Confrontacoes pressuposicionalistas - Vicent Cheung

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  • 1. Confrontaes Pressuposicionalistas Vincent CheungCopyright 2003 de Vincent Cheung. Todos os direitos reservados. Esta publicao no pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida no todo ou em parte sem prvia autorizao do autor ou dos editores. Publicado originalmente por Reformation Ministries International (www.rmiweb.org) PO Box 15662, Boston, MA 02215, USA Traduo de Felipe Sabino de Arajo Neto e Marcelo Herberts. Primeira edio em portugus: Outubro de 2006. Direitos para o portugus gentilmente cedidos pelo autor ao site Monergismo.com. Todas as citaes bblicas foram extradas da Nova Verso Internacional (NVI), 2001, publicada por Editora Vida, salvo indicao em contrrio.

2. 2SUMRIOPREFCIO ....................................................................................................................................................3 1. O DESAFIO PRESSUPOSICIONALISTA ..........................................................................................4 2. AS CONFRONTAES FILOSFICAS ..........................................................................................14 ATOS 17:16-34 ........................................................................................................................................14 V. 18, 21.....................................................................................................................................................21 V. 19-20 .....................................................................................................................................................32 V. 22-23 .....................................................................................................................................................33 V. 24-25 .....................................................................................................................................................43 V. 26A ........................................................................................................................................................45 V. 26B.........................................................................................................................................................47 V. 27...........................................................................................................................................................49 V. 27B-29...................................................................................................................................................55 V. 30A ........................................................................................................................................................60 V. 30B.........................................................................................................................................................64 V. 31...........................................................................................................................................................67 V. 32-34 .....................................................................................................................................................75 3. A CONQUISTA REVELACIONAL....................................................................................................78Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 3. 3PREFCIO Comearemos com uma breve discusso sobre o papel determinativo das pressuposies em nosso pensamento, particularmente na construo das nossas cosmovises, religies e filosofias. Todos os argumentos so, no final das contas, estabelecidos somente apelando-se validade dos nossos primeiros princpios. Aps isso apresentaremos uma exposio da confrontao de Paulo com os filsofos e a populao de Atenas em Atos 17, e como deveramos espelhar sua postura quando fazendo apologtica e evangelismo hoje. Contudo, os princpios que aprenderemos ali, no se aplicam somente apologtica e ao evangelismo, mas a todas as esferas do pensamento cristo, incluindo a construo de formulaes teolgicas e os ministrios de pregaes que so fiis revelao bblica. O livro conclui com alguns pontos adicionais no terceiro captulo, incluindo exortaes apologtica bblica, evangelismo e outras tarefas relacionadas com maior agressividade. Para entender a postura bblica com respeito teologia, filosofia, apologtica, evangelismo e outras tarefas relacionadas, o leitor deve ler tambm minha Teologia Sistemtica e Questes ltimas,1 onde alguns dos pontos mencionados aqui so discutidos em maior detalhe ou de diferentes perspectivas.1Nota do tradutor: Ambos os livros se encontram traduzidos para o portugus e disponveis no Monergismo.com.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 4. 41. O DESAFIO PRESSUPOSICIONALISTA Imagine que voc esteja assistindo um jogo de tnis na televiso comigo, embora para o nosso propsito ele possa ser simplesmente algum tipo de jogo golfe, basquetebol, futebol, ou at mesmo xadrez. Agora suponha que eu conhea as regras do jogo que estamos assistindo, que nesse caso tnis, mas voc no conhece as regras de forma alguma. Suponha ainda que tenhamos colocado a televiso no mudo, de forma que nenhuma comunicao verbal possa ser ouvida do comentarista do jogo. Finalmente, suponha que nenhuma comunicao verbal esteja vindo visualmente da tela, de forma que nem mesmo o placar mostrado. Agora, minha pergunta se o jogo seria inteligvel para voc de alguma forma. Se eu prestar ateno, ainda serei capaz de seguir o jogo, mesmo sem que seja apresentado qualquer comunicao visual ou auditiva, pois j conheo as regras do jogo. Da mesma forma, os prprios jogadores seriam capazes de seguir o jogo que eles esto jogando sem o constante auxlio do anunciador ou do placar. Por outro lado, embora voc esteja assistindo exatamente o mesmo jogo que eu, voc no seria capaz de entender o que estaria vendo, visto que no conhece as regras que correspondem ao jogo. O que eu tenho mostrado aqui que quando voc est assistindo um jogo, o que voc v no fornece sua prpria inteligibilidade e interpretao. Antes, para que um jogo seja inteligvel para voc, e para que tenha a interpretao correta do que est acontecendo, voc deve trazer uma quantia considervel de conhecimento para o ato de assistir ao jogo, e esse conhecimento no vem de assistir o prprio jogo. Se eu tivesse explicado sistematicamente as regras para voc, ou explicado as regras medida que estivssemos assistindo ao jogo, ento o que voc estaria assistindo se tornaria inteligvel, e voc seria capaz de interpretar corretamente o que estaria vendo. Voc pode argumentar que possvel derivar algumas das regras do jogo por observao. Mesmo se isso fosse possvel, seria muito mais difcil do que a maioria das pessoas pensa. Por exemplo, suponha que voc observe que aps cada ocorrncia daquilo que ns que conhecemos as regras do xadrez chamaramos de xeque-mate, os dois jogadores se afastam do tabuleiro de xadrez. O que voc pode inferir a partir disso? Voc no pode inferir que um deles tenha ganhado, a menos que conhea as regras do jogo. Voc precisa saber, antes de tudo, que ele um jogo, que ele pode ser ganho ou perdido, e como ele ganho ou perdido. Mesmo que eu permita que voc infira que um deles tenha ganhado sem todas essas informaes, onde voc obtm as categorias de vencer e perder? Voc no pode obt-las observando o jogo em si; antes, voc deve trazer essas idias ao ato de observao. O que dizer das categorias de tempo e causao? Voc no pode derivar os prprios conceitos de tempo e causao a partir do ato de assistir ao jogo, mas deve traz-los ao ato de observao. Voc deve ter tambm algumas pressuposies sobre tica. Isto , voc deve assumir que os jogadores usualmente no trapacearo, e que eles no podem ficar impunes ao trapacear, se no o jogo no teria regularidade suficiente para voc derivar quaisquer regras dele. Mas se uma pessoa trapaceia e fica impune, como voc saber que ela est trapaceando, ou que sua ao apenas umaMonergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 5. 5exceo permitida pelas regras? Se tomarmos o tempo para enumerar, podemos descrever dezenas, ou mais provavelmente centenas ou at mesmo milhares de pressuposies que voc precisa ter em mente para a observao do jogo ser inteligvel, quando ao mesmo tempo essas pressuposies no podem vir do ato da prpria observao. Para tornar a questo mais difcil, h centenas ou milhares de elementos arbitrrios para cada jogo que no so essenciais s regras, e, todavia, eles so objetos de observao. Por exemplo, se o jogo de xadrez particular que voc est assistindo est sendo jogado por dois homens que esto vestindo roupas formais, o que voc pode inferir disso? Voc inferir que essa uma regra essencial do xadrez? E se sim, as mulheres devem usar palets de homens, ou permitido que elas usem vestidos formais? Certamente, voc pode dizer que as pessoas vestem roupas normais quando elas esto jogando em outros ambientes. Mas como voc sabe que elas no esto violando as regras, e que esto simplesmente saindo impunes quanto a isso? Ou voc assumir, sem garantia, que se elas estivessem de fato em violao, as prprias regras seriam sempre foradas contra elas? Voc pode pensar que ridculo questionar todas essas coisas que usualmente assumimos, mas o que voc diria quando eu demandasse justificao para essas pressuposies? Sem conhecimento que vem parte da observao, a observao em si no pode fazer nenhum sentido ou comunicar nenhuma informao. A inteligibilidade e a interpretao da observao pressupem conhecimento sobre o que voc est observando, e tal conhecimento no pode vir do ato da prpria observao. Isto , a inteligibilidade e interpretao de uma experincia feita possvel pelo conhecimento que vem parte da experincia. Esse conhecimento pode ser algo que voc nasceu com ele, ou pode ser algo lhe ensinado por comunicao verbal. Se sua mente totalmente branca, de forma que voc no tem nem mesmo categorias mentais tais como tempo, espao, e causao, nada que voc observe ser inteligvel, e no haver nenhuma forma de voc interpretar o que observa. De fato, se sua mente um branco total, sem qualquer conhecimento que venha parte da observao, seu mundo seria para voc como um turbilho de sensaes com nenhuma forma de organiz-las ou interpret-las. Mas se um conhecimento noobservacional prvio da realidade requerido para se interpretar apropriadamente a observao sobre a realidade, isso significa que a ordem e o significado do que voc observa imposta sobre o que voc observa, e nunca derivada do que voc v. Isso outra forma de dizer que o significado do que voc observa governado por suas pressuposies. Retornando nossa ilustrao inicial, o que acontece se voc pressupe as regras do basquetebol ou xadrez quando voc est assistindo ao jogo de tnis? Mesmo que parea que voc seja capaz de entender algumas das coisas que observa, porque as regras erradas so pressupostas, sua interpretao do que observado ser falsa. Portanto, no suficiente reconhecer que as pressuposies no-observveis precedem a observao inteligvel e significante, mas devemos perceber que nem todas as pressuposies so iguais, e que elas podem ser verdadeiras ou falsas. At aqui, tenho estabelecido vrias possibilidades com respeito s pressuposies quando assistindo a um jogo de tnis:Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 6. 