como o Censo de 1985, ofeijão, o milho e a mamona produziram, respectivamente, 6.300t, 5.795t e 3.400t14. Ocrescimento da produção da mandioca é um fato consensual, todavia o resultado estatístico(204.470t ) carece de confirmação ( Tabela 6 ). Contribuiu para o desmatamento a extraçãode 95.000m3 de madeira em tora. 15

A pecuária no período de 1985 a 1990 permaneceu estável, com efetivos bovinosde 35.231 cabeças, caprinos 119.430 e suínos 41.931 ( IBDF, 1990 ). A pecuária está voltadapara atender ao mercado municipal e os excedentes de carne e peles, são exportados paraoutros centros como Remanso e Petrolina.

No período de 1983 a 1990, a agricultura sofreu uma mudança de cenário, com aexpansão da monocultura de caju ( Anacardium occidentale ). Segundo EMPERAIRE (1987),o IBDF, através do FISET, no período 1979 a 1984, incentivou a instalação de 11 parcelas de

13 Há de se considerar o período de seca que ocorreu de 1978 a 1983, conforme o item 1.2. Climatologia.14 Em 1990 não houve Censo Agropecuário, portanto tomamos como referência a Produção Agrícola Municipal de 1991 ( BRASIL/IBGE,

1991 ).15 Há de se considerar que em 1989 foi subtraída uma área de 3.826km2 de São Raimundo Nonato, referente à criação do Município deDom Inocêncio, a leste da área de estudo.

Page 45: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 45

50 ha de cajucultura, ao sul de Várzea Grande, beneficiando a empresa PEMAGRO. A partirde 1985, iniciou-se a implantação de novos projetos de reflorestamento de caju, desta vezfinanciados pelo FINOR ( Fundo de Investimentos do Nordeste ), porém, localizados na chapadasedimentar de solo pobre e ácido, ao longo da rodovia PI-140, em áreas retangulares degrandes superfícies. Ao estudar a evolução agrícola da região, EMPERAIRE & PINTON (1986)identificaram 2 sistemas agrícolas no Sudeste do Piauí, o primeiro representado pela agriculturatradicional familiar com policulturas, e o segundo, a fazenda de monocultura de caju. Aocontrário do primeiro sistema, a monocultura implicou no total desmatamento da coberturavegetal e preparação do solo mecanizadamente, nos 5.400ha (54 parcelas de 100ha). Amonocultura do caju tem fortes relações exteriores ao município, a empresa proprietária (CPA)é de Fortaleza e investiu em São Raimundo Nonato, porém a produção de castanhas de caju,são exportadas para Fortaleza, onde são industrializadas. O sistema de monocultura implicaem forte inversão de energia e forte impacto sócio-econômico, com investimentos financeiros,tecnológicos, e concentração fundiária. Além de concentrar grandes extensões nas mãos depoucos proprietários, a monocultura emprega pouca mão-de-obra permanente, aumentandoo emprego temporário na colheita. A Secretaria de Agricultura do Piauí ( 1981 ),inexplicavelmente, entendeu que o estado tem grande aptidão para a cajucultura, pois, oPiauí tem grandes extensões de terras inaproveitadas, baixa densidade demográfica e modestosíndices de produtividade.

Duas questões são fundamentais nesta abordagem a) a concentração fundiária e;b) migração campo-cidade. O parcelamento da terra no entorno e ao sul de São RaimundoNonato é constituído de pequenas propriedades, enquanto que ao norte, nas chapadas,predominam os latifúndios. EMPERAIRE ( 1987 ), com base na SUCAM, IBGE e dados decampo, concluiu que a partir de 1950 existiu um processo crescente de concentração da terra.Simultaneamente, houve a migração do meio rural para o urbano, conforme mostra CEPA(1977 ) e dados censitários do IBGE ( 1991 ).

Tabela 8População Residente em São Raimundo Nonato - Censo IBGE Anos 1950/91.(1) (2)

POPULAÇÃO ANOS

1960 1970 1980 1991

Urbana 3.810 5.515 8.568 13.522Rural 28.947 41.577 40.955 30.736

Total 32.757 47.092 49.523 44.258

(1) O município sofreu os desmembramentos de Dirceu Arcoverde em 1983 e Dom Inocêncio em 1989.(2) Dados obtidos a partir dos Censos Demográficos do IBGE.

O antropismo da área de estudo apresenta, portanto, uma contextualização históricano seu desenvolvimento, onde a pecuária predominou, secundarizada pela agricultura desubsistência até o início da década de 70. Entre 1973 e 1983, houve um grande incrementodo antropismo, provocado pela pecuária, pela agricultura tradicional ( feijão, milho e mandioca),comercial e industrial ( mamona, mandioca e algodão ). Pela leitura dos mosaicos e avaliaçãode campo, revela-se o desmatamento para o pastoreio e agricultura. A exploração dos recursosflorestais é subavaliada pelas estatísticas, todavia é responsável por grande área dedesmatamento.

Page 46: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

46 Série Meio Ambiente Debate, 13

2. Exploração dos Recursos Florestais

Discutiu-se na seção anterior as atividades agropecuárias do município de SãoRaimundo Nonato, enfocando o perfil da sua produção e o impacto ambiental da ocupaçãodo espaço numa perspectiva histórica. Os recursos florestais se constituem nas maiores riquezasda região e são imprescindíveis ao desenvolvimento, à sobrevivência e às atividades rurais,como fonte de lenha, madeira e extrativismo. As atividades urbanas também consomemmadeira, quer seja no âmbito doméstico bem como no âmbito industrial, e. g., cerâmica,olarias, padarias, etc.. Neste item, serão enfocados, especialmente, os aspectos relacionadosao consumo de recursos florestais para fins energéticos.

2.1. Consumo de Lenha para Fins Energéticos DomiciliaresA Tabela 9 apresenta os resultados do consumo médio anual dos 65 domicílios

amostrados na zona rural de São Raimundo Nonato em 1991.

Tabela 9Consumo Médio de Combustível por Domicílio, em TEP/ano obtido na amostra da Zona

Rural de São Raimundo Nonato.(1)

Moradores Domicílios Consumo (TEP/ano) No. No. Total Lenha GLP Média

02 05 4,260 3,792 0,468 0,85203 11 8,256 7,920 0,336 0,75004 07 9,880 9,552 0,336 1,41205 15 15,216 14,268 0,948 1,08706 08 7,512 6,912 0,600 0,9397-8 15 19,188 18,372 0,816 1,2799-13 05 6,600 6,432 0,168 1,320

TOTAL 65 70,910 67,248 3,672 1,091 % 100,00 94,822 5,178 -(1) TEP - Tonelada Equivalente de Petróleo

Considerando-se que a zona rural de São Raimundo Nonato possui 6.281 domicíliosocupados, estima-se em 6.852,571 TEP/ano, conforme apresentado na Tabela 10.

Tabela 10Consumo Final Domiciliar (TEP/ANO) na Zona Rural de São Raimundo Nonato (1991)

Nº DE DOMICÍLIOS CONSUMO (TEP/ANO)

TOTAL LENHA GLP MÉDIA

6.281 6.852,571 7.497,744 354,826 1,091

De acordo com o estudo, 60% dos domicílios utilizam, exclusivamente lenha nacozinha, 5% usam, exclusivamente, gás liquefeito de petróleo ( GLP ), 35% usam lenha eGLP. A Tabela 11 mostra os resultados do consumo médio dos 51 domicílios amostrados nazona urbana de São Raimundo Nonato.

Page 47: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 47

A Tabela 11 apresenta os resultados de consumo médio anual dos 51 domicíliosamostrados na zona urbana de São Raimundo Nonato em 1991.

Tabela 11Consumo Médio de Combustível por Domicílio, em TEP/ano

obtido na amostra da Zona Urbana de São Raimundo Nonato ( 1991 )

Moradores Domicílios Consumo ( TEP/ano )No. No.

Total Lenha GLP Média1 1 0,393 3,393 - 0,3932 2 0,410 0,070 0,340 0,2053 6 2,073 1,053 1,020 0,3454 7 2,127 1,277 0,850 0,3035 12 3,226 0,421 2,805 0,2686 7 3,718 2,358 1,360 0,5317-8 9 7,295 4,745 2,550 0,8109-18 7 12,520 11,330 1,190 1,788

TOTAL 51 31,762 21,647 10,115 0,622% 100 68,1 31,9 -

Considerando-se que a zona urbana de São Raimundo Nonato possui 2.918domicílios ocupados, estima-se que o consumo final domiciliar em 1.814,996 TEP/ano,conforme apresentado na Tabela 12.

Tabela 12Consumo Final Domiciliar ( TEP/ANO ) na Zona Urbana de São Raimundo Nonato (1991)

Nº DE DOMICÍLIOS CONSUMO (TEP/ANO)

Total Lenha GLP Média

2.918 1.814,996 1.236,974 578,022 0,622

A Tabela 13, apresenta o consumo domiciliar dos meios rural e urbano.

Tabela 13Consumo Total de Combustível (TEP/ANO) nos domicílios de São Raimundo Nonato

(1991)

Nº DE DOMICÍLIOS CONSUMO (TEP/ANO)

Total Lenha GLP Média

9.199 8.667,567 7.734,718 932,582 0,942

Ao se aplicar os equivalentes de energia, massa e volume obteve-se nas conversões

Page 48: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

48 Série Meio Ambiente Debate, 13

os resultados do consumo anual de energéticos florestais do setor domiciliar constantes daTabela 14.

O consumo médio de combustíveis por domicílio em São Raimundo Nonato estádentro dos padrões dos resultados encontrados na literatura, especialmente em estudos dosemi-árido. O consumo médio de combustíveis por domicílio na zona rural de São RaimundoNonato foi de 1,091 TEP/ano ( Tabela 9 ). O PNUD/FAO/IBAMA ( 1990 ) estimou o consumomédio de combustível para o setor rural do estado do Rio Grande do Norte em 0,956 TEP/ano, sendo que foram amostrados diversos municípios com vegetação de caatinga. O consumomédio da zona rural de São Raimundo Nonato, para lenha e GLP, foi respectivamente de94,8% e 5,2%; no estado do Rio Grande do Norte o consumo de lenha e carvão e GLP, foirespectivamente de 94% e 6%. O consumo médio per capita na zona rural de São RaimundoNonato foi de 0,202 TEP/ano; segundo o PNUD/FAO/IBDF/1988, o consumo médio nosdomicílios do setor rural, da região do Seridó foi de 0,210 TEP/ano.

O consumo médio de combustíveis por domicílio na zona urbana de São RaimundoNonato, foi de 0,622 TEP/ano, bem abaixo do consumo da zona rural. O PNUD/FAO/IBDF(1988 ), estimou para os domicílios urbanos de Caicó o consumo de 0,474 TEP/ano e oPNUD/FAO/IBAMA ( 1990 ) estimou para o setor urbano do Rio Grande do Norte 0,366 TEP/ano. O consumo médio da zona rural de São Raimundo Nonato, para lenha e GLP foirespectivamente de 68,1% e 31,9%; no estudo do setor urbano do Rio Grande do Norte, oconsumo de lenha mais carvão e GLP foi respectivamente de 54,7% e 45,3%. Uma hipótesepara explicar o elevado consumo domiciliar de São Raimundo Nonato, são as inúmeras�indústrias� caseiras de doces e rapadura. O consumo médio per capita da zona urbana deSão Raimundo Nonato é de 0,102 TEP/ano; segundo o PNUD/FAO/IBDF (1988) o consumomédio per capita nos domicílios urbanos do Seridó é de 0,099 TEP/ano.

O consumo total de combustíveis no município de São Raimundo Nonato ( Tabela13 ) mostra que a lenha é responsável por 89% do abastecimento e o GLP somente 11%.Conforme a Tabela 14, o consumo total de 33.064,03 t/a corresponde a 94.469,68 st/a queequivale ao desmatamento anual de 3.306,403ha.

Na zona rural, a coleta de lenha para a cozinha geralmente é feita pelas mulheres ecrianças, que catam a lenha morta, bem como a cortada pelos homens, nas proximidades dacasa, para ser estocada. Segundo a amostra, a maioria dos domicílios coletam na sua própriapropriedade.

Na cidade, o abastecimento de lenha é mais difícil, pois o entorno já foi desmatadoe oferece pouca lenha e a aquisição de GLP é mais fácil, daí resulta que 43% dos domicíliosamostrados usam exclusivamente GLP, 31% usam GLP mais lenha, e 26% usam exclusivamentelenha. Este trabalho e outros estudos do semi-árido apontam uma tendência do aumento doconsumo do GLP, especialmente nas cidades. O aumento do consumo do GLP implicará emaumento do gasto familiar, visto que na amostragem não se registra compra de lenha.

Tabela 14Consumo Anual de Energéticos Florestais no setor domiciliar de São Raimundo Nonato

(1991)

LENHA LENHA LENHA1 EQUIVALENTE EM SUPERFÍCIE2

TEP/a t/a st/a ha/a

7.736,985 33.064,038 94.468,680 3.306,403

(1) 1st equivale a 0,34 toneladas (EMPERAIRE, 1987).(2) 10 toneladas equivalem a 1ha (EMPERAIRE, 1987).

Page 49: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 49

Um terço dos domicílios fazem a coleta de lenha em propriedades de terceiros eoutro terço em terras públicas. As áreas mais procuradas para a coleta são, a saída para Cantodo Buriti, a saída para São João do Piauí, a Vereda e o Baixão.

O cangaeiro ( Cnidoscolus urens ), a canela-de-véio ( Cenostigma gardneriana ),o birro ( Diptychandra epunctata ), o angico de bezerro ( Piptadenia obliqua ), a guabiraba(Campomanesia sp. ), a juremas ( Mimosa spp. ) e o marmeleiro ( Croton sonderianus ), sãoas principais espécies usadas para lenha.

2.2. Consumo de Lenha nas Cerâmicas e OlariasA Cerâmica Castanheiro se destaca de longe pelas suas altas chaminés, sendo

considerado o complexo industrial mais importante de São Raimundo Nonato. A cerâmicaproduz tijolos, telhas, lajotas, pisos, para toda a microrregião de São Raimundo Nonato.Segundo informações colhidas na empresa, a capacidade potencial de produção pode chegara 800 milheiros de tijolos por mês. Os nove fornos de alvenaria fechados têm o sistema deaquecimento interligado. A matéria-prima ( argila ) que vem de um baixão úmido ( Vereda ) émolhada e preparada na indústria. A lenha vem das fazendas Dois Irmãos e Santo Antônio,que distam 25km da cerâmica. A maior produção ocorre de maio a novembro, caindo até50% de dezembro a abril, período das chuvas, com baixa oferta de lenha e baixa procura deprodutos. O ano de 1991 foi recessivo, implicando numa produção baixa. A estimativa doconsumo de lenha, baseada na produção do ano todo, foi de 7.200st que correspondem a3.600 t 16. Há uma segunda cerâmica de grande porte localizada próximo de Várzea Grandee do PARNA, extraindo lenha do seu entorno. O seu consumo anual foi estimado em 1.120st.As olarias são encontradas nos arredores de São Raimundo Nonato e dos povoados, embaixões onde há argila e umidade. Muitas são permanentes, enquanto olarias menoresproduzem somente no período seco de maio a novembro e outras, as olarias domésticas, sãoativadas somente para construir uma ou duas habitações. Foram amostradas todas as olariaspermanentes de São Raimundo Nonato. Elas produzem tijolos comuns, de oito furos e telhase seus fornos são de alvenaria, geralmente de formato retangular. O consumo de todas as seisolarias amostradas está representado na Tabela 15.

Segundo informações prestadas pelo escritório do IBGE de São Raimundo Nonato,fora da cidade, nos demais povoados, existem mais 12 olarias no Município. Então, o quadrodo consumo total das olarias apresenta-se conforme a Tabela 16.

Os resultados são compatíveis com outros estudos. O projeto PNUD/FAO/IBAMA( 1990 ) ao estudar as olarias do Rio Grande do Norte, constatou que o consumo médio delenha das pequenas olarias foi estimado em 55,4 st/a, enquanto que EMPERAIRE ( 1987 )obteve com dados de 1985, o consumo médio de 61 st/a. Ambas estimativas apresentamresultados próximos do presente estudo que teve o consumo médio de 56,5 st/a. Estimou-separa este trabalho o consumo anual de lenha, para o setor de cerâmica e olaria ( 1991 ), de9.337 st/a, EMPERAIRE ( 1987 ) obteve o consumo anual, em 1985, de 7.745 st/a.

O consumo de lenha do setor de cerâmica e olaria provocou um impacto pelodesmatamento de 933,7 ha/a. As atividades industriais exigem lenha com maior diâmetro, decombustão mais lenta, com a produção de maior quantidade de calor. As espécies mais usadassão: favela ( Cnidoscolus phyllacanthus ), angico de bezerro ( Piptadenia oblíqua ), pau-de-rato ( Caesalpinia bracteora ), marmeleiro ( Croton sonderianus ), pau-de-casca ( Tabebuiaspongiosa ).

16 Emperaire ( 1987 ) estimou que o estéreo de lenha para fins industriais corresponde a 500kg, na região de São Raimundo Nonato.

Page 50: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

50 Série Meio Ambiente Debate, 13

Outro dano causado é a destruição do solo em extensas áreas, geralmente embaixões férteis para a agricultura. A exploração do solo - um recurso natural não renovável -pelo setor cerâmico-oleiro, transforma o local em áreas quase irrecuperáveis que tendem a setornar �bad-land� .

A lenha que abastece os fornos, geralmente é comprada; porém, tornou-se difícilesta discussão, devido a completa desatualização dos preços, provocada pela inflação. Omesmo aconteceu com os valores dos produtos e dos salários. Entretanto, no aspecto dasrelações do trabalho, nota-se que, especialmente nas olarias, a mão-de-obra empregada, temfortes relações familiares.

Tabela 15Consumo Anual de Lenha nas Olarias Permanentes Amostradas de São Raimundo Nonato

(1991)

OLARIAS CONSUMO

st/a t/a

1 92 462 10 053 68 344 81 40,55 54 276 34 17

T O T A L 339 169,5

M É D I A 56,5 28

Tabela 16Consumo Anual de Lenha no setor de Cerâmica e Olaria de São Raimundo Nonato (1991)

RAMO CONSUMO DE LENHA

st/a t/a ha/a

CERÂMICA 1 7.200 3.600 720

CERÂMICA 2 1.120 560 112

OLARIAS S.R. NONATO 339 169 33,9

OLARIAS INTERIOR 678 339 67,8

T O T A L 9.337 4.661 933,7

Page 51: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 51

2.3. O Consumo de Lenha nas PadariasForam amostradas 10 padarias de São Raimundo Nonato, que usam fornos de

lenha, e os resultados do consumo são mostrados na Tabela 17.Os resultados são compatíveis com os estudos do projeto PNUD/FAO/IBAMA

(1990), que estimou o consumo de lenha das padarias do Rio Grande do Norte em 68,8 st/a,valor próximo do encontrado em São Raimundo Nonato que foi de 69,4 st/a.

