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CONHECENDO OS EFEITOS DA INGESTÃO DE ÁLCOOL
Autor: Darci Eichlt1
Orientadora: Helaine Maruska Vieira Silva2
Resumo
Através de uma recente estatística da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) constatou-se aumento do número de estudantes brasileiros consumidores de álcool na adolescência. Diante dessa realidade, o presente estudo teve por finalidade desenvolver um trabalho educativo junto aos alunos da 7ª série de um colégio estadual do oeste do Paraná. As atividades foram realizadas no 2º semestre de 2011, tendo como foco central a discussão dos malefícios do álcool sobre o organismo humano, a fim de que se incentive valorizar no aluno o autocuidado com a saúde. Foram realizadas várias atividades pedagógicas como levantamento bibliográfico, construção de seminários para apresentação oral, participação em palestra com profissional da área de saúde e ensaio experimental. Foi aplicado em sala de aula um questionário para avaliar as concepções dos alunos a respeito do alcoolismo, no início e ao final da implementação pedagógica. Baseando na participação dos alunos nas atividades propostas neste estudo, concluímos que as mesmas mostraram ser compatíveis ao nível de desenvolvimento intelectual dos estudantes com idades entre 11-12 anos, e ainda, permitiu momentos de reflexão e estruturação de informações, processos que fazem parte da formação educacional de um indivíduo.
Palavras-chave: álcool, escolares, efeitos nocivos.
1 Autor Professor de Ciências do Colégio Estadual Marechal Gaspar Dutra - Ensino Fundamental e Médio – Nova Santa Rosa – NRE – Toledo – Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – 2010-Ciências – Vinculado a Universidade Estadual do Paraná – Unioeste – Campus de Cascavel. 2 Orientadora Professora Doutora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE
- Campus de Cascavel na Disciplina de Fisiologia Humana e Biofísica.
1 Introdução
O consumo de drogas ilícitas por adolescentes, como a maconha e a
cocaína, é relativamente baixo quando comparado ao uso das drogas lícitas, como o
álcool (TAVARES, 2001). Ao contrário das drogas ilícitas, o primeiro contato que a
maioria dos adolescentes tem com o álcool ocorre dentro de casa, sob o olhar
complacente da família, que aceita e tolera esse tipo de substância. Essa postura
familiar sinaliza a idéia de que o álcool, quando devidamente utilizado em situações
sociais, tem boas funções, como promover encontros sociais ou o “relaxamento”
após um dia estafante (MORENO, 2009). Além do mais, a envolvente publicidade de
bebida (principalmente cerveja) procura cada vez mais conquistar jovens
consumidores. Nas propagandas, beber é divertido, engraçado, incita a idéia da
correlação bebida com popularidade, um dos status mais desejados entre os jovens
e adolescentes (FARIA, 2011).
Diante do exposto, discutir a questão do consumo excessivo de álcool e
alcoolismo no ambiente escolar, a forma com que esta droga afeta os sistemas que
compõe o corpo humano (conforme DCE 2008: Conteúdo específico abordado pelo
Conteúdo Básico Morfologia e Fisiologia dos Seres Vivos), torna-se imprescindível
para se iniciar um trabalho informativo visando valorizar o autocuidado com a saúde,
incentivar a resiliência, para que o indivíduo seja capaz de dizer “não” diante da
oferta do álcool, propiciar ambiente para o desenvolvimento do pensamento crítico
sobre o efeito das propagandas de bebidas alcoólicas sobre as pessoas –
principalmente os adolescentes. Diante dessa realidade, o presente estudo visa
desenvolver um trabalho informativo de caráter educativo junto à comunidade
escolar sobre os malefícios do álcool sobre o organismo humano, a fim de que seja
o primeiro passo, o repasse de informação, como meio de conduzir e iniciar as fases
de sensibilização e conscientização.
2 Desenvolvimento
As bebidas alcoólicas representam as drogas mais antigas das quais se tem
conhecimento, por seu simples processo de produção. Embora atualmente, as
bebidas alcoólicas sejam diferenciadas por suas propriedades, tais como suas
matérias primas e diferentes teores alcoólicos, todas elas têm uma origem básica
comum, isto é, todas derivam de um processo bioquímico denominado fermentação
alcoólica. A fermentação alcoólica é um tipo de reação química realizada pela ação
de microorganismos (leveduras) sobre os açúcares (C6H12O6), produzindo etanol
(C2H5OH) e gás carbônico(CO2). Para separar o etanol, recorre-se a uma destilação
simples ou fracionada e é essa substância, o etanol, também conhecida como álcool
etílico, ou simplesmente, álcool, que possui propriedade psicoativa (FERREIRA;
MONTES, 1999).