61. A mente totalmente branca, em cujo caso nada inteligvel, e a interpretao impossvel. 2. A mente contm apenas categorias bsicas com nenhum conhecimento das regras do jogo, de forma que ela reconhece conceitos tais como tempo, causao, tica e vitria. A interpretao ainda impossvel. 3. A mente aplica falsas pressuposies ao jogo, de forma que ela pode aplicar as regras do basquetebol ao tnis. A interpretao ou impossvel ou produz falsos resultados quando empreendida. 4. A mente contm as pressuposies corretas sobre o universo em geral (as categorias bsicas tais como tempo e causao) e sobre tnis em particular. A interpretao correta possvel. O resultado que duas pessoas podem estar observando exatamente a mesma coisa, mas chegaro a interpretaes contraditrias. Contudo, isso no precisa resultar em relativismo, visto que uma pessoa pode de fato estar correta e a outra pode de fato estar errada. Depende de quem tem as pressuposies corretas sobre o universo em geral, e a coisa que est sob observao em particular. Deixe-me lhe dar dois exemplos bblicos que ilustram o que eu tenho estado dizendo. O primeiro mostra que a observao no confivel, e o segundo mostra que nossas pressuposies determinam o significado ou a interpretao do que observamos, de forma que as pressuposies erradas levam a uma interpretao falsa. O primeiro exemplo vem de Joo 12:28-29. Assim que Jesus exclama, Pai, glorifica o teu nome!, a Escritura diz, Ento veio uma voz dos cus: Eu j o glorifiquei e o glorificarei novamente. A multido que ali estava e a ouviu, disse que tinha trovejado; outros disseram que um anjo lhe tinha falado. O testemunho infalvel da Escritura diz que a voz expressou uma sentena completa: Eu j o glorifiquei e o glorificarei novamente. Todavia, alguns daqueles que estavam presentes, que observaram o mesmssimo evento, disseram que tinha trovejado. Portanto, a observao no confivel, e a verdade no pode ser conclusivamente estabelecida pela observao. O segundo exemplo vem de Mateus 12:22-28, e diz respeito autoridade de Cristo para expelir demnios: Depois disso, levaram-lhe um endemoninhado que era cego e mudo, e Jesus o curou, de modo que ele pde falar e ver. Todo o povo ficou atnito e disse: No ser este o Filho de Davi?. Mas quando os fariseus ouviram isso, disseram: somente por Belzebu, o prncipe dos demnios, que ele expulsa demnios (v. 22-24). Baseada em sua observao do evento, a audincia geral estava preparada para considerar pelo menos a possibilidade de que Jesus fosse o Cristo, mas os fariseus, que tinham observado o mesmo evento, disseram que ele expelia demnios pelo poder de Satans. Contudo, isso no levou a um impasse, nem reduziu a verdade ao relativismo. A resposta de Cristo indica que nem todas as interpretaes so corretas:Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 7. 7Todo reino dividido contra si mesmo ser arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma no subsistir. Se Satans expulsa Satans, est dividido contra si mesmo. Como, ento, subsistir seu reino? E se eu expulso demnios por Belzebu, por quem os expulsam os filhos de vocs? Por isso, eles mesmos sero juzes sobre vocs. Mas se pelo Esprito de Deus que eu expulso demnios, ento chegou a vocs o Reino de Deus. (v. 25-28) Ele primeiro reduz a afirmao deles ao absurdo, e ento d a interpretao correta do evento, e conclui com uma implicao sobre o evangelho. Agora, se os fariseus tivessem crido verdadeiramente na Escritura, eles deveriam ter chegado mesma interpretao sobre Cristo como aquela que o prprio Cristo afirmou sobre si mesmo. Mas embora reivindicassem crer na Escritura, na realidade eles suprimiam a verdade sobre ela. Embora eles tivessem acesso s pressuposies corretas ou ao conhecimento pelo qual eles poderiam interpretar corretamente a realidade, por causa da sua pecaminosidade, eles rejeitaram aceitar essas pressuposies e suas implicaes, e rejeitaram assim a verdade, suprimindo-a e distorcendo-a. Paulo diz que isso o que a humanidade tem feito com o seu conhecimento sobre Deus. Ele declara que algum conhecimento sobre Deus inato, isto , todo ser humano nasce com algum conhecimento sobre Deus, mas porque o homem pecaminoso, ele recusa reconhecer e adorar esse Deus verdadeiro, e assim suprime e distorce esse conhecimento inato: Pois a ira de Deus revelada dos cus contra toda impiedade e injustia dos homens que suprimem a verdade pela injustia, pois aquilo que conhecido sobre Deus evidente entre eles; porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criao do mundo os atributos invisveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, tm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens so indesculpveis. Porque, embora tenham conhecido a Deus, no o honraram como Deus, nem lhe renderam graas; mas eles tornaram-se fteis em suas especulaes, e o corao insensato deles foi obscurecido. (Romanos 1:18-21, NASB) As pessoas frequentemente reclamam que h evidncia insuficiente sobre Deus e o Cristianismo, mas a Bblia diz que eles j conhecem sobre esse verdadeiro Deus, mas apenas esto suprimindo esse conhecimento, pois recusam reconhec-lo ou ador-lo. O conhecimento sobre Deus evidente entre eles, pois ele lhes manifestou. O problema no uma falta de evidncia, mas uma srie de pressuposies artificialmente manufaturadas que suprimem a evidncia sobre Deus. Alguns argumentam que essa passagem fornece justificao para dizer que podemos derivar conhecimento sobre Deus por observao e argumentos empricos. Contudo, j temos ilustrado a partir do exemplo da observao do tnis, e confirmado pelos exemplos bblicos, que a observao em si no fornece nenhum significado ouMonergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 8. 8informao inteligvel. Portanto, a passagem no pode significar que a observao, pelo menos em si mesma, pode fornecer conhecimento sobre Deus; antes, deve haver certas idias inatas que j esto na mente antes de qualquer experincia ou observao. Atravs do nosso exemplo sobre assistir tnis, temos tambm mostrado que at mesmo ter as categorias bsicas necessrias inteligibilidade insuficiente, mas deve haver algum contedo real para as nossas idias inatas. Contudo, se as idias ou pressuposies inatas j contm contedo real sobre Deus, ento o conhecimento real sobre Deus no vem da observao de forma alguma, mas tal conhecimento j est na mente antes e aparte da experincia e observao. Se voc j conhece as regras do tnis, assistir tnis no pode lhe dar informao adicional sobre as regras do tnis, mas pode apenas estimular voc a lembrar e aplicar regras particulares do tnis, medida que voc observa eventos particulares dentro do jogo. Da mesma forma, a experincia ou observao, na melhor das hipteses, pode apenas estimular voc a lembrar e aplicar o conhecimento inato que voc tem sobre Deus. Mais do que uns poucos comentaristas parecem concordar com essa viso. Aqui eu citarei apenas Charles Hodge: No de uma mera revelao externa que o apstolo est falando, mas daquela evidncia do ser e das perfeies de Deus que todo homem tem na constituio de sua prpria natureza, e em virtude da qual ele competente para apreender a manifestao de Deus em suas obras.2 Por conseguinte, a NLT traduz, ou melhor, parafraseia, da seguinte forma: Pois a verdade sobre Deus conhecida instintivamente por eles. Deus colocou esse conhecimento nos coraes deles. Uma passagem mais adiante confirma nosso entendimento de que Deus colocou certo conhecimento sobre si mesmo na mente do homem diretamente, isto , aparte de experincia ou observao: Pois quando os gentios, que no tm a Lei, praticam instintivamente as coisas da Lei, esses, no tendo Lei, so uma lei para si mesmos, pois mostram a obra da Lei escrita em seus coraes. Disso do testemunho a sua conscincia e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. Isso tudo se ver no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, de acordo com o meu evangelho. (Romanos 2:14-16, NASB). No pense que isso significa que alguns gentios so inocentes. Antes, o versculo 12 diz: Todo aquele que pecar sem a Lei, sem a Lei tambm perecer, e todo aquele que pecar sob a Lei, pela Lei ser julgado. Paulo est tentando mostrar que tanto aqueles que tm a revelao verbal de Deus, como aqueles que no a tm, so culpados de pecado e sujeitos ao julgamento.2Charles Hodge, Romans; The Banner of Truth Trust, 1997 (original: 1835); p. 36.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 9. 9Em adio, Paulo no est dizendo que todos os homens so salvos porque eles j conhecem a Deus, nem est dizendo que o conhecimento inato sobre Deus carrega contedo suficiente para salvao, se algum simplesmente reconhec-lo. Antes, o ponto da passagem que os homens no tm escusa ao negar o Deus verdadeiro, pois eles suprimem a verdade sobre Deus. Portanto, essa passagem no pode ser usada para justificar as religies do mundo, como alguns idiotas tentam fazer, mas seu ponto precisamente condenar todas as cosmovises no-crists, especialmente as religies no-crists. Embora tudo isso seja relevante, nosso interesse particular nesse ponto no conhecimento inato sobre Deus presente na mente do homem, aparte de experincia ou observao. A NASB tem instintivamente no versculo 14, que uma boa traduo, e a NJB usa o termo sentido inato. Mas a frase uma lei para si mesmos pode ser enganosa. Ela no significa que os gentios, visto que eles no tm a Escritura, determinam por si mesmos o que certo e o que errado; antes, ela significa o que j est implicado por sentido inato, de forma que J. B. Phillips traduz eles tm uma lei em si mesmos. Isso confirma nossa conteno de que h idias inatas na mente do homem, e que os contedos dessas no consistem apenas em categorias de pensamento, mas em conhecimento real sobre Deus, tornando aqueles que o negam inescusveis. Eu no estou dizendo que as pessoas no devem ver Deus na natureza elas devem. 3 Mas eu estou tentando explicar o porqu elas no vem, ou pelo menos o porqu elas dizem que no vem. Paulo est dizendo que voc tem que suprimir e distorcer o conhecimento que j est em sua mente para rejeitar o Cristianismo e afirmar uma religio, filosofia ou cosmoviso no-crist. Somente o Cristianismo corresponde ao que voc j conhece em sua mente, de forma que voc ter que suprimir e distorcer o que voc j sabe, e de fato enganar a si mesmo, para aceitar alguma outra coisa que no uma cosmoviso ou religio crist completa e distintiva. Alguns apologistas cristos tentam defender a f usando principalmente argumentos cientficos, tais como aqueles baseados em fsica, biologia e arqueologia. Em outras palavras, juntamente com os incrdulos, eles assumem a confiabilidade da cincia e tentam fazer cincia melhor do que os incrdulos podem fazer. Se o que estou dizendo correto isto , se o que Paulo est dizendo correto ento, certamente, somos capazes de fazer cincia melhor do que os incrdulos, visto que temos uma srie de pressuposies que correspondem realidade e moralidade objetiva. Dito isso, eu tenho argumentado em outro lugar que o prprio mtodo cientfico impede o conhecimento da verdade, 4 de forma que at mesmo com as pressuposies corretas, a cincia completamente incompetente como uma forma de descobrir a natureza da realidade. Ronald W. Clark comenta: A contemplao dos primeiros princpios ocuparam progressivamente a ateno de Einstein, e em tal contexto, ele cita Einstein como dizendo: No sabemos absolutamente nada sobre isso. Todo o nosso conhecimento apenas o conhecimento do primrio... da natureza3 4A forma precisa de dizer isso que elas devem lembrar de Deus quando observam a natureza. Vincent Cheung, Ultimate Questions.