Tabela 17Consumo Anual de Lenha nas Padarias de São Raimundo Nonato ( 1991 )

PADARIAS CONSUMO

st/a t/a

1 80 402 90 453 60 304 80 605 40 206 48 247 80 408 64 329 104 5210 48 24

T O T A L 694 347

M É D I A 69,4 34,7

A Tabela 18, abaixo, apresenta o consumo de lenha no setor de padarias.

Tabela 18Consumo Anual de Lenha nas Padarias de São Raimundo Nonato (1991)

No. e RAMO CONSUMO

st/a t/a ha/a

22 PADARIAS 1.526 736 15301 FÁBRICA DE CHOCOLATE 216 108 2201 PIZZARIA 80 40 08

T O T A L 1.822 884 183

Segundo o escritório do IBGE em São Raimundo Nonato, há um número total de22 padarias em todo o município. Há também, uma fábrica de chocolate e uma pizzaria queusam lenha, conforme a Tabela 18. O consumo de lenha no setor de padarias e restaurantesde São Raimundo Nonato provocou o impacto do desmatamento de 183ha em 1991. Alenha é pouco valorizada, sendo comprada por preço baixo segundo os padeiros, o que aindadenota abundância. A lenha vem sempre de lugares a mais de 15km de distância, comoestrada para Canto do Buriti, estrada para Campo Alegre de Lourdes, estrada da Onça eLagoa de Fora. A maior padaria da cidade usa forno elétrico e todos restaurantes e lanchonetesusam GLP.

Page 52: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

52 Série Meio Ambiente Debate, 13

2.4. O Consumo de Lenha nas CaeirasA caieira é um forno aberto, de queima direta. Cada caieira para ser queimada

consome seis �carradas� de lenha, com troncos mais grossos do que aqueles usados noconsumo domiciliar. Cada �carrada� é transportada num caminhão �toco� ( com somentedois eixos ) que tem capacidade para 18m3 estéreos de lenha. Portanto, cada caieira consome126 st de lenha.

Durante o trabalho de campo, ao longo de 1991, estimou-se que foram queimadas63 caieiras próximas de Várzea Grande e do PARNA. Portanto, o consumo anual de lenhacom as caieiras foi de 7.938 st ( Tabela 19 ). No ano de 1985, EMPERAIRE ( 1987 ) estimouque estas mesmas caieiras consumiram 1.100 st. Esta variação pode ser explicada pela flutuaçãoreal da produção ou pelo erro de avaliação de um dos autores. Todavia, confiamos nametodologia do presente trabalho que acompanhou a atividade caieireira durante o ano de1991.

Tabela 19Consumo Anual de Lenha nas Caieiras de São Raimundo Nonato (1991)

CAIEIRAS CONSUMO DE LENHA

st/a t/a ha/a

63 7.938 3.969 793

Os fornos das caieiras são abertos, primitivos e de baixo rendimento térmico, poisdemandam a queima contínua por 48 horas. As espécies mais usadas são semelhantes àquelasdas olarias e padarias e são extraídas do entorno do PARNA.

2.5. Consumo de Lenha nas Casas de FarinhaConforme discutido na seção 1.3.2., entre 1985 e 1990, a mandioca apresentou

um excepcional aumento na produção, alcançando 259.268t. Foi estimada a existência demais de 2.000 indústrias artesanais de farinha de mandioca e goma. O processamento damandioca implica em descascar, ralar, prensar e torrar até se tornar farinha. Nos dias em quea farinha é torrada, vários parentes e amigos participam do trabalho na casa de farinha, nummomento de trabalho e celebração.

Baseando em outros autores e estudo realizado na região de São Raimundo Nonato,EMPERAIRE & PELLERIN ( 1989 ) estimaram o consumo de 5,4st de lenha para a torrefaçãode 1 tonelada de farinha de mandioca. O dado mais recente e seguro que se tem sobre aprodução de farinha de mandioca é do Censo Agropecuário de 1985, com 3.006t, que assume-se como válido para 1991 aplicando-se o equivalente do consumo de 5,4st de lenha paratorrar 1t de farinha, conclui-se que o setor consumiu 16.232st, que equivale a 1623ha de áreadesmatada.

A Tabela 20, a seguir, apresenta o consumo de lenha nas casas de farinha de SãoRaimundo Nonato.

Tabela 20Consumo Anual de Lenha nas Casas de Farinha de São Raimundo Nonato ( 1985 )

FARINHA PRODUZIDA CONSUMO DE LENHA3.006 toneladas st/a t/a ha/a

16.232 8.116 1.623

Page 53: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 53

2.6. Balanço do Consumo DendroenergéticoComo afirmado anteriormente ( Cap. I ), o estudo do consumo de recursos florestais

para fins energéticos e o seu impacto ambiental é um dos principais objetivos desta dissertação.Este campo conta com poucos estudos realizados na Caatinga e demais ecossistemas brasileiros.O impacto ambiental provocado pelo consumo destes recursos naturais em São RaimundoNonato, implicou no desmatamento de 6.838/ha ( Tabela 21 ) que corresponde a um terço doantropismo verificado no ano de 1990 ( Tabela 3 ). EMPERAIRE ( 1987 ) fez um balanço doconsumo total de lenha numa área que se sobrepõe parcialmente a São Raimundo Nonato ecom uma superfície diferente da presente pesquisa. A coleta foi realizada em 1985, e estimou-se o desmatamento de apenas 985 ha, resultado inferior ao encontrado no presente estudo. Oconsumo de lenha do setor domiciliar, de longe, é responsável pela maior demanda, 48%. Alenha, especialmente na zona urbana, vem paulatinamente cedendo lugar para o GLP, cujoconsumo não provoca desmatamento, porém, esgota outro recurso natural não-renovável.

Tabela 21Consumo Anual de Energéticos Florestais em São Raimundo Nonato (1991)

SETOR CONSUMO DE LENHA

st/a t/a ha/a %

DOMICILIAR 94.468 33.064 3.306 48CASAS DE FARINHA (1) 16.232 8.116 1.623 23CERÂMICAS/OLARIAS 9.337 4.668 934 14CAIEIRAS 7.938 3.969 793 12PADARIAS 1.822 911 182 03

T O T A L 129.797 50.728 6.838 100

(1) Estimativa baseada no Censo Agropecuário de 1985.

Segundo o Ministério das Minas e Energia, o consumo energético domiciliar nacionalem 1989, apresentou o seguinte quadro de consumo: lenha - 35,3%, GLP - 16,7%, eletricidade:44,1%, carvão vegetal: 2,7%. O projeto PNUD/FAO/IBAMA/87 ( 1988, 1990 ) constatou queos domicílios do Rio Grande do Norte queimaram em 1988, 45% do consumo total de lenhado estado, e insiste nas recomendações de substituição da tecnologia dos fornos. O Semi-Árido é a região mais quente e ensolarada do Brasil, havendo necessidade urgente de seutilizar a energia solar e eólica para o cozimento de alimentos e outras necessidades energéticasdomiciliares (p.ex.). Já existem tecnologias de baixo custo desenvolvidas para substituir o usoda lenha pelo uso da energia solar, eólica e elétrica, o que reduziria a pressão sobre a vegetaçãonativa e traria outras vantagens sócio-econômicas.

A agroindústria da farinha de mandioca é um setor de consumo de lenha que temexperimentado uma grande expansão nos últimos 10 anos, em São Raimundo Nonato. Osúltimos dados estatísticos seguros que se tem sobre a produção de farinha ( Tabela 20 ) são osdo Censo Agropecuário de 1985, todavia dados mais recentes da produção agrícola municipale informações prestadas pelo escritório regional da EMATER (Empresa Assistência Técnica eExtensão Rural) alertam para a grande produção das últimas safras de mandioca. Este fato éanimador no aspecto da produção, porém é preocupante quanto à fabricação de farinha, já

Page 54: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

54 Série Meio Ambiente Debate, 13

que a mesma demanda lenha e, conseqüentemente aumenta a pressão sobre os recursosflorestais nativos. Há uma indústria na cidade que torra a farinha num forno aquecido a óleodiesel que, do ponto de vista ambiental, não representa muita vantagem pois consome umrecurso natural não renovável e a sua queima libera gases poluentes na atmosfera. É urgentea necessidade de se buscar soluções alternativas ao consumo da lenha neste setor, que ocupouo segundo lugar no consumo total de energéticos florestais em 1991. O uso da calorífica solar,tem sido promissor em novas tecnologias de cozimento de alimentos. A maior padaria de SãoRaimundo Nonato aquece o seu forno com energia elétrica, como aquelas das cidades médiase grandes.

O setor de cerâmica/olaria foi responsável por 14% do consumo anual (1991) deenergéticos florestais em São Raimundo Nonato e esta estimativa não inclui as olarias domésticasque são ativadas para se construir uma ou duas habitações. Esse setor de atividade empregaum bom número de trabalhadores, porém provoca impactos ambientais ao desmatar, tantopara fins de extrair a lenha, como para retirar a argila, cujos terrenos abandonados setransformam em erosões e �bad-lands� . A maioria dos estudos realizados neste campo são decaráter quantitativo, que avaliam o consumo e o desmatamento equivalente. O projeto PNUD/FAO/IBDF/BRA/87 é pioneiro, num estudo aprofundado da questão florestal no semi-árido,tendo produzido um Programa Ação Florestal ( PAF ) e o desdobramento de diversos projetos,inclusive na área de educação florestal. O projeto acima referido elaborou o Plano de Manejopara a Região do Seridó do Rio Grande do Norte que é apresentado em três volumes: O Vol.I �Levantamentos Básicos�, fez uma densa análise estatística do consumo, todavia, o Vol.II�Definição de Estratégias�, projeta alguns cenários estatísticos, carentes de discussões; o Vol.�III Plano de Manejo Florestal� é ainda mais tímido nas proposições, como por exemplo aintrodução de tecnologia de fornos para melhorar a eficiência térmica, linha esta que se repetirá,em diversos números da Circular Técnica publicados pelo Projeto PNUD/FAO/BRA/87, ondeos aspectos sócio-ambientais são secundarizados. A circular nº 2 fez uma boa análise técnicae política em �Considerações sobre a extensão florestal: perspectivas e objetivos�. A circular nº11, embora siga a linha quantitativa, enfoca uma proposta exeqüível que é o reflorestamentocom algaroba ( Projeto PNUD/FAO/BRA/87/007, 1989, 1991; Circular Técnica nos 2, 11 ).

MERCADANTE ( 1988:80 ) fez uma análise técnica e sócio-econômica em �Aatividade de olaria na Área de Proteção Ambiental (APA) do rio São Bartolomeu, DF: umavisão ecológico-humana�, onde também sugere que �primeira medida importante para reduziro dano ambiental seria elevar o nível de mecanização das empresas�. Tanto os baixões argilososcomo a caatinga são ecossistemas frágeis desta forma, pressionados, não bastam propostaspaliativas. O solo é um recurso natural não-renovável e as áreas desmatadas não sãoreflorestadas em São Raimundo Nonato. São necessárias medidas restritivas, a curto prazo, epropostas alternativas à exploração destes recursos, a médio prazo.

2.7. Recursos Florestais e AgropecuáriaA exploração dos recursos florestais de São Raimundo Nonato para a produção de

madeira usada na construção de casas e obras, para estacas de cerca, e para exportação aoutros municípios, é de difícil quantificação, pois o IBAMA não realiza nenhuma estatística.Para o ano de 1990, IBGE ( 1990 ) informou que foram extraídos 2.500m3 de madeira emtora. A construção e renovação das cercas que limitam e dividem as propriedades sãoresponsáveis por uma grande demanda de madeira. Os moirões são finos e sua escolha éseletiva, de acordo com a espécies preferenciais. Segundo os fiscais do IBAMA em SãoRaimundo Nonato, uma grande quantidade de aroeira ( Astronium urundeuva ) e angico(Anadenanthera macrocarpa ) são extraídos das florestas remanescentes situadas na zonaoeste do município. Está em curso um grande desmatamento de aroeira na Serra dos Gringos.

A técnica de extração de madeira é muito rudimentar e devastadora. Os lenhadores

Page 55: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 55

abrem �rodagens� que são picadas suficientes para a entrada de um caminhão �toco� ( com 2eixos ) com capacidade de 18m estéreos. Abate-se as árvores maiores, em seguida as menores,que vão sendo amontoadas à beira da �rodagem�, que serpenteia dentro da gleba, que écircunscrita por uma �variante�, divisória de propriedades.

Os madeireiros da região de São Raimundo Nonato informaram que recolhemuma pequena taxa junto ao IBAMA, o que lhes permite desmatar o ano todo. A taxa deReposição Florestal deveria ser investida em reflorestamento na área pelo IBAMA, o que nuncaacontece na prática. A taxa é incompatível com os lucros auferidos com a exploração damadeira, o reflorestamento não é realizado e, nem tampouco, o IBAMA pratica uma rigorosafiscalização. Estas constatações são válidas para todo o Brasil.

Neste ponto, é importante mostrar a correlação entre os problemas governamentaisde incentivo e sua repercussão local em termos de impacto antrópico. A questão principal aser ressaltada nesta correlação é o aspecto causal, ou seja, verificar de qual modo a implantaçãodos programas de política florestal pode ser considerada como causa de desequilíbrio ambiental.Assim, é possível demonstrar como evoluem paralelamente e de forma mutuamente interligadaao longo da história recente do país a política florestal e a exploração inadequada dos recursosflorestais.

Os recursos florestais estão sendo explorados desde a descoberta do Brasil. O CódigoFlorestal (de 1934) foi o primeiro instrumento que objetivou regulamentar a exploração dosrecursos florestais. Em 1966, foram criados os incentivos fiscais, que autorizavam a deduçãode parte do imposto de renda devido em investimentos de projetos florestais. Em 1967, foicriado o IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), que no seu primeiro ano deexistência aprovou 351 projetos de reflorestamento incentivados, na sua maioria com o gêneroEucalyptus. Em 1974, foi criado o FISET ( Fundo de Investimentos Setoriais - Florestal, Lei1.376 ) que foi extinto em 1988 ( KENGEN & BYRON, 1987 ). Os incentivos foram voltadospara um restrito grupo de empresas florestais, cuja produção de matéria prima era direcionadaàs indústrias de papel e celulose aglomerados e chapas. IBAMA ( 1991c ) aponta 7 pontos dedistorções e impropriedades do FISET. Destaca-se a concentração dos recursos do IBDF, voltadosao reflorestamento incentivado, a concentração dos incentivos nas mãos de poucas empresas,que os utilizou com fins especulativos; o favorecimento de �falsos projetos próprios� e dos�falsos investidores�. O esquema de incentivos florestais foi o mais duro golpe sofrido pelosecossistemas brasileiros no século XX. Foram abatidos 6 milhões de hectares de matas nativaspara o plantio de florestas homogêneas (CIMA, 1991). A rigor, o Brasil nunca teve uma políticaflorestal, mas sim esquemas de favorecimentos financeiros.

As empresas reflorestadoras, na Região Nordeste, e em todo Brasil, foram favorecidascom o esquema dos incentivos fiscais, pois eram vinculadas às grandes propriedades rurais.Ao passo que as pequenas propriedades foram marginalizadas. O setor florestal oficial semprese negou a visualizar a íntima ligação que existe entre a atividade florestal e o desenvolvimentoda agricultura. Segundo PAUPITZ, esta vinculação ocorre em dois níveis:

a) Através da função protetora das florestas, que moderam as condições ambientaisdesfavoráveis à agricultura;

b) Pelo fornecimento de uma enorme variedade de produtos ( lenha, ervasmedicinais e frutas), além de servir de refúgio à fauna silvestre ( PAUPITZ, 1989 ).

EMPERAIRE & PINTON ( 1986 ) informaram que foram implantadas 5.400ha demonocultura de caju em São Raimundo Nonato que tende a aumentar com a ocupação dasmatas e solos do reverso da cuesta. Esta ocupação com a cajucultura contribuiu para aconcentração de terras das empresas e a concentração de renda oriunda dos incentivos oficiais( FISET, FINOR ). SALMI ( 1988 ) defende que países em desenvolvimento, onde predominam

Page 56: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

56 Série Meio Ambiente Debate, 13

economias agrícolas, a reforma agrária é uma arma contra o desflorestamento tropical, poiscontribui para o desenvolvimento sócio-econômico que concorre para a conservação dosecossistemas florestais.

Em resumo, está claro que o antropismo identificado na região de São RaimundoNonato é provocado principalmente pela pecuária extensiva, seguida pela agricultura tradicionale agricultura intensiva e em terceiro lugar pela exploração dos recursos florestais para finsenergéticos. Ficaram evidentes, também, que os impactos sócio-econômicos e ambientais naregião de São Raimundo Nonato, como em todo Brasil, provocados pelos equívocos daspolíticas e ações governamentais nos níveis federal, estadual e municipal, devido a nãocompreensão da importância da preservação dos recursos naturais, especialmente os florestais.Contudo, o recurso florestal mais importante para os camponeses e trabalhadores urbanos é alenha. Segundo a FAO ( 1992 ), mais de dois terços das populações dos países subdesenvolvidosdependem essencialmente da lenha para suas necessidades de energia para uso doméstico,cuja carência também gera problemas nutricionais, pela impossibilidade de se cozinhar osalimentos. Ao se compreender a importância dos recursos florestais e suas íntimas relaçõescom a agropecuária, valorizar-se-á a prática da silvicultura, agrosilvicultura e o silvopastoreio.

3. Relações Ecológico-Humanas dos Habitantes de Várzea Grande e oParque Nacional da Serra da Capivara

A presente seção representa a síntese e o aprofundamento das discussões travadasnos itens anteriores. Até aqui, tomou-se como contexto a ampla visão da área de estudo,composta pelo município de São Raimundo Nonato e pelo Parque Nacional da Serra daCapivara, procurando-se entender os processos de relações Homem/Meio Ambiente, de formaholística, de acordo com os princípios norteadores da ecologia humana. Foi composto umquadro contextual, onde os principais problemas sócio-econômicos e ambientais foramabordados.

