CONGRESSO DA REDE UNIDA - Oswaldo Cruz Foundationmotivos para crer nisso, e também no diagnóstico...

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Nº 11 ! Julho de 2003 Av. Brasil 4036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/publi/radis CONGRESSO DA REDE UNIDA Quanto melhor é a formação, melhor será a Atenção à Saúde Conferência de Medicamentos discutirá democratização do acesso CIDADES SAUDÁVEIS | REDES DE SAÚDE | CONTROLE SOCIAL JORGE BERMUDEZ As questões da Assistência Farmacêutica Jovens e crianças de todo o país mostram o que pensam

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N º 11 ! Ju lho d e 2 0 0 3

Av. Brasil 4036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ ! 21040-361

www.ensp.fiocruz.br/publi/radis

CONGRESSO DA REDE UNIDAQuanto melhor é a formação,melhor será a Atenção à Saúde

Conferência de Medicamentosdiscutirá democratização do acesso

CIDADES SAUDÁVEIS | REDES DE SAÚDE | CONTROLE SOCIAL

JORGE

BERMUDEZ

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Jovens e crianças de todo o país mostram o que pensam

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Repórter RadisNem sempre assinados, mas sempre

‘personalizados’. Aos repórtereso que é dos repórteres. Esta ‘Memó-ria’ homenageia o jornalista, o profis-sional ‘essencial’ do Radis, na figurade três desses profissionais que, comsua maneira de olhar, sua persistênciaem ‘cavucar’ os fatos, seu poder decombinação e análise e seu talentopara expressar em texto o que viram,ouviram e ‘combinaram’, contribuírampara o Programa ser o que ele é.

Os trechos de matérias selecio-nados, desses três raros jornalistas,falam melhor, e representam melhora atividade jornalística do Radis doque qualquer outra coisa.

Álvaro Nascimento foi editor do Radisa partir de 1986, e atuou nessa funçãoaté 2001. A precisão e concisão de seustextos, bem como a autenticidadede seus editoriais e de suas análi-

ses ainda estão certamente namemória de muitos leitores.

Ralph Vianna, psicólogo e jor-nalista, foi editor do Radisdurante o ano de 1986 e, ape-sar de sua curta passagem,foi responsável por umaimportante reformulaçãográfica e editorial doentão Projeto Radis.

Marcus Barros Pinto atuou comorepórter em 87 e no prolífico anode 1988, quando o Radis alcançoua marca recorde de 29 publica-ções nas ruas. A criatividade dareportagem e o texto ao mes-mo tempo exato e leve deMarquinhos forneceram aoRadis um novo e significativoparadigma de qualidade.

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Memória 2

! Repórter Radis

Editorial 3

! O Faraó e os tecelões

Caco 3

Cartas 4

Súmula da Imprensa 5

‘Dê um nome ao Cachorrinho daFome’ 7

! Resultado da Promoção! Entrevista com o cachorrinho

12ª Conferência Nacional de Saúde 8

! Controle social será ponto departida para debates

1ª Conferência Nacional deMedicamentos e AssistênciaFarmacêutica 9

! País discute democratização doacesso

Entrevista: Jorge Bermudez 10

! Conferência vai ser o divisor deáguas entre o que foi feito e o que sehá de fazer

5º Congresso da Rede Unida 12

! Parceria entre serviços,universidades e comunidades! A conferência inaugural do ministroHumberto Costa! I Fórum Nacional de Redes de Saúde

Olimpíada da Saúde 16

! Emoção na divulgação dosvencedores

Serviços 18

Pós-Tudo 19

! As dores do Serafim

Ora, Pílulas... 19

Nº 11 — Julho de 2003

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O Faraó e os tecelõesAimagem da imensa pirâmide, pétrea,

estática e monumental, concentran-do em seu vértice mais alto o poderabsoluto do Faraó, é o símbolo que osestudiosos de sistemas organizacionaismais utilizam para identificar as estrutu-ras hierárquicas, verticais, predatóriase ‘centrípetas’ que formam a maior par-te das empresas, instituições públicase privadas, universidades e escolas queconhecemos. De outro lado está o Te-cido, a Rede, a trama horizontal e ilimi-tada pacientemente construída pelostecelões. Nó a nó, ponto a ponto, arede é continuamente ampliada nessatessitura infindável, e suas ligações —heterogêneas, dinâmicas, multiformes—estabelecidas espontaneamente.

Em jogo estão as relações trans-parentes, o compartilhamento de ob-jetivos, recursos e competências, adescentralização de poderes e, maisdo que tudo, a construção de novosconhecimentos. “O trabalho em redeé uma das inovações mais interessan-tes na produção do conhecimento”,disse o presidente da Fiocruz, PauloBuss, em entrevista ao Correo Salud,informativo da Rede de Investigaçãoem Sistemas e Serviços de Saúde doCone Sul, na virada de 1999 para 2000.O Radis, voltando do 5º Congresso Na-cional da Rede Unida — veja reporta-gem na página 12 —, tem todos osmotivos para crer nisso, e também nodiagnóstico do professor Mario Rovereque, em palestra no Congresso, asse-gurou ser a Rede uma “radicalização

Capa: Aristides Dutra— Trabalhos selecionados para a etapa na-cional da Olimpíada da Saúde— Foto de Jorge Bermudez: Gutemberg Brito

da democracia”, em virtude de seuenorme potencial de socialização desaberes e poderes.

Em nosso ‘mundo da vida’, no en-tanto, percebemos que nem sempreé tão fácil distinguir a pirâmide darede e o faraó dos tecelões, pois todapirâmide tem algo de rede, e todarede tem algo de pirâmide. Da mesmaforma, o Faraó por vezes precisaaprender a tecer, e os tecelões ne-cessitam, de vez em quando, assumiratitudes ‘faraóticas’. O importante éo conceito e o contexto, contexto esseem que o Radis, para utilizarmos umaexpressão dos anos 70, encontra-se ple-namente inserido. Rede de conheci-mento, de informações, de sentidos. ASaúde, percebemos, tem grande facili-dade de trabalhar em rede e já tem ex-celentes experiências na área.

Se olharmos com o olhar ‘cabeça-bem-feita’ proposto pelo filósofo EdgarMorin, reconhecendo a unidade den-tro do diverso e o diverso dentro daunidade, veremos que tudo está ‘emrede’, ou melhor, em redes dentro deredes: ecossistemas, relações sociais deparentesco, amizade, afetos. Isso semfalar no mais poderoso instrumento ‘emrede’, o cérebro humano, onde cembilhões de neurônios comunicam-se pormeio de sinais elétricos em conexõessinápticas, cada um desses neurôniosligando-se em média a 104 outros, na maisformidável arquitetura do conhecer ja-mais vista. E então? Que tal continuar-mos tecendo algo em comum?

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USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

‘EMPURROTERAPIA’

Sou médico e li com grande interessea nota Medicamentos genéricos es-

tão com as vendas estagnadas no país(Súmula da Imprensa, Radis 9), poisacredito que esteja havendo uma gros-seira distorção na interpretação da Leidos Genéricos. A Lei permite a substi-tuição do medicamento de marca pelogenérico, se o médico assim autorizar,escrevendo o nome do princípio ativona receita, mas não o contrário. Nãocreio que os médicos tenham deixadode prescrever os genéricos. O que te-nho observado é a inescrupulosa subs-tituição, nas farmácias, dos medica-mentos de marca ou dos genéricosprescritos por similares, que os pa-cientes, por conveniência de pre-ço, acabam por aceitar sem se darconta de que os genéricos têm suascaracterísticas de bioequivalência ebiodisponibilidade comprovadas pelaAnvisa, mas que isso pode não ocorrercom similares não testados. O médicoprescreve um medicamento de suaconfiança, ou o seu genérico, e o pa-ciente toma outro, do qual não se co-nhece nem o nome e nem o laborató-rio que o produziu. O pior é que isso

está acontecendo inclusive com asfarmácias do SUS, talvez o maiorcomprador do mercado. Duvido queos médicos dos postos de saúde doSUS conheçam os nomes dos medi-camentos fornecidos aos pacientesno lugar dos genéricos ou de marcareceitados. Tal substituição, semqualquer respaldo ético ou legal,costuma confundir o paciente aoseguir a receita, e pode estar portrás de inexplicáveis insucessos nostratamentos. Numa situação dessa,não há como incentivar as vendasdos genéricos.

João Baptista Roque de Carvalho (pore-mail)Belo Horizonte — MG

A ESPERANÇA GLOBALIZADA

Prezado editor, tenho lido sistemati-camente o Radis. O editorial do nú-

mero 9 (Maio de 2003), pareceu-memuito condescendente ou até, se me

permite, meio propagandista do medoe terror — tanto o medo exageradoem relação à SARS como em relação àsarmas do Bush. Concordo com o fatode que o objetivo do Bush é espalhar(globalizar) o terror, a intimidação e omedo junto a todos os povos e nações,para tentar submetê-los. Sabemos to-dos que, como a economia americanadepende muito do petróleo, eles sejulgam no direito de controlar todasas fontes do mundo — Oriente Médio,África, Ásia e América Latina.

No entanto, acho que não é só noBrasil que estamos difundindo a esperan-ça (com a convocação da 12a Conferên-cia Nacional de Saúde) e a solidariedade(com a ajuda mútua dos municípios naárea da saúde), duas iniciativas que real-mente contribuem para avançar a parti-cipação popular na gestão pública. Nãovejo prevalecer, no Brasil e no mundo, omedo globalizado de que você fala, ain-da mais como um sentimento comum atodos os povos. Pelo contrário, vejo umahumanidade se levantando contra estatentativa de intimidá-la e, o que é impor-tante, conseguindo grandes vitórias nes-te sentido. A confirmação do Chávez naVenezuela só foi possível graças ao imen-so apoio do povo venezuelano. A vitóriade Gutierrez no Equador e a recentevitória nacionalista na Argentina sãooutros sinais da esperança e solidarie-dade. As manifestações de milhões emtodos os cantos do mundo, inclusive nospaíses invasores, contra a agressão aoIraque, são outras demonstrações deesperança e solidariedade. Mesmo a der-rota de Baby Bush no Conselho da ONU,antes da agressão ao Iraque, foi outrademonstração importante, mostrandouma Europa que resiste à prepotênciada elite americana.

Por tudo isto, pelas inúmeras ma-nifestações da solidariedade humanae esperança manifestas por todo omundo, acho que o sentimento queestá globalizado é o de avanço da so-lidariedade e esperança, e não domedo. Entenda minhas observaçõesnão como uma crítica destrutiva, mascomo uma contribuição para esta gran-de iniciativa que vocês estão condu-zindo em termos de comunicação emsaúde — o Radis.

Francisco P. RubióProfessor do Departamento de Medi-cina Preventiva e SocialFaculdade de Medicina da UFMG —Minas Gerais

RADIS é uma publicação da FundaçãoOswaldo Cruz, editada pelo ProgramaRadis (Reunião, Análise e Difusão de In-formação sobre Saúde), da Escola Nacio-nal de Saúde Pública (Ensp).

Periodicidade: MensalTiragem: 42 mil exemplaresAssinatura: GrátisPresidente da Fiocruz: Paulo BussDiretor da Ensp: Jorge Bermudez

PROGRAMA RADISCoordenador: Rogério Lannes RochaEditor: Caco Xavier

Subeditora: Ana Beatriz de NoronhaSubeditor Gráfico: Aristides DutraRedação: Carlos Gustavo Trindade e

Katia MachadoEstudos e Projetos: Justa Helena

Franco (gerência de projetos),Jorge Ricardo Pereira e LaïsTavares

Administração: Márcia Pena e VanessaSantos

EndereçoAv. Brasil, 4036, sala 515 — ManguinhosRio de Janeiro / RJ — CEP: 21040-361Telefone: (21) 3882-9118Fax: (21) 3882-9119

E-Mail: [email protected]: www.ensp.fiocruz.br/publi/radisImpressão e FotolitoEdiouro Gráfica e Editora SA

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

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SÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSA

A Radis caiu na redeA Radis caiu na redeAgora você pode encontrar na internet o conteú-do integral de nossa revista. Além da Radis, tam-bém está lá o último ano das revistas Tema eSúmula. É possível ler na tela do computador ousalvar os arquivos em disco.

