CONFISSÕES DO DIA A DIA. -...

CONFISSÕES DO DIA A DIA.

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CONFISSÕES

DO

DIA A DIA.

CRÔNICAS.

TIAGO GERALDO MACEDO PENA.


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Sumário

DIAS DE ANGUSTIA. ........................................................................ 6

DIFERENÇAS. .................................................................................... 9

EPITÁFIO. ......................................................................................... 14

MAIS SERÁ O BENEDITO .............................................................. 18

O TEMPO........................................................................................... 22

CONVERSA DE APOSENTADOS. ................................................. 26

O CAMINHO DA PADARIA............................................................ 29

A ORIGEM DO HOMEM. ................................................................ 32

COISAS ABSURDAS. ...................................................................... 36

VIL PAPEL. ....................................................................................... 39

AUSÊNCIA. ....................................................................................... 43

A DECISÃO. ...................................................................................... 46

ALMOÇO DE DOMINGO. ............................................................... 50

A EXISTÊNCIA DE DEUS. .............................................................. 53

SOLDADOS DE CHUMBO. ............................................................. 58


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ESTÁ FALTANDO MATÉRIA PRIMA. .......................................... 61

O LUAR. ............................................................................................ 64

A HISTÓRIA DO RATINHO. ........................................................... 67

CHOVE LÁ FORA. ........................................................................... 71

O VELHO RIACHO. ......................................................................... 74

BRASIL ALIENADO. ....................................................................... 78

O ÚLTIMO ENCONTRO. ................................................................. 81

EMERGÊNCIA. ................................................................................. 85

A CIDADE ESQUECIDA. ................................................................ 88

DIÁRIO DO HOSPÍCIO 1. ................................................................ 91

NESTA TERRA DE GIGANTES. ..................................................... 93

LEMBRANÇAS. ................................................................................ 96

MANUSCRITO NA GARRAFA. ...................................................... 99

DIÁRIO DO HOSPÍCIO 2. .............................................................. 102

BARCO DOS SENTIMENTOS....................................................... 105

É QUESTÃO DE ESCOLHA. ......................................................... 108

TUCANO NA TERRA DA RAPOSA. ............................................ 111

CORAÇÃO POR CORAÇÃO. ........................................................ 114

O AMOR. ......................................................................................... 117

INTOLERÂNCIA NÃO RESPEITO SIM. ...................................... 120

MEU BRASIL .................................................................................. 123

UMA FAZENDA CHAMADA LINDOYA. ................................... 126


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IMPRESSÕES DE VIAGEM........................................................... 130

TALVEZ UM DIA. .......................................................................... 134

O MUNDANISMO E A RELIGIÃO. .............................................. 139

A FALÍVEL CIÊNCIA DOS HOMENS. ........................................ 144

LOCOMOTIVA DESGOVERNADA. ............................................ 149

UM ATALHO PARA O INFERNO. ............................................... 154

ELE É TODOS NÓS. ....................................................................... 159

LÁGRIMAS. .................................................................................... 163


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NOTA.

As crônicas reunidas neste livro, falam das pequenas coisas

do nosso dia a dia, são relatos e lembranças, retalhos da

memória, como também uma sutil critica a nossa sociedade.

Essas crônicas foram publicadas em meu blog e na minha

página no recanto das letras, essas crônicas nasceram no trajeto

que faço do trabalho para casa e algumas durante as minhas

noites de insônia. Espero que gostem destes textos.


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DIAS DE ANGUSTIA.

Levantei-me do rustico banco de concreto onde eu estava

e me sentei ao lado da mureta da agência bancária, " banco

Santander", rajadas de ventos frios e cortantes me alvejavam a

todo instante, assobiavam na orelha, não havia ninguém me

fazendo companhia, o silêncio apenas momentâneo. Algumas

pessoas passavam na calçada, semblantes carregados,

semblantes sorridentes, eram trabalhadores, homens e mulheres

a passos preguiçosos, dirigindo-se para a portaria da fabrica, eu

fiquei ali observando aquele movimento, enquanto na minha

cabeça passavam mil pensamentos imperfeitos.

Na verdade os meus muitos pensamentos se

congestionaram, um aglomerado de ideias distorcidas e desejos

malucos, uma vontade angustiante de sair correndo dali em

direção a qualquer lugar que não fosse à portaria daquela

fabrica, mas isso não seria possível, eu teria que terminar o meu

turno de trabalho, mesmo contra a minha vontade, afinal, todos

me consideravam um bom profissional, não era agora que eu

mancharia minha imagem.

Às vezes fico a refletir nessa minha imagem, eu

questiono essa minha imagem, a verdade é que às vezes eu

detesto a minha imagem, não sou do tipo amargurado ou

autodestrutivo, é que tem dias em que não acordamos bem, e

hoje é um desses dias, hoje eu não acordei bem, talvez o meu pé


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esquerdo fosse o primeiro a pisar no chão, também quem nunca

teve um dia assim, ruim ao extremo, carregado de azar e nuvens

negras.

Olho a hora no relógio do meu celular e levo um

tremendo susto, como a hora tinha passado rápido, sem que eu

percebesse, tenho apenas cinco minutos para retornar para o

trabalho. Não sei bem explicar o motivo, mas confesso que me

angustia muito a minha nova função na fabrica, ainda estou me

adaptando à rotina das novas funções, imagino que esse tipo de

sentimento seja normal em pessoas que passam anos fazendo

uma determinada função e depois mudam certo é que tudo o que

é novo assusta, assim como o primeiro dia de aula ou o primeiro

beijo da namorada, mas no meu caso, tudo me assusta de forma

potencializada, desde criança foi assim.

Sinto que apenas fui trocado de jaula, mas os leões que

me rodeiam são os mesmos, com a mesma ferocidade de

sempre, com a mesma sede de sangue, meu precioso sangue, é a

mesma coisa de antes só que em lugar diferente, trocaram os

vestidos, mas a noiva é a mesma, olho a hora novamente, eu já

havia passado da portaria da fabrica, quase não deu tempo, foi

por um minuto apenas, continuei a caminhar, agora a passos

lentos e cada vez mais lentos sem presa de chegar, sempre lento.

Atravessei a primeira faixa de pedestres e a segunda sem

ao menos olhar para os lados, dentro da fabrica eu me dava esse

luxo, mesmo porque e lei o motorista tem que parar para um

pedestre. Meu setor estava a exatos dez minutos de onde eu me

encontrava, mas na minha velocidade atual, dez minutos se


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transformaria em vinte ou mais. Eu não tinha presa alguma, meu

turno só terminaria às quatro da tarde, e ainda restavam três

horas inteiras onde eu teria que enfrentar os terríveis leões que

me aguardavam, sem dizer no capataz comandante e seu capitão

do mato, nada de novo debaixo do céu, apenas mais um dia de

trabalho e angústias.


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DIFERENÇAS.

─ Nós somos todos diferentes, ou somos todos iguais?

Essa é a grande pergunta da humanidade, mas no fundo no

fundo estou tentado a crer que não existem diferenças entre nos

seres humanos; expressamos as mesmas coisas, e por isso somos

todos de certa forma iguais.

─ Eu acho que não, definitivamente não sou igual a

você, eu te pergunto: O que levou você a crer nessa

possibilidade de igualdade entre os homens? Você me

surpreende José Carlos, um conceituado médico, o mago do

bisturi, eu só acho que você deveria ser o primeiro ser humano a

não concordar com essa ideia besta, somos diferente, vidas

diferentes, corações diferentes, gostos diferentes e assim por

diante, admita rapaz, somos iguais.

─ Não José Roberto, eu abandonei essa crença de

igualdade entre os homens, houve um tempo de obscuridade do

meu entendimento em que eu defendia essa tese de igualdade,

mas no decorrer dos anos, a penúria do dia a dia do meu

trabalho como médico cirurgião me fez enxergar as pessoas por


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outro ângulo, por esse motivo creio que somos todos iguais. As

pessoas tentam com grande esforço se mostrar diferentes, mas

há aqueles momentos que deixam transparecer grande

similaridade entre si.

─ Tá, tudo bem, digamos que nós somos todos iguais

como o senhor está falando, então, por favor, eu quero que você

me convença se possível com exemplos, vamos lá, pode

começar.

─ Ok, tudo bem, começarei usando como exemplo os

meus pacientes, vou toma-los como referencia até pela

convivência diária com eles, na maioria das vezes me deparo

com quadros clínicos horríveis, onde os maus hábitos dos

pacientes, por assim dizer, interferem na saúde dos mesmos,

dou-lhes as recomendações cabíveis para manterem uma saúde

saudável, como por exemplo: Boa alimentação, praticar esportes

frequentemente, e algumas outras coisas, é claro que eles não

terão que necessariamente seguir tudo a risca, mas o básico

disso ajuda e muito, mas ai vem às famosas desculpas da parte

de alguns e reclamações na tentativa de justificar o

injustificável; é sempre assim, no final acabam do mesmo jeito,

os que discordam e os que dizem concordar, acabam

contrariando todas as recomendações e por fim terminam ou na


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mira do meu bisturi ou em sua funerária. Por isso que é tudo

igual José Roberto.

─ É bem ai que eu não concordo com o senhor, todos

esses anos na funerária me fez ver o contrario, os homens

tentam ser iguais uns aos outros, mas na verdade são todos

diferentes.

─ Essa é uma questão de grande complexidade, você não

acha? Vejamos nós dois, estou tentado a lhe fazer crer no meu

ponto de vista, que é o oposto do seu; já você luta para derrubar

o meu, o que não percebemos ainda é que estamos sendo iguais,

sem percebermos nos enganamos o tempo todo, tentando ser

diferentes.

─ Não, não, e não mesmo; eu não sou igual a você José

Carlos, somos diferentes admita.

─ Te conheço a mais de trinta anos José Roberto, e posso

dizer que somos iguais.

─ Quer saber de uma coisa José Carlos, vamos terminar

de tomar essa última cerveja e vamos embora, a noite já chegou


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e essa conversa de bêbados não levara a lugar nenhum, se eu

demorar já viu né, a patroa reclama.

─ Nisso nós concordamos, é melhor irmos embora José

Roberto.

─ Tubo bem então, vamos embora, essa conversa não vai

dar em nada mesmo.

─ Essa conversa de sermos iguais ou diferentes confunde

a cabeça da gente às vezes, uma coisa eu posso dizer que é

verdade, quando morremos e estivermos em um caixão, seremos

todos iguais, independente do que éramos e de como vivíamos,

o destino é o cemitério.

─ É o que estou dizendo, diferentes ou iguais, morremos

do mesmo jeito.

─ É verdade José Roberto, esse assunto é muito

filosófico, melhor deixarmos para outro dia de folga.

─ Bom estou indo então, um abraço amigo, até mais ver.


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─ Obrigado amigo, qualquer dia desses marcamos um

jantar ou que acha.

─ Vai ser um prazer José Carlos, adeus amigo.


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EPITÁFIO.

Ás vezes a única coisa que precisamos é um pouco de

privacidade e silêncio; mas nem sempre isso é possível de

acontecer. Hoje estou em um desses dias, eu procuro

desesperadamente pelo silêncio, nada encontro senão um dia

difícil onde tudo parece dar errado.

Hoje é quarta-feira, o dia está nublado, e neste momento

estou deitado no sofá da minha casa, é quase seis horas da tarde,

estou muito cansado, dia terrível de trabalho. Com o controle

remoto da TV nas mãos, procuro por uma boa programação,

depois de passar e repassar todos os canais disponíveis na minha

TV, já irritado por não encontrar nada, desligo e ligo o rádio,

velho e bom rádio, companheiro de longas datas, comecei a

procurar por uma estação com boa música, depois de uma certa

demora, quando eu já estava prestes a desligar o rádio, achei um

estação que tocava músicas antigas, músicas nacionais é

internacionais, era essa a estação que eu queria, fiquei em

silêncio ouvindo as músicas e meditando em meus pensamentos

nada convencionais.

Ainda deitado no sofá, as pernas desajeitadamente


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esticadas, a esquerda na poltrona do sofá, a direita caída de lado

e apoiada em outra poltrona que estava no chão. Deixei o som

do rádio em volume médio, fechei os olhos na intenção de

dormir um pouco, eu queria esquecer aquele dia terrível. A

programação que encontrei tocava músicas agradáveis, músicas

nacionais, algumas antigas, mas todas as músicas tinham letras

bonitas e arranjos maravilhosos, nada dessa porcaria barulhenta

de hoje em dia. De repente, uma das canções chamou minha

atenção, o arranjo era muito bom, a letra melhor ainda, poética

demais eu diria; a canção era dos titãs, a música em questão

tinha o título de Epitáfio, a letra da música me levou a uma

profunda reflexão.

Depois que terminou a música desliguei o rádio, mas

aquela canção não saia da minha cabeça, mesmo depois de já ter

feito um monte de coisas, aquela música continuava martelando

na minha cabeça, confundia meus pensamentos, parei tudo o que

eu estava fazendo, e comecei a refletir da seguinte maneira,

dizendo em voz alta, para mim mesmo, aliás, eu dizia o

seguinte: “Se por um acaso cruel do destino, hoje fosse o meu

último dia de vida nesta terra, essa música me caberia bem.”

A letra é de fato interessante, de uma profundidade

filosófica enorme, mesmo porque, como diz certo poeta: "A vida

é uma curva na estrada, morrer é apenas não ser mais visto."

Talvez nunca consigamos viver a plenitude da vida, e o que


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deixarmos para traz são fragmentos de uma vida incompleta.

A letra daquela canção é mais ou menos assim;

" Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer;

Devia ter arriscado mais, e até errado mais, ter feito o que eu

queria fazer."

"Queria ter aceitado, as pessoas como elas são, cada um sabe a

alegria, e a dor que traz no coração,"

"O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído, o acaso

vai me proteger, enquanto eu andar..."

"Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol

se por; Devia ter me importado menos, com problemas

pequenos, ter morrido de amor."

"Queria ter aceitado, a vida como ela é, a cada um cabe alegrias,

e a tristeza que vier..."

Se pararmos para meditar em cada verso em cada frase,

descobriremos grandes verdades, não do mundo, mas de nos

mesmos, do nosso universo interior, nosso mundo falido,

descobriremos o quanto é bom viver por amor, "talvez quem


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sabe o acaso me proteja, pelo simples motivo de sempre estar

distraídos pelos caminhos tortuosos da vida", como eu disse

anteriormente: "Essa letra me caberia bem."

Uma coisa é certa, viver é uma arte, e na vida os

verdadeiros artistas são poucos, como diz a canção: " Queria ter

aceitado a vida como ele é, a cada um cabe alegrias e as tristezas

que vier."


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MAIS SERÁ O BENEDITO.

─ Que diferença faz se eles ou elas sejam lá como

queiram ser chamados, que diferença faz se estão ou não com

seios de silicones, se tiraram os genitais ou não, para mim não

faz a menor diferença, não tenho preconceitos, não sou a favor e

nem contra; o que fazem é problema deles e não meu.

─ Como assim Mário, então você não tem opinião

formada, esse é o assunto do momento, a impressão que tenho é

que nosso país está dividido ao meio, metade é a favor dos

homossexuais e a outra metade é contra, como você não tem

uma opinião formada a respeito, ou você realmente não se

importa ou está com medo de opinar, não da para ficar em cima

do muro.

─ Você está dizendo que estou com medo André, é isso

mesmo, você acha que tenho medo? Que estou em cima do

muro?

─ Para ser sincero eu acho que sim, você simplesmente

não diz nada, está sempre se esquivando do assunto, isso para

mim é medo.

─ Olha André deixa eu te dizer uma coisa, para mim

funciona assim: Não tenho medo, embora muitos tenham, e


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ficam com receio de expressarem as suas ideias e serem mal

interpretadas, homofobia da cadeia, mas veja bem, é exatamente

isso que eles querem; que o assunto seja discutido e que vire

polemica, que haja briga entre grupos e pessoas, que haja ódio e

agressões, essa é a ideia, quanto mais se fala nisso, mais vira

assunto; será que você não percebeu, e dai que um homem

resolve virar mulher, colocar seios e tirar o pênis fora, e dai que

uma mulher resolve virar homem e se casar com outra, a vida é

deles, eles fazem dela o que quiserem, entende. Por isso não

discuto o assunto.

─ Mário eu tenho outra pergunta, posso fazê-la? Você

me permite, já que essa é sua opinião.

─ Caramba André, será que não podemos comer em paz,

que coisa nem na hora do almoço você me deixa em paz, fica

falando o tempo todo.

─ Posso ou não fazer a pergunta?

─ Vai pergunta logo, e vê se depois me deixa comer

sossegado.

─ Não é a toa que sou seu fã, isso que é amizade, bom

vai lá então. Você é a favor do casamento entre pessoas do

mesmo sexo? Sim ou não?

─ Eu sabia, mas será o Benedito, deixa esse assunto pra

lá, que coisa, mas como te conheço a mais de vinte anos e sei

que você não vai me deixar em paz, eu respondo ok, mas com


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uma condição, que da sua boca não vai sair nenhuma outra

pergunta, pelo menos até terminar o almoço.

─ Eu te prometo que não falo mais nada Mário.

─ Essa pergunta é simples para uma pessoa que é gay, e

certamente te responderia que sim, mas a mesma pergunta

causaria furor e embaraço a um religioso, que daria mil

explicações para apenas dizer que não é a favor, já para mim

que sou nulo, que não tenho religião, te repondo da seguinte

maneira, o que uma pessoa faz do corpo dela é da conta dela, se

ela vai se casar ou não com a pessoa do mesmo sexo, isso é da

conta dela, eu apenas acho que deveria de ter mais respeito de

ambas às partes, ao invés de se preocuparem em se atacar,

deveriam na verdade de se preocupar com outros problemas que

assolam o nosso país, e não perder tempo com esse tipo de

conversa, com discussões que não leva a nada, de uma coisa eu

sei, nascemos do mesmo modo, e morreremos também da

mesma forma, a terra vai comer tudo, seja natural ou não.

Entende amigo, por isso não me atento a essas coisas.

─ Tá certo, você tem toda razão, tem tantas pessoas

passando fome nesse país, e as pessoas ao invés de tentarem

ajudar ficam se preocupando se fulano ou bertano é isso ou

aquilo, é tudo pura perca de tempo, o melhor é cuidarmos de

nossas vidas.

─ Agora, por favor, come quieto André, e me deixa em


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paz.

─ Ok Mário não está mais aqui quem falou.


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O TEMPO.

Raras nuvens em um céu de azul intenso, passeando

despreocupadas; o tempo passa sem percebermos, ninguém o

nota, mas os dias correm, e quando dermos conta disso, já se

passou quase o ano todo. Mas o tempo não carrega bagagens,

todos os dias ele deixa coisas para traz, o tempo não tem

preocupações, é solitário, ele simplesmente passa por nossas

vidas, passa todos os dias horas e minutos sem ao menos

percebermos a sua tímida presença.

O tempo é indiferente quanto ao meu e o seu sentimento,

é indiferente quanto às nossas preocupações diárias, é

indiferente aos nossos sonhos, é indiferente as nossas manias e

costumes, o tempo é assim, senhor de si mesmo.

Dizem que o tempo é responsável por curar algumas das

feridas de nossas almas, as mais profundas feridas, todavia, em

alguns casos, o que eu percebo é que o tempo não cura, pelo

contrário, só faz agravar ainda mais o que já está critico,

trazendo mais dor e sofrimento. O tempo ensinou aos dias, tudo


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aquilo que os anos nunca souberam, ele é responsável por trazer

a existência grandiosa conquistas da nossa era, contudo,

produziram amargas derrotas e desgostos, dor e sofrimento.

O tempo é desprovido de voz, ainda sim ouvimos o seu

mudo grito de silêncio, o tempo trouxe ao meu coração

inúmeras angustias, muitas tristezas e um numero ainda maior

de magoas e de decepções, tudo na forma de dolorosas

chibatadas de insônias constantes. O tempo trouxe o gigantesco

medo do inexplicável, de tudo de todos, até de mim mesmo.

O tempo foi impiedoso e cruel com a minha alma, um

carrasco maligno. Sem dar explicações o tempo acorrentou-me

ao tronco das preocupações, e ali me deixou caído e desfalecido.

O tempo é mascarado, não mostra a sua face, aliás, o tempo

nunca teve face, nunca teve misericórdia, ele apenas nos

massacra bom é viver sem ser prisioneiro dele. O tempo dobra

os corações mais duros, incompreensíveis, insensíveis e

inconstantes. O tempo é acostumado às almas mais arrogantes e

pobres, ele não as teme, não há muito mais o que dizer desse

cavalheiro das sombras, ele que se esconde no véu dos mistérios

e esconde neste mesmo véu os seus maiores segredos, colhidos

da humanidade ao longo dos séculos.


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Mas quem sou eu para falar dele, se os meus pés estão

acorrentados por ele, sou o seu servo, tal como um escravo ao

seu senhor, ele por sua vez me domina como um senhor ao seu

escravo. Dele temo o tronco das almas desesperadas, onde os

fracos são presos é castigado duramente.

O tempo também tem os seus méritos, foi responsável

por cultivar mentes brilhantes, tais quais de Albert Einstein e

Leonardo Da Vinci, eu poderia listar muitos outros, mas vejo

desnecessário tal trabalho. Não posso omitir que este mesmo

tempo teve seu lado obscuro, e sobre o terno negro da noite,

moldou a insana e demoníaca mente de um dos piores vilões da

história, Adolf Hitler e Benito Mussolini, existe ainda outros

nomes bem presentes, mas não me interessa cita-los.

Foi o tempo o responsável por tornar esses nomes

personalidades que ecoam em nossos dias, assim como

construímos um quebra cabeças peça por peça, o tempo nos

usou como peças para montar o quebra cabeça do universo,

montando o cenário triste de séculos inteiros, mas ainda restam

as últimas peças desse quebra cabeças.

Quero terminar dizendo que outro dia vi o tempo

caminhar pela praça, junto dele a velhice, eu não sabia que


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ambos eram amigos de longas datas, mas lá estavam eles, a

passos curtos e despretensiosos, de repente, se aproximaram de

um senhor que se sentou em um desses bancos antigos de

madeira, vinte minutos depois uma ambulância encostou

próximo ao banco, era aquele senhor, ele não respirava mais, foi

infarto fulminante, ele agora caminha com o tempo e a velhice

pela eternidade do esquecimento.


