A Educação Ambiental Nas Séries Iniciais Do Ensino Fundamental
CONCEITO DE VOLUME NO CONTEXTO DO ENSINO...
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CONCEITO DE VOLUME NO CONTEXTO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Glauco Reinaldo Ferreira de Oliveira – Centro de Educação
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.
1. Resumo
Nessa pesquisa diagnóstica investiga-se os conceitos de figura, volume e medida se
inter-relacionam num contexto de ensino. As bases teóricas que adotamos propõem a
organização do campo conceitual das grandezas geométricas em quadros: o geométrico,
o das grandezas, o das medidas e o algébrico funcional. A parte experimental constou de
três momentos. O primeiro consistiu na realização de um teste para seleção dos sujeitos
do experimento, em uma turma de 5ª série, de uma escola da rede pública federal de
ensino. Após o teste foram escolhidas quatro duplas de sujeitos com as quais foi
realizado um estudo de caso, utilizando-se uma seqüência de atividades envolvendo a
articulação entre o quadro geométrico, o das grandezas e o das medidas. Foram
evidenciadas algumas concepções e estratégias dos alunos na resolução de problemas de
volume de sólidos maciços e de recipientes, que podem subsidiar a elaboração de
seqüências didáticas, visando à aprendizagem do conceito de volume.
2. Introdução
As grandezas geométricas surgem com bastante freqüência nos currículos,
programas e manuais didáticos voltados para o Ensino Fundamental. A importância
desse tema tem sido, tradicionalmente, atribuída às suas aplicações nos vários contextos
do dia-a-dia e das práticas tecnológicas ou científicas.
Apesar disso, estudos no campo da Didática da Matemática têm revelado que o
tratamento das grandezas geométricas no ensino vem merecendo atenção secundária em
face de outros conteúdos matemáticos. Além disso, tais pesquisas têm evidenciado
inúmeras e persistentes dificuldades dos alunos na aprendizagem desses conceitos.
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Em geral, na organização desses citados conteúdos (matemáticos) escolares o
tema das grandezas é parte do campo da geometria ou aparece com ênfase nos aspectos
numéricos, em capítulos dedicados às medidas. Uma das hipóteses didáticas básicas de
alguns pesquisadores é a de que o campo conceitual das grandezas – das grandezas
geométricas em particular – merece um lugar próprio, no conjunto dos conteúdos
matemáticos ensinados na escola. Apesar de, ainda, não haver uma aceitação ampla da
validade de tal hipótese, alguns fatos sinalizam nessa direção. Um deles é que nos
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (PCNs), elaborados pelo
MEC (Ministério da Educação e do Desporto, 1997, 1998) se escolheu ‘Grandezas e
Medidas’ como um dos quatro grandes blocos em que se organizam os conteúdos
matemáticos, ao lado dos blocos de ‘Números Operações’, ‘Espaço e Forma’ e
‘Tratamento da informação’. Um outro indício é a atenção maior que os manuais
didáticos mais recentes vêm dedicando ao tema das grandezas, ainda que neles não se
possa perceber um tratamento adequado da especificidade do conceito de grandeza
perante os de medida de uma grandeza, ou de objeto geométrico, ao qual está associada
à grandeza.
Esta dissertação está inserida no trabalho de um grupo do Mestrado em
Educação da UFPE, que vem estudando problemas de ensino-aprendizagem das
grandezas geométricas.
Alguns resultados dos trabalhos realizados sobre grandezas geométricas, pelo
grupo ao qual se filia esta dissertação, já podem ser consultados na literatura brasileira
de Educação Matemática. Por exemplo: Bellemain & Lima (2000, 2001), Câmara dos
Santos (1999), Duarte (2001), Lima (1995, 1997), Ribeiro (2001), entre outros.
O olhar sobre a literatura em didática das grandezas geométricas, adotando a
metodologia da engenharia didática, revela que há pouquíssimos estudos em torno da
grandeza volume. Um dos mais extensos foi o estudo conduzido por Vergnaud (1983) e
seus colaboradores, versando sobre “a aritmetização do volume, isto é a passagem do
espaço ao número” (Vergnaud, 1983), sendo central nesses estudos a questão da
dimensionalidade da grandeza volume.
Por outro lado, as pesquisas de Douady & Perrin-Glorian (1989) e Baltar (1996)
a respeito das grandezas área e comprimento ampliaram o espectro de questões didáticas
envolvendo esse campo conceitual. Em particular, propuseram modelos didáticos,
formularam hipóteses a ele associadas e experimentaram engenharias, visando a tornar
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mais eficaz o ensino desses conceitos. Estender parte dessas pesquisas à grandeza
volume é o objetivo da presente dissertação.