Radis: informações fundamentais para o profis-sional de Saúde. Agora também on-line.

www.ensp . f ioc ruz .b r /pub l i / r ad i s

RA

DIS

CELOBAR MATA 22 PESSOAS

Fabricado pelo Laboratório Enila, doRio de Janeiro, o medicamento

Celobar, um ‘contraste’ usado em exa-mes radiológicos para destacar deter-minados órgãos, pode ter causado amorte de 22 pessoas. A matéria-primado medicamento, o sulfato de bário,pode ter sido obtida a partir do carbo-nato de bário, um produto tóxico usa-do como veneno para ratos. O chefede Controle de Qualidade do Labora-tório, Antônio Carlos Fonseca, diz terusado o mesmo equipamento em querealizou experiências químicas comprodutos tóxicos para produzir oCelobar. Mas, para o coordenador doCentro de Controle de Intoxicações doHospital Antônio Pedro, em Niterói, LuizQuerino Caldas (em entrevista ao Jor-nal do Brasil, em 11/06/03), essa ver-são é improvável, pois apenas resíduosnão teriam matado tantos indivíduos.O resultado da análise feita pelo Insti-tuto Nacional de Controle de Qualida-de em Saúde (INCQS) da Fiocruz, emamostras do lote 3040068 do medica-mento, reforça a hipótese de ter sidouma contaminação voluntária. Os exa-mes revelaram a presença de 14% decarbonato de bário (Jornal O Dia de14/06/03), sendo que o máximo aceitá-vel, de acordo com a farmacopéia ame-ricana adotada no Brasil, é de 0,001%.O laudo será encaminhado ao Institu-to de Criminalística Carlos Éboli paracomprovar se o teor da substânciafoi usado proposital ou acidentalmen-te. Se for comprovado ato crimino-so, o laboratório receberá puniçãomáxima, tendo cassado seu registrode funcionamento. O Enila foi inter-ditado e todos os medicamentos fa-bricados pelo laboratório estãosuspensos pela Agência Nacional deVigilância Sanitária (Anvisa).

DROGAS QUE TERIAM MATADO BEBÊS

Um lote do medicamento cloretode potássio — sal comercializado

em ampolas ou embalagens plásticas paraser misturado aos soros dos pacientes— pode ter sido a causa da morte dequatro bebês internados no InstitutoNacional de Cardiologia Laranjeiras(INCL), no Rio de Janeiro, entre os dias05 e 13 de maio. O mapa de distribui-ção das substâncias que estão sob sus-peita, produzido pelo Laboratório Far-macêutico da Marinha e pela AristonIndústria Química e Farmacêutica, ainda

não foi entregue à Vigilância Sanitáriaque, por isso, não conseguiu recolhero lote do medicamento suspeito. Se-gundo afirmou Regina Maria AquinaXavier, diretora do INCL (em entrevistaao Jornal O Dia de 20/05/03), uma dascrianças melhorou quando foi interrom-pida a medicação contendo a substân-cia. De acordo com a chefe do Depar-tamento de Prevenção Hospitalar, MarisaSantos, o cloreto de potássio foi o úni-co produto comum a todos os bebêsmortos em um mesmo período.

Para o gerente de marketing ecomunicação da Ariston, o ocorridoé muito estranho, já que essa subs-tância dificilmente mata alguém.“Com certeza nada temos a ver comesses óbitos, mas já estamos realizan-do os procedimentos padrão”, con-tou ao jornal O Dia. De acordo comele, a contra-prova do lote analisadopela Secretaria de Saúde do estadodo RJ está sendo analisada e, até ago-ra, nada foi apresentado de anormal.

BAYER PODE TER VENDIDO REMÉDIO COMRISCO DE TRANSMITIR HIV

O jornal americano New YorkTimes, no final de maio denunciou

a indústria farmacêutica Bayer de tervendido, nos anos 80, na Argentina eem países asiáticos — Hong Kong,Taiwan, Malásia, Cingapura, Indonésia eJapão —, um remédio com alto risco detransmitir o vírus da Aids para pacienteshemofílicos. Segundo o jornal, que to-mou como prova vários documentos in-ternos da empresa, uma unidade daBayer, a Cutter Biological, teria come-çado a produzir o medicamento, queaumentava a capacidade de coagulaçãodo sangue, em 1984. Isso porque suaversão anterior estava infectando oshemofílicos com o HIV. Apesar da sus-peita, a empresa continuou vendendo

o remédio para a Argentina e paraalguns países da Ásia, enquanto umnovo produto, mais seguro, era ven-dido na Europa e na América do Nor-te. O remédio antigo, chamado Fa-tor 8 de Coagulação, era produzidoa partir do plasma de dez doadorese teria contaminado com o HIV maisde cem doentes somente em HongKong e Taiwan (Estado de São Paulode 23/05/03). O grupo alemão daBayer negou a denúncia, alegandoque as decisões adotadas na épocalevaram em conta as melhores infor-mações científicas e que foram cum-pridas as regras em vigor, e lamen-tou que nos anos 80 “se desconheciao risco de transmissão do HIV”.

FELINO PODE TER DISSEMINADO VÍRUSDA SARS

Depois de atingir mais de 20 países,mais de 8.400 pessoas e matar qua-

se 800 outras, parece que a epidemiaglobal da Síndrome Respiratória AgudaSevera (Sars, sigla da expressão em in-glês), cujo surto originou-se no sudes-te asiático, está perto do fim. Segundoa avaliação feita no dia 12 de junho porHitoshi Oshitani, conselheira regional daOrganização Mundial de Saúde (OMS)para doenças transmissíveis, o surtoparece ter sido controlado na Ásia. Setenovos casos foram registrados no dia 12,sendo que cinco deles fora do conti-nente asiático. Na China, o país maisatingido pela Sars, foram registrados

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SÚMULA DA IMPRENSA é produzida a par-tir da leitura crítica dos principais jor-nais diários e revistas semanais do país.

apenas dois novos casos. Apesar de con-trolada, a OMS informou em Genebraque especialistas não descartam a pos-sibilidade de a epidemia reaparecer, vistoque no Canadá o vírus da Sars ressurgiudepois de um aparente desaparecimen-to, atingindo mais de 30 pessoas.

Segundo matéria publicada noJornal do Brasil, em 24/05/03, pesqui-sadores da Universidade de Hong Kongafirmaram que o coronavírus que deuorigem a Sars foi encontrado na civeta,um mamífero carnívoro da Ásia que separece com um gato, cuja carne émuito consumida pela cozinha chine-sa. Para os especialistas, essa é umainformação importante, já que desco-brir o hospedeiro do vírus é essencialpara o combate da epidemia.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE NÃO LAVAMAS MÃOS DE FORMA ADEQUADA

Na Hungria, em 15 de maio de 1847,o obstetra Ignaz Semmelweiss tor-

nou obrigatória a lavagem das mãos dosprofissionais que entravam nas enferma-rias, reduzindo de 18% para 1,5% a taxade mortalidade de pacientes. O assun-to, portanto, não é recente. Mas, seráque lavar as mãos adequadamente éhábito de todos os profissionais de saú-de? Segundo pesquisa feita pelainfectologista Carmem Lúcia Pessoa daSilva, do departamento de Medicina Pre-ventiva da faculdade de Medicina daUniversidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), menos da metade dos profissio-nais de saúde lavam as mãos de formaadequada. Após reunir vários estudos,ela constatou que apenas 40% dos pro-fissionais de saúde higienizam as mãos cor-retamente. Estudos ainda indicam, se-gundo o professor de microbiologia daUniversidade Gama Filho e da Universida-de Federal Fluminense, João CarlosTórtora, que 70% das infecções hospita-lares poderiam ser evitadas se os profis-sionais de saúde lavassem suas mãos comfreqüência. Para testar se as mãos es-tão devidamente limpas, o infectologistae pediatra da UFRJ, Edimilson Migowski(no Jornal Extra de 06/06/03) propõeque a pessoa primeiro a pinte comguache. Depois, com uma venda nosolhos, lave as mãos como de costume.Dessa forma, quando terminar, poderáconferir os locais onde há tinta e ver sea higiene foi ou não suficiente.

AGORA, A LUTA É CONTRA AS BEBI-DAS ALCOÓLICAS

OMinistério da Saúde, que já vinhatravando uma luta contra o cigar-

ro, propondo medidas como a proibi-ção da venda de produtos fumígerosou derivados do tabaco em estabeleci-mentos que tenham livre acesso a me-nores de 18 anos, agora começa umanova luta contra as bebidas alcoólicas.A proposta do ministro da saúde,Humberto Costa, é de proibir a propa-ganda desse tipo de produto antes das22h, ou seja, publicidade desse produ-to apenas entre as 22h e 6h. Atualmen-te, a propaganda de bebidas com teoralcoólico de até 13 graus, como é ocaso das cervejas e dos produtos ices,é liberada. A proposta do ministro estábaseada nos altos índices de mortesprovocadas por brigas de bar ou comvizinhos ou no trânsito por causa dabebida. De acordo com OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS), os países de-senvolvidos que acabaram com a pro-paganda de bebidas alcoólicas têm umconsumo mais baixo de 16% e menos23% de morte no trânsito.

APOIO AOS LABORATÓRIOS OFICIAIS

Arecém-criada Secretaria de Ciência,Tecnologia e Insumos Estratégicos

(SCTIE) tem recebido demandas de al-guns estados e municípios que objetivama construção de laboratórios farmacêu-ticos. O secretário da SCTIE, JoséAlberto Hermogenes de Souza, salientaque a prioridade é a alocação de re-cursos para laboratórios oficiais, princi-palmente aos que estão com projetosem andamento porque podem dar umaresposta mais rápida. Por isso, os fortescandidatos a conseguirem tal apoio sãolaboratórios como o de Far-Manguinhos,da Fundação Oswaldo Cruz, a Funda-ção Ezequiel Dias, em Minas Gerais, eos três laboratórios das Forças Arma-das. Segundo Hermógenes, outro ob-jetivo da SCTIE é melhorar o sistemade distribuição de remédios para queas pessoas optem pelos produtos doslaboratórios oficiais e evitem comprarna farmácia da esquina. A SCTIE podedesempenhar um papel semelhante aoda antiga Central de Medicamentos(Ceme) para incorporar insumos, ciên-cia e tecnologia e economia da saúde,com a diferença de ser um órgão daadministração direta e não autônomo.

TOQUES DA REDAÇÃO

Fora do tom — O povo da Saúde nãoanda lá muito contente com ohumorista Tom Cavalcante. Seu quadrono programa Zorra Total, apresentado

aos sábados pela Rede Globo, estigmati-za o SUS como “um péssimo serviço”, eainda o apelida de “Morra Brasil”. O per-sonagem, o ‘psicanalista’ João Canabrava,abre a janela de seu consultório parti-cular para caridosamente “atender àfila do SUS”. O humor é anárquico, Tom,mas perde a força ao basear-se emdados irreais. A pesquisa recente doInstituto Vox Populli, ‘A Saúde na opi-nião dos brasileiros’, realizada a pedi-do do Conass, mostra que, entre osque foram internados ou tiveram algumparente atendido pelo SUS, 72% disse-ram estar satisfeitos com o sistema,enquanto a pior avaliação partiu justa-mente de quem se utiliza exclusivamen-te do sistema privado, ou seja, não usao SUS. Isso só evidencia que o quadrohumorístico, em vez de instaurar umpensamento novo ou efetuar a semprebem vinda crítica social, termina pormeramente reforçar um preconceitohá muito ultrapassado e que não fazbem a ninguém. Nem à Saúde.

Debate bom — Vai estourar no Abrascão(7º Congresso Brasileiro de SaúdeColetiva) a discussão, protelada atéagora, acerca da formação profissionalem Saúde Coletiva. O repórter dessacoluna, Fontes Fidedignas, informa quenão passa desse fórum o ‘racha’ entreos partidários da criação do curso degraduação em Saúde Coletiva e os par-tidários do deixa-como-está. Para os pri-meiros, Saúde Coletiva se tornou umsaber específico e que requer umcurso específico; para os últimos, aforça da Saúde Coletiva é justamentea diversidade de saberes surgida dainterdisciplinaridade e, sendo assim, aconcentração de disciplinas num cursoúnico, ao invés de enriquecer a área,terminará por empobrecê-la e reduzi-la. É esperar pra ver.

Exemplo cubano — O BNDES e o Minis-tério da Saúde articulam para breve aida de uma delegação brasileira a Cuba,a fim de conhecer como funciona oparque farmacêutico local para possí-veis transferências de tecnologia. Opresidente do banco, Carlos Lessa, temdado prioridade ao setor de saúde comrealizações e participações do BNDESem eventos específicos para auxiliar noplanejamento de futuros apoios finan-ceiros e institucionais. Cuba é reco-nhecida por sua produção de vacinase medicamentos que ajudam a salvarvidas no Brasil e em outros países.