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CONVERSA DE APOSENTADOS.

─ O mundo de hoje está mesmo diferente, na nossa

época não existia essas maluquices, é impressionante como em

menos de cinquenta anos a sociedade mudou tanto; é como se o

mundo antigo nunca tivesse existido.

─ Concordo plenamente com o senhor seu Antônio, e

olha que te digo mais: vi algo ontem no jornal que me deixou

impressionado, de boca aberta, você acha que já viu de tudo,

mas dai vem algo que te surpreende.

─ E o que foi que o senhor viu seu José, não me diga que

é essas pessoas que casam com outras do mesmo sexo. Veja

bem seu José, neste mês completo sessenta anos, e vou te dizer

uma coisa; para mim não há nada mais absurdo, e o problema

maior que nem falar direito sobre o assunto pode mais, alguém

pode interpretar errado e processar a gente por homofobia.

─ Verdade mesmo, a coisa tá feia, está cada vez mais

estreito.


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─ O mundo está de pernas para o ar.

─ Passou no jornal de ontem, não sei onde, mas o cara

resolveu que queria ser mulher, veja o absurdo; primeiro ele

tomou hormônios femininos, em seguida colocou seios, iguais

aos de verdade, dentro de pouco tempo a feição masculina e a

voz grossa, transformou-se completamente, o que antes era um

homem, foi dando lugar a uma loira, e olha que não é qualquer

loira não, e o pior de tudo, para arrebentar de vez, ele mandou

tirar o pênis fora, o cara não tem mais pinto.

─ Meu pai do céu, que planeta é esse que estamos

vivendo, o cara arrancou o pinto fora, eu estou te dizendo, é o

fim do mundo seu José.

─ Verdade né, em nossa época não se via essas coisas, se

tinha era muito bem escondido. Hoje em dia não se esconde

mais nada de ninguém.

─ A coisa está feia mesmo, e, aliás, cheque mate ─Disse

seu Antônio posicionando suas peças em uma posição

estratégica no jogo de xadrez.


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─ Não pode ser, perdi novamente; está difícil ganhar do

senhor seu José Benedito, desde que o senhor se aposentou da

prefeitura, virou especialista em xadrez.

─ Também, é só o que eu faço ultimamente, mas você

também é bom, é que hoje você está distraído, deve ser o calor,

sei lá, ou está assustado com a noticia da mudança de sexo, do

cara que virou mulher, e agora não tem mais pinto, eu só fico

pensando como ele faz para urinar.

─ Falo nada viu, olha está quente e é melhor irmos

embora, daqui apouco é hora do almoço.

─ Vamos então cansei de ganhar do senhor.

Os dois senhores se levantaram e recolheram as suas

coisas e saíram lentamente, como fazia todos os dias, esta cena

chamou a minha atenção, quando eu passava por ali, quando

perguntei a um dos aposentados que costumavam ficar naquela

praça, a respeito daqueles senhores, ele me disse os seus nomes,

e também que eles faziam esse ritual todos os dias, chegavam

cedo, jogavam xadrez até a hora do almoço, sempre discutindo

os mais diversos assuntos do noticiário da noite anterior. Isso a

mais de dez anos, coisas de aposentados.


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O CAMINHO DA PADARIA.

Mulheres de vestidos escuros e bonitos lenços cobrindo

o rosto passaram por mim naquela agradável manhã de

domingo, eu era apenas um transeunte qualquer caminhando

despreocupado pela calçada da minha rua, observando com

atenção as casas em construção, quando esse grupo de senhoras

passou por mim, não lhes dei muita atenção, continuei a

caminhar, o meu objetivo era a padaria que ficava no final do

quarteirão; um pouco mais à frente tomado pela curiosidade

resolvi dar uma olhada para trás para ver onde aquelas senhoras

estavam indo, e lá estavam elas juntas a outras mais. foi então

que compreendi que na verdade elas estavam indo a um velório,

eram de certa denominação evangélica, por isso usavam os véus

negros cobrindo o rosto, por respeito não vou citar o nome dessa

denominação, só percebi depois de terem parado em frente à

casa de seu João, a sua esposa, irmã Judite, como era conhecida,

era dessa igreja.

Continuei a caminhar despreocupadamente, as mãos nos

bolsos balançando as poucas moedas que eu levava comigo, um

real e cinquenta centavos. Continuei minha lenta


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caminhada, admirando as casas e as construções, suas belas

estruturas, em algumas casas havia jardins belíssimos, já em

outras apenas o concreto cinza escuro. Algo que muito me

impressionou foi o tipo da arquitetura usada nas casas da minha

rua, numa primeira analise; o que percebi foi que os moradores

usam um mesmo estilo de construção, todas obedeciam aos

mesmos padrões de estética, só se diferenciavam pelas cores.

Fiquei pensativo e na minha imaginação conclui que foi o

mesmo pedreiro que construiu aquelas casas, no mínimo era

isso, acredito que os moradores combinaram no estilo de suas

construções, não seria possível que isso fosse uma coincidência.

Faltava pouco para chegar à padaria, que por sinal é a

melhor do bairro, considerando que no bairro possuía apenas

duas padarias; no inicio do quarteirão tinha outra, mas os seus

produtos eram de péssima qualidade, e a falta de higiene dos

funcionários a fez perder muitos clientes. Imaginem vocês, certa

vez comprei um pastel de carne nessa padaria, a pedido da

minha esposa, na primeira mordida que ela deu no pastel, qual

não foi a sua desagradável surpresa, no meio do recheio de carne

ela mordeu um pedaço de esponja de lavar louças, dessas

amarelinhas, desde aquele dia jurei que nunca mais compraria

ali, e olha que esse fato desagradável voltou a repetir-se com

outras pessoas.


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Finalmente adentrei na padaria do senhor Oswaldo, e

como de costume a fila estava enorme, e não era para menos,

domingão, quase todos estão de folga. Na fila tinha todo tipo de

pessoas; magras, altas, gordas, pequenas, algumas conversando,

outra quietas, e havia aquelas com rosto sisudo, inquietas,

parecendo até que chuparam limão. No balcão tinham duas

balconistas, moças educadas e sorridentes que atendiam com

muita agilidade, no momento que chegou a minha vez de ser

atendidos, os pães do balcão tinham acabado, tive que esperar

um pouco mais até a próxima fornada, vinte minutos se

passaram e finalmente fui atendido, já no caixa contei as minhas

moedas pequei os pães, que por sinal estavam quentinhos e o

cheiro chamava a atenção, retornei para minha casa nos mesmos

curtos e despreocupados passos, observando as belas casas

daquela rua, afinal, nada como um agradável dia de domingo

para relaxar.


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A ORIGEM DO HOMEM.

─ Segundo Darwin, o homem tem a sua origem dos

macacos, você acredita mesmo que nos viemos do macaco?

Parece um pouco absurda essa teoria, não é mesmo Jorge.

─ Porque absurdo? Porque você acha que os estudos de

Darwin são meras teorias? Pode dizer Mateus, eu sei que você

defende as teorias da Bíblia, e toda aquela história da criação e

da origem do homem a partir de Adão e Eva.

─ Eu já te expliquei que não é teoria, é algo muito serio,

viemos de Deus, ele nos criou a sua imagem e semelhança, criou

todas as coisas, está tudo na Bíblia, é só você procurar, a bíblia é

um livro completo e confiável.

─ Perdoe-me Mateus, mas tenho fortes motivos para crer

em Darwin, creio que o homem evoluiu e vem evoluindo, esse é

o ciclo natural das coisas, veja as crianças de hoje, são tão mais

inteligentes quanto nos éramos. Minha mente é racional e

puramente cientifica, acredito no que os olhos possam ver as

mãos tocar e a ciência provar.


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─ Você não muda mesmo né Jorge, sempre querendo por

a ciência acima de Deus, jamais a ciência será superior a Deus; é

loucura pensar assim sabia.

─ Você me surpreende Mateus, deixa eu te dizer uma

coisa: Somos amigos desde o colegial, e acredite, não sou contra

você ter mudado de religião, nem ligo, achei até legal, você

parou com as bebedeiras e com as drogas, mas parece que você

sofreu uma lavagem cerebral no que desrespeito a ciência

evolutiva.

─ Diga o que quiser amigo, antes mesmo de me

converter eu tinha a mesma opinião sobre a origem do homem,

eu só não manifestava minhas ideias. E para sua informação,

Darwin se converteu no fim de sua vida desmentindo sua teoria

da evolução.

─ Olha amigo me desculpe, mas já vi que nossa conversa

não vai chegar a um consenso sobre a origem do homem, sou

um cientista, você um religioso, somos opostos, o retrato da

sociedade deste tempo, a ciência dos descrentes e ateus, contra a

religião dos que se dizem Cristãos. Quem está certo, e quem está

errado? Ambos dizemos poder provar com evidencias as nossas

ideias, mas a verdade é que não provamos nada com isso.


34

─ Belas palavras senhor cientista, estou impressionado.

─ Obrigado, senhor pastor, mas é melhor irmos tomar

um café na cantina da faculdade, é por minha conta, depois

continuamos o assunto.

─ Tudo bem vamos lá então, depois do café debateremos

outra questão muito importante que essa sobre evolução, e até o

presente momento sem resposta.

─ É qual seria essa tal questão?

─ Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?

─ Lá vem ele, sempre provocando, digo nada viu; vamos

tomar nosso café, anda, café vai despertar o seu celebro

adormecido.

─ Então vamos, tenho provas hoje.

─ Eu também, tenho três.


35

─ Boa sorte para nos dois então, as duas mentes mais

brilhantes da faculdade, e a mais bonita e pacifica amizade entre

o homem da ciência e o homem da religião.

─ É isso ai, viva a nos dois, homens de bem.


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COISAS ABSURDAS.

Surpreendente mundo com suas muitas coisas absurdas;

não era para ser dessa forma, é muito estranho ver que este

mundo só mudou para esquisitice, e o que mais impressiona é a

forma que a estranheza foi entendida e interpretada; para muitos

o estranho tornou-se algo normal e indispensável.

Se fosse possível voltar no tempo, se de repente fosse

construído uma maquina do tempo e com ela viajássemos

cinquenta anos atrás; eu escolheria visitar o meu falecido avô, e

relataria para ele todas as coisas absurdas que estariam por vir,

certamente que de primeiro momento além de não dar credito a

nada do que eu o falasse, ele me consideraria um forte candidato

ao manicômio, embora as absurdidades da minha época

tivessem seu principio naqueles dias.

De uma forma sutil e quase imperceptível, tudo teve o

seu inicio debaixo dos olhos deles sem que eles percebessem,

acredito que pelo fato de não terem televisão e nem internet,

muitas informações passavam despercebidas, vivemos na era da

velocidade digital, computadores modernos, e outras mídias que


37

coloca o mundo dentro da nossa casa, o máximo de informação

que meu avô tinha vinha de um velho rádio a pilha, usado com

exclusividade para assistir seus jogos.

Mas a estranheza estava lá, escondida nas entrelinhas do

imperceptível, quase camufladas; mas estavam lá se preparando

para um grandioso futuro. Lembro-me do meu tio avô com as

orelhas coladas no velho rádio de pilha, ouvindo atento o seu

time jogar, saudoso tio Luiz, Lembro-me das várias vezes que o

vi enfurecido quando o seu time perdia o jogo, ele era o tipo

amável de pessoa, morava em uma fazenda e raramente ia à

cidade, só em tempos de eleição, mesmo assim forçadamente.

Agora imaginem; se ele que presenciou alguns absurdos dessa

era, quase não cria e muitas das vezes não aceitava algumas

delas, o que dizer então do pai dele, meu bisavô, qual fantástica

e até fantasmagórica se lhe mostrássemos um televisor de ultima

geração, no mínimo ele diria; “Isso é coisa do demônio

menino.”.

O nosso planeta está em constante mudança, rápida

mudança, muito mais do que podemos imaginar, a nossa

economia raquítica e cheia de falhas, impede o nosso país de

crescer, e isso tem um impacto direto em nossas vidas. Vejam

que em países de primeiro mundo a tecnologia está a anos luz da


38

nossa, de forma que nos espantamos com as coisas que

aparecem por lá, causando em nós estranheza, mas que para eles

é coisa mais normal do mundo.

Agora retornemos ao ponto inicial dessa crônica,

considerando que não é preciso ir ao passado e nem ao futuro

para ficar espantado com as coisas que vemos, imaginem se o

meu avô na sua adolescência recebesse uma visita minha, um

viajante do futuro que lhe mostraria os absurdos que ainda

aconteceria certo é que ele ficaria pasmado sem acreditar no que

o homem faria a sua própria espécie.

Eu posso então dizer que toda a minha imaginação do

absurdo em relação ao meu futuro, não só é perfeitamente

possível como também é ainda muito pequeno perto do que está

por vir, o absurdo de amanhã nasceu hoje, e nos nem

percebemos o seu choro, não sei se estarei vivo para ver, mas

espero que pelo menos essa crônica sobreviva ao tempo, para

que as pessoas do futuro saibam que aqui no passado o futuro já

era uma realidade na mente deste cronista.


39

VIL PAPEL.

─ Quem o matou?

Perguntou um dos detetives.

─ Estão dizendo lá no departamento que foi imperícia

médica, mas a verdade é que ninguém sabe ao certo o que de

fato aconteceu.

─ Será mesmo Carlos, será mesmo que foi imperícia

médica, afinal, quem foi que saiu com essa conversa.

─ Olha Diego, que fique só entre nos dois, mas isso ao

que me parece, tem cara de ser do Leandro, esses dias eu estava

em um dos banheiros do escritório, de repente entrou o Leandro

e o Vinicius, os dois estavam comentando o caso, eu ouvi tudo,

eles nem perceberam a minha presença.


40

─ Caramba Carlos, isso é muito serio, olha as proporções

que a coisa tomou daqui a pouco essa conversa cai no ouvido do

delegado, ai a coisa vai ficar pior.

─ Sabe o que é pior? É a família desse cara, como

ficam? Eu não ia dizer nada, mas como já estamos falando do

assunto, até vídeos dizem que tá rolando na internet.

─ Que tipos de vídeos Carlos, como assim, mais essa

agora.

─ Eu não vi, estão dizendo que um dos enfermeiros que

participou da cirurgia gravou alguma coisa com o celular, e na

gravação tem uma voz que ao que parece ser do médico dizendo

que tinham errado onde não poderia errar.

─ É o que estou dizendo, escuta só, se fosse um pobre

qualquer que tivesse morrido nas mãos desse médico por

imperícia, não daria nada, mas como é um cara famoso e cheio

da grana, vão cair em cima para saber o que aconteceu.

─ Vamos esperar para ver né.


41

─ Fala sério, é uma vergonha esse nosso país, como

pode, é isso que me revolta, uma simples cédula de papal mexe

com o caráter das pessoas, como pode bens tão preciosos valer

simples cédulas de papel; bem que a minha avó dizia, " Meu

filho, o dinheiro é a causa de toda a maldade do mundo." É bem

verdade, veja o nosso trabalho por exemplo, temos que resolver

casos de assassinatos, de pessoas que na sua grande maioria

tiram a vida uma das outra por essa simples cédula de papel. E

agora isso, essa maldita cédula de papel vai manipular todo esse

caso, ao bel prazer daqueles que podem pagar.

─ Pois bem Diego, esse vil papel é que paga as nossas

contas, bom ou ruim, infelizmente precisamos dele.

─ Eu sei Carlos, isso me revolta; saber que esse possível

caso de imperícia, mesmo que não seja provado, vai passar a ser

por força da mídia, esse vil papel que está por detrás de tudo

isso, é ele quem matou esse politico.

─ É amigo, e não podemos fazer nada, aqueles que

podem fazer, nada faram; é sempre assim né, que novidade tem

nisso, nem sei porque estamos surpresos.


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─ Vamos então, já estouramos a hora de almoço, vamos

levar outra bronca, vai ser a terceira esse mês por chegarmos

atrasados depois do almoço.

─ O importante é aproveitarmos bem o almoço, o dia vai

ser longo, chato e cansativo, e afinal, a pergunta continua.

─ Quem o matou?


43

AUSÊNCIA.

Sou um poeta apaixonado, e espero por você com

ardente desejo, conto os minutos e os segundos para o teu

retorno te desejando de uma forma sublime e inexplicável,

permita me perder nas perigosas curvas escorregadias da minha

imaginação, estou a sonhar de olhos abertos com sua delicada

beleza, te visualizo na tela do pensamento.

Desejo cada centímetro seu, desejo percorre-lo

lentamente, desejo sua forma natural, assim como as abelhas

anseiam a seiva virgem de uma flor, da mesma forma anseio teu

néctar do amor, desejo isso e muito mais, não só por um dia,

mas em todos os meus dias, numa eterna busca do meu eu em

você do seu eu em mim.

Você é simplesmente linda, essas simples e pobres

palavras não possui profundidade necessária para definir com

exatidão toda a sua beleza, porem é a única que encontrei neste

momento. Faz silêncio agora, e nele posso ouvir a canção do

meu exilado coração, canção de amor, o meu corpo todo é uma


44

canção de amor com notas de prazer, aguardo desesperado pelos

teus mágicos toques, arrancando em mim versos de prazer.

Desejo-te na amplitude do desejar, tenho uma certeza

dentro de mim, tu és a dona magnifica deste aedo seio

apaixonado, trago em cada palavra que escrevo a sua ternura ,

toda a poesia da minha alma insana, e no meu corpo as insígnias

dos teus toques de prazer.

Meus sonhos contigo são sempre surreais, uma ponte

estreita entre o ficcional e o real, uma voz poética do meu olhar

de amor, tu que governas o meu pequeno barco, tuas firmes

mãos conduzem o meu leme neste mar de tempestades, és a

minha inspiração, és as minhas rimas, és o meu tudo em um

pingo de nada.

Quero que o silêncio me conte as tuas historias de amor e

os teus sonhos de ventura, quero conhecer os teus desejos mais

secretos, segredos que navegam no oceano do teu olhar. Meu

coração é teu e o teu coração é meu, nesta constante busca de

um pelo outro.

Eu quero ser para você muito mais que um sonho de

amor, muito mais que um beijo ardente, muito mais que puro


45

prazer. Eu quero ser para você a alegria de todos os dias e de

todas as horas, quero ser o sorriso no meio da madrugada, o

beijo que te faz estremecer, o cobertor no dia frio, eu quero ser a

voz amiga que os teus ouvidos sempre anseia, Desejo ser para

você tudo o que você deseja de bom para você, serei o teu

recanto de amor, somos duas aves livres a voar, e este imenso

céu azul será nosso ninho de amor.

Estou te esperando com ardente desejo, desesperado com

a tua ausência, meu corpo quer o teu corpo e meus lábios

querem os teus lábios, a tua essência nasce no amor Divino. As

horas não passam e os ponteiros do relógio se arrastam com

demora, não suporto mais a tua ausência, quero te abraçar e te

beijar, seu e inteiramente seu é o meu amor, em meu peito bate

um coração dedicado a desvendar os mistérios do teu olhar e de

teus sorrisos.

Enquanto as horas se arrastam nos ponteiros do relógio,

na sua demora, rabisco meus pensamentos na alvura do papel,

rabisco esta crônica no mesmo tempo de um olhar demorado,

enquanto aguardo silencioso pelo seu retorno.


46

A DECISÃO.

─ Bom dia a todos, hoje, terça-feira, são vinte horas e

cinquenta minutos, estamos reunidos em caráter de urgência; Se

faz presente nesta reunião, a consciência, a razão, o sentimento e

o caráter. O motivo dessa convocação extraordinária, de

estarmos presentes no intelecto de Carlos Almeida, é o fato de

ele estar neste momento diante de uma importante decisão a ser

tomada, mas para isso ele terá que fazer uma escolha. Na

primeira opção; ele dará ouvidos ao seu colega de infância, em

seu convite para adentrar ao mundo das drogas, a segunda

opção; e dar ouvidos ao seu novo amigo que é cristão e o seu

convite para ir à igreja. Após tomarmos a decisão a enviaremos

ao seu cociente na forma de pensamento. Iniciaremos essa

reunião com a palavra da consciência.

─ Bom dia a todos, eu sou a consciência, colocarei a

minha opinião e decisão sobre as opções apresentadas. Embora

o amigo de Carlos o conheça desde a infância, seu ato não

convém com a de um verdadeiro amigo, todos nos sabemos o

quanto as drogas são prejudiciais à saúde, a primeira vez é de


47

graça, mas depois que ele estiver viciado será escravo da droga,

e todos nos sofreremos com isso, meu voto é a favor do Cristão.

─ Bom dia a todos, eu sou a razão, de inicio vou já

discordando com o que a consciência disse, Carlos conhece o

amigo Diogo há vinte anos, sinceramente não há motivo para

preocuparmos, ele vai só experimentar, Carlos é uma pessoa

forte, uma vez só não fara diferença. Sendo assim, por que

entristecer um velho e bom amigo, que sempre esteve presentes

na sua vida, nas horas ruins e nas boas também, meu voto é a

favor de Diogo e contra cristão.

─ Temos um empate, o próximo, por favor.

─ Bom dia a todos, eu sou o sentimento, quero que fique

bem claro que toda essa situação me entristece muito, vou ser

breve, Carlos conheceu Diogo quando ainda nem compreendia o

conceito de amizade, ambos cresceram juntos, existe uma

ligação muito forte entre os dois, um bonito sentimento que de

maneira nenhuma deve ser quebrado; sabendo a longa data desta

amizade e a carga emocional sobre ela, não vejo problemas em

Diogo oferecer drogas ao amigo, Carlos é mais forte que as

drogas, meu voto é contra cristão e a favor de Diogo.


48

─ Temos um desempate, caso o caráter empate a

votação, eu darei o voto de minerva, caso contrario, de Diogo

ser a opção escolhida a reunião estará encerada.

