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Comunicações Individuais

Eixo Temático 4

História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

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SUMÁRIO O MOVIMENTO DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL BRASILEIRA E SUA APROPRIAÇÃO (1964-1996)................................................................................................................................................................265 ALESSANDRA ELIZABETH FERREIRA GONÇALVES PRADO....................................................................................265 ASSISTENCIALISMO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INFÂNCIA SERGIPANA (1942-1974) .....................................265 ALESSANDRO ARAÚJO MENDES ........................................................................................................................265 ENTRE A COZINHA E O LABORATÓRIO – AS MENINAS DE LOBATO E A EDUCAÇÃO INFANTIL NO INÍCIO DO SÉCULO XX .......................................................................................................................................................266 ANA CAROLINA SIQUEIRA VELOSO ....................................................................................................................266 EDUCAÇÃO E ESCOLARIZAÇÃO EM DEBATE NOS PRIMEIROS CONGRESSOS AMERICANOS DA CRIANÇA (1916-1922)................................................................................................................................................................266 ANDRÉA BEZERRA CORDEIRO............................................................................................................................266 CAMPANHA DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS: A CURA PARA A “CHAGA” DO ANALFABETISMO, O “CANCRO SOCIAL” ...........................................................................................................................................................267 ANDRÉA MÁRCIA SANT' ANA ............................................................................................................................267 CONSTRUINDO TRAJETÓRIAS: AS EXPERIÊNCIAS DOS TRABALHADORES EM TORNO DA INSTRUÇÃO (RIO DE JANEIRO 1901-1910) ........................................................................................................................................267 BÁRBARA CANEDO RUIZ MARTINS ....................................................................................................................267 AS ESCOLAS NOTURNAS COMO LOCUS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICIPIO DE UBERLÂNDIA (1947-1963) .....................................................................................................................................................268 CARLA CRISTINA JACINTO DA SILVA...................................................................................................................268 ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: REFLEXÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO PRIMEIRO ANO E AS IMPLICAÇÕES PARA A INFÂNCIA......................................................................................................................269 CASSIA HELENA GUILLEN CAVARSAN.................................................................................................................269 TELEDRAMATURGIA E HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A EXPERIÊNCIA DE JOÃO DA SILVA CÍNTIA NASCIMENTO DE OLIVEIRA CONCEIÇÃO.................................................................................................269 EDUCAÇÃO INFANTIL, FAMÍLIA E CIVILIDADE...................................................................................................270 CLAUDEMIR DANTES DA SILVA..........................................................................................................................270 "MULHERES EXEMPLARES": UM LIVRO PARA AS MULHERES EM CIRCULAÇÃO DURANTE A CAMPANHA DE EDUCAÇÃO DE ADOLESCENTES E ADULTOS (1947-1950) NO BRASIL ................................................................270 DEANE MONTEIRO VIEIRA COSTA .....................................................................................................................270 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL E BRINCADEIRA: ASPECTOS DA CONSTITUIÇÃO DE UM CAMPO DE ESTUDOS ENTRE AS DÉCADAS DE 1990 E 2010............................................................................................271 ELIEUZA APARECIDA DE LIMA ...........................................................................................................................271 JENIFFER DE ARRUDA .......................................................................................................................................271 ROSANE MICHELLI DE CASTRO..........................................................................................................................271 FILHAS, IRMÃS, ESPOSAS, MÃES E PROFESSORAS: EDUCAÇÃO FEMININA NA ERA VARGAS ............................272 ELIEZER RAIMUNDO DE SOUSA COSTA..............................................................................................................272 OS EXAMES DE ADMISSÃO AO GINÁSIO NO ESTADO DO PARANÁ À LUZ DA HISTÓRIA ORAL..........................272 ELISÂNGELA ZARPELON AKSENEN .....................................................................................................................272 MARIA ELISABETH BLANCK MIGUEL ..................................................................................................................272 A EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA: ESCOLAS INFANTIS PÚBLICAS EM BELO HORIZONTE (1908-1930) .......273 ELLEN ROSE FERNANDES FIGUEIREDO...............................................................................................................273

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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O INTERNAMENTO DOS FILHOS DE LÁZAROS NOS PREVENTÓRIOS E EDUCANDÁRIOS NO BRASIL...................273 FABRICIA PEREIRA STEIN JUBRICA..................................................................................................................... 273 ADEMILSON BATISTA PAES ............................................................................................................................... 273 A LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS CADEIRAS E OS SUJEITOS ENVOLVIDOS NA ESCOLARIZAÇÃO DE UM MUNICÍPIO DO ENTORNO DA CAPITAL DE SÃO PAULO (1870-1885) ................................................................274 FERNANDA MORAES DOS SANTOS .................................................................................................................... 274 ÂNGELO SPRICIGO (URUSSANGA/SC, 1915): HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA ESCRITA......................275 GESTINE CÁSSIA TRINDADE............................................................................................................................... 275 A CIÊNCIA E AS TEORIAS DE EDUCAÇÃO DA CRIANÇA EM JOSÉ VERÍSSIMO: AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NO COLLEGIO AMERICANO....................................................................................................................................275 JACQUELINE TATIANE DA SILVA GUIMARÃES ....................................................................................................275 MARLUCY DO SOCORRO ARAGÃO DE SOUSA ....................................................................................................275 O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO FÓRUM DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO POPULAR EM MATO GROSSO (1990 A 2001).................................................................................276 JEFFERSON BENTO DE MOURA ......................................................................................................................... 276 MARCIA DOS SANTOS FERREIRA ....................................................................................................................... 276 O PAPEL DO JUIZ PRIVATIVO DE MENORES PARANAENSE NA EDUCAÇÃO DE MENINAS E MENINOS NAS DÉCADAS DE 1930 E 1940 ................................................................................................................................276 JOSEANE DE FÁTIMA MACHADO DA SILVA........................................................................................................276 A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UBERLÂNDIA-MG (1888 /1988).......277 JULIANA ANDRADE ROCHA ............................................................................................................................... 277 O QUE É FAMÍLIA? UMA PERSPECTIVA HISTORIOGRÁFICA SOBRE OS ENUNCIADOS A RESPEITO DA FAMÍLIA BRASILEIRA......................................................................................................................................................277 KAMILA AMORIM ............................................................................................................................................. 277 LEGISLAÇÃO E EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA NO GOVERNO IMPERIAL (1808-1890)...............................................278 KATE PAULA NUNES DIAS .................................................................................................................................278 MOYSÉS KUHLMANN JÚNIOR - FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS ............................................................................ 278 OS MENORES “ANORMAIS”, O GABINETE DE BIOLOGIA CRIMINAL E O SERVIÇO DE ATENDIMENTO AOS PSICOPATAS EM SERGIPE (1920 A 1970) ..........................................................................................................279 KÁTIA REGINA LOPES COSTA............................................................................................................................. 279 ALESSANDRO ARAÚJO MENDES........................................................................................................................ 279 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS TEFÉ/AM: AS AÇÕES PEDAGÓGICAS DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE ................................................................................................................................................................279 LENI RODRIGUES COELHO.................................................................................................................................279 A INFÂNCIA SOB TUTELA: UM ESTUDO SOBRE OS CONTRATOS DE SOLDADA E OS AUTOS DE TUTELA NA COMARCA DE RIBEIRÃO PRETO (1876-1917)....................................................................................................280 LUCIANA BACHIEGA MAGOSSO......................................................................................................................... 280 "SCOUTISMO MIRANDO AL SUR": A ORIGEM DO MOVIMENTO ESCOTEIRO EM ESCALA COMPARA – ARGENTINA E BRASIL NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX .....................................................................280 MARIA AUGUSTA MARTIARENA DE OLIVEIRA....................................................................................................280 DE CASA À ESCOLA: A EDUCAÇÃO E OS COFLITOS INTERCULTURAIS NA FORMAÇÃO DO MENINO ALFREDO...281 MARIA DO SOCORRO PEREIRA LIMA ................................................................................................................. 281 LAURA MARIA ARAÚJO ALVES........................................................................................................................... 281 O FUZIL É PEQUENO, POUCO PESA, MAS SERVE PARA A DEFESA DA REPÚBLICA DO BRASIL............................282 MARIA ZELIA MAIA DE SOUZA........................................................................................................................... 282

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ALFABETIZAÇÃO, HISTÓRIA E MEMÓRIA: CULTURA ESCOLAR NA REGIÃO NOROESTE PAULISTA (1960-1970) .282 RENATA DE SAMPAIO VALADÃO .......................................................................................................................282 ESTELA NATALINA MANTOVANI BERTOLETTI.....................................................................................................282 O “CATECISMO POSITIVISTA” (1852) E A EDUCAÇÃO FEMININA EM AUGUSTE COMTE: INFLUÊNCIAS NO CONTEXTO DO ESTADO NOVO BRASILEIRO......................................................................................................283 RENATA FRANQUI.............................................................................................................................................283 ASPECTOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO BRASIL ENTRE O FINAL DO SÉCULO XIX E AS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX .................................................................................................................................283 RONALDO AURÉLIO GIMENES GARCIA ..............................................................................................................283 JARDIM MODELO: ESPAÇO DE FORMAÇÃO DA INFÂNCIA NATALENSE (1953-1965).........................................284 SARAH LIMA MENDES.......................................................................................................................................284 ANTONIO BASILIO NOVAES THOMAZ DE MENEZES............................................................................................284 AS INFÂNCIAS TUTELADAS: AÇÕES INTERVENCIONISTAS E MATRIZES INTERPRETATIVAS ACERCA DA ASSISTÊNCIA E DA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NO RIO DE JANEIRO NAS DÉCADAS DE 1920 A 1930....................285 SÔNIA DE OLIVEIRA CAMARA RANGEL ..............................................................................................................285 HISTÓRIA DE UMA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE RIO CLARO/SP NO SEU PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO ..........................................................................................................................................285 SUELI IWASAWA...............................................................................................................................................285 AS HISTÓRIAS DE VIDA E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO PROEJA NO IFRJ; CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS...................................................................286 TELMA ALVES ...................................................................................................................................................286

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O MOVIMENTO DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL BRASILEIRA E SUA APROPRIAÇÃO (1964-1996)

ALESSANDRA ELIZABETH FERREIRA GONÇALVES PRADO Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

No contexto do golpe militar brasileiro de 1964, ao lado de acentuadas mudanças político-econômicas, tem-se a educação pré-escolar e intensificação de debates e ações por parte do governo federal que, incentivado pelos ditames de uma agenda internacional sob o lema da “redução da pobreza e desenvolvimento com segurança”, disseminou um discurso eclético, voltado ao interesse das crianças e integrado às áreas da saúde, saneamento básico, nutrição e mobilização de meios comunitários. Seguiu-se ao discurso a promoção de publicações oficiais, seminários e aproveitamento de instituições preexistentes. Ademais, congrega a isso o adensamento de iniciativas e propostas de ações pedagógicas, publicações científicas e coleções ligadas ao governo ou editoras. Desta forma, objetiva-se apreender e analisar, por meio do movimento de circulação e apropriação, como as ideias pedagógicas se constituíram nos discursos a respeito do atendimento a crianças menores de seis anos no Brasil durante o período militar (1964-1985) até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 (data que delimita por lei a ruptura com as propostas moldadas na Lei de Diretrizes e Bases 5692/71). A problemática inicial gira em torno de três grandes questões, a saber: Que concepções de infância e educação para esta faixa etária estariam presentes nos documentos, artigos e materiais didáticos a serem analisados? Levariam estas a um processo de mitologização da infância e atendimento de qualidade para a mesma? Quais teóricos ancorariam os discursos para referendar o trabalho pedagógico com crianças menores de seis anos e, quais funções seriam atribuídas a este atendimento? Essa pesquisa possui caráter qualitativo de cunho teórico-bibliográfico tendo como aportes teóricos de análise a apreensão da circulação das ideias pedagógicas (Saviani, 2007), com o intento de ao mesmo tempo trabalhar na perspectiva de desmitologizar e também a construção da gramática da educacionalização, ambos conceitos elaborados segundo o historiador Marc Depaepe (2000; 2012), ajudando-nos a defender que a busca por fontes diversificadas é fundamental para o auxílio na reconstrução da atmosfera vivida pelas ideias pedagógicas a serem estudadas. Três tipos de fontes serão utilizadas: 1) documentos oficiais produzidos pelo governo Federal: leis, regulamentos, diretrizes políticas e curriculares; 2) manuais produzidos pelo governo Federal e/ou em conjunto com entidades responsáveis por este atendimento no Brasil; 3) artigos em periódicos de circulação nacional bem como livros produzidos a época e divulgados. Este artigo não pretende arvorar-se rumo a respostas definitivas, mas contribuir para ampliar o conhecimento historiográfico no campo da educação infantil fazendo emergir discussões profícuas que caminha para a compreensão do movimento das ideias pedagógicas na área.