Os problemas associados com o consumo abusivo de bebidas alcoólicas
permeiam questionamentos a respeito de ser esta a principal causa, direta ou
indireta, de uma série de patologias, tanto físicas como mentais, e que vem se
constituindo como uma das principais causas de mortalidade na maioria dos países.
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004) classifica os prejuízos causados pelo
álcool em crônicos e agudos. Englobam os prejuízos crônicos doenças e problemas
sociais; já os agudos permeiam violências, acidentes e doenças agudas (CIUFFA;
SOUSA; MEZA, 2010).
O alcoolismo ocasiona tanto problemas sociais, psicológicos, quanto físicos.
A dependência da bebida alcoólica traz conseqüências físicas, como por exemplo:
pancreatite, cirrose, cardiopatia, hipertensão, úlcera; problemas psicológicos de
memória, depressão, ansiedade, nervosismo, irritabilidade, insônia, etc. Também
gera problemas sociais, como: desemprego, problemas familiares e conjugais,
violência social e doméstica, acidentes laborais e de trânsito, entre outros. (CIUFFA;
SOUSA; MEZA, 2010).
O consumo de álcool, independentemente da quantidade e freqüência, pode
gerar danos à saúde do usuário. O uso em demasia e freqüente pode ocasionar
doenças do fígado, certos tipos de câncer, alterações cardiovasculares, síndrome
fetal alcoólica, problemas de saúde mental, etc (CIUFFA; SOUSA; MEZA, 2010).
Suas propriedades euforizantes e intoxicantes são conhecidas desde
tempos pré-históricos e praticamente todas as culturas têm ou tiveram alguma
experiência com sua utilização. É seguramente a droga psicotrópica de uso e abuso
mais amplamente disseminada em grande número e diversidade de países na
atualidade. Há uma relação entre os efeitos do álcool e os níveis das substâncias no
sangue, que variam em razão do tipo de bebida utilizada, da velocidade do
consumo, da presença de alimentos no estômago e de possíveis alterações no
metabolismo da droga por diversas situações (EDITORA UnB BRASÍLIA, 2006).
Alteração comportamental ocasionada pelo consumo de álcool
Relação do nível de álcool no sangue e alteração comportamental:
Nível de álcool no sangue: Baixo
Desinibição do comportamento;
Diminuição da crítica;
Hilariedade e labilidade afetiva (a pessoa ri ou chora por motivos pouco
significativos);
Certo grau de incoordenação motora;
Prejuízo das funções sensoriais.
Nível de álcool no sangue: Médio
Maior incoordenação motora (ataxia);
A fala torna-se pastosa, há dificuldade de marcha e aumento importante
do tempo de resposta (reflexos mais lentos);
Aumento da sonolência, com prejuízo das capacidades de raciocínio e
concentração.
Nível de álcool no sangue: Alto
Podem surgir náuseas e vômitos;
Visão dupla (diplopia);
Acentuação da ataxia e da sonolência (até o coma);
Pode ocorrer hipotermia e morte por parada respiratória (EDITORA UnB
BRASÍLIA, 2006).
2.1 O que é embriaguez?
A atuação do álcool nas sinapses do córtex cerebral produz o quadro de
embriaguez, que inclui desorientação, diminuição de reflexos, perda da coordenação
motora e redução da capacidade de julgar situações. O fígado fica intoxicado, a
pessoa sente náuseas, tonturas e pode vomitar. Pode até desmaiar e precisar de
atendimento médico. O álcool é um depressor do sistema nervoso, e, embora a
sensação inicial possa ser de ligeira euforia, o aumento da sua concentração no
sangue leva ao comprometimento de atividades vitais, podendo conduzir a estado
de coma, parada respiratória e morte (CANTO, 2004).
