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1 Congresso Brasileiro de Agroecologia 12 de setembro 2017 #AT21 Oficina “Métodos de pesquisa sobre a agrobiodiversidade” Dia 12 | 14h00 18h00 | CALIANDRA | #Agroecologia2017 Coordenadora : Ludivine Eloy (CNRS/ CDS-UNB) Palestrantes: - Angela Steward (NCADR-UFPA) - Anderson do Prado (Ass. jovens da Juréia-SP) - Ilma Neri (MESPT/Assoc. Com. Indig. Médio Rio Negro/AM) - João Chiles (MESPT, Assoc. Agric. Fam. Com. Geraizeira do Pau Darco, MG) - Cecilia Ricardo Fernandes (CDS-UNB) Debatedoras: - Nurit Bensusan (Instituto Socioambiental) - Clelia Maria Puzzo (FAO, programa Globally Important Agricultural Heritage Systems- GIAHS) Apresentação: A oficina busca explorar as diferentes abordagens metodológicas para analisar as dinâmicas dos sistemas locais de manejo da agrobiodiversidade, considerando diversas escalas espaciais e disciplinas. Os processos de conservação ou perda da diversidade das plantas cultivadas na América Latina refletem mudanças nas práticas de cultivo, transformação e circulação do material vegetal, mas também as transformações das paisagens e formas de transmissão dos conhecimentos. Com base nas experiências de pesquisadores oriundos de diversas formações disciplinares, regiões e contextos (universidades e comunidades), procuramos evidenciar os desafios metodológicos destas pesquisas. Como favorecer um diálogo intercultural nas pesquisas sobre agrobiodiversidade? O que muda quando a pesquisa é feita por pesquidor(a) da comunidade? Como são percebidas estas pesquisas? O que trazem? Quais definições de "planta cultivada" e "espaço cultivado"? Em que medida as árvores são cultivadas nas paisagens agroflorestais e/ou agropastorais? Quais técnicas para levantar a diversidade inter e intraespecifica das plantas cultivadas? Como abordar os diferentes processos que estão na origem da produção e conservação/perda da agrobiodiversidade? Como construir sistemas de observação a longo prazo (observatórios)? A oficina foi uma iniciativa do Mestrado em Sustentabilidade Junto a Povos e Territórios Tradicionais, com apoio do Institut de Recherche pour le Développement (IRD). Relatoria (Relatores: Sébastien Carcelle e Ludivine Eloy) Introdução (Ludivine) Esta oficina procura explorar as formas de estudar a agrobiobiodiversidade (AGBD). A AGBD é diversidade das plantas cultivadas, é conhecida com fundamental para a segurança alimentar. Existem muitos trabalhos sobre isso. Mas é também uma forma de

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Congresso Brasileiro de Agroecologia – 12 de setembro 2017

#AT21 Oficina “Métodos de pesquisa sobre a agrobiodiversidade”

Dia 12 | 14h00 – 18h00 | CALIANDRA | #Agroecologia2017

Coordenadora : Ludivine Eloy (CNRS/ CDS-UNB) Palestrantes: - Angela Steward (NCADR-UFPA) - Anderson do Prado (Ass. jovens da Juréia-SP) - Ilma Neri (MESPT/Assoc. Com. Indig. Médio Rio Negro/AM) - João Chiles (MESPT, Assoc. Agric. Fam. Com. Geraizeira do Pau Darco, MG) - Cecilia Ricardo Fernandes (CDS-UNB) Debatedoras: - Nurit Bensusan (Instituto Socioambiental) - Clelia Maria Puzzo (FAO, programa Globally Important Agricultural Heritage Systems- GIAHS) Apresentação: A oficina busca explorar as diferentes abordagens metodológicas para analisar as dinâmicas dos sistemas locais de manejo da agrobiodiversidade, considerando diversas escalas espaciais e disciplinas. Os processos de conservação ou perda da diversidade das plantas cultivadas na América Latina refletem mudanças nas práticas de cultivo, transformação e circulação do material vegetal, mas também as transformações das paisagens e formas de transmissão dos conhecimentos. Com base nas experiências de pesquisadores oriundos de diversas formações disciplinares, regiões e contextos (universidades e comunidades), procuramos evidenciar os desafios metodológicos destas pesquisas. Como favorecer um diálogo intercultural nas pesquisas sobre

agrobiodiversidade? O que muda quando a pesquisa é feita por pesquidor(a) da comunidade? Como são percebidas estas pesquisas? O que trazem?