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 10. 10real das coisas, que nunca conheceremos, nunca.5 Certamente, ele pode falar somente como um representante da cincia, e no da revelao. Karl Popper, que tem escrito inmeros obras sobre a filosofia da cincia, escreveu o seguinte: Embora na cincia faamos o nosso melhor para encontrar a verdade, estamos cnscios do fato que no podemos nunca estar certos se a alcanamos.... Na cincia no h nenhum conhecimento, no sentido que Plato e Aristteles entendiam a palavra, no sentido que implica finalizao; na cincia, nunca temos razo suficiente para a crena de que alcanamos a verdade... Einstein declarou que sua teoria era falsa ele disse que ela seria uma melhor aproximao da verdade do que a teoria de Newton, mas ele deu razes pelas quais ele no poderia, mesmo que todas as predices estivessem corretas, consider-la como uma teoria verdadeira. 6 Cientistas conduzem experimentos mltiplos para testar uma hiptese. Se a observao confivel, ento porque eles precisam de mais de um experimento? Se a observao menos do que confivel, ento como muitos experimentos so suficientes? Quem decide? Ignorando esse problema por ora, W. Gary Crampton explica a dificuldade em formular uma lei cientfica pelo mtodo de experimentao: No laboratrio os cientistas buscam determinar o ponto de ebulio da gua. Visto que a gua dificilmente ferve mesma temperatura, o cientista conduz vrios testes e os resultados levemente diferenciados so registrados. Ele ento deve fazer uma mdia entre eles. Mas que tipo de mdia ele usa: harmnica, modal ou aritmtica? Ele deve escolher; e que tipo de mdia ele seleciona de sua prpria escolha; ela no ditada pelo resultado. Ento tambm, a mdia que ele escolhe simplesmente isso, isto , ela uma mdia, no um dado real fornecido pelo experimento. Uma vez que os resultados dos textos tm sofrido uma mdia, o cientista calcular o erro varivel em suas leituras. Ele provavelmente colocar os pontos de dados ou reas num grfico. Ento ele traar uma curva atravs dos pontos de dados ou reas resultantes no grfico... Mas quantas curvas, cada uma das quais descreve uma equao diferente, so possveis? Um nmero infinito de curvas possvel. Mas o cientista traa apenas uma. 7 A probabilidade de traar a curva correta uma em infinito, que igual a zero. Portanto, h uma probabilidade zero de que qualquer lei cientfica possa ser verdadeira. impossvel para a cincia alguma vez descrever corretamente alguma5Ronald W. Clark, Einstein: The Life and Times; Avon Books, 1971; p. 504. Popper Selections, editado por David Miller; Princeton University Press, 1985; p. 90, 91, 121. 7 W. Gary Crampton, The Biblical View of Science, January 1997, The Trinity Review. 6Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 11. 11coisa sobre a realidade. Assim, Popper escreve: Pode ser at mesmo mostrado que todas as teorias, incluindo as melhores, tm a mesma probabilidade, a saber, zero.8 Se o que foi dito acima sobre experimentos cientficos difcil para algumas pessoas entender, o problema de afirmar o conseqente pode ser mais facilmente compreendido. Considere a seguinte forma de argumento: 1. Se X, ento Y 2. Y 3. Portanto, X Essa forma de raciocnio, chamada de afirmar o conseqente, sempre uma falcia formal em lgica; isto , sabemos que o argumento invlido simplesmente observando sua estrutura. Simplesmente porque Y verdade no significa que X seja verdade, visto que pode haver um nmero infinito de coisas que podem substituir X, e ainda teremos Y. A correlao no a mesma da causao mas pode a cincia sequer descobrir a correlao? Assim, se a hiptese , Se X, ento Y, o fato que Y acontece no faz nada para confirmar a hiptese. Cientistas, certamente, tentam evitar esse problema tendo experimentos controlados, mas eles esto enfrentando novamente um nmero infinito de coisas que podem afetar o experimento. Como eles sabem quais variveis devem ser controladas? Por outros experimentos que afirmam o conseqente, ou por observao, que j temos mostrado no ser confivel? Bertrand Russell foi um clebre matemtico, logicista, filsofo, e escreveu muito contra a religio crist. Assim, ele no estava tentando endossar o Cristianismo quando ele escreveu o seguinte: Todos os argumentos indutivos, em ltimo recurso, se reduzem seguinte forma: Se isso verdade, aquilo verdade: agora, aquilo verdade, portanto, isso verdade. Esse argumento , certamente, formalmente falacioso. Suponha que eu dissesse: Se po uma pedra e pedras so alimento, ento esse po me alimentar; agora, esse po me alimenta; portanto, ele uma pedra, e pedras so alimento. Se eu fosse promover tal argumento, certamente pensariam que sou louco, todavia, ele no seria fundamentalmente diferente do argumento sobre o qual todas as leis cientificas so baseadas. 9Todavia, muitos que falam dessa forma recusam traar a concluso lgica de que toda cincia , no final das contas, irracional e sem justificao. A maioria das pessoas se sente compelida a respeitar a cincia por causa do sucesso prtico que ela parece alcanar; contudo, temos notado que afirmar o conseqente pode produzir resultados, mas no verdades. Lembre-se o que Popper disse sobre Einstein: Ele no poderia, mesmo que todas as predices estivessem corretas, consider-la como uma 8 9Karl Popper, Conjectures and Refutations; Harper and Row, 1968; p. 192. Bertrand Russell, The Problems of Philosophy; Oxford University Press, 1998.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 12. 12teoria verdadeira. O estudante colegial tpico discordaria, mas o estudante colegial tpico no Einstein. Por conseguinte, embora a cincia seja til como uma forma de alcanar fins prticos, ela no tem autoridade para fazer quaisquer pronunciamentos com respeito natureza da realidade. Se o cientista no conhece seu lugar, um crente informado no deve hesitar em coloc-lo de volta ao seu lugar. A teologia a disciplina intelectual reguladora, no a cincia. A maioria das pessoas pensar que esse ceticismo para com a sensao e essa viso baixa da cincia so muito extremas, mas qualquer que discordar deve primeiro justificar como o conhecimento vem a partir da sensao e como o mtodo cientfico pode funcionar para descobrir a verdade. Se voc confia na cincia, mas no pode fornecer uma justificao racional para ela, ento como voc ousa chamar os cristos de irracionais e crdulos? Voc pode tentar promover seu ceticismo seletivo e arbitrrio contra o Cristianismo sobre a base da cincia, mas se eu puder aplicar com sucesso um ceticismo mais forte e abrangente para refutar a cincia secular e todas as religies do mundo, mas defender a revelao bblica, ento melhor voc no ousar chamar os cristos de irracionais e crdulos nunca mais. somente porque voc foi criado imagem de Deus e tem, assim, um conhecimento inato sobre ele, que voc pode, antes de tudo, falar de racionalidade, pois sem Cristo a Razo de Deus (Joo 1:1)10 voc no tem nenhum fundamento para nem mesmo a prpria lgica. Por outro lado, da perspectiva crist, a racionalidade caracteriza a prpria estrutura da mente de Deus, e as leis da lgica descrevem o modo como ele pensa. Visto que ele nos fez sua imagem, ns tambm somos capazes de usar a lgica, e visto que o mesmo Deus que nos criou, tambm criou o universo, a lgica corresponde realidade. Se voc rejeita as pressuposies crists, ento sobre que base voc usa a lgica, e sobre que base voc diz que a lgica corresponde realidade? Voc tenta usar a razo, mas voc nega a prpria Razo. Voc reivindica pensar logicamente, mas voc nega a prpria pessoa que estruturou sua mente racional sua prpria mente racional. Assim, ao exaltar a razo sem exaltar Deus, voc se contradiz e se incrimina, e mostra que voc tem suprimido a verdade sobre Deus. Embora, devido natureza do seu mtodo, a prpria cincia seja incompetente e no confivel, no importa qual fundamento voc construa sobre ela, se estamos corretos sobre a realidade das idias inatas e a supresso da verdade pelos incrdulos, ento os cristos ainda podem fazer cincia melhor do que os no-cristos, visto que ns explicitamente afirmamos as pressuposies corretas, incluindo aquelas na Escritura que no so parte das idias inatas presentes no nascimento. Mas ao mesmo tempo, se estamos corretos sobre as idias e pressuposies inatas, ento a cincia , de fato, um terreno superficial quando diz respeito ao conflito entre cosmovises opostas. Nossas pressuposies determinam nossa interpretao do que observamos, de forma que podemos observar exatamente as mesmas coisas e chegar a concluses diferentes. Embora eu diria que as pressuposies no-crists no podem nem mesmo apoiar as concluses no-crists, nem podem elas ser usadas para fornecer apoio 10O logos, ou Palavra, em Joo 1:1 pode ser corretamente traduzido como Sabedoria, Razo ou at mesmo Lgica.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 13. 13conclusivo para o Cristianismo, pela razo de que as pressuposies no-crists realmente no podem sustentar nada. 11 Assim, chegamos percepo de que, no final das contas, devemos tratar com os no-cristos sob o nvel pressuposicional. 12 No subestime esse discernimento, que mostra que a menos que o no-cristo possa fornecer um fundamento para o conhecimento sem usar as pressuposies crists, todos os seus argumentos so apenas rudos. Ele est tentando raciocinar seu escape de seu conhecimento inato de que o Cristianismo verdadeiro, e que somente o Cristianismo verdadeiro. Todavia, ele no pode nem mesmo raciocinar sem usar as pressuposies crists. Ele escolhe um ponto de partida no-cristo para a sua filosofia e tenta se convencer que ele adequado, mas ele sabe mais, embora ele possa no admitir isso at para si mesmo. Esse conhecimento o persegue, e assim ele suprime sua conscincia e se volta contra os crentes. Mas nem mesmo o suicdio o livrar de sua condio infeliz, visto que apenas finalizar sua condenao, e ele sabe isso no fundo do seu ser (Romanos 1:32). Paulo escreve em Romanos 1:22: Dizendose sbios, tornaram-se loucos.. Ou, mais claramente: Eles pensam que so espertos, mas so estpidos. Isso verdade de todo no-cristo. Se voc um cristo, ento Deus te escolheu e te mudou, e ele te alistou para publicar esse desafio pressuposicionalista ao mundo. Paulo nos ordena que retenhamos o padro firme da palavra da vida nessa gerao corrompida e depravada (Filipenses 2:15-16). De fato, os incrdulos so corrompidos em seu pensamento e conduta, e suprimem e distorcem a verdade sobre a realidade e a moralidade. Todavia, Deus mostrar misericrdia aos seus eleitos e lhes converter, endireitando os seus caminhos tortuosos. Mas os rprobos resistiro, e sero esmagados pela Rocha que o fundamento do Cristianismo (Lucas 20:17-18). 