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CONCEITOS DE FÍSICA QUÂNTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
CONSTRUINDO UMA PROPOSTA DIDÁTICA ORIENTADA PELA HISTÓRIA E
FILOSOFIA DA CIÊNCIA
Rafaelle da Silva Souza (PPGEFHC-UFBA/UEFS)
Indianara Lima Silva (Dep. de Física-UEFS; PPGEFHC-UFBA/UEFS)
Elder Sales Teixeira (Dep. de Física-UEFS; PPGEFHC-UFBA/UEFS)
Resumo: A área de Ensino de Física carece de investigações empíricas acerca da inserção de tópicos
de Física Moderna no currículo. A formação do licenciando em física é distante da adequada na Física
Quântica (FQ), há dificuldades no processo de ensino-aprendizagem e apesar dos esforços, estas ainda
não foram superadas. Isto posto, elaborou-se uma Sequência Didática (SD) que visa proporcionar a
partir da História e Filosofia da Ciência (HFC) discussões conceituais da FQ na formação de
professores. O objetivo é diminuir as dificuldades dos estudantes em compreender os fenômenos
quânticos e contribuir para a construção de conhecimento. A SD será desenvolvida, aplicada e
avaliada através da pesquisa qualitativa, adotando como abordagem metodológica a Engenharia
Didática que estrutura-se em três fases: (1) análise a priori (concepção do processo: dimensões
epistemológica, histórica, institucional e dialética do conteúdo); (2) realização, observação e coleta
de dados (produções geradas pelos alunos, anotações de campo, gravações de áudio/vídeo etc); e (3)
análise a posteriori e validação (confrontação com a análise a priori). As análises resultam em
informações que representam um contexto local. Em termos da Engenharia Didática, objetiva-se
investigar: quais características uma SD sobre os conceitos de FQ deve possuir para promover uma
melhoria na compreensão conceitual dos estudantes. O marco teórico-metodológico adotado perpassa
a teoria sócio-interacionista de Vigotsky abordando a contribuição da FQ na produção de saberes
científicos, suas implicações no contexto sociocultural e na resolução de questões do cotidiano.
Propõe-se uso didático da HFC e o acesso, leitura e discussão de textos originais de cientistas para
auxiliar os estudantes a construir visões mais amadurecidas sobre a Natureza da Ciência (NDC). São
visões da NDC: construção humana influenciada pelo contexto sociocultural de cada época; teorias
estabelecidas por rupturas, controvérsias e ideias alternativas; diferentes posições adotadas pelos
físicos ao abordar conflitos abertos na FQ. Espera-se que a SD subsidie discussões de tópicos da FQ
(indeterminismo, emaranhamento, não-localidade) e o desenvolvimento da compreensão conceitual
dos estudantes em relação à possibilidade de explicar fenômenos antes desconhecidos ou não
compreendidos adequadamente. Ao final da SD almeja-se fornecer uma reflexão analítica sobre os
processos de ensino-aprendizagem da FQ enfrentados atualmente e, por conseguinte, contribuir para
uma compreensão mais epistêmica do papel da HFC no ensino. Ressaltamos, que trata-se de uma
proposta em construção e, portanto, ainda não efetivada.
Palavras-chaves: Física Quântica, História e Filosofia da Ciência, Sequência didática.
Introdução
Desde seu nascimento como ciência, a Física tem tido como propósito descrever,
interpretar e prever fenômenos naturais. Ao longo dos séculos, o desenvolvimento da Física
levou-a a ser o pilar das grandes revoluções tecnológicas e a tornou uma ciência experimental
que também recorre às criações humanas abstratas - modelos teóricos e ferramentas
matemáticas. A Física trabalha, portanto, em uma constante relação de cooperação entre
observação, formulação teórica e prática experimental. Nenhum destes elementos deve estar
ausente no processo de seu desenvolvimento e de construção da realidade. Em termos de
ensino, um programa didático que privilegie apenas um desses aspectos está, certamente, em
descompasso com os fundamentos da Física como ciência.
Essas questões são observadas nos vários tópicos da Física e não se isenta à Física
Quântica (FQ). Greca e Moreira (2001), por exemplo, fornecem uma importante revisão ao
analisar trabalhos publicados nas mais importantes revistas da área. Segundo os autores,
constata-se que o ensino da Física Moderna e Contemporânea (FMC) ao nível superior e pós-
graduação comumente é falho em diversos aspectos, levando a contradições e formação de
concepções alternativas. Os autores salientam que os trabalhos publicados a partir do início
da década de 90 mantiveram a tendência de uma não uniformidade de posturas e proposições.
Se observa uma demanda de investigações que instigam mudanças conceituais
(MORTIMER,1995; CHI, 2008).
Consequentemente, a abordagem conceitual da FQ está sendo implementada em mais
cursos de Física introdutória em todo o mundo. Atualmente, mais ênfase é colocada no
desenvolvimento da compreensão conceitual e práticas de ensino (JOHNSTON et. al, 1998;
CATALOGLU e ROBINETT, 2002; KOHNLE el. al., 2014).