Nossa escolha é a de realizar um estudo exploratório sobre algumas questões
didáticas, presentes na aquisição inicial do conceito de volume. Embora guardemos
analogias com uma engenharia didática, abriremos mão do objetivo central de uma tal
engenharia – ensinar um conceito –, cingindo-nos a um estudo de caráter exploratório e
diagnóstico. Esperamos que esses estudos possam subsidiar seqüências de ensino que
componham uma engenharia didática relativa à grandeza volume.
3. Metodologia
O estudo de caso foi a metodologia adotada.
4. Objetivos
Executar um estudo diagnóstico e exploratório de questões didáticas relativas ao
conceito de volume.
Objetivos específicos
1ª Sessão
Esta sessão é composta por duas atividades, ambas envolvendo a articulação entre
os quadros geométricos e das grandezas.
• Na primeira, o foco principal é a distinção entre o sólido geométrico e seu
volume.
• Na segunda, voltamo-nos para a ordenação de sólidos, segundo seus volumes
2ª Sessão
Esta sessão o tema central é a comparação de volumes de sólidos, dando continuidade à
investigação da distinção/articulação entre a figura geométrica e o seu volume.
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• Na primeira atividade o objetivo de diagnosticar como os sujeitos relacionam
os conceitos de capacidade como grandeza.
• Na segunda atividade o objetivo de diagnosticar como os sujeitos relacionam
os conceitos de volume e de capacidade.
• 3ª Sessão
Nesta sessão, composta de duas atividades, o tema principal é o emprego da medida
com unidades não convencionais.
• Na primeira atividade examinamos a questão da medida da capacidade de
recipientes
• Na segunda a medida de volume de sólidos a distinção entre o sólido.
5. – Atividades
1ª sessão
FICHA DO ALUNO TAREFA 1
Você recebeu dois pedaços iguais de massa de modelar. Escolha um deles e amasse à vontade.
1 – Os dois pedaços de massa continuam com o mesmo volume? Não. Porque: Sim. Porque:
2 – Marque com um X a opção mais conveniente e justifique a sua resposta. O pedaço amassado tem volume maior do que o outro pedaço O pedaço amassado tem volume menor do que o outro pedaço Os dois pedaços têm o mesmo volume.
MATERIAL ENTREGUE À DUPLA
SÓLIDO A Uma porção de massa de modelar
SÓLIDO B Uma porção de massa de modelar
RECIPIENTE Recipiente plástico transparente, de paredes rígidas, com água e suficiente espaço para submersão total do pedaço de massa de modelar.
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2ª sessão
TAREFA 1 FICHA DO ALUNO Você recebeu os recipientes A, B e C.
a) Por estimativa visual qual destes recipientes (A, B ou C.) tem a meb) Verifique experimentalmente a sua resposta c) Coloque em ordem crescente, em relação à sua capacidade, os recip
E
E
FICHA DO ALUNO
TAREFA 2
Você recebeu uma bola A, um pedaço de ferro B, e três recip
Figura 3
a) Colocar em ordem, após uma estimativa visual, os recipi
dados, segundo os seus volumes. Considere, em cada recip
(capacidade)
b) Verifique, experimentalmente, se sua ordenação estimada
B < C
FICHA DO ALUNO TAREFA 2
Considere a bola de massa de modelar A, a bolinha B, o pedaço de ferro C.
a) Fazendo uma estimativa visual, qual desses objetos tem o maior volume? b) Verifique, experimentalmente, a sua resposta. c) Coloque em ordem crescente, em relação a seus volumes, os objetos dados.
RESPOSTA PREVISTA
m ordem crescente: A < B < C
RESPOSTA PREVISTA
m ordem crescente: A < C < B
nor capacidade?
ientes A, B e C.
RESPOSTA PREVISTA
< A < E < D, ou D > E > A > C > B.
ientes C, D, E.
entes e os sólidos maciços
iente o seu volume interno
está correta.
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3ª sessão
FICHA DO ALUNO
Tarefa2
Você recebeu uma coleção de cubinhos de madeira
1 – Construa um sólido, usando os cubinhos dados.
2 – Tomando o cubinho como unidade, faça uma estimativa da medida de volume do seu
sólido.
3 – Tomando o cubinho como unidade, determine a medida de seu sólido.