11O uso estratgico de argumentos cientficos so algumas vezes desejveis, mas nunca necessrio, dentro do contexto de debates, mas a nica funo deles mostrar que mesmo que a cincia possa descobrir a verdade, o incrdulo ainda estaria errado. Permanece o fato que os cristos no deveriam colocar sua confidncia em algo to fraco como a cincia. Os cristos devem ter padres intelectuais mais altos do que os dos no-cristos. 12 frequentemente argumentado que devemos olhar para os fatos objetivamente. Se isso significa que no devemos ter pressuposies, ento temos mostrado ser isso impossvel, e de fato faz os fatos ininteligveis. Mas se ser objetivo significa que devemos olhar para o mundo como verdadeiramente ele , ento esse o prprio ponto em questo, e estamos argumentando que somente quando voc comea com pressuposies crists voc ser capaz de olhar para o mundo como ele verdadeiramente . Fatos no vm com suas prprias interpretaes, e qualquer interpretao requer pressuposies. Contudo, nem todas as pressuposies so iguais, e assim, retornamos ao ponto de que os argumentos devem, no final das contas, serem estabelecidos sobre o nvel pressuposicional.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 14. 142. AS CONFRONTAES FILOSFICASATOS 17:16-34 Enquanto esperava por eles em Atenas, Paulo ficou profundamente indignado ao ver que a cidade estava cheia de dolos. Por isso, discutia na sinagoga com judeus e com gregos tementes a Deus, bem como na praa principal, todos os dias, com aqueles que por ali se encontravam. Alguns filsofos epicureus e esticos comearam a discutir com ele. Alguns perguntavam: O que est tentando dizer esse tagarela? Outros diziam: Parece que ele est anunciando deuses estrangeiros, pois Paulo estava pregando as boas novas a respeito de Jesus e da ressurreio. Ento o levaram a uma reunio do Arepago, onde lhe perguntaram: Podemos saber que novo ensino esse que voc est anunciando? Voc est nos apresentando algumas idias estranhas, e queremos saber o que elas significam. Todos os atenienses e estrangeiros que ali viviam no se preocupavam com outra coisa seno falar ou ouvir as ltimas novidades. Ento Paulo levantou-se na reunio do Arepago e disse: Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocs so muito religiosos, pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei at um altar com esta inscrio: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocs adoram, apesar de no conhecerem, eu lhes anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele h o Senhor dos cus e da terra, e no habita em santurios feitos por mos humanas. Ele no servido por mos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo d a todos a vida, o flego e as demais coisas. De um s fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar. Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontr-lo, embora no esteja longe de cada um de ns. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como disseram alguns dos poetas de vocs: Tambm somos descendncia dele. Assim, visto que somos descendncia de Deus, no devemos pensar que a Divindade semelhante a uma escultura de ouro, prata ou pedra, feita pela arte e imaginao do homem. No passado Deus no levou em conta essa ignorncia, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que h de julgar o mundo com justia, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos. Quando ouviram sobre a ressurreio dos mortos, alguns deles zombaram, e outros disseram: A esse respeito ns o ouviremos outra vez. Com isso, Paulo retirou-se do meio deles. Alguns homens juntaram-se a ele e creram. Entre eles estava Dionsio, membro do Arepago, e tambm uma mulher chamada Dmaris, e outros com eles.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 15. 15v. 16-17 De acordo com uma contagem, cerca de um tero dos vinte discursos cristos em Atos se qualificam como defesa, e metade dos dez discursos de Paulo so desse tipo.1 Este captulo estuda o discurso de Paulo no Arepago, no qual o apstolo fala aos filsofos e populao de Atenas sobre a f crist (Atos 17:16-34). Tentaremos comentar alguns pontos significantes acerca desse discurso visto a partir de seu contexto histrico, e considerar como o exemplo apostlico deve nos informar e ditar nossa abordagem para com a apologtica contempornea. Os judeus em Tessalnica tinham causado muitos problemas a Paulo, e os crentes de l tiveram que envi-lo para Beria (17:5,10). Os bereanos foram mais receptivos mensagem do evangelho (v. 11-12), mas os judeus de Tessalnica seguiram Paulo at Beria e incitaram a multido contra ele (v. 13), de modo que os crentes daquele lugar tiveram que mand-lo embora novamente, enquanto que Silas e Timteo permaneceram um pouco mais (v. 14). Desta vez, Paulo foi para a Atenas, e aqueles que estavam com ele retornaram para Tessalnica com instrues de que Silas e Timteo iriam encontr-lo to logo fosse possvel (v. 15). Atenas era uma cidade dada idolatria. Muitos escritores se maravilharam com o excessivo nmero de esttuas religiosas em Atenas. Pausnias escreveu que Atenas tinha mais dolos que o resto de toda a Grcia junta. Por conseguinte, Petrnio observou que era mais fcil encontrar um deus do que um homem em Atenas. Enquanto Paulo andava por Atenas, ele teria visto altares e esttuas de vrios deuses, incluindo Ares, Baco, Eumnides, Netuno, e claro, a deusa me da cidade, Atenas, da qual a cidade tomava o nome. Em uma das ruas de Atenas existia uma esttua com o busto de Hermes na frente de cada casa. Pliny testificou que existiam cerca de trinta mil esttuas pblicas em Atenas, e muitas outras particulares dentro das casas. Paulo estava cercado por manifestaes de adorao pag; as ruas eram alinhadas por dolos. Embora Atenas fosse admirada por sua rica cultura artstica, de modo que ela tambm foi o depsito de alguns dos mais belos tesouros da arte e arquitetura,2 o apstolo no mostrou nenhum respeito pelas qualidades estticas dos edifcios e esculturas. Ele no estava positivamente impressionado com a cultura e artesanato das pessoas; pelo contrrio, estava profundamente indignado (v. 16) em face da excessiva idolatria daquela cidade, enquanto aguardava seus companheiros chegar. Hoje alguns turistas que se nomeiam cristos no hesitam em visitar templos pagos e at se curvam ante suas esttuas. Eles argumentam que isso no adorar a deuses pagos, mas meramente mostrar respeito crena de outras culturas. Alm disso, eles afirmam admirar os templos e esculturas como obras de arte e artefatos histricos, e no como representaes de deuses pagos. Mas esses cristos professos so mentirosos. Em primeiro lugar, o cristo no tem o direito de respeitar ou admirar crenas e culturas no-crists. Paulo tinha uma completa averso por elas. Esses assim chamados cristos acreditam que o prprio Deus aprova essas obras de arte, e a preservao e exibio delas? 1C, Richard Wells and A.Boyd Luter, Inpired Preaching; Broadman & Holman Publishers,2002;p.117. David J. Williams, New International Biblical Commentary: Acts; Hendrickson Publishers, 1990; p. 302.2Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 16. 16Mesmo que algumas esttuas sejam vazias de implicaes religiosas para a pessoa contempornea, elas ainda so resduos de idolatria e traos de rebelio pecaminosa contra o verdadeiro Deus. Assim, no devemos apreci-las como obras de arte, mas conden-las como obras do diabo. Certamente o apstolo estava muito mais acostumado a ver expresses da adorao pag, mas no estava dessensibilizado para com elas como muitos de ns estamos nos dias de hoje; antes, ele continuou a v-las como expresses de rebelio pecaminosa, e consequentemente reagiu com averso e aflio. Na proporo em que no nos revoltamos e indignamos acerca das crenas no-crists, provavelmente no temos um amor correspondente para com o verdadeiro Deus. Paganismo domstico tanto grosseiro como pecaminoso, e muitos que se chamam de cristos, que deveriam reagir firmemente contra a tradicional adorao de dolos, todavia toleram e at respeitam o pensamento e conduta do no-cristo contemporneo. Eles ficam horrorizados por relatos de assassinatos em srie e molestao de crianas, mas relativamente indiferentes quando se trata das religies e filosofias no-crists. Eles ficam muito revoltados por causa de racismo e fraude, e alguns at choram por mortes causadas por doenas e acidentes quando reportadas pelos noticirios, mas no mostram tal reao quando algum se apresenta como um mrmon, quando algum anuncia que se casar com um muulmano, ou quando algum usa o nome de Deus irreverentemente. Sua moralidade centrada no homem ao invs de Deus, mas a moralidade bblica do ultimo tipo, com a adorao correta para com Deus como o alicerce e pr-requisito para um correto tratamento para com o homem. claro, muitas pessoas no se preocupam nem com Deus nem com o homem. Como voc reage concernente s religies e filosofias no-crists? Voc reage como deveria, com completa repulsa e absoluta condenao, ou voc est to moldado por influncias no-bblicas que de fato mostra admirao e respeito para com elas? Se for a ltima, em que base voc se chama de cristo? Voc fica mais horrorizado por assassinato e estupro, ou no considera nem mesmo ruim o usar o nome de Cristo como um xingamento? Ah, voc provavelmente usa o nome divino como um xingamento para voc mesmo. claro, voc nunca cometeria os atos visveis de assassinato e adultrio, ou pelo menos isso o que voc pensa, mas voc no nutre nenhuma oposio contra a pessoa que denncia o Cristianismo, ou algum que insulta o nome de Cristo, ou algum que afirma doutrinas herticas. 3 Sua preocupao primria no com a honra de Deus, mas com bem-estar do homem. Se isso descreve voc, ento seu compromisso fundamental no bblico, mas humanstico. A reao bblica para com as religies e filosofias, pensamento e conduta, crenas e culturas no-crists, no indiferena ou apreciao, mas extrema indignao. No me oponho aqui meramente s crenas e culturas no-ocidentais, mas 3Por exemplo, uma igreja no tem nenhuma justificativa para excomungar um assassino ou estuprador, mas ao mesmo tempo no excomungar algum que rejeita a infalibilidade da Escritura. Se a revelao bblica infalvel a prpria base sobre a qual excomungamos o assassino ou estuprador, como podemos ento excomungar algum que viola um princpio bblico de moralidade, mas toleramos algum que rejeita a prpria autoridade pela qual reforamos esse princpio bblico? A coerncia teolgica destruda, a menos que a igreja considere uma rejeio da infalibilidade bblica to perversa quanto o assassinato e o estupro, e formule suas normas de ao de acordo com isso.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 17. 