CONSERVAÇÃO DE Victoria amazonica (NYMPHEACEAE) NO JARDIM BOTÂNICO PLANTARUM

1
CONSERVAÇÃO DE Victoria amazonica (NYMPHEACEAE) NO JARDIM BOTÂNICO PLANTARUM José A. V. Monteiro 1,2 *, Antonio Campos-Rocha 1 , Edgar F. Souto 1 , Harri Lorenzi 1 1 Jardim Botânico Plantarum *[email protected] 2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGPDS) Introdução Victoria amazonica (Poepp.) J.C. Sowerby – NYMPHEACEAE é uma planta herbácea rizomatosa, aquática emersa, robusta, anual, nativa do Norte do Brasil, Bolívia e Guianas (rios amazônicos). As folhas são flutuantes, gigantes (até 2,2 m de diâmetro), em número de até 24 por planta, peltadas, com margens levantadas e avermelhadas, a face inferior com uma rede de nervuras e compartimentos cheios de ar e totalmente cobertos de espinhos muito pungentes, sobre pecíolos de 1-4 m e também espinhentos. Flores formadas no verão e outono, uma a cada 2 - 3 dias e que duram apenas dois dias, muito perfumadas e brancas quando se abrem no início da noite [1]. No Jardim Botânico Plantarum (JBP), situado em Nova Odessa (SP), a espécie é cultivada em lagos impermeabilizados e situados a pleno sol, com 40-80 cm de profundidade, preenchidos por água turva e parada. Os lagos são povoados por pequenos peixes – que se alimentam de algas, moluscos e larvas – os quais evitam a proliferação de mosquitos, além de fertilizar a água. Por ter ciclo de vida com duração em torno de dez meses, fora do ambiente natural a planta deve ser replantada todos os anos, no início da primavera. Como não há registro de polinizadores para a espécie no interior do estado de São Paulo, sua polinização é realizada mecanicamente pela equipe técnica do Jardim Botânico Plantarum, objetivando a obtenção de frutos e sementes viáveis para a sua conservação e intercâmbio. Victoria amazonica em floração no JBP. (a) - Flor; (b) - Corte vertical da flor; (c) - Semente. Victoria amazonica Metodologia Anualmente, em meados de setembro as mudas de vitória-régia são plantadas no fundo dos lagos, em substrato organo-argiloso e com lâmina d’água entre 40-60 cm. À medida que as folhas se desenvolvem, mais água vai sendo adicionada até que o lago atinja 80 cm de profundidade. A partir de meados de dezembro cada planta apresenta em média 10-14 folhas contemporâneas, quando tem início o período de floração, que se estende até o fim de maio. É então selecionada uma flor bem formada, a qual é cortada no segundo dia de abertura (quando o pólen está maduro) e conservada em embalagem plástica, mantida em refrigeração a 10°C. Cada nova flor que desabrocha recebe em seu estigma, pinceladas de pólen da flor conservada em geladeira, ocasionando a fecundação da flor recém-aberta. O processo de fecundação antrópica tem de ser realizado, impreterivelmente, logo que a flor se abre e antes do fechamento da câmara estigmática (pelos rígidos estaminódios) o que ocorre em poucos minutos. Os frutos que se sucedem amadurecem por um período médio de 50-60 dias e então liberam centenas de sementes envoltas em mucilagem, que as fazem flutuar por aproximadamente 15 horas, prazo em que devem ser recolhidas por peneiramento e plantadas em seguida. Resultados e Discussão Os melhores resultados foram obtidos dentro das seguintes condições de manejo: - As sementes devem ser recolhidas enquanto flutuam e plantadas no mesmo dia, a uma profundidade de 02 cm, 03 sementes por vaso de Ø15cm preenchido por substrato organo- argiloso; - Os vasos já semeados devem ser submersos em reservatório situado dentro de estufa, preenchido por água mantida a 28°C, com uso de termostato e aquecedor; - O nível de insolação deve ser de aproximadamente 75%; - O período de luminosidade ideal é de ≥08 h/ dia; - A emergência ocorre em média após 30 dias; - A taxa de germinação atinge a média de 60%; - Deve ser efetuado o desbaste quando houver mais de uma muda por vaso, deixando-se a mais vigorosa. - As plântulas estarão prontas para o plantio nos lagos quando tiverem 03 folhas e as raízes estiverem saindo dos furos de drenagem do vaso. Estudos complementares a este podem elucidar se há viabilidade na utilização de técnicas diferentes das aqui apresentadas, em outras regiões do país. Conclusões Por meio da modalidade de conservação ex situ o Jardim Botânico Plantarum cria condições para promover intercâmbio de material propagativo de espécies vegetais com outras instituições e Jardins Botânicos do Sudeste, além de proporcionar a milhares de pessoas o contato com esta espécie que é um dos ícones mais representativos da cultura relacionada à flora brasileira. Agradecemos à organização do 64º Congresso Nacional de Botânica e à equipe do Jardim Botânico Plantarum. Referências Bibliográficas [1] Lorenzi, H. 2013. Plantas para jardim no Brasil. 1 ed. Nova Odessa, Instituto Plantarum. a b c 64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013

Transcript of CONSERVAÇÃO DE Victoria amazonica (NYMPHEACEAE) NO JARDIM BOTÂNICO PLANTARUM