FICHA DO ALUNO
TAREFA 1
Você recebeu três recipientes: A, B e C e uma garrafa.
a) Faça uma estimativa da medida da capacidade da garrafa usando A como
unidade?
b) Determine experimentalmente a medida da capacidade da garrafa usando A
como unidade.
c) Determine experimentalmente a medida da capacidade da garrafa utilizando,
agora, como unidade cada um dos recipientes B e C.
d) Qual a relação entre as medidas da capacidade da garrafa, nas três unidades
escolhidas.
RESPOSTA PREVISTA
Aproximadamente: A =4 < B =3< C=2
6. Análise dos resultados das atividades da 1ª sessão
Uma primeira observação é a de que, dos oito alunos que participaram do
experimento, três afirmaram, explicitamente, que haveria variação do volume quando
um dos pedaços fosse amassado, eles mantiveram os seus pontos de vista mesmo após
realizarem o procedimento de imersão. Estes ainda não adquiriram a noção de
conservação de volume.
Dentre os que afirmaram haver mudança de volume, um deles (ALDS) recorreu
a uma argumentação errônea, prevista na análise a priori, que vincula um comprimento
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identificado na figura com o seu volume. Esse sujeito manteve o seu ponto de vista após
realizar o procedimento de imersão.
Os quatro sujeitos restantes evidenciaram compreensão dos fenômenos
envolvidos na atividade, dois deles formulando, de forma clara, que o volume do sólido
amassado não se altera no experimento. O sujeito FPO (12 anos) dá uma explicação
completa, também, do experimento com a imersão dos sólidos.
Na Atividade 2, constamos que houve bastante influência da noção de massa
(peso) dos sólidos, adotando-se a argumentação, segundo a qual, maior peso representa
maior volume. O pedaço de ferro, segundo esses alunos, por ser mais pesado, foi o
escolhido como o de maior volume. Por outro lado, quando esses alunos partiram para a
verificação experimental de suas hipóteses, houve modificações significativas das suas
conclusões iniciais.
Notamos, também, a forte influência que a figura exerceu na compreensão do
conceito de volume. Quando analisamos o Item (a), no qual era pedido para que os
alunos fizessem uma previsão do volume do objeto, ARA, JISO, CRLLM, FPO, fizeram
a previsão e elegeram elementos da figura (por exemplo, o “comprimento” da figura)
para justificar suas respostas. Quando executam o experimento de imersão, no entanto,
ocorre uma retificação desse ponto de vista em vários alunos
Um outro dado importante é o de que o número de acertos exibidos no Item c,
dessa Atividade, foi bastante elevado, o que pode revelar um efeito de familiarização
dos sujeitos com o procedimento utilizado na Atividade 1.
Em primeiro lugar, os dados parecem confirmar os achados de Piaget & Inhelder
(1983), relativos à aquisição da noção de conservação de volume dos sólidos, quando
submetidos a transformações que preservem sua massa e sua densidade. Aqueles
pesquisadores situaram em torno dos 11 anos a passagem da não-conservação para a
conservação, fenômeno que, aparentemente, ocorre no universo das duplas estudadas.
De fato, o sujeito de 10 anos de idade teve um mau desempenho em todos os itens da
sessão; os dois sujeitos com 12 anos, ao contrário, resolveram, corretamente, todos os
itens, e, em relação aos demais, que têm 11 anos de idade, houve casos de acerto e casos
de erro.
Do ponto de vista de novas investigações, talvez fosse interessante replicar o
experimento da 1a Sessão com sujeitos de outros contextos, seja com relação à faixa
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etária, tomando, por exemplo, alunos de 6a série, seja em turmas de 5a série, de outras
escolas.
7. Análise dos resultados das atividades da 2ª sessão
Notamos na atividade 1, inicialmente, que seis dos alunos que foram submetidos
ao experimento consideraram que dentre os três recipientes fornecidos, o copo,
recipiente A seria o que tinha menor capacidade. Dois destes alunos usaram como
justificativa para a sua resposta (ser menor, ser pequeno demais) como condição. Um
fato não previsto em nossa análise a priori é a resposta dada por HPSO (10 anos), que
nos parece considerar como capacidade o peso da garrafa ao indicar o recipiente de
menor volume: “O C, pois é uma garrafa leve” Esse sujeito manteve o ponto de vista
mesmo após o procedimento de imersão.
Observamos que as justificações usadas por alguns sujeitos, em relação à
aferição estimativa do volume interno dos recipientes referiram-se à relação entre o
volume interno e a figura, mas apoiadas em concepções vagas. Apesar disso, não houve
conflito entre a estimativa inicial e a realizada na segunda etapa da atividade,
provavelmente pelo fato de o copo A ser visivelmente mais baixo do que os outros dois
recipientes e não ser suficientemente largo para deixar de ser o de menor volume.