17s culturas no-crists ou anti-bblicas, que podem e de fato existem dentro da sociedade ocidental. Algumas vezes as pessoas negligenciam reconhecer essa distino. Estou dizendo que os cristos deveriam reagir fortemente contra crenas e prticas anti-bblicas, em qualquer que seja o contexto que isso for encontrado. Indiferena e apreciao por religies, filosofias, crenas e culturas anti-bblicas constitui em traio contra o reino de Deus. Existem diferentes maneiras que algum pode expressar sua indignao contra crenas anti-bblicas, mas nem todas so legtimas. Por exemplo, possvel silenciar a oposio com violncia, mas em tal contexto que Jesus diz: Todos os que empunham a espada, pela espada morrero (Mateus 26:52). 4 Algumas pessoas tm interpretado erroneamente essas palavras para apoiar o pacifismo ou proibir todo uso de fora fsica. Porm, Romanos 13:4 diz que a autoridade do estado no porta a espada sem motivo. serva de Deus, agente da justia para punir quem pratica o mal.. Isso indica que algum uso de fora fsica legitimo. Torna-se aparente que o que Jesus diz um provrbio que reafirma Gnesis 9:6, que diz: Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue ser derramado; porque imagem de Deus foi o homem criado. De nenhum modo a afirmao denuncia o uso de fora militar ou outros tipos de fora fsica sancionados em outros lugares pela Escritura. Embora eu sustente que o Cristianismo probe o uso da fora fsica para promover suas idias, irracional rejeitar uma religio simplesmente porque ela defende o uso da violncia, quer seja ou no para o propsito de promover a religio. Algum que diga que uma religio errada porque promove violncia pressupe um padro de tica pelo qual julga essa religio, e sobre a veracidade desse padro pressuposto que precisamos argumentar em primeiro lugar. Se o uso da violncia aceitvel ou no, depende de se sua base correta ou no. Se uma determinada religio verdadeira, e se permite ou ordena o uso da violncia para um determinado propsito, ento seu endosso violncia aceitvel. Por exemplo, ns no deveramos argumentar que o Islamismo falso porque permite e ordena o uso da violncia na promoo de suas idias; antes, deveramos argumentar que errado promover a religio de algum pelo uso da violncia porque o Islamismo errado e algum outro padro correto, o qual, por sua vez, probe a violncia para tal propsito. Assim, a questo de se a violncia aceitvel (para a promoo da religio ou algum outro propsito) deve ser determinada sobre um nvel pressuposicional. Algum pode, certamente, tomar como seu primeiro princpio que todos os usos de violncia ou alguns usos designados de violncia so errados, e ento avaliar as diferentes cosmovises e religies por tal padro. Contudo, qual a justificativa para tal critrio? O princpio pode ser arbitrrio, auto-autenticado, ou deve ser baseado ultimamente em algum princpio que auto-autenticado. Se ele for arbitrrio, ento irracional e no pode ser imposto sobre todo o mundo. Se auto-autenticado, ento a pessoa deve mostrar que ele auto-autenticado. Mesmo se for autoautenticado, e eu no acredito que seja, ele muito limitado para responder s questes necessrias nas reas do conhecimento, realidade, e outras. De fato, ele nem 4O contexto principal da passagem pode sugerir que Cristo est se opondo ao uso da violncia ao defender a inocncia pessoal quando falsamente acusado por autoridades, e no uma defesa da religio em particular.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 18. 18mesmo pode prover orientao para muitas questes dentro de suas prprias categorias de tica. Se algum reivindica que o principio baseado em algo que auto-autenticado, ento retornamos minha questo de que primeiro devemos argumentar sobre esse princpio ltimo, ao invs do princpio subsidirio de se a violncia aceitvel ou no em vrios contextos. Igualmente, muitas pessoas criticam fortemente o Cristianismo por ser uma religio exclusivista; isto , elas acreditam que se uma religio reivindica ser a nica verdade, ento deve ser errada ou inaceitvel. Mas qual a justificativa para tal suposio, e por qual padro ltimo elas fazem esse julgamento? Em contraste, ns podemos sustentar que se o Cristianismo verdadeiro e reivindica ser a nica verdade, ento a sua reivindicao de ser a nica verdade tambm deve ser verdadeira. Ns devemos primeiro estabelecer se o Cristianismo verdadeiro antes de julgar sua reivindicao da verdade ser exclusiva. Certamente, na argumentao pressuposicionalista, a premissa de que o Cristianismo a verdade exclusiva inerente em seu primeiro princpio. Algum pode tomar como seu primeiro princpio ou, se existirem mais que um, um dos seus axiomas pelo qual ele deduz teoremas subsidirios que no existe nenhuma verdade exclusiva, e ento usar isto para avaliar cada religio. Mas tal princpio auto-refutante, visto que ele reivindica ser exclusivamente verdadeiro que no existe verdade exclusiva. No existe nenhuma verdade exclusiva uma proposio que exclui todas as reivindicaes exclusivas, mas ela em si uma reivindicao exclusiva sobre a prpria natureza da verdade, de modo que exclui a proposio: Existe verdade exclusiva. Assim, a rejeio da verdade exclusiva no pode ser auto-autenticada, visto que auto-refutante. Ela no pode ser legitimamente baseada em algo que seja auto-autenticado, visto que o processo de deduo meramente extrai as implicaes necessrias de uma premissa, de forma que impossvel derivar uma concluso auto-refutante a partir de uma premissa autoautenticada. Devemos concluir que a rejeio da verdade exclusiva arbitrria e irracional. Ela no pode funcionar como o primeiro princpio de uma cosmoviso coerente, nem pode ser usada para se fazer qualquer julgamento racional sobre uma religio. Quando diz respeito defesa e promoo da religio crist, Paulo escreve: Pois, embora vivamos como homens, no lutamos segundo os padres humanos. As armas com as quais lutamos no so humanas; ao contrrio, so poderosas em Deus para destruir fortalezas (2 Corntios 10:3-4). Nosso relacionamento com esse mundo deveria de fato ser caracterizado por um relacionamento de guerra, mas visto que esta guerra de natureza espiritual, no se trata de uma disputa de poder fsico ou militar. Antes, Deus nos tem dado armas apropriadas para a natureza deste conflito, que so poderosas em Deus para destruir fortalezas. Quais so essas fortalezas que iremos destruir com nossas armas divinas? O versculo 5 diz que iremos destruir argumentos, e em vez de subjugar fisicamente nossos inimigos, ns levamos cativo todo pensamento, para torn-lo obediente a Cristo. Consequentemente, Paulo reage s crenas no-crists em geral, e excessiva idolatria de Atenas em particular, engajando seus aderentes numa argumentaoMonergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 19. 19racional: Por isso, discutia5 na sinagoga com judeus e com gregos tementes a Deus, bem como na praa principal, todos os dias, com aqueles que por ali se encontravam (Atos 17:17). I. Howard Marshall alega que a palavra traduzida como discutia significa pregar ao invs de argumentar ou debater. 6 Ele faz meno a Atos 20:7 e 20:9, nos quais a mesma palavra traduzida por falou (pregou na KJV) e longo discurso (prolongada pregao na KJV). No claro se Marshall pretende eliminar a idia de que Paulo empregou argumentao na promoo do evangelho, ou se ele pretende eliminar somente a idia de interao entre Paulo e sua audincia como implicado pelas palavras arrazoava, argumentar, ou debater. Se for o primeiro caso, isto , se Marshall pretende dizer que Paulo no empregou argumentao na divulgao do evangelho, ou que Paulo evitou uma postura intelectualmente combativa, ento ele est equivocado. A palavra em questo pode explicitamente denotar o significado de argumentao. Por exemplo, Atos 17:2 diz: Paulo, segundo o seu costume, foi procur-los e, por trs sbados, arrazoou com eles acerca das Escrituras (RA). Isso significa que Paulo pregou para eles ou argumentou com eles? Foi uma apresentao ou um debate? Qualquer que seja o caso, o ensino bblico envolve argumentos rigorosos. O prximo versculo nos fala que quando Paulo arrazoou com eles acerca das Escrituras, ele estava explicando e provando que o Cristo deveria sofrer e ressuscitar dentre os mortos (NVI). Portanto, quer tenha interagido com eles ou no, ele estava tanto apresentando o evangelho como argumentando a favor dele. Ento em Atos 18:4, Lucas escreve que Paulo debatia na sinagoga, e convencia judeus e gregos. A tentativa de convencer necessariamente implica o elemento da argumentao. Paulo falava ousadamente do evangelho em feso, e isto significa que ele estava arrazoando e persuadindo (Atos 19:8, NASB) as pessoas sobre o reino de Deus. Entretanto, h uma indicao de que Marshall quer dizer o ltimo caso, pois ele contrasta o que Paulo faz contra a abordagem de Scrates: A descrio recordativa da atividade de Scrates que argumentava com quem quer que o escutasse, embora para Lucas argumentar signifique pregar ao invs de debater.7 Isto , parece que ele est dizendo que traduzir a palavra como argumentar ou debater sugere falsamente que Paulo algumas vezes assumiu um estilo interativo quando introduzindo o evangelho ao seu pblico. Se isso o que Marshall quer dizer, ele ainda est equivocado, visto que tanto em Atos 17 como em outras passagens, Paulo d a impresso de engajar seus oponentes numa forma dialogal, argumentando e debatendo com eles. Todavia, neste ponto o elemento mais importante mostrar que Paulo reagiu contra as crenas no-crists por meio de uma argumentao racional, quer na forma de apresentao (pregao) ou interao (debate). Thayer indica que embora a palavra em questo possa significar ponderar, argumentar, discursar ou discutir, quando usada em Atos 17:17, o qual o versculo que estamos examinando, ela usada com a idia de disputando5Nota do tradutor: Arrazoava na verso do autor. I. Howard Marshall, Tyndale New Testament Commentaries: Acts; William B. Eerdmans Publishing Company, 2000 (original: 1980); p. 283. 7 Ibid., p. 283. 6Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 20. 20proeminentemente.8 Em adio, A. T. Robertson escreve que quer a palavra seja usada ou no para denotar a ao de ponderar, discutir, discursar ou ensinar por um mtodo dialtico, ela sempre carrega a idia de estmulo intelectual. 