Quais definições de "planta cultivada" e "espaço cultivado"? Em que medida as árvores são cultivadas nas paisagens agroflorestais e/ou agropastorais? Quais técnicas para levantar a diversidade inter e intraespecifica das plantas cultivadas?

Como abordar os diferentes processos que estão na origem da produção e conservação/perda da agrobiodiversidade? Como construir sistemas de observação a longo prazo (observatórios)?

A oficina foi uma iniciativa do Mestrado em Sustentabilidade Junto a Povos e Territórios Tradicionais, com apoio do Institut de Recherche pour le Développement (IRD). Relatoria (Relatores: Sébastien Carcelle e Ludivine Eloy) Introdução (Ludivine) Esta oficina procura explorar as formas de estudar a agrobiobiodiversidade (AGBD). A AGBD é diversidade das plantas cultivadas, é conhecida com fundamental para a segurança alimentar. Existem muitos trabalhos sobre isso. Mas é também uma forma de

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entender a dinâmica dos sistemas agrícolas. Podemos estudar essa diversidade de diferentes maneiras e com diferentes objetivos. AGBD é um objeto que permite dialogo entre saberes científicos e saberes dos agricultores (locais). São pesquisas que podem ser feitas por produtores, mas não só. Trazer pesquisadores de vários lugares, contextos, de várias formações. Não tem pretensões de propor um método de pesquisa, mas exemplos de pesquisas, a fim de se refletir sobre os diferentes métodos e abordagens que vem sento utilizados atualmente nesse campo do conhecimento. Algumas perguntas:

1) Como favorecer um diálogo intercultural? O que muda quando é feita a pesquisa por um pesquisador da comunidade?

2) Quais definições de “planta cultivada” e “espaço cultivado”? Em que medida as arvores são cultivadas nas paisagens agroflorestais e/ou agropastorais?

3) Como entender os processos que são na origem da produção e conservação/perda da AGB ? Como construir sistemas de observação à o longo prazo?

(Dois minutos de cochicho) Outras preguntas? - é preciso investigar a relação entre agbd e serviços ecossistêmicos - Igor: dando palavra a uma pesquisadora (doutorante) argentina, sobre artrópodes na agricultura peri-urbana de Buenos Aires. Como inserir esse tema da agroecologia, e dos saberes locais nas áreas académicas mais clássicas (biologia, ciências agrarias...). Biodiversidade, também animal. O modelo hegemônico de produção agrícola esta dentro do mundo acadêmico. Que estratégias para poder dialogar com o modo de produção de saberes científicos hegemônico e convencional? Angela May Steward Diversidades de manivas no médio Solimões

Breve apresentação do seu percurso. "Somos na verdade 8 produtores dessa pesquisa e também os agricultores são essenciais" (nomes dados). A pesquisa começou em 2010 e foi promovida por 3 pesquisadoras principais, Deborah Lima, UFMG, Barbara Richers, IDSM e Angela May, UFPA. Também todo o grupo de Pesquisa em Agricultura Amazônica do IDSM contribui de alguma forma. As agriculturas Dona Margarida e Maria Eugênia da comunidade Nogueira. A diversidade de mandiocas é muito ligada com as praticas das pessoas de lá que gostam de trocar. O objetivo era fazer uma avaliação no tempo. Numa zona isolada, duas RDS (Mamirauá e Amanã). Trabalho com grupos indígenas e ribeirinhas. Paisagem muito diversificada, que vem da agricultura de coivara: sistemas

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de roça, de quintal e SAFs, capoeira... processo histórico da pesquisa a partir de 1994. Aqui a apresentação focalizará sobre mandioca para atendar os objetivos da oficina. Levantamento com os agricultores. A farinha de mandioca é a base alimentar da alimentação, a roça é a vida, o ciclo da roça é relacionado com o ciclo de desenvolvimento das famílias. Possível perdas das mandiocas, dois fatores: inserção no mercado local (privilegiando manivas mais adaptadas para a produção de farinha ova e de Uarini, para que a região é conhecida); frequência maior das enchentes grandes.