─ Bom dia a todos, eu sou o caráter, depois de observar

tudo atentamente e refletir sobre a questão, acho importante

lembrar a todos que não estamos discutindo sobre a amizade de

Carlos, e sim sobre a vida dele, haja vista que a decisão tomada

dará novos rumos a sua história, sejamos sensatos, a quem vocês

querem enganar; droga são droga e pronto, o próprio nome já

diz por si só, nunca fez bem a ninguém e nunca vai fazer ela

destrói e mata. Por isso meu voto é a favor da vida, ou seja, de

cristão.

Um alvoroço se formou na mente de Carlos, do seu lado

esquerdo o amigo Diogo insistia para que ele o acompanhasse

até a boca de fumo, do lado direito, o seu novo amigo cristão

insistia para ele ir para a igreja com ele, lá nas profundezas do

olhar de Carlos a reunião continuava.

─ Atenção, silêncio, atenção, ordem, por favor,

obrigado... Como foi decidido anteriormente, eu vou dar o

último voto que culminara na decisão final de Carlos, sem mais

delongas e nem muitas explicações, as palavras que o amigo de


49

Carlos, no caso cristão, falou para ele, adentrou em mim, o

coração, por isso vou decidir o melhor para vida dele, meu voto

é a favor de cristão, por favor mande essa mensagem no

cociente de Carlos imediatamente, termina aqui esta reunião.

Neste momento, que na verdade foi uma questão de

poucos minutos, Carlos olha para o amigo e diz:

─ Amo você meu amigo, te conheço há muito tempo,

mas o caminho que você está seguindo não é bom, por isso pela

primeira vez vou recusar um convite seu, vou à igreja com o

José.

Assim saiu Carlos da presença de Diogo e seguiu com o

novo amigo até a igreja que ficava próxima dali.


50

ALMOÇO DE DOMINGO.

Almoço de domingo é especial, não deve de maneira

nenhuma ser feito em nossa própria casa, ele é na sua essência

todo e cheio de expectativas, por isso não pode ser feito em

nossa casa, não combina com o domingo ficar preso no

corriqueiro cardápio de sempre, e essencial e indispensável

procurar uma casa que esteja de portas abertas para te receber,

casa de um amigo, de um parente, qualquer uma, mas no geral, a

grande maioria procura a casa da mãe em dias de domingo, não

há lugar melhor para um dia de domingo, verdade seja dita.

Devemos considerar esse costume comum, quase como

um ritual em muitas famílias brasileiras, que religiosamente

procuram a casa da mãe para o almoço de domingo, abençoado

almoço. Tudo o que nossas esposas mais querem, um dia de

descanso longe do fogão e das panelas, de planejar o cardápio e

tudo mais, pelo menos em teoria era para ser assim, mas... Não é

o que acontece.


51

Na prática a realidade é outra, as nossas adoráveis

esposas nunca que conseguem ficarem quietas, quanto menos se

espera, lá estão elas, de frente com o fogão em descontraídas

conversas que nunca parece ter fim. Na maioria das vezes há

mais de uma família na casa da mãe. E essa história de mais de

uma família reunida para o almoço de domingo na casa da mãe,

é uma realidade na minha família em quase todos os domingos,

imaginem vocês, vários mineiros no mesmo local, todos falando

ao mesmo tempo ao redor de uma mesa enorme, é isso o que

acontece quando minha família se reúne.

Quem é mineiro entende do que estou falando, neste

último domingo não foi diferente, o almoço foi na casa da minha

mãe, uma pequena parte da família estava presente, e foi o

suficiente para encher a casa, tios, tias, primos e primas, todos

na expectativa do almoço, que demorou bastante para começar,

tudo devido à indecisão sobre o que seria feito, na pauta estava

como opção, costela, frango e panquecas, no final a decisão foi

unanime, escolheram todas as opções, assim todos ficariam

contentes.

Depois de muita conversa e altas gargalhadas, é que o

almoço foi começar a ser feito, isso já era onze horas da manhã,

enquanto as crianças brincavam na sala, os demais adultos se


52

reuniram na cozinha, os homens estavam ao redor da mesa

discutindo sobre futebol, as mulheres se dividiram entre os

afazeres culinários, todas faziam de tudo ao mesmo tempo e

conversavam sobre mil assuntos, habilidades somente digna das

mulheres, a barulheira que estava sendo feita era de assustar

qualquer um, a impressão para quem estava na rua era que

estava acontecendo uma briga, mas era pura conversa de

mineiros barulhentos que somos.

Houve um tempo quando o meu tio tinha um sitio, muito

bonito por sinal, nesse sitio, todo o final de ano nos reuníamos

naquele agradável pedaço de terra, no sítio tinha de tudo,

campinho gramado, piscina, lago para pescar, uma casa enorme

com área de churrasqueira e... Fogão a lenha, tudo muito bem

arrumado. Nossas reuniões eram sempre no final do ano, toda a

família sem exceções se reunia para o tradicional almoço de

natal, até o padre da paroquia era convidado, tudo acontecia da

mesma forma que na casa da minha mãe só que em grande

escala.

Tempos bons aqueles, pena que não volta atrás, mas

sempre que estou na casa da minha mãe revivo um pouco desses

momentos, o importante mesmo é a união que rege minha

família, isso é mais que um privilégio é um presente de Deus.


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A EXISTÊNCIA DE DEUS.

─ Deus não existe Maurício, viemos do nada, o universo

está em constante evolução, desde o começo é assim e sempre

vai ser.

─ Ah... Mas claro que sim, é perfeitamente

compreensível Ricardo, interessante que quando vou ao

zoológico, por exemplo, não vejo nenhum traço de evolução,

não vejo isso nos chimpanzés e nem em animal algum, essa sua

paranoia cientifica de que Deus não existe, tenha dó né.

─ Isso amigo, vai satirizando Maurício, vai satirizando,

ignore anos e mais anos de pesquisas cientificas, pesquisas

elaboradas pelas mentes mais brilhantes do planeta, o seu

problema é não reconhecer a maravilha que é a ciência; veja só

as crianças de hoje, são provas da evolução humana, do

aprimoramento do conhecimento, elas são muito mais

inteligente do que nos éramos quando crianças.

─ Isso explica apenas uma coisa Ricardo.


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─ Que coisa?

─ O acesso fácil dessa nova juventude a informação,

hoje as crianças tem muito mais informação, celulares,

computadores, e tantas outras coisas. Na nossa época não

tínhamos isso, era apenas um radio velho a pilha, que mais

parecia uma caixa de abelhas ambulante. Outra coisa, você vai

torcer o nariz, mas... A palavra de Deus está correta, no livro de

Daniel está escrito que nos últimos dias a ciência se

multiplicaria; toda a ciência e seu salto evolutivo foram previsto

pela Bíblia.

─ Lá vem você com esse papo de Bíblia novamente, eu

gostava de quando você não tinha religião, depois que você

mudou de religião ficou chato, esquisito, quadrado, sinto falta

do Maurício de antigamente.

─ Eu não tenho saudades daquela época, naquela época

eu bebia muito, fumava muito, não levava nada a serio, brigava

com todo mundo, É desse cara que você tem saudade?

─ Claro que não né, você quase morreu tentamos de

tudo, nada deu certo, mas foi você mudar de religião e pronto,

ficou bitolado.


55

─ Que homem era aquele? Responda-me, um bêbado

que vivia pelas sarjetas, fétido e todo machucado de tanto brigar.

Em que a tua ciência e os teus brilhantes pensadores me

ajudaram?

─ Em nada amigo, em nada, tenho que reconhecer isso.

─ É isso que muitos não compreendem Ricardo, não é o

titulo religião que muda o homem, mas sim Jesus, o filho de

Deus, você não acredita, mas qual outra explicação você tem?

As pessoas confundem muito as coisas, não é questão religiosa,

é mudança de vida.

─ Você não desiste né, mas tem muitas coisas sem

explicação por ai, o que você me diz disso.

─ A Bíblia mesmo responde Ricardo, ela diz que vemos

por espelho, em partes, mas vai chegar o dia em que veremos e

conheceremos como somos conhecidos.

─ Se Deus existe Maurício, porque ele permite tanta

coisa ruim acontecer?


56

─ É simples amigo, Deus nos deu o maior de todos os

dons, o do livre arbítrio, o direito de escolha, e isso inclui

acreditar nele ou não, querer a ajuda dele ou não, mas é claro

que toda a escolha tem sua consequência, para o bem ou para o

mal, Deus não permitiu o mal, foi o homem que o escolheu para

si.

─ Olha amigo, perdoe-me, acho que ainda não estou

preparado para isso, eu sou cientista, minha mente tem

dificuldades para aceitar no que eu não posso ver e comprovar

existe um abismo entre nós.

─ O fascínio das pessoas pelo mundo e suas

modernidades não as permite verem Deus, crer nele, ele é o

criador de todas as coisas, Deus é o inicio de tudo, da própria

ciência. Deus é a resposta de tudo, e a ciência é apenas um filho

rebelde que mais cedo ou mais tarde vai se render aos braços do

seu criador. Hoje sou pastor, não para construir templos de

tijolos, mas sim construir novas vidas, novos corações, não

trazemos riquezas a ninguém, mas sim paz de espirito, coloque

Deus na sua vida e sua ciência será ainda melhor Ricardo.

─ É difícil para mim, você me conhece há tanto tempo,

sabe do que estou falando, eu reconheço que hoje você é dez


57

vezes melhor, em tudo, isso é surpreendente, não há explicação

logica, talvez qualquer dia desse eu vá à sua igreja, olha não

estou prometendo nada viu.

─ Tudo bem amigo, eu estarei te esperando, fica a seu

critério e no seu tempo.

─ Bom, perdoe-me, mas tenho que ir, eu tenho culto para

ministrar daqui a pouco, foi um prazer tomar esse café com você

Maurício.

─ O prazer foi todo meu amigo, até mais ver.


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SOLDADOS DE CHUMBO.

Enquanto as nuvens navegam esquecidas no céu, somos

esquecidos aqui nesta terra de ninguém. As angústias e os

sofrimentos se avolumam a cada dia, dor sobre dor, aflição após

aflição, em um interminável ciclo de sofrimento.

As altas esferas governamentais de nosso país se

esquecem de olhar para frente, enxergam somente seus próprios

umbigos, buscando em seus cargos políticos interesses que só a

eles interessam. Muitos pensam que estes acontecimentos sejam

prenuncio do fim, talvez seja mesmo o nosso apocalipse, de

certa forma estamos na beira do abismo, e não notamos que

estamos prestes a cair, é uma questão de tempo, para que os

soldados de chumbo sucumbam ladeira abaixo, dizendo adeus a

pátria do medo.

Enquanto as nuvens continuam a navegar errantes no

oceano imenso deste céu, meus pensamentos vagam esquecidos

nas desertas estradas da minha mente. Meu coração cheio de

incertezas e dor se escondeu por detrás da cortina da solidão,

nos meus lábios ficou um sorriso triste.


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Estamos na contramão dos nossos desejos, dos nossos

planos já nem sei mais, a vida neste país se torna confusa e de

difícil entendimento, nos sentimos menos humanos a cada dia, e

um pouco mais irracionais, escravizados por um sistema

totalitário, perdemos o direito de ter direitos, simples assim.

Estamos na terra do nunca, esquecida na América do sul,

não somos vistos com bons olhos, existe sempre uma

desconfiança por parte das outras nações a nosso respeito,

lutamos contra as bestas feras de um sistema falido, um sistema

que da sentença sem julgamentos, somos considerados como

gado pelos bilionários, um amontoado de almas mortas.

Nossa voz é fraca e inaudível, sussurros nos ouvidos

surdos de um Brasil doente, A humanidade nos faz menos

humanos, e nossas cidades e estados como bem diz certo livro

de um conhecido autor americano, são cidades de papel. A

humanidade descarrilhou-se dos trilhos da sabedoria, trocando-a

por uma forjada nos calabouços infernais da ignorância.

A humanidade com suas ditaduras suicidas, cheia de

homens bombas, e crianças que matam crianças. A humanidade

com seus diálogos pacifistas, dizendo para as pessoas serem

melhor, mas por detrás das cortinas esconde seus os cadáveres.


60

A humanidade com seu deus de papel, cheia de homens

com seus corações corrompidos, vazio de tudo diante de todos.

A humanidade escreve na areia da praia sua história, contando

em fábulas os prodígios de seu passado, as suas muitas histórias

são mentiras criadas por imbecis, e cada vez que essas mentiras

são repetidas, elas viram verdades mentirosas.

A humanidade falida e suas ideias falidas, cheia de

homens repletos de nada, caminhando como bêbados em uma

ladeira de pedra. A humanidade se perdeu no meio do nada, e o

nada se embrenhou no meio da humanidade, somos todos

fantoches nas mãos de políticos fantasmas.

A humanidade está corrompida e cheia de chagas, feridas

sendo tratadas por almas desvalidas, em lugares sombrios, a que

chamam de hospitais. A humanidade tão desumana, destruidora

de vidas e sonhos, estamos à beira do precipício, com uma corda

no pescoço, afinal, somos todos soldados de chumbo na pátria

do medo.


61

ESTÁ FALTANDO MATÉRIA PRIMA.

─ Quem são os verdadeiros ladrões dessa nação?

Responda-me, quem são os que usurpam o pobre trabalhador?

Pois eu mesmo respondo; É esses políticos, essa corja de

salafrários, são eles os responsáveis por tantas desigualdades

sociais em nossa nação, são eles os responsáveis pela alta taxa

de desemprego, nunca se viu uma taxa de desemprego tão alta; e

o que eles estão fazendo a respeito? Pois eu mesmo respondo:

Eles não fazem nada, estamos nas mãos sujas desses nojentos

sanguinários. O brasileiro tem que despertar, é o momento dessa

nação se levantar, o nosso hino diz em uma de suas estrofes que

somos gigantes, se de fato somos, este é o momento de

provarmos isso, de fazer com que esses ladrões entendam que

merecemos respeito, sabe de uma coisa amigo, eu estou enojado

de tanta corrupção nesse país, enojado.

─ Que revolta é essa Jorge, meu Deus do céu, se acalme

meu velho, desse jeito você vai enfartar.

─ Olha Maurício, eu fico louco com essas coisas, isso

me revolta sabia, ver tanta desigualdade assim, ricos ficarem

cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres, é

inadmissível. Pagamos as mais altas taxas de impostos do


62

mundo, em lugar nenhum vemos impostos tão abusivos como

em nosso país.

─ O que podemos fazer Jorge, se os mandatários e as

mandatarias dessa nação são as cabeças de toda essa balbúrdia,

se são eles os responsáveis por leis tão ordinárias.

─ Se o brasileiro tivesse mais atitude, mas ele não tem, o

brasileiro é muito acomodado, aceita tudo com muita facilidade,

quer um exemplo: Lembra do aumento das passagens de ônibus,

os estudantes saíram para a rua, tomaram as avenidas, lembra,

naquele dia eu pensei " Agora sim o povo acordou " acabou que

era só fogo de palha, olha só o que a presidenta está fazendo

com nosso país, cadê aqueles estudantes e todas aquelas

pessoas, onde estão?

─ Estamos à beira do abismo, essa é a verdade amigo.

─ É o que estou dizendo, mas quando eu falo as pessoas

dizem: " O que esse velho quer; tá caducando e não tá sabendo.

─ Tá faltando matéria prima nesse país Jorge, pessoas

com vontade de fazer a diferença, é o que eu acho.

─ É amigo, bons tempos eram os nossos, mas fazer o que

né, esse tempo ficou no passado, e como diz o ditado, águas

passadas não move moinho. Espero que o povo acorde antes que

os homens de colarinho dourado não tome a direção desse país,

porque se isso acontecer, aí já era amigo.

─ Não quero nem me lembrar, é melhor tomarmos rumo


63

de casa, já está anoitecendo, daqui a pouco a praça fica cheia de

moleques fazendo e acontecendo, você sabe do que estou

dizendo né, drogas, sexo, brigas.

─ Então até amanhã Maurício, boa noite.

─ Boa noite Jorge, até amanhã.


64

O LUAR.

Toda resplandecente brilhou no véu escuro a dama da

noite, ela dançava com as estrelas, cintilando de alegria as

estrelas brincavam com ela, da janela do meu quarto eu apenas

contemplava toda a cena. A luz do luar estava tão intensa

naquela noite que sua claridade iluminou todo o quintal da

minha casa, fiquei encantado com tamanha beleza estendida em

um céu tão estrelado, um numero imenso de pequenas luzes,

todas olhando para mim, como se estivessem acenando, coisa

linda de ver. Não há beleza maior para uma noite escura do que

um céu repleto de estrelas, da janela do quarto eu era apenas um

espectador, preso nos pensamentos mais banais.

Aquela noite refletia no meu olhar muitas outras noites

do meu passado, lembranças esquecidas no baú da memória.

Como é bom ter boas lembranças, quantas foram às vezes que o

sereno da noite e o olhar atento da coruja, foram às testemunhas

silenciosas de minhas lágrimas madrugada afora, mas a noite de

hoje está um pouco mais fria, o gelo da brisa me força há fechar

um pouco a janela, deixando apenas uma pequena fresta,

enquanto novas lembranças surgem a todo o momento, quantas

histórias esse mesmo luar presenciou, quantas lágrimas de amor


65

refletiram a sua face brilhante, quantos versos foram escritos,

versos de loucos poetas, inspirados por um louco amor.

Este mesmo céu de infinitas estrelas, sentenciou já faz

alguns anos, o destino de um poeta desventurado. Se bem me

recordo foi no penúltimo dia de novembro, eu ainda consigo ver

aqueles olhos lacrimosos na tela da minha memória, a dor

daquela alma não pode ser descrita com palavras, por mais que

eu tente, nunca conseguirei expressar com palavras àqueles

momentos.

As lembranças são teimosas e constantes em meus

pensamentos, é um fantasma que sempre me persegui, por maior

esforço que faço para esquecer-se daqueles episódios, não

consigo, basta contemplar o luar e todas aquelas recordações se

afloram no coração, rasga o peito em uma dor latente.

Já era alta hora da madrugada, o luar se arrastava com

lentidão pelo véu negro da noite, o frio se intensificava e o vento

se fazia mais forte, eu permaneci ali, na mesma posição,

observando o nada no silêncio absoluto daquele momento, na

rua não havia veículos e nem pessoas, tudo era silêncio, nem

parecia à mesma rua do fim de tarde, meus pensamentos

continuavam perdidos em meio às lembranças, algumas boas,

outras ruins; algumas recentes, outras antigas, todas transitando

na tela imaginaria que se formou no meu pensamento, eu resistia

ao sono, e a noite era apenas uma criança diante de mim.


66

Quando me dei conta do horário já passava das duas

horas da madrugada, a lua declinava no horizonte escuro,

enquanto na rua surgia os primeiros transeuntes, ébrios

cambaleando pela calçada, e lá estava eu, com o meu olhar

atento, um amante da lua, um poeta das madrugadas, procurando

no escuro suas doces palavras, até que de repente, meus olhos

vencidos pelo cansaço, se renderam; desejando a macies do

travesseiro, e a pele calorosa e perfumada do anjo ledo, afinal, já

passava da hora de dormir.

Eu era apenas um poeta sonhador, a luz do luar, em uma

madrugada fria e silenciosa.


67

A HISTÓRIA DO RATINHO.

Ivan era o seu nome, se me lembro bem; essa é a história

de um pequeno roedor que foi jurado de morte, procurou em vão

ajuda, mas o destino que parecia cruel sorriu para Ivan.

Dona Amélia era uma simpática senhora que tinha um pequeno

sítio próximo à cidade, neste seu pequeno pedaço de terra havia

alguns animais que ele cuidava, uma galinha, um porco e uma

vaca, e também dois intrusos, a cobra e o ratinho Ivan.

Esse pequeno rato morava no porão da casa, ele era um

exímio ladrão de queijos, os queijos produzidos pela dona

Amélia eram os mais deliciosos de toda a região, seu esposo,

José, sempre ajudava Dona Amélia na hora de fazer os queijos.

Certo dia seu José percebeu que os queijos estavam com marcas

de mordidas, e eram de ratos, o exímio Ivan havia sido

descoberto e uma drástica atitude seria tomada, seu José

comprou diversas ratoeiras que seriam espalhadas por toda a

casa. O astuto ratinho percebendo o perigo buscou ajuda entre

os animais do sítio, primeiramente procurou a galinha:

─ Bom dia dona galinha, será que a senhora poderia me

ajudar, é que os donos da fazenda compraram ratoeiras novas e

estou com medo de ser pego.


68

─ Eu te ajudar ─ Disse a galinha rudemente ─ nunca,

não é problema meu.

O ratinho saiu entristecido e foi procurar o porco, quem

sabe ele se sensibilizaria:

─ Bom dia senhor porco, será que o senhor poderia me

ajudar, os donos da fazenda compraram ratoeiras novas e estou

com medo de ser pego.

─ Ajudar um rato, nem morto ─ Disse o porco com

arrogância ─ isso não é problema meu.

O ratinho entristecido saiu em direção a sua ultima

esperança, a vaca:

─ Bom dia senhora vaca, será que a senhora poderia me

ajudar, é que os donos da fazenda compraram ratoeiras novas, e

estou com medo de ser pego.

─ Eu te ajudar, nem morta, tenho cascos duros nos pés,

não tenho medo de ratoeiras, e saia daqui logo.

O ratinho triste por não conseguir ajuda foi para sua toca,

passou a tarde e veio à noite, e no começo daquela mesma noite

seu José armou todas as ratoeiras que tinha comprado, e foi

dormir algumas horas depois, no meio da madrugada dona

Amélia ouviu o som da ratoeira desarmando, no mesmo instante

pensou. “Foi o rato, pegamos ele, pela manhã jogo esse ladrão

na lata do lixo."

Quando amanheceu dona Amélia foi direto à ratoeira que


69

estava em baixo do armário, ela viu um pedacinho de um rabo,

que julgou ela ser do rato, ao esticar a mão para puxar a

armadilha, veio a desagradável surpresa; era a cobra que estava

presa e esta lhe deu uma tremenda picada. Ao ver a cena seu

José correu com a esposa para o médico, pois sabia que aquela

cobra era venenosa, o sítio e os animais ficaram sozinhos.