ASSISTENCIALISMO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INFÂNCIA SERGIPANA (1942-1974)

ALESSANDRO ARAÚJO MENDES Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Este artigo apresenta recorte da minha dissertação para o mestrado em Educação que consistiu numa pesquisa histórica, com abordagem na História Cultural. O objetivo geral foi analisar como as autoridades lidavam com o problema do menor abandonado e delinquente. O recorte temporal está associado à criação da primeira instituição pública sergipana para acolher menores abandonados e delinquentes, chamada Cidade de Menores Getúlio Vargas, que funcionou de 1942, ano da sua inauguração, a 1974, ano em que fechou suas portas após uma crise no sistema de assistencialismo aos menores. O objetivo deste artigo é analisar a assistência social, as políticas públicas e as representações das autoridades sobre os abandonados e delinquentes sergipanos no período entelado, tendo como base as fontes coletadas: processos, ofícios, alvarás, editais, boletins individuais e comunicados. Além destes, também analisei jornais e fotografias. Estas fontes forneceram-me dados relevantes sobre como era encarado o “problema do menor”. No início do século XX havia muitos problemas em todo o país, tendo como principais causas: a concentração de renda, inflação, urbanização, migração do campo para a cidade, imigração, industrialização, falta de educação da população e crescimento da criminalidade. Segundo Santos (2010, p. 215), uma das causas do aumento da delinquência nos grandes centros urbanos era a corrupção da infância que, por sua vez, faltava-lhe educação, cuidados da família e da própria sociedade. Um trabalho acadêmico, encontrado solto na Caixa 17, do Fundo do Juizado de Menores de Sergipe, elaborado antes do Código Penal de 1940, informava que o médico penitenciarista, Dr. Luiz Ângelo Dourado, que também pesquisava as causas da criminalidade, entendia que “todo indivíduo deficientemente educado, tendo desenvolvido de forma precária as próprias inibições, estará sujeito à delinquência. Em resumo, o criminoso nasce no lar. É produto de pais desajustados; é a consequência de uma educação defeituosa . A criança pobre estava associada à

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miséria, ao abandono e à delinquência. Isto tinha que ser inibido de alguma forma e por isso foram criadas diversas políticas assistencialistas, bem como se ampliou os poderes do Judiciário para lidar com esse problema. A discussão das causas da pobreza era complexa, como também eram as suas consequências. Estavam relacionadas com o social, política, economia e educação. Para as discussões e análise das fontes, utilizarei as concepções sobre infância e menoridade de RIZZINI (1995), VEIGA e FARIA FILHO (1999), FALEIROS (1995), MARCILIO (2011), VENÊNCIO (2010) e LEITE NETO (1937).

ENTRE A COZINHA E O LABORATÓRIO – AS MENINAS DE LOBATO E A EDUCAÇÃO INFANTIL NO INÍCIO DO SÉCULO XX

ANA CAROLINA SIQUEIRA VELOSO Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O presente estudo apresenta fragmentos de uma pesquisa de caráter histórico, que culminou na defesa de dissertação de mestrado “Perfis femininos em livros infantis de Monteiro Lobato (1920-1940)”, em meados de 2013, no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PROPED), na linha “Instituições, Práticas Educativas e História”. A elaboração deste artigo visa contribuir com o debate acerca da educação infantil feminina nos anos de 1920 a 1940, a partir do diálogo com personagens criadas pelo escritor Monteiro Lobato em alguns de seus livros infantis do mesmo período. Os livros analisados são Reinações de Narizinho (1931), Memórias de Emília (1936) — títulos selecionados, pois cada um possui como protagonista uma das personagens infantis femininas analisadas —; Serões de Dona Benta (1937), História do mundo para crianças (1933), História das Invenções (1937) e O poço do Visconde (1937) – em que as questões da modernidade, história e educação são destacadas pelo autor. Neste estudo, inserido no campo da história da educação, o principal corpus documental é o material literário e, por isso, foi necessária a aproximação com a história cultural, com a história do impresso e com a micro-história. Em um primeiro momento, analisamos as personagens Narizinho e Emília à luz de estudos sobre o desenvolvimento infantil, igualmente datados do início do século XX, como os escritos do intelectual brasileiro Alceu Amoroso Lima e do russo Lev Semenovitch Vigotsky. Em realidade, observam-se duas crianças aprendendo e tornando-se mulheres, educando-se e fortalecendo suas identidades de gênero. Por vezes, segundo marcas rígidas e conservadoras, e, em outros momentos, regidas por preceitos modernos e modificadas pelos artefatos tecnológicos. Lúcia e Emília são educadas para a função de esposas? Elas sonham com o casamento? Por vezes, são caracterizadas e elogiadas pelo desempenho na cozinha, auxiliando as mulheres adultas; por outras, destacam-se pela racionalidade e habilidade com que utilizam artefatos científicos no laboratório do Sítio do Picapau amarelo e, em outros casos, desconsideram até mesmo a sacralidade do casamento, importando-se apenas com o título e patrimônio dos pretendentes. Ademais, de maneira interdisciplinar, através de pesquisa bibliográfica, o estudo se debruça sobre o conceito de modernidade, que possibilitou a apreensão das relações da escrita fictícia de Lobato com discursos e práticas infantis femininas, aos quais se teve acesso por meio de revistas e manuais de civilidade. Observa-se que as caracterizações das personagens infantis apresentavam a modernidade ligada, principalmente, aos meios culturais, artefatos tecnológicos e ao debate educacional. Todavia, as práticas desses discursos renovadores dependeram, igualmente, das origens sociais, étnicas e econômicas das personagens representadas naquele contexto.

EDUCAÇÃO E ESCOLARIZAÇÃO EM DEBATE NOS PRIMEIROS CONGRESSOS AMERICANOS DA CRIANÇA (1916-1922)

ANDRÉA BEZERRA CORDEIRO Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

As premências do fortalecimento da identidade americana e da necessidade de discussão das especificidades da infância no continente impulsionaram a realização do Primeiro Congreso Americano Del Niño, (1916 na Argentina), Segundo Congreso Americano Del Niño, (1919 no Uruguai) e do Terceiro Congresso Americano da Criança (1922 no Brasil); todos com a participação de diversos países das Américas. Este resumo se estrutura na analise das ideias acerca da Educação e Escolarização das crianças latino-americanas trazidas a debate nestes eventos. O momento histórico no qual se darão esses congressos foi marcado pelo apelo à coesão nacional e aos esforços das Américas por assunção no cenário das relações internacionais. A ideia da educação (identificada fortemente à da escolarização) como ponte para civilização e integração das populações será cara ao intento de unidade e progresso e a temática educativa será centro de atenção nesses encontros científicos, nos quais os trabalhos apresentados evocam problemas, propostas e representações acerca da educação como caminho da

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unificação nacional e intercontinental, de desenvolvimento e avanço econômico e cultural. Embora englobassem diversos aspectos relativos á infância organizados em seções distintas para os debates específicos nas áreas de Educação, Medicina, Higiene, Legislação, observamos que as ideias educativas se fizeram presentes nas diferentes áreas, sendo apropriadas não apenas por professores e pedagogos, mas por uma rede de profissionais (advogados, médicos, psicólogos, filantropos, ativistas sociais) que circundam a infância neste momento e que para além das discussões acerca dos princípios e fins da educação, trazem às plenárias debates sobre os meios, sujeitos e objetos pelos quais o intento de educar e escolarizar as crianças poderia ser atingido. Ideias acerca do papel do Estado, o perfil do professor, o modelo de família e de aluno ansiados e temidos também compões fartamente as fontes acionadas. Documentos referentes aos congressos (memórias, atas, proposições de trabalhos) coletados no Brasil, Uruguai e Argentina, aliados a outros materiais, compõe o corpus de fontes mobilizado no intento de aprofundar o entendimento sobre estes detalhes e nuances acerca do que movia as preocupações aos que discutiam a educação no período, possibilitando uma incisão mais profunda nos discursos educativos, por vezes muito gerais e totalizantes e nos permitem identificar algumas especificidades, contradições, demandas no processo de escolarização na América Latina no início do sec. XX.

CAMPANHA DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS: A CURA PARA A “CHAGA” DO ANALFABETISMO, O “CANCRO SOCIAL”

ANDRÉA MÁRCIA SANT' ANA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Partindo da investigação de três jornais da cidade de Ribeirão Preto/SP, com diferentes matrizes ideológicas e culturais, enquanto os periódicos, “O Diário da Manhã” e “A Cidade”, apresentavam os princípios do liberalismo, o “Diário de Notícias”, era mantido pela igreja católica, este artigo procura reconstituir parcialmente, na ótica da imprensa escrita, o debate educacional na década de 1950. A pesquisa teve como objetivo examinar como a Campanha de Alfabetização de Adultos era noticiado na imprensa. A análise dos jornais revelou um número bastante expressivo de reportagens, notícias, artigos e colunas sobre a Campanha. O estudo dos periódicos evidencia uma unanimidade nos discursos, isto é, a concepção de que o analfabetismo era o responsável por todas as mazelas do Brasil, sobretudo o atraso e subdesenvolvimento econômico. Destacavam que a mesma estava sendo denominada “Campanha da Redenção Nacional”, e enfatizava ser dever de todos os brasileiros trabalharem para sua intensificação, de modo que o Brasil vitorioso, se igualasse às nações civilizadas, não tendo mais a vergonhosa estatística de analfabetos. Embora a Campanha de Alfabetização de Adultos fosse promovida pelo governo federal, os recursos eram limitados. Por isso a imprensa sempre destacava que sem a colaboração da iniciativa privada e o voluntariado civil, a campanha estava fadada ao fracasso. Muitas notícias atualizavam os dados mostrando resultado, estatísticas, além de depoimentos sobre as experiências em cada estado. Havia, por parte da imprensa, a esperança de que esta conseguiria erradicar o analfabetismo no país. Nos três periódicos, a defesa da lógica capitalista estava presente, ao disseminarem a ideia de que as barreiras socioeconômicas seriam “quebradas”, quando todos estivessem alfabetizados. Ao se tornar um cidadão, o indivíduo tinha, dentro da lógica do liberalismo, todas as chances de vencer. A responsabilidade passava a ser pessoal e individual. Desta forma, o Estado se isentava de qualquer responsabilidade sobre a desigualdade na distribuição de renda no Brasil. O discurso presente nos jornais reforçava a lógica do capitalismo liberal. O indivíduo fracassava não por causa do sistema socioeconômico. Ele fracassava pelo fato de ser analfabeto. As péssimas condições de trabalho, a exploração, os baixos salários, a desigual distribuição da riqueza, as diferenças regionais, nada era questionado. O fim do analfabetismo “magicamente” resolveria as contradições e distorções econômicas e sociais, e se não resolvesse, a responsabilidade recairia sobre os “novos cidadãos brasileiros”. Os três jornais mostravam a mesma face, conservadora e legalista.