Neste item, todavia, restringe-se o foco do estudo na área do povoado de VárzeaGrande e sua interface com o PARNA da Serra da Capivara. Primeiramente, será traçado umperfil sócio-econômico e ambiental do homem de Várzea Grande, considerando-se os principaisindicadores de qualidade de vida. Em seguida, será estudada a atividade das caieiras e suasimplicações ambientais, e por último, enfocar-se-á a problemática da criação do PARNA e seuimpacto sobre a comunidade local. Ao se estudar uma comunidade pequena, perde-se naescala, todavia, �quanto menor o microcosmo social, maior é a universalidade dos seusprocessos�, como pensa o dramaturgo espanhol Arrabal ( conforme comunicação pessoal ).

3.1. Perfil Ecológico-Humano da Várzea Grande

Os registros arqueológicos e a abundância das pinturas rupestres mostram que aregião da Várzea Grande foi habitada por diversas gerações de povos indígenas com grandestalentos artísticos, expressos nas pinturas que retrataram cenas do cotidiano e da natureza,especialmente a fauna, conforme discutimos no item III. 3.1. O povoamento ocidental europeude Várzea Grande, começou a se instalar na região no começo do século XIX e desenvolveu-se lentamente até atingir as características atuais. O perfil do Homem de Várzea Grande,discutido abaixo, tenta desenhar o modo e a qualidade de vida da comunidade. De formasintética, selecionoaram-se as atividades, características e indicadores mais representativos dacomunidade.

A densidade demográfica de São Raimundo Nonato é baixa, 7,35 habitantes porkm2, sendo que a maior concentração demográfica está a sudoeste e na sede do município,Certamente, a densidade habitacional de Várzea Grande é bem menor. Dos vinte e um

Page 57: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 57

domicílios 17, obteve-se um total de 126 habitantes, gerando uma média de 6 habitantes pormoradia, que é um índice compatível com o Nordeste, porém alto se comparado com a RegiãoSul, Sudeste e Centro-Oeste. A pirâmide etária apresenta distorções típicas de pequenaspopulações instáveis; o baixo percentual dos menores de 4 anos pode ser explicado pelamortalidade infantil, porém Araújo et al. ( 1991 ) ao interpretar a pirâmide etária de duascomunidades próximas à Várzea Grande, atribuiu este fato a queda da natalidade provocadapor laqueaduras.

O estreitamento das faixas intermediárias produtivas é explicado pela migraçãoem busca de trabalho e estudo. Na faixa dos vinte aos trinta anos o percentual de mulher ébem mais elevado; na faixa acima de 65 anos, há um percentual alto, devido ao apego aregião e a insensibilidade à migração. A importância da questão demográfica exige estudosmais aprofundados, que fogem ao escopo deste trabalho.

O nível de instrução do povo de Várzea Grande é baixo, o índice de analfabetismochega a 60%, sendo menor nas faixas etárias mais jovens. Existem três escolas primárias, quetambém atendem aos alunos dos sítios e fazendas. O índice de reprovação é alto, 35%. Alémdisto, os alunos são afastados das escolas para trabalharem na época de plantio e colheita. Aformação das professoras é precária, geralmente, são adultas sem qualquer formação, apenasalfabetizadas, que recebem rendimentos abaixo do salário mínimo. Há escola de segundograu somente em São Raimundo Nonato. Este quadro é semelhante em todos os povoadosda região do PARNA, com raras exceções ( IPARJ/FUNDHAM, 1987 ). O baixo padrãoinstrucional do povo é um fator determinante nos seus modo e qualidade de vida, afetadospor problemas de todos os níveis, desde saúde/saneamento até manipulação política.

A água é o elemento natural mais importante na vida do sertanejo. Dos 25 domicíliospesquisados, 22 usam água do açude, 19 tem cacimba de minação ( poço d�água ), 17 usamo chafariz, cuja água vem da Serra da Capivara. A água é guardada em caldeirões, tamborese potes. A situação de abastecimento fica precária no período seco do ano, quando o açude sereduz a uma poça, onde chafurdam animais, porém, infelizmente, a água continua a ser usada,o que contribui para o alto índice de verminose. Na seca, os povoados de São RaimundoNonato são socorridos por caminhões pipa, todavia, a distribuição de água é feita de formaclientelista, pelo prefeito e vereadores que favorecem os seus �currais� eleitorais. SegundoAmorim ( 1993 ), neste período é que coronéis e políticos mais lucram, pois, contratamcaminhões-pipa fantasma, ficando com os recursos, e a água não chega à população; é a�indústria da seca�. Conforme tratamos no Cap. II item 1.3., o abastecimento depende muitodos açudes, todavia, os poços artesianos fornecem água de boa qualidade. De acordo com oprofessor Aldo Cunha Rebouças ( in Amorim, 1993 ), a estratégia da construção de grandesaçudes é equivocada, pois o Semi-Árido tem reservas de águas subterrâneas com potencial deaté 9 bilhões de metros cúbicos por ano, os poços profundos dispensam investimento comcaptação, adução, tratamento, e certamente combateriam a �indústria das secas�. As águassalobras produzidas pelos poços podem ser dessalinizadas por técnicas que utilizam fontes deenergia solar. As águas servidas são desperdiçadas, quando poderiam ser tratadas e reutilizadaspara outros fins que não sejam o consumo humano.

Em São Raimundo Nonato, como na maioria dos municípios brasileiros, não hácoleta do esgoto, tampouco em Várzea Grande, onde a amostragem revelou que a metadedos domicílios não tem fossas sanitárias, e todos amontoam o lixo no fundo do quintal, semnenhum tratamento.

A simples observação dos moradores de Várzea Grande, revela pessoas de aparênciamagra e crianças com raquitismo. Ao serem indagadas sobre as principais doenças que afetama família, a amostragem indicou três níveis de freqüência de respostas, que são:

17 Foram amostrados 25 domicílios, porém quatro questionários tiveram o quesito �estrutura familiar� prejudicado.

Page 58: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

58 Série Meio Ambiente Debate, 13

a) Alta freqüência - diarréia, gripe, coração e coluna;b) Média freqüência - dor de cabeça, chagas, derrame, hepatite;c) Baixa freqüência - câncer, convulsão, paralisia infantil, sarampo.

Os moradores dos domicílios amostrados mostraram ter um largo conhecimentoda flora nativa e a sua utilização com fins terapêuticos. Para quase todas as dores e doençasexistem diversas plantas que são usadas com fins medicinais. Entretanto, usam também remédiosalopáticos, atendem as campanhas de vacinação, e pulverizações sanitárias são feitas pelaSUCAM ( Superintendência de Campanha Contra a Malária ).

A FIOCRUZ ( Fundação Osvaldo Cruz ) tem trabalhado na área de estudo e verificouque as crianças menores de cinco anos sofrem de uma �alta prevalência de desnutrição protéico-calórica� (60%). As crianças apresentam mucosas hipocoradas, pele e cabelos ressecados eedemas, sintomas do parasitismo por Ancilostomídeos, Entamoeba, Tênia e outros. A doençade Chagas é freqüente na área e a SUCAM diz estar combatendo. Com este quadro, fecha-seo �Clássico ciclo de pobreza-desnutrição-verminose-diarréia� ( ARAÚJO et al., 1991; IPARJ/FUNDHAM, 1987 ). É necessário combater este quadro, incentivando o uso dos conhecimentosda medicina natural popular, bem como o tratamento nos postos de saúde.

As moradias dos habitantes de Várzea Grande são de alvenaria com paredesrebocadas e telhas coloniais. Tijolos, telhas e madeiras são produzidos nas redondezas. Ascasas da rua principal (BR-020) são maiores e os cômodos frontais são usados para algumtipo de comércio. De acordo com a amostragem, metade dos domicílios tem privadas comfossa; um quarto possui quintais com canteiros para verduras, plantas frutíferas e medicinaispara o uso cotidiano. Dentre 25 casas amostradas, 20 são próprias, 5 cedidas, nenhuma alugada.As casas dos sítios são de taipa, sem reboco, o que facilita a proliferação do vetor da doençade Chagas o barbeiro ( Triatomídeo ). Segundo IPARJ/FUNDHAM ( 1987 ), muitas famíliaspossuem também uma �casa de roça� que tem um cômodo, construída com madeira nativa,e usada nos dias de trabalho nas épocas de plantio, capina e colheita.

Lima ( 1984 ) enfatiza que na ecologia humana, para a compreensão do processointerativo homem-natureza é essencial o entendimento das relações de trabalho e o modo deprodução da comunidade em estudo. A amostragem realizada na Várzea Grande revelou quea totalidade dos cabeças de família, exercem, ao menos uma vez por ano, a atividade deagricultor. Outras profissões são referidas como associadas à atividade de agricultura, tendo amaior freqüência ( 28% ): profissões ligadas ao corte, transporte e consumo de lenha ( caieireira,lenhador, motorista, pedreiro e oleiro ). Existem muitos pontos de comércio e bodegas, mas aextração de lenha para as caieiras já mobiliza 28% da mão-de-obra, especialmente no períodoseco do ano. O rendimento familiar médio mensal ( domicílio com 6 pessoas, foi estimado emCr$ 30.000,00, equivalentes a US$ 59 (em 1991), quando o salário mínimo era de Cr$42.000,00 (US$ 82). Quando os anos secos se sucedem, aumenta o desemprego e cresce aemigração, dirigida principalmente para São Paulo, Brasília, Goiás, Pará e São RaimundoNonato. São então criadas as �frentes de emergência�, onde os trabalhadores são contratadospara tarefas, como construção de barragens, caldeirões, estradas, capina, em troca de pequenossoldos. Quando começa a chover, muitos migrantes retornam.

A investigação da produção agrícola, baseada na amostragem, revelou que produz-se basicamente milho, feijão, mandioca e caju. Dentre 25 entrevistados, 19 plantam milho, àmédia de 1,8 ha por propriedade por ano, que produz uma média de 8,7 sacos por hectarepor ano; segundo o Censo Agropecuário ( 1985 ) a produção média de São Raimundo Nonatofoi de 7 sacos/ha.18 Dezesseis propriedades plantam feijão, à média de 1,4 ha/propriedade/ano, que produzem 3 sacos/ha/a, enquanto a produção média de São Raimundo Nonato foi

18 Cada saco pesa 60 Kg.

Page 59: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 59

de 4 sacos/ha/a. Somente três propriedades informaram o plantio de mandioca, e uma, oplantio de caju. Os agricultores revelaram que comercializam 30% da produção do milho e20% do feijão. Boa parte do milho é usada para alimentar os animais, e o feijão é paraconsumo humano. As técnicas de plantio são rudimentares, usando-se o arado puxado poranimais e enxada; e somente um entrevistado possui trator; 60% usam sementes próprias,30% usam sementes compradas, em secas prolongadas a tendência é consumir as sementesreservadas para o plantio; 40% usam adubo ou agrotóxico. Doze dos entrevistados receberamapoio do Projeto Sertanejo. Todos mantêm um bosque de reserva para extração de madeira,umbu e mel. As madeiras mais usadas para a construção das moradias são, birro (Diptychandraepunctata), angico ( Andira vermifugo ), aroeira ( Astronium urundeuva ), vara branca ( elicteresspp .), pau d�arco ( Tabebuia spp. ); as espécies mais usadas para fazer cercas são, birro(Croton spp ), marmeleiro ( Alibertia sp. ), cangaeiro ( Pterodum abruptus ), que duram emtorno de dez anos; as espécies preferidas para o consumo doméstico são, marmeleiro ( Alibertiasp. ), cangaeiro ( Pterodon abruptus ), pau-de-rato ( Caesalpinia bracteosa ), jurema ( Mimosaspp., Acácia spp. ).

Não foi possível avaliar quantitativamente o rebanho total de Várzea Grande, todaviahá uma composição qualitativa semelhante a São Raimundo Nonato, onde o maior rebanhoé de caprinos, seguido de suínos e bovinos ( Tabela 7 ). É grande a proliferação de muares,que são empregados para o transporte, especialmente de água. A pecuária é extensiva. Dos25 entrevistados, 9 informaram que o gado é criado livre, e quatro que o gado é criadoestabulado. Quatorze criadores responderam que criam gado para consumo e 9 responderamque criam para consumo e venda. Emperaire ( 1987 ) avaliou que a Várzea Grande foi umdos centros pecuários mais importantes de São Raimundo Nonato, exportador para outrosestados durante o ciclo da cana-de-açúcar. Hoje a criação é voltada para o consumo familiarde leite e carne; poucos fazendeiros possuem grandes rebanhos. O rebanho é atacado porverminoses, aftosa e bicheira, e durante secas prolongadas quase todo gado sucumbe.

Silva et al. ( 1986 ), concluiu que existe um elevado grau de concentração de terrano Piauí, que tem uma relação causal com a concentração de renda. Em São RaimundoNonato, ocorreu um processo de concentração crescente de terras, a partir de 1950. Em 1982,apenas 5% da superfície eram ocupadas por 54% dos estabelecimentos, com o tamanho daordem de 10 a 50ha; dos informantes, 95% se declararam proprietários. Os principais fatoreslimitantes da produção agropecuária são:

a) irregularidade pluviométrica;b) injusta concentração de terra;c) falta de assistência técnica;d) falta de armazéns;e) inexistência de cooperativas;f) o mais grave fator é a dificuldade ao acesso do crédito bancário para financiar a

produção (IPARJ/FUNDHAM, 1987 ).O comércio em Várzea Grande tem um caráter local, com a presença de empórios,

bares e bodegas, que se concentram na rua principal. Os empórios maiores pertencem agrandes proprietários de terras e de caminhões que transportam madeira e cal, que mantêmrelações comerciais com os caieireiros.

O Parque Nacional da Serra da Capivara e o seu entorno, inclusive a Várzea Grande,contêm um dos mais importantes patrimônios cultural e arqueológico do país. A cultura pretéritade Várzea Grande foi muito rica, porém, sua cultura recente tem sido influenciada por fatoresexteriores. Entre os cidadãos varzeanos, os laços familiares são fortes e a base da sociedade éa família nuclear (marido, mulher e filhos), que também é a unidade de produção e consumo.Tanto em São Raimundo Nonato como em Várzea Grande, existem grandes famíliastradicionais, ocorrendo muito casamento interparental. Geralmente, no meio rural, os filhos

Page 60: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

60 Série Meio Ambiente Debate, 13

ao se casarem, constroem uma nova moradia na propriedade do pai ou sogro, ou abremnovas roças em posse onde é muito comum a troca de dias de trabalho entre parentes ecompadres. Existe um código de honra, baseado na união familiar e na valentia, em que oassassinato de um membro da família é cobrado com a morte de qualquer pessoa, em qualquertempo, da outra família ( IPARJ/FUNDHAM, 1987 ).

A religião católica é majoritária entre os cidadãos de São Raimundo Nonato eVárzea Grande, porém o protestantismo tem crescido paulatinamente. Os santos padroeirossão reverenciados em grandes festas regionais, São Raimundo Nonato em 31 de agosto e SãoPedro, que é o padroeiro da Várzea Grande, comemorado em 29 de junho. Existe, também,uma grande devoção por São Gonçalo, cujas Rodas de São Gonçalo ocorrem o ano inteiro,com a participação de grupos musicais e de dança, onde são usados ornamentos de cipó comflores silvestres. O Reizado ainda é cultuado, com grupos de músicos e cantores que se deslocamde casa em casa.

Resumindo o exposto acima, pode-se afirmar que as condições sociais gerais dacomunidade são precárias. A renda familiar média, US$ 58, está abaixo da linha da miséria,que segundo o Banco Mundial é US$ 60. A densidade populacional é baixa, mas a prole énumerosa. O nível de analfabetismo é alto. A água é escassa e as condições de saneamentoruins. A desnutrição é evidente e há alto índice de parasitismo. As habitações são razoáveis,embora ainda haja taipa. A atividade mais importante e impactante é a agropecuária; a extraçãode madeira e as caieiras empregam boa parte da mão-de-obra, mas são altamentedesagregadoras do meio ambiente. Apesar dos percalços da vida difícil, o cidadão varzeanomantém os seus cultos religiosos e tradições culturais vivos.

A SUDENE tem desenvolvido um sistema de informações, que foi implantado em1979, o Sistema Regional de Indicadores Sociais do Nordeste ( SIRI ), que dispõe de umalistagem de 132 indicadores, divididos em 11 grupos. SUDENE ( 1987:204 ), ao analisar osresultados da política regional e a pobreza social, entende que o crescimento econômico nãose refletiu, direta e extensivamente, na melhoria dos padrões sociais, pois, �empobreceu avida na feroz ilusão de enriquecê-la�. Assim, o Nordeste detém as mais altas taxas de mortalidadeinfantil do Brasil; o menor índice de esperança de vida ao nascer ( em torno de 50 anos );metade dos analfabetos do País ( cerca de 11 milhões de pessoas ); baixíssimos índices derendimento� ( 36% estão classificados na faixa de subutilização da força de trabalho ); 89% darenda está concentrada na metade mais rica, e 11% na metade mais pobre que é submetida acondições subumanas ( op. cit. ).

O IPEA (1993) no �MAPA da FOME II: Informações Sobre a Indigência porMunicípios da Federação�, baseado em metodologia da CEPAL e segundo os requerimentosnutricionais recomendados pela FAO/OMS/ONU, concluiu que no Município de São RaimundoNonato existem 9.225 famílias em estado de indigência. Apesar deste quadro, o importante éque o povo continua trabalhando e lutando contra a injustiça social, e cabe ao governo, àuniversidade, aos intelectuais e a todos o segmentos da sociedade buscarem alternativas emtodos os campos para viabilizar o desenvolvimento sustentado no Nordeste.