Page 1: CONSERVAÇÃO DE Victoria amazonica (NYMPHEACEAE) NO JARDIM BOTÂNICO PLANTARUM

www

CONSERVAÇÃO DE Victoria amazonica (NYMPHEACEAE) NO JARDIM BOTÂNICO PLANTARUM

José A. V. Monteiro1,2 *, Antonio Campos-Rocha1, Edgar F. Souto1, Harri Lorenzi1

1 Jardim Botânico Plantarum *[email protected] Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGPDS)

Introdução Victoria amazonica (Poepp.) J.C. Sowerby – NYMPHEACEAE é uma planta herbácea rizomatosa, aquática emersa, robusta, anual, nativa do Norte do Brasil, Bolívia e Guianas (rios amazônicos). As folhas são flutuantes, gigantes (até 2,2 m de diâmetro), em número de até 24 por planta, peltadas, com margens levantadas e avermelhadas, a face inferior com uma rede de nervuras e compartimentos cheios de ar e totalmente cobertos de espinhos muito pungentes, sobre pecíolos de 1-4 m e também espinhentos. Flores formadas no verão e outono, uma a cada 2 - 3 dias e que duram apenas dois dias, muito perfumadas e brancas quando se abrem no início da noite [1]. No Jardim Botânico Plantarum (JBP), situado em Nova Odessa (SP), a espécie é cultivada em lagos impermeabilizados e situados a pleno sol, com 40-80 cm de profundidade, preenchidos por água turva e parada. Os lagos são povoados por pequenos peixes – que se alimentam de algas, moluscos e larvas – os quais evitam a proliferação de mosquitos, além de fertilizar a água. Por ter ciclo de vida com duração em torno de dez meses, fora do ambiente natural a planta deve ser replantada todos os anos, no início da primavera. Como não há registro de polinizadores para a espécie no interior do estado de São Paulo, sua polinização é realizada mecanicamente pela equipe técnica do Jardim Botânico Plantarum, objetivando a obtenção de frutos e sementes viáveis para a sua conservação e intercâmbio.

Victoria amazonica em floração no JBP.

(a) - Flor;

(b) - Corte vertical da flor;

(c) - Semente.

Victoria amazonica

Metodologia Anualmente, em meados de setembro as mudas de vitória-régia são plantadas no fundo dos lagos, em substrato organo-argiloso e com lâmina d’água entre 40-60 cm. À medida que as folhas se desenvolvem, mais água vai sendo adicionada até que o lago atinja 80 cm de profundidade. A partir de meados de dezembro cada planta apresenta em média 10-14 folhas contemporâneas, quando tem início o período de floração, que se estende até o fim de maio. É então selecionada uma flor bem formada, a qual é cortada no segundo dia de abertura (quando o pólen está maduro) e conservada em embalagem plástica, mantida em refrigeração a 10°C. Cada nova flor que desabrocha recebe em seu estigma, pinceladas de pólen da flor conservada em geladeira, ocasionando a fecundação da flor recém-aberta. O processo de fecundação antrópica tem de ser realizado, impreterivelmente, logo que a flor se abre e antes do fechamento da câmara estigmática (pelos rígidos estaminódios) o que ocorre em poucos minutos. Os frutos que se sucedem amadurecem por um período médio de 50-60 dias e então liberam centenas de sementes envoltas em mucilagem, que as fazem flutuar por aproximadamente 15 horas, prazo em que devem ser recolhidas por peneiramento e plantadas em seguida.

Resultados e Discussão Os melhores resultados foram obtidos dentro das seguintes condições de manejo:- As sementes devem ser recolhidas enquanto flutuam e plantadas no mesmo dia, a uma profundidade de 02 cm, 03 sementes por vaso de Ø15cm preenchido por substrato organo-argiloso;- Os vasos já semeados devem ser submersos em reservatório situado dentro de estufa, preenchido por água mantida a 28°C, com uso de termostato e aquecedor;- O nível de insolação deve ser de aproximadamente 75%;- O período de luminosidade ideal é de ≥08 h/dia;- A emergência ocorre em média após 30 dias;- A taxa de germinação atinge a média de 60%; - Deve ser efetuado o desbaste quando houver mais de uma muda por vaso, deixando-se a mais vigorosa.- As plântulas estarão prontas para o plantio nos lagos quando tiverem 03 folhas e as raízes estiverem saindo dos furos de drenagem do vaso. Estudos complementares a este podem elucidar se há viabilidade na utilização de técnicas diferentes das aqui apresentadas, em outras regiões do país.

Conclusões Por meio da modalidade de conservação ex situ o Jardim Botânico Plantarum cria condições para promover intercâmbio de material propagativo de espécies vegetais com outras instituições e Jardins Botânicos do Sudeste, além de proporcionar a milhares de pessoas o contato com esta espécie que é um dos ícones mais representativos da cultura relacionada à flora brasileira.

Agradecemos à organização do 64º Congresso Nacional de Botânica e à equipe do Jardim Botânico Plantarum.

Referências Bibliográficas[1] Lorenzi, H. 2013. Plantas para jardim no Brasil. 1 ed. Nova Odessa, Instituto Plantarum.

a b

c

64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013