CONSTRUINDO TRAJETÓRIAS: AS EXPERIÊNCIAS DOS TRABALHADORES EM TORNO DA INSTRUÇÃO (RIO DE JANEIRO 1901-

1910)

BÁRBARA CANEDO RUIZ MARTINS Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O artigo propõe analisar ideias e projetos de instrução para trabalhadores, a partir da imprensa operária na primeira década de 1910. Com base nas trajetórias de algumas lideranças do movimento trabalhista, principalmente socialistas, buscamos compreender sentidos e significados da instrução para os trabalhadores

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urbanos na cidade do Rio de Janeiro. Destacamos ainda, que nossa investigação pretende esmiuçar os contornos que as aulas e cursos noturnos acabaram por ganhar entre os mencionados trabalhadores. A referida imprensa se coloca como ponto de partida em nossa análise, por oferecer dimensões descritivas e críticas dos mundos do trabalho. Assim, poderemos perceber as mudanças e as similitudes nas propostas que circulavam no período, de origens diversas. O momento foi de intenso debate sobre os espaços possíveis de participação social, os direitos que envolviam a cidadania e a participação de variados sujeitos nas múltiplas esferas políticas. Cabe lembrar, que uma das principais vias de participação política durante a República se dava através do voto, limitado pela exigência do letramento e gênero, cujo universo era bastante reduzido se observamos o total da população que não sabia ler e escrever, chegando a níveis considerados altos nos censos anteriores a 1900. Por conta de tais fatores, a instrução noturna adquire noções plurais e constituem identidades multifacetadas dos sujeitos, objetos de nossa pesquisa. Tal universo de trabalhadores, nos permite entender o Rio de Janeiro como uma cidade negra aonde se articulavam redes sociais (re)construindo espaços de solidariedade e autonomia. Por outro lado, atentamos aos esforços de determinados grupos para diminuir, restringir e sanear as áreas de intensas mobilizações sociais, apontadas como focos de resistência, espraiadas por regiões distantes do centro do poder político. Nossa proposta tem como referências a historiografia da história da educação, da escravidão e da pós-abolição, cruzando perspectivas, metodologias e temas. As categorias de experiência e identidades construídas por E. P. Thompson são pensadas como concepções importantes diante das modificações dos mundos do trabalho da cidade citada. A partir da imprensa operária procuramos recuperar diversas falas de autoridades, sobre aulas e cursos noturnos, a partir de alguns ofícios e requerimentos contidos nos códices do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ). Neste complexo território de práticas sociais, pensamos os conceitos de classe, gênero e etnia a fim de depreender multifacetadas identidades sociais, gestadas pelo universo de possíveis alunos (homens, mulheres, jovens e crianças).

AS ESCOLAS NOTURNAS COMO LOCUS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICIPIO DE UBERLÂNDIA (1947-1963)

CARLA CRISTINA JACINTO DA SILVA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O presente trabalho tem como pretensão apresentar a pesquisa cujo objetivo foi investigar a história das escolas noturnas de educação de jovens e adultos no município de Uberlândia no período de 1947 a 1963. O recorte cronológico se refere a 1947, quando foi lançada a primeira campanha de Educação de Adolescentes e Adultos no país, até o ano de 1963 quando essa encerra suas atividades. O desejo de pesquisar esta temática surgiu ao estudar e conhecer a história das campanhas e movimentos sociais a favor da Educação de Adolescentes e Adultos que, no final dos anos de 1940, começavam a aparecer no país, assim também como as lutas por esse direito, que apesar de ser garantido por lei a todos (devido à constituição de 1934), ainda havia no país, na época, uma taxa de 55% de analfabetos entre a população acima dos 18 anos. Para entender a história das instituições de Educação de Adolescentes e Adultos no município, buscamos fatos e acontecimentos na história, que ocorreram inicialmente no Brasil, passando por Minas Gerais, e especificamente, em Uberlândia. Ao realizar esse percurso foi possível compreender os caminhos trilhados pela educação de adolescentes e adultos no período escolhido. Utilizamos como fontes para a pesquisa os seguintes documentos: atas de reuniões das escolas noturnas, livros de matrículas, livros de frequência diária dos alunos e livros de pontos dos professores. Toda documentação foi pesquisada no Arquivo Público de Uberlândia. Ao iniciarmos a pesquisa buscamos as escolas que, possivelmente, recebiam esses alunos no município. A partir daí optamos por investigar os grupos noturnos e grupos escolares que ofereciam aulas noturnas de ensino primário. Ao fazermos o histórico das instituições escolares que ofereciam o ensino noturno no município de Uberlândia no período de 1947 a 1963 localizamos seis instituições, sendo cinco urbanas e uma rural. Dentre as escolas urbanas, destacamos: Grupo Escolar Felisberto Alves Carrejo, Grupo Noturno Governador Valadares, Grupo Noturno Augusto César, Escola Modelo Governador Valadares e Escola Municipal Padre José de Anchieta. Por fim, havia a Escola Noturna rural para alfabetização de adultos da Cerâmica “Eldorado”. Todas financiadas pelo município de Uberlândia. Ao encontrarmos essas instituições verificamos o ano de fundação, período de funcionamento e o número de matrículas recebidas. Além desses aspectos, buscamos os espaços onde foram instaladas essas escolas e analisamos os usos dos tempos escolares por estas instituições. Essas escolas não possuíam um local próprio para funcionamento, utilizavam espaços cedidos por outros grupos escolares (estaduais) que funcionavam durante o dia.

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ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: REFLEXÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO PRIMEIRO ANO E AS IMPLICAÇÕES PARA A

INFÂNCIA

CASSIA HELENA GUILLEN CAVARSAN Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Este trabalho configura-se como parte de uma pesquisa de mestrado, inserida no campo da História da Educação. Tem como objetivo contemplar algumas reflexões sobre a implantação do Ensino Fundamental de nove anos, em âmbito nacional, estadual e municipal. No contexto nacional, aborda as Políticas Públicas referente à implantação do primeiro ano do Ensino Fundamental e as consequências para a infância. Para problematizar tais abordagens conta com o aporte teórico de pesquisadores como: Gondra (2010); Almeida, Neves e Gondra (2012); Arelaro, Jacomini e Klein (2011); Garcia (2011); Cabral e Santos (2013); Kramer (1988). Em âmbito Estadual, trata especificamente sobre o embate travado no Estado do Paraná referente à idade de corte, no qual havia dois posicionamentos em disputa. No primeiro, a criança iniciaria no Ensino Fundamental de nove anos, com seis anos de idade completos ou a completar até o início do mês de março do ano em curso. No segundo, a criança poderia ingressar com cinco anos de idade no primeiro ano deste ensino, a completar seis até o mês de dezembro do ano escolar. Neste embate, três esferas da sociedade estavam envolvidas: o Conselho Estadual de Educação, as escolas particulares, e o Ministério Público. No cenário municipal paranaense ocorreram várias implicações agravadas, ainda, pelo resultado desta disputa judicial. Neste momento, a análise destes cenários é feita com o diálogo entre os autores: Saveli e Machado (2008); Gonçalves (2008); Nogueira e Nogueira (2004); Flach (2012) e Bueno (2010). Discutiu-se que as Políticas Públicas tiveram a intenção de estabelecer um projeto de nação que vem se constituindo ao longo do tempo e pretendem ter um controle também sobre a população infantil. Além disso, essas políticas são pautadas no mercado mundial, na lógica capitalista e princípios neoliberais e, portanto, não visam atender as reais necessidades brasileiras e do desenvolvimento humano, forçando uma alfabetização e letramento precoce em detrimento da vivência da infância. Nesse sentido, buscam inserir e preparar cada vez mais cedo o cidadão para o mercado de trabalho e consumo. Em relação à obrigatoriedade e antecipação da idade da matrícula, constatou-se que há o perigo de se violar a infância abreviando uma etapa importante desta, que também é entendida e tratada de forma fragmentada. Essa concepção é oriunda de conceitos do campo médico-higiênico que interpreta a sociedade carente como incapaz de educar seus próprios filhos e, por essa razão, o Estado se acha no dever de interferir, apresentando argumentos de políticas compensatórias para dar às crianças, consideradas desfavorecidas, a oportunidade de compensar a sua defasagem sociocultural. Concluiu-se, por fim, que as experiências municipais demonstraram que a extensão do Ensino Fundamental foi realizada de forma improvisada e sem atender as reais especificidades desta faixa etária, tanto no que diz respeito à estrutura física das escolas como em questões pedagógicas.

TELEDRAMATURGIA E HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A EXPERIÊNCIA DE JOÃO DA SILVA

CÍNTIA NASCIMENTO DE OLIVEIRA CONCEIÇÃO Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Teledramaturgia e história da alfabetização de jovens e adultos: a experiência de João da Silva Esta comunicação tem o objetivo de refletir sobre a História da Educação Brasileira a partir do de uso dos meios de comunicação como estratégia para redução dos índices de alfabetização de jovens e adultos. O recorte temporal compreende os anos de 1970, período marcado por uma ditadura civil-militar no Brasil. Como objeto de pesquisa, destacamos a telenovela João da Silva, lançada em três faixas diferentes, por três emissoras do Rio de Janeiro. A primeira transmissão foi em novembro de 1973, pela TV Rio, no mês seguinte a TV Tupi também começou a exibir o programa. Por fim a TV Globo, o apresentou na programação do ano seguinte, em 1974. As fontes de pesquisa utilizadas são jornais e revistas da época. João da Silva foi o primeiro curso supletivo usado no formato de telenovela direcionada ao ensino primário, iniciando um modelo de teleducação cujos alicerces estavam ancorados na educação formal com certificação aos alunos/telespectadores que se submetiam a processo de avaliação para conclusão referente às quatro séries iniciais do antigo primeiro grau do curso primário. O censo do IBGE de 1970 indicava que mais de 20 milhões de brasileiros acima dos 10 anos de idade eram analfabetos e havia pressão nacional e internacional para diminuir esse quantitativo desde 1960 quando a Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura (UNESCO) discutiu a possibilidade do uso de satélites para erradicar o analfabetismo em diversos países. No Brasil, os governos militares se dedicaram á instalação de emissoras de televisão educativas. Criou-se a Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa (FCBTVE), em

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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1967, com sede no Rio de Janeiro, para produzir e distribuir material audiovisual educativo com a justificativa de suprir a insuficiência de professores e escolas no país. Estava a cargo do Estado a responsabilidade de investir em tecnologias de comunicação e também de fiscalizar as redes de televisão, controlando a programação que deveria estar de acordo com os valores pregados pelo governo. A televisão já era considerada um meio de comunicação estratégico capaz de atingir diferentes grupos sociais, etários e regionais. Entre os produtos televisivos de maior sucesso de público estava a teledramaturgia e o programa educativo João da Silva apostou na teatralização de situações do cotidiano como estratégia pedagógica para alfabetizar e disseminar valores. Esta experiência televisiva recebeu, em 1973, prêmio internacional e foi considerada como um dos melhores programas da teleducação do mundo.

EDUCAÇÃO INFANTIL, FAMÍLIA E CIVILIDADE

CLAUDEMIR DANTES DA SILVA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Este trabalho refere-se a uma pesquisa de mestrado em andamento, que objetiva discutir as relações de interdependência entre as instituições família e Educação Infantil, consideradas como os espaços iniciais da socialização das crianças pequenas e que, ao longo da história, foram se modificando e assumindo novas funções. Para tanto, procuramos na história da criança e da família (surgimento do sentimento de infância e de família), recorrente à tese de Phillipp Ariès (1981), o modo de como esse processo de transformação foi se construindo e como se estabeleceram as relações entre pais e filhos, considerando o final do século XVI e início do século XVII. Tal período também foi importante na origem das primeiras instituições de atendimento às crianças pequenas na Europa. No Brasil estas instituições surgem mais tardiamente nos séculos XIX e XX. Assim, fundamentados também nas teorias de Norbert Elias (1994-1998), procuramos estabelecer um diálogo com a história da criança e da família apresentada por Ariès (1981), destacando as divergências, entre os referidos autores no que se refere às mudanças relacionadas ao lugar ocupado pelas crianças no interior das famílias desde a Idade Média. Nesse diálogo é possível perceber que o que Ariès (1981) chama de “sentimento de infância”, que surge a partir de mudanças na forma de perceber e interagir com as crianças e é fruto de transformações sociais e culturais; pode ser o que Elias (1994) aponta como sendo um ‘processo civilizador’ de longa duração. Estas reflexões ajudam a entender as contribuições destes autores destacando que, conforme Elias (1998) ainda hoje estamos vivendo um processo civilizador que fundamenta a continuidade das transformações sociais em diferentes grupos e que culmina na educação das crianças e das futuras gerações. Recorremos também à teoria elisiana ao discutir acerca do atendimento oferecido pelas primeiras instituições de educação para crianças pequenas, já que estas tinham visivelmente a intenção de “civilizar” as crianças, de modo a discipliná-las, ajustá-las, para que tivessem a condição necessária, ao adequado convívio social, e pertença ao seu grupo de origem. Em síntese, este trabalho em andamento, apresenta uma discussão que busca apreender as tensões e os conflitos acerca das transformações familiares e educacionais na constituição das concepções e formação das crianças considerando as configurações compostas por família e a instituição de atendimento as crianças pequenas, duas importantes instituições sociais e instâncias efetivas de civilização das gerações.