Todavia, ainda são escassas ou pelo menos atraiu pouca atenção pedagógica. Há
pouca aplicação desses resultados em sala de aula ou há resistências para tal. (McDERMOTT
e REDISH, 1999; MULLER, 2008; KALLIO-TAMMINEN, 2008; MELTZER e
THORNTON, 2012). De acordo com Marandino (2003), ao se concretizar a prática docente
marca-se fortemente perspectivas tradicionais de ensino e aprendizagem, seja por motivos
políticos e econômicos da própria Educação, seja por problemas na própria formação inicial
do professor de ciências.
Nesse sentido, é relevante pensar acerca do curso de licenciatura em Física, de modo,
a criar oportunidades de incluir os diversos temas específicos da FMC, bem como atender à
nova demanda de mudanças. É importante pensar que no processo de ensino e aprendizagem
o ato de ensinar não significa apenas transferência de conhecimentos, mas um meio de dar
condições para a construção, reconstrução e produção do conhecimento; sendo fundamental
que os estudantes sejam os agentes efetivos do processo. O conteúdo que se pretende discutir
não é o único elemento importante, faz-se necessário também o conhecimento do estudante
e de sua realidade (avaliação diagnóstica).
Inserida nessa problemática, nossa proposta buscou desenvolver uma Sequência
Didática (SD) que viabilizasse e avaliasse a inserção da História e Filosofia da Ciência (HFC)
para discutir o Paradoxo EPR, especialmente, dos conceitos de indeterminismo,
emaranhamento e não localidade. Nesse trabalho, trazemos o resultado de parte dessa
pesquisa, centrados no seguinte aspecto: como é possível ensinar conceitos de FQ na
formação de professores por meio de uma abordagem histórica? Optamos por tratar o
problema da FQ (Paradoxo EPR), junto aos estudantes do ensino superior, discutindo o
estudo dos conceitos quânticos a partir da leitura dos textos originais dos cientistas1, bem
como as respectivas implicações para ciência. Mas, por que a escolha pela HFC?
Na área de ensino de Física aspectos relativos à inserção didática da HFC têm sido
frequentemente discutidos (SILVA, 2006; PEDUZZI, 2012; TEIXEIRA et. al., 2012). Em
defesa dessa abordagem encontramos argumentos como: contribuição para o ensino e
aprendizagem dos conceitos científicos, contrapondo-se a uma visão excessivamente
matematizada e descontextualizada das ciências; papel motivador; possibilidade de
conhecimento das concepções alternativas; possibilidade de discutir questões pertinentes ao
desenvolvimento científico; contribuição para o entendimento da relação ciência, tecnologia
e sociedade; compreensão da ciência como uma atividade cultural (ZANETIC, 1989;
FORATO et. al., 2012). Além disso, é expresso claramente nas diretrizes curriculares para os
cursos de graduação em Física (BRASIL, 2001), há recomendação de inserção de conteúdos
de natureza histórico-filosófica.
No entanto, apesar do razoável consenso no que se refere à importância do uso
didático da HFC, alguns estudos mostram que ainda são escassos os trabalhos de pesquisa
empíricos dessa abordagem em contextos reais de salas de aula (DIAS, 2008; OLIVEIRA e
SILVA, 2012), seja por falta de material pedagógico adequado; dificuldade de leitura e/ou
interpretação de textos por parte dos estudantes; insuficiência na formação para discutir
aspectos da natureza da ciência (NDC) (MARTINS, 2007).
Por conseguinte, a escolha por trabalhar a história da FQ deu-se pelos seguintes
fatores: i) Por entender a relevância dessa temática no campo do conhecimento em Física. O
1 Os textos serão indicados a seguir. Todos os textos foram traduzidos para o português.
entendimento do impacto científico, tecnológico e filosófico que a FQ trouxe para a cultura
do século XX e XXI, bem como a incompatibilidade com outras leis conhecidas da Física;
ii) Por considerar o potencial dessa temática para inserir conteúdos de NDC no ensino; iii)
Como forma alternativa ao ensino matematizado aplicado à FQ nas universidades e
apresentado em livros didáticos; iv) Pelo fato de que há textos históricos dos cientistas e
bibliografia (de qualidade) produzida na área de história da ciência acerca de temas históricos
sobre os conteúdos de FQ; v) Trata-se se um conteúdo de difícil aprendizado, fato
evidenciado pelas pesquisas de concepções alternativas e conceituais.
Dado ao exposto, as lacunas existentes em relação à pesquisa em ensino de Física, e
no ensino de FQ – aquela alertada por Teixeira et al. (2012), mais o fato de que muitos
trabalhos analisam as dificuldades dos estudantes, mas não realizam o ensino contextualizado
dos conceitos quânticos – apresentamos nesse artigo a proposta de uma SD que propõe um
ensino de FQ historicamente contextualizado respaldado na HFC, com suporte na leitura de
textos originais de cientistas. Descreveremos, brevemente, a SD em sua totalidade.
O uso da HFC no ensino de FQ
A HFC é considerada uma área de conhecimento que pode trazer contribuições
viáveis ao ensino e aprendizagem de ciências, apesar de não ter todas as respostas para essa
crise estabelecida (MATTHEWS, 1995; MARTINS, 2006; PEDUZZI, 1998; SOLBES e
TRAVER, 2001). Podemos dizer que a abordagem HFC, além de contribuir para a formação
de uma cultura científica capaz de desenvolver nos estudantes uma postura crítica, funciona
como uma estratégia didática facilitadora na compreensão de conceitos, leis, modelos e
teorias científicas.