2.2 Absorção e metabolização do álcool
Alguns minutos depois da ingestão de uma bebida alcoólica, o álcool passa
do estômago para o sangue, representando 20% do etanol absorvido. Os 80%
restantes via intestino delgado são transferidos para a corrente sanguínea e, por
meio dela, se espalham pelo corpo. Ao passar pelo fígado começa a ser
metabolizado, ou seja, a ser transformado em substâncias diferentes do álcool e que
não possuem os seus efeitos. A primeira substância formada pelo álcool chama-se
acetaldeído, que é depois convertido em acetato por outras enzimas; essas
substâncias, assim com o álcool excedente são eliminadas pelos rins; as que
eventualmente voltam ao fígado acabam sendo transformadas em água e gás
carbônico expelido pelos pulmões. Na passagem do intestino, já o processo de
degradação do álcool pelo fígado obedece a um ritmo fixo podendo ser ultrapassado
pela quantidade consumida. Quando isso acontece temos a intoxicação pelo álcool,
o estado de embriaguez. Isto significa que há muito álcool circulando e agindo sobre
o sistema nervoso além dos outros órgãos. Como a quantidade de enzimas é
regulável, um indivíduo com uso contínuo de álcool acima das necessidades estará
produzindo mais enzimas metabolizadoras do álcool, tornando-se assim mais
“resistente” ao álcool. A presença de alimentos no intestino lentifica a absorção do
álcool. Quanto mais gordura houver no intestino, mais lenta se tornará a absorção
do álcool. Apesar de o álcool ser altamente calórico (um grama de álcool tem 7,1
calorias; o açúcar tem 4,5), ele não fornece material estocável; assim a energia
oferecida pelo álcool é utilizada enquanto ele circula ou é perdida. A famosa “barriga
de chop” é dada mais pelos aperitivos que acompanham a bebida do que pelas
calorias ofertadas pelo álcool (MAROT, 2004).
2.3 Efeitos do álcool sobre o organismo humano
No sistema nervoso, a intoxificação do tecido nervoso pelo álcool induz
elevado risco de derrames, ainda, pode causar loucura alcoólica, doença
semelhante ao mal de Alzheimer, tendo como sintomas perda de memória,
diminuição progressiva da coordenação motora e alterações de humor,
hipersensibilidade, dormência, formigamento nos membros superiores e inferiores
com enfraquecimento progressivo e atrofia dos grupos musculares. O álcool induz
ao estado de euforia patológica, depressão, estado de ansiedade na abstinência
alcoólica, delírios e alucinações, perda de memória e comportamento desajustado.
Resultados de necropsia revelam que pessoas alcoolistas têm o cérebro menor,
mais leve e encolhido, sendo as áreas mais afetadas o cerebelo que é responsável
pela coordenação motora e o córtex pré – frontal região responsável pelo intelecto.
No sistema cardiovascular, o álcool induz freqüentes lesões no coração,
arritmias, derrames, enfraquecimento progressivo, que pode virar atrofia e causar
hipertensão. Em relação ao tecido sanguíneo costuma promover anemia e
alterações nos leucócitos e plaquetas, o que favorece hemorragia.
O efeito do etanol no sistema gastrointestinal, ao nível de esôfago causa
varizes, que pode induzir hemorragia e rasgadura na ligação entre o esôfago e o
estômago, sendo muitas vezes fatal. No estômago provoca gastrite aguda, enjôo,
vômitos, perda de peso e câncer. No fígado enfraquece o órgão, que começa a
acumular gordura e incha; um único episódio abusivo de álcool (vulgarmente
denominado “porre”) pode causar hepatite aguda, que leva à necrose das células
hepáticas e conseqüentemente à morte do indivíduo. O consumo crônico de álcool
comumente resulta em cirrose, condição que pode levar a óbito. No pâncreas
alcoólatras desenvolvem pancreatite crônica, que é a destruição do órgão pelos
próprios sucos digestivos, também trata-se de um episódio fatal. No intestino pode
causar síndrome de má absorção.
O etanol afeta, também, o metabolismo dos hormônios sexuais, provocando
no homem, lesões testiculares, prejudicando a produção de testosterona e a síntese
de esperma causando-lhe a impotência e nas mulheres reduz a fertilidade.
Digno de nota em relação ao consumo durante a gravidez é a síndrome fetal
alcoólica, descrita cientificamente a partir de 1968; é um dos casos mais bem
estudados e documentados de efeito teratogênico. Trata-se de um conjunto de
sintomas que incluem deficiência de crescimento pré-natal e pós-natal, microcefalia
(diâmetro cefálico menor que o normal), retardo mental e face característica.
Anomalias cardíacas também podem ocorrer. A microcefalia é decorrência dos
danos ao tecido cerebral causados pela exposição do concepto ao álcool. A face
típica inclui fissuras palpebrais curtas, nariz achatado e, arcada dentária pouco
desenvolvida. (CANTO, 2004).