Dois dias depois ela retornou para casa, estava ainda

muito fraca e o médico recomendou que ela fizesse repouso e se

alimentasse somente de canja, seu José não teve duvidas, matou

a galinha para fazer a canja para a esposa. Os dias se passaram e

dona Amélia continuava na mesma, não teve jeito ela teve que

ser internada novamente, o médico disse que ela ficaria ali por

tempo indeterminado, seu José teve que pedir ajuda aos parentes

para ficarem no hospital com a esposa, e para alimentar a todos

teve que matar o porco.

Uma semana depois dona Amélia não resistindo ao

veneno da cobra, veio a falecer, seu José ficou desconsolado. O

velório seria no sitio mesmo, todos os seus parentes viriam, sem

saber como alimentar tanta gente, não pensou duas vezes, matou

a vaca.

Moral da história. "Nunca pense que determinado

problema não é seu, uma ora ou outra ele retorna para você, por

isso o melhor a fazer é não ignorar os problemas e sim resolvê-

los."


70

Essa história foi contada por meu chefe no trabalho, para

ilustrar uma situação que havia acontecido há muito tempo, e

eles tinham ignorado o tal problema achando que não eram

deles, o resultado é que o problema retornou com juros e

correção monetária. E eu tive que ajudar a pagar a conta.


71

CHOVE LÁ FORA.

A chuva cai mansa nesta manhã de domingo, um frio

intenso entra por debaixo das cobertas tirando minha vontade de

levantar, mas não vejo outra opção, contrariando o frio me

levanto espreguiçando, minha filha e esposa continuam debaixo

dos cobertores em sono profundo e roncos ruidosos, me

agasalho com uma blusa bem grossa meias nos pés e vou para a

cozinha fazer o café, essa é a minha rotina nas minhas manhãs

de folga.

Olho para o relógio e ele marca dez horas da manhã em

ponto, o dia continua chuvoso e frio, o meu cãozinho quando

percebeu a minha movimentação começou a chorar e arranhar a

porta da cozinha querendo entrar, quando abro a porta ele entra

a toda velocidade, tropeçando nas próprias patas, balançando o

rabinho de um lado para o outro querendo brincar; faço um

carinho em seus pelos macios e o coloco para o lado de fora. O

nome dele é Bob, um filhote de algum vira lata qualquer, o meu

cunhado que me deu de presete, prefiro assim, cachorro de raça

da muito trabalho sem dizer que são muito frescos.


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Retomo o café que estava fazendo, religiosamente todas

as vezes que eu estou fazendo o café uso a mesma caneca de

alumínio, mesmo ela estando bem velha me acostumei com ela,

de tanto usar a parte do teflon desbotou, bem na medida exata da

água, isso facilita muito minha vida, coloco o pó de café no

coador e o pote de açúcar de lado, não demora muito e aquela

primeira medida de água ferve, despejo a água na garrafa para

pré-aquecer, coloco novamente outra medida de água na caneca

de alumínio com duas medidas de açúcar, e deixo ferver; o dia

continua chuvoso e cada vez mais frio. Não demora e a água do

café começa borbulhar fazendo a caneca tremular no fogão,

coloco o coador sobre a garrafa e passo o café; a fumaça sobe

ligeira, perfumando todo o ambiente com aquele cheirinho de

café que acabou de ser feito, lá do quarto que fica na parte de

cima da casa, minha esposa me chama:

─ Amor o café tá pronto.

─ Sim amor ─ eu respondo.

─ Por favor, compre pão, só dois viu, tem um ai na

dispensa, ah, compre queijo prato também, cem gramas, a Sarah

tá desde ontem pedindo, daqui a pouco descemos.


73

─ Tá bom amor, pode deixar, eu te chamo daqui a pouco

─ respondi colocando a cabeça do lado de fora da janela da

cozinha.

Termino tudo, arrumo a mesa do jeito que a minha

esposa gosta, vou até o armário e pego a bolsinha de moedas,

separo um real e cinquenta centavos, coloco no bolso e vou para

a padaria, a chuva parou agora, isso é bom, me livra de ter que

sair com guarda chuva, odeio sair com guarda chuva, a padaria é

perto de casa, a menos de um quarteirão, vou em um pé e volto

no outro.

Nada como um preguiçoso dia de domingo, chuvoso e

frio, dia ideal para ficar debaixo das cobertas, assistindo TV e

comendo pipocas, afinal, os domingos geralmente são assim,

pelo menos os meus domingos; raramente saio de casa e quando

saio é para ir à casa da minha mãe. Mas como hoje não tenho

planos de sair, meu destino é o sofá, de frente com a TV,

assistindo qualquer coisa junto com a minha filha e comendo

pipocas feitas no micro-ondas, que passe o domingo, que passe

o frio, que passe tudo, hoje é dia de folga, dia de não fazer nada.


74

O VELHO RIACHO.

Gosto de recordar as coisas do passado, às vezes, tenho a

impressão, que os meus pensamentos parecem com as

correntezas do velho riacho que existia no fundo da casa onde

eu morei na minha infância. As águas cristalinas daquele riacho

exibiam correntezas velozes cheias de pequenos peixes que

nadava de um lado para o outro, tudo no silêncio absoluto das

águas mornas de um verão mineiro.

Eu era apenas uma sombra esquia, sentado de pernas

cruzadas à beira do riacho; eu me considerava um viajante de

outras eras e de outros mundos, procurando com ansiedade a

musa daquele lugar, eu procurava por sua infinita beleza, pelo

seu doce perfume, era ela o meu amor infantil de primavera.

A musa inspiradora da minha infância, anjo ledo de

meus sonhos infanto-juvenil, como eu queria tê-la ao meu lado,

eu que desejei ser o guia cego daquele coração, o brilho

daqueles olhos movimentavam as engrenagens de meu jovem


75

coração, mas eu era apenas uma sombra esquia a beira das

águas.

Aquela pedra a beira do riacho que não tinha nome, foi à

testemunha ocular do meu primeiro beijo de amor, aquela pedra

me jurou silêncio eterno, jurou nunca revelar o meu segredo,

contudo; neste dia, quebro o nosso acordo ao revelar nesta

crônica nossos segredos. Quantas saudades trago no meu peito,

saudades de um tempo esquecido que não volta mais, tempo que

se afogou nas tranquilas águas daquele riacho.

Lembro-me que fui o confidente da bela musa, fui o

grande amigo, mesmo sendo rejeitado, eu era o amigo sempre

presente; meus lábios sequiosos pelos lábios dela buscavam um

beijo de amor, mas ela me evitava e não me queria, ainda sim eu

a venerei, doce imagem que ainda vaga nos meus pensamentos.

A inquietante lembrança vem repousar no cofre da

memoria, teima ao lado da lembrança do riacho, na

contemplação do curso sem fim daquelas águas já esquecidas, "

Observe", dizia ela, " o som da correnteza beijando a pedra fria,

e os raios do sol sendo refletido na face da água."


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Hoje é um dia de lembranças e recordações, tempo de

pensamentos imperfeitos, hoje me recordo com lágrimas nos

olhos, o tempo da minha bela infância. O velho riacho não

existe mais, a grande pedra foi removida, já não faz parte

daquele cenário. Hoje um mar de concreto toma conta da

paisagem, o velho riacho morreu e se transformou em um fétido

córrego, cheio de imundícias e lixo; os peixes morreram junto

com a inocência das crianças.

Minha alma de poeta chorou ao ver a antiga fotografia

daquele riacho, mais ao fundo havia um bambuzal, meus dedos

percorrem a fotografia antiga, como se quisesse sentir

novamente as impressões daquele momento, tentei com muito

esforço recordar de como era o cheiro do mato, tentei recordar o

som dos pássaros cantando na copa das árvores, mas foi um

esforço inútil, não há reflexo na minha memoria dessas

lembranças.

Outra foto mais recente que vi, me encheu de agonia e

desprazer, fez o meu coração e minha alma gritarem dentro de

mim. Como eu disse anteriormente, o riacho não existe mais,

deu lugar a um fétido córrego no fundo do que parece um

pequeno bairro, um amontoado de casas sem reboco, todas

jogando os seus rejeitos fecais nas águas negras daquele


77

córrego, nada mais tenho a dizer, apenas lamento que o meu

riacho não exista mais. A lembrança ficou na memoria,

lembranças de tudo o que vivi ali, nas silenciosas margens

daquele pedacinho de paraíso que não existe mais.


78

BRASIL ALIENADO.

O que dizer do nosso “maravilhoso" país, Segundo

alguns especialistas em economia, uma crise sem precedentes

está se alastrando nos quatro cantos de nosso país, e a cada dia

que se passa essa crise se torna maior. A princípio é meio difícil

de aceitar uma noticia dessa, mesmo porque vivemos em uma

terra que é considerada por muitos como celeiro do mundo,

realmente fica difícil de aceitar essa tal crise que os especialistas

apontam, embora o governo a negue, ela está ai, mais real do

que nunca.

Nos brasileiros somos pessoas despreocupadas com o

futuro do país, ou estamos nos fazendo de desentendidos, ou

realmente nada disso importa. Digo isso com base no que eu

vejo no meu dia a dia, principalmente quando estou transitando

pelo centro da cidade; tudo bem que essa crise não é motivo

para começarmos a arrancar os cabelos, mas pelo menos

deveríamos nos atentar mais ao cenário politico econômico de

nossa nação.


79

O Brasil tem as taxas de impostos mais altas do mundo,

e nossos governantes, as pessoas que escolhemos para nos

representarem, nada fazem para mudar isso, transitam

tranquilamente pelos corredores do poder, sendo que nos

brasileiros honestos, pagamos pelo conforto deles, e nada

podemos fazer para mudar essa triste realidade. No mínimo era

para sermos uma das mais ricas das nações, com uma economia

de primeiro mundo.

Como eu dizia anteriormente, quando estou passeando

pelo centro da minha cidade, percebo como é difícil entender a

matéria prima desse país, enquanto a crise assola nossos

empregos, nossas finanças, enquanto roubo milionário acontece,

preços abusivos, vejo um aglomerado de pessoas indo de um

lado para o outro, cheia de sacolas, gastando e gostando de

gastar, parecem alienadas ao que se passa nesta terra de gigantes

adormecidos, fico tentando enxergar crise em meio a isso. Outro

dia, que por sinal era um sábado, tive que ir ao centro da cidade,

mesmo tendo carro eu fui de ônibus, que tristeza a minha,

lotação geral, e o pior de tudo, é que os horários dos ônibus

eram horríveis, mesmo assim, ninguém reclama, e olha que o

preço da passagem é uma história a parte.


80

Esse é o meu Brasil, repleto de pessoas que reclamam

muito e faz pouco, e no final de tudo, as coisas ruins caem no

esquecimento. Fico me perguntando se isso um dia vai mudar,

se as fisionomias da esfera politica vão mudar, se os nossos

votos vão mudar algo, em todas as eleições é a mesma coisa, as

mesmas pessoas, todos parecem ter a solução para todos os

nossos problemas, ideias e projetos mirabolantes, falam

maravilhosamente bem, tem uma oratória impecável, quando

finalmente são eleitos, ai acontece à mágica, simplesmente

desaparecem não se vê mais ninguém.

Quando cada um de nós tomarmos consciência do poder

que está em nossas mãos, certamente iremos mudar a história de

nosso povo, não só a dele, mas de todas as nações, temos em

nossas mãos as ferramentas certas para isso, o problema é que

estamos cochilando, o tempo está passando e as boas

oportunidades estão ficando para traz.


81

O ÚLTIMO ENCONTRO.

No dia das manifestações populares contra a atual

governança de nosso país, três grandes amigos, que há muitos

anos que não se viam, encontraram-se em um dos bares da

avenida paulista. Luiz Jorge era o mais velho deles,

cardiologista famoso, natural de alagoas veio ainda criança para

São Paulo morar com os avós paternos, com muito esforço e

trabalho concluiu os estudos, trabalhou em diversos empregos

até terminar a faculdade, não se casou e nunca se interessou em

formar família.

André Bueno era o mais quieto dos três, nunca gostou de

baladas e nem de festas, avesso a bagunças, era o tipo de cara

que sempre ficava pelos cantos, natural de ponte nova, interior

Mineiro, veio com o pai para São Paulo quando tinha dez anos,

estudou em colégios de padres, formou-se em teologia,

lecionava em diversas escolas da capital, era casado e tinha uma

filha.

O mais novo dos três é Carlos Almeida, um micro

empresário dono de sebos, é também o mais extrovertido dos


82

três, sempre aprontava, formado em direito nunca exerceu a

profissão, ele também era cronista e escritor, era casado e tinha

dois filhos.

O motivo que os reuniu depois de tantos anos, foi às

manifestações organizadas pelas redes sociais contra o atual

governo, a principio nenhum deles havia combinado de se

encontrarem, por obra do destino talvez, os três pararam no

mesmo bar para comprarem água, a alegria foi tanta que se

esqueceram das manifestações e ficara por ali mesmo.

─ Caramba, não acredito, são vocês mesmos, quanto

tempo ─ disse Carlos Alberto.

─ Nem me lembro de qual foi à última vez que nos

vimos ─ respondeu André Bueno.

─ Vamos ficar só nessa conversa mole ou vamos tomar

uma geladinha, é por minha conta ─ Interrompeu Luiz Jorge.

─ Seu Geraldo desse uma Skol bem gelada pra gente, e

capricha na porção de calabresa.

─ Já tá saindo Seu Luiz, só um minutinho.


83

─ Ok amigo, vamos ficar nas mesas aqui de fora, valeu

amigão.

Os três amigos saíram de dentro do bar e sentaram-se do

lado de fora, em uma pequena mesa que ficava no canto da rua,

o movimento era grande naquele dia, as manifestações estavam

quase no fim, os amigos distraidamente conversavam, nem

perceberam que um pouco mais a frente um caro completamente

desgovernado, vinha na direção dos três, não teve tempo de se

fazer nada, seu Geraldo de dentro do bar só ouviu o baque,

gritos de desespero das pessoas que viram o que aconteceu, o

motorista covardemente fugiu, enquanto os três amigos ficaram

estendidos no chão. Quando a ambulância chegou com os

paramédicos já era tarde demais, os três faleceram ali mesmo, o

reencontro inusitado dos amigos foi o último encontro.

Essa história que acabei de lhes contar é fictícia,

contudo, alguns de seus detalhes foi baseado em dados reais,

quantas vidas não se perdem por imprudência no volante,

bebedeiras que acabam em tragédias, tenho um exemplo muito

claro na minha própria família, perdi um primo muito querido,

vitima de um acidente de carro, o veiculo que era conduzido

pelo amigo capotou, ele foi o único que veio a falecer.


84

Muitos gostam dos finais de semana, gostam de se

encontrarem com os amigos, no intuito de comemorar, beber

uma cerveja, comer um churrasquinho, mas o mais importante

de tudo, é a prudência e o bom senso, por que um simples

encontro, pode se transformar no seu último encontro.


85

EMERGÊNCIA.

Uma das coisas mais valiosas que temos na vida é a

nossa saúde, tudo pode nos faltar, tudo pode nos acontecer em

um determinado momento da vida, mas de todas as coisas ruins

que acontecem, a única que nos faz recuar e por vezes até

prostrar-se é a doença. Quando somos acometidos de alguma

doença, percebemos o quanto somos frágeis, e mais ainda,

quando a doença atinge quem amamos, como filhos, conjugue,

pais, enfim, pessoas queridas de nosso convívio.

Sendo a saúde nossa maior dadiva, é conveniente

imaginar que os nossos hospitais são de excelente eficácia.

Tanto os públicos como os particulares, em tese era para o

estado dar uma atenção especial ao sistema publico de saúde,

mas infelizmente isso só acontece em tese, o descaso com a

saúde é assustador, nunca que vimos hospitais tão cheios, um

numero cada vez maior de pessoas que não conseguem

atendimento adequado. Outras tantas falecem em leitos e em

corredores de hospitais espalhados por esse Brasil, e nenhuma

autoridade publica move um dedo para tentar mudar esse


86

senário.

A vida deveria de ser tratada com mais dignidade,

hospitais e médicos que por negligencia permite que um

paciente morra, deveria de ser punido com todos os rigores da

lei. Ao contrario disso, quem sofre a punição é o próprio

adoentado, agonizando muita das vezes, uma vitima indefesa

desse sistema podre e corrupto. O descaso com a saúde é tal

qual um câncer maligno, crescendo no seio da sociedade.

Outro dia eu estava em um desses hospitais particulares, precisei

levar a minha filha de quatro anos, ela tem asma, e às vezes tem

crises, em uma dessas crises eu a levei em um desses hospitais

de referencia na cidade de Sorocaba, tal qual foi a minha

surpresa ao chegar naquele local, me deparei com um

amontoado de pessoas, entrando e saindo, umas extremamente

nervosas, outras que de raiva apenas choravam. Quando cheguei

eram oito horas da noite, quando fui sair era mais de meia noite.

Dias depois eu acompanhei a minha sogra em um desses

hospitais públicos, se no particular fiquei revoltado, no publico

quase enfartei, além de oferecerem o pior atendimento do

mundo, o local em si era um descaso total, parecia até um

senário de filme de terror.

A carga tributaria de nossa pátria, é uma das maiores do

mundo, relevaríamos se esse dinheiro todo fosse de fato usado

com honestidade, principalmente com a saúde. Os hospitais de


87

nosso país eram para serem os melhores do mundo, com os

médicos mais bem pagos, é uma pena, mas em nada somos

melhores, estamos sempre no final da fila.

Está na hora do povo Brasileiro acordar e reagir, colocar

nas mídias, nas televisões e jornais, todo esse descaso e as

inúmeras mortes que acontece sem ninguém ficar sabendo. Tudo

isso é a consequência da péssima administração publica, é a

roubalheira sem fim que está levando a nação para o buraco.

Emergência. Os hospitais de nosso país estão no corredor da

morte, agonizando em seus últimos suspiros, não há mais nada

que possamos fazer, é caso perdido, estamos entregues nas mãos

de Deus. Como dizia o cantor Renato Russo em uma de suas

memoráveis canções. "Que país é esse..." Pois que eu mesmo

repondo. Este é o país onde o pobre fica cada vez mais pobre e o

rico fica cada vez mais rico esse é o país onde vivemos.


88

A CIDADE ESQUECIDA.

A megalópole como é chamada a cidade de São Paulo,

com um numero estarrecedor de moradores, e com números

ainda mais estarrecedores de carros, a pauliceia desvairada

caminha a largos passos ladeira abaixo, cambaleando como um

bêbado, desnorteada esquecida, jogada de lado como um trapo

velho.

Não tenho nada contra essa cidade, não tenho nada

contra seus moradores, que por sinal são as vitimas de uma

sequencia de erros administrativos, uma cadeia de ações sem

direção sem propósitos, com pessoas sugando a vida da cidade,

verdadeiros vampiros, dráculas modernos, e as vitimas são

sempre as mesmas, a população, os inúmeros trabalhadores que

todos os dias acordam cedo, enfrentam vários ônibus para

chegar ao trabalho. Quando é o fim do mês, recebem uma

merreca, sem dizer que o milagre da multiplicação é quase uma

regra na mesa dos trabalhadores paulistanos, digo isso com base

no que conseguem fazer com tão pouco.

A cidade em si cresceu absurdamente, muitas pessoas


89

vindas de outros estados iludidos com a oferta de empregos,

acabaram por ficarem escravos de um capitalismo selvagem, o

crescimento desenfreado e sem nenhum projeto por parte dos

governantes, fez da cidade o que ela é hoje. Basta uma simples

chuva para que a cidade fique quase toda alagada, e como

sempre, quem paga o preço é o povo. Quantas famílias perdem

tudo, e todo o ano é a mesma coisa, a mesma novela em que já

sabemos o seu final, e não é de casamentos com festas,

semelhantes às novelas de certa rede de televisão, a novela da

vida real do paulistano é uma tragédia anunciada há muito

tempo.

A época das chuvas é um verdadeiro tormento, além de

prejudicar o transito, fazendo carros boiarem como se fossem

barcos, destrói não só o material, mas os sonhos de muitas

pessoas que passaram anos de trabalho duro para conquistar os

seus bens, e depois veem tudo destruído por uma simples chuva

de verão.

A culpa de tudo isso não é só de quem joga o lixo no

chão, mas também daqueles que fazem das suas administrações

um lixo, não é feito investimento em nada, a saúde então é um

caso a parte, os hospitais lotados com pessoas sendo atendidas

em corredores, faltam medicamentos e muitas outras coisas que

dariam uma lista enorme.

A impressão que tenho que a cidade de São Paulo é uma


90

maquina de recolher dinheiro, fazendo os ricos mais ricos e os

pobres mais pobres. De que vale o voto, se nada é feito, de que

adianta enfeitar o discurso politico de prometer tanto para

depois não fazer nada. Onde está a responsabilidade da elite

governante e incompetente. Às vezes penso que o senário

politico é um palco de marionetes, onde quem realmente

controla está às escondidas, nos o povo, somos os brinquedos

desses poderosos que não se revelam, preferem ficar de longe

assistindo o circo pegar fogo.

Somos mais do que uma grande cidade, mais até do que

uma megalópole somos uma nação gigantesca que infelizmente

dorme, enquanto os ladroes minam as nossas poucas posses, está

na hora de despertar e por esse ladroes para correrem.


91

DIÁRIO DO HOSPÍCIO 1.

Os meus dias passam rápidos, eles voam nas asas do

vento, a minha única companhia é a saudade, minha alma é

triste, estou afogado em tantos pensamentos em tantas

lembranças boas de nossos momentos felizes, das muitas

aventuras, do meu sorriso largo e juvenil.

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar, é a mesma

rotina chata, mas esse lugar é o nosso cantinho secreto. Gosto de

me sentar à beira da frondosa árvore da qual não sei o nome,

fico observando os pássaros, e pensando remoendo as

lembranças ate que de meus olhos nasçam lagrimas, mas elas

logo vão embora e me deixam na mais dura e completa solidão.

A imagem dela surge a todo instante na tela do pensamento bela

como um anjo, em meus devaneios ela surge com suas asas

longas e brancas, e depois vai embora.