9 Portanto, seja qual for o significado exato de Marshall, ele est errado quando escreve: Para Lucas argumentar significa pregar ao invs de debater.10 Isto , se Marshall quer dizer: Para Lucas argumentar significa apresentar um argumento ao invs de engajar num argumento, ele ainda est equivocado, mas pelo menos ele escaparia da acusao de antiintelectualismo. Contudo, se ele quer dizer: Para Lucas argumentar significa afirmar sem argumento ao invs de engajar num argumento, ento ele no est somente errado, mas visto que o erro to bvio, podemos tambm suspeitar que ele tenha uma inclinao antiintelectual. Mas ele no parece querer dizer esse ltimo significado.11 Em todo o caso, a palavra no significa pregar ao invs de debater. A palavra pode significar pregar (um monlogo), debater (um dilogo), ou ambos, e discernimos qual o significado pretendido pelo contexto. Mas visto que h uma palavra em particular para pregao que Lucas usa livremente por todo o livro de Atos, parece que a palavra que estamos examinando agora na maioria dos casos significa uma troca argumentativa ou dilogo, ao invs de uma pregao no sentido de um monlogo. A palavra sempre significa o uso de argumentao racional. Por exemplo, embora os dois versculos possam estar descrevendo uma apresentao ou discusso entre crentes amistosos, mesmo Atos 20:7 e 20:9 no nos d nenhuma indicao de que a situao exclui o uso de argumentos. Os apstolos chegaram s suas concluses por dedues racionais, a partir das escrituras e da revelao especial, mesmo em suas apresentaes para os crentes, como visto em seus sermes e cartas. A concluso que a palavra pode significar tanto uma apresentao como um debate, com a nfase determinada pelo contexto da passagem, e mesmo quando uma mera apresentao est em vista, a argumentao racional um elemento necessrio do que transmitido. Nosso versculo, Atos 17:17, parece descrever ou incluir um debate. No podemos ter certeza se o erro de exegtico de Marshall, pelo menos em parte, resulta de uma inclinao antiintelectual, mas essa uma possibilidade. Pregar, pelo menos como definido e praticado por muitas pessoas, soa piedoso e inofensivo, mas argumentar e debater soam intelectuais e ofensivos. Muitos cristos tm sido doutrinados pelo mundo sobre como os cristos deveriam agir em um mundo no-cristo, e assumem que no devemos supor argumentar com ningum. Mas Cristo e os apstolos sempre argumentavam com as pessoas em defesa da verdade bblica, e eles nos deixaram instrues para fazer o mesmo. Talvez algumas pessoas imaginem que todo argumento envolve membros de partidos opostos gritando ruidosamente uns para os outros, mas esse no precisa ser o caso. Vencer um debate deveria depender em grande parte da superioridade do que afirmamos ao invs de uma personalidade dominante, de modo que podemos ser 8Joseph H. Thayer, Thayer's Greek-English Lexicon of the New Testament; Hendrickson Publishers, 2002 (original: 1896); p. 139. 9 A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament, Vol. 3; Broadman Press, 1930; p. 267. 10 Marshall, Acts; p. 283. 11 Outra possibilidade que o prprio Marshall no sabe o que ele est tentando dizer sobre Paulo.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 21. 21gentios e educados em todo o processo; entretanto, as instrues e exemplos escritursticos ditam que algumas vezes os critrios regulares de etiqueta social so postos de lado. Em todo o caso, porque as estratgias bblicas para o evangelismo de incrdulos e a edificao dos crentes so altamente intelectuais, uma atitude antiintelectual vai contra o esprito das Escrituras e faz de algum um trabalhador cristo infiel e ineficaz. Agora, se algum discorda de tudo isso, dever me dar um argumento. v. 18, 21 Embora Atenas j tivesse perdido sua antiga eminncia poltica na poca da visita de Paulo, ela ainda permanecia como o centro intelectual do mundo antigo. Quatro das principais escolas filosficas tinham florescido l. Elas foram a Academia de Plato (287 a.C), o Liceu de Aristteles (335 a.C), o Jardim de Epcuro (306 a.C), e o Prtico de Zeno (300 a.C). Embora possamos assumir que vrios pontos de vista filosficos foram representados, Lucas menciona explicitamente os filsofos epicureus e esticos (v. 18), que disputavam com Paulo. Eu dedicarei algum tempo para resumir a filosofia dos epicureus e esticos, pois eles so mencionados aqui em Atos 17. Lamentavelmente, no podemos dedicar um espao tambm para explicar as filosofias de Plato e Aristteles, bem como outras tradies filosficas tal como o Ceticismo. Epcuro (340-270 a.C) tinha adotado a teoria atmica do antigo Demcrito (460-360 a.C) A teoria afirma que a realidade consiste de entidades materiais indivisveis chamadas tomos, movendo-se atravs do espao vazio infinito. Embora os tomos em si no tenham propriedades inerentes, eles se combinam de vrios modos para formar objetos que possuem propriedades diferentes. A principal motivao para a filosofia de Epcuro a de libertar o homem do seu medo da morte e dos deuses. Embora os epicureus formalmente afirmem as deidades gregas tradicionais, elas so vistas como parte do universo materialista e atmico, e irrelevantes para os assuntos humanos. Porque os deuses no estavam interessados nos assuntos humanos, a crena na providncia divina era considerada supersticiosa, e os rituais religiosos inteis. Ns podemos cham-los de destas; os esticos os consideravam atestas, e eles realmente o eram no sentido prtico. Demcrito tinha ensinado que os tomos se movem em todas as direes atravs do espao vazio, e fcil conceber como eles podem colidir e aderir uns com os outros para formar diferentes combinaes de tomos. Contudo, Epcuro introduziu a propriedade do peso aos tomos, e afirmou que eles estavam constantemente caindo atravs do espao vazio. Mas isto gerou o problema de como os tomos iriam alguma vez colidir uns com os outros. Epcuro respondeu que enquanto caiam, os tomos iriam de tempo em tempo se desviar do seu caminho de queda em linha reta e colidir com outros tomos. Ele considerava que esta teoria mantinha com sucesso o indeterminismo metafsico, e desta maneira a liberdade humana, que ele desejava em sua filosofia. Visto que tudo consiste de tomos, at mesmo a mente consiste de tomos, e no h uma alma que transcenda a realidade fsica. Os tomos que formam uma pessoa so dispersos na morte, e isto comprometeu Epcuro a uma negao daMonergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 22. 22imortalidade, de modo que escreveu em sua Carta a Menoeceus: Quando a morte , ns no somos, e quando ns somos, a morte no . Visto que no h imortalidade, no pode haver nem uma ressurreio nem um julgamento; portanto, irracional o homem temer a morte. Embora os deuses em si sejam feitos de tomos, porque eles vivem em regies menos turbulentas, 12 eles no esto sujeitos dissoluo. Uma vez que no h vida aps a morte, o homem deveria desejar somente as coisas desta vida. Para os epicureus, o prazer o bem maior, e assim, podemos categorizar a teoria tica deles como uma forma de hedonismo. Todavia, o prprio Epcuro se ops ao hedonismo sensual grosseiro de Aristipo (435-356 a.C), que levou a um movimento chamado de Cirenasmo, que defendia a prtica de prazeres corporais, vivendo pela mxima: Comamos, bebamos e casemos, pois amanh poderemos morrer. Embora Epcuro concordasse que o prazer o bem mais elevado do homem, ele fez distines entre vrios tipos de prazeres. As experincias prazerosas podem ser de diferente intensidade e durao. Embora os prazeres corporais possam carregar grande intensidade, eles frequentemente trazem uma medida de sofrimento. Por exemplo, o prazer que algum obtm por se empanturrar de comida eliminado pelos efeitos negativos de curto e longo prazo que podem resultar. O mesmo pode ser dito do prazer que algum pode obter pela promiscuidade sexual. Portanto, Epcuro promoveu os prazeres da mente, menos intensos, porm seguros e duradouros, tais como uma conversa com um amigo ou a admirao de uma grande obra de arte e literatura. O propsito geral o de viver uma vida tranqila. Contudo, visto que a mente no distinguida do corpo, estamos meramente nos referindo a diferentes tipos de sensaes, e no a prazeres mentais como distintos dos fsicos. Em todo caso, estudiosos sugerem que na poca da visita de Paulo a Atenas, os seguidores de Epcuro tinham adotado o hedonismo sensual grosseiro que o fundador da filosofia deles esforou-se ao mximo para evitar. Ao contrrio de Demcrito, Epcuro afirmava a confiabilidade das sensaes. De acordo com ele, os corpos dos objetos sendo observados se desfazem de pelculas de tomos que se conformam exatamente forma do objeto e fazem contato com os tomos da alma do observador. Visto que as pelculas de tomos vindas dos objetos observados correspondem exatamente ao objeto, as sensaes nunca comunicam informaes falsas, muito embora ele admitisse que algum poderia fazer falsos julgamentos baseado em tais sensaes. Para resumir a filosofia dos epicureus, na epistemologia eles eram empiristas, na metafsica destas, atomistas e indeterministas, na tica hedonistas, e negavam a imortalidade, a ressurreio e o julgamento. J que o Epicurismo no nosso tpico principal, no irei tomar espao para oferecer uma refutao detalhada desta filosofia em particular, mas podemos mencionar vrios pontos. Na epistemologia, tenho apresentado em outros lugares numerosos argumentos e exemplos contra o empirismo; na metafsica, a teoria atmica e o indeterminismo dos epicureus so profundamente arbitrrios, e tambm 12Anthony Kenny, A Brief History of Western Philosophy; Blackwell Publishers, 2001; p. 85.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 23. 23insustentveis por sua epistemologia; na tica, sua teoria no pode ser formulada com base em sua epistemologia, e no h razo autoritativa para pensar que o prazer o bem maior. E se os epicureus falharam em estabelecer sua viso da metafsica, ento sua rejeio da imortalidade, ressurreio e julgamento so tambm arbitrarias e sem fundamentao. Outros argumentos contra os detalhes do Epicurismo so mais complicados, e, portanto, devem ser ignorados neste momento. Em todo caso, especialmente relevante para este estudo notar que, como outras cosmovises no-crists, o Epicurismo em ultima instncia fundamentado em pura especulao humana. Tambm, relevante notar que muitos pontos no Epicurismo so impressionantemente similares em princpio a algumas crenas amplamente mantidas por secularistas contemporneos, que ainda so incapazes de justificar estas crenas. A tradio filosfica de Znon (340-265 a.C.) foi nomeada de Estoicismo porque ele tinha ensinado no Prtico, ou o Stoa. A leitura de um livro sobre Scrates, acendeu a paixo de Znon pela filosofia, e isto o levou a se mudar para Atenas. Na sua chegada, ficou sob a proteo do Cnico13 Crates. Sua prpria filosofia evidenciaria a influncia do Cinismo atravs da sua nfase na auto-suficincia. Antigos primeiros sucessores de Zeno incluem Cleantes e Crsipo. Pancio de Rodes (118-110 a.C) e Posidnio (130-50 a.C.; instrutor de Ccero) contriburam para o estabelecimento do Estoicismo em Roma, e o Estoicismo Romano ganhou expresso com Sneca (4 a.C. 65 d.C.), Epitecto (50-130), e o imperador Marco Aurlio (121180). Resumir adequadamente a filosofia estica em poucos pargrafos algo irrealista, mas ns devemos fazer tal tentativa sem a pretenso de ser exaustivo. Provavelmente inspirado por Herclito (por volta de 530-470 a.C.), os esticos ensinavam que no principio no havia nada, mas apenas o fogo eterno, do qual emergiram os elementos que construram o universo. O mundo seria eventualmente consumido numa conflagrao universal e retornaria para o fogo, e assim o ciclo da histria iria se repetir eternamente. A viso estica da histria parece excluir a imortalidade individual, ainda que parea haver vises levemente diferentes neste assunto: Eles negavam a imortalidade universal e perptua da alma; alguns supondo que ela era englobada na deidade; outros, que ela sobreviveria apenas at a conflagrao final; outros, que a imortalidade era restrita apenas aos sbios e bons.14 O fogo divino que permeia todo o mundo um fogo racional, e o logos ou Razo que determina o curso do universo. Algumas pessoas tm a concepo errnea de que pelo fato do Estoicismo afirmar que todos os eventos so determinados pelo Destino, ele nega, portanto, que haja um propsito na histria. Contudo, visto que o logos deles um fogo inteligente, o Estoicismo pode de fato afirmar uma viso teleolgica do universo. Mas ento as pessoas confundem tal viso com o ensinamento bblico da soberania divina. Isso desafortunado e desnecessrio. Os esticos eram pantestas, de forma que o logos deles no transcendente, mas 13Nota do tradutor: Segundo o dicionrio Aurlio, cinismo uma Doutrina e modo de vida dos seguidores dos filsofos socrticos Antstenes de Atenas (444-356 a. C.) e Digenes de Snope (413323 a. C.), fundadores da Escola Cnica, que pregavam a volta vida em estrita conformidade com a natureza e, por isso, se opunham radicalmente aos valores, aos usos e s regras sociais vigentes. 