A deficiência no crescimento pós-natal é marcante no início da infância e
frequentemente está associada a vômitos. Problemas no desenvolvimento da fala e
da linguagem são comuns em crianças mais velhas. Distúrbios comportamentais
estão presentes nos portadores e incluem hiperatividade e reduzida capacidade de
atenção, o que contribui para baixa potencialidade de aprendizagem (CANTO,
2004).
Graus menores de consumo de álcool durante a gestação estão associados a
deficiências no crescimento intrauterino, anormalidades neurológicas e
comportamentais e alto risco de incidência de anomalias congênitas nas
extremidades do corpo e no trato urogenital. Já foram relatados casos de recém-
nascidos com síndrome de abstinência alcoólica, nascidos de mães que estavam
intoxicadas pelo álcool na época do parto (CANTO, 2004).
Os efeitos adversos do álcool relacionam-se ao estágio em que o concepto é
exposto a ele e à quantidade de álcool ingerida pela gestante. Não há, até o
momento, nenhum estudo que comprove haver uma “quantidade segura” de álcool
que possa ser ingerida pela gestante sem comprometer a saúde do concepto
(CANTO, 2004).
3 Metodologia
Foi desenvolvido um trabalho informativo sobre a temática “álcool e seus
malefícios ao organismo humano” junto aos alunos da 7ª série do período matutino
do Colégio Estadual Marechal Gaspar Dutra, situado no município de Nova Santa
Rosa – Paraná. As atividades foram realizadas no 2º semestre de 2011, e
consistiram da realização de levantamento bibliográfico, participação em palestra
com profissional da área de saúde e debate em sala de aula, realização de aula
prática no laboratório sobre influência do álcool sobre o organismo. Um questionário
para avaliar as concepções que os alunos possuem a respeito do assunto
alcoolismo foi aplicado em sala de aula, no início e ao final da implementação
pedagógica.
4 Resultado e discussão
Participaram da intervenção pedagógica mediante a apresentação do termo
de autorização dos pais ou responsáveis, 24 alunos da 7ª série, do período matutino,
com idades entre 11-12 anos.
O questionário aplicado continha seis questões dissertativas abordando o
tema “prejuízos à saúde” associado ao consumo de álcool. Vinte e quatro alunos (14
meninos e 10 meninas) responderam ao questionário ao início da implementação do
projeto.
No questionário pré-intervenção, como primeira questão o aluno deveria
elaborar uma lista com eventuais riscos que uma pessoa embriagada poderia
acometer contra sua própria vida ou a vida alheia; a maioria dos alunos associaram
a embriaguez aos acidentes de trânsito e violência doméstica. As respostas refletem
a realidade do contexto social atual; estudos mostram forte relação entre ingestão de
álcool e acidentes de trânsito. Em vários países o consumo de álcool é responsável
por até 50% dos acidentes graves ou fatais (MARIN, 2000). Quanto à violência
intrafamiliar, consideram-se duas formas comuns, as agressões físicas e verbais.
Pesquisas demonstram que a convivência diária com uma pessoa alcoolista implica
em diversas formas de violência; interessante salientar quando a violência se torna
naturalizada, ou seja, quando os atos são justificados em razão de um benefício
maior, como exemplo, a expectativa de melhora no quadro de abuso de consumo de
álcool pelo alcoolista ou simplesmente por submissão. Neste caso, os indivíduos que
sofrem a violência a consideram normal (SENA, 2011). Observamos que os alunos
reconhecem que o consumo abusivo de álcool é aliado as graves consequências
sociais e familiares. No entanto, ao serem questionados se o álcool oferece risco
apenas para quem o consome de forma abusiva, alguns alunos (15%) responderam
ser um problema que atinge apenas o alcoolista, associando o alcoolismo como
causa primária ao desenvolvimento de doenças no dependente alcoólico.
Em relação aos efeitos que a bebida alcoólica causa no organismo humano,
a maioria das respostas apresenta a relação álcool com desenvolvimento de câncer.
Também houve associações entre álcool e alterações cognitivas e emocionais,
como exemplo nos relatos “Deixa as pessoas alteradas, nervosas, bringuentas, etc.”;
“A pessoa perde o limite”; “Causa alucinações e destrói o organismo”; “Causa
descontrole e faz ela se sentir mal”. Interessante comentar que seis alunos
descreveram como sendo efeito do álcool sobre o organismo a dor de cabeça,
vômito e tonturas, que são os sintomas mais comuns em quadro de ressaca.