Sei que não a verei mais, talvez eu desfaleça de saudades

em pouco tempo, ou talvez eu fique ainda mais louco do que

dizem que estou o tempo me dirá o que será desta alma

atormentada. Hoje eu não quero sentir medo, e nem entrar em

desespero, mas ficar assim longe da imagem de meu anjo ledo é

torturante, perdoe-me anjo ledo se eu não há tenho procurado

mais entre as estrelas, ultimamente o céu não está colaborando

muito, tem chovido bastante a noite, outro dia recebi a primeira


92

carta sua, isso me deixou muito feliz, na carta havia uma

fotografia sua, eu a escondi embaixo do colchão. As suas asas

estão ainda mais belas de quando a vi pela última vez. Houve

um dos internos que tentou roubar a fotografia, tive que tomar

uma atitude, acabei por espanca-lo, isso me rendeu um mês no

isolamento, quase enlouqueci chequei a beira do precipício.

Espero receber outras cartas sua, quero poder um dia sair

desse sanatório imundo, todos aqui pensam que estou louco, já

não sei mais o que pensar, talvez estejam certos, mas se amar

você tanto assim for loucura ficarei o resto da vida aqui, espero

que me perdoe pela violência que causei ao interno da qual lhe

falei, aquela foto é a única prova de que você é real, é a maneira

que tenho de manter sua imagem viva na memoria. Estarei todos

os dias aqui, ao pé da frondosa árvore, te esperando, sei que

você é real, e que não estou ficando maluco.

Sinto um peso enorme sobre os meus ombros, uma

angustia crescente e desregrada, às vezes a vida parece não ter

sentido, mas lembro-me da sua face majestosa de seu talhe

magnifico, apenas eu e você sabemos a verdade e a mentira, o

certo e o errado. A nossa vil sociedade me interpreta como não

alienado, sem condições do convívio social, mas estão todos

errados, eles é que estão malucos, eles é que deveriam estar

presos neste inferno.

Adeus anjo ledo, vou me recolher ao meu aposento, a

minha sela, a minha morada, o meu olimpo caído, adeus anjo

ledo, amanha retornarei para lhe contar as boas novas.


93

NESTA TERRA DE GIGANTES.

Somos uma grande nação, pelo menos em numero de

pessoas, mas ainda somos uma grande nação, pelo menos

territorialmente. Nascemos em berços humildes feito de

madeiras das mais nobres de nossas terras, essa terra que desde

o descobrimento vem sendo saqueada. Primeiro foram os

verdadeiros donos dessa terra, os índios, os portugueses

quiseram trocar nossas riquezas por espelhos velhos refletindo

uma Europa doente, e o resultado foi que essa doença se alastrou

desde então.

Mas quero acreditar que ainda somos uma grande nação,

não pelo tamanho de nossos estados, que na sua maioria é

superior territorialmente a muitos países. Refiro-me a matéria

prima desta terra, refiro-me aos gigantes do dia a dia, aqueles

que são a engrenagem mais forte desta maquina chamada Brasil.

O povo como nação, o povo trabalhador e honesto, o povo que

paga suas contas com o suor do seu trabalho.

Somos uma grande nação formada de pequenos

diamantes, esses que por sua vez são desprezados, esses que por

sua vez são abusados sexualmente, esses que por sua vez serão o

futuro desta terra de gigantes, porque até o maior dos gigantes


94

um dia foi pequeno, frágil e fraco. Nos não podemos ser como a

Europa ou como os Asiáticos, com suas ideias ultrapassadas e

seu coração de pedra; temos que ser um exemplo para o mundo,

um exemplo bom, não ruim, que é o nosso presente caso.

Eu fico triste quando olho para nossa nação, fico com o

coração partido, vendo tantos roubos na mais alta esfera politica

da sociedade, escândalos e mais escândalos, roubos e mais

roubos sem nada ser feito, no final o resultado acaba sendo o

mesmo, como sempre foi desde o inicio, o pobre é quem paga a

conta, eles roubam e erram, mas somos nós que pagamos a

conta final.

Nessa terra de gigantes adormecidos tudo é permitido, o

céu é o limite para quem tem poder aquisitivo, assim como os

índios, querem trocar nossas riquezas por espelhos velhos

refletindo personalidades doentias e sem Deus. Estamos sendo

exterminados por doenças que em tese nem deveriam existir

mais, está na hora deste gigante adormecido despertar do sono

da indiferença e fazer a diferença, mostrar que não somos

bonecos de fantoches.

Outro dia certos grupos de pessoas se reuniram em um

bar para comemorar o dia de folga, convidaram um rapaz tímido

que não tinha o costume de sair muito, combinaram de dividir a

conta no final, mas o resultado vocês já podem imaginar, foi

saindo um por um, com aquela velha desculpa. “Vou ali e já


95

volto." O pobre rapaz teve que pagar toda a conta sozinho,

tirando do bolso aquilo que nem possuía ainda, ele teve que

parcelar a divida.

Da mesma forma está acontecendo com o nosso povo, o

trabalhador com seu minúsculo salário, estamos pagando a conta

dos irresponsáveis de nossos governantes, parceladamente,

tirando de onde não deveríamos para dar a quem não merece,

definitivamente, acorda Brasil, desperta deste sono perigoso e

traiçoeiro, ainda somos uma grande nação uma terra de gigantes.


96

LEMBRANÇAS.

Hoje a noite está sem luar, hoje a noite está mais fria do

que o de costume. As estrelas estão ocultas no céu, pesadas

nuvens pairam sobre nossas cabeças, e a escuridão é

predominante, uma fraca brisa vinda do norte sopra sobre meu

rosto pálido.

Estou sentado em um banco de madeira em uma enorme

praça mineira, que por sinal é muito arborizada. O nome da

praça eu não me lembro, queiram me perdoar, mas o que

importa é a beleza presente em cada pedacinho dela, nunca vi

nada igual nas cidades em que passei, além da admirável

botânica da praça, é possível notar a presença de animais, tais

como macacos e esquilos. Todos belíssimos, livres, subindo e

descendo das árvores a todo o tempo, me encantei com os

esquilos com suas mãozinhas pequeninas segurando as nozes.

Também vi em alguns galhos varias corujas, essas é um caso a

parte, com aqueles olhos grandes, sempre atentos a todo

movimento, são verdadeiras sentinelas da noite.

Os transeuntes aos poucos vão indo embora, a maioria


97

deles formado por jovens, restaram apenas poucos casais de

namorados, e alguns idosos que como eu apenas observam o

movimento sentado em algum canto qualquer. Minha débil

visão não me permite conhecer quem passa, tenho que espremer

os olhos na falha tentativa de distinguir as fisionomias das

pessoas que caminham um pouco mais ao longe.

Este velho banco de madeira em que estou sentado já a

mais de uma hora, é um amigo de longa data, foi no verão de

setenta e nove, me recordo como se fosse o dia presente, como

eu poderia esquecer aquele rosto lívido, aqueles olhos verdes,

ela estava sentada bem aqui neste banco. Eu me aproximei dela,

embora muito tímido como sempre fui, começamos a conversar,

as palavras saiam aos poucos, meio enroscadas, mais saiam,

além do que eu não me sentia nada apresentável diante de uma

dama tão bela, Berenice era o nome dela, passamos boa parte da

noite observando o luar, quase sem dizer nada. Mas aquela noite

foi maravilhosa, espetacular eu diria, o magnifico e majestoso

luar a tudo observava, uma testemunha silenciosa de dois

corações apaixonados, desfilando no céu de estrelas toda sua

opulência.

Hoje a noite está sem o luar, mas sei que a minha

testemunha está lá, escondida por traz de alguma nuvem

brincalhona. Aquela moça linda da qual lhes falei foi morar com

as estrelas, deixando este velho poeta na companhia


98

desagradável da solidão, por esse motivo venho todas as noites

nesta praça, passo horas inteiras desfrutando de doces

lembranças, lembrando-se do primeiro beijo, aqui mesmo neste

banco, lembrando-se do brilho intenso daqueles olhos verdes,

lembrar é viver o passado, eu sempre estarei aqui, neste mesmo

banco, nesta mesma praça, perdoe-me Berenice, o que você me

pediu não posso fazer, o que você não podia jamais insisti,

assim como as folhas se perdem no outono, minha razão perde

para emoção, tal como um barco que se perde em meio ao mar.

Eu conheci você naquele dia às vezes sinto que não

deveria, me entreguei a você de uma forma que não deveria,

meu coração se rendeu ao verde de seus olhares, e aos teus

graciosos sorrisos, tal como a flor ao se entregar ao beija flor.

Minha alma agora sofre com sua partida, o câncer levou

você de mim, meu coração preso pelas grades da tristeza, agora

chora por saber que o tempo não volta mais, tudo o que passou

não retornara. Como diz a canção. "Deveria ter amado mais, ter

esperado mais, ter visto o sol se por..." Adeus Berenice, só as

lembranças permanecem eternas.


99

MANUSCRITO NA GARRAFA.

O dia está nublado, os pássaros estão escondidos em seus

ninhos de amor, um vento frio sopra do norte, sopra toda a sua

tristeza, todo o seu descontentamento. Estou sentado na frente

da praia da estrela vermelha, não há ninguém ali, apenas eu

sentado em uma velha cadeira de madeira, apenas eu,

observando o vai e vem das ondas, a valsa das mares com a

areia da praia.

Tudo é silêncio, tudo é mistério, as nuvens no céu é um

mistério infinito, o solitário albatroz azul pousado próximo de

mim, também é um mistério infinito, a vida e as flores são um

mistério infinito.

Todos os dias logo nas primeiras horas da manhã, depois

de tomar meu solitário café e comer meu pão de angustias, me

dirijo a passos lentos para a praia da estrela vermelha, sempre

me sento no mesmo lugar, na mesma velha cadeira de madeira,

minha companheira há tanto tempo, fico quieto, contemplativo

observando o vai e vem das ondas. Todos os dias nesses muitos

anos eu sou massacrado por duras lembranças, lembranças de

olhos inocentes, de faces de anjos ledos, lembranças de lábios

pedindo misericórdia, lembranças de pequeninas mãos


100

ensanguentadas, enfim, lembranças de corpos estendidos no

chão, de mortes sem razão, de ódio sem sentido, diário de uma

guerra estupida.

Todos os dias ao longo desses intermináveis anos eu

planto minhas lágrimas na areia desta praia deserta, e sempre no

mesmo lugar, religiosamente no mesmo lugar, não consigo me

imaginar chorando em outro pedaço de areia que não seja neste

pedaço de areia. Tornei-me um eremita exilado nesta ilha, sou o

próprio esquecimento, sou uma lembrança ruim na mente de

muitas pessoas, sou a nuvem negra em dias de tempestade, um

céu sem estrelas, afinal, eu não sou ninguém, nem os pássaros

desejam minha presença, a minha carne cheira a morte, como

tudo em mim cheira a morte.

A minha história não é digna de ser contada, folha

nenhuma devera ser manchada contando o que eu fiz, apenas

este manuscrito, que de próprio punho escrevo, que com

lágrimas quentes escrevo, sei que nunca vou ser perdoado pelas

vidas inocentes que eu tirei, principalmente das famílias que

foram desfeitas pelas minhas ordens em campo de batalha, pois

quando eu era capitão da primeira divisão de infantaria do

exercito, ordenei ataques a vilarejos, na minha cabeça eu estava

servindo o meu país e protegendo os cidadãos da minha nação,

eu só não imaginava que do outro lado, ao invés de armas e

combatentes, havia mulheres e crianças, e todas morreram


101

abraçadas, tudo pelas minhas ordens, tudo pela minha cega

ignorância. Hoje reconheço o mal que eu causei, mas meu

reconhecimento não trará essas vidas de volta, e nem o sorriso

no rosto das famílias enlutadas.

Desde aquele dia, quando percebi o tamanho do meu

erro, abandonei as forças armadas, perdi a minha família, perdi

os meus amigos, perdi o direito de ser chamado de ser humano,

me isolei nesta ilha deserta ao sul do Brasil, distante de tudo e

de todos, e assim pretendo terminar os meus dias, morrendo

lentamente, com o remorso das lembranças das mortes e dos

corpos estendidos no chão, sem vida, sem a chance de viver um

pouco mais, Meu nome é capitão Andrades Antunes, e este é o

meu relato de guerra, quem encontrar está garrafa contendo este

manuscrito, eu lhe peço encarecidamente, queime e não diga

nada para ninguém. A ditadura fez de mim o mostro que sou

hoje.


102

DIÁRIO DO HOSPÍCIO 2.

Hoje é quarta-feira de um dia extremamente quente,

nunca em minha vida tinha sentido tanto calor como estou

sentindo hoje. Estou novamente ao pé da frondosa árvore, que

sombra maravilhosa ela nos proporciona, os pássaros vem

aninhar-se entre seus galhos, gosto de observa-los, a maneira

como eles voam, da forma como tratam de seus filhotes, tudo

magnifico. O meu anjo ledo também gosta de pássaros, dever

ser pelo fato de terem asas para voar assim como ela tem, fico

imaginando como deve ser bom poder voar, passar por entre as

nuvens, sentir o vento batendo no peito, dar rasantes e depois

subir ao mais alto que puder.

Hoje é meu aniversario, não quero revelar a minha idade,

ela é como se fosse minha identidade secreta. Tivemos um dia

daqueles aqui no sanatório, o Ulisses, que diz ser Dom Quixote,

fez da sua cadeira um cavalo e começou a gritar pelos

corredores. “Temos que combater esse mostro, temos que

destruir o cavaleiro da estrela vermelha, eliminar sua ameaça,


103

avante homens, vamos ao combate, vamos para as ruas." Assim

foi nossa manhã, teve um tremendo alvoroço por causa disso,

mas confesso que gostei muito, foi muito divertido, estava

aponto de seguir o Ulisses, ou como ele mesmo disse. "Dom

Quixote."

Depois veio o almoço, a mesma gororoba de sempre, só

por que somos chamados de loucos, não significa que temos de

comer como animais, do meu ponto de vista, nem para cachorro

serve uma coisa dessas, mas enfim, nossa fome foi maior e

acabamos por comer tudo. A sala do refeitório é enorme, cheio

de cadeiras e mesas, tudo de plástico, o mais barato que é a

maior porcaria, vive quebrando, antes era de madeira, retiraram

depois de inúmeras brigas, entre duende verde e o homem

aranha, permita-me explicar. O homem aranha é o Carlos o

duende verde o Lucas, eles estão sempre brigando.

Na parte da tarde eu fico aqui, ao pé de nossa frondosa

árvore, às vezes eu até consigo vê-la, com suas asas enormes e

seu rosto lívido, a luz que erradia do seu corpo é a coisa mais

bela de se ver, se todos pudessem ver o que eu vejo, eu não

estaria mais aqui, é uma pena, um planeta tão grande feito o

nosso e ninguém consegui ver um anjo, ou o meu dom é único

ou minha loucura também seja única, isso não importa, seja um

ou outro será só meu unicamente meu.

Gosto quando você aparece à noite, me faz sentir tão


104

bem, tenho sentido sua falta durante as minhas noites anjo ledo,

os meus devaneios tem sido constantes, os médicos me aplicam

remédios tão fortes que me fazem dormir a força, não demores

amor da minha vida, quero poder comprovar a todos a sua

existência, quero sair desse lugar horrendo e trazer para ele o

resto do mundo, esse sim é maluco, com tantas esquisitices.

Adeus amor da minha vida estarei aguardado ansioso a

carta que você me prometeu, aqui na terra temos o costume de

dizer que promessa é divida, sendo assim você esta me devendo

uma carta, Adeus anjo ledo.


105

BARCO DOS SENTIMENTOS.

Somos levados pelos mesmos sentimentos navegando

pelo mesmo mar da vida, sujeitos aos mesmos perigos e as

mesmas incertezas, o que nos aguarda são aguas turbulentas e

traiçoeiras. Meu coração já não é o mesmo marinheiro de outros

tempos, já não tem a mesma disposição nem a mesma

sagacidade.

Estou navegando as cegas por entre densas nevoas que se

formam os ventos quando presentes são todos contrários, meu

sextante perdeu-se no mar de forma que navego sem direção, o

céu com pesadas nuvens não me permite visualizar as estrelas, o

cruzeiro do sul escondeu-se de mim.

Na minha ânsia de chegar a algum lugar acabo por não

chegar a lugar nenhum, me tornei um guia cego. Quando as

ondas se precipitam com todas as forças contra o barco dos

meus sentimentos, quase o leva a pique, sou marinheiro errante

neste mar furioso. Então me recordo da sua imagem

resplandecente, mais brilhante que a luz da aurora, quando a

vejo despontando no horizonte dos meus pensamentos a sua

magnifica imagem, me desligo deste mundo vil. Quero a todo


106

instante manter a direção correta e navegar no amor, esse

mesmo amor que me faz ofegante e impaciente, que terrível

contradição, eu tão próximo de você e você tão distante de mim.

Deseje-me sorte e a certeza que estou no rumo certo, e este

rumo não poderia ser outro senão o arquipélago de seus olhos.

Quero ser o pirata que conquistara este pedaço de terra

desabitado do teu coração, quero ser o porto seguro dos teus

sonhos.

O dia vai escalando à tarde, e a tarde se entregando aos

braços escuros da noite. Eu aqui neste inóspito lugar sem a tua

terna presença, os meus dias voam nas asas da gaivota, que

sorrateira rouba o cerne de minha vitalidade, nunca antes passei

por tantos desafios, nem mesmo nos sete mares há perigo maior

do que o de navegar no oceano de um amor silencioso e

perigoso.

Certo é que viverei sempre assim, entre tempestades e

trovões, momentos de amargura e de doces bonanças, tudo por

causa de uma paixão tola, deste tripulante a quem todos chamam

de amor, esse amor que é a tormenta que se levanta na quietude

de minha navegação. Este complexo oceano cheio de incertezas,

todas as vezes que teu despretensioso olhar, encontrar o meu

perdidamente apaixonado olhar, minha alma se derrama com as

ondas na areia da praia.

Mas no dia de hoje, especialmente hoje, densas trevas


107

cobriu o meu céu, a minha navegação é incerta é indecisa e sem

direção, a esmo sou levado a um destino desconhecido no mar

dos sentimentos, não tenho controle nenhum do meu barco, sou

apenas um espectador ansioso e impaciente.

A vida é quem me leva ao mar dos sentimentos, a vida é

quem determina as regras. Sou aventureiro em um barco sem

garantias, buscando o cais da minha realização, da conquista de

um ideal que se torna cada dia mais irreal. Assim eu vou,

navegando pelo destino arriscando a minha sorte.


108

É QUESTÃO DE ESCOLHA.

Comparo-nos a uma pequena semente jogada na terra,

depositada e esquecida em seu seio frio, deixada para que com o

tempo apodreça e morra, contudo, essa morte lenta da semente

está diretamente ligada à vida, o apodrecimento da matéria da

semente, é o alimento natural para a nova vida que ira surgir

oculta de nossos olhos. No seio materno da mãe natureza se

revelam as primeiras pequenas raízes, se alimentando do último

viço de força da pequena semente. Entre a terra e o céu surge o

primeiro sinal visível e físico de uma nova vida, uma pequena

ponta verde sem forma definida, que lentamente vai crescendo

ate surgirem às primeiras folhas verdes.

Agora uma evidencia física visível aos poucos se torna

notável, de pequena planta com galhos mirrados a uma frondosa

árvore cheia de frutos e vida, com uma sombra maravilhosa,

capaz de abrigar todo tipo de vida, da mais pequenina criatura a

maior delas. Sendo assim, aquela pequenina é ignorada semente,

tal como a da mostarda dita por Jesus, transformou-se em

tamanho e beleza e de maneira nenhuma pode ser ignorada.


109

Mas essa árvore esplendorosa, essas folhas verdes viçosas que

propiciam grandiosa sombra, passara por outra transformação,

um ciclo inevitável na vida, o envelhecimento. Suas belas folhas

verdes perderão a força e a cor, ficando de uma pigmentação

amarelada até vir a cair, e uma a uma no mesmo processo

caíram todas, a forma de sua vitalidade que encantavam os olhos

agora se resume em um amontoado de galhos secos. Esse

podemos dizer que é o fim de um ciclo, a árvore agora morta

poderá ter dois destinos, inevitáveis eu diria. O seu frondoso

caule seco se colocado nas mãos de um habilidoso artista, será

transformada passando para o terceiro ciclo, e esse é imutável,

como obra de arte perdurara séculos sendo admirada por todos

os que a olharem. Contudo, devo dizer que este terceiro ciclo se

divide em dois, como já foi exposto o primeiro vou agora

retratar o segundo, pouco glorioso, e menos louvável. O mesmo

frondoso caule nas mãos de um lenhador terá o seu destino

certeiro em alguma fornalha, sendo queimada, ardendo nas

chamas vindo a se transformarem em carvão e depois em brasa,

que para nada serve, sem peso sem gloria, levada ao sabor do

menor sopro de vento.

A história da árvore é um espelho que reflete a vida do

homem, ela nos mostra como seremos e como terminaremos da

mesma forma que a árvore a nossa semente germinada no útero

materno, está oculta, escondida de todos, e aos poucos aquele


110

minúsculo e invisível espermatozoide passara a crescer, ganhara

força e vigor, até o dia que despontará para o mundo, o seu

nascimento, o milagre da vida sendo revelado.

Ao divino sopro da vida nas narinas daquele pequeno

ser, para se ouvir a sinfonia do primeiro som de suas cordas

vocais, o choro, tão belo, inesquecível e comovente. Este

pequeno ser vivente diferente de qualquer coisa já criada, ira se

desenvolver, assim como a árvore dará abrigo e proteção a seus

semelhantes, sua família será seu principal fruto.

De forma alguma evitaremos o progresso do ciclo da

vida, seremos em pouco tempo como a planta sem folhas de

galhos secos, a velhice batera nas nossas portas, e a morte é a

única certeza da vida. Devo dizer que o ciclo depois da morte é

o mesmo que o da árvore. Teremos dois caminhos. O primeiro é

ser uma obra de arte nas divinas mãos do criador, enfeitando a

sua morada celestial, o segundo é ser o combustível na fornalha

infernal do diabo, tudo depende de como escolhermos viver.