Metodologia: visão geral. Dados qualitativos e etnográficos. 288 agricultores de 13 localidades. Entrevistas semiestruturadas e visitas nas roças. Metodologia: -a escala em que trabalhamos: coleção familiar como unidade de análise -os dados levantados e o processo: identificação de agricultores chaves (os indicados pelos moradores como agricultores de referência). A ficha presentada: nomes de plantas, identificação do agricultor...Fizemos a lista das manaivas que cada um conhece (que plantou na sua vida) e a lista daquelas que esta plantando atualmente. Mas este inventário das manivas presentes atualmente depende muito de quantas roças são visitadas. Por isso tentamos trabalhar com o maximo de agricultores e em comunidades diferentes (terra firme/varzea). Expressão “qualidade de maniva”: o que significa? O mais importante das manivas na roça, “fortes e fracas”. Fortes são as que mais duram na terra. Uma planta é um cultivo que precisa um certo tipo de manejo. “Manivas nascidas” nascem naturalmente, depois são “batizadas” e integram a roça. E importante ter o histórico das variedades plantadas, e da diversidade de espaços cultivados. Metodologia mista permitiu 1/ analise temporal; 2). Analise espacial; 3) etnografia (porque os agricultores escolhem essa variedade e não outra?) Conclusão: diálogo de saberes. A pesquisa foi muito agradável. Muitos preconceitos dos pesquisadores e técnicos (por ex. do Instituto Mamirauá e outros órgãos públicos) sobre esses sistemas, porque eles usam fogo, porque geralmente as pessoas acham que só plantam mandioca. Mas o sistema e muito mais que maniva. Reflexividade sobre o papel e inserção dos pesquisadores nas comunidades. Perguntas/comentários: - Pergunta sobre a visão da mandioca na vida deles. Referencias sobre as cosmologias. - Associação das manivas com as outras plantas? Vocês estudaram o manejo das plantas espontâneas associadas à mandioca? Porque geralmente, no sul, o plantio de mandioca é quele que recebe menos agrotoxico, por isso tem uma variedade de plantas espontâneas. => não, so estudamos a diversidade das manivas.

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Ilma Fernandes Neri “Sistema agrícola tradicional o Rio Negro”

Ilma é indigena, da etnia Piratapuya. Vem de São Isabel, no médio Rio Negro. Demorou 4 dias para chegar até Brasília. E membro do movimento indogena, da ACIMIRN. Esta palavra "sistema" e coisa de branco. Nos usamos a palavra "roça". Roça de toco : escolher uma terra, delimitar, queimar, plantar. Muitas manivas de muitas variedades mais também frutas e remédios. Trabalho familiar na roça, 7h00 até a tarde. Não é tudo mundo que aguenta. A transmissão dos conhecimentos se fazem desde criança, mas agora tem muito mais que estudam e não querem trabalhar na roça. Processo de cuidar da massa mais tradicional, processo diferente da outra farinha, processo de

secagem, forno tradicional, modo de ralar tradicional e com motor agora, torrando no forno, 2 a 3 horas para torar. Muito diferente de Manaus e do povo do Solimões. Diversidade dos produtos derivados da mandioca, utensílios com fibras naturais mas esta mudando, demorava muito. Usamos o fogo, desde sempre. Projeto Kupixé, salvaguarda e valorização do sistema agrícola do Rio Negro. (Ela dá os nomes das pesquisadoras que resgataram esse processo de produção). "Quero visibilizar nosso sistema", porque a roça mecanizada entrou no nosso municipio, em 2015, e trouxe muito prejuizo para quem aderiu. "Para quê fazer uma roça quadrada? ". Cecilia Ricardo Fernandes Diversidade e transformações dos sistemas agrícolas tradicionais do Cerrado

Percurso: Formada em biologia (UNB) mas o homem era sempre deixado a fora. Anseio de pesquisa: como trabalhar as relações entre homem e natureza? Escolheu o Nordeste goiano para pesquisa, a comunidade Kalunga (maior território quilombola do Brasil, 2000 familias, 8000 de pessoas, 10 municipios). Cerrado preservado. "Queria trabalhar sobre o Cerrado. Escutava muitas reportagens sobre o fim da produção tradicional. Eu ouvia falar que a família era muito preguiçosa e só aproveitando da bolsa familia... Eu cheguei la com essas ideias... será que vou encontrar roças?". Discutiu com professores sobre tipos de solos que não seriam fertis na região, segundo eles existia tipos de solos que dariam roças, muito preconceitos. Mas os mapas deles não condizem com a localização das roças Kalunga ("tirei os pontos