3.2. As CaieirasA atividade caieireira se constitui numa das principais ocupações e problemas do

povo de Várzea Grande, por isso mereceu um estudo detalhado. As caieiras estão localizadas,aproximadamente, 10 km a sudeste do povoamento, nas proximidades do PARNA. A atividadecaieireira iniciou-se em 1958, no entorno dos maciços calcários, localizados nos sopés dofront de cuesta, na região de Várzea Grande. Os maciços mais importantes são: o Boqueirãoda Pedra Furada, Morro do Garrincho ( onde já se produziu cimento ) e os Serrotes do Antôniãoe do Artur, onde estão as caieiras. Os serrotes calcários, são componentes do grupo Salgueiro,têm formas arredondadas ou ovais, constituídos de calcário intraformacional de fácies muito

Page 61: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 61

finas e marmorizado, finamente estratificado, de cor cinza.A caieira constitui-se de um forno aberto, de queima direta. O forno tem o formato

cônico, com 4,8m de altura; 5,2m de diâmetro na base; 4,2m de diâmetro no topo e paredesde 0,7m. Suas medidas internas são: 4m de diâmetro na base; 3,20m de altura e 0,8m deprofundidade ( abaixo da superfície ). A caieira tem três janelas de 0,6m de diâmetro, naaltura do solo, onde é introduzida a lenha e retirada a cinza.

Fases da Produção de uma Caieira:

Extração de Calcário - é o período mais longo e que demanda maior trabalho.Implica em quebrar enormes blocos no alto do maciço calcário e empurrá-los para a base.Acendem-se fogueiras no interior das galerias, que por dilatação rompem os blocos que sãodeslocados por alavancas. Na base do maciço, os blocos são fragmentados em pedaços menores,com uso de marretas. Três trabalhadores gastam aproximadamente 30 dias para quebrar ocalcário suficiente para uma caieira .

Amarração - o muro externo da caieira é construído e sempre mantido. Numerosascaieiras vazias são encontradas no entorno dos maciços calcários. Do lado interno do muro dacaieira, inicia-se a amarração do seu teto interno, amontoando-se pedra sobre pedra, que aofim, configuram um iglu, com diâmetro interior de 4m e altura de 3,20m. Esta fase dispendeum dia de trabalho e só é possível ser realizada com o concurso de 6 trabalhadores. Neste diasão convidados parentes e compadres para ajudar. Este dia de trabalho será retribuído naamarração das caieiras dos participantes.

Enchimento - com o calcário já lascado, inicia-se o preenchimento do espaçoentre o muro e o teto da caieira, pedra sobre pedra, até a caieira tomar a sua configuraçãocônica. Esta tarefa é realizada por 2 ou 3 trabalhadores, que dispendem de 2 a 3 dias detrabalho, dependendo da distância do monte de pedras até a caieira. Em seguida, faz-se oembarramento da parte externa do muro, tapando-se as frestas com argila, para o fogo e afumaça saírem somente pelo topo.

Queima - com o fim do descarregamento dos 7 caminhões de lenha (126st),inicia-se a queima da caieira que durará 48 horas ininterruptas. A lenha é introduzidaintermitentemente pelas três janelas; a cinza ( borra ou burrai ) é retirada, de hora em horacom uma longa haste de madeira. Este trabalho é pesado e insalubre, pois a temperaturaperto do forno é muito alta. São necessários 6 trabalhadores que se revezam no forno. Oconsumo de água potável é alto. Seu fornecimento é realizado em tambores pelo dono docaminhão que transporta a madeira. O dono da caieira fornece as refeições e paga os caieireiros;em março de 1991, as 48 horas de um trabalhador na queima, custavam Cr$ 3.000,00.Durante o dia, o rolo preto de fumaça é avistado à longa distância na Caatinga; à noite, aschamas que escapam entre as pedras oferecem um bonito espetáculo .

Carregamento - com o fim da queima, aguarda-se pelo menos um dia para oresfriamento. Então, o teto da caieira é golpeado e a cal desaba para o fundo. Inicia-se ocarregamento da cal, que despende no máximo 2 dias. O dono do caminhão que forneceu amadeira, é quem retira a cal e a transporta para os centros consumidores, Remanso, Teresina,São Raimundo Nonato, etc.

Page 62: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

62 Série Meio Ambiente Debate, 13

Tabela 22Fases de produção, tempo gasto e número de trabalhadores empregados numa Caieira

FASES DE PRODUÇÃO TEMPO GASTO (DIAS) Nº DE TRABALHADORES

FIXO TEMPORÁRIOEXTRAÇÃO 30 03 -AMARRAÇÃO 01 03 03ENCHIMENTO 03 03 -QUEIMA 02 03 03CARREGAMENTO 02 03 -

T O T A L 37 03 06

A estimativa mostrada na Tabela 22 é válida para o período seco (maio a outubro),quando as condições são ideais para esta atividade. Por outro lado, no período das chuva(novembro a abril) tudo se complica, é difícil trabalhar sob a chuva, a extração e transporte damadeira são lentos, os caminhões atolam facilmente, e a maior parte dos caieireiros se tornamagricultores e vão plantar suas roças de subsistência.

As caieiras estão sempre localizadas bem próximo aos serrotes. O local é escolhidocom base em dois critérios, o mais importante é a distância da caieira ao local onde está ocalcário que é extraído e fragmentado, isto porque todo o trabalho é feito de forma manual,inclusive as pedras são transportadas em carrinho de mão. O segundo critério é a qualidadedo calcário. No dizer dos caieireiros, o calcário cinza-azulado escuro é o melhor para a queima.Em função destes critérios, ocorrem as mudanças de operação, todavia velhas caieirasabandonadas, freqüentemente, são reutilizadas.

As caieiras têm um tamanho padrão, havendo pouca variação nas dimensões.Uma caieira que tenha as dimensões, conforme foi descrita acima, produz de 4 a 5 carradasde cal. Uma carrada contém 100 cargas, e uma carga é composta por 4 latas de 18 l. Portanto,uma �carrada� contém 400 latas, logo quatro �carradas� equivalem a 28.800 l ( 28,8m3 ) decal, ou seja, a produção de uma caieira.

A extração do calcário, conforme foi descrita acima, é a atividade mais trabalhosa,e tem muitas implicações ambientais e sócio-culturais. ALVES ( 1991 ) estudou as atividadesminerárias sobre as cavernas e mostrou os prejuízos causados ao patrimônio espeológico,com a degradação da entrada e entorno das cavernas, destruição dos espeleotemas eperturbação da flora e fauna cavernícola. Destaca-se também o impacto negativo sobre osvestígios pré-históricos de cunho arqueológico e paleolontológico. O turismo também éprejudicado devido a destruição das cavernas.

A atividade caieireira de Várzea Grande provoca todos estes impactos enumeradospor ALVES, de forma intensa e descontrolada. IBAMA ( 1991a ) enfatiza que o patrimôniocultural e arqueológico preservado na área do PARNA é o mais importante das Américas e umdos mais significativos do mundo. Os maciços calcários possuem cavernas que foram abrigosdos povos pré-históricos e encerram inúmeras inscrições rupestres catalogadas pela FUNDHAM,sítios arqueológicos e paleontológicos, onde já foram feitas importantes descobertas. Diversosinstrumentos legais exigem o EIA/RIMA para a exploração do calcário19. Mas, conforme Alves(1991) pequenos empreendimentos familiares, como as caieiras, jamais poderiam apresentar,sequer um estudo prévio de impacto ambiental, por limitações técnicas e financeiras.

19 Resoluções do CONAMA nº 887 ( 15/08/90 ), Decreto nº 99.556 ( 01/10/90 ).

Page 63: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 63

Certamente, este é o mais complexo e grave problema sócio-ambiental de Várzea Grande.Por um lado, o patrimônio cultural, arqueológico e paleontológico está sendo destruído, poroutro lado a atividade caieireira é a única alternativa de sobrevivência, durante os mesessecos, para inúmeras famílias. Nos anos de seca, compõe-se um quadro de estresse ambientalsimultâneo ao estresse social.

Conforme foi discutido no item 2.4. deste capítulo, o consumo anual de lenha dascaieiras em 1991 foi estimado em 7.938st que contribuiu para desmatamento de 793ha/a.Esta lenha, é toda extraída do entorno de Várzea Grande. O Mapa de Antropismo ( emApêndice) mostra as áreas antropizadas em todos os quadrantes do entorno da Várzea Grandee dos povoados Santo Antônio, Maravilha, Barro Vermelho, Santa Luzia, Lagoinha, assimcomo as margens da estrada que liga Várzea Grande à barragem da Onça ( em construção ),Salina e Melosa. Os caminhões de lenha transitam livremente, sem controle ou fiscalização.MERCADANTE ( 1988:66 ) se refere a caieira como �um forno construído com os própriostijolos que se vão cozer� em pequenas olarias artesanais. A denominação de caieira paraolaria também é comum no nordeste, embora neste trabalho denomina-se caieira,exclusivamente, aos fornos para queima de calcário. O PNUD/FAO/BRA/87 ( 1990 ), propõealgumas ações para mitigar o impacto dos desmatamentos provocados pelo consumo de lenha,tais como, extensão florestal, plantações florestais para aumentar a oferta de lenha, manejoflorestal de mata nativa, substituição do carvoejamento e melhoria tecnológica dos fornos.Estas ações, embora contribuam para a racionalização do consumo de lenha, não apontamclaramente para o estancamento do desmatamento das florestas nativas, simplesmente reduzemo ritmo.

O que se tenta mostrar neste trabalho é que além destas propostas atenuantes decurto prazo, são necessárias proposições que, a curto, médio e longo prazo viabilizem aconservação das florestas nativas da Caatinga, de forma sustentada. É fundamental a fiscalizaçãona aplicação e respeito ao Código Florestal ( Lei 4.771, de 15/09/65 ), que no seu Art. 16limita e restringe a exploração das florestas nativas de domínio privado. Esta Lei, foi normatizadapela Portaria do IBDF, nº 039/88-P, de 04/02/88, a qual explicita que, para a Região Nordeste,( Art. 3º, Parágrafo Único ), �As propriedades que possuam acima de 90% (noventa porcento) de sua área com florestas, só será permitido o uso alternativo até o limite máximo de50% ( cinqüenta por cento ) de sua área total�, e que também, no Art. 4º, Inciso II, proíbe asqueimadas. A educação florestal e a aplicação da legislação em vigor serão medidas preventivas.Existem algumas proposições de ordem tecnológica, como a melhoria do rendimento dosfornos ( PNUD/FAO/IBDF, 1988, v. III ), entretanto são necessárias soluções substitutivas àqueima da lenha, com o uso de fontes alternativas de energia, como a energia solar, eólica eaté elétrica, caso a continuidade da queima do calcário seja inevitável, em função da variávelsocial.

A interação homem-ecossistema se manifesta através das relações de produção,que se refletem no modo e qualidade de vida ( LIMA, 1984 ); todavia, �a análise do significadosocial e econômico de qualquer atividade humana, em todos os seus aspectos relevantes, éuma tarefa naturalmente complexa� ( MERCANTE, 1988:85 ). Esta discussão limitar-se-á aosresultados do trabalho de campo, nos aspectos de mão-de-obra, rendimentos e comercialização.

Estimou-se que, em Várzea Grande, 90 pessoas são empregadas e 350 dependemeconomicamente das caieiras, trabalhadores, na sua maioria de Várzea Grande e entorno dascaieiras, e os demais, de outros povoados. Em 1991, as caieiras produziram 1.814m3 de cal,além de ter sustentado as famílias dos trabalhadores, o que revela a significância sócio-econômica das caieiras.

Com relação à propriedade, 90% dos caieireiros são arrendatários dos serrotescalcários e pagam uma renda ao proprietário referente ao calcário extraído para cada fornalha( Cr$ 10.000,00 em fevereiro de 1992 ). Alguns proprietários de serrotes também produzem

Page 64: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

64 Série Meio Ambiente Debate, 13

cal ( 10% ). O grupo que trabalha numa caieira geralmente é familiar, mas poucos trabalhamcomo empregados diaristas ( Cr$ 500,00 a diária em fevereiro de 1992 ). O caieireiro tem como madeireiro, que entrega a madeira na caieira, uma relação de �meeiro�, ou seja, em troca damadeira, o madeireiro toma uma metade da produção da caieira, mas o caieireiro não temveículo, então o madeireiro também leva a outra metade do caieireiro - toda a produção dacaieira ( 4 �carradas�, 29 m3 de cal ) - para ser comercializada nos centros consumidores.Cada carrada foi paga ao valor de Cr$ 9.000,00, ou seja uma fornada de caieira rendeu Cr$360.000,00, sendo Cr$ 180.000,00 para o caieireiro e Cr$ 180.000,00 para o madeireiro (apreços de fevereiro de 1992), obviamente estes valores são estipulados pelo madeireiro, poisos centros consumidores estão distantes das caieiras, o que não permite que os caieireirostenham a menor noção do preço real de mercado na venda da cal. Os madeireiros, tambémpossuem mercearias e vendem víveres e outros produtos aos caieireiros, que são entreguesnas caieiras, ou buscados em Várzea Grande aos domingos. O caieireiro tem uma �conta� namercearia do madeireiro, que está sempre devedora, e é paga com a cal. Segundo DIEGUES( 1983 ), que estudou o modo de produção de pequenas comunidades, as formas deorganização social da produção são definidas a partir das relações de produção existentes, omodo de produção e comercialização das caieiras, baseado na exploração de recursos naturaise uso da força de trabalho humano, é capitalista. Entretanto, a atividade caieireira apresentaalgumas características pré-capitalistas, tais como, núcleo de trabalho familiar, emboraconstituído exclusivamente por homens; dependência de recursos e ciclos naturais ( atividadeé mais intensa na seca ); sistema de trocas, de jornadas de trabalho entre familiares e compadres,trocas de madeira por cal e cal por suprimentos; pouco ou quase nenhum dinheiro os caieireirosconseguem capitalizar. Durante o período das chuvas o trabalho é voltado para a agriculturade subsistência, de forma que se tem a categoria mista caieireiro-lavrador. Segundo DIEGUES( 1983 ), existem outros sistemas de relações de trabalho e produção semelhantes, como osdos pescadores-lavradores e pescadores artesanais (pequena produção mercantil). Osextrativistas, especialmente os seringueiros, também vivenciam um modo de produção similar,onde o núcleo produtivo é familiar, praticam agricultura de subsistência, e se submetem atrocas nos �barracões� com os �patrões adiantadores� ou com os �marreteiros� ( CNS-ConselhoNacional dos Seringueiros - 1991, 1992a, 1992b ).

Em resumo, a atividade caieireira provoca fortes impactos negativos sobre osafloramentos calcários e os respectivos patrimônios arqueológicos e paleontológicos, de formairreparável. É também responsável pela maior parte do incremento de desmatamento da regiãoda Várzea Grande nas proximidades do PARNA. Por outro lado, 350 pessoas dependemeconomicamente das caieiras. O IBAMA já tentou paralisar as caieiras, todavia o apelo socialé muito forte. Perante os conflitos gerados pelo IBAMA e FUNDHAN que defendem opatrimônio natural e cultural, e pelos caieireiros que lutam pela subsistência, são necessáriassoluções urgentes. Certamente, os patrimônios cultural e natural devem ser preservados, todavia,há de se buscar alternativas de sobrevivência para os caieireiros, tais como: assentamentofundiário, criação de empregos nos trabalhos arqueológicos, desenvolvimento de projetosagroflorestais e atividades ligadas ao PARNA.

3.3. O Parque Nacional da Serra da CapivaraO estudo do Parque Nacional da Serra da Capivara, bem como das comunidades

humanas que habitam seu interior e entorno, constituiu-se num dos pontos centrais destadissertação. A interface área protegida/comunidade tem sido pouco investigada no Brasil,mas, certamente, é um dos objetos mais profícuos para a ecologia humana, especialmenteporque são muitos os ecossistemas a se preservar e enormes problemas sociais a seremsolucionados. Objetiva-se aqui compreender a dinâmica evolutiva da criação do PARNA, oseu impacto sócio-ambiental sobre as comunidades e as interrelações entre ambos - PARNA ecomunidades humanas.

Page 65: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 65

3.3.1. A Criação do Parque Nacional da Serra da CapivaraO Parque Nacional da Serra da Capivara foi criado no dia 05 de junho de 1979,

através do Decreto Presidencial no. 83.548, com a área de 100.000ha, com a finalidade precípuade proteger a flora, a fauna, as belezas naturais e os monumentos arqueológicos.

A arqueóloga Drª Niede Guidon recebeu as fotografias das pinturas rupestres em1963, no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e posteriormente,visitou São Raimundo Nonato, em 1970. Trabalhou em Paris para organizar a primeira MissãoFranco-Brasileira do Piauí, que que esteve na região em 1973. A Missão retornou à área em1975 e solicitou ao governador a criação do Parque Nacional, o que se efetivou em 1979. ODecreto Presidencial no. 99.143, de 12 de março de 1990, criou três Áreas de ProteçãoPermanente, anexadas ao PARNA, o que elevou a sua área para 129.140ha e seu perímetro a214 km.

Segundo a FUNDHAM, Fundação Museu do Homem Americano, fundada em1986 para administrar as atividades da Missão, as características que mais pesaram na criaçãodo PARNA foram:20 �ambientais - área semi-árida, fronteiriça entre duas grandes formaçõesgeológicas, a bacia sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão periférica do rio São Francisco,com paisagens variadas nas serras, vales e planícies, com vegetação da caatinga. O PARNAda Serra da Capivara é o único Parque Nacional situado no domínio morfoclimático dascaatingas), a unidade abriga fauna e flora específicas e pouco estudadas; culturais - na unidadeacha-se a maior concentração de sítios arqueológicos atualmente conhecida nas Américas, amaioria com pinturas e gravuras rupestres, nos quais se encontram vestígios extremamenteantigos da presença do homem ( entre 50.000 e 60.000 anos antes do presente ); turísticas -com paisagens de uma beleza natural surpreendente, com pontos de elevação privilegiados,esta área possui importante potencial para o desenvolvimento da região, cujos recursos naturaissão limitados pelas épocas de seca�.

Em decorrência da enorme repercussão nacional e internacional dasdescobertas arqueológicas realizadas pela FUNDHAM, o governo brasileiro requereu em 1990,o reconhecimento do Parque Nacional da Serra da Capivara como Patrimônio Natural e Culturalda Humanidade, que foi concedido, pela UNESCO em dezembro de 1991.

3.3.2. - Processo e impacto da implantação do Parque Nacional da Serra da CapivaraQuando foi criado o Parque Nacional da Serra da Capivara, havia muitas

famílias, distribuídas em diversas comunidades, vivendo dentro do Parque, tais como: Zabelê,Serra Vermelha, Sítio do Mocó, Barriguda, Queimada Nova, São João Vermelho, Cambraia,etc. Os modos e qualidade de vida destas famílias são semelhantes àqueles que habitavam aVárzea Grande.