"MULHERES EXEMPLARES": UM LIVRO PARA AS MULHERES EM CIRCULAÇÃO DURANTE A CAMPANHA DE EDUCAÇÃO DE

ADOLESCENTES E ADULTOS (1947-1950) NO BRASIL

DEANE MONTEIRO VIEIRA COSTA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Este trabalho é resultado de pesquisa que teve por finalidade investigar numa perspectiva histórica, a primeira iniciativa governamental de educação de adolescentes e adultos nas áreas rurais e urbanas no Brasil, a partir de 1947, intitulada de Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA). Ao longo da investigação, foram encontrados livros destinados à leitura para as mulheres em circulação durante a CEAA. Para isso, trabalhamos com um desses impressos que circulou entre 1947 a 1963, qual seja: Mulheres exemplares. Esse livro foi considerado “texto para leitura pós-escolar”, foi publicado pelo Ministério da Educação e Cultura por meio do Serviço de Educação de Adultos da CEAA e foram distribuídos por todo o País. Escrito por Guiomar Reis Damazio e ilustrado por Enio Damazio, tratava-se também de um livro de leitura que compõe a Biblioteca Popular da CEAA, que foi organizado em uma coleção denominada (Educar) da série História (v.1). O prefácio desse livro era dirigido às leitoras da seguinte forma: “Este livrinho foi feito exclusivamente para vocês, nossa intenção foi proporcionar-lhes um entretenimento e relembrar a vida de algumas mulheres que nos legaram exemplo de sua

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fé, de sua coragem, de seu amor à Pátria e ao próximo, enfim, dos mais puros sentimentos que se possam abrigar na alma feminina”. De acordo com as ideias de Ginzburg (2002), na avaliação das fontes documentais, o historiador precisa ter em mente que esses textos são sempre um ponto de vista sobre a realidade e, por isso mesmo, seletivo e parcial, pois são diretamente condicionados pelas relações de força. Desse modo, é possível questionar um impresso e compreendê-lo mais do que mediador do discurso, pois as linhas, as entrelinhas e os aspectos que estão para além dele, nos oferecem “o que está fora do texto”. Nesse sentido, cabe perguntar: De que modo e com quais intenções emergiram, nesse livro, prescrições relativas ao cuidado com as crianças e com a família dentro da proposta da CEAA? Para isso, recorremos ao conceito de processo civilizador de Norbert Elias, para compreender o vínculo entre educação, saúde e civilização pelo qual a CEAA se guiou. Nessa perspectiva, compreendemos, que essa fonte serviu como uma das maneiras de determinados grupos fazerem circular as concepções modelares de família, de infância e de pátria. E que os discursos trabalhados neste livro, contava com um encaminhamento na direção da construção da família como refúgio a ser disponibilizado pelos indivíduos em tempos de modernização crescente. Assim, essa obra tencionava transmitir lições às famílias sobre os modos como seus membros deveriam proceder e sobre a forma como deveriam exercer a importante tarefa educativa que lhes cabia com relação às crianças e aos jovens.

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL E BRINCADEIRA: ASPECTOS DA CONSTITUIÇÃO DE UM CAMPO DE ESTUDOS ENTRE AS

DÉCADAS DE 1990 E 2010

ELIEUZA APARECIDA DE LIMA JENIFFER DE ARRUDA

ROSANE MICHELLI DE CASTRO Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Esta exposição retrata parte dos nossos trabalhos de pesquisa desenvolvidos com o objetivo de reunir e analisar aspectos da constituição de um campo de estudos em História da Educação Infantil no Brasil, entre as décadas de 1990 e 2010, mediante as produções acadêmicas produzidas nesse período, sobretudo centrada na temática “brincadeira na Educação Infantil”. Tal temática e período para a realização da pesquisa foram privilegiados, considerando-se que, entre 1990 e 2010, na história da educação no Brasil, particularmente na história da Educação Infantil, podemos perceber um crescente número de pesquisas e publicações centrados na “brincadeira na Educação Infantil”, com destaque para os trabalhos com base em autores da denominada Teoria Histórico-Cultural. Tratou-se de pesquisa de abordagem histórica, bibliográfica, quanto às fontes, cuja primeira etapa de levantamento bibliográfico foi realizada em fontes de informação de digitais, a partir do qual se constituiu um instrumento de pesquisa sobre a produção científica sobre a temática estudada nas décadas de 1990 a 2010. Nesse instrumento de pesquisa foram reunidas as informações bibliográficas dos trabalhos, acompanhadas de nomes dos autores, títulos, tipo de material, onde se encontra disponível, palavras-chaves e resumos, com o objetivo de possibilitar consultas posteriores, além de se tornarem instrumento para novas pesquisas. Dos trabalhos localizados, são recorrentes as formulações sobre o papel da brincadeira como uma atividade propulsora de desenvolvimento infantil, considerando que, a partir da Teoria Histórico–Cultural, cada momento desse desenvolvimento deve ser respeitado por sua especificidade e atividade principal, tal como a brincadeira, entre os três e seis anos de idade. Os estudos sugerem que essas considerações podem ser ampliadas a partir de estudos vigotskianos, em defesa da ideia de que, para o pleno desenvolvimento da criança, são essenciais vivências de atividades por meio das quais haja a apropriação de capacidades tipicamente humanas. Nesse sentido, a brincadeira, com seu papel único e atividade principal da criança pequena, poderia provocar avanços significativos no desenvolvimento das capacidades infantis. A localização recorrente dessas formulações indica uma possível tendência da pesquisa em História da Educação Infantil, ao lado de outros campos de pesquisa educacionais, em prol da constituição da valorização da brincadeira na Educação Infantil não como passatempo no cotidiano das crianças nas escolas, mas como momento-tempo privilegiado de expressão, aprendizagem e desenvolvimento pleno infantil.

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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FILHAS, IRMÃS, ESPOSAS, MÃES E PROFESSORAS: EDUCAÇÃO FEMININA NA ERA VARGAS

ELIEZER RAIMUNDO DE SOUSA COSTA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Durante a Era Vargas (1930-1945), os processos escolares continuavam desenvolvendo técnicas que permitissem incorporar um número crescente de novos alunos e que também, os tornassem cada vez mais autônomos na geração do seu conhecimento e do seu desenvolvimento. Se até meados dos anos 1930 a presença dos Pioneiros da Educação Nova com suas ideias e práticas era concreta em postos de governo, a partir dessa data essa presença começou a diminuir, sem contudo, haver um abandono de algumas de suas práticas educativas, como a de produzir e escrever em jornais e revistas escolares. Essa prática, na maioria das vezes associada à escrita literária, mostrava não apenas a capacidade de se escrever um bom poema ou conto, uma ótima crônica, mas também, lendo essa escrita pelas entrelinhas, ela deixava à mostra como seus autores (alunos secundaristas) representavam a si mesmos e compreendiam os papeis sociais que lhes eram outorgados no meio circundante. Dentre a variedade de jornais e revistas que estou analisando, pretendo discutir nesse artigo, através da análise de textos publicados na Revista “Asas” e no jornal “É assim que se começa”, da Escola Normal Modelo de Belo Horizonte e na revista “Instituto”, do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, como as alunas-autoras, normalistas, registravam os papéis sociais que se esperava delas como filhas, irmãs, esposas, mães e professoras e, como esses textos também revelavam, de forma muito sutil, lendo um pouco além do que suas palavras revelavam, por suas entrelinhas, um horizonte de possibilidades mais amplo do que aquele que usualmente lhes era atribuído. A pesquisa em andamento tem indicado que, as contemporâneas tendências pedagógicas de inspiração liberal, baseadas nos princípios do governo de si, mais amplamente divulgadas pelos Pioneiros da Escola Nova, estão na base da criação de grêmios escolares e, por consequência, da produção de jornais e revistas estudantis. A escrita realizada pelas alunas normalistas, tanto de Belo Horizonte quanto do Rio de Janeiro, tem demonstrado afinidade com os programas e propostas de ensino vigentes à época, mesmo porque, tratava-se de publicação de ampla circulação dentro de estabelecimentos oficiais de ensino, principalmente aquelas apresentadas pelo ministro Gustavo Capanema, com a aprovação da Igreja Católica. Os textos analisados são de autoria das próprias alunas e, dentro dos princípios disciplinares derivados das estratégias do governo de si, revelam filhas, irmãs, esposas, mães e professoras, bem em conformidade com as expectativas “oficiais” sobre as mesmas. No entanto, uma leitura mais acurada deixa a mostra outros horizontes de possiblidades, como não se casar, ter a felicidade não sendo mãe e, quem sabe, podendo ter profissões atribuídas exclusivamente aos homens, sem, contudo, deixar um juízo de valor sobre essas outras possibilidades.

OS EXAMES DE ADMISSÃO AO GINÁSIO NO ESTADO DO PARANÁ À LUZ DA HISTÓRIA ORAL

ELISÂNGELA ZARPELON AKSENEN MARIA ELISABETH BLANCK MIGUEL

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Elaboramos o estudo aqui apresentado a partir de uma pesquisa concluída, em nível de Mestrado, que teve o objetivo de explicar os exames de admissão ao ginásio no Estado do Paraná. Estes exames foram introduzidos no país, como parte da política de ingresso ao Colégio Imperial Pedro II, a partir de 1870, pelo Decreto nº 4.468, de 1º de fevereiro e no Paraná, para ingresso ao Ginásio Paranaense, atual Colégio Estadual do Paraná, desde 1892, pelo Decreto nº 3, de 18 de outubro. Tornaram-se obrigatórios nas escolas públicas do Brasil como parte da Reforma Francisco Campos, pelo Decreto nº 19.890 de 18 de abril de 1931, que organizava o Ensino Secundário. Tal Reforma fazia parte de um processo de importantes transformações no país, grande parte delas devidas ao desenvolvimento industrial e urbano intensificado a partir de 1930, sob o governo de Getúlio Vargas, no qual a demanda por mão de obra qualificada ampliou a procura pela educação, que também passava por significativas modificações nesse período, a fim de se adequar à proposta modernizadora que se delineava. Neste sentido, os exames de admissão ao ginásio funcionaram como uma barreira de acesso ao ensino secundário e como forma de garantia de conhecimentos prévios necessários a esse acesso. Esses exames foram extintos somente em 1971, pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 5.692 de 11 de agosto. Historicamente, os exames de admissão ao ginásio marcaram um longo período de acesso ao ensino primário e restrição ao ginásio. O encaminhamento teórico sobre a presença dos exames de admissão ao ginásio no Estado e uma leitura destes exames à luz da história oral situam as discussões aqui levantadas. A abordagem contempla uma análise metodológica sobre a história oral, na qual apresentamos alguns depoimentos de professores e alunos que participaram desse processo, além de propormos reflexões sobre os exames de admissão ao ginásio no Paraná

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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articuladas ao desenvolvimento histórico do ensino secundário no Estado. Para tanto, recorremos ao aporte teórico de Paul Thompson (1998), Marc Bloch (2001), Lucilia de A. N. Delgado (2006), Lílian Anna Wachowicz (1984) entre outros. Apresentamos os depoimentos articulados aos aspectos verificados na legislação e no referencial teórico do período. Por meio dessa análise percebemos que os exames de admissão ao ginásio significaram um importante marco na história da educação brasileira e, além de constituírem-se dispositivos de seleção e controle, tinham a função pedagógica de verificação de conhecimentos prévios necessários à continuidade dos estudos. Discurso esse, sentido em grande parte dos depoimentos coletados.

A EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA: ESCOLAS INFANTIS PÚBLICAS EM BELO HORIZONTE (1908-1930)

ELLEN ROSE FERNANDES FIGUEIREDO Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

A educação infantil voltada para a primeira infância teve sua origem no século XIX, denominada como jardim de infância ou Kindergarten, tendo sido idealizada e concebida por Frederico Guilherme Froebel. A educação infantil no Brasil importou os moldes do jardim de infância de Froebel, com a finalidade de promover o desenvolvimento integral, harmônico da parte física, moral e intelectual do educando, para que este aproveitasse a instrução primária.Os primeiros jardins de Infância no Brasil nasceram anexos aos grupos escolares, como são os casos no Rio de Janeiro e São Paulo(SOUZA, 2011).A primeira instituição a oferecer a educação infantil para crianças menores de sete anos foi o Colégio Menezes Vieira, na cidade Rio de Janeiro em 1875. Proveniente do setor privado, a escola infantil foi instalada em um dos melhores bairros da cidade carioca, com excelente espaço físico, construído para servir à elite e somente crianças do sexo masculino, com idade entre 4 e 6 anos de idade. Diferentemente desses estados, a educação infantil em Minas Gerais foi estabelecida pelo governo estadual através do decreto n° 2.287, publicado no jornal oficial Minas Gerais, no dia 4 de novembro de 1908.A Escola Infantil Delfim Moreira localizada em Belo Horizonte, foi a primeira instituição pública mineira destinada à atender crianças de ambos os sexos, com idade entre 4 e 6 anos, com o objetivo de desenvolver intelectualmente as crianças e prepará-las para a educação primária.No ano de 1914,a Escola Infantil Delfim Moreira foi dividida em duas seções: a 1ª seção funcionava em prédio construído na antiga Praça Alexandre Stockler, recebendo a denominação de Escola Infantil Bueno Brandão, e a Escola Infantil Delfim Moreira passa a ser a 2ª seção, funcionando no mesmo local, na rua Espírito Santo.. As formas de atendimento à primeira infância em seus diferentes espaços e modelos, ainda são pouco pesquisadas em Minas Gerais, principalmente em Belo Horizonte.Diante disso, o propósito desse estudo destina-se a investigar a educação da primeira infância na cidade de Belo Horizonte, através das instituições infantis públicas no período de 1908 e 1930. Essas instituições implementaram a educação pré-escolar em Minas e contribuíram para a formação escolarizada da sociedade mineira.Relatórios de inspetores desse período trazem das diretoras dos Grupos Escolares demandas de criações de novas escolas infantis em número suficiente para preparar todas as crianças para o 1º ano do primário, para que essas saibam se comportar e aprender melhor os conteúdos ministrados.Este é um aspecto que demonstra a importância das instituições infantis para a educação institucional período.Com apoio nos estudos da história cultural e história social, buscamos compreender também quem eram as crianças atendidas por essas instituições, quais eram as qualificações requeridas para o cargo de professora e quais foram as práticas pedagógicas e seu(s) projeto(s) de educação para a infância desse período.

O INTERNAMENTO DOS FILHOS DE LÁZAROS NOS PREVENTÓRIOS E EDUCANDÁRIOS NO BRASIL

FABRICIA PEREIRA STEIN JUBRICA ADEMILSON BATISTA PAES

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

A partir do final do século XIX e mais significativamente nas primeiras décadas do XX, a infância ocupa um lugar de fundamental importância para a família e para a sociedade, despontando mentalidade a respeito desses pequenos, como alguém que necessita de lugar, tempo, espaço e cuidados diferenciados. Como consequência, surgem as primeiras instituições destinadas ao atendimento, internamento e escolarização da infância nos mais diversos ambientes e instituições. No caso do acolhimento, cuidado e assistência registra-se aquelas para as crianças órfãs, filhas da guerra ou do abandono produzido pela pobreza, miséria e movimentos migratórios. Além disso, houve aquelas voltadas para as crianças de famílias acometidas por moléstias contagiosas, como foi o caso da lepra (hoje, hanseníase). A partir dos anos de 1935, com o Plano Nacional de Combate à Lepra, foi fomentada

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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por parte de ações governamentais, a prática do isolamento compulsório em hospitais ou colônias os doentes, previsto na legislação sanitária federal de 1920. Por sua vez, os doentes ao serem isolados nos chamados leprosários, eram automaticamente separados de seus filhos, ainda não contaminados. Buscando solucionar esse problema, começaram a ser criados os preventórios, também conhecidos como educandários. Assim, essas instituições passaram a ser criados em todo o país, sobretudo a partir dos anos de 1940, sendo construídos vinte e três (23) preventórios em vários estados. Os preventórios, ou os chamados educandários, foram construídos em parceria com a Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra com o auxílio do governo federal. O cenário desses isolamentos de adultos e de internamento de crianças, encontra-se vinculado às práticas higienistas tão em voga no início do século XX, mas também às políticas públicas do então Presidente Getúlio Vargas. Em termos gerais, as mentalidades estavam voltadas para as práticas de salvar da lepra as novas gerações, ou seja, as crianças e adolescentes que estavam em situação de risco. As instituições funcionavam em regime de internato, oferecendo assistência médica, alimentar e educacional. Diante disso, o trabalho busca problematizar os espaços destinados para o acolhimento dos filhos (sadios) de Lázaros no início do século XX. O foco norteador da pesquisa, diz respeito à compreensão dos espaços constituídos para as crianças destinadas ao isolamento compulsório dos pais. Os mecanismos de assistência infância, as políticas de proteção à infância vigente naquele período. Para a realização da pesquisa, estabelecemos a revisão bibliográfica e documental que aprofunde a temática abordada, além de análise do tema em periódicos, teses e dissertações. Quanto aos aportes teórico-metodológico, aqui utilizados, são os que dizem respeito à Nova História Cultural (NHC).

A LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS CADEIRAS E OS SUJEITOS ENVOLVIDOS NA ESCOLARIZAÇÃO DE UM MUNICÍPIO DO ENTORNO

DA CAPITAL DE SÃO PAULO (1870-1885)

FERNANDA MORAES DOS SANTOS Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O presente trabalho insere-se na pesquisa de mestrado (em andamento) sobre o processo de escolarização da Vila de Cotia, município da Província de São Paulo, contribuindo para o estudo da história da educação da região metropolitana de São Paulo, assim como para a reflexão sobre a sociedade da época. Tem como objetivo traçar a localização geográfica das cadeiras e investigar quem eram e como atuaram os sujeitos envolvidos nesse processo (professores, inspetores, alunos e seus pais, entre outros) no período de 1870 a 1885. Neste período a Vila de Cotia vivenciava uma mudança em seu cenário econômico, passando por decadência a partir da década de 1880, entretanto, a escolarização local, seguindo o que ocorria em toda a Província, ampliava-se e também se reorganizava (Lei do Ventre Livre, 1871, e a lei de obrigatoriedade escolar, 1874). Portanto, o problema se ancorou em constatar como se deu a escolarização nessas condições. As fontes usadas para o desenvolvimento deste estudo são os relatórios elaborados por professores, predominantemente, e por inspetores locais que foram endereçados ao Inspetor Geral da Instrução Pública. Neles há dados sobre a cultura escolar, o cotidiano, as demandas e as dificuldades enfrentadas pelos professores e alunos, assim como suas conquistas. Também são fontes: livros de matrícula de quatro escolas, mapas geográficos, jornais da época, legislação, petições locais, relatórios de Presidente de Província, registros de nascimento e casamento e dados de recenseamento. Para instrumentalizar a investigação e análise são rastreados os fios dos nomes na perspectiva de Ginzburg e utilizados os conceitos de estratégia e tática de Certeau. Os dados, objeto de exposição e análise nesta comunicação individual, permitiram verificar o mapeamento geográfico do processo de escolarização, a participação dos sujeitos para a abertura, fechamento e transferência das cadeiras, refletir sobre as diferentes demandas das escolas e dos sujeitos de acordo com cada localização. Num total de 12 cadeiras, 11 funcionaram efetivamente, sendo 4 no centro e 7 nos bairros. Destas, 4 em bairros localizados perto das fronteiras com outros municípios. Também se constatou a pluralidade dos sujeitos envolvidos: a origem dos professores (alguns do próprio local, outros que vieram de outras regiões), o período de suas permanências nas cadeiras (sendo grande a ocorrência de remoções de professores das escolas dos bairros), as diferentes formas de escrita dos documentos oficiais, o trânsito dos professores em outros campos exercendo outras funções, a influência dos pais de alunos, a ocorrência de alunos de diferentes estratos sociais e jurídicos na mesma escola pública. Verificou-se a instabilidade do efetivo funcionamento das escolas dos bairros, sejam por falta de alunos ou por falta de professor, e a estabilidade das escolas centrais, além da influencia da característica do rural no tempo e espaço (escolar e social).

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ÂNGELO SPRICIGO (URUSSANGA/SC, 1915): HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA ESCRITA

GESTINE CÁSSIA TRINDADE Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Para cada época a sociedade difunde uma ideia própria para a educação das gerações, tempos, espaços e modos peculiares para realizá-la. Este estudo apresenta-se no âmbito da pesquisa “História, Trabalho, Educação e Sociabilidade: os ofícios na trajetória de Ângelo Spricigo (Urussanga/SC, 1915) e o patrimônio cultural do museu temático de Máquinas de Costura (Concórdia/SC)”. O artesão biografado – Ângelo Spricigo –nasceu em 1915 na cidade de Urussanga – principal Núcleo de Colonização Italiana do sul do Estado de Santa Catarina. É filho de imigrantes italianos que chegaram ao país no final do século XIX. A vida dos imigrantes significou-se na tríade fé–família–trabalho. A igreja (capela) era o centro para a organização da cultura. A família, a oficina de reprodução da força de trabalho (na qual, em geral, as crianças e jovens eram inseridos como aprendizes) e a comunidade fixaram-se como espaços correlatos para a sociabilidade intergeracional. Nesse contexto e estimulado por processos formativos essencialmente práticos (educação é vida), Spricigo apreendeu a cultura escrita. A ética religiosa, a música, o bilinguismo e a atividade no ofício de sapateiro, foram meios para a aprendizagem. Chama atenção que, após aposentar-se na atividade de artesão, Spricigo dedicou-se à preservação do patrimônio cultural na área do trabalho e das tecnologias colecionando máquinas de costura por ele consertadas na própria oficina. Hoje, o artesão conta com um acervo de aproximadamente 1100 máquinas de costura. O objetivo da investigação é analisar a apropriação da cultura escrita no universo de relações socioeducativas, assistemáticas e espontâneas, que integram a vida do artesão biografado no período que compreende as primeiras décadas do século XX. A metodologia embasa-se na pesquisa histórica de tradição marxista. A história de vida com uso da oralidade e as fontes primárias são os materiais biográficos investigados. A conclusão do estudo evidencia a natureza de processos educacionais não formais associados à aprendizagem-trabalho (princípios técnicos e ético-sociais, saberes, habilidades) transmitida na especificidade do código prático dos ofícios e na cultura de imigração italiana que foi concedida a toda uma geração para a apreensão da cultura escrita numa época de afirmação da nacionalidade brasileira. Ressalta-se, por fim, que o inventário biográfico de um homem singular poderá contribuir para revelar a concepção filosófica de sociedade, trabalho e educação de toda uma época.

A CIÊNCIA E AS TEORIAS DE EDUCAÇÃO DA CRIANÇA EM JOSÉ VERÍSSIMO: AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NO COLLEGIO AMERICANO

JACQUELINE TATIANE DA SILVA GUIMARÃES MARLUCY DO SOCORRO ARAGÃO DE SOUSA

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O presente estudo versa sobre a concepção de ciência e as teorias de educação, utilizadas para subsidiar os processos de ensino da criança paraense em finais do século XIX. Para tanto, objetivamos identificar e discutir sobre as principais teorias científicas que predominavam em oitocentos na Europa moderna e que influenciaram a ciência “brasileira”, bem como as noções de civilidade e educação. A construção de uma ordem civilizada constituiu-se um sonho de homens intelectuais deste período, nos quais tinham olhos e ouvidos voltados para o mundo considerado civilizado, a fim de deixar para trás a sua condição de país colonizado. Num segundo momento, uma breve caracterização do estado do Pará no período de 1880 a 1890, identificando as particularidades históricas, econômicas e sociais da cidade de Belém em momento áureo do ciclo da borracha e auge da Primeira República, assim permitindo a compreensão do papel tomado pela instituição escolar na formação dos infantes. Neste período pós-independência, surgiram diversos intelectuais preocupados com a formação da mente, moral e corpo da raça brasileira. Eis que surge a importante figura de José Veríssimo Dias de Matos, que nasceu em Óbidos no Pará em 1857, estudou no Rio de Janeiro e desenvolveu boa parte de suas atividades em Belém, onde fundou e dirigiu o Collegio Americano, em 1884. Este estudo parte das perspectivas da História da Infância e a da História da Educação, tendo como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica e documental, no qual tomamos como corpus a obra Noticia Geral sobre o Collegio Americano fundado e dirigido por José Veríssimo em Belém do Pará de 1888. Têm-se as seguintes questões: Quais as considerações de Veríssimo sobre a criança? Qual a noção de criança utilizada por Veríssimo no referido documento? Quais as principais teorias educacionais que pautaram a concepção de criança utilizada por Veríssimo? Verificam-se os avanços obtidos no campo educacional a partir das considerações de Verissimo, aplicadas na referida instituição escolar, que introduz a Educação Física e o Jardim de Infância no Brasil. As proposições de José Veríssimo são de matriz positivista e evolucionista, no qual é possível observar a sua preocupação em trabalhar métodos de ensino que se adequem com o momento etário da criança, apresentando

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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suas inquietações sobre o aprendizado da gramática, história e da matemática, bem como as suas preocupações evidentes quanto à formação dos aspectos morais, respeitando a condição etária da infância. No Collegio Americano, tais ideais são praticados a partir de uma noção ligada aos preceitos de higiene, no qual os “idealizadores” de uma infância saudável e forte tinham como objeto de suas ações não somente o corpo, mas também a mente e a moral da criança.