GPS) (fotos dos agricultores, “sem eles eu não teria feito essa pesquisa, inclusive alguns dels estão na feira”). O método : com que escala trabalhar? Familiar, macrorregiões, território? Essas diferentes escalas são importantes para meu trabalho. Cinco anos de pesquisa. Muitos dados, principalmente qualitativos: Historia agrária, ecossistemas cultivados, sistemas sociais produtivos, agrobiodiversidade... O ritmo de pesquisa é muito “orgânico”, lento, faço entrevistas abertas, demora muito antes de perguntar, bem conhecer as famílias, ouvir todo o que elas me tem que dizer. Os diferentes espaços: quintal, roças, capoeiras (que não são "abandonadas" mas sim "manejadas"), o Cerrado em si. Na roça de toco e pastagens: muitas variedades manejadas, não só cultivadas, pastagens naturais manejadas com fogo, roça de vazante.... O Cerrado é manejado: porque as famílias conhecem cada nome de plantas, conhecem cada arvore, pé por pé, e os protegem (do fogo, da derruba, ou selecionando eles na hora da rebrota) por isso considero também como espaços de agrobiodiversidade, mesmo se

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não plantam com a semente. Agora existem também moradores Kalunga que plantam espécies nativas com a semente. Por exemplo, no quintal, as vezes tem uma Gueroba ou um côco Indaia plantado. Os pastos: antigas roças de toco estão sendo transformadas em pastagens para o gado, com capim exôtico (diferentes das passtagens nativas) mas lá também tem manejo das espécies arbóreas nativas. Conclusão: Eu comecei pelos sistemas agrícolas, precisava entender eles para depois ir até outros assuntos, antes de se perguntar se a AGB seguia boa ou diminuía. O resultado mostra que a AGB fica elevada. As politicas públicas que chegam neste território são geralmente muito equivocadas, sem conhecer os sistemas agrícolas, vendendo os pacotes de trator, sementes... Objetivo é mostrar como esses sistemas agricolas funcionam, para guiar as políticas públicas. Por exemplo, é importante entender que a multilocalidade (unidade resiencial e productiva "dividida" entre diferentes lugares, tanto rurais como urbanos) e a pluriatividade (agricultor, mas também guia, brigadista, funcionario publico, etc.) são fundamentais para a segurança alimentar das familias. Perguntas/comentários: - Questão das escalas? Como você estuda a rede de socialização no território? => Procuro analisar os movimentos das famílias e sua relação com os sistemas produtivos, levantando todos os lugares onde eles tem residência (zonas rurais e urbanas). Onde morram seus filhos? Por isso começo com o territorio Kalungo mas considero também as relações externas. - Ritmo de pesquisa: o que você entende como pesquisa "orgânica"?=>Eu cheguei falando de comida. De lá, foi até o sistema agrícola, entender de onde vem essas sementes...Isto é muito importante, porque os Kalunga (sobretudo em Engenho II) estão saturados de pesquisa. Frequentemente chega um ônibus cheio de alunos de graduação que saem com seus questionarios entrevistando todo mundo...e com pouco retorno para a comunidade. - Sobre o fogo: tem autonomia para o uso do fogo por ser um território quilombola? =>O fogo é um tema de trabalho per se. A comunidade Kalunga tem uma liberdade muito grande com o fogo. Tem sua propria brigada (15 brigadistas, apesar de ser muito pouco para um territorio tão grande). Isto é diferente do que eu pude observar no Jalapão (projeto Cerrado-Jalapão). Os mas velhos sabem como manejar com o fogo. Parece que a introdução do capim exótico provocou uma mudança no manejo, mas eu preciso investigar isso melhor. João Marques Chiles Geraizero de Montezuma, Norte de Minas Gerais. Mestrando do Mestrado em

Sustentabilidade junto a Povos e Terras tradicionais- CDS-UnB. A respeito do proposto sobre pesquisas em AGBD, iniciou a fala trazendo sua trajetória de vida resumidos em quatro momentos: 1) Quando criança servindo de guia para pesquisadores na comunidade, sem ter nenhum retorno e sem saber para que servia estudar pinturas rupestres; 2) Quando sai da comunidade e vai para uma formação superior Esalq/USP fora da comunidade e do seu contexto e encontra uma escola do e a serviço do agronegócio. De cara as metodologias eram baseada na estatística, que "aprendeu” à fazer repetições, repetições, repetições";