14 Marvin R. Vincent, Vincent's Word Studies in the New Testament, Vol. 1; Hendrickson Publishers; p. 539.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 24. 24imanente. De fato, razo do homem vista como sendo do mesmo tipo do fogo eterno, o qual permeia a ordem do mundo,15 levando Epitecto a afirmar que existe uma centelha de divindade dentro de todo o homem. O universo, o homem, e at mesmo os animais so todos parte de Deus, e assim, os esticos eram pantestas. Isto completamente oposto posio bblica. 16 Visto que o homem est sujeito s foras imanentes do mundo, ele deve viver em harmonia com a natureza. Visto que a Razo permeia e governa o mundo, viver em harmonia com a natureza viver em conformidade com a racionalidade, e a racionalidade superior s emoes. Tudo que est fora da razo deveria ser visto com indiferena, seja o prazer, o sofrimento, ou mesmo a morte. Epitecto escreveu que embora o homem no possa controlar os eventos, pode controlar sua atitude para com eles: Visto que nossos corpos no esto sob o nosso controle, o prazer no um bem e a dor no um mal. H uma famosa histria de Epitecto, o escravo. Como seu mestre estava torturando suas pernas, ele disse com grande compostura: Voc certamente ir quebrar minhas pernas. Quando o osso quebrou, ele continuou no mesmo tom de voz: Eu no disse que voc as quebraria?. A boa vida, portanto, no consiste de externalidades, mas um estado interno, uma fora da vontade e autocontrole.17 O Estoicismo deu origem a uma sria atitude de resignao ao sofrimento, individualismo severo e auto-suficincia social. 18 Devemos demonstrar autocontrole, auto-suficincia e indiferena emocional em meio s situaes da vida. Mas se a vida se torna dura demais, o Estoicismo permite o suicdio. Os crticos algumas vezes tentam questionar o carter nico do Cristianismo apontando sua aparente similaridade com o Estoicismo. Por exemplo, ambas cosmovises enfatizam a indiferena e o controle sobre as emoes. A resposta tpica contra isto frequentemente que o Cristianismo no compartilha de modo algum de tal nfase, nem mesmo superficialmente, de modo que alguns negariam que o Cristianismo ensina a indiferena e o controle emocional. No entanto, tais ataques e respostas esto ambos enganados, e frequentemente denunciam a falta de entendimento tanto do Estoicismo como do Cristianismo. Um exemplo vem de Filipenses 4:12, onde Paulo escreve: Sei o que passar necessidade e sei o que ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situao, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Superficialmente, os esticos poderiam ter concordado com essa 15Greg L. Bahnsen, Always Ready; Covenant Media Foundation, 2000; p. 242. Os cristos no deveriam ficar perturbados com o fato dos escritores bblicos usarem algumas vezes termos empregados pela filosofia no-crist. Em tais casos, eles nunca pretenderam aceitar a viso pag das coisas, mas sim usar os mesmos termos para fazer um contraste aparente contra as posies nocrists. Exemplos de tais contrastes incluem o uso da palavra logos em Joo 1 e o ensino de Paulo sobre a auto-suficincia em Filipenses 4. Os leitores da Bblia devem observar como os escritores bblicos esto usando esses termos, e o que esto dizendo sobre os conceitos associados com esses termos. 17 Gordon H. Clark, Ancient Philosophy; The Trinity Foundation, 1997; p. 308. 18 Bahnsen, Always Ready; p. 243. 16Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 25. 25afirmao, e a palavra contente na verdade a palavra estica para indiferena. As Escrituras no permitem o emocionalismo encorajado por muitos crentes contemporneos, de quem a opinio neste assunto formada mais pela psicologia moderna do que pela teologia bblica, de modo que eles defendem a livre expresso das emoes de algum sem considerao do ensinamento bblico sobre o autocontrole e a transformao interior. No entanto, o verso 13 faz toda a diferena: Tudo posso naquele que me fortalece. O Cristianismo na verdade ensina a auto-suficincia espiritual, emocional, e social, sem rejeitar a legitimidade da comunidade; contudo, esta auto-suficincia somente relativa a outros seres humanos, mas no para com Deus, de modo que estamos sempre em necessidade dele. Este versculo indica que o poder interior do cristo est diretamente vinculado a uma afirmao consciente do Cristianismo e da dependncia de Deus. Este Deus no um fogo racional imanente pantesta que parte do universo, mas uma mente transcendente racional que distinta e o criador do universo. Deus no est no universo; Deus fez o universo. Ele imanente no sentido de que escolhe exercitar seu poder nos assuntos humanos e naturais, mas ele no parte desta criao, nem est limitado a ela. E ao contrrio da filosofia estica, no importa quo difcil nossa vida se torne, no h justificativa para cometer o suicdio. Esta diferena no superficial, mas fundamental e essencial, visto que baseada numa viso da metafsica que contradiz a viso estica da metafsica. O Cristianismo ensina um Deus que tanto transcendente como imanente metafisicamente distante, mas que se torna prximo pelo que faz que faz distino entre indivduos, que regenera a alguns e a outros no, que toma decises e se comunica eficazmente, e que fortalece seu povo de modo que eles possam vencer o mundo. Os recursos internos do cristo provm de Deus, que distinto do prprio cristo, enquanto que os esticos buscavam alcanar a auto-suficincia absoluta, e no a auto-suficincia relativa do cristo. Ns vencemos o mundo e cumprimos nosso propsito no por ns mesmos, mas pelo poder de Deus, o qual opera poderosamente em ns (Colossenses 1:29). Portanto, embora possa haver similaridades superficiais entre o Estoicismo e o Cristianismo, na realidade estas similaridades tem por detrs de si diferenas fundamentais e irreconciliveis entre as duas cosmovises. Alm do que foi afirmado acima, concernente metafsica e tica deles, os esticos tinham desenvolvido teorias detalhadas sobre epistemologia, lgica, lingstica e outros assuntos. Concernente epistemologia, eu no direi nada mais que os esticos sustentavam uma forma de empirismo, mas, todavia, no a inocente aceitao epicurista das sensaes. Em todo o caso, tanto o Epicurismo como o Estoicismo falharam em prover uma epistemologia construtiva que torne possvel o conhecimento, todavia, o ceticismo no uma opo, devido sua prpria incoerncia auto-referencial. Apesar das similaridades superficiais e aparentes que podem confundir um desinformado, o Estoicismo e o Cristianismo so irreconciliveis e opostos um ao outro concernente a todas as questes ltimas sobre um nvel fundamental. Na epistemologia os Esticos eram empiristas, na metafsica pantestas, na tica sustentavam uma viso da razo e virtude muito diferentes do Cristianismo, e negavam a imortalidade, ressurreio e julgamento.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 26. 26Assim como os epicureus, a filosofia deles arbitrria, inconsistente, e no fundo fundamentada sobre a pura especulao humana. Certo escritor pensa que os esticos tm sua contrapartida contempornea nos seguidores da Nova Era e nos pantestas.19 Embora possa entender porque isto possa parecer ser assim, e possa ser verdade em algum sentido, preferiria no me arriscar em levar esta afirmao longe demais. Os partidrios de hoje em dia da filosofia da Nova Era e do pantesmo frequentemente no tm desenvolvido teorias da lgica e tica a partir da qual ns podemos fazer comparaes com o Estoicismo. Todavia, hoje existem filsofos que reivindicam ter herdado a tradio estica.20 Levando nossa ateno de volta para Atos 17, importante ter em mente que a audincia de Paulo no consistia somente de filsofos epicureus e esticos, embora estes dois grupos sejam referidos pelo nome (v.18), mas a multido tambm inclua outras pessoas, provavelmente de varias persuases filosficas. O verso 17 diz que Paulo falou sobre o evangelho na praa principal, todos os dias, com aqueles que por ali se encontravam, e o verso 21 indica que a audincia inclua os atenienses e estrangeiros. Julgando pelo pano de fundo intelectual de Atenas, no seria de se surpreender encontrar representantes do Platonismo, Aristotelismo, Ceticismo, e de outras perspectivas na audincia. Mesmo entre os filsofos epicureus e esticos, ns podemos estar certos de haver diferenas de opinies entre eles. Os partidrios das vrias escolas filosficas frequentemente tm feito modificaes significativas para com as filosofias de seus fundadores, de modo que Frederic Howe est justificado em dizer que h um espectro muito amplo de perspectivas presentes. 21 Pelo fato do pblico consistir de pessoas representando tradies filosficas diferentes, nem todos os pontos do discurso de Paulo ir se aplicar igualmente a cada ouvinte. Por exemplo, embora Paulo apele para a idolatria implacvel de Atenas e ao altar para um deus desconhecido, como ponto de partida para o seu discurso, os prprios filsofos epicureus tinham desejado remover do pensamento humano o que percebiam ser uma devoo supersticiosa para com os deuses. Por esta razo, Lucrcio rejeitou o apelo dos atenienses ao deus desconhecido. Todavia, a escolha de Paulo deste ponto de partida para seu discurso apropriada. Como Howe escreve: Sem dvida o grupo predominante de ouvintes inclua curiosos e aqueles que gostavam de ouvir as trocas de idias frequentemente l apresentadas.22 Portanto, ns devemos ter em mente que Paulo est se dirigindo a um grupo diversificado de pessoas com filosofias e perspectivas diversas. Segue-se que no deveramos esperar que todos os detalhes de seu discurso se apliquem igualmente a todas as pessoas na audincia. Contudo, o principal ponto deste estudo, e com ele vem um discernimento importante para a apologtica, que antes dele ter terminado, Paulo teria ofendido e contradito a todos no-cristos presentes no meramente com desacordos superficiais, mas no nvel mais fundamental e em todos os principais assuntos filosficos.19Life Application Bible Commentary: Acts; Tyndale House Publishers, Inc., 1999; p. 300. Lawrence C. Becker, A New Stoicism; Princeton University Press, 1999. 21 Frederic R. Howe, Challenge and Response; Zondervan Publishing House, 1982; p. 41. 22 Ibid., p. 41. 20Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 27. 