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PrPrPrPrProoooommmmmoçãoçãoçãoçãoção ‘Dê uo ‘Dê uo ‘Dê uo ‘Dê uo ‘Dê um Nom Nom Nom Nom Nome ame ame ame ame ao Cao Cao Cao Cao Cachchchchchooooorrinhrrinhrrinhrrinhrrinho do do do do da Foa Foa Foa Foa Fome’me’me’me’me’

Como médico, esperoque essa próxima Con-ferência trate de umaestratégia para sensi-bilizar aqueles queainda não conseguiramenxergar o SUS, umaestratégia que acabe com a separa-ção que existe entre a academia e osserviços.

Rubens Silvado, cirurgião e pro-fessor da Faculdade de Medicinade Marília (Famema)

Caco Xavier

Mergulhada numa lista de 247sugestões de nomes para o‘cachorrinho da fome’, quechegaram por meio de 80 e-

mails, 11 faxes e 35 cartas, uma comissãoformada por membros da equipe do Pro-grama Radis finalmente decidiu, depois detrês horas de discussão e debates acalo-rados, com que nome seria ‘batizado’ ofamoso vira-latas. A princípio, foram sele-cionados 47 nomes e, desses, numa segun-da rodada de discussão, foi eleita a listados dez nomes previstos no regulamento.Os leitores que os propuseram receberão,em casa, um kit da Fiocruz e da Asfoc(Associação de Funcionários). Entre osdez nomes classificados, faltava escolhero grande vencedor, e o debate tomou orumo final. Por fim, chegou-se ao Nome doCachorrinho: Fominha. Essa sugestãofoi também a mais ‘votada’ entre os par-ticipantes. Os 17 leitores que sugeri-ram esse nome têm direito ao prêmio prin-cipal: além do kit, livros e cópia de desenhooriginal do cachorrinho, feito pelo autordo personagem. O original irá paraBernardette Araújo dos Santos que, den-tre os 17 vencedores, encaminhou maiscedo sua sugestão, no dia 15 de abril.

A promoção tornou-se uma grata eemocionante surpresa para todos nós, por-que, além da participação expressiva dosleitores, recebemos muitas contribuiçõesespontâneas: críticas, sugestões, elogiose histórias, muitas histórias. “Eu trabalhona secretaria de saúde de meu município, eaqui nem sempre chega a revista, porqueàs vezes alguém a segura pelos caminhosdos departamentos”, diz a professora dehistória Cristiane Dezan que, “atenta àquestão da fome”, acompanha a históriado país e, “com muito orgulho”, leciona noEnsino Fundamental. E que tal esta, do lei-tor Francisco Guimarães de Souza, do Piauí,

justificando sua sugestão? “Sugiro o nomede ‘Quinzim’, por causa da Seca de 1915.Na minha terra, existia um ditado popular.Quando uma criança avançava na comidadesesperadamente, dizia-se que ela ‘nas-ceu na Seca de Quinze’”.

A leitora Maria Luciene de Souza, deItaquaquecetuba, SP, sugeriu um dos nomesselecionados, Betinho, e justificou: “Simbo-lizará a luta contra um dos males que a hu-manidade não consegue vencer”. Nosso ca-chorrinho foi às lágrimas (é muito emotivo)com sua afetuosa homenagem, MariaLuciene, como acreditamos que Betinho(outro ser compassivo) também muito secomoveria. Por falar em comoção,o cachorrinho agradece ainda alembrança de homenagear uma dasmais belas e pungentes expressõesliterárias sobre a fome: a cadelinhaBaleia, criada por Graciliano Ramosem seu romance Vidas Secas. Dequebra, ainda fomos presenteadoscom o doloroso relato pessoal denosso amigo e leitor José AntonioAbreu a respeito da morte recentede sua própria cadela. A troca de e-mails entre José Antonio, seu amigoHeitor e o editor do Radis está tam-bém disponizibilizada no nosso site.

Finalmente, justificando asua sugestão, Irá de Souza Pinto,do Rio de Janeiro, uma das vence-

Meu nome é ‘Fominha’!

Aqui está a relação dos nomes sele-cionados, em ordem alfabética, e

o número de leitores que os sugeri-ram. Veja a relação completa dos lei-tores vencedores em nosso site.

Angu (três leitores) / Baleia (quatroleitores) / Batatinha (um leitor) /Betinho (um leitor) / Costelinha (seteleitores) / Farelo (dois leitores) /Fominha (17 leitores) / Migalha (doisleitores) / Pirão (um leitor) / Zero(quatro leitores).

“Agora tenho 40 mil donos”

EntreEntreEntreEntreEntrevivivivivistststststa ca ca ca ca cooooom o Cam o Cam o Cam o Cam o Cachchchchchooooorrinhrrinhrrinhrrinhrrinhooooo

Radis — E então, Fominha? Já pode-mos chamá-lo assim? Você gostou doresultado?Fominha — Gostei demais, demais. Todasessas sugestões maravilhosas, todo essepessoal mobilizado só por minha causa equerendo contribuir de alguma forma parao combate à fome no Brasil... eu... eu...Desculpe, estou emocionado...

Radis — Agora, devidamente ‘batizado’,quais são seus planos para o futuro?Fominha — Continuar aparecendo noRadis, em vinhetas, cartuns e tirinhas,sempre tentando oferecer aos leitores eaos governantes a ‘visão do outro lado’, avisão do faminto e sua urgência. Semprecom muito humor, claro.

Radis — Gostaria de deixar uma mensa-gem para os leitores do Radis?Fominha [novamente emocionando-se] —Quero agradecer a todos que escreveram

e que acompanharam a promoção, e dizerque honrarei esse nome. Serei um ‘fominha’a favor das iniciativas contra a fome e amiséria. A partir de agora, em vez de terum só ‘pai’ (o artista que me deu pele eosso), tenho 40 mil ‘donos’ espalhados portodo o país, os assinantes do Radis que,representados pelos que participaram dapromoção, estão cuidando de mim e dosfamintos. Quem sabe eu não terei a opor-tunidade de me encontrar com o presiden-te Lula para compormos uma parceria?

doras, enviou deliciosa cartinha:“Olha, Caco, me surpreende que você

próprio não tivesse ainda batizado seu simpá-tico, expressivo e solidário cãozinho. Seu nomeme parece tão óbvio. É claro que deve serFominha, por ser a expressão popular da fomesem mau humor; pelo diminutivo carinhoso;por abstrair seu sexo; pela identificação como desenho, que se esquiva do trágico; porquea singeleza e a inocência do cãozinho babandojunto ao osso me remetem a Carlitos diantedaquele par de cadarços transformado em jan-tar; porque é crítica e amor ao mesmo tempo.Não sei como você, Caco, pode deixar que obatizem com outro nome!”.

Pois é, Irá, não deixamos, não!

Os 10 mais

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Carlos Gustavo Trindade

Ocontrole social em relação aosserviços públicos em saúde seráo ponto central nas discussõesdos nove eixos temáticos da 12a

Conferência Nacional de Saúde (CNS) deno-minada ‘Saúde: Um Direito de Todos e De-ver do Estado — A Saúde que Temos, o SUSque Queremos’, que será realizada de 7 a11 de dezembro na Universidade deBrasília (UnB), em Brasília. Haverá a apre-sentação de um balanço sobre o SUS, des-de sua instalação em 1988, e estão pre-vistas discussões sobre as prioridadespara o próximo período.

Figuram como temas da 12a CNS oDireito à Saúde; Seguridade Social;Intersetorialidade das Ações em Saúde; AsTrês Esferas de Governo e a Construção doSUS; Organização da Atenção em Saúde;Gestão Participativa; Trabalho na Saúde; Ci-ência, Tecnologia; e Saúde e Financiamento.

A etapa municipal da CNS acontece-rá até 30 de setembro e a estadual até 31de outubro, quando serão definidos os trêsmil delegados que participarão do evento.

Desses, 600 são convidados e o restan-te está dividido entre 50% de usuários,25% de trabalhadores e 25% de gestorese prestadores.

CUIDADOS COMAS INFORMAÇÕES

Os critérios obedecem à proporçãodemográfica por estados com o estabele-cimento de um número mínimo de 12 paracada um, a fim de ter uma compensaçãopara os estados menores. “As conferên-cias municipais e estaduais devem ter ca-ráter conclusivo porque tratam de ques-tões de âmbito nacional”, salienta orelator da 12a CNS e vice-presidente deDesenvolvimento Institucional, Informaçãoe Comunicação da Fundação OswaldoCruz, Paulo Gadelha.

Para a secretária geral da 12a CNSe secretária Executiva do Conselho Na-cional de Saúde, Eliane Cruz, um grandeproblema de comunicação para a Con-ferência está no fato de muitos estadose municípios substituírem os conselhosem seu papel político pelas secretariasexecutivas. “O Conselho Nacional deSaúde está preocupado em garantir aomáximo as informações para a socieda-de, a fim de possibilitar o sucesso docontrole social”, afirma.

A grande diferença da 12a CNS emrelação às últimas realizadas, segundoGadelha, é que o próprio Ministério da Saú-de antecipou as convocações para o even-to por reconhecer a sua importância, ao con-trário do tempo em que eram necessárias

12ª Conferência Nacional de Saúde12ª Conferência Nacional de Saúde12ª Conferência Nacional de Saúde12ª Conferência Nacional de Saúde12ª Conferência Nacional de Saúde

Controle Social será ponto de partida para os debates

Congresso com ares de Conferência

AAssociação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

(Abrasco) realizará de 29 de julho a 2 deagosto o 7º Congresso Brasileiro de Saú-de Coletiva na Universidade de Brasília(UnB), em Brasília, que terá como tema‘Saúde, Justiça, Cidadania’ para abor-dar as desigualdades sociais que carac-terizam o Brasil no campo da saúde. Osecretário executivo do Congresso e pro-fessor de Saúde Coletiva da UniversidadeFederal de Goiás, Elias Rassi, ressalta queo 7º Congresso da Abrasco servirá comopreparativo para a realização da 12a CNS.O controle social em relação ao SUS seráuma das prioridades. “Existe a expecta-tiva de que o controle social se consolidede vez, porque chegou a um ponto deamadurecimento e crescimento muitograndes”, entende.

A programação do ‘Abrascão’, comoo Congresso é afetuosamente chamado,está composta por conferências, gran-des debates, palestras, painéis, colóqui-os, conferências, comunicações coorde-

nadas, exposições de pôsteres e sessõesespeciais de vídeos. Os temas para dis-cussão foram divididos em 12 grandes ei-xos. Acontecerão nove debates com par-ticipações de especialistas nacionais einternacionais em saúde coletiva e trêsconferências magnas: ‘Saúde, Justiça eDesigualdade’, com o ministro da Saúde,Humberto Costa; ‘Justiça e Cidadania’,a ser apresentada pelo ministro da Edu-cação, Cristóvam Buarque; e ‘Poder, Jus-tiça e Liberdade’, com o professor JoséLuiz Fiori, da Universidade Estadual doRio de Janeiro (Uerj).

O Congresso apresentará 6,5 miltrabalhos, frutos da produção em saúdecoletiva brasileira, sendo que 5 mil por meiode pôsteres. Também serão realizados 80cursos e oficinas, inclusive a de ControleSocial do SUS, e reuniões de grupos de tra-balho em diversas áreas. No dia 2 de agos-to ocorrerá grande ato pela paz com ca-ráter multicultural e internacionalista.Mais informações:www.congressosaudecoletiva.com.br

ORadis confirmou importanteparticipação no 6º Congresso da

Abrasco. Confira abaixo.

OFICINA DE COMUNICAÇÃO EM SAÚDE

A oficina, coordenada por FlavioMagajewski, da Secretária de Saúde deSanta Catarina, e pelo editor do Radis,Caco Xavier, congregará representan-tes do Ministério da Saúde, da Opas, doConasems, do Conass, integrantes doGrupo de Trabalho em Comunicação daAbrasco e outros importantes atorespara uma discussão aprofundada sobreos rumos, perspectivas e dificuldadesda Comunicação em Saúde no Brasil.

PAINEL REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE BIOÉTICAE SAÚDE (DIA 31/07, ÀS 9H E 45MIN)

! A Ética da Compaixão —Contribuição de Schopenhauerpara a construção doinstrumental teórico da BioéticaAUTOR: Caco Xavier.

COMUNICAÇÃO COORDENADA JORNALISMO,SAÚDE E CIÊNCIA (DIA 01/08, ÀS 8H)

! Jornalismo em Saúde — entreo ethos e a mídia: medulla.! Jornalismo Científico: atradução como espaço decompartilhamento de saber

AUTORES: Caco Xavier e Ana Beatrizde Noronha.

PÔSTERES

! Saúde e Educação Inclusiva:desfazendo-se de antigos valorese velhas verdades — KatiaMachado.