No campo das possíveis contribuições da HFC para o ensino, temos que seu adequado
uso possibilita uma visão mais geral sobre o empreendimento científico como uma conquista
de conhecimentos por aproximações sucessivas através de retificações e múltiplas rupturas,
diminuindo o caráter dogmático que um ensino tradicional perpetua (MATTHEWS, 1995;
DELIZOICOV et al. 2011). O uso de episódios históricos poderia bem cumprir essa tarefa,
quando não trazendo apenas a história dos vencedores, contudo abordando as controvérsias,
as idas e vindas, as trajetórias dos conceitos da ciência.
Embora a HFC, conforme ressalta Saito (2010, p.4), “seja uma mediadora para a
aprendizagem de ciências, não é método de ensino, mas uma provedora de recursos que
conduz à reflexão sobre o processo de construção do conhecimento científico”. Para Rosa e
Penido (2005), é um campo que tem o objeto de estudo o exame conceitual da ciência e
reconhece sua história bem como analisa suas implicações filosóficas, seja relacionado à
cultura ou tecnologia.
Em linhas gerais, a História da Ciência (HC) é a história (narrativa) das ideias, da
evolução do conhecimento científico. Para D’Ambrosio (2004) a HC tem dois objetivos: a)
A descrição do conhecimento científico de outros tempos e de outras civilizações; b) O
entendimento da evolução do conhecimento humano, no qual o conhecimento científico
encontra-se inserido juntamente com a arte e a religião, bem como das relações estabelecidas
entre si. Segundo Kuhn (2011, p.28) “a ciência, quando vista a partir de fontes históricas,
parece um empreendimento muito diferente do que aparece implícito na pedagogia científica
e explícito nos relatos filosóficos usuais sobre o método científico”.
Com essas considerações, o ensino de FQ a partir do uso didático da HFC cria
condições para que os estudantes assimilem e absorvam o conteúdo abstrato da FQ. Nas
críticas aos cursos introdutórios de FQ um dos pontos, recorrentemente, abordados é a
maneira pela qual a abordagem formal é apresentada. Não se permite ao estudante entender
a parte conceitual da FQ, cria-se barreiras para a compreensão, pois muitos dos conceitos
fundamentais surgem rodeado de mistério (GRECA e MOREIRA, 2001),
Esse trabalho propõe, então, que seja ensinado nas disciplinas de licenciatura em
Física, a parte conceitual da FQ a partir de sua gênese associando ao formalismo matemático,
porém, sem excessos. O objetivo de se ensinar a FQ respaldado na HFC é preparar o estudante
para a compreensão conceitual de fenômenos quânticos, como o do experimento de dupla
fenda, o experimento de Stern-Gerlach, o conceito emaranhamento, dentre outros. A leitura
dos textos originais dos cientistas cria um espaço para discussões conceituais, permitindo ao
ensino de FQ ser mais bem discutida e entendida. Reforçamos que nossa preocupação central
gira em torno da melhoria da qualidade do ensino de FQ.
Essas questões apresentadas refletem os obstáculos e anseios relativos ao ensino. Para
tal, lançamos nossa hipótese de que a abordagem em sala de aula de conteúdos a partir de
elementos oriundos da HFC pode possibilitar uma melhor formação ao estudante,
contribuindo para a redução das várias dificuldades de aprendizado da FQ.
Embora poucos estudos utilizem a HFC como ferramenta didática para o ensino de
FQ, muitos foram os benefícios apresentados na literatura da área (KRAGH, 1992; NASHON
et. al., 2008; SCHNEIDER, 2010).
Segundo Nashon et. al., (2008), em pesquisa empírica, a ênfase histórica auxiliou na
discussão do processo de transição do pensamento clássico para o quântico, para alguns
debates históricos com o objetivo de mostrar quantas posições diferentes foram encontradas
entre os físicos, e para abordar os conflitos abertos pela FQ. Através da HFC abraçou-se a
complexidade da FQ e ajudou os estudantes a gerenciá-la.
Obviamente, a complexidade é inevitável, já que simplificações apesar de
proporcionar conforto em curto prazo, podem ser problemáticas ou mesmo desastrosas no
longo prazo. Porém, a abordagem histórica associada aos conceitos quânticos, bem como a
representação do uso contemporâneo da FQ para introduzi-la, pode conduzir a um
entendimento amplo e configura uma abordagem aplicável a quase todos os níveis no ensino
de Física. É possível mostrar aos estudantes como os físicos, passo a passo formularam a FQ.
Ainda, a análise de debates históricos, com o objetivo de mostrar quantas posições
diferentes podem ser encontradas entre os próprios físicos quando abordam os conflitos
abertos pela FQ é um caminho válido para suscitar algumas dificuldades conceituais e
contribui para aperfeiçoar o ensino (HÖTTECKE et al., 2010). Além disso, oferece uma
gama de possibilidades de exploração das concepções dos estudantes sobre a NDC.