Como eu disse somos semelhantes à árvore, todavia,

temos a capacidade de influenciar no nosso destino final,

escolhemos como viver e vivemos a partir de nossas escolhas,

diante de nossos olhos está colocado opções, teremos tempo o

suficiente para decidir, entre o certo e o errado entre o céu e o

inferno, é apenas uma questão de escolha.


111

TUCANO NA TERRA DA RAPOSA.

Procura-se certo tucano de bico curvo e amassado, suas

penugens são meio grisalhas, este tucano habita a terra da raposa

e por lá voa livremente. Já faz algum tempo que ele goza de uma

vida tranquila sempre indo de um lado a outro sem ser

incomodado sempre aqui e acolá.

Procura-se este tucano que propôs recentemente alcançar

o olimpo da estrela vermelha na terra do grande pássaro. A

jornada desse tucano será muito comprida, dada a distancia que

há da casa da raposa para casa do grande pássaro, será uma

longa e cansativa jornada.

O tucano segundo diz os seus compatriotas, está decidido

a tomar o trono da grande estrela vermelha, e nada e nem

ninguém ira faze-lo desistir de seus planos ambiciosos. Foi

noticiado que outra ave dos campos também estava decidida a

tomar o trono da grande estrela vermelha, mas este não obteve

muito êxito, ele foi misteriosamente derrubado quando

sobrevoava a cidade de concreto.

Quando o tucano soube do fato, não sentiu tristeza e nem

pena, pelo contrario, foi tomado de tão grande alegria por não

ter em seu caminho nenhum concorrente, o tucano aprontou as


112

malas e seguiu viagem.

Segundo disseram, conclamou todos os bichos do reino

esperança para que juntos tomassem o trono da estrela vermelha.

Esperto e audacioso juntou consigo tão numerosa multidão de

aliados para seus planos de tomada de poder.

É de nosso conhecimento também que a estrela vermelha

já sabia dos planos do tucano. E preparou um maciço contra

ataque para enfraquecer o tucano, a estrela vermelha usou a

difamação contra ele e ao que parece teve resultado. O tucano

estava ficando cada vez mais fraco e menos bichos o seguia.

Noticias corriam da parte da estrela vermelha que este tucano

era viciado em frutinhas, não se sabe ainda da veracidade da

historia, contudo o plano deu certo, mais e mais bichos se

desligava do partido do tucano. Ele bem que tentou mais foi

derrotado pela estrela vermelha que manteve a soberania no seu

trono.

Procura-se este tucano que neste momento voltou para a

terra da raposa a fim de se reorganizar, mas no momento a

estrela vermelha continuara no poder por mais alguns anos,

impondo sua politica destrutiva a todos os moradores do reino

da esperança. Impostos pesados foram colocados, e agora os

bichos sofrem para poder paga-los. Novos planos estão sendo

preparados pelo tucano na tentativa de futuramente destitui a


113

estrela vermelha do poder, enquanto isso todos aguardam com

expectativas por uma nova oportunidade de mudanças.


114

CORAÇÃO POR CORAÇÃO.

Outro dia eu ouvi uma mensagem em vídeo muito

bonita, essa mensagem falava do passado, de como ele foi

negligenciado descrido por muitos, mas que produziu os mais

valorosos seres humanos que já vi, ela começa mais ou menos

assim.

Somos de uma geração que segundo os especialistas, não

era para estarmos vivos. Nascemos em uma época em que ter

dinheiro era privilégio de poucos, a grande maioria da sociedade

minguava com seus baixos salários, e um numero grande de

filhos para sustentar, nem por isso passavam fome, pelo

contrario, a comida era farta na mesa dos mais pobres, nossos

berços eram pintados com tintas à base de chumbo, altamente

toxica, isso não nos impedia de morder o berço e ate comer

pedaços da sua tinta, nem por isso ninguém morreu.

Somos do tempo em que andar descalço era quase uma

regra, nem por isso ficávamos doente, as vacinas naquela época

era muitas das vezes negligenciada pelos nossos pais, e, no

entanto, crescíamos fortes e saudáveis, subíamos nas arvores


115

mais alta, só para pegar a fruta mais doce para o amigo, caiamos

às vezes chegado a fraturar alguns membros, mas nem isso nos

segurava dentro de casa.

Somos do tempo em que na escola era cantado o hino

nacional no momento do intervalo do recreio, as professoras

eram chamadas de professoras e não de dona, como é o costume

presente. Quando aprontávamos, porque também não éramos

nenhum santo, no primeiro momento da advertência

abaixávamos a cabeça e pedíamos desculpas, falar mal da

professora era impensável. Quem não se lembra da serie vaga-

lumes, com seus livros belíssimos, e por que não dizer das

brincadeiras, ah como eram boas, empinar pipas, não essas

assassinas de hoje, as nossas não tinha cortante na linha,

corríamos o dia todo até quase o anoitecer, íamos para as nossas

casas junto de nossos amigos. Não havia maldade em nossos

corações, apenas uma vontade imensa de se divertir e ser feliz.

Somos do tempo em que não existia vídeo game,

tabletes, e nem computadores, e nem por isso éramos menos

felizes, ao contrario dessa geração moderna que não sai da

frente da tela de um computador, tínhamos as melhores

amizades, escrevíamos cartas, mandávamos bilhetes românticos,

muitas das vezes nossas conversas eram olho no olho, face a

face, não como hoje em que quase tudo se discute e decide pelo

whatsapp. Não quero parecer saudosista e nem quero idolatrar o


116

passado, pelo contrario, sou a favor da tecnologia e da

modernidade, o que falta na verdade é a simplicidade e

humildade em tudo o que for fazer, o que falta é um bom

coração humano, sinto falta disso, as vezes tenho a impressão

que as coisas boas da vida foram deixadas para traz, escondidas

e empoeiradas num canto qualquer.

Sou desse tempo que foi abandonado, falando assim até

parece que sou de uma idade mais avançada, pelo contrario, sou

jovem ainda, não creio que exista velhice, existe vidas mal

vividas, como dizia meu falecido avô. Não estou reclamando do

presente com cara de futuro, longe de mim tal coisa, até gosto

desse presente com cara de futuro. Só que neste momento sinto

falta daquilo que é mais importante seja qual for a época ou o

ano, presente ou futuro, sinto falta de um coração de verdade,

cheio de bondade de paz, inocente, aos poucos a vida vai

perdendo a graça, na mesma medida em que os bons corações

vão se esfriando com as atrocidades da era moderna, quero

apenas amor por amor, coração por coração, só isso e nada mais.


117

O AMOR.

Quando se ama tudo se transforma, quando se ama o

mundo interior se transforma. Assim é o universo interno do

individuo que está amando, ou pelo menos é assim que imagino

ser. Quando digo isso à impressão que fica é que eu desconheço

este sentimento chamado amor, que é tão belo tão puro e

grandioso.

Mas ao dizer isso, na verdade estou tentado acreditar que

as pessoas deste nosso pequeno planeta azul, realmente sinta

essa transformação, primeiramente no interior, e posteriormente

no exterior, eu quero acreditar que o amor ainda exista e

transforme as pessoas de forma radical. Quando assisto ao

noticiário e me deparo com inúmeras noticias de violências, e a

maioria delas acaba em mortes motivadas por ciúmes doentios,

eu me questiono a respeito desse sentimento chamado amor.

Talvez o amor seja perigoso demais para a raça humana, mas eu

posso estar enganado, talvez seja a raça humana perigosa demais

para o amor.

A verdade é que a cada dia que se passa sabemos menos

do amor, estamos desaprendendo a amar, se amar aprende

amando, então esta geração encontra-se em sérios apuros. O


118

modo de vida que temos nesta sociedade tão materialista e

superficial faz com que o amor se esfrie cada vez mais rápido

nos corações, e é sempre deixado em segundo ou terceiro plano,

isso quando é incluído nos planos.

O amor é muito mais que podemos imaginar, é muito

mais do que podemos sentir, é a maior realização da vida, é a

maior conquista de uma pessoa. Muitos passam a vida inteira

atrás de um grande amor, outros já mais sortudos passam a vida

inteira com um único grande amor. À vida é mesmo assim

imprevisível.

Muitos confundem amor com paixão e não é para menos,

dado a grande semelhança entre estes dois gigantescos

sentimentos, é de se imaginar que causem confusão e

transtornos. Só existe uma maneira de ver a diferença entre os

dois, é dar tempo ao tempo, quando digo isso afirmo com

veracidade este fato misterioso, é o tempo que dita às regras e

nos mostra se o que sentimos é amor ou paixão. Talvez você que

esteja lendo essa crônica ainda não teve uma experiência com o

amor, um amor verdadeiro profundo e dolorido, ou talvez você

seja um veterano no que desrespeito a amar. Aos que ainda não

conhecem este sentimento, lhes dou uma advertência bem

sincera, cuidado, perigo, o amor não vem com manuais de

instrução, e nem existe uma formula matemática ou uma porção

mágica para ele. Não há como se saber quando ele vira, ou por


119

quem ele vira certo é que em um determinado momento da sua

vida, ele vira com toda a força. Como dizem os poetas, "Amar

só se aprende amando." E nesta nossa breve vida, não há nada

que seja superior, que seja melhor, que seja mais doce, que este

estranho e cruel sentimento chamado amor.


120

INTOLERÂNCIA NÃO RESPEITO SIM.

O que nós temos de melhor em relação às outras pessoas

do nosso planeta, existe realmente algo em nós que seja melhor?

Não sei qual foi sua resposta, nem mesmo sei se você

respondeu. Certo é que neste pequeno planeta em que vivemos

nessa aldeia global, esta esfera azul suspensa no espaço, habitam

seres que acreditam piamente serem humanos, tenho as minhas

duvidas quanto a isso.

A verdade é que somos diferentes em tudo, não só na

aparência física, quando digo isso não me refiro aos padrões de

estítica e beleza, mas as características do caráter, essas sim nos

diferencia das demais pessoas, características essas que estão

arraigadas na personalidade de cada um, independente de sua

condição financeira, da cor da pele do partido politico, ou até

mesmo da religião que professa.

O que define a nossa personalidade é o conjunto de

verdades em que acreditamos serem certas, é o ideal de vida que

defendemos, e pelo qual lutamos no decorrer da vida. Nossa

escolha em uma primeira analise, deriva da influencia do meio


121

onde crescemos e vivemos, mas a nossa escolha de vida nem

sempre permanece a mesma, temos a liberdade de muda-la, em

nosso país somos livres para escolhermos o caminho que

acharmos melhor para nossas vidas, seja ela de certa forma

tradicional ou não tradicional.

Em muitos países também é assim, as pessoas gozam da

liberdade de escolha. O caráter das pessoas é formado a partir

das escolhas que fazem, cada um tem o direito de opinar sobre a

vida do outro, desde que não ultrapasse os limites da outra

pessoa, talvez nossa opinião seja muito diferente das demais

pessoas, é internamente até não concordamos com o tipo de vida

de nosso semelhante, mas isso não nos da o direito de interferir

ou agredir essas pessoas só por serem diferentes e terem

opiniões diferentes.

Nos que nos denominamos seres humanos, temos que ser

essencialmente mais humanos, temos que amar mais e odiar

menos têm que dar mais respeito do que a intolerância. Pense

bem, tenho plena certeza que minguem gostaria de ser agredido

só por não compartilhar das mesmas opiniões do seu próximo,

talvez a roupa que você use seja diferente das demais, ou a

religião que você professe seja de outra cultura. Isso não torna

você menos ou mais humano que as demais pessoas. Então eu

me questiono, e às vezes fico confuso sem entender nada, afinal

que mundo irracional é esse em que vivemos.


122

Outro dia andando pelas ruas do meu bairro, vi uma cena

inusitada e incomum eu diria, eu avistei na porta da casa de um

senhor já bem idoso, um gato que dormia por cima de um

cachorro, os dois estavam tão tranquilos que nem perceberam

minha presença, fiquei ali parado por alguns instantes,

admirando a cena. Pena que eu não estava com meu celular para

tirar uma foto, serviria perfeitamente como ilustração desta

crônica.

Este mundo é mesmo esquisito, aquilo que eu procuro

nos seres humanos, naquelas pessoas que se dizem racionais é

intelectuais, acabo por ver nos animais, que são considerados

uma raça irracional é inferior, existe entre muitos desses animais

uma tolerância e um respeito de dar inveja a qualquer um de

nós, pessoas racionais.

Talvez o que nos falta seja aprender a observar melhor o

que está acontecendo a nossa volta, porque até os animais estão

nos dando exemplos de civilidade e respeito. Queremos um

mundo melhor com pessoas melhores, que se respeite que se

amem de verdade, independente de como ela seja ou de onde ela

veio, ou como ela esteja. Existe apenas uma verdade absoluta;

em todos os lugares do mundo, a de amar ao seu próximo com a

ti mesmo, essa é a grande verdade que a humanidade deixou

para traz.


123

MEU BRASIL.

Se houver um povo que é especial na face da terra esse

povo é o povo Brasileiro, a quem discorde desta minha opinião,

por considerar nossa terra atrasada, a quem diga que lugar bom

de viver é qualquer lugar que não seja aqui no Brasil. Não sou

ignorante ao ponto de não perceber as atrocidades que são

cometidas todos os dias nesse país, principalmente na esfera

politica, não só na esfera politica como também em todas as

camadas sociais. Talvez você esteja confuso, se temos tantos

problemas e em todas as camadas, como seria possível enxergar

algo de especial nessa terra de gigantes.

Nossa carga tributaria é umas das maiores ou se não a

maior do mundo, a violência em diversas de nossas cidades é

absurda, ao ponto de muitos traficantes mandarem fechar

escolas e comércios a seu bel prazer, sem dizer na saúde, se for

analisar o atendimento médico em hospitais públicos,

certamente que ficaremos horrorizados. Esses problemas todos é

apenas aponta do Ice Berg.

Mas o que eu quero realmente ressaltar nesta minha

crônica é a capacidade deste povo em driblar as situações

adversas que todos os dias o afligem. Pagamos altos impostos, e


124

de vez enquanto vemos protestos na rua e depredações que não

dura muito e acaba caindo no esquecimento. E o povo Brasileiro

consegue ainda sim mesmo com baixos salários pagar

honestamente suas contas. Vejamos as áreas de violência, as

favelas como exemplo; quem mora nos morros do rio de janeiro

tem uma vida do nosso ponto de vista quase inconcebível, mas

basta você conversar com alguém que mora na favela para ver

que suas vidas e o seu cotidiano é normal, assim como o seu é

normal. Mas dai você questiona, por ver casas amontoadas, sem

reboco ou acabamento, esgotos a céu aberto e tantas outras

coisas, os teus olhos fazem um pré-julgamento. Mas é ai que

você se engana.

Muitas pessoas honestas e direitas moram nessas favelas,

muitas pessoas que tem seus sonhos e objetivos e lutam por eles,

muitos jovens se formaram, e hoje são advogados, professores,

enfermeiros, enfim, lutaram e venceram não se deixe enganar

pelo que teus olhos veem, quando digo isso não me refiro só às

favelas, mas o Brasileiro como em um todo.

Por esse motivo admiro esses gigantes do dia a dia, esses

inúmeros heróis anônimos que estão por toda a parte, que

transformam suas vidas a partir do nada, de pouquíssima coisa,

sem dizer do sorriso no rosto, não há sorrisos mais belos do que

o sorriso do brasileiro.

Nossa terra é abençoada, por ter um povo que realmente


125

honra o hino de sua bandeira, somos filhos de gigantes, não

desistimos nunca. Sei que parece impossível mudar esse senário

atual, mas nuca subestime a capacidade deste povo. O Brasil é o

melhor lugar do mundo, a quem discorde e diga que outros

países sejam melhores que o nosso, será mesmo, tenho minhas

duvidas, pode ate ser em alguns aspectos socioeconômicos, mas

a alegria de viver e a vontade se superação está arraigada na

alma deste povo que tanto amo.


126

UMA FAZENDA CHAMADA LINDOYA.

Lembro-me de quando eu era criança, do tempo em que

eu morava em uma fazenda no interior de Minas Gerais, me

recordo do cantar do galo logo nas primeiras horas da manhã, do

orvalho fino na copa das árvores e nas pétalas das flores, gotas

que aos poucos escorriam das folhas buscando o chão, como

uma lágrima de despedida que se esvai de repente, lágrima da

noite que se foi gotas douradas silenciosas e solitárias.

Lembro-me do enorme quintal de terra batida, e do

cacarejar alvoraçado das galinhas no momento em que meu pai

jogava o milho, asas se debatendo, galinhas disputando entre

bicadas milho por milho; em poucos instantes os grãos

desapareciam completamente e as galinhas iam cada uma para

seu lado. Recordo-me do fogão a lenha acesa, brasas vermelhas,

o cheiro gostoso do café passado em coador de pano. Na

cozinha uma mesa bonita, com queijo fresco, goiabada caseira,

pães caseiros, manteiga, leite de vaca tirado na hora, milho

assado e a doce voz da minha mãe nos chamando para tomar o

café.


127

Lembro-me que logo após o café, depois que meu pai

saia para o trabalho, eu e meus irmãos corríamos para o quintal,

brincávamos a manhã inteira, brincadeiras que eu costumo

chamar de caseiras, nós não tínhamos vídeo games, mas nem

por isso éramos menos felizes, brincávamos com simples

bolinhas de gude, e era muito divertido. Não tínhamos Internet,

vídeos do YouTube, não tínhamos whatsapp e nem face book,

mas ainda sim éramos felizes, tínhamos boas amizades,

conversávamos olho no olho, face à face; hoje tal coisa está em

desuso, o avanço da tecnologia acorrentou essa geração; um

comodismo perigoso e egocêntrico toma cada vez mais espaço

na vida de milhões de pessoas afastando-as uma das outras.

Lembro-me com saudade imensa e dor na alma da fazenda onde

nasci.

Naquele tempo as brincadeiras eram simples, porem, era

as mais divertidas, brincávamos de pega, pega, queimada,

futebol em campo de terra, e tantas outras brincadeiras que já

nem existem. O que dizer dessa nova geração, que não conhece

o que é acordar com o galo cantando as cinco da manhã, o que

dizer de uma geração que não sabe o que é andar a cavalo, que

não sabe o que é pescar de varinha de bambu, que não sabe o

que é levar uma carreira de boi bravo. E depois de passado o

susto ficar contando vantagens aos mais velhos. Havia algo de

diferente no olhar de cada um, uma inocência gostosa que se


128

perdeu com o passar do tempo, essa nova geração cresce

escravizada da tecnologia.

Lembro-me da fazenda chamada lindoya, dos colegas de

infância, da velha fábrica de aguardente onde meu pai

trabalhava, dos caminhões carregados de cana em época de

moagem, do tempo em que a velha fábrica funcionava e do

cheiro gostoso do melaço da cana. Esse tempo passou e não

volta mais, tenho saudades e me arrependo de não ter

aproveitado o bastante, como disse certo colega: " Nós éramos

felizes e não sabíamos. " O tempo passou e não volta mais,

levou consigo o que havia de melhor, ficando apenas a saudade

apertando e machucando o peito.

Hoje somos escravos de nós mesmos, dos nossos

interesses, de nossos caprichos modernos. Os anos voaram nas

asas do esquecimento, e somos obrigados e viver em meio a

uma sociedade de capitalistas selvagens, onde o maior dos

interesses é no vil e desprezível pedaço de papel chamado

dinheiro. Por ele muitos matam, muitos morrem e muitos se

matam. Acabaram-se os sorrisos verdadeiros, ofuscou-se aquele

olhar apaixonado pelas coisas simples do campo. Hoje é dia de

recordações, de uma profunda reflexão sobre o rumo que nossas

vidas tomaram. Como diz certo refrão de uma famosa canção: "

Nada do que foi será, do jeito que já foi um dia."

Dói muito tais recordações, muito mais do que vocês


129

possam imaginar, somos como locomotivas desgovernadas que

a qualquer momento irá descarrilar. Lembro-me com lágrimas

nos olhos, de coração partido e alma ferida, de uma fazenda

chamada lindoya.


130

IMPRESSÕES DE VIAGEM.

Na tarde daquele domingo o calor era intenso, a

temperatura oscilava na casa dos trinta e cinco graus, a sensação

térmica ultrapassava os quarenta graus. Eu caminhava

tranquilamente pelas ruas de paralelepípedo da cidade de São

Miguel dos Campos em Alagoas, cidade essa que me fez

lembrar-se da cidade onde nasci em Minas Gerais - Rio Casca -

A cidade de São Miguel dos Campos não é tão grande e

nem tão pequena também, dividida em duas partes; sendo a

parte mais alta com a maioria dos bairros, e a parte baixa e plana

da cidade onde ficam a prefeitura, o comércio, o hospital e a

usina de cana de açúcar e álcool, a cidade possui características

únicas e uma arquitetura própria, de singular simplicidade e

grande beleza, lembrando e muito algumas cidades históricas do

interior Mineiro; o grande diferencial de São Miguel dos

Campos talvez seja o calor; para quem não está acostumado com

o calorão, no primeiro momento acha um absurdo, mas acaba se

acostumando, para os Alagoanos as altas temperaturas é algo

completamente normal, de certo um convite para ir a praia, e por

falar em praia; Alagoas tem praias belíssimas, a exemplo da

praia da Barra de São Miguel e a praia do Gunga, lugares


131

maravilhosos que certamente demorarei para esquecer. Quando

eu fui a Barra de São Miguel, a primeira coisa que chamou a

minha atenção foi o momento em que nos aproximávamos da

praia, fiquei encantado, a vista que se tem da rodovia que da

acesso a praia é maravilhosa, vindo de São Miguel quase ao

chegar à Barra, numa decida bem íngreme, você se depara com

a vista do mar e toda sua imensidão azul, os inúmeros pés de

coqueiros da praia do Gunga, o Recife de corais que mais parece

um paredão de pedra no meio do mar, formando uma espécie de

lagoa entre o mar alto e a praia; quando a maré está baixa é

possível ir até esse majestoso paredão de pedra , mas no

decorrer do dia a maré sobe encobrindo o Recife de corais, e o

paredão de pedra some no meio do mar.