O Código Florestal e o Regulamento dos Parques Nacionais determinam quenenhuma comunidade humana pode continuar morando ou trabalhando dentro do Parque,após a sua criação. Em 1984, o antigo IBDF firmou convênio com o INTERPI - Instituto deTerras do Piauí para fazer a delimitação, o levantamento fundiário e a avaliação do número dehabitantes do interior do Parque. O convênio expirou e o INTERPI não realizou o trabalho.Em 1987, o IBDF firmou um novo convênio com o IPARJ - Instituto de Pesquisas Antropológicasdo Rio de Janeiro, que após um confuso levantamento, concluiu que existiam 118 famíliasdentro do PARNA.

A questão fundiária se traduz no maior entrave para a implantação de quasetodos os Parques Nacionais, pois estes são criados sobre terras de propriedade particular, oque gera grandes conflitos, primeiro porquê as comunidades rurais não desejam abandonar

20 A FUNDHAM foi contratada pelo IBDF em 1988 para elaborar o Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Capivara, tarefa que

foi concluída em 1991.

Page 66: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

66 Série Meio Ambiente Debate, 13

suas terras, que ocupam tradicionalmente, e segundo porque o governo não tem recursospara indenizar os camponeses. As estações Ecológicas criadas pela extinta SEMA, nãoapresentaram estes conflitos, pois foram criadas basicamente sobre terras públicas.

A socióloga Maria Cristina POMPA ( 1987 ) da ONG - Organização Não-governamental italiana Terra Nuova realizou um interessante estudo sociológico sobre osconflitos gerados com a implantação do PARNA. Baseada em Lygia Sigaud, ao estudar aquestão do impacto social sobre as comunidades rurais, POMPA afirma:

�Um parque nacional ou uma hidroelétrica não diferem na medida em que suasimplantações determinam profundas quebras tanto na estrutura social quanto no sistema derepresentações da população camponesa evolutiva. Similares são, não as reações mas osmecanismos lógicos utilizados pelos grupos para se reproduzir como cultura, isto é, para darsentido� (...) �a um mundo que está se perdendo na medida em que está se perdendo oelemento que na prática e simbolicamente constitui o �centro de referência para uma sociedadecamponesa: a terra�. ( POMPA 1987:15 ).

Os pesquisadores da Missão Franco-Brasileira, nos anos que antecederam a criaçãodo PARNA, mantinham contatos informais com as comunidades e tentavam conscientizá-lasda importância da preservação do patrimônio arqueológico e da criação do PARNA. O IBDFnunca realizou trabalho sociológico junto às comunidades em nenhum parque, sendo a suaprática, a indenização e/ou expulsão dos camponeses das áreas dos parques. Segundo POMPA( 1987 ), no horizonte ideológico do IBDF as pessoas são um problema para o Parque e nãovice-versa. De forma que, para muitas famílias, o primeiro contato com o problema, foi comos funcionários do INTERPI em 1984, que ao realizarem os trabalhos topográficos, avisaramque aquela terra pertencia ao Parque.

POMPA ( 1987 ) tomou o povoamento do Zabelê como referência para o seuestudo, e identificou algumas fases no desenrolar do conflito. De 1979 a 1986, o único trabalhorealizado foi o levantamento fundiário. Esta situação, somada ao período de seca, levavamuitas pessoas a afirmarem, com relação à indenização, que qualquer coisa é melhor do queficar aqui preso, sem poder plantar, sem poder caçar, sem poder tirar madeira. Em fevereiro de1987, a crise estava instalada, com muitas insatisfações e ameaças ao IBDF. Este momento foiintermediado pela Missão, na pessoa da Drª Guidon, que gozava da confiança do povo doZabelê, de forma que o Zabelê se sentia aliado à Missão, contra o IBDF e o INTERPI. A partirde maio, o IPARJ começou a fazer o levantamento fundiário, então, o quadro de aliançasmudou, o INTERPI passou a defender o Zabelê, que também ganhou o apoio do Sindicatodos Trabalhadores Rurais de São Raimundo Nonato contra os donos do Parque-Fazenda(IBDF ), juntamente com o IPARJ e a Missão. Passada a fase crítica, chegou-se a uma situaçãomais equilibrada, onde o INTERPI acenou com o reassentamento em lotes às margens darodovia PI-040, o que nunca aconteceu; e a Missão, juntamente com o IPARJ, realizou umtrabalho de educação ecológica, explicando aos agricultores �o que era afinal este Parque-Fazenda�, reatando o vínculo de confiança. Em 1987, vislumbravam-se as seguintes soluções:

a) indenização da propriedade e benfeitorias pelo IBDF, entretanto, a maioria dosmoradores são posseiros e suas culturas temporárias (não indenizáveis);

b) indenização pelo IBDF e reassentamento. Foi a proposta mais desejada pelosagricultores, todavia, com a criação do PARNA, as terras devolutas do entorno, valorizadas,foram tituladas pelas pessoas mais influentes e o INTERPI não reassentou ninguém;

c) permanência dos grupos humanos na área do PARNA. Acompanhada de umprograma de educação ecológica, esta proposta foi defendida pelo IPARJ e FUNDHAM, e seconstituiria numa inovação na gestão de parques e comunidades, seguindo a tendênciaconservacionista internacional, porém, o Código Florestal e o Regulamento dos ParquesNacionais, proíbem.

Page 67: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 67

Concluindo, somente os moradores do centenário Zabelê foram indenizados, dosquais, poucos conseguiram adquirir novas terras, uma parte emigrou para os povoados doentorno, e outra parte se favelizou no entorno de São Raimundo Nonato. A maioria doscamponeses continua no Parque, atualmente existem 86 famílias, sem nenhuma soluçãoplausível para o problema.

Com o objetivo de esclarecer o caráter das presentes relações ecológico-humanas,na interface Parque/Comunidade, bem como o estado de ânimo da comunidade, utilizou-se oroteiro de entrevista e contatos informais, que foram aplicados em Várzea Grande, e propiciaramo quadro seguinte. À pergunta: �Já morou na área do Parque?�, vinte entrevistados ( 80% ),responderam sim, e cinco entrevistados ( 20% ) responderam não, 70% se retiraram do Parqueapós a sua criação, e 30% antes da sua criação. Isto mostra que a criação do PARNA provocouuma migração, com o incremento populacional de Várzea Grande. Dos entrevistados, 70%afirmam ter, ou já ter tido, propriedade no PARNA, e afirmam �ainda tenho esperança de serindenizado� ou �ainda tenho esperança de conseguir outra terra�. O tempo mensurável demoradia no PARNA variou de 15 a 66 anos, e a média de tempo que se morou no PARNA foide 40 anos, alguns responderam que, �sempre morei no parque� ou �moramos no parquedesde a época do meu bisavô�; 60% dos entrevistados afirmam usar o Parque com o fim depassear e se divertir aos domingos. À pergunta, se o Parque trouxe benefícios ou malefícios àcomunidade, 75% responderam que trouxe malefícios, 20% responderam que trouxe benefíciose 5% responderam que trouxe benefícios e malefícios; no primeiro grupo ( malefícios ) ouviram-se os seguintes depoimentos: �trouxe malefício, porque não podemos mais plantar e caçar nasnossas terras�, �foi ruim porque saímos de nossas terras e nunca recebemos indenização�; nosegundo grupo de respostas ( benefícios ) ouviram-se os seguintes depoimentos: �foi bomporque arrumamos emprego�, �é bom porque estão construindo um grande caldeirão para opovo do serrote�; no terceiro grupo ( dos que responderam que o Parque trouxe benefícios emalefícios ), foram coletados os seguintes depoimentos: �acho que vai trazer coisas boas, anão ser que tire as pessoas dos seus lugares�, �se o Parque trouxer benefícios para o lugar ébom, quando o Parque desabriga as pessoas acho ruim�. �Prá Várzea Grande não, pro Mocósim�.

Os resultados apresentados acima, permitem as seguintes constatações importantes:a) os habitantes da Várzea Grande, na sua maioria, deixam claro a sua rejeição

pelo Parque;

b) o problema central para os camponeses, é a perda da terra e sua conseqüenteexpulsão dos territórios a que estavam adaptados;

c) não foram apresentadas alternativas à perda da terra: nem indenização, tampoucoreassentamento;

d) não foi realizado um trabalho sociológico de consulta, ou de educação eorientação, tampouco de discussão e envolvimento da comunidade humana, no processo decriação e implantação do PARNA.

Os resultados aqui mostrados, se coadunam com o estudo realizado por POMPA(1987 ), porém mais dois fatos são relevantes, o primeiro é que Várzea Grande, devido ao seucontingente populacional e força política, conseguiu ficar fora do perímetro do Parque, esegundo, a área do Zabelê continuou integrando o Parque, mas os seus moradores foramindenizados, devido a sua mobilização. O problema das demais comunidades, internas aoParque, continua insolúvel. Os agricultores continuam trabalhando em suas terras e, conforme

Page 68: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

68 Série Meio Ambiente Debate, 13

pode ser observado no Mapa de Antropismo, existe o antropismo de 2.275ha dentro do PARNA.Esta situação de ocupação e atividades descontroladas, ocorre em vários Parques Nacionais.

3.3.3. O Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da CapivaraO Plano de Manejo é um instrumento de planejamento, teórico, metodológico e

operacional, cuja finalidade é ordenar a conservação de uma área a ser protegida, de acordocom os objetivos com que foi criada. Os Planos de Manejo são adotados mundialmente comoinstrumentos de conservação de áreas protegidas.21 Foi com o objetivo de ordenar aConservação do Parque Nacional da Serra da Capivara que o IBDF firmou um convênio coma FUNDHAM, em 1988, que foi aditivado em 1989, e o Plano foi concluído em 1991.

O Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Capivara constitui-se no maiscompleto e adequado Plano de Manejo elaborado no Brasil. A FUNDHAM conseguiu reuniruma excelente equipe multidisciplinar, constituída de pesquisadores de alto nível e conhecedoresda região do PARNA. O Plano de Manejo possui 593 páginas, e se constitui de uma parteonde é estabelecida uma completa caracterização da área da unidade, e uma segunda parte,onde são propostos o zoneamento e o manejo a ser adotado. A estrutura do plano é semelhanteaos Planos de Manejo já produzidos no Brasil, porém se diferencia dos anteriores pela qualidadee quantidade de informações e propostas. Entretanto, o Plano foi tímido ao tratar da inserçãodo PARNA no desenvolvimento regional, bem como da importância sócio-econômica e culturaldo Parque para as comunidades do entorno e dos municípios adjacentes. O Plano não secoadunou com o novo paradigma ecologista, ao não incorporar os princípios dedesenvolvimento sustentado, a este respeito, IUCN (1986:1) admite que:

�(...) as áreas protegidas, quando desenhadas e manejadas apropriadamente, sãoreconhecidas atualmente como oferecedoras de maiores recursos sustentáveis para a sociedade.Estas áreas desempenham um papel central no desenvolvimento social e econômico das áreasrurais e contribuem para o bem-estar econômico e da qualidade de vida dos centros urbanose seus habitantes.�

Não obstante, a FUNDHAM acerta ao propor investimentos no turismo, quepromoveria o Parque e criaria novo impulso para a economia local. Por outro lado, algumaslideranças de São Raimundo Nonato, entendem que o turismo beneficiará poucos e aumentaráindesejavelmente o custo de vida para a população.

O Plano de Manejo manifesta um caráter muito preservacionista ao não discutirpropositivamente a situação e o destino das comunidades do entorno. No item �Operações deExtensão�, ( pág. 411 ), a FUNDHAM afirma que os projetos devem ser �paliativos esubstitutivos de ações antrópicas�, mas que não resolverão problemas sócio-econômicos quedependem de política nacional. Esta afirmação é contraditória, pois a FUNDHAM já desenvolveum excelente trabalho com a comunidade do Sítio do Mocó, onde mantém uma escola-creche,ambulatório médico orientado pela FIOCRUZ e assistência social prestada pela ONG italianaTerra Nuova, trabalho este que a FUNDHAM começou a estender a outras comunidades doentorno do PARNA.

O Plano também é omisso com relação às comunidades que ainda vivem etrabalham no interior do PARNA, basta verificar os mapas de antropismo para constatar oantropismo recente. O Plano fez somente uma breve referência ( pág. 9 ) aos camponeses,�Estes ocupantes estão sendo indenizados na mediada da disponibilidade de créditos do

21 O Plano de Manejo está assim definido no Regulamento dos Parques Nacionais Brasileiros (Decreto no. 84.017, de 21 de setembro de1979) "Art. 6o. - Entende-se por Plano de Manejo o projeto dinâmico que, utilizando técnicas de planejamento ecológico, determine ozoneamento de um Parque Nacional, caracterizando cada uma das suas zonas e propondo seu desenvolvimento físico, de acordo com suasfinalidades."

Page 69: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 69

IBAMA�. É impensável que, após todos os conflitos sociais gerados pela criação do Parque ecom toda experiência histórica acumulada, não se possa conceber uma bem planejada soluçãopara as 86 famílias que ainda vivem no Parque; poderia se começar com um bom projeto deeducação ecológica. A única explicação que parece possível é a de que esta falta de focohumanista do Plano, está no fato da FUNDHAM tentar preservar os sítios arqueológicos aqualquer custo. Os sítios hão de ser preservados, mas a problemática social não pode sersecundarizada num ecossistema onde a condição social exige maior prioridade.

Não obstante as críticas acima, o Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra daCapivara constitui-se no melhor elaborado até o momento, por oposição aos planos de manejoanteriores dos Parques Nacionais, que se constituem num lastimável fracasso, pois não foramimplementados e pouco contribuíram para melhorar as condições dos Parques. O Plano deManejo do Parque Nacional de Sete Cidades, um dos mais antigos, data de 1978, foi elaboradocom uma filosofia conservacionista/preservacionista, não considerando a problemática social,e permitiu que o Parque se degenerasse ao ponto de até as inscrições rupestres serem roubadase danificadas. Partindo do fato que os PARNAs foram criados, em grande parte, sobrepropriedades particulares, e que o IBDF não tinha recursos para indenizar as terras, era de seprever nos Planos um detalhado programa, considerando o apoio às comunidades. Isto nuncafoi proposto, devido a postura ideológica histórica dos conservacionistas brasileiros, queampliaram suas influências durante o último período ditatorial e sempre desprezaram as questõesde cunho social.22 Finalmente, cabe lembrar que a tendência conservacionista internacional,já havia realizado um importante avanço em 1971, quando a UNESCO inaugurou o ProgramaIntergovernamental de Investigações sobre o Homem e a Biosfera ( MAB ), que gerou aschamadas Reservas da Biosfera, cuja estratégia principal tem sido o envolvimento dascomunidades humanas na gestão das áreas protegidas. A FAO ( 1976 ), ao publicar o seumanual de Planejamento de Parques Nacional, registrou o seguinte pensamento de LaurenceRockefeller:

�A conservação tem atualmente um significado muito mais amplo que a merapreservação dos nossos recursos naturais. Significa o seu uso racional e proteção, de formaque um número cada vez maior de pessoas possam se beneficiar dos mesmos. Somente namedida em que buscarmos isto, é que poderemos valorizar os nossos recursos humanos.�

Marcos conceituais importantes como o IV Congresso Mundial de Parques, a Eco-92, as orientações da IUCN ( 1986 ), através do Manejo de Áreas Protegidas Tropicais e daEstratégia Global da Biodiversidade ( 1992 ), bem como a presente elaboração do SistemaNacional de Unidades de Conservação ( SNUC ) do Brasil, apontam para uma inequívocamudança filosófica e conceitual para a gestão de áreas protegidas, com fortes componentes deco-gestão e gestão participativa, ao ponto de algumas Unidades contarem com a criação deConselhos Gestores Deliberativos. Esta parece ser a megatendências para os anos noventa nocampo da conservação - a proteção da biodiversidade como prioridade, acompanhada deestratégias de envolvimento das comunidades locais em todos os processos de gestão daunidade protegida.

V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

1. ConclusõesAs conclusões do presente estudo serão apresentadas em seqüência semelhante às

questões abordadas no �Capítulo IV. Resultados e Discussão�.

1. O modelo de desenvolvimento brasileiro e por consequência, o da região deSão Raimundo Nonato é economicamente concentrador, socialmente injusto e ambientalmentedesequilibrado. O estudo das relações ecológico-humanas, mostra que este modelo é22 Para exemplos de outros Planos, veja IBDF ( 1978, 1981a, 1981b, 1981c, 1981d ).

Page 70: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

70 Série Meio Ambiente Debate, 13

desfavorável ao homem e ao meio ambiente.

2. O estudo mostra que quase a metade da superfície da área de estudo já foiantropizada.

3. A investigação espaço-temporal mostra que existe uma relação histórica de causa-efeito entre o processo sócio-econômico e o antropismo.

4. O período de maior incremento do antropismo foi medido entre 1973 e 1983,provocado principalmente pela expansão da agropecuária.

5. Até 1973, as áreas antropizadas se concentravam na cidade de São RaimundoNonato e seu entorno, entre 1973 e 1983, foram antropizadas as áreas no sudoeste e sul domunicípio. No período de 1983 a 1990, o antropismo se pulverizou por todos os quadrantesdo município, principalmente devido à intensificação da atividade agropecuária.

6. Se for mantido o atual ritmo de desmatamento, a cobertura vegetal potencialmenteexplorável do município acabará no ano 2.006.

7. A pecuária, a agricultura de subsistência e intensiva e a extração de madeira são,nesta ordem decrescente de importância, as principais responsáveis pelo antropismo.

8. O consumo de lenha para fins energéticos em São Raimundo Nonato no ano de1991 provocou o desmatamento estimado de 6.838 ha. Por ordem decrescente de importância,os setores que mais consumiram lenha foram: i. domiciliar; ii. casas de farinha; iii. cerâmico-oleiro; iv. caieireiro; v. padarias.

9. A extração de madeira para todos os fins é devastadora e livre de qualquercontrole ou fiscalização.

10. Foram implantadas em São Raimundo Nonato diversos projetos de�reflorestamento� com caju, que levaram ao desmatamento de extensas áreas de matas nativas.

11. O estudo ecológico-humano da comunidade de Várzea Grande mostra que asrelações homem/meio ambiente são conflitantes.

12. Em Várzea Grande as principais atividades econômicas são: a agropecuária, aextração de lenha e a produção de cal.

13. As condições sociais e a qualidade de vida dos habitantes de Várzea Grandesão precárias sob quase todos os aspectos: econômico, sanitário, educacional e ambiental.