Na segunda tarefa estávamos interessados prioritariamente em verificar como os
sujeitos iriam relacionar os conceitos de volume e capacidade. A questão proposta era
ordenar os volumes de três recipientes (sólidos ocos) e dois sólidos maciços. Nessa
atividade não foi estabelecido o tipo de ordem, se crescente ou decrescente.
Uma observação inicial é a de que seis, dos oito sujeitos, tentaram, efetivamente,
ordenar o conjunto completo de objetos, embora nas respostas contidas nas fichas esse
fato não fique evidenciado, tendo sido necessário, para a verificação desse fato, o
recurso às anotações dos observadores e à exibição do registro videográfico. Dessa
forma, consideraram os volumes e as capacidades como comparáveis, o que é um
resultado interessante à luz da previsão feita na análise a priori de que poderia haver
uma separação entre os dois blocos de objetos. Tal separação só ocorreu com os sujeitos
PFOS e NFNB que procederam como se houvesse sido pedida a ordenação separada dos
recipientes e dos sólidos maciços.
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Nessa atividade, nenhum dos sujeitos formou a seqüência completa de forma
correta, havendo, no entanto, casos com subconjuntos ordenados acertadamente.
Os procedimentos de comparação por estimativa e por imersão foram
inteiramente análogos aos empregados nas atividades anteriores. No caso das
comparações por estimativa, alguns sujeitos continuaram a comparar volumes pela
comparação das massas (pesos) dos sólidos, valendo-se da “balança das mãos”.
A ocorrência de ordenações erradas do conjunto completo de objetos poderia ser
atribuída ao número elevado desses objetos, que cria dificuldades na aplicação da
transitividade da relação de ordem, como, também, gera dificuldades na fase de
comparação por meio do transporte de água. Essa última dificuldade pode ter sido
responsável pelo fato de que alguns sujeitos indicaram haver igualdade de volumes
entre alguns sólidos, o que, de fato, não ocorria.
8. Análise dos resultados das atividades da 3ª sessão
Na primeira tarefa, examinamos a questão da medida de capacidade de
recipientes e, na segunda, a medida de volume de sólidos.
Os resultados obtidos mostram que os sujeitos erraram, na maioria dos casos,
por mais de um copo do tipo A, ao fazerem suas estimativas da capacidade da garrafa.
Por outro lado, quase todos retificaram essas estimativas ao efetuarem a medição com o
transporte de água para a garrafa. Nesse sentido, o conflito entre a estimativa e o cálculo
mais preciso ocorreu como fora previsto na elaboração da atividade.
Observamos, além disso, um procedimento que provocou a medição incorreta
em três dos sujeitos (ALDS, CRLLM e ARA), que foi o de não preencher
completamente o copo unitário com água. Tais sujeitos enchiam cerca de ¾ do volume
do copo A e despejavam sucessivamente na garrafa. Não nos fica claro, nesse
procedimento, se os sujeitos estavam aceitando uma aproximação mais grosseira da
capacidade da garrafa ou não estavam atentos a isso e revelando, neste caso, uma
concepção errada do procedimento de medição.
O Item d desta Atividade visava a investigar as relações que os sujeitos
estabeleceriam entre os resultados da medição com as diferentes unidades. Observamos,
no entanto, pela análise dos dados nos protocolos dos alunos, não ter havido suficiente
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compreensão do que foi solicitado. Apenas dois deles deram respostas que se
aproximaram do esperado:
“Cada uma tinha capacidades diferentes precisando de menos ou de
mais copos” (ARA, 11 anos), “A é a que possui menos capacidade, B
é a 2ª, C é a que possui mais capacidade” (FPO, 12 anos).
Passemos, agora, a comentar os resultados da segunda atividade No primeiro
item dessa atividade, todos construíram sólidos geométricos, por empilhamento dos
cubinhos.
Constatamos que seis sujeitos, efetuaram a contagem dos cubinhos um a um,
desmontando, ou não, o sólido construído. Utilizaram, dessa forma, um procedimento
aditivo, compatível com a unidimensionalidade do volume, quando medido, tomando o
cubinho como unidade de medida.