! Que Saúde? — Os trêsargumentos: Mídia, Saúde,Comunicação — Caco Xavier

! Formação profissional em saúde— Revista Radis, etc — Ana Beatrizde Noronha e Caco Xavier

O Radis na Abrasco

pressões dos segmentos ligados à saúdepara que acontecesse. Conforme Gadelha,a grande expectativa se refere ao aprimo-ramento do SUS e quanto a estratégias defuturo relacionadas ao direito de saúde,ciência e tecnologia dentro das perspec-tivas de um governo popular. O PlanoPlurianual do governo federal para a saúdeserá um dos principais assuntos a seremdiscutidos.

Controle social é o efeito da açãoda sociedade sobre o Estado em

relação aos serviços públicos. Na áreade saúde, fortalece o exercício da ci-dadania na busca pelo direito à aten-ção plena à saúde e tem como base osobjetivos do SUS.

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Carlos Gustavo Trindade

Em busca do tempo perdido em rela-ção ao domínio do mercado pelasindústrias transnacionais, às voltascom a exclusão cada vez maior da

sociedade ao acesso a medicamentos ecom um horizonte limitado pelo orçamen-to atual da União de R$ 40 milhões/anodeixado pelo governo anterior para oapoio ao sistema produtivo. A 1a Confe-rência Nacional de Medicamentos e Assis-tência Farmacêutica (CNMAF) ganha aresemergenciais antes mesmo de sua realiza-ção, de 15 a 18 de setembro, na Academiade Tênis, em Brasília. O evento, cujatemática será ‘Acesso para Todos, Quali-dade e Humanização — O Brasil Tem Direi-to’, terá como um dos pontos polêmicos aquestão do predomínio cada vez maior dosmedicamentos patenteados pelas indústri-as estrangeiras.

A alternativa apontada para o mer-cado brasileiro de medicamentos efármacos é a inovação. No entanto, os 17laboratórios oficiais brasileiros enfrentama falta de investimentos, descontinuidadedos programas, atrasos nas entregas e,em alguns casos, paralisações nas linhasde produção como aconteceu, em 2002,no Instituto Vital Brazil, em Niterói. Paraa diretora do laboratório Far-Manguinhos,

da Fiocruz, Núbia Boechat, o país está naiminência de uma catástrofe, porquegradativamente ocorre a substituiçãopelos patenteados, cujos preços são mui-to mais elevados. “Ou damos um passo àfrente e entramos na inovação e disputade igual para igual, ou vamos ser total-mente engolidos. Não há dinheiro quechegue para pagar medicamento para opovo”, lamenta.

A dependência crescente das impor-tações no setor de saúde significa um dé-ficit de US$ 3,5 bilhões na balança comer-cial. As dificuldades para reverter talquadro aumentam por causa dos poucosfinanciamentos em pesquisa e desenvol-vimento na área de saúde que, em 2001,por exemplo, só chegaram a R$ 500 mi-lhões. Nos últimos três anos, os investi-mentos nos laboratórios oficiais somaramR$ 70 milhões, embora as necessidades paraqualificação ou ampliação ultrapassem osR$ 120 milhões. Existem casos de sucesso,no entanto, como Far-Manguinhos que,somente por conta de sua produção de medi-camentos destinados ao Programa da Aids,permitiu que o país deixasse de importar US$200 milhões. A Fiocruz apóia o desenvolvimentoda cadeia produtiva, desde a pesquisa até após-produção, por meio do projeto ‘Inova-ção em Saúde’, lançado em junho.

EIXOS TEMÁTICOSA partir do tema principal da CNMAF

serão estabelecidos os eixos temáticos dodebate: Acesso à Assistência Farmacêuti-ca — A Relação dos Setores Público e Priva-do de Atenção à Saúde; Pesquisa e Desen-volvimento Tecnológico para a ProduçãoNacional de Medicamentos; e Qualidade naAssistência Farmacêutica, Formação eCapacitação de Recursos Humanos. Segun-do a coordenadora do evento e conselheirado Conselho Nacional de Saúde (CNS), ClairCastilhos, a CPI dos Medicamen-tos (1999-2001) somou e fortale-ceu propostas, que já tinham sidopleiteadas nas três últimas Con-ferências Nacionais de Saúde, paraque acontecesse a CNMAF, apro-veitando informações da própriaCPI, de trabalhos científicos e le-vantamentos institucionais. “Frau-des, preços abusivos, adulterações,uso inadequado, trocas de medica-mentos em ‘empurroterapias’ e assituações das gestões do SUS serãoalguns dos assuntos”, diz.

As expectativas crescemquanto às pretensões do governoem relação ao Ministério da Saú-de, principalmente após a recentecriação da Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Insumos Estratégicos. Uma daspremissas da Secretaria é sair da contra-mão em relação aos SUS quanto à distribui-ção de remédios. O secretário, José AlbertoHermogenes de Souza, afirma que a idéia ésó centralizar o que não for possível enão centralizar o inconveniente, ou seja,ficaria a cargo do Ministério os medica-mentos de alto custo ou de dispensaçõesexcepcionais, como os relativos à Doen-ça de Gouchet e anti-retrovirais. Tam-bém existe a possibilidade de serem cria-dos pregões para comercialização deremédios de alto custo. “Queremos que arede oficial tenha uma relação transpa-rente, desde a fixação de preços até oque produzir”, assegura.

Uma das maneiras de melhorar o aces-so aos chamados medicamentos excepcio-nais será a possível criação, pelo governo,das farmácias populares. Segundo o coor-denador do Movimento de Reintegração dasPessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan)e coordenador da comissão de Articulaçãoe Mobilização da CNMAF, Artur Custódio,isso seria uma boa alternativa num paísque necessitou em 2002 de doações deremédios da OMS para a hanseníase e quecustam uma fortuna. “Temos que abrir asplanilhas de custos dos medicamentospara ver se os lucros das indústrias sãoexorbitantes”, sugere.

11111aaaaa CONFERÊNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS CONFERÊNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS CONFERÊNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS CONFERÊNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS CONFERÊNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS

Nós, profissionais desaúde, esperamos quea 12ª CNS dê conta decolocar pelo menos asbases de um projetonacional. Hoje, temosum recorte compostopor experiências positivas em váriasregiões, mas falta de fato um eixoarticulador de uma política efetivade Saúde no país.

Iara Barreto – Goiânia (Instrutora daOficina sobre Diretrizes Curricularesde Nutrição)

País discute democratização do acesso

Conferências estaduais

Aexpectativa é que a CNMAF contecom a presença de 1080 a 1200

delegados, que serão escolhidos emconferências organizadas pelos esta-dos e Distrito Federal. Até o final demaio, apenas os estados de Alagoas,Mato Grosso do Sul, Paraná, e MinasGerais realizaram conferências. En-tre junho e agosto já foram confirma-das as conferências da Bahia, Ceará,Espírito Santo, Goiás, Pará, Paraíba,Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondôniae Santa Catarina.

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Carlos Gustavo Trindade

Ainda entusiasmado pela boa acei-tação das propostas do Brasil naAssembléia Mundial de Saúde, naqual integrou a delegação brasi-

leira, o diretor da Escola Nacional de Saú-de Pública (Ensp) e pesquisador JorgeBermudez revela ao Radis a estratégia ado-tada para vencer a resistência de gran-des potências, como os EUA, para a reali-zação de políticas sociais que garantam oacesso a medicamentos. Ex-diretor presi-dente do Instituto Vital Brazil e ex-presi-dente da Associação dos Laboratórios Far-macêuticos Oficiais do Brasil (Alfob),Bermudez tem se dedicado a estudos so-bre regulação econômica, acesso a anti-retrovirais e medicamentos essenciais,avaliação da assistência farmacêutica,farmácia hospitalar e uso racional de me-dicamentos. Ele ressalta, ainda, a impor-tância da 1a Conferência Nacional de Me-dicamentos e Assistência Farmacêutica eda 12a Conferência Nacional de Saúde, queserão realizadas este ano.

Em que a 1ª Conferência de Medica-mentos e Assistência Farmacêuticapode contribuir para o aperfeiçoamen-to da política de medicamentos do país?

Essa é uma das áreas mais críticas,que precisa de mais discussão e propostasconcretas de atuação. Setembro vai serum divisor de águas entre o que foi feito,como a gente tem que reavaliar toda apolítica de medicamentos, e qual o modeloque a gente vai colocar em prática.

Que iniciativas têm sido tomadas paradiminuir a carência de informações emrelação à situação da saúde da popula-ção no Brasil, principalmente onde oacesso aos medicamentos é mais difícil?

Estamos com uma série de eventos eacontecimentos simultâneos que vão sepotencializar mutuamente. Há duas sema-nas, o BNDES promoveu uma oficina so-bre o complexo industrial da saúde. AFiocruz discute propostas até 2015, so-bre a direção em que o Brasil deve cami-nhar em imunobiológicos, medicamentose hemoderivados, que são as três grandesáreas do chamado complexo industrial desaúde. Os seminários que a Fiocruz estápromovendo, a Conferência Nacional deSaúde e a de Medicamentos e mais a vitó-ria que a gente conseguiu na Assembléia

Mundial da Saúde, em maio, mostram que oBrasil quer avançar nessa área.

Fale um pouco sobre essa vitó-ria brasileira...

A representação do Minis-tério da Saúde tratou da áreade medicamentos, em especial,mas um dos pontos que nós le-vantamos foi a relação entre co-mércio e acesso a medicamentos.Sempre houve uma divergência deopinião com os países em de-senvolvimento, em especial osEUA, que alegavam que essaárea não deve ser discutidana Organização Mundial deSaúde (OMS), e sim na Orga-nização Mundial do Comércio(OMC). Nós sempre contra-argumentamos que a OMC tra-ta do aspecto de comércio, e nóstratamos das implicações do comér-cio na saúde. A OMS, na nossa opi-nião, deve ter um mandato paratambém avaliar quais as implicaçõespositivas ou negativas que os acordoscomerciais podem gerar na saúde, especi-ficamente no acesso aos medicamentos.

Qual foi a estratégia política adotada pelarepresentação do Brasil presente na As-sembléia Mundial de Saúde?

Em janeiro, o Brasil propôs que fosseintroduzido um novo item na pauta da As-sembléia Mundial de Saúde, exatamentepara poder abordar o tema. Tal item seria‘Direitos de propriedade intelectual, ino-vação e saúde pública’. Isso forçou a OMSa produzir um documento de reflexão, etambém que os países se posicionassemem relação ao tema. O Brasil propôs umaresolução que é um instrumento a ser rati-ficado pelos países membros e que focalizaalguns aspectos da saúde pública. Os EUAinsistiam no fato de que a indústria deveser fortalecida, enquanto nós considera-mos que não é a indústria que tem que serfortalecida e, sim, as políticas sociais quegarantam acesso aos medicamentos. Nãoadianta você ter um medicamento novo seele não está disponível, acessível à popu-lação. Não adianta ter um monopólio devinte anos, com preços lá em cima, e apopulação não ter acesso. Os EUA defen-diam, ainda, uma resolução antagônica ado Brasil, e nós escolhemos fazer aliançascom os países em desenvolvimento. As do-enças negligenciadas entraram muito na

discussão sobre patentes, já que, quandose fala em inovação, verifica-se que o quemotiva a indústria a pesquisar não são asdoenças, mas o potencial de mercado queas doenças têm. Nossa resolução apontapara que a indústria e os países desenvolvi-dos invistam em novos medicamentos paraas chamadas doenças negligenciadas ou queafetam as populações do Terceiro Mundo.

Que países apoiaram a resolução bra-sileira?

Bolívia, Peru, Equador, Venezuela,Tailândia, Indonésia e todos os países daÁfrica, que são 47, representados pelaÁfrica do Sul. Fizemos uma aliança queconseguiu fazer prevalecer o que a gen-te achava que era prioritário. Na verda-de, nós estávamos confrontando interes-ses dos países em desenvolvimento aos

RadRadRadRadRadiiiiis entres entres entres entres entrevivivivivistststststaaaaa

Jorge Bermudez

Conferência vai ser divisor de águas entreo que foi feito e o que se há de fazer

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interesses isolados, principalmente dosEUA. Prevaleceu o pensamento de que aspatentes não podem ser obstáculos paraacesso aos medicamentos, que não hárazão em se fazer apologia da proprieda-de intelectual, e que os países têm queimplementar de fato políticas sociais deacesso aos medicamentos.

Quais foram as outras vitórias obtidasna Assembléia Mundial de Saúde?

