ANDRADE, Jorge (1922/1984)

As ConfrariasDrama histórico/1 ato/16 personagens/2 fem. 14 masc./Sec. XVIII/Soc. Rural/Ciclo do Ouro/Conspiração Mineira

SINOPSE

As Confrarias, peça em um ato, revela uma fase criativa do autor em que, claramente, resolve mergulhar na história do Brasil colônia e, por intermédio de sua arte, questionar comportamentos sociais e políticos da época.

Num estilo realista que vai do psicológico ao poético, o autor revela, de forma às vezes cruel, a condição do Brasil colônia e de seus habitantes miseráveis, que tinham que prover à metrópole o ouro com o qual “a rainha faz seus botões”. Ouro que leva à pobreza, ao abandono de terras e à morte.

A peça trata da Conspiração Mineira. A personagem central é Marta, uma mulher que pretendia apenas viver para seu marido e filho. No entanto, seu marido é enforcado, acusado de traição pelos mineiros que invadem suas terras, e seu filho assassinado por um beleguim por suspeita de sedição.

A peça tem início com Marta transportando o corpo do filho morto, auxiliada por Quitéria que fora amante dele. Marta está a procura de um solo sagrado para enterrá-lo. A sua via-crucis leva-a às sedes de quatro Confrarias, às quais dirige seu pedido. Mas Marta sabe da inutilidade da solicitação, e ainda contribui para que se estabeleça um conflito de idéias, quando lança desafios e escárnios, quase que desejando a recusa dos membros das irmandades.

Cada uma das quatro Confrarias representa uma classe social, uma situação econômica e determinados interesses, preconceitos, ressentimentos, ódios e ambições. Quatro vezes Marta bate às portas das Confrarias, e em cada disputa, a personagem, de forma enigmática, cresce em mistério e grandeza. A cada pedido e a cada recusa, desenvolve-se um jogo intensamente dramático, através do qual configura-se com nitidez a situação geral da colônia, humilhada pela opressão, e se insinuam as novas idéias libertárias vindas da Europa.

O enterro de José é recusado, sobretudo por se tratar do corpo de um “ímpio, uma face do demônio”, enfim, de um ator. Mais importante que o enterro, que se realizará em terra livre, isto é, na natureza livre dos campos, é a luta pela “liberdade, posto que tardia”.