14. As caieiras se constituem numa das principais atividades sócio-econômicas daVárzea Grande. Porém, seu modo de produção é concentrador de capital, pouco contribuindopara a melhoria das condições de vida dos trabalhadores.

15. A atividade caieireira é responsável pela maior parte dos desmatamentos noentorno da Várzea Grande e do Parque Nacional. Não há nenhum controle ou fiscalizaçãodesta atividade.

16. A exploração do calcário está destruindo o patrimônio espeleológico,

Page 71: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 71

arqueológico e paleontológico do entorno do PARNA.

17. As instituições governamentais não consultaram, avisaram ou orientaram ascomunidades humanas sobre a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, de formasemelhante a todos os outros Parques Nacionais.

18. A criação e implantação do Parque Nacional da Serra da Capivara têm geradoum forte impacto social negativo sobre as comunidades humanas internas e adjacentes aoPARNA.

19. A implantação do Parque tem sido conflitante aos interesses da comunidadeque na sua maioria rejeita o Parque.

20. A problemática fundiária se traduz no maior entrave à implantação do Parque,pois o IBAMA não indeniza, não reassenta e nem orienta os camponeses.

21. A implantação do Parque vem provocando a migração de famílias que setransferem principalmente para comunidades do entorno do Parque, aí adensando as atividadeseconômicas degradadoras.

22. O Plano de Manejo do PARNA da Serra da Capivara constitui-se num excelenteinstrumento de planejamento para a implantação do Parque, porém não apresenta soluçõespara o problema das comunidades humanas, tampouco as considerada como fator favorávela implantação do Parque.

Este trabalho e suas propostas não se esgotam em si próprios, e sim, apontam paraa necessidade do aprofundamento dos estudos na busca incansável de soluções e alternativaspara os problemas das comunidades brasileiras, especialmente, os habitantes da Caatinga.

De todos os esforços empreendidos neste estudo, espera-se que seus resultados epropostas sejam úteis na definição de políticas públicas, conjugadas ao comprometimento dasociedade com a ética ecologista, na busca do desenvolvimento sustentado.

Page 72: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

72 Série Meio Ambiente Debate, 13

Page 73: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 73

VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AB�SABER, A. N. Significado geomorfológico da Rede Hidrográfica do Nordeste.Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, v. 15, n. 139, p. 499-516, out/dez. 1959.

ACCOT, P. História da Ecologia. Rio de Janeiro: Campus, 1990, 212 p.

ALMEIDA Jr., José Maria G. de. Uma proposta de ecologia humana. In: Cerrado:caracterização, ocupação e perspectivas. Brasília: Universidade de Brasília, 1990. p. 545-559.

ALVES, K. R. Mineração e Proteção do Patrimônio Espeleológico no Brasil, comparticular referência às grutas �Lagoa Rica-MG�, �Lagoa da Pedra-GO�, �LagoaNova-MG� e �Tamboril-MG�. Brasília: Universidade de Brasília, 1991. (Dissertação deMestrado).

AMORIM, J. A indústria da seca. Revista Terceiro Mundo, São Paulo, n. 162, p. 10-11,1993.

ANDERSON, A. B. & POSEY, D. A. Manejo de Cerrado Pelos Indidos Kaiapo. Boletimdo Museu Paraense Emilio Goeldi, Série Botânica v. 2, n. 1, 1985.

ANDRADE Lima, D. Plantas das Caatingas. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências,1989.

ARAÚJO, J.N.G., MARASCIULO, A., MAGALHÃES, M., SILVA, R. Aspectos demográficose sanitários de dois povoados vizinhos ao PARNA. In: IBAMA. Plano de Manejo doParque Nacional da Serra da Capivara. Brasília: 1991. 593 p. ilust.

ARAÚJO, L. M. C. A. A ocupação humana e sua evolução recente na área de SãoRaimundo Nonato. Cadernos de Pesquisa, Série Antropologia, Teresina, v. 3, n. 269, 1985.

BERTALANFFY L. V. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes, 1968.

BUARQUE, C. A desordem do progresso. Rio Janeiro: Paz e Terra, 1990, 185p.

CABRERA, Angel, Biogeografia de America Latina. Washington-DC: OEA, SecretariaGeral, 1973. 120 p.

CAMPELO, S.M., EMPERAIRE. L. Toponímia da Região Sudeste do Piauí. Cadernos dePesquisa, Série Antropologia, n. 4, p. 191-235, 1985.

CAPRA, F. The Turning Point. New York: Bantan, 1975.

CASTRI F. di. Ecologia: gênese de uma ciência do homem e do ambiente. O Correioda UNESCO, v. 9, n. 6, p. 6-11, 1981.

CEPA. Projeto Sertanejo - Sub-Programa de implantação e operação do Núcleo deSão Raimundo Nonato-PI. Teresina, 1977. 66 p.

Page 74: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

74 Série Meio Ambiente Debate, 13

CEPRO. Diagnóstico das condições ambientais do Estado do Piauí. Teresina: 1993.112p.

CHAME, M. Parque Nacional da Serra da Capivara, Sudeste do Piauí, ObservaçõesPara Sua Preservação. Rapport Multigraphie, Mission Franco-Brasilienne au Piauí, E. H. E.S. S. 1986.

CHAME, M. Estudo comparativo das fezes e coprólitos animais da regiãoarqueológica de São Raimundo Nonato, Sudeste do Piauí. Rio de Janeiro: U.F.R.J.,1988. 134 p. (Tese de Doutorado)._____Diagnóstico Experimental de fezes e copróltos não humanos no ParqueNacional da Serra da Capivara - Piauí. In: ARAÚJO, A. J. G., FERREIRA L. F.Paleopatologia Paleoepidemiologia - Estudos Multidisplinares. Rio de Janeiro: ENSP, 1992.

CHAME, M., ARAÚJO, A., FERREIRA, L.F. Premièrs observations sur la faune de laSerra da Capivara - Sud-Est du Piauí-BRÉSIL. Recueil II - Etudes AmericanistesInterdisciplinaires, 4. Paris: 1985. p. 33-40.

CIMA. Subsídios Técnicos para Elaboração do Relatório Nacional do Brasil para aCNUMAD. Brasília: 1991. 172 p.

CNS - Conselho Nacional dos Seringueiros. Relatóriodo Levantamento Sócio- Econômicoda Reserva Chico Mendes e Projetos de Assentamentos Extrativistas da Região doVale do Acrepurus. Rio Brando: CNS, 1992.

CNS - Conselho Nacional dos Seringueiros. Relatório Sócio-Econômico e Cadastro daReserva Extrativista Chico Mendes. Rio Branco: CNS, 1992.

DIAS, B. F. S. Conservação da natureza no Cerrado brasileiro. Cerrado, caracterização,ocupação e perspectivas. Brasília: UnB, 1980. 657 p.

DIEGUES, A. C. S. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo:Ática, 83,287p._____Populações Tradicionais em Unidades de Conservação: O mito moderno danatureza intocada. São Paulo: NUPAUB, 1993, 90p.

EGLER, A.N. Contribuição ao estudo da Caatinga pernambucana. Revista Brasileirade Geografia, Rio de Janeiro, n, 5, p. 65-76, out/dez. 1951.

EMBRAPA. Levantamento exploratório-reconhecimento de solos do Estado do Piauí.Rio de Janeiro: 1986. 2 v.

EMPERAIRE, L. La Caatinga du Sud-est du Piaui (Bresil) etude etnonobotanique.Paris: Université Pierre at Marie Curie, 1980. (Tese de Doutorado)._____Vegetation et gestion des ressouces naturelles dans la caatinga du sud-estdu Piaui (Bresil). Paris: Université Pierre at Marie Curie, 1987. (Tese de doutorado).

EMPERAIRE, L., PINTON, F. Dona Flora et les cajous - Deux systèmes agricoles ausud-est du Piauí (Brésil). Journ. d�Agric. Trad. et de Botan. Appl, v. 33, p. 193-212, 1986.

Page 75: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 75

FAO.Forestry Paper. National Parks Plannings. A manual with annotated examples.Food and Agricultural Organization of the United Nations. Roma: 1976.

FAO. Plano de Ação Florestal. Tropical. Brasília: 1992. 32 p.

FEARNSIDE, P. M. Stocnatisc Modening in Human Carrying Capacity Estimation: A Tool forDevelopment Planning in Amazonia. In. MORAN, E. F. The Dilemma of AmazonianDevelopment. Bounder, Westview, 1983._____A stochastic model for estimating human carrying capacit in brazil�stransamazon higway colonization area. Human Ecology, v. 13, n. 3, p. 331-69, 1985.

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Aurélio da Lingua Portuguesa, 2 ed. Rio deJaneiro: Fronteira, 1986.

FUNDAÇÃO S.O.S. MATA ATLÂNTICA. Atlas da evolução dos remanescentes florestaise ecossistemas associados do domínio da Mata Atlântica nos Estados do Rio deJaneiro no período 1985-90. São Paulo: 1992. 14 p.

GALVÃO, M. V. Regiões bioclimáticas do Brasil. Revista Brasileira de Geografia, Rio deJaneiro, v. 29 nº1, p. 3-36, 1967.

GOODE, W. J. & HATT, P. K. Métodos em pesquisa social. São Paulo: Editora Nacional,1975, 488p.

GORGÔNIO, A. de S. Estudo ambiental de alterações antrópicas nas matas de galeriada bacia hidrográfica do Ribeirão Taboca (Apa do Rio São Bartolomeu - Dist.Federal). Brasília, UnB, 1990. 137 p. il. (Dissertação de Mestrado).

GTZ, Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit. Análise e avaliação dos dadosmeteorológicos referentes a um projeto de expansão.

GUERIN, C. Grands Mamifères. In MISKOUSKY, J. C. Éd. Geologie de la préhistori:methodes, techniques, applications. Paris: Maison de la Geologie, 1987. p. 801-830.

GUÉRIN, Claude. La faune du pléistocène supérieur de l�aire archéologique de SãoRaimundo Nonato (Piauí, Brésil). C. R. Acad. Sci. Paris, t. 312, Série II. Paris, 1991. p.567-572.

GUERRA, I.L.T. Tipos de clima do Nordeste. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro,v. 17m nº 4, p. 449-491, 1955.

GUIDON, N., DELÍBRIAS, G. Carbon-14 dates point to man in the Americas 32.000years ago. Nature, London, v. 321, n. 6.072, p. 769-771, 1986.

GUIDON, N. Pré-História no Piauí - Arte e incógnitas do homem americano.Horizonte Geográfico, São Paulo, v. 12, n. 9, p. 40-51, 1990.

HALL, A. L. Drought and irrigation in North-East Brazil. Cambridge Latin AmericanStudies, Cambridge University, 1985.

Page 76: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

76 Série Meio Ambiente Debate, 13

IBAMA. Mapeamento da organização do espaço do Parque Nacional da Chapadados Veadeiros e seu entorno - alterações antrópicas. Brasília: 1990a. 30 p. il._____Alteração da cobertura vegetal natural do Estado do Amazonas. Brasília: 1990b.120p._____Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Capivara. Brasília: 1991a.593p._____Mapeamento da organização do espaço do Parque Nacional da Chapada dosGuimarães e seu entorno. Alterações antrópicas. Brasília: 1991b. 20 p. il._____Programa Nacional de Conservação e Desenvolvimento Florestal Sustentado.Brasília: 1991c. 95 p._____Mapeamento da organização do espaço do Parque Nacional de Monte Pascoale seu entorno - alterações antrópicas. Brasília: 1991d. 22 p. il._____Cobertura vegetal natural remanescente do Brasil. Brasília, 1991e. 35 p._____Mapeamento do antropismo na área Yanomami. Brasília: 1992. 9 p._____Diagnóstico Florestal do Rio Grande do Norte. Natal, 1993. 45 p.IBDF. Relatório do Projeto Desmatamento (Amazônia Brasileira). Brasília: 1980. 44 p._____Levantamento das alterações antrópicas na cobertura florestal dos estadosdo Amazonas, Acre, Mato Grosso e Território de Roraima; análise da potencialidadeflorestal. Brasília: 1981. 31 p. il._____Alterações da cobertura vegetal natural de áreas parciais dos Estados doPará e Maranhão. Belém: 1982a. 57 p._____Plano do Sistema de Unidades de Conservação do Brasil. Brasília:1982,173 p._____A vegetação do Estado de Goiás: atualização dos antropismos e inventário.Brasília: 1984. 198 p._____A vegetação da Região Nordeste: atualização dos antropismo e inventário.Rio de Janeiro: 1985a. 155 p._____Monitoramento da alteração da cobertura vegetal natural da área do ProgramaPolonoroeste nos Estados de Rondônia e Mato Grosso. Brasília: 1985b.77 p._____Alteração da cobertura vegetal natural no sul do Estado do Pará. Belém: 1985c.61 p._____Alteração da cobertura vegetal natural do Estado do Acre. Brasília: 1988a. 57p._____Alteração da cobertura vegetal natural da área do Projeto PMACI. Brasília:1988b. 70 p.

IBGE. Sinopse estatística do Município de São Raimundo Nonato. Rio de Janeiro,1945._____Censo Agropecuário Piauí. Rio de Janeiro, 1975. 331 p. ( Série Regional, v. 3,t. 3)._____São Raimundo Nonato-Piauí. Rio de Janeiro: 1984. (Monografias Municipais. NovaSérie, 55)._____Censo Agropecuário - Piauí. Rio de Janeiro: 1985. 402 p. (Censos Econômicos de1985, 10)._____Zoneamento ecológico da Região Nordeste. Salvador: 1990a. 89p._____Atualização do antropismo da Região Nordeste. Salvador: 1990b. 10p._____Produção Agrícola Municipal - Paiuí. Rio de Janeiro, 1990c._____Produção Agrícola Municipal. Piauí. Rio de Janeiro: 1991a._____Censo Demográfico - Piaui-Sinopse preliminares. Rio de Janeiro: 1991b.

Page 77: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 77

IPARJ/FUNDHAM. Relatório de missão de levantamento na área do Parque Nacional�Serra da Capivara� - Sudeste do Piauí. São Raimundo Nonato, 1987, 33p. (mimeog).

IPEA. Mapa da Fome II: Informações sobre a indigência por Municípios daFederação. Brasília: 1993.

IUCN. Maneging Protected Areas in the Tropics. Switzerland. 1986. 295p.

IUCN.UNEP.WWF. Cuidando do Planeta Terra - Uma estratégia para o futuro davida. São Paulo: 1992, 246p.

KENGEN, S., BYRON, N. Forestry Development: socio-economic impacts of industrialforest plantations. Camberra: Australian National University. Centre for Forestry in RuralDevelopment, 1987. 16 p.

KENGEN. S. Some reflections on deforestation and development: the brazilianexperience. In: Seminar on Deforestation or Development in the Third World. Bulletinof the Finnish Forest Research Institute, Helsinki. v. 349, n. 3, p. 145-154, 1990.

KERR, W. E., POSEY, D. A. Informações Adicionais sobre a Agricultura dos Kaiapós.Interciência, v. 9, n. 6, p. 392-400, 1984

LIMA, V. B. A. As grandes barragens e o impacto social na Amazônia. Análise eConjutura, Belo Horizonte, nov./dez. 1988._____Holoplanejamento: uma aplicação do paradigma holístico ao planejamento.Brasília: 1992 (mimeog.)

LIMA, M.J.A. Ecologia humana - Realidade e pesquisa. Rio de Janeiro; Vozes, 1984.164 p.

LIMA, D. de A. Plantas da Caatinga. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências,1989. 243 p.

LORENSI, C. J. Qualificação da alteração da cobertura vegetal natural e análisetemporal de uma área teste no Estado de Rondônia. Santa Maria: U.F.S.M., 1987. 64 P.(Dissertação de Mestrado).

LUTZENBERGER, J. Gaia - O Planeta Vivo. Porto Alegre: L & PM, 1990, 112 p.

LUETZELBURG, P. von. Estudo botânico no Nordeste. Rio de Janeiro: 1922. 3v. (série IA- I.F.O.C.S., 57).

MACHADO, P. A. Ecologia Humana. São Paulo; Cortez, Brasília: CNPq, 1984.

MARANCA, S. A toca do Congo I, abrigo com sepultamentos nos estados do Piauí.Rev. Museu Paulista, São Paulo, v. 23, 1976.

MARCONI, M. A. & LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1990, 231 p.

MARES, M. A., WILLING, M. A., STREILEIN K. E., LACHER JR, T. E. The mammals of

Page 78: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

78 Série Meio Ambiente Debate, 13

Northeastern Brasil: a preliminary assessment. Annals of Carnegie Museum, v. 50, p. 81-137, 1981.

MARES, M. A., LACHER JR. T.E. Ecological, morphological and behavioralconvergence in rock-dwelling mammals. Current Mammalogy, v. 1, p. 307-347, 1985.

MARES, M. A., WILLING, M.R. & LACHER JR. T. The Brazilian caatinga in SouthAmerican Zoogeography: Tropical mamamals in a dry region. Journal of Biogeography,v. 12, p. 57-69, 1985.

MARTIUS, K. F. Ph. von. Flora brasiliense. Lipsiae: 1840. v.1, pt.1.

MELLO LEITÃO, Cândido. Zoogeografia do Brasil. Mossoró: Escola Superior deAgricultura de Mossoró, Fundação Guimarães Duque, 1943. 650 p.

MERCADANTE, M. A Atividade de Olaria na Área de Proteção Ambiental (APA) deRio São Bartolomeu, DF: uma visão ecológico-humana. Brasília: Universidade deBrasília, 1988. (Dissertação de Mestrado).

MISSÃO FRANCO-BRASILEIRA. Pinturas e gravuras de São Raimundo Nonato, Estadodo Piauí. São Paulo: 1978, 18 p. il.

MME. Balanço energético nacional. Brasília: 1989. 144 p. il.

MONZON, S. Préhistoire du sud-est du Piauí (Brésil). �Objets et Mondes�, Revue duMusée de l�Homme, Paris, v. 20, n. 4, p. 153-160, 1980.