Com a inclusão do desenvolvimento do conceito, período, contexto histórico, social
e político, os estudantes podem adquirir uma profunda compreensão de como o conhecimento
se desenvolve, sua estrutura e aplicação. Os estudantes podem apreciar em um nível amplo
uma visão enriquecida da natureza da construção do conhecimento. Por fim, em vista dos
argumentos apresentados, essas práticas didáticas podem enfatizar competências e
habilidades amplamente esperadas para a formação inicial.
Leitura e interpretação de textos originais de cientistas
Um conteúdo Físico pode ser abordado sob diversas perspectivas. Aqui, foi adotado
um ponto de vista epistemológico. Este, segundo Ferrer (2015), explora os próprios métodos
e processos da ciência, cruciais para entender as diferenças entre o conhecimento científico
e saberes alternativos. Além disso, se pode explorar o seu caráter conjectural, a noção de
verdade (não absoluta), a ideia de rupturas e continuidades, a natureza da mudança em
ciência, as ideias de predição, consistência interna e simplicidade, assim como características
da linguagem científica. Estima-se, portanto, promover uma compreensão da NDC que inclua
os métodos que produzem este conhecimento e as suas características (KAMPOURAKIS,
2016), bem como contemplar o desenvolvimento histórico da ciência e sua dinamicidade.
Ao adotar essa perspectiva nos deparamos com uma limitação: o livro texto.
Montenegro (2005) afirma que a ciência apresentada nos livros textos é a antítese de como a
ciência é produzida, limitando-se a uma linearidade inquestionável na evolução dos temas.
Porém, outros materiais como textos originais de cientistas pode auxiliar os futuros
professores a construírem visões diferentes sobre a NDC. Segundo Matthews (1995), é
surpreendente existir estudantes de ciência que nunca leram textos sobre Darwin ou Newton,
por exemplo, apesar de constatar o grande interesse de professores por esses textos. Para
Montenegro (2005) a leitura de textos originais pode aproximar os estudantes dos cientistas
fazendo com que estes percebam a ciência como um processo inacabado.
Os textos originais além de proporcionar um tipo de leitura diferente dos tradicionais
manuais científicos, pode dar aos futuros professores fontes bibliográficas ricas para o
trabalho em sala de aula, seja por meio da utilização direta mediante propostas de leitura dos
mesmos, seja para identificar as dificuldades enfrentadas pelos cientistas. Aqui se estabelece
uma outra razão para justificar o ensino da FQ a partir da HFC no curso de licenciatura que
é de permitir ao estudante de Física o acesso a artigos científicos sobre mecânica quântica.
Ao se propor um trabalho com leitura de textos, cabe explicitar, ainda que brevemente, as
concepções de leitura adotadas e em que aspectos este entendimento do ato de ler pode
contribuir para as relações de ensino e aprendizagem.
É essencial, nesse processo, a interpretação. Logo, é relevante se questionar quais
interpretações seriam atribuídos pelos estudantes aos textos lidos? Poderiam tais textos, em
comparação com os livros didáticos usuais, propiciar melhor compreensão de certos
conceitos e dos processos que envolvem a construção do conhecimento científico? Quais
seriam as implicações da realização deste tipo de atividade para se estabelecer um ambiente
no qual ocorra uma efetiva mediação dialógica entre o professor e os estudantes nas aulas?
Seria esta uma estratégia adequada para abordar temas relacionados à HC nas aulas? Tais
questões constituem os objetos de interesse da pesquisa.
Foram selecionados quatro textos relevantes para a área de FQ, de modo a cobrir
alguns dos principais tópicos a serem discutidos na referida SD. Cabe salientar que o que
vem sendo chamado de texto original de cientistas são traduções dos trabalhos originais. Os
textos, considerados de importância histórica para o desenvolvimento conceitual da FQ,
foram traduzidos do inglês para o português a fim de possibilitar a leitura por vários alunos
que ainda não possuíam familiaridade com a língua inglesa. A saber, os títulos dos textos e
seus respectivos autores:
Texto 1: Pode a descrição da Mecânica Quântica sobre a realidade física ser considerada
completa? – Einstein, Podolsky e Rosen (1935)
Texto 2: Sobre a situação atual na Mecânica Quântica – Schrödinger (1935)
Texto 3: On the Einstein Podolsky Rosen Paradox – Bell (1964)
Texto 4: Teste experimental das Desigualdades de Bell usando analisadores variáveis no
tempo – Aspect, Dalibard e Roger (1982).
Neles, os autores descrevem e analisam suas hipóteses teóricas e resultados
experimentais fornecendo indícios dos caminhos trilhados para a construção dos conceitos
associados à temática. Uma vez que os conceitos tratados nos textos são abordados nas
disciplinas introdutórias de FQ no ensino superior, é interessante inseri-los em sala de aula.
Antes da leitura e discussão efetiva de cada texto original, é possível que o professor situe o
estudante quanto a temática em questão, as principais contribuições à ciência e as
contradições/controvérsias a fim de facilitar sua compreensão.
Metodologia
No presente trabalho o marco teórico-metodológico adotado dialoga com a teoria
sócio-interacionista de Vigotsky, abordando a contribuição da FQ na produção de saberes
científicos, suas implicações no contexto sociocultural e o entrelaçamento dos saberes na
resolução de questões do cotidiano; e o referencial metodológico que valida sequências
didáticas é a Engenharia Didática de Artigue.
