Conceitos narrativos-Diegese
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Conceitos narrativos – Diegese
Diegese é um conceito fundamental de ser compreendido para qualquer análise
referente a uma narrativa cinematográfica. Como muitos dos conceitos utilizados para análise
crítica ou roteiro, vem da literatura. É um conceito de narratologia, que diz respeito à
dimensão ficcional de uma narrativa. De forma simplificada, representa a realidade da
narrativa que se desenrola à nossa frente, diferente da realidade do mundo que nos cerca. É o
mundo ficcional, a vida fictícia vendida pelo roteiro e pronta para ser “comprada” pelo
espectador.
Quando falamos em DIEGESE podemos falar do narrador, do tempo e do espaço. O
tempo diegético e o espaço diegético são, assim, o tempo e o espaço que decorrem ou existem
dentro da trama, com suas particularidades, limites e coerências determinadas pelo autor. Na
compreensão do tempo e do espaço entram, de forma conjunta, outros conceitos,
principalmente o de ELIPSE, que veremos mais adiante. Na compreensão e aceitação
da DIEGESE entra, também, a SUSPENSÃO DA DESCRENÇA, que vimos anteriormente.
Em Cinema e outros produtos audiovisuais, diz-se que algo é diegético quando ocorre
dentro da ação narrativa ficcional do próprio filme. Por exemplo, uma música de trilha sonora
incidental que acompanha uma cena faz parte do filme mas é externa à diegese, pois não está
inserida no contexto da ação. Já a música que toca se um personagem está escutando rádio é
diegética, pois está dentro do contexto ficcional. Em outros momentos, há uma mescla desses
dois conceitos: por exemplo, a música que toca em um aparelho antigo ouvida por Leonardo
DiCaprio em “Ilha do Medo”, que mescla as funções diegéticas e não diegéticas ao extrapolar
a cena e tornar-se uma trilha ambiental às lembranças do personagem.
O termo “diegese” é de origem grega e foi divulgado pelos estruturalistas franceses
para designar o conjunto de acções que formam uma história narrada segundo certos
princípios cronológicos. O termo já aparece em Platão (República, Livro III) como simples
relato de uma história pelas palavras do próprio relator (que não incluía o diálogo), por
oposição a mimesis ou imitação dessa história recorrendo ao relato de personagens. Por outras
palavras, o sentido da oposição que Sócrates estabelece entre diegese e mímese corresponde,
respectivamente, à situação em que o poeta é o locutor que assume a sua própria identidade e
à situação em que o poeta cria a ilusão de não ser ele o locutor.
Divergindo desta oposição clássica, a partir dos estudos da narrativa cinematográfica
de Étienne Souriau (que chamava diegese àquilo que os formalistas russos já haviam chamado
de fábula) aplicados por Gérard Genette à narrativa literária, considera-se diegese o conjunto
de acontecimentos narrados numa determinada dimensão espaço-temporal, aproximando-se,
neste caso, do conceito de história ou intriga. Não se confunde com o relato ou o discurso do
narrador nem com a narração propriamente dita, uma vez que esta constitui o “ato narrativo”
que produz o relato.
O narrador, conforme a sua posição na diegese, e não no enredo, pode ser
homodiegético (se for uma personagem da história); heterodiegético (se não for participante
numa história narrada) e autodiegético (se narra a sua própria história). Assim, por exemplo,
no universo diegético de “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, o personagem
interpretado por Eli Roth MATOU HITLER com tiros de metralhadora em uma sessão de
cinema durante a segunda guerra mundial.
FÁBIO ROCKENBACH - Jornalista, especialista em Cinema e Linguagem Audiovisual, mestre em
Produção e Recepção do Texto Literário. Idealizador do Núcleo de Estudos em Cinema e do projeto
Ponto de Cinema UPF
ROCKENBACH, F. Conceitos narrativos - Diégese. 2014. Disponível em:
<http://www.upf.br/pontodecinema/?p=33> Acesso em: 20 nov. 2015.