MORAN. E. F. Pionner Farmers of Transamazon Highway: Adaptation and AgriculturalProduction in the Lowlands Tropics. University of Florida, 1975a._____Pionner Farmers of Transamazon Highway: Adaptation and AgriculturalProduction in the Lowlands Tropics. University of Florida, 1975b._____Agricultural Development Along the Transamazon Highway. Bloominston:Center for Latin American Studies Monograph Series, Local: Indiana University, 1976._____Estrategia de Sobrevivência: o uso de recursos ao longo da RodoviaTransamazônica. Acta Amazonica, v. 7, n. 3, p. 363-379, 1977._____The Dilemma of Amazonian Development. Boulder: Westview, 1983._____Amazon Basin Coonization Interciencia, n. 910, p. 377-385, 1984._____A ecologia humana das populações da Amazônia. Petrópolis: Vozes, 1990a, 367p._____The Ecosystem Approach in Anthropology. Ann Arbor: Univerity of Michigan, 1990b.

MOTT, L. Piauí Colonial; população, economia e sociedade. Teresina, Governo doEstado, 1985. 144 p.

NAHUZ, M. A. R. Deforestation and development: a compound issue for Brasil. In:Seminar on deflorestation or development in the Third Word. Bulletin of the Finnish ForestResearch Institute, Helsinki. v. 349, p. 81-88, 1990.

NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1989a. 442 p. il.

NIMER, E. Balanço hídrico e clima da Região dos Cerrados. Rio de Janeiro: IBGE,1989b. 166p. l.

Page 79: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 79

ODUM, E. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986 434 p.

PARENTI, F., MERCIER, N., VALLADAS, H. The oldest hearths of Pedra Furada, Brasil:Thermoluminescence analysis heated stones. Current Research in the Pleistocene, Maine,v. 7, p. 36-38, 1990.

PAUPITZ, J. Considerações sobre a extensão florestal: perspectivas e objetivos.Natal: IBAMA, 1989. 9p. Projeto PNUD/FAO/IBAMA/BRA/87. (Circular Técnica, 2).

PELLERIN, J. Les bases physiques. In: L�aire archeologique du sud-est du Piauí-Brésil; le milieu e les sits. Paris: ADPF, 1984. v. 1.

PELTO, P. J. Iniciação ao estudo da antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. 144p.

PELTO, P. J., PELTO, G. H. Anthropological Reseach The Structure Of Inquiry. 2. ed.Cambridge, University, 1978, 330p.

POSEY, D. A. Indigenous Knowledg and Development & An Ideological Bridge tothe Future. Ciencia e Cultura. v. 35, n. 7, 1986.

PHILLIPS, B. S. Pesquisa social: estratégias e táticas. Rio de Janeiro: Agir, 1974.

PIAUÍ. Secretaria de Agricultura. Aspectos Gerais de exploração do Caju no Piauí.Teresina, 1981. 14 p.

PNUD. FAO. IBDF. Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do Rio Grandedo Norte. Natal, 1988. 3 v.

PNUD. FAO. BRA/87. Incremento médio anual, de algarobais no Seridó - RN. Natal:1989a. 4p. (Circ. Técnico, 11)._____Considerações sobre a extensão florestal: perspectivas e objetivo. Natal, 1989b.(Cir. Técnica, 2), 9 p.

PNUD. FAO. IBAMA. O consumo de energéticos florestais no Rio Grande do Norte-Brasil. Natal: 1990. 40 p.

POMPA, M.C. O Parque Nacional da Serra da Capivara: um drama social. SãoRaimundo Nonato: 1987. 19p. (mimeog).

POSEY, D. A. Indigenous Ecological Knowlegde and Development Of The Amazon.In: MOLAN, E. F. The Dilemma of Amazonaian Development. Bounder: Westview, 1983.

RADAMBRASIL. Projeto Radam. Levantamento de recursos naturais. DNPM. Rio deJaneiro, 1973. v. 1.

REDFORD, K. H., FONSECA, G. B. A. The role of gallery forest in zoogeography of thecerrado�s non volant mammalian fauna. Biotrópica, v. 18, n. 2, p. 126-135, 1986.

RIEGLHAUPT, E. M. Dentroenergia: Informe final del consultor em dendroenergia.Documento de Campo nº 35. Projeto PNUD/FAO/IBDF/BRA/82/008. 1985

Page 80: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

80 Série Meio Ambiente Debate, 13

SALMI, J. Land reform - a weapon against tropical deforestation. In: Deforestation ordevelopment in the third world. The Finnish Forest Research Institute, Helsinki, v. 2, p. 159-182, 1988.

SCHERE, F. L. The Relation Between Ecology and Economy in Urban Regions ofDeveloping Countries: A Case Study: Brasília in the Federal District of Brazil.Berlin: 1972.

SCHMITZ, P. Caçadores e coletores antigos da Região do Cerrado. In: Cerrado -Caracterização, ocupação e perspectivas. Brasília: UnB, 1990. 657 p.

SEMA. Diretrizes ambientais para o Estado de Rondônia. Brasília: 1986. 233 p. il._____Manual de normas e procedimentos na fiscalização de Reservas Ecológicas.Brasília: 1988, 66 p.

SICK H. Ornitologia Brasileira: uma Introdução. 3 ed., Brasília: Universidade de Brasília,1988.

SILVA, M.A.V. Curso de meteorologia básica. Recife: Universidade Federal Rural dePernambuco, (mimeog), 1980.

SILVA, V.V. RIBEIRO, V.Q. , FROTA, A.B. Análise da estrutura fundiária e da distribuiçãoda renda no Piauí. In IV Seminário de Pesquisa Agropecuária do Piauí. Terezina:EMBRAPA/VEPAE, 1986.

STEWARD, J. Theory of culture change. Urbana: University of Illinois, 1955.

SUDENE. Critério prático para estimativa das condições de seca no NordesteBrasileiro, Recife: 1970. 41 p. (Publicação Técnico, 1)._____Pesquisas hidrogeológicas, pedológicas e agro-econômicas paraaproveitamento da Região Centro-Leste do Piauí. Recife: 1976._____Recursos Florestais. In: Recursos Naturais do Nordeste: investigação e potencial.Recife: 1979. p. 89-101._____A área Centro-Ocidental do Nordeste. Recife: 1982. 229 p. il._____Dados sobre indicadores sociais e avaliação de políticas sociais. Recife: 1987.231._____Dados pluviométricos mensais do Nordeste-Estado do Piauí. Pluviometria 2.Recife: 1990. 236 p.

THORNTHWAITE, C. W. An Aproach to a Racional Classification of Climate.Geographical Rev. v. 38, p. 55-94, 1948.

THORNTHWAITE, C. W. & MATTHER, J. R. The water balance. Climatology, Ceterton, v.8, nº 1, p. 1-104, 1955_____Instruction And Tables For Computing Potencial Evapotranspiration and WaterBalance. In Climatology, Ceterton, v. 10, n. 3, p. 185-312, 1957.

VANZOLINI, P. E. Geography of south american Gekkonidae. Arquivos de Zoologia,São Paulo, v 17, n. 20, p. 85-112, 1968._____Ecological and geographical destribuition of lizards in Pernambuco

Page 81: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 81

Northeastern Brazil (Sauria), Papéis de Zoologia, São Paulo, v. 28, n. 4, p. 61-90,1974._____On lizards of cerrado - Caatinga Contact: evolutionary and zoogeographicalimplications (Sauria). Papéis Avulsos De Zoologia, São Paulo, v. 26. n. 16, p. 111-119.1976._____A quasi. historical approach to the natural history of the difeerentiation ofreptieis in tropical geographic Isolates. Papéis Avulsos de Zoologia, São Paulo, v.34, n. 19, p. 189-204, 1981.

VANZOLINI, P. E., WILLIAMS, E.E The Vanishing Refuge: A machanism forecogeographic spetiation. Papéis Avulsos de Zoologia, São Paulo, v. 34, n. 23, p. 251-255, 1981.

VANZOLINI, P. E., RAMOS-COSTA, A. M. M., VITT, L. J. Répteis das Caatingas. Rio deJaneiro: Academia Brasileira de Ciências, 161 p, 1983.

VASCONCELOS SOBRINHO. As regiões naturais de Pernambuco. Art. Inst. Pesq.Agronômicas, Recife: v. 3, p. 25-33,1941.

WHITE, L. Energy and the evolution of culture. American Antrhopologist, V. v. 45,p. 335-356, 1943.

Page 82: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

82 Série Meio Ambiente Debate, 13

Page 83: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 83

LISTA DOS NOMES CIENTÍFICOS DA FLORA

AAcacia bahiensisAcacia cf. bahiensisAcacia cf. farnesianaAcacia langdorsffiiAcacia piauhiensisAcacia ripariaAcacia sp.Acanthocereus albicaulisAdenocalymma scabriusculumAdiantum dolosumAdiantum lunulatumAeschynomene americanaAeschynomene cf. martiiAlibertia ellipticaAlibertia myrciifoliaAlibertia obtusaAlibertia sp.Alibertia vaccinioidesAlisma sp.Allamanda blanchetiiAllamanda cf. puberulaAllamanda puberulaAllium cepaAllium cf. fistulosumAllium sativumAllophtlus edulisAlternanthera brasiliana var. villosaAlternanthera cf. brasilianaAlternanthera flavescensAmaranthus viridesAmasonia velutinaAmburana cearensisAnacardium microcarpumAnacardium occidentaleAnacardium spp.Anadenanthera macrocarpaAndira vermifugaAneilema sp.Anemia filiformisAnemopaegma laeveAngelonia cornigeraAnisacanthus trilobusAnnona squamosaArachis hypogeaArgemone mexicanaArgyrothamnia desertorum

Argyrothamnia gardneriAristolochia sp.Arrabidaea bahiensisArrabidaea corallinaArrabidea limaeArrabidaea paradoxaArradidaea resinosaArrabidea simplicifoliosArrabidaea sp.Arrojadoa rhodanthaAspidosperma aff. multiflorumAspidosperma cuspaAspidosperma multiflorumAspidosperma pilifoliumAspidosperma pyrifoliumAspidosperma refractumAspidosperma riedelliAspidosperma sp.Astronium sp.Astronium fraxinifoliumAstronium urundeuva

BBactris sp.Banisteriopsis virgultosaBarnebya harleyiBauhinia aff. flexuosaBauhinia açuruanaBauhinia aff. cheilanthaBauhinia cf. rufaBauhinia cf. pulchellaBauhinia cheilanthaBauhinia cupulataBauhinia flexuosaBauhinia heterandraBauhinia sp.Bauhinia subclavataBidens pilosaBixa orellanaBocoa cf. mollisBocoa dicipiensBoerhaavia coccineaBorreia capitadaBorreia sp.Bouchea agrestisBougainvillea spectabilisBowdichia virgiloidesBrassica sp.

Page 84: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

84 Série Meio Ambiente Debate, 13

Cenchurs echinatusCenchrus myosuroidesCenostigma gardnerianumCentratherum punctatumCentrosema aff. pubescens Benth.Cephalocereus gounelleiCephalocereus piauhyensisCeratosanthes sp.Cereus jamacaruCereus sp.Chamaecrista desvauxii cf. var.peronadeniaChamaecrista desvauxii var.circumdataChamaecrista sp.Chamaecrista cf. belemiiChamaecrista eitenorum var.eitenorumChamaecrista nictilans cf. ssp.patellariaChamaecrista tenuisepalaChamaecrista zygophylloidesChamaecrista zygophylloides var.colligansChenopodium ambrosioidesCinchona sp.Cissampelos sp.Cissus erosaCissus sicyoidesCissus sp.Citrullus vulgarisCitrus aurantiumCitrus medica var. limonCleome microcarpaCleome rotundifoliaCleome spinosaClidemia hirta var. elegansClystostoma convolvuloidesClystostoma sp.Cnidoscolus phyllacanthusCnidoscolus urensCnidoscolus vitifoliusCochlospermum regiumCochlospermum vitifoliumCocos nuciferaCoffea arabicaCollea sp.Colubrina cordifoliaColubrina spp.Combretum aff. duarteanum

Britoa aff. psidioidesBromelia sp.Brosimum gaudichaudiiBuchenaviaBumelia sartorumBursea leptophloeosBursera spp.Byrsonima correifoliaByrsonima sericeaByrsonima vacciniifolia

CCaesalpinia bracteosaCaesalpinia echinataCaesalpinia ferreaCaesalpinia microphyllaCaesalpinia pulcherrimaCaesalpinia pyramidalisCaesalpinia sp.Cajanus indicaCalliandra aff. macrocephalaCalliandra depauperataCalliandra sessilisCalliandra umbelliferaCallisthene fasciculataCallisthene microphyllaCalotropis proceraCampomanesia aff. campestrisCampomanesia sp.Campotosema coriaceumCanavalia cf.Capparis flexuosaCapsicum annuumCapsicum chinenseCapsicum frutescensCardiopetalum calophyllumCardiospermum anomalumCardiospermum corindumCarica papayaCaryocar brasiliensisCasearia eichlerianaCasearia grandifloraCassia sp.Cayaponia sp.Cecropia cf. peltataCedrela cf.Celosia argentea var cristataCenchrus ciliaris

Page 85: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 85

Combretum aff. parviflorumCombretum duarteanumCombretum hilarianumCombretum leprosumCombretum mellifluumCombretum pisonoidesCombretum spp.Commelina cf. martianaCommelina nudifloraCopaifera coriaceaCopaifera longdorsffiiCopaifera sp.Copernicia pruniferaCordia curassavicaCordia leucocephalaCordia rufescensCordia sp.Cordia trichotomaCoriandrum sativumCoutarea hexandraCrataevea tapiaCratylia mollisCrotalaria incanaCrotalaria vitellinaCroton adamantinusCroton aff. campestrisCroton aff. lanatusCroton aff. urucuranaCroton aff. virgultosusCroton alagoensisCroton argyrophylloidesCroton betaceusCroton campestrisCroton compressusCroton conduplicataCroton echioidesCroton exuberansCroton gardnerianusCroton glandulosusCroton grewioidesCroton laurifoliusCroton lobatusCroton pulegioidesCroton regelianumCroton rhamnifoliusCroton sonderianusCroton spp.Cryptostegia grandifloraCucumis anguriaCucurbita maxima

Cucurbita pepoCupania cf.Cuphea campestrisCuratella americanaCurcuma longaCuscuta partitaCuspidaria argenteaCuspidaria bracteataCuspidaria puberulaCybianthus sp.Cynodon dactylonCypella hebertiCyperus diffususCyperus meyenianus

DDalbergia cf. variabilisDalbergia spp.Dalechampia scandensDalechampia sp.Datura feroxDatura meteloidesDatura stramoniumDerris sericeaDesmanthus virgatusDemodium molleDichoromena sp.Digitaria insularisDigitaria sanguinalisDioclea grandifloraDiodia sp.Diodia teresDiodia teres var. latifoliaDioscorea adenocarpaDioscorea trifidaDiospyros sericeaDiptychandra epunctataDitassa hastataDoryopteris sp.

EEchinochloa polystachyaEclipta albaEleoharisgeniculataElephantopus sp.Eleusine indica

Page 86: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

86 Série Meio Ambiente Debate, 13

Elytraria imbricataEncholirium spectabileEnterolobium timbouvaEphedranthus sp.Eragrostis pilosaEremanthus martiiEriosema congestumErythirina velutinaErythrina spp.Erythroxylum betulaceumErythroxylum laetevirensErythroxylum pungensErythroxylum revolutumErythroxylum vacciniifoliumEugenia aff. dianthaEugenia casearioidesEugenia cearensisEugenia cf. flavaEugenia cf. pacnanthaEugenia dianthaEugenia piauhiensisEupatorim ballotaefoiumEuphorbia aff. thymifoliaEuphorbia comosaEuphorbia cyatophoraEuphorbia goyazensisEuphorbia heterophylla cf.Euphorbia hyssopiifoliaEuphorbia thymifoliaEuphorbia tirucalliEuphorbia zonospermaEvolvulus filipesEvolvulus linoides

FFaidherbia albidaFaramea nitidaFevillea cf. trilobataFicus rufaFicus sp.Fleurya aestauansFraunhofera multifloraFroelichia humboldtiana

GGalactia tenuiflora

Galactia jusseiuanaGlinus radiatusGloxinia sarmentianaGossypium barbadenseGossypium caicoenseGossypium herbaceum L.Gossypium hirsutumGossypium mustelinumGuattarda vibumidesGuettarda angeliaGuettarda sp.

HHancornia spp.Helicteres baruensisHelicteres heptandraHelicteres muscosaHeliotropium fruticosumHeliotropium paradoxumHeliotropium plyphyllum var. blanchetliHeliotropium tiaridioidesHemicarpha micranthaHerissantia tiubaeHerreria salsaparilhaHeteropteris catingarumHeteropteris cf. rubiginosaHeteropteris cf. tricantheraHeteropteris sp.Hibiscus esculentusHippeastrum sp.Hybanthus sp.Hydrocleis cf. azureaHydrolea spinosaHymenaea courbarilHymenaea courbaril var. stilbocarpaHymenaea eirogyneHymenaea sp.Hymenaea stigonocarpaHyptis leucocephalaHyptis martiusiiHyptis salzmaniiHyptis sp.

IIndigofera suffruticosaInga fagifolia

Page 87: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 87

Ipomoea asarifoliaIpomoea batatasIpomoea batatoidesIpomoea carneaIpomoea martiiIpomoea nilIpomoea pulchellaIpomoea sp.

JJacaranda brasilianaJacaranda jasminoidesJacaranda sp. nov.Jacaratia corumbensisJacquemontia confusaJacquemontia ferrugineaJatropha cf. martiusiiJatropha curcasJatropha pohlianaJatropha ribifoliaJatropha sp.

KKrameria tomentosa

LLactuca sativaLadenbergia hexandraLagenaria sericeaLantana armataLantana caatingensisLantana sp.Lantana tilaefoliaLasiacis maculataLeucaena leucocephalaLicania kunthianaLicania tomentosaLippia cf. albaLippia sp.Lonchocarpus obtususLonchocarpus sp.Loxopterygium gardneriiLudwigia sp.Ludwigia linifolia

Ludwigia erectaLuetzelburgia auriculataLuffa operculataLuhea candicansLygodium sp.