Em contrapartida, dois sujeitos, que formaram uma das duplas, construíram um
paralelepípedo retângulo, atribuíram comprimentos em centímetros para suas arestas e
efetuaram o produto desses comprimentos, obtendo valores do volume em cm3. Esses
sujeitos utilizam, dessa forma, um procedimento que se contrapõe ao utilizado pela
maioria dos outros, pois adotam uma estratégia multiplicativa e fazem intervir um
elemento do quadro algébrico-funcional (fórmula de volume). No caso do sujeito
CRLLM (11 anos), convém salientar que houve um erro, desde que o sólido que foi
construído continha um vazio no seu interior, que não foi considerado em seu cálculo do
volume. Observamos aqui, possivelmente, um exemplo de reação ao emprego que não
sejam do sistema métrico decimal no trato de problemas de medição de grandezas.
9. Conclusões
Este trabalho tratou de um diagnóstico exploratório de questões didáticas
relativas ao conceito de volume, realizado por meio de um estudo de casos, que teve
como sujeitos quatro duplas de alunos de 5a Série do Ensino Fundamental e que foram
investigadas durante a resolução de uma seqüência de atividades de sala de aula.
Tomamos como moldura teórica básica para a elaboração da seqüência de atividades a
modelização didática das grandezas geométricas, proposta nos trabalhos de Douady &
Perrin-Glorian (1989) e Bellemain & Lima (2001), na qual se distinguem quatro
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quadros: geométrico, das grandezas, numérico e algébrico-funcional. A hipótese básica,
que vem norteando as pesquisas sobre o tema, e que é adotada neste trabalho, é a de
que, no ensino-aprendizagem das grandezas geométricas é necessário realizar a
distinção e a articulação desses quatro quadros.
Adotando a modelização, acima mencionada, no caso da grandeza volume, e
procurando articular o quadro dos sólidos geométricos com o quadro das grandezas,
deparamo-nos com questões complexas, originadas na intrincada relação do volume
desses sólidos com as grandezas massa e densidade. Sobressaem-se, nesse ponto, as
questões relativas à conservação de massa e de volume, nas transformações a que
podem ser submetidos os sólidos.
Uma das atividades do experimento levado a efeito nesta dissertação é uma
replicação de uma das tarefas de Piaget & Inhelder (1983). Os resultados obtidos nessa
atividade mostraram a complexidade da aquisição da noção de conservação do volume,
numa situação em que um sólido é submetido a uma mudança que preserva sua massa e
sua densidade, mas, altera sua forma. Os resultados encontrados em nosso experimento
corroboram a hipótese de Piaget & Inhelder sobre a fase de desenvolvimento da criança,
na qual se evidencia a aquisição da noção de conservação de volume. No entanto, dada
a importância da aquisição dessa noção e o caráter exploratório do nosso estudo, seria
oportuno que fossem realizadas investigações análogas noutros contextos, não só com
respeito à faixa etária – com alunos de 6ª Série, por exemplo – mas, também, com
alunos de outras escolas.
Na abordagem das questões de ensino-aprendizagem do conceito de volume
surge uma questão muito instigante, qual seja, a relação entre os conceitos de volume e
de capacidade. Idênticos, do ponto de vista da Matemática, esses dois conceitos são
distintos do ponto de vista das análises cognitiva e didática. Uma das atividades do
nosso experimento apontou para a possibilidade de os alunos integrarem,
convenientemente, tais conceitos. Numa tarefa de ordenação de sólidos maciços e
recipientes, seis dos oito sujeitos compararam volumes e capacidades.
Na resolução de problemas envolvendo a capacidade de recipientes tem sido
sempre utilizada, como instrumento de comparação ou de medida, a quantidade de
alguma substância material (em geral, líquidos) que podemos armazenar nesses
recipientes. Empregamos, com esse procedimento, o princípio válido de que a razão
entre dois volumes é a razão entre as massas do material contido nesses recipientes.
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Esse fato induz à idéia errônea de que o volume é a massa contida no recipiente, idéia
essa, muito enraizada, até mesmo nas concepções dos professores de Matemática, como
mostramos no Capítulo 4 desta dissertação. Isso nos sugere a realização de estudos nos
quais fossem investigadas atividades que propiciassem a distinção entre as grandezas
volume e massa.
Outra questão relevante na abordagem da grandeza volume é aquela que se
refere à sua dimensionalidade. Quando é que o volume é entendido como uma grandeza
unidimensional e quando o é como uma grandeza tridimensional? Que relações há entre
tal distinção e a distinção volume–capacidade? Na última atividade de nosso
experimento abordamos, de forma muito incipiente, esses temas, porém, é
imprescindível, para o ensino-aprendizagem do conceito de volume que tais questões
seja respondidas.
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