Os Alagoanos são muito simpáticos, e deixou-me com

uma maravilhosa boa impressão, eles são muito acolhedores,

pessoas alegres por natureza que por qualquer motivo fazem

festa. Outra coisa muito particular em Alagoas é a hora em que

o sol nasce e o momento em que ele se põe, digo isso porque

estamos acostumados em São Paulo com o dia clareando as seis

horas da manhã e com o anoitecer as dezenove horas da noite; já

em Alagoas o dia começa a clarear antes das cinco e meia da

manhã e à anoitece antes das dezoito horas, demorou para me

acostumar. Por várias vezes acordei assustado, imaginando que

já passava das dez horas da manhã, quando ao olhar no relógio


132

ainda não era nem oito horas da manhã. Outra coisa que não

pode faltar de maneira nenhuma dentro das casas dos Alagoanos

é um bom ventilador, é praticamente impossível você entrar em

qualquer casa em Alagoas e não se deparar com um ventilador

encostado no canto da casa, geralmente é mais de um, depende

muito do tamanho da família.

A minha primeira grande surpresa quando cheguei na

casa do meu cunhado foi ao tomar banho, percebi que não havia

chuveiro elétrico na casa dele, o chuveiro que ele tinha não era

do tipo convencional, desses que temos em São Paulo, fiquei

preocupado porque já era noite quando fui tomar banho; meio

assustado, meio receoso pela água fria, liguei o chuveiro

esperando a água gelada nas costas, mas qual não foi minha

surpresa, a água estava quente, como se fosse de um chuveiro

elétrico, depois meu cunhado me disse que todas as casas

sequem esse mesmo padrão, também com tamanho calor que faz

na cidade não é para menos, vendedor de chuveiros em Alagoas

morreria de fome com certeza; nunca em minha vida transpirei

tanto, meu rosto era mesmo uma mina de água e minhas roupas

ficavam o tempo todo encharcadas.

Fiquei poucos dias na cidade de São Miguel dos

Campos, mas foi o suficiente para ver quantas belezas existem

na cultura deles, o que pude perceber é que o Alagoano não está

muito preocupado com a correria do dia a dia como é os


133

Paulistanos, eles não dão tanto valor ao materialismo, mas com

certeza, valorizam e muito o prazer de viver bem, de estar

sempre alegre e em festa; somos acostumado ao ritmo frenético

de uma São Paulo desvairada que nunca para e nunca dorme, a

nossa diversão, na visão dos Alagoanos é contida programada e

deficiente. O que pude perceber é que temos muito a aprender

uns com os outros, na minha bagagem eu trouxe mais do que

presentes, eu trouxe a certeza de que aprendi muito com cada

sorriso e com cada olhar de um povo alegre simples e

espetacular.


134

TALVEZ UM DIA.

Não temos valor algum, afinal, o que nós somos para a

elite mundial? Certamente que, como alguém bem disse certa

vez: “Para eles somos descartáveis e sem valor, tal qual gado no

pasto." Se pararmos para pensar é bem verdade, pelo menos é o

sentimento que está predominando em mim, que está forte

dentro do peito deixando a alma doente. É bem isso que eles

querem ver-nos doentes, moribundos, desfalecidos, essa é a

imagem do pobre trabalhador Brasileiro, imagem de desolação,

semblante caído, vencido por um sistema que massacra um

sistema que aniquila aos poucos, essa é a grande verdade, a de

que estamos sendo eliminados; mortos dia após dia hora após

hora, estamos sendo aniquilados.

O governo com suas mandíbulas de ferro destroçam os

mais pobres e mais humildes, arrancando - lhes pedaço por

pedaço, até que não sobre mais nada, o povo brasileiro está

sendo dizimado aos poucos, de um modo silencioso, quase

imperceptível. As ruas das nossas cidades denunciam o descaso

das elites governamentais, enquanto muitos estão morrendo de

fome sem ter onde dormir, os políticos desse país vivem sobre

um teto luxuoso, comendo especialidades com valores


135

exorbitantes, tomando vinhos em garrafas pequenas, cujo o

preço ultrapassa a casa dos noventa mil reais, isso é apenas um

detalhe que descobri, essa elite podre anda dizendo que governa

para o bem do povo; será mesmo? A grande verdade que os

brasileiros não querem enxergar que estão sendo sugados, tal

qual um vampiro sua o sangue da sua vitima, assim somos nós

nas unhas desses governantes.

A vida não tem sido nada fácil para milhões de

Brasileiros, ainda mais em tempos de crise, tempos de

dificuldades, todavia, existem muitos patrões que estão se

aproveitando da crise para pesar sobre o trabalhador as suas

consequências, reduzindo salários e cortando benefícios, a

principio, alguém pode até dizer que é efeito da crise, que todos

têm que colaborar, e tal... Mas tem muitos aproveitadores, a

exemplo dos governantes, que só querem reduzir de quem não

tem nada, eu tenho conhecimento de muitas empresas nessas

situações, explorando o funcionário, sendo que estes mesmo que

se dizem preocupados com a crise, são os que menos ajudam de

fato, os seus salários, a exemplo dos governantes, são altíssimos,

eles têm carros luxuosos alugados para sua disposição, e tantas

outras coisas desnecessárias, e se acham no direito de tirar do

pobre.

Quanto mais trabalhamos menos valor temos, essa é uma

verdade, eu mesmo sou uma prova viva disso, durante treze anos


136

da minha vida trabalhei como pedreiro refratarista em uma

empresa metalúrgica, eu fazia manutenção em cubas de redução

de oxigênio de alumínio. Durante todos esses anos trabalhei

pesado, em local fechado, com temperaturas altíssimas, e uma

poluição sem igual. Lembro-me de quando entrei na empresa,

Lembro-me de ouvi alguém dizer: "vista a camisa da

empresa, trabalhe duro e faça o seu nome dentro da empresa."

que tolice foi a minha, acatei o que me disseram, e trabalhei

anos a fio de sol a sol, na maioria das vezes doente, o resultado

de tanto sacrifício foi à deterioração da minha saúde; hoje tenho

quatro parafusos na coluna e uma prótese intervertebral. Essa foi

minha paga.

Não era da minha vontade fazer uma cirurgia na coluna,

mas eu estava com desgaste no disco, L4 e L5, com hérnia de

disco, as dores eram insuportáveis, cheguei a travar dentro da

minha própria casa, eu já não exercia a minha função tão bem,

surgiu então ums oportunidade de mudar de setor, e assim foi,

recolocado em uma nova função eu pensava que seria mil

maravilhas, mais uma vez me enganei, o que tinha de pior

naquele setor sobrou para mim, foi quando tive que fazer a

cirurgia. Agora encostado no INSS, estou passando por situação

que muitos brasileiros passam todos os dias; humilhação e

descaso; esse é o nosso Brasil, que não valoriza sua maior

riqueza, que é o seu povo. Ficar o dia inteiro em uma fila de


137

INSS não é para os fracos, definitivamente não é para os fracos

de espírito, somente guerreiros de verdade conseguem tal

proeza.

Não há muito que fazer por esse país de corruptos e

ladrões, a única maneira, ainda que muito improvável, é o

período de eleições, mas para ser bem sincero, particularmente

eu não creio no voto, no meu entender é tudo manipulação,

ganha as eleições quem eles querem quem eles escolhem

segundo os seus interesses, sempre foi assim e não vai ser dessa

vez que vai mudar. A verdade é essa, que a elite mundial, os

senhores do mundo, determinam tudo em nosso país, o

presidente é um mero fantoche nas mãos dos verdadeiros donos

desse país, e acreditem os donos do país não somos nós, o povo,

pelo contrário, a vista deles somos considerados gado. Que Deus

tenha misericórdia das nossas almas, porque os homens não têm

nem um pouco de misericórdia.

Talvez um dia tudo mude talvez um dia os governantes

mudem, bem sabemos que é quase impossível essa mudança, e

se de fato acontecer será sem dúvidas um verdadeiro milagre.

Enquanto o milagre não acontece, nós continuamos nas garras

afiadas desses déspotas tiranos. Todos são iguais, estão no

mesmo nível, se um cair, todos caem juntos, por isso é tão difícil

se conseguir algum resultado positivo neste quisto, quando a

coisa parecer andar, quando achamos que esse ou aquele vai ser


138

detido, vem a surpresa e acaba tudo em pizza, e nós o povo

brasileiro, continuamos a sonhar com um talvez que nunca

chega, um amanhã tão improvável quanto incerto. Somos

manipuláveis, esse é o grande problema, somos fáceis demais,

nos conquistam com poucas palavras vazias.

Enquanto escrevo essa crônica, estou esperando ser

atendido no INSS, o local está lotado de pessoas aguardando

impacientes para ser atendida, a maioria delas está aqui a mais

de cinco horas. Homens, mulheres, idosos, doentes, todos

buscando o que lhes é de direito por lei, porém, o nosso governo

nega aquilo que nos pertence, afinal, pagamos os nossos

impostos corretamente, contribuímos com o INSS dando parte

de nossos salários, no objetivo de quando precisarmos de ajuda

seja na aposentadoria ou em afastamento médico, sejamos bem

atendidos e assegurados, todavia não é que acontece,

infelizmente.

Fica aqui registrado o meu descontentamento com essa

raça de víboras rastejantes, que Deus nos guarde da maldade

desses corações malignos.


139

O MUNDANISMO E A RELIGIÃO.

O mundo e seus ideais, a incessante busca pelo

conhecimento, o desenfreado desejo humano pela imortalidade;

tecnologias inovadoras que visam o melhoramento da espécie,

para que as próximas gerações estejam cada vez mais perto da

excelência de um ser humano perfeito.

O mundo e seus ideais, buscando cada vez mais a

liberdade, em todos os sentidos, liberdade econômica, liberdade

artística, liberdade religiosa, principalmente a liberdade

religiosa. Quando o mundo ouve a pronúncia religião, logo vem

à ideia de prisão, de correntes grossas presas nos punhos e nos

pés, essa é a ideia que o mundo criou da religião, sendo assim, o

mundo achou por bem extinguir de seu meio a religião e Deus.

Mas afinal, o que é a religião? Qual a razão para ela ser vista

com tanto demérito, ou melhor, o que a religião fez para ser

vista com tanto desprezo? Bom, vejamos então; na Bíblia

sagrada, Tiago definiu a religião verdadeira da seguinte maneira.

" A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta:

Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se

isento da corrupção do mundo." Se essa é a definição verdadeira

de como deve ser a religião, então fica claro para mim que o


140

oposto disso se constitui na falsa religião, que em nada agradará

a Deus. Sendo assim, durante muitos anos, as religiões

declinaram de seu verdadeiro papel no seio da sociedade, ao

invés de abrir as suas portas para os humildes e mais pobres, ela

fez justamente o contrário, se fechou tornando-se um clube

privado de interesses próprios, buscando a satisfação pessoal e

enriquecimento de alguns, a religião tem se preocupado em

construir templos magníficos e suntuosos. Ao invés de ajudar a

construir corações renovados na presença de Deus.

Muitos líderes nestes suntuosos templos, não se

importam com seus templos menores, que na maioria das vezes

estão carecendo de ajuda para reformas básicas, o líder local tem

que fazer das tripas coração para poder realizar os reparos na

igreja local, enquanto suas sedes esbanjam beleza e luxo. E o

dízimo dos membros, por qual motivo ele não pode, nestes

momentos críticos, ser usado ali mesmo? Ao invés de ser

mandado todo para suas sedes. Essa imagem horrorosa o mundo

todo está vendo, não só isso, excessos de diversas maneiras são

vistas a todo o momento por todos, e o pior é que essas pessoas

tem que muitos membros fingiram que não estão vendo o que

acontece nos bastidores, essa imagem negativa têm sido

mostrada frequentemente ao mundo, uma de uma religião de

interesses, não de uma igreja que deveria ser amorosa, que

abraça os mais pobres, e abriga os mais humildes.


141

O mundo tem se tornado em lugar de interesses, e o que

move o coração das pessoas interesseiras é o dinheiro, este vil

pedaço de papel tem se tornado um deus na terra, por ele as

pessoas matam e morrem, incluindo religiosos, quando digo

religioso me refiro a todas as classes de pessoas que se dizem de

Deus, mas que na verdade não são.

Quero ressaltar, que muitos ainda conservam os seus

corações íntegros e retos, cumprindo com o que Jesus ensinou,

de amar o seu próximo como a si mesmo, a esses fica o meu

prestígio e admiração. Jesus certa vez disse: "De graça

recebestes de graça daí.” Quando Jesus enviou os discípulos

para anunciar a palavra da salvação, advertiu-lhes que não

levassem nada consigo, nem bolsa nem nada, e que comecem o

que as pessoas oferecessem. Esse era o padrão correto que Jesus

deixou como exemplo, agora eu lhes pergunto; Quem ainda faz

isso nos tempos de hoje?

O mundo começou a entrar na religião e nas igrejas

desde muito tempo atrás, mas ninguém se importou com isso,

simplesmente permitiu que o mundo entrasse, como se não

bastasse, ofereceu ao mundo um lugar de destaque, uma posição

de comando. O mundo é um exímio político do inferno, dita as

regras para as igrejas, não com o intuito de fazê-las crescerem,

mas com o desejo de destruí-las de dentro para fora, e muitos

tem acatado o que o mundo diz àquela minoria que tem se


142

colocado contra estes monarcas do diabo, tem sofrido horrores,

muitos líderes que se opõe a tirania desses senhores do mundo,

tem sofrido na carne, muitos pagão com a própria vida.

Por isso reprovo o mundo é seus ideais de superioridade da raça

humana, fazendo com que cada pessoa acredite que são

pequenos deuses de si próprios, essa é a ideologia do mundo,

distanciar o homem do criador, fazer com que o homem busque

a imortalidade através da ciência e do conhecimento humano,

fazendo o homem se esquecer de Deus.

Muitos líderes religiosos tem abraçado esses ideais, e aos

poucos tem introduzido nos seus círculos religiosos essas ideias

do inferno, o resultado disso é o amor se esfriando ao longo dos

anos, muitos têm se tornado egoístas, um bom exemplo de

egoísmo e desinteresse pelo próximo vemos em dias de

domingo, onde muitos tem o costume rotineiro de ir para igreja,

colocam a melhor roupa e saem com a família, se a igreja é

próxima vão caminhando, se não, pegam o carro e saem; se no

caminho da igreja estiver na calçada um andarilho, todo sujo e

com vestes rasgadas e velhas, com a barba enorme e os cabelos

grandes e sujos, qual vai ser a reação mais lógica de quem

estiver passando? Ou elas se desviaram do caminho ou

simplesmente iram fingir que não estão vendo, é assim que

acontece, essa é a lição que a maioria aprendeu com esses ideais

do inferno.


143

O mundo só se tornara melhor, se cada um se tornar

melhor para si mesmo e para os outros a sua volta, mas isso é

algo que no meu ponto de vista parece impossível de acontecer,

o mundo reflete no homem e o homem reflete o mundo. Deus

está sendo esquecido, desprezado e taxado de mentiroso.

Uma coisa é certa, Deus fará justiça muito em breve, e mostrará

para o mundo todo, e para todos os mundanos que ele é santo.

Deus é amor sim, mas é justiça também, temos que ser de Deus,

e ser de corpo alma e coração, não só da boca para fora, mas

temos que ser autênticos filhos de Deus, e mostrarmos com

atitudes o quanto somos de Deus.


144

A FALÍVEL CIÊNCIA DOS HOMENS.

Os homens e seus planos infalíveis, o desejo de

conquista no coração humano, o desejo de desvendar os

segredos do universo, de saber como tudo começou e o porquê

disso ou daquilo. Homens e seus planos, construído máquinas

monstruosas, bilhões em investimentos, cooperação mútua entre

nações, cientistas renomados, todos reunidos com um único

objetivo, descobrir o segredo da vida, a origem de tudo. Homens

com inteligência acima do padrão médio, considerados gênios

do nosso tempo, homens que gastaram anos e mais anos de suas

vidas em estudos e pesquisas; homens que envelheceram dentro

de um laboratório, homens que nunca pararão para apreciar o

nascer do sol e o seu espetáculo todas as Manhãs, homens que

nunca viu um pássaro alimentar os seus filhos no ninho, homens

e seus planos infalíveis.

Eles construíram máquinas voadoras, capazes de atingir

alturas impensáveis, o cosmo, máquinas que viajaram até a lua,

máquinas que fotografaram a superfície lunar, um lugar

inóspito, ermo, sem vida alguma, com deficiência de gravidade,

mas o homem achou que isso não era o suficiente para os seus

estudos e pesquisas, o insatisfeito coração humano se empenhou


145

todos os seus esforços na construção de uma máquina ainda

maior, uma máquina que fosse capaz de transporta-lo até a lua;

bilhões foram gastos, e a poderosa máquina foi criada, foi

batizada com um nome, cuidarão dela como se fosse uma

criança de colo, marcarão data para partirem até a lua.

Homens e seus planos infalíveis, e o desejo que nunca

será saciado, a potente máquina parte para seu destino, os olhos

do mundo contemplou sua partida, comemorarão como se fosse

gol em final de campeonato, o homem quer sempre mais, cada

vez mais, cheio de desejo em desvendar os mistérios do

universo, querendo a todo custo desmentir a existência de Deus.

Homens e seus planos infalíveis, homens incrédulos, ateus que

pensam com a razão de uma ciência cega, eles querem encontrar

uma agulha no palheiro, o que eles fazem é o mesmo que

procurar tal agulha de olhos vendados durante a noite, homens e

seus planos infalíveis, todos imbecis, medíocres, pensam que

sabem, pensam que podem, pensam que conhecem, mas a

verdade é uma só, todos os homens são cegos, mudos e

Aleijados diante de um universo infinito.

Homens que pisaram na lua, mas que nunca alçaram o

próprio coração, homens que desconhecem as próprias emoções,

homens que não sabem lidar com a própria espécie, e por algum

motivo de pura ignorância, acham que podem provar a

existência de novas raças. Homens que procuram entre as


146

incontáveis estrelas respostas para entender o imenso vazio de

seus corações. Homens que não aceitam que tudo o que existe

nesta terra e fora dela é criação de Deus. Homens que preferem

gastar recursos e tempo criando latas voadoras, mas que se

negam a pagar um almoço para o mendigo na esquina, homens

miseráveis, que construíram uma monstruosa maquina em baixo

da terra, com o único objetivo de acelerar as partículas e os

átomos No intuito de dividi - lá e com isso acham que já

conhecem o bastante.

Homens e seus planos infalíveis, que trocaram os seus

corações de carne por um de metal, homens sem sentimentos,

que não conseguem enxergar no sorriso inocente de uma

criança, a imagem do criador, homens tolos, que nunca pararam

para ouvir a sinfonia dos pássaros logo quando o sol nasce,

homens idiotas, com ideias idiotas. Homens que não satisfeitos

em pisar na lua, agora querem pisar em Marte, homens que não

mediram esforços para alcançar o planeta vermelho. Homens

que tem como deus a ciência, tecnologias que poderiam ser

usada na cura de doenças; as mentes mais brilhantes de nossa

era, não estão interessadas em resolver os problemas que se

amontoam em nosso planeta, apenas alguns, e são bem Poucos

aqueles que têm o desejo de ajudar o próximo.

Homens e seus planos infalíveis, cientistas do diabo,

querem o domínio da ciência, quer o controle total, eles não


147

acreditam em Deus, mas querem ser vistos como deuses na

terra, buscam a todo custo a imortalidade, se acham senhores da

vida, se acham senhores do mundo, são tolos, imbecis, nada

sabem.

Deus é o criador por excelência, tudo está no seu controle, a

vida de cada um de nós está nas mãos de Deus, se ele resolver

nos chamar, não haverá ciência ou poder humano que possa

impedir, o homem com seus planos infalíveis perecerá, o

conhecimento desses cientistas é para Deus como esterco de

vaca, para nada serve.

O homem não admite sua pequenez, o homem não

admite Que ele não poderá jamais explicar o segredo da vida.

O homem quer pisar em Marte, mas não conseguiu chegar nas

partes mais profundas do oceano, o homem é egoístas e

egocêntrico, só enxerga a si próprio e seus desejos. O homem

sem Deus no coração é pior do que os animais e as bestas feras

existentes em nosso planeta. O homem mata por nada, criou

armas capazes de destruir o próprio planeta, não acredito mais

no homem da ciência, definitivamente não.

Talvez eu seja louco sim, afinal, crer que tudo foi feito por

Deus, em apenas sete dias, para o homem da ciência é loucura,

mas para os homens de Deus, isso é algo maravilhoso e

magnífico.

Perdoe-me homens da ciência com seus planos


148

infalíveis, eu não creio em vós, nada do que vocês Fazem tem

valor para mim, eu creio em Deus, e me emociono quando

contemplo o nascer do sol, o canto dos pássaros, uma criança ao

sorrir, quando vejo estas coisas percebo o quanto sou pequeno e

o quanto Deus é grande, me sinto como um grão de areia diante

do mar.

Talvez eu esteja louco sim, afinal, dou risadas sozinho,

olho para o céu e converso com Deus, com as estrelas, com as

flores, mas é evidente que isso é um claro sinal de loucura.

Saibam de uma coisa, eu prefiro ser louco com Deus no coração,

do que ser um gênio sem Deus no coração. É isso homens e seus

planos infalíveis, cientistas malucos, eu não creio só no que os

olhos não veem, eu creio pela fé, simples assim.


149

LOCOMOTIVA DESGOVERNADA.

A humanidade é uma locomotiva em alta velocidade

pronta a se descarrilar. A qualquer momento essa locomotiva

desgovernada sairá dos trilhos, e as consequências serão

inimagináveis. O homem perdeu sua identidade, a sua imagem

já não é a mesma imagem de antes, aos poucos o homem tem se

desfigurado ficando irreconhecível. “Somos a imagem e

semelhança de Deus" é assim que fomos criados, a imagem do

criador a sua semelhança, mas não é o que vemos hoje em dia,

por esse motivo volto a repetir, o homem perdeu a sua

identidade original, identidade que o identificava como imagem

e semelhança do criador. A descaracterização da figura humana,

é o claro resultado de uma desobediência e rebeldia Plantada no

coração humano.