A Engenharia Didática é uma metodologia de construção de SD na forma de pesquisa,
em que algumas etapas são propostas para a sua construção, aplicação e análise (ARTIGUE,
2015). Ela inclui o levantamento dos conhecimentos necessários à formação do estudante,
traduzindo-os em situações que possibilitem o desenvolvimento da aprendizagem de forma
controlada. Assim, essa modalidade se apoia em práticas de sala de aula em forma de
sequências de aulas, embasadas pela teoria.
Por corresponder a um recorte que correspondente a um projeto maior, nesse trabalho
descrevemos apenas a etapa de construção de um SD em que teve como objetivo utilizar a
HC como estratégia didática para o ensino de FQ. Para tanto, foram tomados como base para
construção da SD textos originais de pesquisas desenvolvidas por renomados cientistas que
foram traduzidos para a língua portuguesa a fim de torná-las de fácil acesso para os
estudantes. Após seleção desses textos, os pesquisadores se reuniram e tiveram intensos
debates acerca dos temas a serem abordados durante a sua aplicação.
Com isso, pretende-se discutir a TQ de maneira que o produto dessas ações possa
auxiliar docentes na prática de sala de aula através de exemplos e sugestões de atividades.
Tendo em vista esses objetivos, a construção da sequência se configura de maneira flexível
para ser a mais prática possível ao cotidiano de sala de aula. Propõe-se atividades simples,
leitura de textos e atividades, porém interessantes para os alunos.
Essa é uma tentativa para que a SD seja um instrumento válido para os docentes que
optarem por uma abordagem diferente desse assunto. O conteúdo refere-se ao início da FQ,
e a organização da aula apoiou-se em textos de cientistas, sendo sua abordagem pautada em
atividades de leitura e escrita, além da mediação com interlocuções do professor. Nosso
intuito com a realização do estudo foi compreender as interpretações dos estudantes, que
participaram das aulas, sobre o conteúdo propriamente dito e sobre a atividade de leitura, ao
lerem os textos e dialogarem com o professor e/ou entre eles.
Com esses objetivos educacionais traçou-se um esquema no qual os conteúdos
principais da FQ foram elencados para produzir a sequência de forma mais adequada
possível, observando as três fases estruturais propostas Artigue. Ainda, organizamos os
objetivos de aprendizagem, de acordo com os conteúdos conceituais (C), procedimentais (P)
e atitudinais (A) (COLL et al., 1992; CONRADO, NUNES-NETO, 2018; ZABALA, 2002).
As dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais (CPA) são concepções mais
abrangentes dos conteúdos escolares/acadêmicos. É importante enfatizar que a distinção dos
conteúdos em suas dimensões CPA é artificial e metodológica. Quando os conteúdos são
sistematizados de acordo com as suas dimensões eles podem ajudar na aprendizagem
cognitiva, comportamental e social do conteúdo.
Os objetivos de ensino e os objetivos de aprendizagem (CPA) são apresentados na
tabela 1. Ao lado dos objetivos de aprendizagem colocamos os códigos de cada dimensão do
conteúdo. Por exemplo: C1, representa o conteúdo conceitual 1; P1, representa o conteúdo
procedimental 1; A1, representa o conteúdo atitudinal 1 e assim por diante. Será
extremamente importante para a validação, dessa intervenção, a inserção de críticas,
justificativas e/ou sugestões. Já as atividades são indicadas de AT1 a AT8.
A sequência didática
A SD é equivalente, segundo Castro (1976, p. 55), a um curso em miniatura. Esse
autor defende a SD por acreditar que “a aprendizagem por unidades atende às necessidades
dos estudantes de maneira mais efetiva”. Pensando isso, Zabala (1998, p.18) conceitua
unidade didática como “conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a
realização de objetivos educacionais que tem um princípio e fim conhecidos, tanto pelo
professor quanto pelos alunos”. A partir dessa conceituação, observa-se que a SD é construída
tanto em relação a conteúdos como atividades, em que a sequência de atividades propostas
pode modificar a visão do estudante para o conteúdo.
A seguir, apresentamos nossa proposta para licenciandos em Física que visa a
melhoria da compreensão dos conceitos da FQ.
Quadro 1: Tabela esquemática de atividade da sequência didática
Aulas Objetivos de ensino Objetivos de
aprendizagem (CPA) Atividades e materiais propostos
1 e 2 Realizar o levantamento
das concepções prévias
dos alunos sobre a
contextualização
histórica do EPR e suas
consequências
epistemológicas para a
MQ; Emaranhamento;
Desigualdades de Bell.
Incentivar a leitura e
análise de textos
originais de cientistas.
Propor a leitura de
textos:1. EPR (1935);
2. Schrodinger (1935).
(A1) Explicitar os
conhecimentos prévios.
(P1) Mobilizar uma
compreensão inicial sobre
o paradoxo do EPR e suas
consequências a partir da
leitura de textos originais
de cientistas.
(P2) Aprimorar a
habilidade de trabalhar em
grupo.
O professor apresentará o trabalho que será realizado.
Utilização de uma atividade para coletar as concepções
prévias dos alunos (AT1). Discussão em dupla de questões de
sondagem.
Uma discussão inicial será estabelecida sobre como o EPR
apresentou uma nova configuração para o conhecimento da
MQ e de como esse processo foi dinâmico. Haverá uso de
slides.