Quando questionados sobre o hábito do consumo de bebidas alcoólicas, a
maioria em seu relato considerou o hábito prejudicial à saúde. Dentre as respostas,
duas apontam uma intencionalidade de consumo de álcool no futuro ou consideram
um hábito natural, conforme os relatos “Para beber acho primeiro que tem que ter
idade, e quando beber, deve beber com moderação”; “acho que deve ser bom, pois
quando você vê uma pessoa beber, fica com vontade de beber”.
Após aula expositiva sobre álcool e seus efeitos gerais sobre os diversos
sistemas que compõem o corpo humano, os alunos foram orientados na realização
de levantamento bibliográfico através de buscas de informações em folhetos, livros,
internet, revistas científicas e outros. Os alunos foram divididos em oito grupos de
acordo com os temas “consumo de álcool”: deficiência motora, fígado, coração,
agressividade, depressão, redução de atenção, memória ou estômago. Através
desta atividade os alunos compilaram várias informações quanto à nocividade do
álcool, as quais foram socializadas em sala de aula por meio de apresentações orais
dos grupos.
A partir do conteúdo trabalhado em sala de aula, os alunos passaram a
elaborar uma “estória”, uma situação que tivesse relação com o tema proposto. Em
seguida, organizaram esta situação em desenhos, para a confecção de cartazes em
folhas de papel sulfite. Um dos recursos instrucionais foram os cartazes e durante a
confecção dos mesmos, observou-se um processo de identificação, pois os jovens
perceberam que os colegas têm sentimentos parecidos com os seus. Os
participantes procuram atribuir significados às figuras, o que enriquece a reflexão.
Não se sentem mais tão sozinhos na fase que estão vivenciando, e passam a
atualizar o seu autoconceito e a sua percepção em relação aos outros e ainda a
resgatar a sua autoestima. Ao participarem dos grupos, os sujeitos expressam, ao
mesmo tempo, a partir de seus discursos, aquilo que é único e também coletivo em
seus múltiplos significados. Com esta atividade prática os alunos tiveram a
oportunidade de desenvolver a arte e a pesquisa, bem como, conscientizar-se
através das informações obtidas e apresentadas nos cartazes. A criação, tanto nos
desenhos, quanto na confecção de frases de combate ao uso excessivo de bebida
alcoólica, bem como a assiduidade na elaboração dos cartazes apontou pontos
positivos na estratégia pedagógica utilizada, pois a produção do material fluiu de
forma fácil dinâmica, participativa e prazerosa (COSTA, www.drearaguaina.com.br).
Os cartazes foram fotografados e através de um programa de computador,
realizaram o stop motion. Para possibilitar a realização desta atividade, foi
necessária a utilização do software “Windows Movie Maker”. Stop motions é uma
técnica de animação quadro a quadro com recursos de uma máquina de filmar,
máquina fotográfica ou por computador. Utilizam-se modelos reais em diversos
materiais, dentre os quais desenhos em folhas de sulfite. Os modelos são
movimentados e fotografados quadro a quadro. Estes quadros posteriomante
montados em uma película cinematográfica, criando a impressão de movimento.
Nesta fase podem ser acrescentados efeitos sonoros como fala ou música
(CIRIACO, 2009).
Após a escolha da uma trilha sonora para a situação criada, os alunos
elaboraram um filme a respeito do conteúdo, no qual transmitiram a mensagem a
respeito das consequências maléficas do consumo de bebida álcool. Com esta
técnica, percebeu-se que os alunos passaram a se interessar mais pela questão,
pois assim, tiveram a possibilidade de trabalhar com as tecnologias, as quais aliás,
se tornam um atrativo a mais na realização da atividade. Esses momentos
pedagógicos permitem reflexões, pois os alunos se deparam com dúvidas e se
empenham na busca de informações, demonstrando preocupação em garantir o
repasse de informações corretas, afinal, esses materiais seriam socializados com
toda a escola, sendo divulgados no site do Colégio.
Os alunos participaram de uma palestra ministrada por um médico da
prefeitura abordando o desenvolvimento de diversas patologias frente ao uso
abusivo de álcool. Foram apresentadas as fases aguda e crônica (direta e indireta),
e a síndrome de abstinência.