O inimigo número um do ser humano é o diabo, ele foi o

primeiro a desobedecer e a rebelar -se, a atitude de Satanás

inspirou a rebeldia entre os homens, a atitude de Satanás está

sendo absorvida e difundida entre os humanos de coração fraco.

Assim como a antiga serpente, os homens não querem se


150

submeter às regras e as normas, razão pela qual transgredem os

bons costumes, com isso os homens dessa era, estão sendo a

imagem e a semelhança do próprio Satã.

O inimigo leva as pessoas a se justificar e procurar o

apoio de outros em seu pecado. Em vez de corrigirem os seus

erros, indignam-se contra aqueles que apontam os erros, como

se fosse ele a causa dos problemas. Isso acontece a todo

instante, nos somos acusados de sermos o problema da

humanidade, muitos grupos apontam o dedo para nos Cristãos,

com a acusação de que somos o problema de tudo o que há de

errado. Prova disso, é a ressente marcha para Satanás que

aconteceu em algumas cidades do Brasil, os organizadores desta

marcha protestavam contra o avanço da bancada evangélica no

senado. Vejam no que o homem está se tornando. Os bons

costumes de outrora, já não serve e nem veste a sociedade atual,

onde a única coisa que importa para eles, é fazer o que bem

entenderem, eles não gostam de leis e nem de regras, querem

viver livres, e qualquer um que lhes impuser qualquer regra, é

considerado um inimigo. Para os amantes de Satã, tudo o que é

de ruim, é considerado o certo, drogas, roubos, mortes, violência

sexual, violência moral. O ser humano definitivamente não é

mais o mesmo, a cada dia que passa os desobedientes tem se

parecido com o pai deles que é o diabo.

Assim como no céu, Satanás representou de maneira


151

distorcida o caráter de Deus, fazendo o criador parecer severo e

tirano, Satanás induziu o homem fazer o mesmo. Essa presente

sociedade está cometendo o mesmo erro que Lúcifer cometeu no

passado, porém, existe uma grande diferença entre o nosso erro

e o erro do diabo, o ato em si é o mesmo, mas a forma que Deus

vai tratar não vai ser a mesma, no caso do diabo, Deus o

condenou eternamente sem chance alguma de perdão, e ainda

criou um lugar de tormento para Satã, conhecidos como inferno.

Com o homem Deus vai tratar da seguinte maneira:

Primeiro; vai lhe conceder tempo para arrependimento,

enquanto o homem estiver vivo, essa possibilidade de perdão

estará a sua disposição caso queira usa - lá, mas Se o homem

mesmo assim recusar o arrependimento, seu destino será o

mesmo do diabo, e ambos serão lançados no fogo eterno.

Na cruz a culpa de Satanás foi apresentada, ele então revelou o

seu verdadeiro caráter. Suas mentirosas acusações contra o

caráter de Deus aparecerão como realmente são. A humanidade

de hoje, tem se mostrado propicia aos desejos insanos de Satã,

fazendo exatamente o que o inimigo fez, caminhando pela

mesma estrada, o resultado final todos sabem, somente os

seguidores de Satã não enxergam, ou pelo menos fingem que

não estão vendo. A pretensão do inimigo com isso é clara, está

evidente que ele deseja levar para o inferno o maior número de

pessoas possíveis.


152

É triste ver isso acontecer, ver o ser humano se desfigurar diante

de seu criador.

O carnaval, mundialmente conhecido, é uma afronta

diante de Deus; o nível de prostituição e uso de drogas, aumenta

absurdamente, sem dizer na exposição do corpo nu, tanto

masculino quanto feminino. Muitas cidades do Brasil, os

prefeitos estão cancelando o carnaval para poderem usar o

dinheiro em outras coisas, essa é uma atitude exemplar, mas há

sempre aqueles que defendem o carnaval, não importa se a

comunidade onde ele mora está carente, sem saneamento básico,

não importa se no Rio de Janeiro, os hospitais estão caindo aos

pedaços, não importa se a inflação está abusiva e insuportável,

nada disso importa: O que eles querem e diversão, bebidas,

prostituição e o que mais tiver, esse é o retrato daquilo que um

dia foi Imagem e semelhança de Deus.

Ao transgredir a lei divina, a natureza do homem se torna

má, o seu coração se torna mal, e só ouvir o noticiário, quantos

filhos matam os pais e vice versa, esse ódio todo no coração do

ser humano não é algo normal, isso não veio de Deus, um pai

que mata uma criança de tanto bater, como eu vou chamar uma

pessoa de filho Deus, imagem e semelhança f do criador. Jamais

vou fazer isso, embora enquanto vivo esse pai, mesmo

cometendo tal atrocidade, ainda tem direito ao perdão divino.

Este adversário se intromete em cada lar, nas ruas, nas igrejas,


153

nos meio político, nos tribunais judiciários, confundindo,

enganando, seduzindo, arruinado mente alma e coração. O diabo

destruiu o homem de dentro para fora, e de fora para dentro. A

conformidade aos costumes mundanos leva as coisas mundanas.

Quando mais o homem pecar, mais o homem irá se familizar

com o pecado, aceitando o erro como se fossem coisa normal.

O mundo está perdido e não há mais o que fazer, devemos nos

afastar do mundo, entenda, eu disse do mundo, não dás pessoas,

elas são importantes para Deus, ele pode fazer delas

instrumentos de fé. Poderosos pregadores do evangelho.

Uma coisa é certa, o mundo está perdido, e quem se afeiçoou a

ela também está perdido.


154

UM ATALHO PARA O INFERNO.

( Relato de uma mente suicida ).

" O suicídio é uma ideia latente dentro de mim, me

corroendo a alma e o coração, um desejo que queima, que arde,

as vezes vem forte, muito forte, muito mais forte do que eu. Eu

tento despista-lo, mas não consigo, as vezes eu o desejo, ele

corre de mim, as vezes é ele que me deseja, eu me escondo dele.

Minha vida é essa inconstância.

O suicídio me deseja a tanto tempo, que já perdi as

contas, houve momentos da minha vida que quase cedi aos seus

encantos insanos, um momento de desespero, de angústia, de

dor, nas mãos uma corda, grossa corda. Lá estava o meu

pescoço, desejando a corda, cortejando a morte, mas nesse dia

ela fugiu de mim, a morte não me quis, ela parece não me

querer; ou sou eu que nunca quis a morte, agora estou confuso.

O suicídio me atormenta em dias de silêncio, profundo

silêncio, penso nele de muitas maneiras; existe várias maneiras

de se pensar nele, eu sei que tem maneiras diferentes de pensar


155

nele, ele mesmo me disse, ele mesmo me mostra. Não é só a

corda, não é só a bala de um revólver, não é só se jogar de uma

ponte, não é só pular de um prédio, não é só se jogar debaixo de

uma carreta, não é só se ferir com uma faça, não é, não é isso, é

muito mais.

O suicídio veio cantando sua fúnebre canção, os braços

estavam abertos, um largo sorriso no rosto, lá estava ele, em um

pequeno frasco desconcertado, clamando pelo meu nome,

querendo a doçura de meus lábios, eu sem ter o que fazer, sem

ter como me defender; eu que relutei, dentro de mim era uma

confusão só, parte de mim queria aquilo, parte de mim não

queria; ah...que terrível contradição.

O suicídio é como uma sombra que me persegue, me

espreita por onde quer que eu vá, sempre silencioso, sempre

sombrio, frio como as noites mais geladas, petrifica a alma com

seus gemidos misteriosos, na calada da noite ele se esconde,

atrás do véu de mistérios ele se oculta, em noites sem luar onde

não há um mínimo de luz, sem compreensão do perigo, eu não

me importo, não me incomodo.

O suicídio beijou-me outro dia, seus lábios tinham gosto

de morte, suave gosto, suave veneno a correr por minhas veias, a

inundar meu coração, cegando os meus olhos, eu já não vejo as

cores no mundo, aos poucos tudo é preto e branco, os aromas e

perfumes, aos poucos tornam-se em cheiro de cemitério, todo o


156

meu universo aos poucos se dilui, perde a força vital da vida, e a

vida transforma - se em morte.

O suicídio é uma ideia um tanto quanto egocêntrica,

talvez algum psicológico diga que meus laços com a sociedade

ao meu redor são tênues demais, talvez sim, talvez seja isso

mesmo, uma vez que a sociedade também ajudou na minha

destruição, de dentro para fora aliás, minha relação com meus

semelhantes é uma impossibilidade grandiosa, eu os suporto os

tolero, mas no fundo, não me adapto.

O suicídio é o meu café da manhã, de todos os dias, eu

coloco o suicídio na fatia do pão, junto com o café, na

sobremesa, na hora do almoço, ele adoça meu suco, e amarga o

meu coração, o seu reflexo está na faca que uso para cortar os

alimentos, na faca usada para cortar o pão, em qualquer vil

metal cortante, eu sempre vejo o meu reflexo, eu sempre o vejo

em um caixão de madeira, estendido eternamente diante de

mim.

O suicídio é uma arte, uma pintura na tela negra do

pensamento, com cores sombrias, cores medrosas, cores

covardes, uma tela sem sentido para quem contempla, mas para

o artista que a pintou, ela é perfeitamente compreensível. Ele

também é artista, sempre pintando o caminho das almas

condenadas ao esquecimento, almas carregadas de cores de

tristeza, cores mortas, a arte da morte é bela.


157

O suicídio é silencioso como Van Gogh, intenso como

Picasso, seu pincel é uma foice afiada no pescoço, pronto para

usar a tinta vermelha do meu sangue, tinta maravilhosamente

bela. A tela é uma caixa de madeira, exposta nas profundezas da

terra, sete palmos de profundidade; por cima uma cama de

grama, cobrindo o descanso eterno, de uma alma falida, vencida,

perdida no esquecimento.

O suicídio é a noite escura sem estrelas, sem luar, noite

cheia de quimeras do passado, cheia de gritos e arrepios, cheia

de coisas estranhas que não compreendo, ele, porém, é um

ótimo observador, fica de longe espreitando, estudando o meu

passo, medindo a minha ação, e quando vê uma brecha, um

momento de descuido, ele ataca com ferocidade, causando

feridas enormes, férias que não se cura.

O suicídio é um emaranhado de ideias pequenas, todas

devidamente trançadas, de um modo tão perfeito, que aquelas

tênues ideias isoladas, agora é uma corda forte, amarrada a meu

pescoço, essa corda de morte, é mais forte do que eu, supera

minhas forças, as minhas vontades, e quando por fim ela der o

aperto final, será o fim, mas ela parece brincar , desafiar, é um

gato brincando com suas presas."

O suicídio é tão desejado por tantas mentes fracas, é tão

almejado pelos corações levianos, mas que é pouco executado,

nem todos os que dizem ser suicidas em potencial conseguem


158

concretizar o ato de tirar a própria vida, por medo talvez, medo

do que poderá encontrar do outro lado, afinal, morrer é apenas

mudar de lado, não existe apenas este lado, não é só essa vida,

poucos sabem disso, mas o suicida tem destino certo do outro

lado.

O suicídio é apenas uma passagem para o inferno, digo a

verdade é não minto, eu não sou um suicida, mas tentei escrever

como se fosse um, a mente de um suicida é complexa, cheia de

altos e baixos, de momentos de extremo desespero e raros

momentos de calmaria. O suicídio é algo real em nossa

sociedade, pessoas se matam por nada, e por nada descobrem

uma eternidade de sofrimento. O é o caminho mais fácil para o

inferno.


159

ELE É TODOS NÓS.

Ele era apenas mais um no meio daquela multidão,

centenas de pessoas caminhando no asfalto quente, seguindo

desordenadamente em uma direção que não podia se ver quase

nada. A avenida estava tomada por militantes contrários ao

governo, gritos de ordem ecoavam de todos os lados,

xingamentos e mais xingamentos, lamentos, injúrias, desordem

em meio a aparente ordem. Ele apenas sequia o curso da

multidão, obedecendo cegamente àquelas pessoas, a sua vontade

foi suprimida pela vontade da maioria, suas palavras eram o

silêncio diante de tantas palavras sem nexo, sem razão, ele

simplesmente foi seguindo as cegas e se sujeitando as

declinações alheias, aquela não era sua vontade, mas ele não

tinha opção, ele teria que continuar seguindo.

No horizonte dos altos edifícios o sol foi se retirando,

lentamente se arrastando pelas vidraças, e pouco a pouco o

brilho intenso foi ficando avermelhado no horizonte, e a noite

que espreitava de longe se aproximou cada vez mais rápido, até

que de repente, já não havia mais luz natural, apenas as luzes

artificiais, lâmpadas dos postes, das casas, da larga avenida que

comportava toda aquela multidão de pessoas que protestavam


160

contra o governo, dizendo fora, dizendo não a corrupção,

dizendo não aos roubos, dizendo e dizendo, sem se cansar de

repetir, enquanto o pato de plástico amarelo e gigantesco, foi

colocado em plena avenida, rodopiava por cima das massas; o

pato nada dizia, assim como aquele moço o pato apenas

observava a multidão enlouquecida. O moço raquítico e

pequeno, que obediência forçadamente a multidão, não sabia

como tinha ido parar ali, aliás, ele não tinha a mínima ideia de

como foi parar ali.

As horas foram passando, um telão enorme foi colocado

para os manifestantes enlouquecidos acompanharem a votação,

e, enlouquecerem ainda mais, a cada voto a favor da saída da

presidenta, um novo grito, a cada grito, euforia, mas a cada voto

contrário, os mesmos xingamentos, as mesmas pessoas falando

injúrias, falando palavras de baixo calão, enquanto aquele moço

raquítico de camisa regata e face ossuda, continuava no meio da

multidão, era impossível sair naquele momento, empurra daqui,

aperta dali, e nada de chegar a lugar algum. No meio da avenida

o pato parecia sambar por cima das pessoas, o reflexo das luzes

no seu amarelo deu a impressão dele estar vivo, mas era apenas

impressão, efeitos do álcool no organismo de muitos, o moço

raquítico também havia bebido durante toda aquela manhã, sem

nada no estômago, sentiu-se enjoado, quase a ponto de vomitar

no meio da multidão, mas ninguém estava nem aí para ele,


161

ninguém nem aí para ninguém, aliás.

Quando a votação finalmente atingiu seu ápice, quando

finalmente a maioria dos votantes decidiu contra a presidenta

que ainda governava, as pessoas ficaram ainda mais eufóricas,

soltava rojões e davam gritos e abraçavam uns aos outros,

parecia até a final de um campeonato de futebol. O moço então

percebeu que nada daquilo fazia sentido, nenhuns dos lados

estavam certos, não havia vitoriosos ali, nem os contra a atual

forma de governo e tampouco nova proposta de governo, com

muita dificuldade o moço foi se retirando do meio da multidão,

apertando daqui e dali, e pouco a pouco ele foi saindo e saindo

até ver-se livre do meio da algazarra, abrigou-se em um pequeno

bar que ficava próximo na esquina de uma rua menor, era o

único lugar que ele poderia ficar tranquilo sem ser empurrado

por ninguém, o rapaz sentou-se em uma das mesas vazias

daquele bar, esperando até que a multidão Fosse embora, ele não

pediu nenhuma bebida, ficou em completo silêncio.

Depois de alguns minutos ali sentados, sem nada dizer, o

dono do bar aproximou-se, sentou ao lado do moço, e começou

a conversar, disparando palavras e mais palavras, dizendo

inúmeros argumentos, irregularidades do ainda atual governo, o

moço apenas olhava para o dono do bar sem nada dizer,

enquanto o dono do bar gesticulando sem parar acenava para a

multidão querendo justificar qualquer coisa injustificável. O


162

dono do bar percebendo que o moço não dizia nada, perguntou-

lhe:

─ Então meu jovem, o que você acha, não vai dizer nada.

O moço paciente, olhou para o dono do bar e começou a

gesticular e a gesticular, balbuciando sons indecifráveis. Foi

então que o dono do bar percebeu que ele era surdo.

Aquele moço não representava nenhum ideal político ou

qualquer bandeira partidária, ele na verdade é a representação do

povo brasileiro, a maioria desfavorecida da nação, que não tem

uma casa para morar, que não tem um hospital descente para

lhes socorrer, que não tem um salário digno ou mesmo um bom

emprego, esse moço representa muitos de nós, que temos um

sonho, e temos poucas chances de realização, temos um ardente

desejo de mudança, mas pouca força de realização; aos olhos da

classe política desse país, somos todos surdos e mudos. Não

importa quem ganhe no final, na verdade somos todos

perdedores. Aquele moço sou eu; é você; ele é todos nós.


163

LÁGRIMAS.

Lágrimas que molham o meu rosto revelando o desgosto

de um grande mau. Lágrimas ao ler o jornal e encontrar somente

notícias ruins, lágrimas ao saber que nesse país muitos estão

roubando milhões e ninguém se importa com isso, enquanto

outros milhões de Brasileiros vivem em extrema pobreza, e não

é necessário recorrer ao extremo norte do país para evidenciar

tão fato; na minha cidade, em plena Sorocaba, muitas famílias

vivem abaixo da linha da pobreza com menos de cinquenta reis

por mês, tente imaginar você vivendo com menos de cinquenta

reais por mês, ainda com filhos pequenos para alimentar, essa é

uma verdade e esses dados são de uma matéria publicada no

jornal Cruzeiro do Sul. Existem ainda, muitas famílias que se

aproveitam dos restos que sobram nos finais de feiras para se

alimentarem, enquanto outros tantos jogam no lixo toneladas de

alimentos bons, entende agora o motivo dessas que são apenas

as minhas primeiras lágrimas; como não chorar diante de um

quadro desses.

Lágrimas que me trazem saudades de uma realidade que

não volta mais. Lágrimas por um tempo que ficou totalmente

esquecido; um tempo onde a violência não era tão presente


164

como é nos dias hoje, um tempo onde caminhávamos

tranquilamente pelas ruas das cidades durante as madrugadas

sem a preocupação de que seríamos assaltados, mas hoje o que

vemos é um número cada vez maior de roubos seguidos de

mortes, isso em plena luz do dia, e os motivos são os mais

banais que se possa imaginar, algumas vidas são perdidas por

centavos. Então eu lhes pergunto e respondam para vocês

mesmos: "Qual é o valor de uma vida?" Houve um tempo em

que os filhos respeitavam o olhar do pai, bastava aos pais

olharem para os filhos quando os mesmos aprontavam alguma

coisa errada para os filhos entenderem que aquele ato era errado,

no mínimo teriam que ter um pedido de desculpas. Esse tempo

já passou e com certeza não volte mais. Quando vejo essas

coisas meu coração se entristece, bate um pouco mais dolorido

dentro do peito, como não chorar diante de um quadro desses.

Lágrimas de alvos que foram perdidos e de corações

feridos sem terem paz. Lágrimas ao ver que muitos, apesar de

tanto se esforçarem, não conseguem alcançar os seus objetivos,

os seus ideais, os sonhos do coração. Lágrimas por presenciar

uma sociedade em pleno declínio sócio cultural aos poucos

perderam a nossa identidade; a nossa cultura está sendo forjada

por uma cultura estrangeira, cultura importada por pessoas que

não se importam que não valorizamos o que temos de melhor e

nem o que somos de melhor. O mundo tornou-se pequeno, ao


165

alcance de apenas um toque em uma pequena tecla virtual,

atravessamos o oceano com apenas um toque. A Internet é uma

espada de dois gumes, que, infelizmente nossos jovens não estão

sabendo manejar, não há necessidade de se falar muito a esse

respeito, basta ver o noticiário para se ter uma ideia das

barbáries ocorrendo mundo a fora, crimes, mortes, pornografia,

pedofilia, tudo ligado aos meios modernos de comunicação.

Como eu não vou chorar diante de um quadro desses.

Lágrimas que transbordam como rios em dias de

enchentes, e levam a morte para nunca voltar. Lágrimas de

poetas esquecido e desvalorizados, sem uma identidade artística,

mendigando seus versos de amor para sobreviverem. Lágrimas

ao ver que o amor e o romantismo morreram por ver a poesia se

tornar, como dizem por aí, fora de moda. Lágrimas são os rios

das nossas almas, que surgem na nascente dos nossos olhos,

depois de brotarem procuram o seio da terra para nela morrer.

Mas como compreender essas muitas lágrimas? Como

compreender a complexidade de um coração massacrado pela

dor, em desespero e angústias? Talvez as lágrimas sejam a nossa

última tentativa de expressar o que as palavras nunca poderão

dizer; eu vejo todos os dias muitas lágrimas perdidas, não

minhas, mas de pessoas que estão sendo esquecidas e

maltratadas pelo nosso governo e por uma sociedade

preconceituosa. Como não chorar diante de um quadro desses.


166

Lágrimas que molham a alma humana trazendo grandes

tempestades. Lágrimas solitárias, indigentes, que não tem um

nome e tão pouco um endereço, mas com certeza tem uma

história para contar; e quantas histórias de lutas são derramadas

na forma de lágrimas todos os dias dos olhos de milhões de

pessoas, não só em nosso país, mas no mundo todo. Como não

chorar ao ligar no noticiário e ver a respeito de uma mãe que foi

abusada sexualmente com sua criança ainda nos braços... Faço

silêncio agora... Existe um peso de dor na minha alma ao ver

tantas pessoas morrerem estando ainda vivas... Como não chorar

diante de um quadro desses, talvez a resposta certa, ou melhor, a

única solução para todos esse problemas, para todas as lágrimas

derramadas, esteja condicionado à um único nome, mas... Eu

tenho receio de falar sobre esse nome, justamente pelo

preconceito de muitos contra ele, infelizmente por defender esse

nome, muitos foram mortos e torturados mundo a fora, tudo bem

não gostarem dele, as pessoas possuem o livre arbítrio, que,

diga-se de passagem, foi um presente que Deus nos deu, todos

tem o direito de acreditar ou não em Jesus, eu particularmente

continuo crendo, dentre tantas figuras históricas, Jesus é o único

que divide a história em antes dele e depois dele, mas, como eu

disse, cada um é livre para escolher seu próprio caminho, só não

seremos livres das consequências de nossas escolhas.


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CONFISSÕES DO DIA A DIA. -...

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