Consciência, luta e organização faz trabalhadores rurais conquistarem terras em busca da...

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O Assentamento São Francisco II fica cerca de 16 quilômetros da sede do município de São Francisco, no norte de Minas Gerais e fica situado as margens do Velho Chico. A história começa em 2001 quando um grupo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST chegou a região para fazer trabalho de base. Nessa época, algumas famílias que passavam por muitas necessidades tiveram a oportunidade de conhecer seus direitos e a importância de organizar e lutar para conseguir um pedaço de chão. Nessa época, eles já sabiam de uma grande fazenda da região que tinha muitas irregularidades e contradições. O homem que se dizia dono dessa terra nem vivia no lugar. Foi então que as famílias cansadas de engolir as injustiças e sabendo dos seus direitos, resolveram fazer a primeira ocupação. A pressão foi muito grande. As 176 famílias foram logo expulsas pela policia e tiveram de ir para a beira da estrada aonde montaram acampamento. Isso aconteceu muitas vezes, chegando a ser despejados até duas vezes em um único dia. A única ajuda que encontraram nessa época foi do padre Vicente do município. Mesmo com tantas dificuldades, eles não desistiram. Eles se aproximaram dos posseiros do entorno como estratégia para ganhar mais força e foi aí que no dia 12 de outubro de 2001 as famílias de trabalhadores rurais sem terra organizadas, definitivamente ocuparam a fazenda com cerca de 2.482 hectares. Várias audiências foram realizadas mostrando muitas irregularidades e crimes que aconteciam na fazenda como expulsão de posseiros e grilagem de terra. Apesar do preconceito e injustiça que as famílias sofreram em 2009 saiu a posse da terra e o assentamento foi reconhecido oficialmente. Minas Gerais Ano 6 | nº 1010| outubro | 2012 São Francisco -MG Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas CONSCIÊNCIA, LUTA E ORGANIZAÇÃO FAZ TRABALHADORES RURAIS CONQUISTAREM TERRA EM BUSCA SEGURANÇA ALIMENTAR 1 Família assentada seleciona as sementes das hortaliças para fortalecer a independencia e garantir qualidade na alimentação O Assentamento São Francisco II, mostra que a luta pela terra faz parte da luta pela segurança alimentar

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O Assentamento São Francisco II fica cerca de 16 quilômetros da sede do município de São Francisco, no norte de Minas Gerais e fica situado as margens do Velho Chico.

A história começa em 2001 quando um grupo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST chegou a região para fazer trabalho de base. Nessa época, algumas famílias que passavam por muitas necessidades tiveram a oportunidade de conhecer seus direitos e a importância de organizar e lutar para conseguir um pedaço de chão. Nessa época, eles já sabiam de uma grande fazenda da região que tinha muitas irregularidades e contradições. O homem que se dizia dono dessa terra nem vivia no lugar. Foi então que as famílias cansadas de engolir as injustiças e sabendo dos seus direitos, resolveram fazer a primeira ocupação. A pressão foi muito grande. As 176 famílias foram logo expulsas pela policia e tiveram de ir para a beira da estrada aonde montaram acampamento. Isso aconteceu muitas vezes, chegando a ser despejados até duas vezes em um único dia.

A única ajuda que encontraram nessa época foi do padre Vicente do município. Mesmo com tantas dificuldades, eles não desistiram. Eles se aproximaram dos posseiros do entorno como estratégia para ganhar mais força e foi aí que no dia 12 de outubro de 2001 as famílias de trabalhadores rurais sem terra organizadas, definitivamente ocuparam a fazenda com cerca de 2.482 hectares.

Várias audiências foram realizadas mostrando muitas irregularidades e crimes que aconteciam na fazenda como expulsão de posseiros e grilagem de terra. Apesar do preconceito e injustiça que as famílias sofreram em 2009 saiu a posse da terra e o assentamento foi reconhecido oficialmente.

Minas Gerais

Ano 6 | nº 1010| outubro | 2012São Francisco -MG

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

CONSCIÊNCIA, LUTA E ORGANIZAÇÃO

FAZ TRABALHADORES RURAIS

CONQUISTAREM TERRA EM BUSCA

SEGURANÇA ALIMENTAR

1

Família assentada seleciona as sementes das hortaliças para fortalecer a independencia e garantir qualidade

na alimentação

O Assentamento São Francisco II, mostra que a luta pela terra faz parte da luta pela segurança alimentar

EM BUSCA DA SEGURANÇA ALIMENTAR

Assim que eles entraram na terra, na primeira colheita que tiveram, eles fizeram questão de encher um caminhão com alimentos e distribuir na cidade para pessoas que precisavam. Eles contam que muitas pessoas que receberam, eram pessoas que tinham preconceitos e que falavam mal deles e da luta da reforma agrária. Os meios de comunicação, o poder público e muitas entidades que eram pra ser representativas, acabavam defendendo os interesses do fazendeiro. A única coisa que eles queriam, além de fazer a partilha, era mostrar que eles eram trabalhadores rurais que só queriam um pedaço de chão para plantar seus alimentos. E assim mostraram.

Mesmo com conquistas importantes como o reconhecimento pelo INCRA da titularidade das terras, eles nunca receberam nenhum investimento de infraestrutura, como crédito, casa, acompanhamento técnico, entre outros que lhe são de direitos. Com todos os desafios, eles encontraram na organização e no trabalho coletivo a grande saída para garantir a produção de alimentos, e também dar continuidade as lutas em busca dos reconhecimento dos direitos. As 60 famílias que hoje moram no assentamento, se dividem em 5 grupos de trabalho. Cada grupo trabalha em conjunto, desenvolvendo seus projetos, vocações, partilhando experiências e até fazendo roça coletivamente. Eles produzem quase tudo que precisam: milho, feijão, arroz, abóbora, quiabo, amendoim, hortaliças e demais verduras... Com a mandioca eles fazem farinha e goma, com a cana eles produzem rapadura, cachaça, garapa e ainda fazem ração. Da criação das abelhas, eles tiram o mel. Além disso, eles criam porcos, galinhas e um pouco de gado, animais que são alimentados com a própria produção do assentamento.

O fato de estarem as margens do São Francisco, contribui entre outras coisas para a diversidade alimentar, já que o peixe faz parte da nutrição das famílias. A maioria deles também são pescadores, mas a saúde do Rio São Francisco já é sentido por aqueles que são mais experientes. Além de terem que conviver em algumas épocas do ano, hora com as cheias, hora com o assoreamento do rio mais evidente,

eles convivem com o descaso público e o abuso por parte de grandes empresas. Um exemplo é a contaminação das águas pela Votorantim Metais, uma grande empresa de mineração que volta e meia permite vazamentos de metais pesados.

Mesmo morando perto do rio, eles dependem de carro pipa, pois falta água para beber e cozinhar. Eles acreditam que além de ter seus direitos respeitados, é de fundamental importância terem acesso a comunicação, para divulgar para mais pessoas a importância da reforma agrária.

Apesar de muitos desafios, eles vem demonstrando que a reforma agrária ainda permanece como uma forma de resistência e estratégia para soberania e segurança alimentar e nutricional.

As famílias assentadas se organizam em grupo para o trabalho e planejam a produção de acordo com a vocação.

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Criação de abelhas é uma ótima estratégia para segurançaalimentar pois o mel, além de ser um ótimo remédio natural é

um alimento muito rico em nutrientes.

2 Sindicato dos Trab. Rurais Porteirinha-MG

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