Para contribuir na construção do conhecimento sobre a temática central
“malefícios do álcool ao organismo” optou-se por desenvolver uma atividade
investigativa através de um ensaio experimental em laboratório. Os alunos foram
organizados em grupos de até 10 alunos para realizar a experiência no laboratório
de ciências. Primeiramente foi apresentada a situação problema, como ficaria o
aspecto da gema de ovo quando colocada em um recipiente com álcool. Os alunos
organizaram suas hipóteses e as expuseram, permitindo-se o debate entre os
alunos. Várias foram as ponderações e as considerações feitas em aula, ora
concordando, ora refutando as hipóteses. Esse tipo de trabalho permite um
envolvimento emocional intenso, pois o aluno precisa usar suas estruturas mentais
de forma crítica, aliada com suas emoções. Em seguida procedeu-se a
demonstração; primeiro foi colocada a gema do ovo no Becker com capacidade para
200 ml, e acrescentado aos poucos 100 ml de álcool comum. Com o auxílio de uma
espátula mexia-se lentamente a solução, até perceber que a gema começava a ficar
dura (SILVA, www.cienciamao.usp.br). Após a observação os alunos reavaliaram
suas hipóteses e na sequência, discutiu-se a desidratação ocasionada pelo álcool
como um de seus efeitos sobre os tecidos corporais. Atingiu-se o momento em que
o assunto osmose foi trabalhado concomitantemente com a situação-problema
“relação consumo de álcool e diurese”. A aula prática oportunizou um momento
para o educador instigar o aluno a adotar uma postura menos passiva, raciocinando
frente a uma situação problema, criando hipóteses, verbalizando e escrevendo,
enfim, atitudes fundamentais para a formação do educando. Salienta-se que para a
condução das etapas acima mencionadas, o docente deve estar preparado em
relação ao assunto para ter confiança e segurança durante os debates, as
proposições e as argumentações dos alunos frente à atividade investigativa.
Dezessete alunos (12 do sexo masculino e 5 do sexo feminino) responderam
ao questionário pós-intervenção o qual continha as mesmas perguntas do
questionário aplicado anteriormente. Não se observou diferença no teor das
respostas ao analisar ambos os questionários, confrontando as respostas de cada
aluno no momento pré e pós- intervenção. No entanto, quando questionados sobre a
os efeitos que a bebida alcoólica causa no organismo humano, além das respostas
apresentarem a relação do consumo de álcool com desenvolvimento de câncer e
alterações cognitivas e emocionais como descrito nas respostas do questionário pré-
intervenção, no questionário pós-intervenção observamos a utilização de
terminologias apropriadas à área de patologia, como gastrite, pancreatite, hepatite,
cirrose e neurite. Essas patologias foram trabalhadas em sala de aula e através da
palestra com médico do município. As respostas obtidas com o questionário pós-
intervenção não estavam bem elaboradas e muitas vezes confusas, sem nexo.
Devido a pouca confiabilidade em relação à seriedade com que os alunos
responderam ao questionário pós-intervenção, não o consideramos um instrumento
avaliativo da implementação pedagógica.
5 Considerações finais
O ambiente escolar reflete todas as questões vivenciadas pela sociedade,
seja diretamente pelo educando ou indiretamente, por meio de seus familiares. Uma
das questões que preocupa os profissionais da educação e saúde assim como os
pais e que necessita de atenção é o demasiado consumo de álcool por
adolescentes. Tendo em vista que quase toda a população passa pela escola em
idade e circunstâncias bastante favoráveis à assimilação de informação e hábitos, a
escola torna-se um espaço privilegiado para o desenvolvimento de estratégias
preventivas ao uso de álcool.
A educação sobre as drogas lícitas ou ilícitas é uma estratégia que visa à
manutenção de condutas saudáveis que contribuem para o desenvolvimento
pessoal e social do adolescente.
Apesar de haver questionamentos sobre a efetividade das medidas de
prevenção em escolas baseadas no repasse de informações, é inegável que as
abordagens educativas devem ser usadas em conjunto com as esferas municipal,
estadual e federal para que dar suporte necessário para a implementação de
políticas públicas mais efetivas sobre o consumo de álcool no Brasil.
Também há que se considerar a efetiva capacitação do educador para estar
apto a desenvolver atividades com cunho informativo e preventivo respeitando as
características de seu público-alvo. Ao se conhecer o perfil da população com que
se trabalha, possibilita maior proximidade entre educando e educador e adequação
de estratégias de ensino àquela faixa etária.
As atividades propostas neste estudo se mostraram compatíveis ao nível de
desenvolvimento intelectual dos alunos, e proporcionaram envolvimento dos alunos
na discussão em torno de um problema central inserido em seu contexto social, o
consumo de álcool.
Referências
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