O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO FÓRUM DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO POPULAR EM

MATO GROSSO (1990 A 2001)

JEFFERSON BENTO DE MOURA MARCIA DOS SANTOS FERREIRA

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Este trabalho tem por objetivo compreender o processo de criação do Fórum de Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso, tendo por base a análise de seus percursos de implementação durante a década de 1990 até o ano de 2001. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem por objetivo reparar uma dívida social e ofertar a este público, excluído do direto ao acesso ao conhecimento formal e informal, uma educação escolar pautada na emancipação do sujeito. A história da EJA é marcada pela luta dos movimentos sociais em prol ao direito à educação, direito este que fora negado por muitos anos aos sujeitos desta modalidade. Conforme Gohn (2011, p. 334), a relação movimento social e educação, é estabelecida “a partir das ações práticas de movimentos e grupos sociais. A década de 90 foi escolhida como recorte temporal pelo fato de ter sido o período em que havia necessidade de reunir as lideranças de EJA para pensar encaminhamentos a serem levados para V CONFITEA, que aconteceria em Hamburgo no ano de 1997. Esta mobilização fez com que surgisse a necessidade de criar espaços de articulação entre os diferentes segmentos que atuam na modalidade. Já o ano de 2001 por ter sido o ano de criação do Fórum EJA em Mato Grosso. Tais conceitos sobre política de EJA serão abordados conforme Beisigel (2004) onde o mesmo afirma que os movimentos e organizações não-governamentais enriqueceram a história da popular neste período. Utilizou-se o conceito de configuração de Elias (1999) e os estudos de Di Pierro (2000) para compreender os conceitos de EJA e de sua história. Os dados do estudo da constituição do Fórum em Mato Grosso permitiram estabelecer a trajetória desse movimento e o seu papel na definição da política pública, bem como a sua participação na busca da melhoria da prática dos professores, ao oportunizar espaços para intercâmbio de experiências, com o intuito de fortalecer a oferta no estado. Além disso, a presente pesquisa contribui com os estudos relativos aos debates dos movimentos sociais na década de 90, não apenas como legado de luta, da reivindicação, mas como princípio educativo diante da dinâmica relação entre os seus sujeitos. O desenvolvimento desta pesquisa favorece aos profissionais docentes da modalidade EJA, a identificação das características do Fórum, no momento em que se afirma como tal, no propósito de garantir a pluralidade de idéias, não devendo perder de vista as referências históricas e paradigmáticas que foram fundamentais nos avanços e recuos da política de EJA, assim os fóruns foram construídos tendo a clareza do protagonismo dos movimentos sociais, bem como o que deve ser considerado nas proposições de políticas públicas.

O PAPEL DO JUIZ PRIVATIVO DE MENORES PARANAENSE NA EDUCAÇÃO DE MENINAS E MENINOS NAS DÉCADAS DE 1930 E 1940

JOSEANE DE FÁTIMA MACHADO DA SILVA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Nas décadas de 1930 e 1940 no Estado do Paraná, quando um menino ou uma menina eram encontrados “perambulando pelas ruas da cidade” ou em “completo estado de abandono” eram conduzidos para o Juízo Privativo de Menores que poderia encaminhá-los de volta para a própria família, à uma instituição de assistência ou para a casa de uma família que assinava um Termo de Responsabilidade e Guarda (TRG), entretanto a ação de um Juiz de Menores não se restringia a encaminhamentos para meninos e meninas que se encontravam em condição de pobreza ou abandono. Neste sentido, o objetivo deste texto é identificar e compreender qual era o papel e quais eram as ações do Juiz Privativo de Menores paranaense na educação de meninas e meninos, bem como as expectativas da sociedade diante das problemáticas da urbanização. A nossa hipótese é a de que as ações do Juiz de Menores procuravam contemplar os aspectos assinalados no Código de Menores de 1927, entretanto as expectativas da sociedade abrangiam atitudes que estavam além do poder de atuação de um Juiz. Para dar conta do objetivo e da hipótese assinalados utilizamos como fontes primordiais os Autos de Processos

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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do Juizado de Menores e o Jornal Correio do Paraná analisados sob a perspectiva que leva em consideração o fato de que em todas as gerações da Escola dos Annales desde Bloch (2001, p. 128) e Febvre (2009, p. 43-44) até os dias atuais, uma palavra resume o fazer historiográfico e deve dominar e iluminar nossos estudos: “compreender. Diante disso, em nossas análises encontramos o Dr. Francisco Cunha Pereira, primeiro Juiz de Menores do Paraná, envolvido em uma série de críticas por parte da imprensa paranaense que na década de 1930 o levou a baixar várias portarias para restringir a circulação dos “menores” em cinemas, campos de futebol, bailes de carnaval e até mesmo no Passeio Público. Resulta destas análises as considerações de que de maneira geral não parece que a população da década de 1930 compreendesse a complexidade do trabalho de um Juiz de Menores e esperava vê-lo nas ruas apreendendo as crianças que “jogavam cascas de frutas nas ruas”. No entanto, parece que esta percepção se construiu gradativamente e o tom de crítica se minimizou na década de 1940, intensificando-se nas notícias dos jornais os problemas sociais referentes aos menores abandonados; aos desajustes familiares que levam ao abandono; à delinquência e aos crimes de menores, assim também como informações sobre a construção de escolas de assistência aos menores desvalidos ou delinquentes. Diante dos discursos analisados foi imprescindível considerar o que foi apontado por Foucault (2008, p. 56-61), isto é, quem fala, os lugares institucionais de onde cada um fala e a posição que ocupa em relação ao objeto de que fala.

A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UBERLÂNDIA-MG (1888 /1988)

JULIANA ANDRADE ROCHA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

A presente comunicação discute a constituição histórica da Educação de Jovens e Adultos no Município de Uberlândia, no estado de Minas Gerais, considerando a história da EJA desse município numa perspectiva ampliada, conectada à história da educação brasileira e mineira. Essa proposta compõe a revisão bibliográfica do projeto de pesquisa desenvolvido no mestrado em educação, cujo objeto é o Programa Municipal de Erradicação do Analfabetismo (PMEA), criado em 1989. O recorte temporal abrange o ano em que Uberlândia passa a condição de município até o ano anterior a criação do PMEA. Dentre os objetivos, buscamos compreender em que contexto surgiu as primeiras políticas educacionais relativas a essa modalidade de ensino no município de Uberlândia; quais profissionais atuaram e quem era o público ao qual se destinava essas iniciativas; qual concepção orientou as atividades desenvolvidas nessa modalidade de ensino. No mapeamento teórico descobrimos que essa área merece maior atenção dos pesquisadores sob o ponto de vista histórico, uma vez que durante anos vem sendo relegada à periferia dos debates educacionais e das políticas de financiamento. A história da Educação de Jovens e Adultos apresenta muitas variações ao longo do tempo, ligadas estreitamente às transformações sociais, econômicas e políticas que caracterizam os diferentes momentos históricos da vida do país. A Educação de Jovens e Adultos em Minas Gerais, por conseguinte em Uberlândia, a exemplo que ocorre no restante do país historicamente vem sendo ofertada através de programas de alfabetização e, mais recentemente, oferta de EJA, referente aos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, em cursos presenciais e supletivos. Os programas de Educação de Jovens e Adultos em nosso país vêm sendo marcados pela prevalência de uma visão assistencialista e pela inexistência de financiamento específico, afastando essa modalidade de ensino do campo dos direitos sociais. A visão assistencialista, que tem guiado muitos dos programas oferecidos, acaba resultando em baixa qualidade de ensino, na utilização de instalações improvisadas ou mesmo precárias, assim como na contratação de profissionais sem nenhuma qualificação e com a absoluta ausência de um debate acerca do currículo para essa modalidade de ensino. Esta pesquisa teve como referência metodológica a pesquisa bibliográfica, escolha que conduziu a leitura das dissertações, teses, livros e artigos que colaboram no sentido de compreendermos a constituição histórica da EJA em Uberlândia.

O QUE É FAMÍLIA? UMA PERSPECTIVA HISTORIOGRÁFICA SOBRE OS ENUNCIADOS A RESPEITO DA FAMÍLIA BRASILEIRA

KAMILA AMORIM Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

A intenção deste trabalho é promover uma reflexão a respeito dos discursos sobre a família e sua configuração na sociedade brasileira a partir de enunciados de cunho moral, religioso e patriótico, de meados do século XIX até a década de 1920, visto que um suposto modelo de família inspirada nos moldes europeus esteve muito presente nesse período. Para a compreensão e questionamento dos discursos sobre a família da forma como se apresenta atualmente na sociedade brasileira - uma família seguindo o esquema de configuração, constituída pelo pai, a

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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mãe e os filhos, em que cada qual desempenha um papel determinado -, será apresentado a família como uma formação múltipla de arranjos e de variações ao longo dos tempos. Para tanto pretende-se estabelecer vínculos de inteligibilidade entre momentos na história em que a família passou por definições e configurações distintas até chegar à formação atual. O historiador reconhece a possibilidade do “conhecimento do presente ser diretamente mais importante para a compreensão do passado” (BLOCH, 2001, p.56). Dessa forma, sem a pretensão de buscar a origem - uma questão identificada também por Bloch como desnecessária - este trabalho parte de uma perspectiva genealógica para entender o que é a família, suas diferentes configurações e definições, além de identificar as instituições que se ocuparam – e ainda se ocupam - em defini-la e mostrar o tabu referente à sexualidade que gira em torno dela. No que diz respeito à metodologia, será realizado um estudo de conceitos que fundamentam uma pesquisa sobre discursos a respeito da família brasileira na perspectiva da História da Educação. O objetivo é de confrontar diferentes perspectivas de discursos sobre a família no sentido de problematizar a respeito da aceitação da idealização de uma determinada forma de organização familiar do tipo pai, mãe e filhos, como uma disposição naturalmente estruturada dessa formação social a partir de alguns estudos feitos por diferentes autores ao longo da história sobre a família: ALGRANTI (1997); MATTOSO (1988); SAMARA (1987); VAINFAS (1997). Entende-se haver uma emergência de imagem sobre a família e não representações sobre a mesma, no sentido de que não há um modelo original do qual se derivam, se afastam ou se contrapõem outras formações. Sem querer lançar um olhar progressista a respeito dessa organização social, pode-se perceber que a família passou de uma discreta estrutura doméstica a uma complexa teia de relações que se interage diretamente com a sociedade, religião, educação, com o processo de urbanização e migração de um país. Daí a perspectiva genealógica deste estudo.