MMacfadyena unguis-catiMachaerium acultifollimMachaerium globrataMalachra sp.Malvastrum americanumMalvastrum coromandelianumMalvastrum sp.Mandevilla tenuifoliaMangifera indicaManihot aff. catingaeManihot caerulescens ssp. caerulescensManioht catingaeManioht dichotomaManihot esculentaManihot glazioviiManihot heptaphyllaManihot spp.Manilkara trifloraMansoa asperulumMansoa hirsutaMarcgravia neurophyllaMariscus meyenianusMarsdenia cf. mollissimaMarsilea deflexaMarsypianthes chamaedrysMatalea sp. Mauritia spp.Maytenus catangarumMaytenus rigidaMelia azedarachMelloa quadrivalvisMelocactus bahiensisMelochia tomentosaMemora involucrataMentha sp.Merremia aegypticaMiconia alataMiconia albicansMiconia gratissimaMiconia holosericeaMiconia sp.Microtea paniculata

Page 88: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

88 Série Meio Ambiente Debate, 13

Mikania cordifoliaMimosa acutispulaMimosa bijugaMimosa cf. franciscanaMimosa cf. hostilisMimosa cf. sericanthaMimosa sensitivaMimosa spp.Mimosa verrucosaMitracarpus sp.Mollugo verticillataMomordica charantiaMusa paradisiacaMyrcia acutataMyrciaria tenella

NNaias argutaNeoglaziovia variegataNeojobertia candolleanaNicotiana glaucaNicotiana tabacum

OOcimum micranthumOcimum sp.Ocotea bracteosaOcotea fasciculataOperculina convolvulusOpuntia inamoenaOpuntia sp.Orbygnia spp.Oryza glaberrimaOryza sativaOuratea hilarianaOxalis euphorbioidesOxalis glaucescensOxalis psoraleoides ssp.Oxalis sepiumOxandra sessiliflora

PPaepalanthus sp.Panicum maximum

Panicum sciurotisParkia platycephalaParkinsonia aculeataPaspalum sp.Paspalum plicatumPassiflora cf. edulisPassiflora cincinnataPassiflora foetidaPassiflora kermesianaPassiflora recurvaPatagonula bahiensisPaullinia pinnataPovonia aff. glaziovianaPavonia cancellataPavonia glaziovianaPavonia piauhyensisPectis apodocephalaPectis brevipedunculataPeixotoa jussieuanaPeltogyne confertifloraPera cf.Pereskia bahiensisPetalostelma cearensisPetalostelma martianaPetiveria alliaceaPhaseolus acutifoliusPhaseolus bracteatusPhaseolus longepedunculatusPhaseolus lunatusPhaseolus vulgarisPhilodendrom sp.Phoradendron affinePhoradendrom sp.Phyllanthus aff. orbiculatusPhyllanthus niruriPhyllanthus orbiculatusPhyllanthus sp.Physalis angulataPhysostemom lanceolatumPilocarpus jaborandiPiper sp.Piper tuberculatumPiptadenia aff. blanchetiiPiptadenia obliquaPiptadenia stipulaceaPiptadenia spp.Piptadenia zehentneriPiriqueta assuruensisPiriqueta duarteanaPisonia compestris

Page 89: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 89

Pisonia sp.Pistia stratiotesPithecellobium foliolosumPithecellobium diversifoliumPithecellobium dumosumPithecellobium spp.Pityrogramma calomelanosPlathymenia reticulataPlatypodium elegansPlumbago scandensPoeppigia procera var. confertaPoinciana pulcherrimaPolygala albicansPolygala decumbensPolygala hebecladaPolygala lancifoliaPolygala mollisPolygala paniculataPolygala remansoensisPolygala variabilisPortulaca elatiorPortulaca halimoidesPortulaca mucronataPortulaca oleraceaPortulaca pilosaPouteria gardnerianaPouteria ramifloraPouteria reticulata spp. reticulataPouteria sp.Prosopis julifloraProtium heptaphyllumPseudobombax campestrePseudobombax longiflorumPseudobombax simplicifoliumPseudobombax sp.Psidium guajavaPsittacanthus bicalycultusPterodon abruptusPycreus albomarginatusPycreus polystachyosPyrostegia venusta

QQualea parviflora

RRandia armataRaphiodon echinusRhynchelytrum repensRicinus communisRolliniopsis leptopetalaRubiaceae sp.Ruellia asperulaRuellia cf. porrigensRuellia laxaRuta graveolens

SSaccharum officinarumSalvinia auriculataSapium montevidenseSapium sp.Schinopsis brasiliensisSchrankia leptocarpaSchubertia aff. multifloraSchultesia gracilisSchwannia elegansScoparia dulcisSecliu eduleSecuridaca pubescensSelaginella sp.Selaginella convolutaSenna lechriospermaSenna macrantheraSenna obtusifoliaSenna ocidentalisSenna spectabilis var. excelsaSenna unifloraSerjania lethalisSerjania reticulataSerjania sp.Sesamum indicumSetaria setosaSickingia sp.Sida ciliarisSida cordifoliaSida galheiriensisSida micranthaSimaba guianensis var ecaudataSimaruba spp.Simaruba versicolor

Page 90: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

90 Série Meio Ambiente Debate, 13

Sinapis sp.Sloanea cf.Smilax cf. brasiliensisSolanum americanumSolanum asperum var. angustifoliumSolanum caavuranumSolanum cyananthumSolanum aff. flagellareSolanum giloSolanum incarceratumSolanum lycopersicumSolanum spp.Spathicarpa burchellianaSpermacoce tenellaSpigelia anthielmaSpilanches iabadencisSpondias spp.Spondias tuberosaStachytarpheta coccineaStachytarpheta glabraStachytarpheta sp.Staelia sp.Stemodia maritimaSterculia chichaStillingia trapezoideaeStilnopappus procumbensStilnopappus trichosporoidesStreptostachyns asperifoliaStreptostachys sp.Strutanthus flexicaulisStrychnos sp.Strychnos rubiginosaStyrax punctatumSwartzia flaemengiiSweetia cf. elegans

TTabebuia caraibaTabebuia impetiginosaTabebuia serratifoliaTabebuia spongiosaTabebuia spp.Toccarum cf. weddellianumTalisia esculentaTamarindus indicaTapirira guianensisTemnadenia stellarisTerminalia actinophylla

Terminalia fagifoliaThiloa glaucocarpaTillandsia aff. loliaceaTocoyena brasiliensisTocoyena formosaTournefortia bicolorTournefortia salzmanniiTragia volubilisTrema micranthaTrichilia hirtaTrichogonia campestrisTrichogonia salviaefoliumTriplaris tomentosaTurnera blanchetianaTurnera calyptrocarpaTurnera pumileaTurnera sp.Turnera ulmifoliaTurnera ulmifolia var. surinamensis

VVellozia cinerascensVellozia plicataVernonia fruticulosaVernonia sp.Vernonia unguiculataVinca roseaViolaceae sp.Vitex aff. sellowianaVitex collothyrsaVitex sp.

WWaltheria albicansWaltheria bracteosaWaltheria pohlianaWaltheria ferrugineaWaltheria indicaWaltheria rotundifoliaWissadula hernandioididesWissadula subpeltata

XXestea lisianthoides

Page 91: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 91

Ximenia americanaXylopia sericea

ZZanthoxylum sp.Zanthoxylum stelligerumZea maysZexmenia hookerianaZingiber officinaleZiziphus aff. cotinifoliaZiziphus joazeiroZiziphus spp.Zornia cf. echinocarpaZornia diphyllaZornia diphylla var. leptophylla

LISTA DOS NOMES CIENTÍFICOS DA FAUNA

MAMÍFEROS

MARSUPIALIADedelphis albiventer

EDENTADADasypus novemcinctusDasypus septencinctusEuphractu sexcinctusTolypeutes tricinctusTamandua tetradactylaMyrmecophaga tridactyla

ARTIODACTYLAMazama gouazoubiraMazama americanaTayassu tajacuTayassu pecary

RODENTIADasyprocta cf. prymnolophaCunniculus pacaKerodon rupestrisGalea spixiiTrichomys apereoidesOryzomys nigripesOryzomys subflavusCalomys callosus

CARNIVORAFelis yaguoroundiFelis tigrinaFelis concolorFelis pardalisFelis wiediiPanthera oncaDusicyon thousDusicyon vetulusEira barbaraProcyon cancrivorusConepatus semistriatus

PRIMATACallithrix jacchusCebus apellaAlouatta caraya

EMBALLONURIDAEPeropteryx macrotis

NOCTILIONIDAENoctilio leporinusNoctilio albiventer

MORMOOPIDADEPteronotus parnellii

PHYLLOSTOMIDAEMicronycteris minuttaTonatia bidensMimon bennettiPhyllostomus discolorPhyllostomus hastatusTrachops cirhosus

GLUSSOPHAGINAEGlossophaga soricinaLochophylla sp.

CAROLINAECarollia perspicillata

STURNIRINAESturnira lilium

STENODERMATINAEChiroderma villosumArtibeus planirostrisArtibeus lituratusDESMODONTINAE

Page 92: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

92 Série Meio Ambiente Debate, 13

Desmodus rotundusDiphylla ecaudata

FURIPTERIDAEFuripterus horrens

VESPERTILIONIDAEHistiotus sp. GervaisMyotis nigricans Schinz

MOLLOSSIDAEMollosus mollosusNictinomus laticaudatus

AVES

FAMILIA TINAMIDAECrypturellus parvirostrisCrypturellus tataupaCrypturellus noctivagusNothura boraquira

FAMILIA PODICIPEDIDAEPodiceps dominicus

FAMILIA PHALACROCORIDAEPhalacrocorax olivaceus

FAMILIA ANHINGIDAEAnhinga anhinga

FAMILIA ARDEIDAEArdea cocoiCasmerodius albusEgretta thulaButorides striatusBubulcus ibisSyrigma sibilatrixNycticorax nycticoraxTigrisoma lineatumIxobrychus involucris

FAMILIA CICONIDAEMycteria americana

FAMILIA ANATIDAEDendrocygna viduataDendrocygna autumnalisAmazonetta brasiliensis

Cairina moschata

FAMILIA CATHARTIDAESarcoramphus papaCoragyps atratusCathartes auraCathartes burrovianus

FAMILIA ACCIPITRIDAEGampsonyx swainsoniiIctinea plumbeaAccipiter bicolorGeranoaetus melanoleucosHeterospizias meridionalisButeo albicaudatusButeo albonotatusButeo swainsoniiButeo magnirostrisButeo brachyurusGeranospiza caerulescens

FAMILIA FALCONIDAEMicrastur ruficollisHerpetotheres cachinnansMilvago chimachimaPolyborus plancusFalco femoralisFalco sparverius

FAMILIA CRACIDAEPenelope superciliarisPenelope jacucacaFAMILIA ARAMIDAEAramus guarauna

FAMILIA RALLIDAEAramides cajaneaPorzana albicollisLaterallus melanophaiusCallinula chloropusPorphyrula martinica

FAMILIA CARIAMIDAECariama cristata

FAMILIA JACANIDAEJacana jacana

FAMILIA CHARADRIIDAE

Page 93: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 93

vanellus chilensisHoploxypterus cayanus

FAMILIA SCOLOPACIDAETringa solitariaTringa flavipesActitis macularia

FAMILIA RECURVIROSTRIDAEHimantopus himantopus

FAMILIA COLUMBIDAEColumba picazuroZenaida auriculataColumbina minutaColumbina talpacotiColumbina picuiClaravis pretiosaScardafella squammataLeptotila verreauxi

FAMILIA PSITACIDAEAra maracanaAra chloropteraAratinga leucophtalmaAratinga cactorumForpus xanthopterygiusAmazona aestivaFAMILIA CUCULIDAECoccyzus melacoryphusPiaya cayanaCrotophaga aniCrotophaga majorGuira guiraTapera naeviaDromococcyx phasianellus

FAMILIA TYTONIDAETyto alba

FAMILIA STRIGIDAEBubo virginianusOtus cholibaGlaucidium brasilianum

FAMILIA NYCTIBIIDAE

Nyctibius griseus

FAMILIA CAPRIMULGIDAEPodager nacundaChordeiles pusillusNyctidromus albicollisCaprimulgus parvulusCaprimulgus rufusCaprimulgus hirundinaceusHydropsalis brasiliana

FAMILIA APODIDAEStreptoprocne zonarisStreptoprocne biscutataReinarda squamata

FAMILIA TROCHILIDAEPhaethornis nattereriPhaethornis gounelleiEupetomena macrouraColibri serrirostrisChrysolampis mosquitusChlorostilbon aureoventrisCalliphlox aemethystina

FAMILIA TROGONIDAETrogon curucuiFAMILIA GALBULIDAEGalbula ruficauda

FAMILIA ALCEDINIDAECeryle torquataChloroceryle amazonaChloroceryle americana

FAMILIA BUCONIDAENystalus maculatus

FAMILIA PICIDAEPicumnus limaePicumnus pygmaeusColoptes melanochlorosDryiocopus lineatusVeniliornis passerinusCampephilus melanoleucos

Page 94: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

94 Série Meio Ambiente Debate, 13

Celeus flavescens

FAMILIA LEPIDOCOLAPTIDAEDendrocolaptes platyrostrisLepidocolaptes angustirostrisCampylorhamphus trochilirostris

FAMILIA FURNARIDAEFurnarius figulusFurnarius leucopusSynallaxis ruficapillaSynallaxis frontalisSynallaxis albescensCethiaxis cinnamomeaPseudoseisura cristataGyalophylax hellmayriPoecilurus scutatusMegaxenops parneguae

FAMILIA FORMICARIDAETaraba majorSakesphorus cristatusThamnophilus doliatusThamnophilus punctatusHerpsilochmus pileatusMyrmochilus strigilatusFormicivora melanogasterFormicivora griseaHylopeuzus ochorleucosFAMILIA COTINGIAEPlatypsaris rufusPachyramphus polychopterusFAMILIA TYRANNIDAEFluvicola picaFluvicola nengetaSatrapa icterophrysMachetornis rixosusTyrannus melancholicusMegarhynchus pitanguaMyiodynastes maculatusMyiozetetes similisPitangus sulphuratusPitangus lictorCasiornis fuscaMyarchus tyrannulusMyiobius barbatusHirundinea ferrugineaTodirostrum cinereumIdioptilon margaritaceiventer

Euscartmus meloryphusElaenia flavogasterXolmis iruperoArundinacola arundinicolaEmpidonax euleriSerpophaga subcristataElaenia flavogasterMyiopagis viridicataCamptostoma obsoletumPhyllomyias fasciatusLeptogon amaurocephalus

FAMILIA HIRUNDINIDAETachycineta albiventerProgne chalybeaStelgidopteryx ruficollis

FAMILIA CORVIDAECyanocorax cyanopogonFAMILIA TROGLODYTIDAETroglodytes aedonThryotorus longirostris

FAMILIA MIMIDAEMimus saturninus

FAMILIA TURDIDAETurdus rufiventrisTurdus amaurochalinusTurdus leucomelasFAMILIA SYLVIIDAEPolioptila plumbeaFAMILIA VIREONIDAECyclarhis gujanensisViero olivaceusHylophilus poicilotis

FAMILIA ICTERIDAEMolothrus bonariensisMolothrus badiusGnorimopsar chopiAgelaius rifucapillusIcterus cayanensisIcterus icterusSturnella militaris

FAMILIA PARULIDAEBasileuterus flaveolusFAMILIA COEREBIDAECoereba flaveola

Page 95: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

Série Meio Ambiente Debate, 13 95

Conirostrumspeciosum

FAMILIA THRAUPIDAEEuphomia chloroticaThraupis sayacaNemosia pileataHemithraupis guiraSericossypha loricataTachyphonus rufus

FAMILIA FRINGILIDAEParoaria dominicanaCyanocompsa cyaneaSporophila lineolaSporophila nigricollisSporaphila albogularisOryzoborus maximilianiSicalis flaveolaSicalis citrinaCoryphopingus pileatusCarduelis yarrelliiVolatinia jacarinaFAMILIA EMBEREZIDAEPasser domesticus

RÉPTEISSAURIABriba brasilianaVanzoia KlugeiHemidactylus maboyiaPhyllopezus pollicarisGymnodactylus geckoidesAmeiva ameivaCnemidophorus ocelliferCnemidophorus sp.Micrablepharus maximilianiCalyptommatus sp.Gymnophtalmus multiscutatusMabuya g. bistriataTampinurus semitaeniatusTapinurus helenaeTropidurus hispidusIguana iguanaTupinambis tequixinAmphisbaena cf. vermicularisAmphisbaena alba

SERPENTESChironius carinatusLiophis viridisPhilodryas nattereriPhilodryas olfersiiOxybelis aeneusOxyrhopus trigeminusWaglerophis merremiiSpillotes pullatusClelia occipitoluteaPhylodryas olfersii lichtensteinThamnodynastes sp.Boa constrictor constrictorMicrurus ibibobocaBothrops erythromelasBothrops neuwiediCrotalus durissus cascavellaEpicrates cenchria

CHELONIAPhrynops geoffroanusPhrynops tuberculatusCROCODILIAcaiman crocodilus

ANFÍBIOSANURABufo granulosusBufo marinusBufo paracnemisOlolygonx-signataOlolygon pachychrusPhyllomedusa hipocondrialisLeptodactylus fuscusLeptodactylus labyrinthicusLeptodactylus macrosternumLeptodactylus syphaxLeptodactylus troglodytesLeptodactylus latinasusPhysalaemus albifronsPhysalaemus cuvieriPhysalaemus kroyeriDermatonotus muelleriCeratophrys cf. joazeirensis

Page 96: Conservaçªo, Ecologia Humana e Sustentabilidade na ...lieas.fe.ufrj.br/download/livros/LIVRO-CONSERVACAO_ECOLOGIA_HUMANA... · Divisªo de Divulgaçªo TØcnico-Científica - DITEC

96 Série Meio Ambiente Debate, 13

Série Meio Ambente em Debate

1 . Seminário sobre a Formação do Educador para Atuar no Processo de GestãoAmbiental - Anais

2 . Modernidade, Desenvolvimento e Meio Ambiente - Cristovam Buarque3 . Desenvolvimento Sustentável - Haroldo Mattos de Lemos4 . A Descentralização e o Meio Ambiente - Aspásia Camargo5 . A Reforma do Estado - Cláudia Costim6 . Meio Ambiente e Cidadania - Marina Silva7 . Desenvolvimento Sustentável - Ignacy Sachs8 . A Política Nacional Integrada Para a Amazônia Legal - Seixas Lourenço9 . Diretrizes Para Operacionalização do Programa Nacional de Educação Ambiental

- Elisio Oliveira10 . Análise de Um Programa de Formação de Recursos Humanos em Educação

Ambiental - Nilza Sguarezzi11 . A Inserção do Enfoque Ambiental no Ensino Formal de Goiás - Magali Izuwa12 . Educação Ambiental para o Século XXI &

A Construção do Conhecimento: suas implicações na educação ambiental -Naná Mininni Medina

ARTE DITEC