Eu colocaria três pontos como ostemas mais relevantes na Assembléia. Oprimeiro foi a assinatura da convençãodo tabaco, com a discussão sobremalefícios e riscos do tabaco, e como osgovernos devem se manifestar do pontode vista da saúde. O segundo é a questãoda propriedade intelectual — pela primei-ra vez discutida no evento —, e o manda-to que se dá à OMS para apoiar os paísesem relação às implicações da proprieda-de intelectual para a saúde. O terceiroponto se refere a doenças emergentes,como a Sars, para que a OMS possa promo-ver alerta mundial no caso de surgimentode qualquer doença desse tipo.

Em que a questão das patentes implicaem termos da economia nacional?

Não houve no Brasil o necessário inves-timento, um plano de desenvolvimento, comoos países de Primeiro Mundo fizeram. Ospaíses do Primeiro Mundo não reconheciampatentes, e passaram a reconhecê-las paradefender suas indústrias. Os países em de-senvolvimento, inclusive o Brasil, foram pres-sionados por países do Primeiro Mundo a re-conhecer patentes, o que acaba favorecendoas empresas que são hegemônicas em nossomercado. Nós temos um mercado de quaseUS$ 10 bilhões, do qual 75% é formado porempresas transnacionais, e os reconheci-mentos de patentes passaram a favoreceressas empresas. Nós fizemos, então, umaadaptação da Lei de Patentes, em 1996. Apatente é um monopólio de 20 anos, ouseja, durante 20 anos você tem direitoexclusivo de comercialização. Nósestamos monitorando o que mudou no Brasile avaliando como a nossa lei foi adaptada aoAcordo sobre os Aspectos dos Direitos de Pro-priedade Intelectual Relacionados ao Comér-cio (Trips), da OMC, em especial. O Brasil pas-sou a importar muito e a exportar menos apartir dos últimos três anos, principalmenteo setor químico farmacêutico, e se manteveestável a exportação. Os países que têm so-licitado pedidos de patentes no Brasil são osEUA, Europa e, minimamente, o Brasil.

Como o senhor observa a questão daqualidade dos medicamentos?

Eu me referiria ao controle de quali-dade de forma mais abrangente, já que eleé a garantia da qualidade nos produtos,ação principalmente a cargo da AgênciaNacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).Esse controle tem que se dar primeiroem inspeções na indústria. Trata-se daimplementação das chamadas boas prá-ticas de produção ou boas práticas demanufatura, que é um procedimento noqual as indústrias são checadas para ver

se estão adequadas à norma de procedi-mentos e com isso se ter uma garantia deque, do início ao final do processo, taisnormas são respeitadas. Por fim, há aschamadas análises fiscais, coletas de amos-tras aleatórias do mercado que são envia-das para laboratórios de referência.

A armazenagem de medicamentos em hos-pitais públicos tem apresentado sérios pro-blemas, chegando até a causar a morte depacientes por causa de bactérias...

Há casos em hospitais públicos comoem privados e problemas tanto com labora-tórios nacionais quanto com laboratóriostransnacionais. Basta nos lembrarmos daschamadas ‘pílulas de farinha’, um anticon-cepcional que era feito por um laboratóriotransnacional famoso. Isso mostra que omedicamento tem que ser seguido na cadeiatoda, desde a produção até a dispensaçãodos medicamentos. Se você tem boas práti-cas de manufatura, tem que ter tambémboas práticas de armazenamento e dedispensação de medicamentos.

pegar cada uma das agências de fomentona sua área de atuação, e juntar tudo namesma direção, eu tenho a certeza deque o Brasil vai avançar.

Qual tem sido o apoio da FundaçãoOswaldo Cruz à indústria farmacêu-tica nacional?

A Fiocruz é a instituição de ciência,tecnologia e saúde mais importante daAmérica Latina. Bio-Manguinhos desenvol-ve imunobiológicos e está trabalhandoconjuntamente com outros laboratóriose até com empresas internacionais. Far-Manguinhos tem desenvolvido cópias noprocesso chamado de engenhariareversa, tendo como um dos exemplosmais claros, de grande sucesso, o pro-grama de Aids. Hoje, temos uma produ-ção nacional estatal de anti-retroviraisclaramente mostrando excelentes resul-tados: diminuições nos gastos cominternação hospitalar e do número dedoenças oportunistas, aumento da quali-dade de vida e sobrevida dos portadoresdo HIV. Realmente, nós achamos queestamos no caminho certo.

O senhor poderia citar alguns traba-lhos específicos na área de assistên-cia farmacêutica, aos quais tem se de-dicado ultimamente?

Como Centro Colaborador da Opas/OMS em Políticas Farmacêuticas, temosuma série de projetos em andamento, como Ministério da Saúde e também com a OMS.Tivemos, recentemente, várias publica-ções minhas e do grupo com assuntos re-ferentes a acesso a anti-retrovirais e ava-liação da assistência farmacêutica.Estamos fazendo um grande estudo da far-mácia hospitalar no Brasil, em conjuntocom a Organização Pan-americana de Saú-de e a Sociedade Brasileira de FarmáciaHospitalar. No ano passado, desenvolve-mos dois ou três cursos para professoresde faculdade de medicina para intro-dução do uso racional de medicamen-tos. E estamos discutindo com a OMS omonitoramento dos acordos comerciais emvários países da América Latina.

Em termos de know how, qual foi o avan-ço da indústria de medicamentos na-cional em comparação com os paísesmais desenvolvidos?

Eu acho que a grande abertura quevocê tem hoje na indústria nacional sãoos medicamentos genéricos, que são có-pias dos produtos que já inspiraram apatente. Na verdade, os produtos novossão os lançados no mundo inteiro por gran-des empresas transnacionais. Nós temospotencial para gerar novos produtos eincentivar a inovação, mas tem que terum investimento muito alto, e vamos dis-cutir na conferência que medidas podemser tomadas. Se nós as tomamos conjun-tamente, Fundação Oswaldo Cruz, BNDES,Finep, CNPq, Ministério da Ciência eTecnologia e Ministério da Saúde, pode-mos realmente trabalhar para que o Bra-sil seja um país que tenha potencial parater inovação e novos produtos.

A OMS deveter um mandatopara avaliar

quais as implicaçõespositivas ou negativas

que os acordoscomerciais podem

gerar na saúde,especificamente

no acesso aosmedicamentos.

E o controle dos preços? Eles estão láem cima...

Os preços não estão lá em cima. Foiconcedido um reajuste que é um reajusteinferior ao que aconteceria se tivesse sidodisparada uma fórmula que se tinha nogoverno anterior. Por outro lado, estásendo discutida no âmbito da Câmara deMedicamentos a chamada regulação eco-nômica de medicamentos, que inclui aquestão de preços. O preço está sendomonitorado, porque há muita competiçãono mercado. No entanto, acredito que osmedicamentos estão caros, porque nãotem havido reajustes de salários. Se osalário está congelado, o ideal teria sidomanter os preços congelados.

Quais são as perspectivas de financia-mento para investimentos na produ-ção brasileira destinada à saúde?

O BNDES diz que quer fomentar osetor privado nacional, e para isso fezum seminário para começar a discutir.Acho que é a primeira vez que responsá-veis pelo banco sentam juntos com o pes-soal da saúde e mostram que é possível semontar um programa nacional. Se você

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RADIS 11 ! JUL/2003

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5º CONGRESSO DA Rede Unida5º CONGRESSO DA Rede Unida5º CONGRESSO DA Rede Unida5º CONGRESSO DA Rede Unida5º CONGRESSO DA Rede Unida

Ana Beatriz de Noronha e Caco Xavier

Em 1989, o 1º Congresso da RedeIDA de projetos docentes-assistenciais, formada por in-tegrantes do movimento da

reforma sanitária que se dedicavam àquestão da formação profissional, reu-niu algumas dezenas de participantes.Nos congressos seguintes, esse núme-ro aumentou, principalmente a partirde 1997, quando a Rede passou a sechamar Rede Unida e tomou as políti-cas públicas de saúde e de educaçãocomo foco de suas intervenções. Noseu 5o Congresso, realizado de 24 a 27de maio deste ano, em Londrina (PR),paralelamente ao 1o Fórum Nacionalde Redes em Saúde e à 2a MostraParanaense de Saúde da Família, o nú-mero de participantes superou, segun-do João Campos, da secretaria execu-tiva da Rede, todas as previsões:

— Há dois anos, reunimos cercade 600 pessoas e, agora, nossa ex-pectativa era receber de 800 a mil par-ticipantes. Tivemos, no entanto, maisde 1.400 inscritos, entre professores edirigentes universitários, profissionais deserviços, estudantes de cursos de gra-duação, gestores e líderes comunitári-os, de praticamente todo o país. Issoprova que a formação dos profissionaisde saúde entrou na pauta tanto dosgestores quanto das universidades e quea Rede Unida soube articular a discus-

são temática do Congresso com as políti-cas que estão sendo discutidas no país.

O tema ‘Governos novos, desafiosantigos: investindo sempre nos proces-sos de mudança’ foi amplamente dis-cutido tanto nas oficinas de trabalhoquanto nas sessões de painéis e con-ferências, nas visitas programadas a am-bientes acadêmicos, universitários ede serviços de saúde que estão desen-volvendo inovações na formação profis-sional e na prestação de serviços, nasapresentações dos trabalhos seleciona-dos, nas inúmeras reuniões específicas,assembléias e nas plenárias do Fórum,da Mostra e do Congresso. Atualmen-te, a Rede Unida reúne cerca 1.200atores individuais e 250 institucionais.

A RELEVÂNCIA DO CONGRESSONo Brasil, segundo uma pesquisa

realizada recentemente pela RedeObservatório de Recursos Humanosem Saúde, existem atualmente 1.864cursos de graduação na área da saú-de que precisam do apoio da Rede praimplementar mudanças efetivas, trans-formando em realidade as diretrizescurriculares nacionais propostas peloConselho Nacional de Educação (CNE)e pelo Ministério da Educação (MEC).“Para que isso aconteça, a melhorestratégia é, sem dúvida, a efetivaçãoda parceria entre serviços, univer-sidades e comunidades”, garanteMárcio Almeida, coordenador da RedeUnida, que destaca a importância do

Congresso para que a Rede possa con-tinuar a desenvolver, de forma consis-tente, ações referentes aos quatroeixos prioritários de desenvolvimen-to que formam sua Agenda Estratégi-ca: mudanças na formação dos pro-fissionais de saúde em todos os níveis;educação permanente em saúde,centrada na mudança das práticas sa-nitárias e pedagógicas, nos serviços enas universidades; articulação e par-ceria, envolvendo ensino, serviços emovimento comunitário em açõesintersetoriais; e fomento à produçãodo conhecimento e maior dissemina-ção dos processos e resultados daspráticas e experiências inovadoras deensino-aprendizagem.

— As discussões realizadas duran-te o evento vão permitir que continu-emos a traçar os mapas dos processosde mudança na formação dos profissi-onais de saúde, os mapas das políticaspúblicas de saúde e de educação,como também os mapas das inquieta-ções e das novas demandas que sur-gem, nos encontros (e desencontros)de idéias, experiências e reflexões nabusca por uma atenção à saúde dequalidade, universal, integral e comeqüidade — completa Márcio.

MUITO O QUE VER,APRENDER E DISCUTIRComo no Congresso anterior, um

dos pontos fortes do evento foram asOficinas de Trabalho e isso ocorreu, deacordo com Márcio Almeida, porque, naRede, as oficinas não são ‘atividades pré-congresso’, mas atividades congressuaisrelevantes que funcionam como espa-ços de produção coletiva. Segundo ele,não foi à toa que as oficinas reuniramcerca de 830 participantes:

— As 36 oficinas de trabalho forampreparadas cuidadosa e competente-mente por quase uma centena de ins-trutores escolhidos a dedo no cenárionacional e o resultado em termos decapacitação, de criação de vínculos, deinterações, de novas parcerias e deprodução de conhecimentos não po-dia ser diferente.

O início da segunda etapa do Con-gresso foi marcado pela cerimônia ofi-cial de abertura, realizada na noite dodia 25, com a presença do ministro daSaúde, Humberto Costa, cuja confe-rência ‘SUS: 15 anos de implantação:

“A melhor estratégia é a parceria entreserviços, universidades e comunidades”

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Espero que haja uma retomada radical dos princípioséticos que originaram a Reforma Sanitária. Para isso,no entanto, é preciso rever algumas questões, inclusi-ve as menores, como, por exemplo, mudar o desenhodas mesas de debate e descentralizar o processo departicipação dos níveis locais de governo. Por que pri-meiro se tem as mesas e depois os debates? Por quenão o contrário, escutando e depois formatando os discursos em umalinguagem mais técnica e científica para que possam orientar as de-mandas de reorganização da própria política de saúde? Por que, emvez de organizar uma conferência local, não se faz um fórum de deba-tes permanentes nos quais as pessoas possam falar sem ser necessa-riamente delegados?