LEGISLAÇÃO E EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA NO GOVERNO IMPERIAL (1808-1890)

KATE PAULA NUNES DIAS MOYSÉS KUHLMANN JÚNIOR - FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Esta comunicação apresenta resultados de pesquisa em andamento, que se ocupa da reflexão sobre os embates, tensões, disputas e desdobramentos que permearam o contexto histórico sobre a educação na infância e suas relações sociais, especificamente no período imperial. Como fonte principal de pesquisa, tem-se a Coleção de Leis do Império, publicada e digitalizada pela Imprensa Nacional. Toma-se como ponto de partida a análise do mapeamento de cartas de leis, cartas régias, alvarás, decretos, leis e decisões imperiais, referente a medidas que envolviam crianças e adolescentes no período compreendido entre 1808 a 1886, material disponibilizado na página “História da Educação e da Infância”, da Fundação Carlos Chagas, sob o título Legislação sobre Infância no Império do Brasil. As reflexões, considerações e discussões sobre a infância no âmbito histórico oitocentista permitiram contextualizar as iniciativas traçadas e efetivadas no governo imperial com relação às crianças em uma análise mais aprofundada, pautada pelo cotejo das fontes legislativas com a bibliografia existente sobre esse período. A pesquisa identifica instituições e busca compreender as propostas para a educação da infância, em diferentes situações e condições sociais, relacionando-as aos aspectos políticos, econômicos, sociais e religiosos ocorridos no país. A sistematização inicial da documentação legislativa referente à infância permitiu apontar e analisar diferentes instâncias administrativas e instituições públicas e privadas, envolvidas na criação e manutenção de medidas assistenciais e educacionais direcionadas às crianças. Nesse levantamento, os documentos foram classificados e agrupados de acordo com as instituições específicas para a assistência infantil, envolvendo medidas referentes à infância desvalida, de assistência aos escravos, de assistência aos indígenas, os Seminários, a Santa Casa de Misericórdia, os institutos para deficientes, o Exército e a Marinha. Os textos trazem informações referentes aos objetivos dessas organizações, à forma como eram mantidas, destacando seus critérios para admissão e permanência das crianças, além de sua distribuição pelas províncias. Nesse sentido, tais propostas ao serem analisadas possibilitaram ainda, de acordo com os aspectos presentes na legislação, a verificação e identificação da maior ou menor presença de medidas ao longo desses anos, que indicaram uma periodização interna, como no tempo do Reino Unido, após a Independência, o Ato Adicional de 1834, a Lei do Ventre Livre, entre outros que exerceram reais influências na estruturação e organização dessas entidades com focos educacionais.

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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OS MENORES “ANORMAIS”, O GABINETE DE BIOLOGIA CRIMINAL E O SERVIÇO DE ATENDIMENTO AOS PSICOPATAS EM SERGIPE (1920 A

1970)

KÁTIA REGINA LOPES COSTA ALESSANDRO ARAÚJO MENDES

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O presente artigo consiste na apresentação de alguns resultados de nossas pesquisas para o mestrado em Educação, que tiveram como objeto de estudo os menores delinquentes e abandonados sergipanos e como fontes principais os processos criminais. No entanto, uma vez que encontramos algumas menções aos menores “anormais”, “idiotas” ou oligofrênicos (termos usados na época) nas fontes pesquisadas, abordamos esta questão em nossas dissertações, sobretudo a criação do Gabinete de Biologia Criminal e o Serviço de Atendimento ao Psicopata de Sergipe. As pesquisas apresentadas utilizaram da abordagem da História Cultural e do método indiciário de Carlo Ginzburg. As pesquisas apresentadas utilizaram da abordagem da História Cultural e do método indiciário de Carlo Ginzburg (2002). Com vistas a construir um conhecimento científico sobre o indivíduo, em 1914 foi instalado o Laboratório de Pedagogia Experimental, no Gabinete de Psicologia e Antropologia Pedagógica, anexo à Escola Normal Secundária de São Paulo, sendo este equipado com instrumentos de medições, sobretudo, cranianas. Este laboratório avaliava e classificava as crianças, sendo que as consideradas normais poderiam frequentar as escolas sem empecilhos e os que possuíam anomalias simples eram corrigidos, compatibilizando-os à pedagogia escolar. Porém, os considerados “anormais ou degenerados” (criminosos, amorais, tarados, imbecis, deficientes em geral, etc.) deveriam ser totalmente excluídos das escolas e encaminhados para instituições específicas, de acordo com a sua “enfermidade”: casas de correção, hospícios ou prisões. Em Sergipe, alguns anos depois, o Gabinete de Biologia Criminal foi inaugurado, tendo como modelo os exemplos paulista e carioca. Encontramos fontes informando a existência de um Gabinete de Biologia Criminal instalado na Penitenciária de Aracaju, bem como de um Serviço de Atendimento ao Psicopata – SAP, situada na Clínica Adauto Botelho, na Rua Laranjeiras, em Aracaju. Tanto um quanto o outro recebiam menores para serem submetidos a exames “biotipológicos” e “psico-mental”. Com isso, o artigo será organizado em dois tópicos: o primeiro irá apresentar algumas discussões sobre o papel ocupado pela disciplina nos discursos educacionais do período, a inauguração dos Laboratórios Experimentais no Rio de Janeiro e em São Paulo e a relação com o movimento da Escola Nova. O segundo tópico aborda a inauguração do Gabinete de Biologia em Sergipe e o Serviço de Atendimento aos Psicopatas, neste também serão apresentadas algumas fontes documentais com relatos e representações sobre o menor “anormal” sergipano.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS TEFÉ/AM: AS AÇÕES PEDAGÓGICAS DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE

LENI RODRIGUES COELHO Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O Movimento de Educação de Base foi criado em 1961, pelo Decreto nº 50.370, que resultou de um convênio entre a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do governo federal e pretendia oferecer alfabetização à população rural, através de escolas radiofônicas para ajudar a população a se defender das ideologias difundidas naquele momento. Foi o único que sobreviveu ao golpe de 1964, porém, começou aos poucos a se extinguir, com exceção de alguns municípios da região norte do país. A pesquisa teve como objetivo geral analisar as ações pedagógicas do MEB em Tefé no período de 1963 a 2003 e como objetivos específicos compreender os propósitos políticos desenvolvidos pelo MEB nos diferentes contextos históricos, analisar os fatores que contribuíram para que o movimento sobrevivesse ao período da repressão e verificar as redefinições pedagógicas no período pós ditadura militar. O estudo foi fundamentado no referencial teórico específico: Fávero (2006), Haddad (1991), De Kadt (2007), Paiva (2009), Peixoto Filho (2004) e Raposo (1985), em documentos oficiais; fontes iconográficas e história oral temática (entrevistas com ex-coordenador, ex-supervisores, ex-professores e ex-alunos). O MEB em Tefé prestou serviços educacionais, sociais, culturais e de saúde à população ribeirinha que se encontrava esquecida, orientando-os acerca de seus direitos e deveres. O presidente do MEB/Tefé, Bispo Dom Joaquim de Lange, sensível as questões de desigualdade social e dos altos índices de analfabetismo na região norte buscou estratégias para diminuí-los. Dentre essas estratégias foram organizadas reuniões, encontros pedagógicos e participação em Seminários de Educação de Base a fim de encontrar possíveis soluções para os problemas sociais que afligiam a população ribeirinha. Diante da análise das fontes documentais, verificou-se que o MEB em Tefé desenvolveu atividades significativas, principalmente no período que antecede a ditadura militar,

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uma vez que levou o ribeirinho a refletir sobre a situação de abandono em que vivia, mudando suas concepções e transformando-o em cidadãos conscientes. Para sobreviver ao período do regime militar o MEB repensou sua prática pedagógica e firmou convênio com o MOBRAL, criado para atender aos interesses da ditadura. Os desafios enfrentados pelo MEB foram muitos e dentre eles podemos citar: falta de professores com formação específica; as comunidades mais distantes eram desprovidas de escolas e energia elétrica, neste caso, o professor lecionar em sua residência que na maioria das vezes era precária; a gratificação irrisória aos professores; o trabalho árduo dos alunos na agricultura; a fome e a idade avançada dos alunos. Cabe salientar que, verificou-se nestes contextos a ausência do governo na promoção de políticas públicas em educação no município de Tefé e uma presença marcante da Igreja Católica através da alfabetização, da evangelização e da conscientização dos direitos e deveres do povo ribeirinho.

A INFÂNCIA SOB TUTELA: UM ESTUDO SOBRE OS CONTRATOS DE SOLDADA E OS AUTOS DE TUTELA NA COMARCA DE RIBEIRÃO PRETO

(1876-1917)

LUCIANA BACHIEGA MAGOSSO Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O trabalho ora apresentado tem como tema de estudo os contratos de soldada e os autos de tutela produzidos na Comarca de Ribeirão Preto no período entre 1876 e 1917. Trata-se de documentos numerosos entre o conjunto de processos judiciais que tramitaram na Comarca desde que foi elevada à condição de sede de circunscrição do judiciário, em 1878, conforme verificamos em levantamento preliminar no acervo da Comarca de Ribeirão Preto, guardado no Arquivo Público e Histórico da cidade. A tutela é uma instituição antiga no Brasil e em Portugal, estabelecida desde as primeiras ordenações do reino e preservada como referência doutrinária pela última compilação das leis do Império, as Ordenações Filipinas. No Brasil, antes da tutela se tornar um instituto jurídico ao qual se recorria para reconhecer a criação dos filhos de outras pessoas, tal prática era usual há tempos e se mantinha ativa no século XIX, pois respondia ao propósito de cuidar de alguém inspirado pela caridade cristã. Ademais, o interesse em aproveitar o trabalho de outrem era frequente entre as famílias que recebiam crianças desvalidas nesse período. Ainda no século XIX, a tutela preservou certos usos do escravismo, pois, embora formalmente livres, diversas crianças filhas de escravos, nascidas após a Lei do Ventre Livre, não escaparam da apropriação de suas vidas e trabalho, posto que a liberdade, ainda que formal, não era extensiva aos pais e nem provia às famílias meios para criarem os filhos. Assim, a relação contratual de tutela com recebimento de uma remuneração, firmada entre tutores e filhos de escravos, tornou-se prática comum na forma do contrato de soldada. Quanto às fontes que tomamos como objeto de estudo na pesquisa da qual se origina o presente trabalho, trata-se de processos judiciais relacionados à tutela e aos contratos de soldada. O primeiro tipo de documento, os autos de tutela, corresponde a peças produzidas no decorrer de um processo judicial, determinando a diligência administrativa ou judicial de uma autoridade responsável, que no caso do auto de tutela, torna-se um encargo legal ou judicial atribuída a alguém que deverá administrar os bens ou a conduta do tutelado. Os contratos de soldada referem-se a uma contratação de serviços remunerada, e, no caso de crianças desvalidas, o emprego da tutela e da soldada passa a ser considerada uma saída viável para que as mesmas se eduquem pelo trabalho. Desse modo, visamos analisar como as práticas citadas tiveram repercussão em Ribeirão Preto no período citado. Esta análise consistirá em elucidar como ressoaram tais práticas de tutela e soldada no interior, com vistas a acompanhar todo o processo de evolução do discurso jurídico da época, partindo da referência às Ordenações Filipinas até a vigência do primeiro Código Civil brasileiro, em 1917.

"SCOUTISMO MIRANDO AL SUR": A ORIGEM DO MOVIMENTO ESCOTEIRO EM ESCALA COMPARA – ARGENTINA E BRASIL NAS

PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

MARIA AUGUSTA MARTIARENA DE OLIVEIRA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Desde a sua criação, na primeira década do século XX até os dias atuais, o escotismo converteu-se no maior movimento de crianças e jovens associados às atividades de lazer do mundo. Cerca de setenta milhões de pessoas do sexo masculino e quarenta milhões de pessoas do sexo feminino foram ou são membros dos dois movimentos fundados por Baden Powell. Atualmente, cerca de nove milhões de escoteiros ativos e seis milhões

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de meninas e jovens são ensinados na filosofia e práticas escoteiras em cerca de cem países. O objetivo central deste artigo é o de historicizar o surgimento de scouting em dois países latino-americanos, o Brasil e a Argentina, considerando-se como um movimento internacional é redefinido em estados nacionais para construir e treinar o cidadão nacional. O trabalho é dedicado, em particular, para a análise do uso do escotismo nas regiões do sul de ambos os países. O recorte temporal selecionado refere-se ao processo de consolidação do Estado argentino, embora este seja anterior, a sua consolidação não se deu até o final do século XIX, período que coincide com a república brasileira e que precede o aparecimento do escotismo, concebido como uma escola moral para a infância e a juventude, a serviço de certos valores morais e éticos. A análise das semelhanças e diferenças entre os dois movimentos será realizada tendo-se em conta os seus princípios orientadores, aos seus organizadores, as suas ações iniciais e que lugar tiveram na Maçonaria e na Liga de Defesa Nacional, no caso do Brasil e da Liga Patriótica na versão Argentina . Livros escoteiros, atas fundacionais, correspondência e imprensa nacional e regional serão as fontes que sustentam esta investigação, com base em estudos culturais e na ideia de um Estado regionalizado, o que determina a variável espacial e procederes e itinerários, em que em ambas as regiões sul (Brasil e Argentina), o escotismo foi avaliado positivamente associado a "ordem e progresso" e utilizados como propaganda nacionalista na esfera pública com caráter de modelo. Dessa forma, utiliza-se os referenciais teórico-metodológicos da História Cultural para realizar uma análise do escotismo em duas realidades que possuem várias características distintas, mas outras tantas semelhantes. Dessa forma, percebe-se as utilizações políticas das práticas do escotismo em regiões distantes do centro político dos países estudados, regiões em que o Estado utilizou instituições de formação moral para a infância e a juventude, como uma maneira de manter a unidade nacional e fortalecer o Estado que então se consolidava, no caso argentino, ou um sistema político que se estabelecia, no caso brasileiro.