27O versculo 18 diz que os filsofos disputavam com Paulo. Contrrio do que isso implica, alguns estudiosos interpretam o episdio do Arepago como uma exemplificao do uso de Paulo de uma filosofia de terreno comum que sua f crist tinha com os filsofos. John Sanders escreve o seguinte: Interessantemente, Paulo no se refere ao Antigo Testamento em seu discurso. Ele cita apenas poetas pagos e usa as idias e vocabulrio da filosofia grega na sua tentativa de alcanar estas pessoas. Todavia, todos os pontos de Paulo podem ser encontrados no Antigo Testamento, porque existem afinidades entre a revelao geral e especial. 23 Este comentrio de Sanders denuncia seu entendimento deplorvel tanto da filosofia grega como da teologia crist, uma m compreenso da inteno de Lucas nesta passagem, e uma capacidade de raciocnio incrivelmente pequena. Embora seja verdade que Paulo usa citaes de poetas gregos em seu discurso (v.28), isto no significa que ele necessariamente concorde com o que eles dizem. Neste exato momento, eu estou fazendo uma citao de Sanders, mas estou fazendo isto apenas para denunciar o seu erro, fazendo dele um exemplo inferior de erudio. Igualmente, Paulo cita os poetas no para expressar estar de acordo, mas para um outro propsito. Ns teremos mais a dizer sobre isto quando discutirmos o versculo 29, onde ele cita os poetas gregos. O uso do vocabulrio da filosofia Grega no demonstra concordncia com a filosofia grega, assim como eu posso utilizar o vocabulrio da cincia evolucionista para ilustrar como a teologia crist se ope evoluo. Ou, eu posso me referir s categorias de pensamento que interessam ao psiclogo secular, apenas para ilustrar a oposio bblica contra a psicologia nocrist, enchendo-as com o contedo cristo. Quanto ao uso das idias... da filosofia grega, eu concordo que Paulo se referiu s categorias de pensamento e s questes ltimas que interessavam aos filsofos, mas ele as encheu de contedo cristo em oposio s suas filosofias. A prpria Bblia discute diretamente estas questes, de modo que quando Paulo usa os termos filosficos e os enche com contedo bblico, ele est fazendo o contrrio do que Sanders alega. Em primeiro lugar, quem disse que tais idias e categorias se originaram com os filsofos gregos e a eles pertencem? Minha posio que os eruditos no-cristos roubam e distorcem as idias e categorias que se originaram em Deus e a ele pertencem, reveladas a ns por nosso conhecimento inato e pela revelao bblica. Que os no-cristos compartilham de algumas destas idias e categorias ilustram apenas sua culpabilidade, pois tm distorcido e suprimido o verdadeiro conhecimento de Deus, de modo que todos eles so indesculpveis e esto sob condenao divina. Sanders escreve: Paulo no se refere ao Antigo Testamento em seu discurso... todavia, todos os pontos de Paulo podem ser encontrados no Antigo Testamento. Seu pensamento parece ser que ao invs de citar a partir do Antigo Testamento, Paulo cita a partir dos poetas gregos (que refletem a filosofia grega), todavia, seus pontos so 23John Sanders, editor; What About Those Who Have Never Heard?; InterVarsity Press, 1995; p. 41.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 28. 28encontrados no Antigo Testamento; portanto, a filosofia grega concorda com o Antigo Testamento (pelo menos em alguns pontos essenciais). Contudo, raciocinar desta forma falacioso. Pelo contrrio, ao ler a mesma sentena, eu diria o seguinte: Todos os pontos de Paulo so encontrados no Antigo Testamento, portanto, ele est falando a partir do Antigo Testamento, mesmo no o citando diretamente, mostrando assim que ele confronta a especulao humana com a revelao bblica. Todos os pontos de Paulo so encontrados no Antigo Testamento porque todos os pontos so tirados do Antigo Testamento. Quanto aos poetas gregos, ele os cita para mostrar como eles no poderiam suprimir o conhecimento inato do Deus verdadeiro, mesmo que eles tivessem distorcido sua revelao geral ao ponto que tal conhecimento servia somente para conden-los, sem conduzi-los para mais perto de Deus. Alm disto, este conhecimento inescapvel de Deus contradiz as filosofias explcitas deles em todas as principais categorias de pensamento, ilustrando assim que a converso demandaria deles um arrependimento profundo, de forma que eles deveriam se voltar dos seus pensamentos e especulaes fteis. Outra possibilidade que as citaes no concordem de forma alguma com o Antigo Testamento, mas Paulo as cita apenas para expor como a filosofia grega auto-contraditria. Neste discurso particular, iremos ver por qual razo exatamente ele cita os poetas gregos quando chegarmos ao versculo 28. Este entendimento geral do discurso de Paulo est de acordo com o que o prprio apstolo escreve em Romanos 1:18-32; portanto, ns temos uma base bblica para tal interpretao. Por outro lado, baseado em que Sanders afirma sua interpretao? Carecendo de uma justificativa bblica, parece que sua base consiste de pouco mais do que seu desejo em fazer os pensamentos cristos e no-cristos menos discordantes. Mas de acordo com as Escrituras, este um desejo ignbil e pecaminoso. De fato, alguns estudiosos so to preconceituosos que eles reivindicam que Atos 17 contradiz Romanos 1! Essa uma razo suficiente para a excomungao deles. Para aqueles que afirmam a infalibilidade bblica, o fato de estes estudiosos acreditarem que Atos 17 contradiz Romanos 1, ou qualquer outra parte da Bblia, em si mesmo uma refutao de suas posies. As duas passagens s iro parecer contraditrias uma vez que forarmos Atos 17 dizer o que no diz, e obviamente, se fizer isto, voc pode fazer com que quaisquer duas passagens contradigam uma outra. Por outro lado, a interpretao correta reconhece que Atos 17 ilustra Romanos 1. claro que verdade que, nas palavras de Sanders, existem afinidades entre a revelao geral e especial, mas Sanders traa uma concluso diferente da do apstolo Paulo. Sanders acha que porque existem afinidades entre a revelao geral e especial, os pensamentos cristo e no-cristo contm, portanto, concordncia substancial. Contudo, este o ponto oposto ao que Paulo faz em Romanos 1, onde o apstolo afirma que visto que Deus tem feito a si mesmo claro a todos pela revelao geral (v.19), portanto aqueles que suprimem a inescapvel verdade sobre Deus fazem isso por impiedade (v.18), e so deixados indesculpveis (v.20). Isto , as filosofias pags no concordam com a revelao geral, e esta uma razo porque Deus as condena.Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 29. 29 porque as filosofias no-crists discordam da revelao especial, enquanto elas deveriam concordar com a revelao especial se refletissem corretamente a revelao geral, que Deus os responsabiliza de ignorncia culpvel. Em outras palavras, Deus tem apresentado informao suficiente sobre si mesmo atravs do conhecimento inato do homem e do mundo criado, de forma que os no-cristos deveriam concordar com a revelao especial (a Escritura), mas os no-cristos de fato no concordam com a revelao especial, e, portanto, nenhum deles pode escapar da condenao. Sanders afirma uma posio que subverte a inteno de Romanos 1 e Atos 17; isto , se ele est correto sobre Atos 17, ele faria Romanos 1 no ter sentido. Por outro lado, podemos afirmar que Romanos 1 nos ajuda a dar sentido para Atos 17. Um outro assunto importante encontrar qual interpretao o prprio Lucas favorece. Atravs de toda a passagem encontramos uma nfase sobre o desacordo entre Paulo e os atenienses ao invs de um acordo meramente incompleto entre eles. Lucas e Paulo no do em nenhum lugar qualquer indicao de que os filsofos estavam no caminho certo.24 Pelo contrrio, Lucas apresenta os filsofos mostrando que eles disputavam com [Paulo], e enfatizando como eles interpretavam incorretamente e insultavam o apstolo. Frederic Howe observa corretamente que o discurso de Paulo enfatizou a ignorncia dos atenienses, e no o fato de que Paulo achava que eles estavam indo bem.25 Estaremos mostrando desacordos adicionais entre Paulo e os filsofos ao continuarmos este estudo, mas o que j foi exposto acima suficiente para desacreditar a interpretao do discurso no Arepago como sendo uma ilustrao de como existe um terreno comum substancial entre o pensamento cristo e o nocristo. Os sermes e cartas dos apstolos em geral, e esta passagem em particular, no do suporte a esta perspectiva de terreno comum. Os prprios filsofos disputavam com Paulo, e Paulo por sua vez enfatizava a ignorncia deles. Parece que so os prprios intrpretes que querem descobrir e enfatizar este terreno comum inexistente com os incrdulos, e negligenciando uma erudio apropriada, eles tm imposto tal viso sobre este texto e outras passagens bblicas relevantes. 26 M compreenso e depreciao caracterizaram a reao dos filsofos para com a apresentao inicial do evangelho por Paulo. Embora seja provvel que eles fizeram outros comentrios, Lucas especificamente registrou apenas dois. Uma declarao implica que eles tinham compreendido erroneamente elementos chaves na apresentao do apstolo, e a outra pretendida como um insulto contra sua competncia intelectual. Alguns dos filsofos observam que Paulo parece estar anunciando deuses estrangeiros ou seja, mais de um. Lucas explica: Pois Paulo estava pregando as boas novas a respeito de Jesus e da ressurreio. Eles podem ter entendido Jesus 24Ibid., p. 41. Howe, Challenge and Response; p. 42. 26 O verdadeiro terreno comum que o cristo tem com o no-cristo que ambos foram criados imagem de Deus. Contudo, o no-cristo suprime e nega esse terreno comum em sua filosofia explcita. Portanto, em termos das nossas filosofias explcitas, no h nenhum terreno comum entre o cristo e o no-cristo. Mas o conhecimento de Deus inescapvel, e aparece de forma distorcida em vrios pontos da filosofia no-crist. Assim, o cristo argumenta que o no-cristo j conhece algo sobre o verdadeiro Deus e nega isso, o que significa que o no-cristo no tem escusa e est sujeito condenao. 25Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9) www.monergismo.com 30. 30como o poder personificado da Cura, visto que o nome em grego significa algo parecido com isto, e ressurreio (anastasis) como a deusa da Restaurao. Os gregos tinham erigido altares para princpios abstratos como Modstia e Piedade, e ento, no de surpreender que eles poderiam ter compreendido erroneamente o apstolo desta maneira. Visto que Jesus est no masculino e ressurreio no feminino, eles poderiam tambm ter interpretado erroneamente Paulo como que introduzindo um novo casal de divindades. Podemos ver imediatamente como as pressuposies dos no-cristos distorcem como eles interpretam as informaes sobre o verdadeiro Deus, quando apresentadas a eles. De acordo com a Bblia, o homem no-regenerado adota as pressuposies no-crists como um ato de rebelio pecaminosa contra Deus, e estas pressuposies por sua vez reforam sua habitual negao de Deus nos seus pensamentos pela distoro e supresso da informao sobre Deus, apresentadas a eles atravs da revelao geral (o mundo criado e as idias inatas) e a revelao especial (a Escritura). As pressuposies dos atenienses no-cristos, e a resultante m compreenso com relao mensagem do evangelho, deu aos ouvintes um atraso temporrio em ter de confrontar a verdade sobre Deus, mesmo quando apresentada diretamente a eles. O mesmo problema existe quanto pregamos para os no-cristos de hoje. Seus antecedentes intelectuais de descrente tm condicionado suas mentes para distorcer e rejeitar a m