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3) Volta para a comunidade e região e começa a colaborar nos movimentos sociais junto aos sindicatos, igreja, CAA, associações. Neste ambiente que fervilhava as lutas, e a busca por conhecimento passa a receber e apoiar pesquisas e pesquisadores. A atuação por 8 anos no território ouviu muito do geraizeiro sobre essas pesquisas, seu retorno a desejar, a quantidade de pesquisas com os mesmos lideres, o tempo, o “sumiço” do pesquisador, o investimento nos mesmos lideres, etc. Desse observar e do escutar dos geraizeiros sairá parte da reflexão a ser colocada nesta mesa. 4) No quarto momento é quando torna-se o Pesquisador "hibrido" colocado por Ludivine no inicio na mesa, ou seria o pesquisador "orgânico" como falou Cecilia Fernandes. Este momento é quando entra para o MESPT-UnB como geraizeiro e que tem como desafio manter um pé na comunidade e o outro na academia. Mesmo que esta propõe a interlocução de saberes é outro desafio não deixar a vaidade da academia com seus “quadradinhos” e muitos vícios metodológicos, citados e vivenciados pelas comunidades tradicionais. Diante do exposto acima em seus quatro momentos de vida, João Chiles expõe uma reflexão sobre certa saturação de pesquisas que vivem certas comunidades tradicionais enquanto outras continuam completamente desconhecidas. Isto é claro no Norte de MG, território do Alto Rio Pardo que teve e tem bom transito. Diante disso faz uma pergunta aos presentes: Qual metodologia os pesquisadores utilizaram para escolher as comunidades e os "informantes" “chaves”? Como exemplo cita sua região de atuação, o Alto Rio Pardo: - Me dei conta que dos muitos mestrados, doutorados, pesquisas e outros trabalhos são concentrados em 1 munícipio, 3 comunidades, e algumas famílias (sempre as mesmas) são informantes "chaves". Diante disso coloca que se não tiver certa preocupação com sua metodologia, objeto de pesquisa e necessidade de abertura desse horizonte provavelmente seria “mandado” nas mesmas famílias de sempre, na mesma comunidade “fazer seu mestrado” e repetir os mesmos vícios da academia. Em seu mestrado, propôs desenvolver sua pesquisa em outro município da região geraizeira e onde o agricultor nunca ouviu falar da agroecologia, mas fica na agricultura familiar, e não sempre as mesmas lideranças chaves. Em sua reflexão, trouxe que é um grande problema das pesquisas a escolha repetitiva dessas comunidades e suas lideranças “chaves” pois, geralmente estes são guardiões de sementes e saberes agroecológicos mas acabam sendo "saturadas" por demandas de pesquisadores, encontros, responsabilidades, formações, viagens sem fim, etc, e não tem mais tempo de cuidar da sua roça. Ex: Quantos agricultores que foi bombardeado de pesquisa, solicitações diversas e que tinha café sombreado, quintal rico em diversidade, era modelo para intercâmbios de saberes, mas que não teve mais condições de produzir e passou a sobreviver de bolsa familiar. Para reforçar sua fala colocou que no ultimo colóquio internacional de povos e comunidades tradicionais em Montes Claros-MG levou a experiência de sua comunidade com os saberes e fazeres da “Safra de Santana” e a produção e arroz vermelho. Muitos pesquisadores presentes que já haviam estudado os geraizeiros nunca haviam ouvido falar da safra e seus saberes e da ainda produção do arroz. O coração da crítica: escolher outras comunidades, de outros munícipios e outras pessoas que não precisam ser lideres e ser chaves para fazer pesquisas novas. Um dilema para quem vive no campo: os moradores tem que saber o que vão receber, qual a importância da pesquisa para a comunidade, o seu retorno. Para a comunidade não importa quem é o pesquisador, a academia, a instituição, ou qual a metodologia. Quanto