José Ivo Pedrosa, professor da Universidade Federal do Piaú (UFPI)

desafios e propostas para sua conso-lidação’ (ver box) respondeu, em cer-ta medida, ao questionamento feitopor Márcio Almeida em sua fala inici-al: “Há novas políticas para enfrentaros desafios antigos e os problemasemergentes de saúde?”

Durante o Congresso, foram apre-sentados 504 trabalhos sobre os temas:saúde da família; processos e resulta-dos das experiências de mudança naformação de profissionais de saúde;educação para a saúde; processos eresultados das experiências de mudan-ça na assistência à saúde; políticas pú-blicas e de saúde; cidadania e partici-pação social; gestão e avaliação deprojetos e programas; experiências detrabalho em parceria; vigilância sanitá-ria e vigilância epidemiológica; e bioéticana formação de profissionais de saúde.

A programação contou ainda comdezessete conferências e onze pai-néis, cujas propostas eram levadas dassalas para os corredores, alimentan-do animadas conversas, regadas a mui-to capuccino, tão quente quanto a hos-pitalidade londrinense, e mantidas nosmais diversos sotaques brasileiros. Agrande dificuldade era escolher de queatividade participar.

As opções eram muitas e o tempo,por mais esticado que fosse, era pou-co, acabando por deixar todos com umeterno gostinho de ‘quero mais’. Queo digam, por exemplo, aqueles que par-ticiparam da conferência ‘Desafios naformação dos profissionais de VigilânciaSanitária para a construção de novosmodelos de atenção’, na qual Ediná AlvesCosta, do Instituto de Saúde Coletivada Universidade Federal da Bahia, mos-trou a urgência de se pensar essa ques-tão, principalmente por causa das inú-meras especificidades dos profissionaisque trabalham em Visa e da própria áreadentro do setor da Saúde.

— É a primeira vez que a RedeUnida dedica um espaço específicopara o tema da formação em vigilânciasanitária. Isso é muito expressivo emostra que esse pedacinho da SaúdePública começa, finalmente, a ser per-cebido como parte integrante da Saú-de — explicou Ediná.

EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDENo painel sobre e Educação Po-

pular em Saúde, o auditório lotou.Muitos queriam ouvir o relato emocio-nante de Rosalina Batista, líder comu-nitária da região sul de Londrina, e aspalavras sempre serenas de EymardMourão Vasconcelos, professor da Uni-versidade Federal da Paraíba, autor devários livros sob o tema e, como elemesmo faz questão de se apresentar:membro da Rede Popular de Saúde.

Rosalina, que desde o final dos anos80 trabalha pela melhoria da qualidade

de vida das comunidades carentes daregião sul do município, mostrou aospresentes como os movimentos popu-lares se constróem a partir das expe-riências cotidianas das pessoas e comoé fundamental que as pessoas com-preendam a importância da coletivi-dade. “À noite, faltava gente para ve-lar as crianças que morriam”, contouRosalina, tentando retratar as condi-ções em que vivia uma grande popula-ção composta, principalmente, por tra-balhadores rurais expulsos do campo poruma forte geada, no início da décadade 90, e pela automatização progressivada produção agrícola.

Segundo Rosalina, a busca poruma vida com mais saúde levou a umasérie de reivindicações ligadas à edu-cação e à melhoria dos transportes e,

mais do que isso, mostrou as dificulda-des de se juntar a visão assistencialistada comunidade, a visão elitista da aca-demia e a autonomia dos serviços numaverdadeira relação de parceria, na quala valorização do saber do outro e orespeito mútuo se transformem emprincípios básicos de ação.

— A sociedade precisa discutir asdiretrizes curriculares porque sabe queos estudantes devem aprender a lidar coma comunidade e vice-versa. Os profissio-nais devem incentivar o controle social eeste deve ser exercido dentro de umavisão de respeito pelo serviço público epelo trabalhador. Tudo isso requer umgrande esforço de capacitação das pes-soas envolvidas — concluiu Rosalina.

E se Rosalina impressionou pormostrar como se dá na prática um

Durante cerca de uma hora, oministro da Saúde, Humberto

Costa, falou dos desafios e das pro-postas para a consolidação do SUS,que hoje, com todos os problemasque enfrenta — recursos financei-ros insuficientes e gastos irracionais;pouca participação dos estados nofinanciamento; deficiência quali-quantitativa de recursos humanos;precarização das relações de traba-lho; baixa resolutividade e limitaçõesno acesso aos serviços —, já é utili-zado, de alguma forma, por cerca de90% da população brasileira.

Em sua apresentação, que vocêpode ler na íntegra no site do Radis(www.ensp.fiocruz.br/publi/radis),o ministro destacou a complexi-dade do contexto em que o SUSatua, chamando atenção para adimensão do país e para a hete-rogeneidade de suas condiçõessócio-econômicas, e mostrou as di-retrizes do Ministério para 2003:ampliação do acesso aos serviços,ações de saúde e assistência far-

macêutica, com garantia da quali-dade do atendimento; intensifica-ção das ações de controle deendemias e das ações de vigilânciaem saúde; fortalecimento da gestãodemocrática do SUS; e, o que ospresentes mais esperavam, formula-ção e implantação de uma políticade recursos humanos no SUS. Comrealção aos recursos humanos, aspropostas do governo envolvem acriação da ‘carreira SUS’, o serviçocivil para aqueles que tenham tidoapoio do governo durante os estu-dos, a regulação da formação nosníveis de graduação e pós-gradua-ção e do mercado de trabalho emSaúde, a reorientação das ações decapacitação e educação permanen-te no SUS, uma mesa de negociaçãonacional dos trabalhadores do SUSe a redução da precarização das re-lações de trabalho. O compromissoassumido pelo ministro trouxe umcerto otimismo e mereceu aplausosdos congressistas. Agora, é esperarpara ver.

Palavra de Ministro

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A 12a CNS vai ser ummarco, resgatando acapacidade do movimentosanitário. Acho queestará à altura de umanova conjuntura e daperspect iva de umgoverno popular.

Paulo Gadelha, Vice-presidente deInformação e DesenvolvimentoInstitucional da Fundação OswaldoCruz

processo de educação popular, coubea Eymard a difícil tarefa de conceituara questão.

— Educação Popular não se refe-re ao esforço para a educação das clas-ses menos favorecidas e nem pode serdiretamente associada às atividadeseducacionais desenvolvidas por mo-vimentos sociais, que muitas vezes en-volvem práticas bastante autoritári-as. Educação popular é uma formaespecífica de se conduzir a práticaeducativa. É uma ação política queutiliza o diálogo e os movimentos queas pessoas fazem naturalmente embusca do conhecimento para trans-formar as próprias pessoas e a reali-dade em que elas vivem.

Eymard falou ainda no papel quea educação popular teve, e tem, naconstrução e no trabalho do SUS, des-tacou a presença em posições estra-tégicas no governo de várias pessoasoriundas do movimento de educaçãopopular e lamentou que algumas des-sas pessoas abandonem os princípiosda educação popular em favor de um‘bom planejamento’.

— Temos que abandonar a idéiade que a educação popular atrapalhao planejamento, pois, na verdade, elaé um poderoso instrumento de gestãosolidária e participativa — garantiuEymard, louvando a criação de uma Co-ordenação de Educação Popular emSaúde no Ministério, a cargo de VerônicaSantacruz, segundo ele, uma especia-lista e entusiasta do assunto.

CIDADES SAUDÁVEIS“Como anda o movimento Cidades

Saudáveis no Brasil?” era a perguntaque estava na mente dos que compa-receram à conferência de Sônia TerraFerraz, pesquisadora e consultora emCooperação Internacional e Promoçãoda Saúde. Desde novembro de 2000,quando a revista Tema Cidades Saudá-veis foi lançada pelo Radis, sentimos umcerto ‘acomodar’ das discussões sobreo assunto, apesar de percebermos, aquie ali, inúmeros movimentos, programase ações plenamente identificados coma idéia de Cidade Saudável.

Sônia Terra reafirmou os concei-tos de Cidades Saudáveis — trabalhoem rede, noção ampliada de saúde, for-talecimento do governo local — e, de-pois de referir-se às dificuldades queo passado recente impunha à constru-ção de ações baseadas em tais concei-tos, apresentou sua opinião acerca desua viabilidade hoje:

— Para que a idéia ganhe visibili-dade e operacionalidade, vejo combons olhos a crescente democratiza-ção do país, as bases constitucionaisde responsabilidade municipal, comênfase na descentralização, as experi-ências municipais bem-sucedidas, queacontecem em todo canto, a incorpo-ração de novos atores, a ampliação deparcerias e o exercício da cidadania.

As dificuldades, de acordo com apesquisadora, têm a ver com um certopaternalismo técnico-financeiro, comestratégias setoriais fragmentadas ecom a instabilidade política ainda exis-tente. “Há muitas experiências emcurso que, mesmo que não tenham adenominação ‘Cidades Saudáveis’, sãoexemplos práticos e eficientes desses

princípios. Essas experiências es-tão desarticuladas e precisam serunidas em rede”, disse Sonia Ter-ra, citando as cidades de Curitiba— que desceu do nível municipala um nível mais restrito, crian-do micro-redes como as univer-sidades, escolas e empresas sau-

dáveis —, Campinas, Niterói,Londrina e Montes Claros elembrando que a verdadeirapolítica de saúde é feita, hoje,pelos municípios. “É onde es-tão a criatividade, a comuni-dade, o conhecimento e os no-vos atores”, disse ela.

Michelle Caputo Neto, secretáriomunicipal de Saúde de Curitiba, con-cordou e foi além:

— Todos querem fazer (governo,empresas, igrejas, Ongs, universidades)e é possível fazer. Mais do que possível,é necessário, e o primeiro passo é co-meçar. Mas minha pergunta tem sido:“Como envolver o cidadão?”.

Os problemas não tiram o oti-mismo de Sônia Terra, que aponta oscaminhos para se viabilizara idéia deCidades Saudáveis: “É preciso, primei-ramente, promover a sinergia dasgrandes agendas (Agenda 21, etc), tra-balhando em parceria nos níveis mu-nicipais, estaduais e federal, e pro-movendo a abertura com outrossetores. Sinto que já estamos esgo-tando essa discussão na Saúde”.

MELHOR FORMAÇÃO,MELHOR ATENÇÃO À SAÚDE

Após quatro dias de intensas ati-vidades, não houve quem não levassede volta na bagagem muitas expectati-vas, planos e promessas de reencon-tro daqui a dois anos, em Belo Hori-zonte, na próxima versão de um eventoque entrou definitivamente para a agen-da da Saúde.

Sobre o resultado do Congresso,uma unanimidade, expressa nas pala-vras da titular da Secretaria Nacionalde Gestão do Trabalho em Saúde, Ma-ria Luiza Jaeger:

— Ficou comprovado o desejo quea sociedade, os órgãos formadores eos gestores têm de discutir o sujeitoque faz saúde. O conjunto de traba-lhos apresentados mostrou a necessi-dade de adaptarmos a formação des-ses profissionais à necessidade desaúde da população e do Sistema Úni-co de Saúde. Qualificar cada vez maisa atenção à saúde da população signi-fica também priorizar a formação doprofissional de saúde”.

Para os organizadores do eventorestaram a sensação do dever cumpri-do e a certeza de que o sucesso doCongresso evidenciou tanto a incrívelcapacidade de mobilização da Redequanto a existência de muitos proble-mas e dificuldades a serem enfrenta-dos, como afirmou Márcio Almeida:

— Como Rede, somos avessos a pro-testos ou reivindicações corporativase a iniciativas cerceadoras ou anti-tra-balho em equipe. Prezamos a práticada proposição a partir dessa nova for-ma de trabalho: sem hierarquias, commuitos nós ou laços de encontro,cheia de relações e de vínculos. Nos-sos fios são frágeis e os nós são pe-quenos, mas, juntos, podemos supe-rar o medo e encontrar a ousadianecessária para dar o primeiro passoe para prosseguir na difícil tarefa daconsolidação das mudanças.

O Radis na Rede Unida! Ao se reunir com seus leitores, oRadis tornou formal uma prática quesempre realizou de maneira informal:o jornalismo participativo, no qual ascríticas e sugestões do público sãofundamentais para o nosso trabalho.O nosso primeiro encontro foi muitoimportante e a idéia é fazermos no-vas reuniões em outros eventos. Obri-gado aos que estiveram presentes!