O professor solicitará aos alunos a leitura de textos para a aula
seguinte e que eles façam anotações de acordo com o guia de
leitura fornecido (AT2). As anotações decorrentes dessa
leitura serão socializadas através das discussões na próxima
aula.
3 e 4 Realizar uma discussão
crítica e reflexiva sobre
o problema emergente
da MQ, o paradoxo
EPR.
Discutir a detecção do
emaranhamento, a sua
dinâmica e relação com
outro conceito central
na MQ, o de não
localidade.
Propor a leitura do texto
de Bell (1964) e uma
atividade experimental
através de uma
simulação
computacional (Interf.
de Mach-Zehnder).
(C1) Entender o paradoxo
EPR e suas consequências
epistemológicas.
(P3) Apresentar as
anotações para socializar as
informações com a turma.
(P4) Avaliar a coerência
das informações levando
em consideração os
interesses subjacentes.
(A2) Tomar consciência
mais geral sobre os
aspectos da MQ e de como
exigem uma mudança
paradigmática.
(A3) Responder as
questões concernentes a
atividade proposta de
leitura de texto.
Apresentação das anotações pelos alunos e a mediação do
professor nas discussões sobre a temática. O professor
provocará os alunos para verificação da compreensão dos
textos. Um vídeo sobre o “Gato de Schrödinger” será
exibido(https://www.youtube.com/watch?v=UjaAxUO6-
Uw).
O professor irá reforçar a importância dos alunos
compreenderem o comportamento das partículas subatômicas
e de como este coloca em questionamento a realidade física
na MQ. Uma atividade será proposta a partir da apresentação
de uma pequena história que remete a incompletude da MQ
(AT3). Uma discussão em dupla e coletiva de questões de
sondagem será estabelecida.
Ao término da aula o professor solicitará aos alunos a leitura
do texto e a utilização de uma simulação computacional
(AT4). Será fornecido roteiro de análise para o texto (AT5).
As anotações decorrentes dessa leitura serão socializadas
através das discussões na próxima aula.
5 e 6 Apresentar o caso de
como a teoria de
variáveis ocultas altera
o modo físico de pensar
a natureza.
Discutir como, pela
ideia de entrelaçamento
quântico, o ato de medir
um sistema quântico
altera os resultados
esperados.
Propor a leitura do texto
Aspect (1982).
(C2) Introduzir a discussão
sobre Teorias de variáveis
ocultas através das
desigualdades de Bell.
(A4) Tomar consciência
sobre como as
desigualdades de Bell
influenciou na produção do
conhecimento da MQ.
(P5) Estruturar a
capacidade de
interpretação de fenômenos
quânticos (superposição de
estados), mobilizando uma
discussão através do
interferômetro de Mach-
Zehnder.
(A5) Refletir sobre a
dinamicidade e não
linearidade da produção do
conhecimento científico.
Repete-se o (A3), ver.
Nessa aula será discutido a Teorias de variáveis ocultas. Para
isso, os alunos serão questionados sobre a realização das
atividades solicitadas na aula anterior. Uma discussão será
estabelecida relacionando o texto com o interferômetro de
Mach-Zehnder.
Desse modo, o professor enfatizará que os aspectos dos
fenômenos quânticos estudados até o momento. Além disso,
uma atividade (AT6) será proposta na aula. Nessa atividade
explora-se as relações históricas e conceituais do EPR e das
desigualdades de Bell, destacando as contradições dos
fenômenos quânticos.
Ainda nessa aula o professor irá solicitar a leitura de um
último texto original de cientista (AT7). Será enfatizado a
importância dos alunos conhecer e saber discernir quais
fontes de informações são mais confiáveis, a validade das
informações mencionadas, e a potencialidade destes para a
formação docente.
7 e 8 Discutir os principais
aspectos do texto “que
por um lado se conclui
que a MQ é uma teoria
completa, mas pelo
outro se observa a não-
localidade de sistemas
emaranhados”.
Aprofundar à
compreensão do
emaranhamento e
desigualdades de Bell,
bem como sua violação.
(C3) Entender como o
experimento de Aspect
elucidou o paradoxo EPR.
(C4) Compreender como as
variáveis ocultas eram ou
como poderiam ser
incorporadas a teoria de
uma forma significativa.
(P6) Desenvolver a
habilidade para resolver
problemas conceituais e
para correlacionar a
fenomenologia quântica
O professor da turma irá provocar e mediar uma breve
discussão sobre o texto científico lido pelos alunos, com
intuito de enfatizar os principais aspectos apontados no texto
que serão relevantes para o entendimento de alguns conteúdos
científicos relacionados ao tema (por exemplo: que o
resultado obtido por Aspect invalida a explicação do
comportamento correlacional de um sistema emaranhado por
variáveis ocultas).
Vídeos poderão ser exibidos, ver descrição das aulas.
Ainda, será aprofundado as discussões sobre o
emaranhamento e desigualdades de Bell, destacando questões
próprias à natureza da ciência e pontuando a linguagem
matemática. Também alguns aspectos de como se dá a
Destacar características
da natureza da ciência e
a linguagem
matemática da MQ.
em um contexto
experimental.