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tempo será a interferência. Importa saber a importância, os benefícios, os conhecimentos gerados para a comunidade. A metodologia proposta: Diante do exposto acima o pesquisador apresentou sua “metodologia” ou ferramenta para estudar o manejo da AGB na comunidade de sua origem onde vai desenvolver sua pesquisa (Pau d’Arco – Montezuma-MG). Como é comum e já tradicional o adjutório na comunidade, propôs fazer ‘adjutório colaborativo. Dará ajudas (dias de trabalho) nos momentos de mais trabalho, ou auge das safras, nas roças e seus manejos mas sem pedir retorno, durante o trabalho ira “captando” as informações que precisa (mudanças climáticas, safras, perdas, variedades, nomes, etc), sem interferir o agricultor em seus afazeres, sem tira-lo de suas “obrigações” para responder questionário. Para estudar safras e AGBD ... Eu preciso estudar os momentos mais intensos de trabalho do agricultor (fevereiro-safra das secas, safra de Santana, safra das aguas... e este tempo para o agricultor é precioso). Assim, percebemos que a pesquisa sobre agrobiodiversidade passa pela pesquisa em períodos de mais trabalho e sagrado para o agricultor e deverá ser respeitado pelo pesquisador . Perguntas/comentários: - Parabéns por essa reflexão. Precisamos pensar não somente no "retorno" mas também na construção de nossas perguntas juntos com as comunidades. - Doutorante de UFV/Vageningen na região da Mata: que estratégias de retorno? Trabalhar com as pessoas. Deixar claro que a pesquisa não va dar nenhuma resposta, é humilde? Construção das perguntas de pesquisa com os agricultores. Fazer parte dum programa de pesquisa mais amplo para oferecer outros produtos (vídeos...). O retorno não é puntual mas deve ser continuado, esforço continuo. - Duas alertas, experiência como extensionista rural, e depois como acadêmico. Como extensionista, conheci um velho agricultor, ele se sentia parte da EMATER. Atenção dificuldade de chegar no campo, no projeto “Brasil sem miséria”, muitas criticas porque foram mandados as comunidades que nunca tinham recebido extensionisto. - Um antropólogo da UFES. A antropologia nasce do mundo colonial. Muitas reflexões sobre isso na antropologia. Não tem neutralidade da ciência! Anderson do Prado Carneiro Regeneração natural da mata de restinga sob uso em agricultura itinerante Anderson é de uma comunidade tradicional caicara de SP, e é Técnico florestal, agrônomo.

Sul de SP, vale do Ribeira, 26 areas de conservação, Juréia. 3 fases na zona, projeto duma usina nuclear e mais recentementes uma UC de proteção integral, o que é também um problema. O uso do fogo foi proibido. Lugar da minha pesquisa: a comunidade onde nasci. Agricultura itinerante (coivara). Roçada, derrubada e queima, plantar (Mandioca, abobora, e varios outros). Mata de restinga. Vegetação: floresta ombrófila. O manejo do fogo contribui para a regeneração dessas zonas. A área mais antiga sem uso tem 70 anos, depois tem áreas mais novas.... Delimitei parcelas para coletar os dados sobre a regeneração das capoeiras. Coleta a campo com meu avo que sabia todos os nomes das plantas... ultimas roças de 2000 par ca, que precisavam autorização do

Instituto Florestal. Coleta do material botânico e de solos. Depois parte quantitativa.

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Resultados para ver evolução das espécies no tempo (sucessão vegetal). A partir de 25 – 30 anos a floresta toma uma forma de floresta estabilizada. A queima e os solos: o Al fica paralisado pelo fogo o que o ótimo pelo plantio, o Ph e K aumentam depois da queima e se estabilizada. Assim, o fogo permite neutralizar o pH, o que é ótimo para as plantas. Conclusão: observei trinta anos recuperação das especes: alto índice de rebrota de algumas especes em 5 a 10 anos. Alta similaridade entre capoieras de 30 e 70 anos. Alta influença da queimada sobre nutrientes. Isto a gente ja sabia, até porque ja observamos que uma mata derrubada sem queimar demorar mais para se recuperar (folhas mais amarelas) do que uma roça derrubada e queimada. Mas meu estudo permitiu comprovar isso. Fruto desse trabalho: argumentos para empoderamento da comunidade frente aos órgãos ambientas; valorização do modelo agrícola utilizado; trabalhos complementares realizados/ coprodução com Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Almeida; mudanças observadas com fotos aeras. Perguntas/comentários: - uma estudante de ecologia da UNB: Conhecimento do fogo para diminuir acidez do solo, um resultado importante, como coletar o solo? Como você fez para escolher as áreas "intocadas"? A gente sabe que quando a roça não queima direito, as plantas nativas ou cultivadas não crescem direito também. Analise do composto dos solos. Não tem areas "intocadas", a mais velha identificada é de 70 anos. Debate: Debatedoras: - Clelia (FAO) : falou sobre o projeto da FAO de identificar lugares de alto valor ambiental e de patrimônio agricola (programa GIAHS ou SIPAM). A importância de trabalhar com as comunidades. Uma dificuldade muito grande é a erosão cultural, dos