! Na Oficina de Educação a Distância,coordenada por Paulo Marcondes Car-valho Jr., a edição sobre EaD (Radis6) foi utilizada pelos alunos no pro-cesso de conceituação, para enten-der e explicar as atividades práticasdesenvolvidas. “O texto da Radis con-seguiu mostrar a EaD sem mistérios,em síntese, pontuando claramentesua aplicabilidade no processo de for-mação de recursos humanos em saú-de”, explicou o coordenador.

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As questões da comunidade devem ser apresentadascomo prioritárias na Conferência Nacional. Nesse sen-tido, a discussão principal deve ser voltada para o con-ceito de promoção da saúde, de ações que façam uso demeios culturais, esportivos e lúdicos como benefíciopara a sociedade. Está comprovado que para cada realinvestido na promoção à saúde, economiza-se cinco re-ais em tratamento de doença.

Anderson Salles, membro do Conselho de Saúde da Região Sul deLondrina (Consul) e coordenador do Projeto Hip Hop de Prevençãoa DST/Aids ‘Infância e Juventude Saudável’

“A organ ização em rede é aradicalização da democracia”,

disse o pesquisador Mario Rovere emsua concorrida palestra no 5º Con-gresso da Rede Unida, referindo-seao enorme potencial de socializaçãode saber e poder das redes. Não foià toa que o evento de Londrina aco-lheu também o 1º Fórum Nacional deRedes de Saúde, visando discutir eaprofundar a compreensão sobre amodalidade de trabalho em rede, desuas potencialidades e desafios, bemcomo apoiar o fortalecimento dasredes existentes no setor saúde eestimular iniciativas de criação detantas outras.

Segundo João Campos, chefe doDepartamento de Saúde Coletiva daUniversidade Estadual de Londrina(UEL) e coordenador do Fórum, o tra-balho em rede é uma modalidade al-ternativa, nova e com potencialidadesque não foram exploradas pelas for-mas tradicionais de intervenção dasforças político-sociais no campo dasaúde. Vários eventos foram pauta-dos pelo Fórum, como parte tambémdo Congresso da Rede Unida. Osprincipais foram as oficinas ‘Movimen-tos sociais relacionados com a for-mação dos profissionais de saúde eo trabalho em rede’ coordenada porAna Luiza Vilasbôas (Universidade Fe-deral da Bahia) e Mario Rovere (Uni-versidade de Buenos Aires); ‘Uso dosrecursos da internet no trabalho emrede’, sob a orientação de JaneteLima de Castro (Universidade Fede-ral do Rio Grande do Norte) e MiriamStruchiner (Universidade Federal doRio de Janeiro); e ‘Educação a dis-tância na saúde’, cujos instrutoresforam Paulo Marcondes CarvalhoJunior e Valéria Carvalho (ambos daFaculdade de Medicina de Marília).Além das oficinas, fizeram parte daprogramação do Fórum os painéis so-bre o trabalho da Rede Observatórioem Recursos Humanos em Saúde(Rorehs), apresentados por JaneteCastro e Julio Cesar da França (Es-cola Politécnica/Fiocruz); sobre aformação do profissional de nível téc-nico na área da saúde, com as pre-senças de Rita Sório (Profae/MS),Marise Ramos (Ministério da Educa-ção) e Renata Reis (Rede de EscolasTécnicas do SUS); sobre o trabalhodas Redes Cidades Saudáveis, apre-sentado pelo prefeito de Crateús/CE,Paulo Nazareno; sobre Educação adistância e redes colaborativas, a

cargo de Antonio Ivo de Carvalho(Ensp/Fiocruz); e sobre contribuiçõese repercussões do referencial deredes no campo da saúde, com Ma-rio Rovere.

Janete Castro, coordenadorado Observatório RH NESC/UFRN egrande colaboradora do 1º Fórum Na-cional de Redes de Saúde, diz que,para que a perspectiva de trabalhoem rede seja fortalecida, o inter-câmbio entre as redes pode ser umexcelente meio de cooperação téc-nica. “Deveremos apontar e reconhe-cer as falhas que tivemos no 1º Fórume caminhar para o segundo Fórum”,diz ela, lembrando que o evento “foium grande aprendizado”. Ainda segun-do Janete, o Fórum permitiu três mo-mentos importantes: a identificaçãoe rápida apresentação das Redes pre-sentes, a apresentação do projeto deRedes Colaborativas, apoiadas pelaOrganização Pan-americana de Saú-de (Opas) e a avaliação da iniciativada Rede Unida em promover esseprimeiro Fórum.

Redes de Saúde: 1º Fórum Nacional discutepotencialidades e desafios do trabalho em rede

Dois duros golpes*

“Agestão numa rede impõe aprincípio dois duros golpes

anti-narcisísticos. O primeiro é oreconhecimento de que o podernão está no centro. No entanto,quando se ‘descentra’ a gestão,não se perde poder; ao contrário,ganha-se poder, porque a capaci-dade de influir é incrementada,potencializada ao máximo.

O segundo golpe diz respeitoà ‘articulação dos diferentes’, jáque os diferentes poderes fazemparte da horizontalidade. O maiorerro ao se enxergar a rede é vê-lacomo formada por ‘gente sem poder’.

É um erro achar que, pelo fato deo poder ser desconcentrado e des-centralizado, que não há poder. Aocontrário, o que se vê é o ‘podercomo contribuição’. Em vez de opoder servir principalmente ao seudetentor, na organização em redeo poder é também um ‘recurso’disponibilizado e compartilhado.Em rede”.

* Opinião: Mario Rovere (professor daUniversidade de Buenos Aires e autordo livro ‘Redes: Hacia la Construcciónde Redes en Salud. Los Grupos Huma-nos, las Instituciones, la Comunidad’)

Janete Castro lembra ainda quemuitas articulações foram estabe-lecidas, e dá o exemplo da RedeObservatório de Recursos Humanosem Saúde. “Esta Rede é viabilizada,em grande parte, pelo apoio daOpas e do Ministério da Saúde”, dizela, explicando que, atualmente, arede é composta por 10 Estaçõesde Trabalho e tem procurado in-tegrar tais Estações por meio derealizações de trabalhos comunse participações em eventos comoo congresso da Rede Unida, doConasems e outros.

Falando a partir do ponto de vis-ta da Rede Unida, João Campos es-clarece que não é objetivo do Fóruma criação de relações da Rede Unidacom outras redes, seja para gerarpropostas de ação conjunta, sejapara exercer algum papel de lideran-ça junto a esse segmento. “A RedeUnida sabe que isso seria ‘anti-traba-lho em rede’”, diz João, e acrescen-ta: “O que nos integra é o objeto,Recursos Humanos em Saúde”.

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Olimpíada da Saúde e meio ambienteOlimpíada da Saúde e meio ambienteOlimpíada da Saúde e meio ambienteOlimpíada da Saúde e meio ambienteOlimpíada da Saúde e meio ambiente

Emoção na divulgação dos vencedores

Katia Machado

Expectativa, torcida organizada emuita emoção marcaram a festade divulgação dos 18 premiadosda etapa nacional da Olimpíada

Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, edição2003, promovida pela Casa de Oswaldo Cruz(COC/Fiocruz) e pela Associação Brasileirade Pós-Graduação em Saúde Coletiva(Abrasco). Muito mais do que a alegria davitória, a Olimpíada proporcionou enormesatisfação a todos que participaram da com-petição, como mostraram as palavras do pro-fessor Gerson Tavares do Carmo, do ColégioEuclides da Cunha, de Cantagalo (RJ):

— A Fiocruz, ao valorizar os traba-lhos de alunos de todo o Brasil, desempe-nhou um papel fundamental na luta con-tra os sentimentos que nos fazem sentirincivilizados diante das nações mais po-derosas que, ao longo do tempo, impuse-ram várias formas de colonização, entreelas, a das subjetividades e do saber. Lu-tar contra isso é possibilitar a nossa afir-mação como brasileiros, capazes de re-conhecer a força que temos para assumirnossa verdadeira identidade e o nossoolhar particular diante do universal.

Para o autor do poema ‘O Desequi-líbrio Humano’, primeiro lugar na modali-dade ‘Produção Literária’, Nilo da RochaMarinho Neto, que herdou do avô, livreirohá 78 anos no Piauí, o gosto pelas letras, oprêmio foi um grande privilégio, mas o prin-cipal não era ganhar. “Eu tive a idéia deescrever essa poesia enquanto assistia umdesenho animado do Pernalonga e Patolino.Escrevi porque acreditei que poderia sen-sibilizar as pessoas e ajudar a fazer umBrasil melhor”, garantiu.

A festa de premiação, uma das atra-ções do evento Fiocruz Pra Você, começoucom um jogral feito por um grupo de alunosda Escola Politécnica de Saúde JoaquimVenâncio (EPSJV/Fiocruz) sobre a poesia

‘O Hino Nacional em ordem direta’, de Arturda Távola. Depois, foi lido o texto ‘Históriade Peixe’, de Cristiano Santos Mendonça,aluno da 2ª série do Ensino Médio do ColégioEstadual Poeta José Sampaio, de Carmópolis(SE), por representar o espírito presente emtodos os trabalhos inscritos e selecionados— vontade de aprender e vontade de cons-truir um mundo melhor — e por levar a refle-tir sobre a importância da preservaçãoambiental e sobre a possibilidade de mudan-ça em nossas atitudes. A cerimônia conti-nuou com a palavra dos integrantes da mesae com a entrega dos prêmios aos vencedo-res da etapa nacional.

UMA COMPETIÇÃO DIFERENTEA Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio

Ambiente, cujo objetivo é incentivar a refle-xão e a criatividade dos alunos dos ensinosFundamental — das 7ª e 8ª séries — e Médio,promovendo a difusão do conhecimento ci-entífico e a formação para a cidadania e va-lorizando os trabalhos inovadores dos pro-fessores em sala de aula, recebeu mais de 700trabalhos de quase 600 escolas do país.

Nas etapas regionais, foram selecio-nados 33 trabalhos que concorreram, en-tão, à etapa nacional. Na categoria Arte eCiência, o projeto ‘Cidadão e Ação’, do Co-légio Metropolitano (RJ), recebeu o primeirolugar no Ensino Fundamental, e o projeto‘SOS meio ambiente’, do Colégio MariaEmília Cantarelli (PE), no Ensino Médio. EmProdução Literária, os trabalhos vence-dores foram ‘Apelo de um poeta’, da Esco-la Presidente Médici (PE) e ‘O desequilíbriohumano’, do Instituto D. Barreto (PI).‘Sensibilização do rio Belém’, projeto daEscola Estadual Jandira Correia Pacheco,e ‘Viva... ame o seu ambiente’, do Colégio

Rio Negro, foram os trabalhos premiados namodalidade Projeto de Ciências.

Além dos 18 trabalhos premiados (rela-ção completa em www.olimpiada.fiocruz.br),receberam menção honrosa dois outrosproduzidos na cidade de Gama, no DistritoFederal: ‘Oficinas Folclóricas 2002 — Mani-festações Artísticas da Cultura Brasileira’,realizado por 344 alunos da Escola Normaldo Gama e ‘A situação da saúde pública doDistrito Federal, da aluna Rubiene MayraHelena Vieira, do Centro de Ensino Funda-mental 12 do Gama.

Para Ary Carvalho de Miranda, vice-presidente da Fiocruz, essa é uma Olim-píada diferente por ter um carátereducativo. “Ninguém compete contra nin-guém, mas sim a favor da saúde e do meioambiente”, explicou durante a aberturada festa. Segundo Paulo Buss, presidenteda Fiocruz, esse é um projeto essencial-mente importante por mostrar que saúdee meio ambiente estão intrinsecamente re-lacionados. “Não é possível pensar na saú-de das pessoas sem pensar na saúdeambiental”, ressaltou.

Além de promover a relação entre asciências e as manifestações culturais dediferentes regiões, a Olimpíada, segundoNísia Trindade Lima, diretora da COC e co-ordenadora da Olimpíada, passa uma men-sagem de esperança. “De uma esperança”,disse ela, “que só se concretiza com muitotrabalho e realização”. Exemplo desse es-forço, o trabalho vencedor na categoria‘Projeto de Ciências’, intitulado ‘Viva. Ameseu ambiente’, foi ganhando dimensõesmaiores ao longo do seu desenvolvimento.“Foi um trabalho fantástico, porque a gen-te conseguiu detectar os problemas de umacomunidade carente e, com o esforço dosalunos, conseguiu envolver essa comunida-de na solução de seus problemas”, disse a

OFiocruz Pra Você ocorre há dezanos no Dia Nacional de Vacina-

ção contra a Poliomielite (paralisia in-fantil). O evento traz inúmeras atra-ções para quem passa pela instituição.Este ano, cerca de 46 mil pessoas fo-ram atraídas pelas 45 atividades cultu-rais, artísticas e esportivas da festa.Além da diversão, os participantes pu-deram fazer exames gratuitos deglicose (diabetes), de pressão arterial,de colesterol, de tipagem sangüínea,

para detecção de doenças de pele ehanseníase e para avaliação de pro-blemas na voz. O resultado dessa fes-ta foi o grande número de criançasvacinadas, superando o do ano pas-sado e batendo recorde mundial devacinação em um único espaço e emum mesmo dia: quase seis mil criançasimunizadas contra a pólio e outras du-zentas que receberam uma dose datríplice viral (contra sarampo, rubéo-la e caxumba).