Repete-se o (A3), ver.
aceitação de teorias na ciência, quais são mais cruciais que
outros e as visões dos cientistas no trabalho científico será
argumentado.
Ao término da aula uma leitura complementar será sugerida
com o intuito de ver a MQ como produto. Isto é, ler sobre as
aplicações na prática do conhecimento da MQ. Indicaremos o
artigo de Davidovich "Informação Quântica: do teletransporte
ao computador quântico"
(http://www.if.ufrj.br/~ldavid/arquivos/fronteir.pdf) e, o
artigo de Piqueira “Teoria quântica da informação:
impossibilidade de cópia, entrelaçamento e
teletransporte”(http://www.scielo.br/pdf/rbef/v33n4/03.pdf).
9 e 10 Apresentar aplicações
da MQ: computação,
criptografia e
teletransporte quântico
Perceber o impacto
científico, tecnológico e
filosófico que a MQ
trouxe para a cultura do
século XX e XXI.
Discutir como abordar o
conteúdo sobre o
paradoxo EPR no nível
médio de ensino, ou
seja, pensar em uma
recontextualização dos
temas discutidos.
(C5) Compreender as
principais aplicações da
MQ e o impacto
científico/tecnológico que
esta promoveu no séc. XX.
(P7) Ampliar a capacidade
de organização do discurso
e da argumentação oral e
escrita.
(P8) Desenvolver
pensamento crítico sobre a
necessidade de uma
compreensão conceitual da
MQ.
(A6) Refletir sobre a
prática docente em termos
de ensino da MQ no nível
médio.
Essa aula será iniciada com a discussão das implicações da
MQ – computação quântica; criptografia quântica;
teletransporte quântico. Exibiremos um vídeo sobre
Computação Quântica.
Em grupo, os alunos serão convidados a realizar a atividade
prática (AT8). A partir das discussões anteriores e da leitura
complementar sugerida eles irão construir um plano de aula
que contemple o paradoxo EPR e suas implicações, bem
como aspectos da história da ciência.
Serão solicitados aos alunos que eles estabeleçam uma
relação de recontextualização de proposta, na qual eles devem
repensar o conteúdo ministrado sendo que agora voltado para
o nível médio. O plano de aula será apresentado na aula
seguinte.
11 e 12 Discutir elementos
pertinentes a mudança
contextual.
Realizar uma
apresentação de
propostas escolhidas
para estimular reflexões
sobre a inserção de
tópicos da MQ no nível
médio de ensino.
Esclarecer possíveis
dúvidas remanescentes.
(C6) Refletir em como a
MQ deve ser abordada no
nível médio e apresentar
uma proposta.
(P9) Estruturar um plano de
aula para o ensino de MQ
no nível médio com uma
linguagem acessível para
propiciar compreensão e a
consequente
aprendizagem.
(A7) Desenvolver atitudes,
competências e habilidades
pedagógicas.
(A8) Mobilizar os
conhecimentos da
sequência didática sobre o
paradoxo EPR que são
relevantes para uma
proposta voltada ao nível
médio.
Julgamos que é importante, também, que os estudantes
conheçam reflitam sobre sua futura prática docente. É
importante que estejam aptos a aborta tópicos de MQ no nível
médio. Nesse sentido, a turma será dividida em três grupos
diferentes, onde cada grupo deverá eleger um plano de aula.
Cada grupo irá discutir principalmente se a proposta é
adequada em termos de conteúdo e significado para o aluno
da escola básica.
Todas essas discussões serão mediadas pelo professor.
Espera-se que o aluno perceba que a recontextualização da
MQ para o nível médio deve ser uma ação executada com
cautela, pois de um lado têm-se as exigências epistemológicas
inerentes ao campo de conhecimento. Por outro lado, as
exigências do domínio escolar.
No final dessa aula será solicitado aos alunos que façam os
ajustes necessários em seus planos de aula e encaminhem ao
professor da disciplina.
Por fim, estabeleceremos um feedback avaliativo.
Fonte: autoria própria.
Contexto e sumarização da sequência didática
O final do século XIX foi marcado por tentativas de unificar, ainda mais, a física: a
mecânica com o eletromagnetismo e a termodinâmica com o eletromagnetismo; o que
direcionou a problemas teóricos complicados, desencadeando a criação da Teoria da
Relatividade e da FQ – o século XX produziu duas revisões radicais da visão física do mundo.
As principais fronteiras entre a Física Clássica e a FMC estão entre as pesquisadas
termodinâmicas e eletrodinâmica. Ao rompê-las, a física nunca mais seria a mesma.
A FQ despertou diferentes visões, enquanto Heisenberg, rejeitou a Física Clássica com
liberdade e alegria. Outros, incluindo Einstein, Schrödinger e de Broglie estavam,
profundamente, preocupados com as implicações de tal rejeição. E mesmo Bohr – embora
fervoroso e dogmático em defesa da completude da FQ – reconheceu que existia um
problema genuíno: o mundo quântico e o mundo da experiência cotidiana pareciam obedecer
a diferentes leis.
Entre tantos aspectos, indagações e contradições a história da FQ pode ser dividida,
convenientemente, em quatro períodos: 1. Busca (1900-1922); 2. Avanço (1923-1928); 3.