jovens que saem, se se perde isso, se perde a diversidade. Mas também como entrar nos mercados sem perder a biodiversidade. - Nurit (ISA). Retomou as perguntas geradoras do inicio para organizar seus comentarios: registrei. * Dialogo intercultural. O que é este "diálogo"? Existe uma diferença enorme entre os que fazem e os que observam. Geralmente os pesquisadores que estudam a agbd são

comprometidos com as comunidades, com um grau diferente. Mas o diálogo intercultural é em grande parte uma ficção. Não é um dialogo simétrico. A fala do Anderson mostra isso claramente: por quê o conhecimento caiçara precisa da chancela da ciência acadêmica para que seja aprovado pelos gestores ambiental? Por que o dialogo é assimetrico. Por isso a importância do Mestrado em Sustentabildade junto à Povos e Territorios Tradicionais (MESPT-UNB), não so para "apoiar" as iniciativas da comunidade, mas sobretudo para "sacudir" a UNB. A UNB tem que engolir esse mestrado. As pesquisas tem que ter um compromisso social maior. Poderiamos ter explorado o que que muda quando o pesquisador é mulher ou homem. * Como definir uma planta cultivada? E difícil imaginar que existam plantas e animais que não tenham incorporados os saberes humanos no seu genoma. Da mesma forma que é dificil achar florestas "intocadas".

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* Sobre processos de erosão/perda da agbd. A Clelia levantou a questão da valorização econômica da diversidade. E o que tentamos fazer no ISA. Mas é muito difficil porque o mercado tende a homogeneizar (ex do SEBRAE que estandardizou o artesanato brasileiro). Ou, se não, precisa procurar os "nichos de mercado", mas então a escala fica muito menor. Comentários/debate - Marilena EMBRAPA agrobiologia (Rio de Janeiro): "Queira relatar um projeto que não funcionou, quando tentamos trazer uma tecnologia para uma comunidade e não deu certo. Mas foi assim que funcionou com a gente, porque aprendemos! Quando você chega num momento muito mais vulnerável, é neste momento que você pode construir realmente um projeto comum. Mesmo se a gente como pesquisador chega com a intenção quer se colocar ao mesmo nível, eles não te vê como igual". - Responsável Secretaria de Meio Ambiente de MG: As pesquisas apresentadas tratam de lugares bem preservados, mas existem situações de fome e de escravidão (ex em Bocaiuva, MG). São os lugares onde podemos descobrir algo, e levar algo novo. -Ludivine Eloy: "No inicio eu tinha colocado como pergunta geradora, além de como estudar a agbd, o "como produzir conhecimentos uteis para as comunidades", e acabei tirando 'não sei porque), mas o que ficou claro nesta oficina e que, antes de definir "como estudar", é preciso refletir muito e debater com as comunidade o "por quê" estudar, pesquisar. Cheguei neste congresso me perguntando o que que é a agroecologia. Ainda não tenho a resposta. Me parece que se estamos aqui é porque partilhamos uma "luta" contra o agronegócio. Mas em termo técnicos, aqui se fala muito de transição agroecológica. Quando a gente vê a definição da AE no site, a gente pode sentir que ela é um novo modelo a propor as comunidades. Mas é um perigo pretender saber como mudar a realidade das pessoas e das comunidades. Tem lugares onde é preciso melhorar a realidade obvio, mas, tem muitos lugares onde a coisa mais importante para o agrônomo é respeitar e entender o que existe, e respeitar/apoiar as inovações que os agricultores desenvolveram ao longo do tempo e aquelas que procuram desenvolver. Ou seja, a agroecologia não pode ser reduzida a transição agroecológica". -Responsável Secretaria de Meio Ambiente de MG: "mas o público da agroecologia é principalmente os agricultores familiares (90% dos agricultores na AL), e para eles precisa da transição agroecologica. A agroecologia é uma utopia, é uma luta contra o capital dominante". -Sebastien: "A agroecologia é um conceito que foi criado por pesquisadores para se aproximar da realidade". - Cecilia : os projetos de SAFs "chegam" nas comunidades Kalunga, com este ideal da agroecologia o dos SAF que podem de novo desvalorizar as praticas locais. Atenção a não fazer da AE um pacote à mais. - Marilena (EMBRAPA): "é uma tendência muito humana de idealizar alguns modelos".