O RADIS ADVERTE:

A saúde do meio ambientedepende do homem, e a saú-de do homem depende domeio ambiente. Tudo o quefaz bem à saúde de um, fazbem à saúde do outro.

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A 12ª é uma Conferência muito oportuna. Penso que atélá devemos usar as conferências municipais e estaduaispara estabelecer prioridades e para resgatar algumasquestões que, nesses últimos dez anos acabaram ‘pas-teurizadas’, perdendo a virulência do processo trans-formador proposto pela Reforma Sanitária, entre elas adiscussão da saúde como direito. Saúde como condiçãode cidadania e humanização da atenção pressupõem escolhas políticasque levem a priorização do financiamento e do estabelecimento derelações mais claras entre setor público e privado. Acho que a Confe-rência deveria estar centrada mais na recuperação dos princípios geraisdo que na resolução de pontos específicos.

Ana Maria Figueiredo, coordenadora do GT de Vigilância Sanitáriada Abrasco

professora e orientadora do trabalho, Ma-ria Amabili Mariot Angulski.

O projeto prevê ainda a publicação deum encarte na revista Galileu, no segundosemestre de 2003, e a organização de umaexposição itinerante dos trabalhos vence-dores que irá percorrer o país. Outra boanotícia é que já está sendo preparada, comgrande expectativa, a versão 2004 da Olim-píada. “Neste primeiro ano do evento, onúmero de trabalhos apresentados foi muitobom, cerca de 700, mas ainda é pouco. Pre-cisamos nos esforçar para acrescentar unsdois ou três zeros a esse número. Precisa-mos estimular esse tipo de trabalho feitocom crianças e jovens”, afirmou Antônio Pa-vão, do Espaço Ciência (PE), representandoas instituições colaboradoras.

Seu doutor me dê licençaE me deixe lhe falarTenho pouca experiênciaEu não posso isso negarMas me corta o coraçãoVendo as coisas do sertãoIndo embora sem voltar

(...)

Aqui termino meu apeloA rima e a poesiaConstruir um novo universoÉ tudo que eu mais queriaQueria que toda essa genteDeixassem as pobres sementesVoltar a brotar um dia

Trechos do poema Apelo de umpoeta, primeiro colocado namodalidade Produção Literária(Ensino Fundamental), do alunoHumberto Pereira da Silva, da Es-cola Presidente Médici (PE).

Como um sino desesperado,O homem salta no escuro.O escuro parece habitar a mente do homemQue faz calar o grito da natureza inocente

(...)

O ar da cidade no sufoca,O ar da cidade é sujo, e por isso nos sufoca.As cidades são de concreto,Impermeável à razão e ao coração.Coitado do mundo: agüentará muito tempo?

Trechos do poema O desequilíbrio humano, pri-meiro colocado na modalidade Produção Literá-ria (Ensino Médio), do aluno Nilo da Rocha Mari-nho Neto, do Instituto D. Barreto (PI).

Dengue: um problema de saúde e sócioambiental, pro-duzido pela aluna Júlia Liidke, do Centro EducaccionalMartinho Lutero (TO), classificado na etapa regionalna modalidade Projeto de Ciências (Ensino Médio).

Papa Lixo, terceiro lu-gar na modalidade Artee Ciências (Ensino Fun-damental), produzidopelo aluno Hugo Santia-go Torres, do Centro deEducação e Cultura (MG).

Olimpíada valoriza trabalhoscriativos e inovadores

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ssssserererererviçviçviçviçviçososososos

FESTIVAL

INSCRIÇÕES SUPERAM EXPECTATIVA DA4ª VÍDEOSAÚDE

Mais de 230 títulos estão inscritospara part ic ipar da Mostra

Nacional de Vídeos sobre Saúde(VídeoSaúde), organizada pelaVideoSaúde Distribuidora, do De-partamento de Comunicação e Saú-de, do Centro de Informação Cientí-fica e Tecnológica da Fiocruz (DCS/CICT/Fiocruz). Este número repre-senta um crescimento em relação àquantidade de produções inscritasna Mostra anterior — 160 títulos. Nãoapenas isso, vários vídeos inscritosforam produzidos especificamentepara esse evento, reforçando o es-tímulo dado pelas Mostras Nacionaisde Vídeo sobre Saúde organizadaspela Fiocruz.

A 4ª VídeoSaúde selecionará trêsvídeos que receberão prêmios emdinheiro e um prêmio especial seráentregue ao melhor vídeo sobre afome. Os trabalhos ganhadores serãoexibidos no 7º Congresso Brasileiro deSaúde Coletiva (Abrasco), a ser reali-zado em Brasília, de 29 de julho a 03de agosto.Mais informações: VídeoSaúdeTel.: (21) 3882-9109 / 9110 / 9111 / 9147e-mail: [email protected]

EVENTOS

20º CONGRESSO BRASILEIRO DE HI-GIENE E SAÚDE PÚBLICA

Em comemoração de seus 80 anos,a Sociedade Brasileira de Higiene

estará promovendo o 20º CongressoBrasileiro de Higiene e Saúde Públi-ca, entre os dias 05 e 07 de agosto,na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),no Rio de Janeiro.Mais informações pelo e-mail:[email protected]

7º CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDECOLETIVA

Acontecerá em Brasília/DF, de 29de julho a 02 de agosto. As inscri-

ções poderão ser feitas diretamentepelo site da Abrasco.Mais informações:www.congresssosaudecoletiva.com.br

36º C O N G R E S S O BR A S I L E I R O D EFITOPATOLOGIA

Oevento será rea l izado emUberlândia/MG, entre os dias 03

e 08 de agosto.Mais informações: Tel.: (34) 3218-2225E-mails: [email protected]

[email protected]

INTERNET

REDE DE CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO

ARede de Ciência e Desenvolvimento(SciDev.Net América Latina),

sediada pela Casa de Oswaldo Cruz,lançou recentemente seu novo por-tal. Nele, o usuário tem acesso a notí-cias, artigos de opinião e outras infor-mações sobre ciência, tecnologia edesenvolvimento na América Latina eCaribe. Além disso, acesso livre e gra-tuito a artigos publicados nas revistasNature e Science. Disponível em inglês,espanhol e português, o novo portalserá o ponto central da rede regionallatino-americana do projeto SciDev.Net,formada por pessoas e instituições com-prometidas com a melhoria da comuni-cação da ciência e da tecnologia. Osite inclui ainda um novo dossiê queaborda o problema da evasão de cére-bros, assunto de particular interessepara a América Latina.Endereço do portal da SciDev:www.scidev.net/braindrain

LIVRO ELETRÔNICO

‘Fundamentos Farmacológicos-Clíni-cos dos Medicamentos de Uso

Corrente’ é uma publicação eletrô-nica da Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária (Anvisa) em parceria coma Escola Nacional de Saúde Públicada Fiocruz (Ensp/Fiocruz). O livro é

uma iniciativa para equilibrar informa-ções sobre medicamentos veiculadasem propagandas e bulas com revi-sões de literatura, gerando umainformação fundamentada em evi-dências científicas. Esse trabalhoé resultado de um dos sub-projetosde revisão e atualização de bulas doPlano de Trabalho da Unidade deFarmacovigilância da Anvisa. O livropoderá ser acessado pelo endereço:www.anvisa.gov.br/divulga/public/livro_eletronico/INDEX.HTM

LANÇAMENTOS

EDITORA ATHENEU

Internet, guia para pro-fissionais de saúde, deBeatriz Vincent, é um li-vro que tenta suprir umalacuna no setor. A mestreem engenharia biomédicae analista de sistemas do Laboratóriode Informática da Escola Nacional deSaúde Pública (Ensp) escreveu com oobjetivo de mostrar as facilidades quea web pode proporcionar e de rela-cionar maneiras de obter resultadosmais satisfatórios no que diz respeitoà programas de busca. O livro podeser obtido em qualquer livraria.

UERJ/ABRASCO

Construção da Integrali-dade: cotidiano, saberese práticas em saúde, or-ganizado por Roseni Pi-nheiro e Ruben Araújo deMattos, traz abordagensanalíticas e dados empíricos de expe-riências nas áreas de ensino, pesqui-sa e serviço que trabalharam o temaintegralidade. Os textos apresentadosnesta publicação, lançada pelo Insti-tuto de Medicina Social (IMS) da Uerje pela Abrasco, refletem uma defesada integralidade como princípionorteador e organizador das práticasem saúde. O livro poderá ser adquiri-do pelo e-mail: [email protected] na livraria da Abrasco:Rua Leopoldo Bulhões, 1480, sala 129Manguinhos — Rio de Janeiro / RJCEP: 21.041-210Tel./Fax: (21) 2590-2073 / 2598-2526E-mail: [email protected]

Page 19: CONGRESSO DA REDE UNIDA - Oswaldo Cruz Foundationmotivos para crer nisso, e também no diagnóstico do professor Mario Rovere que, em palestra no Congresso, asse- ... medo globalizado

RADIS 11 ! JUL/2003

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As dores do Serafim

PÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDO

Carlos Gustavo Trindade

Doíam as pernas, o rim, tudo enfimdo cidadão conhecido no bairro

de Laranjeiras, no Rio, como Serafim,um ‘cinqüentão’ que passava metadedo dia em seu escritório de contabi-lidade e outra tratando da saúde.Serafim resgatou a figura do médicoda família para se queixar de ponta-das ou mal estar diariamente e trans-formou sua casa numa verdadeira far-mácia 24 horas, com direito aos maisvariados tipos de medicamentos queconseguia mesmo sem receita médi-ca. A mulher Dolores era quem supor-tava as ‘dores’ do Serafim, enquantoos filhos adolescentes David e Vickviviam irritados com os seguidos pe-didos suplicantes do pai.

— Filho, pegue os chinelos paramim! — gemia Serafim.

O lazer de Serafim se resumia aleituras de textos especializados emsaúde e, conforme as novas desco-bertas da ciência, determinava medi-das provisórias em casa pelo bem detodos. Ele chegou a cortar os ovosda dieta com receio do colesterol,mas voltou atrás ao saber de possí-veis benefícios; só aceitava água fer-vida; e passou a evitar ao máximo to-mar café em copinhos de plástico aoouvir no noticiário que soltam, com

o calor, determinada substância quepode levar à impotência.

Todos na família eram obrigadosa fazer uma dieta rígida com legumese verduras e a obedecer à proibiçãoexpressa de uso de quaisquer tiposde alimentos industrializados. Alémdisso, Serafim proibiu idas à praia porcausa da camada de ozônio, o horá-rio coletivo de dormir era 22h e to-dos dias os filhos e a mulher tinhamde fazer exercícios típicos do Exér-cito para combaterem os chamadosradicais livres, e de relaxamento a fimde evitar o estresse.

Serafim sempre mencionava odoutor como herói, para desgosto deVick que, por ser asmática e franzina,era a que mais se submetia a rotinasemanal de exames médicos em casa.Principalmente porque o doutor, cha-mado de gênio por Serafim, comotodos os gênios, tinha uma cabeçaenorme que a deixava sem ar, roxa earfante na hora do ‘33’.

As ‘crises’ de saúde do Serafimcausavam grandes problemas no lar, poistodos tinham que ficar de prontidãono atendimento as chamadas dele desocorro, quase sempre deitado e comum pano preto nos olhos por causa de“terríveis” dores de cabeça. Caso fos-se contrariado, Serafim fazia chanta-gens sentimentais e ameaças com di-reito a encenações vivificadas por umsimulado latejar de olhos, como se es-tivesse a ponto de ter um derrame oucoisa do gênero.

Num belo domingo de sol, Serafimacordou diferente: não tinha doresnem mal estar, sentia-se energizado eao olhar no espelho viu sua face rubo-rizada como há muito tempo não acon-tecia. Ao ouvir o canto de pássaros eperceber o frescor das matas vindo deum terreno baldio, Serafim ficou cis-mado tamanha a paz. Levantou sobres-saltado e ligou para o doutor.

— Doutor! Não estou sentindo nada.Será que vou morrer?! — perguntou.