Adaptação/Desenvolvimento/Aplicação (1929-1963) e; 4. Novo período (1964-presente) –
até hoje há descobertas e considerações cada vez mais surpreendentes. O processo de
produção do conhecimento que culminou na construção da FQ pode ser historicamente
contextualizado e oferece importantes oportunidades de discussão da NDC.
Nesse sentido, a SD foi elaborada vislumbrando discutir o problema emergente da FQ
– o paradoxo EPR e seus desdobramentos. A SD, quadro 1, consiste em um conjunto de 12
aulas de 50 minutos organizadas de forma a iniciar, nas aulas 1 e 2, pela apresentação da
proposta, o levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes por meio de uma
atividade que tem por finalidade identificar seu nível de entendimento sobre a FQ e iniciar
uma discussão sobre paradoxo EPR e suas consequências epistemológicas. Ao término da
aula será solicitado a leitura em casa dos textos 1 e 2, supracitados.
Nas aulas 3 e 4, o paradoxo EPR será discutido com os estudantes, bem como a
detecção do emaranhamento, a sua dinâmica e relação com outro conceito central na FQ, o
de não localidade. Uma atividade será proposta a partir da apresentação de uma pequena
história que remete a incompletude da MQ. Novamente, será solicitado leitura – texto 3.
Nas aulas 5 e 6, dar-se continuidade à discussão das ideias iniciais da incompletude da
FQ, o Paradoxo EPR e a teoria de variáveis ocultas. Propõe-se a leitura do texto 4. Na aula 7
e 8, objetiva-se aprofundar à compreensão do emaranhamento e desigualdades de Bell, bem
como sua violação.
As aulas 9, 10, 11 e 12 são voltadas para uma recontextualização dos tópicos discutidos
nas aulas anteriores. A partir de uma discussão sobre a aplicabilidade dos fenômenos
quânticos na cultura do século XX e XXI, os estudantes serão convidados a propor um plano
de aula voltado para o ensino médio. Tem-se como objetivo principal discutir elementos
pertinentes a mudança contextual e estimular uma reflexão sobre a importância desse tipo de
atividade na formação de professores.
A cada aula pontuamos a importância da leitura de textos originais dos cientistas.
Espera-se fornecer meios para que os estudantes compreendam os argumentos utilizados
pelos cientistas para explicar tais fenômenos e consequentemente, possam entende-los. Ao
todo serão propostas 8 atividades as quais serviram de levantamentos de dados, bem como
de guia de leitura e/ou verificação de aprendizagem pelos alunos.
Para finalizar a SD estabeleceremos um momento de Feedback é proposto. É realizada
a socialização das conclusões com a mediação do professor culminando com a construção de
uma visão sobre como ensinar TQ, bem como discutir o papel da HFC na construção do
conhecimento científico.
Considerações finais
O conhecimento se encontra em permanente construção e a aprendizagem é um
processo dialético de ressignificação que se realiza na reflexão contínua do estudante com a
mediação do professor. A metodologia de ensino a ser adotada deve ser aquela que favoreça
a interação, o questionamento, o diálogo e a criatividade. Com isso, os conteúdos a serem
ensinados no curso de graduação em Física deverão estar contextualizados e articulados com
os propósitos finais de formação, buscando a diversidade cultural e a interdisciplinaridade.
Por consequência, a contextualização dos conteúdos, bem como o rigor teórico serão
indicadores do desenvolvimento do método de ensino para prática pedagógica. Ao adotar
esse ponto de vista, será preciso ter como princípios norteadores na execução: flexibilidade
curricular; visão interdisciplinar; formação global; articulação entre teoria e prática;
predomínio da formação sobre a informação; capacidade para compreender a construção do
conhecimento; desenvolvimento de conteúdos, habilidades e atitudes formativas.
O direcionamento destas questões para o ensino de FQ, acarreta outras. Se deve
considerar as dificuldades que os estudantes têm em relacionar a FQ com a realidade ou
ainda, com a física clássica; compreensão do comportamento quântico complexo;
dependência do tempo, superposição e o problema de medição. Além disso, se faz necessário
investir em estratégias de ensino para a FQ e observar a promoção do entendimento.
Este artigo sublinha a necessidade de mais pesquisas empíricas sobre dificuldades
estudantes, estratégias de ensino, atividades e ferramentas de pesquisa destinadas a uma
abordagem conceitual para a FQ. Posto que, na literatura é comum observar várias iniciativas
tomadas para melhorar compreensão da FQ, a resolução de problemas pelos estudantes e o
conhecimento destes. É preciso buscar estratégias de ensino eficazes para contribuir com a
dissolução das dificuldades teóricas e matemáticas nos cursos de FQ introdutória.
Embora a SD não tenha sido aplicada, reconhecemos nela, em função das orientações
consagradas na literatura da área, grande potencial a fim de ofertar um ensino de FQ capaz
sanar as lacunas nessa área do ensino de física. Dessa forma, espero identificar, nos relatos
dos alunos, indícios da compreensão conceitual para os temas abordados nos textos, e que
esta sequência didática contribua para a melhor compreensão dos conceitos envolvidos e do
processo de evolução do conhecimento científico. Além disso, contribuir para uma
compreensão mais epistêmica do papel da HFC no ensino.
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