DE CASA À ESCOLA: A EDUCAÇÃO E OS COFLITOS INTERCULTURAIS NA FORMAÇÃO DO MENINO ALFREDO

MARIA DO SOCORRO PEREIRA LIMA LAURA MARIA ARAÚJO ALVES

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Chove nos Campos de Cachoeira é uma obra do escritor paraense Dalcídio Jurandir. Premiada e publicada em 1946, essa obra nos coloca em contato como um real representante da criança que vive em terras amazônicas: o menino Alfredo. As características verossímeis desse personagem alertam para o pensamento de Umberto Eco (1994, p. 24) quando propaga que “a obra de ficção nos encerra nas fronteiras de seu mundo e, de uma forma ou de outra, nos faz levar a sério”. É nesta perspectiva que este artigo, integrante de uma pesquisa de tese de doutorado analisa a educação do menino Alfredo dividida entre o sonho de estudar na cidade de Belém e a mísera realidade da Vila de Cachoeira, somados aos conflitos interculturais por viver em estado limiar de identidade: filho do Major Alfredo, um homem branco, secretário da Intendência e de uma negra chamada Dona Amélia. Do olhar infantil do menino aflora todas as representações de escola e de família marcantes na vida social de Vila de Cachoeira, de onde Alfredo sonha fugir. Apegado a um caroço de tucumã, o menino, no percurso de toda a narrativa, vai construindo um mundo mágico e solitário. Seu grande objetivo é partir do lugar decadente onde ele cresce só, infeliz. O sonho com uma educação num colégio que o levasse para longe da escola repressora do seu Proença, sintetizava o desejo maior do menino que não conseguia se apegar a nada e nem a ninguém da Vila. Enquanto não chegava o dia da partida, sonho também compartilhado pela mãe, no entanto, esta, pela sua condição social, não podia fazer nada para ajudar o filho. Tudo era determinado pelo pai que não se mostrava interessado em mandar o menino estudar em Belém. Nessa indecisão, Alfredo se apegava no caroço de tucumã como uma forma de fuga para um mundo de “faz-de-conta”. Nesse processo formador de rejeição por tudo e por todos que vivem na Vila de Cachoeira, considerando as relações de Alfredo com os membros da família, na escola com a professora e na relação com outras crianças da sua idade, mesmo que momentaneamente ele consiga se distrair com as outras crianças no caminho de casa à escola, há fortes indícios de que o menino, salvo os problemas sociais do próprio lugar que emana pobreza e falta de infraestrutura básica para se viver dignamente, ao longo do romance, Alfredo vai se constituindo uma criança individualista e preconceituosa em relação aos ribeirinhos, mas, ao mesmo tempo solidário e afetuoso, ao demonstrar o amor pela mãe, em quem deposita toda a esperança de um dia partir para Belém e realizar o seu sonho de estudar num colégio.

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O FUZIL É PEQUENO, POUCO PESA, MAS SERVE PARA A DEFESA DA REPÚBLICA DO BRASIL

MARIA ZELIA MAIA DE SOUZA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O debate sobre a militarização das crianças nas escolas públicas do Rio de Janeiro esteve presente nos discursos de educadores desde os últimos anos da década de 1880. No entanto, foi na norma de 1890, instituída pelo recém nomeado Ministro da Instrução Pública Benjamin Constant,que a concepção de educação militar no ensino primário foi incluída no currículo escolar associada ao ensino da ginástica. Por essa determinação, a medida que os alunos avançavam nos níveis de ensino, ampliariam seus conhecimentos em relação aos dois saberes escolares. Para os grupos interessados na educação da criança no período histórico em questão, a infância era considerada, naquele tempo, como a sementeira do porvir, fase da vida a qual se atribuía a garantia da segurança e do progresso da nação brasileira. Neste trabalho, o objetivo principal é refletir sobre as diferentes concepções acerca da militarização da infância, exemplificando os modos de apropriação das políticas educacionais relativas aos exercícios militares. Trabalho com a hipótese de que o treinamento militar das crianças nas escolas primárias de ensino profissional da capital do Brasil, sintonizava-se com a proposta de preparar o futuro soldado, defensor da nação. Ideia, presente também, neste período, em diferentes países da Europa e nos Estados Unidos, em diferentes regimes políticos, sendo adequada de modo diverso pelas autoridades envolvidas com a educação da infância. Como fontes foram utilizados os relatórios de inspetores e professores das escolas em tela, as conferências pedagógicas dos anos em questão e a documentação localizada nos Centros de Memória de escolas primárias de ensino profissional, o Instituto Ferreira Viana e o Instituto Profissional João Alfredo. O estudo nos permitiu observar os exercícios militares propostos pela reforma de 1890, voltados, principalmente, para uma parcela de crianças e jovens brasileiros, do sexo masculino, identificados como desvalidos sendo educados, segundo os diretores dessas instituições asilares, para o trabalho e, em caso de necessidade, para a defesa da Nação brasileira. Na organização do plano de ensino dessas instituições além das disciplinas de formação geral e profissionalizante, foram incorporados os exercícios militares sob a orientação de professores militares contratados e remunerados para tal função. Essa atividade combinou a ginástica escolar com os exercícios militares abrangendo exercícios de tiro com diferentes armas de fogo, exercício de esgrima e de ginástica sueca, visando a profissionalização, o fortalecimento da nacionalidade, a disciplina e o amor à pátria. Tais medidas educativas indiciam o interesse em educar crianças em situação de risco social voltado para a necessária preparação do corpo robusto, portanto, saudável, e disposto ao trabalho e a defesa da pátria, em um tempo de intensas disputas entre defensores da velha Monarquia e da recém instalada República do Brasil.

ALFABETIZAÇÃO, HISTÓRIA E MEMÓRIA: CULTURA ESCOLAR NA REGIÃO NOROESTE PAULISTA (1960-1970)

RENATA DE SAMPAIO VALADÃO ESTELA NATALINA MANTOVANI BERTOLETTI

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Com o objetivo de contribuir para a produção de uma história da alfabetização no estado de São Paulo e no Brasil, este artigo tem o intuito de apresentar resultados parciais de pesquisa em desenvolvimento junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação, nível de Mestrado, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Unidade Universitária de Paranaíba. Para atender ao objetivo proposto esta pesquisa fundamenta-se na abordagem histórica privilegiando a história “vista de baixo”, dando voz aos indivíduos “esquecidos ou vencidos da história”, neste caso, professores alfabetizadores atuantes na região noroeste paulista, entre os anos de 1960 e 1970, especificamente nas cidades de Ilha Solteira, Pereira Barreto, Sud Mennucci e Suzanápolis, a partir da memória desses professores sobre suas práticas de alfabetização. No primeiro momento os objetivos específicos foram fundamentados na compreensão dos conceitos de memória, cultura escolar, alfabetização e alfabetizador; em seguida, após a identificação dos professores alfabetizadores, procedeu-se à recuperação, à reconstituição, ao registro e à preservação da memória desses professores. Por meio das fontes documentais identificadas e do relato dos professores foi dada sequência ao trabalho com o intuito de compreender os pressupostos teóricos que sustentavam as práticas de alfabetização no período em estudo e assim contribuir com a produção de fontes para novas pesquisas em educação no estado de São Paulo e no Brasil. O método de pesquisa utilizado é a História Oral que utiliza a técnica da entrevista para o registro das narrativas tendo como principal finalidade criar fontes históricas. Na História Oral o suporte são as lembranças que evidenciam uma memória coletiva, esta “[...] entendida como uma somatória de experiências individuais, passíveis de serem utilizadas como fontes históricas” (FREITAS, 2006, p. 51). Considera-se memória o que foi vivido pelo indivíduo e através do resgate da

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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memória se reconstrói o passado. Os resultados parciais apontam para a importância da figura do professor alfabetizador no processo de escolarização inicial de crianças, influenciado esse processo por toda a vida, bem como apontam para a necessidade de ouvir sujeitos envolvidos no processo de escolarização, como forma de levantamento de dados sobre as práticas escolares, que revelam a existência de uma cultura escolar e assim contribuir para a compreensão do processo de alfabetização do passado propondo soluções para os problemas contemporâneos da alfabetização no Brasil.

O “CATECISMO POSITIVISTA” (1852) E A EDUCAÇÃO FEMININA EM AUGUSTE COMTE: INFLUÊNCIAS NO CONTEXTO DO ESTADO NOVO

BRASILEIRO

RENATA FRANQUI Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

O Positivismo, teoria elaborada por Auguste Comte no século XIX, propõe a reorganização da sociedade por meio da reforma intelectual dos indivíduos e das instituições sociais. Insere-se em um período histórico em que o capitalismo atinge um grande desenvolvimento, época marcada pela luta entre burgueses e proletários em razão dos interesses antagônicos de cada uma dessas classes. Dada a efervescência social e da possibilidade presente de uma revolução proletária, cujos trabalhadores mostravam sinais de organização de classe, a burguesia assume uma postura contrarrevolucionária. Neste momento, a concepção positivista pode ser entendida como uma reação à iminência de uma revolução social, na qual a burguesia corria o risco de perder o comando da sociedade. Os princípios da submissão e do altruísmo constituem-se imprescindíveis para a formação de uma sociedade ordeira e progressista, dessa forma Comte propõe uma concepção de educação voltada para a moral prática, cujo objetivo era o cultivo da aptidão de viver em solidariedade com os demais cidadãos, de modo a garantir a unidade e coesão social e, em consonância, a perpetuação do sistema capitalista e domínio burguês. Para atingir tal intento, a figura feminina assume papel de destaque na teoria positivista, tendo em vista que a mulher seria o veículo de propagação dos ideais positivistas na sociedade, por atuar de maneira direta na educação dos filhos, podendo formar cidadãos alinhados com o espírito que se almejava constituir na época. A proposta deste trabalho é estudar a obra “Catecismo Positivista”, publicada em 1852 por Auguste Comte, com o objetivo de compreender o modelo ideal feminino elaborado pelo autor, o qual considera a mulher como o principal instrumento moralizador da sociedade. Por meio de uma pesquisa bibliográfica, o estudo visa perceber em que medida as políticas públicas e o currículo voltado para a educação feminina no Brasil foram influenciados pelo pensamento positivista nas décadas iniciais do século XX e quais as implicações que dele decorrem. Em suma, o estudo tem a proposta de deslindar a função social da mulher em um momento histórico marcado pela constituição da nacionalidade brasileira, em que são elaboradas as políticas do Estado Novo. Além disso, discutir-se-á o conceito de religião em Auguste Comte e sua estreita relação com a educação moral da sociedade, destacando os aspectos formativos destinados às mulheres. O texto será organizado de modo a, em um primeiro momento, situar o leitor dos principais desdobramentos ocorridos no contexto histórico no qual o recorte temático encontra-se e, em seguida, apresentar a obra “Catecismo Positivista” em articulação com o objeto de estudo – a educação feminina –, de modo a visualizar as influências do positivismo no contexto do Estado Novo brasileiro, sobretudo em relação à disseminação do nacionalismo, sentimento caro para tal momento histórico.

ASPECTOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO BRASIL ENTRE O FINAL DO SÉCULO XIX E AS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

RONALDO AURÉLIO GIMENES GARCIA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Tratar de assuntos sobre a sexualidade infantil foi um tema que começou a chamar a atenção dos especialistas, principalmente os da medicina no Brasil, no período que vai entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século passado. Grande parte desses profissionais veiculavam suas produções acadêmicas por meio de periódicos médicos, artigos em jornais de grande circulação e em alguns casos em manuais, produzidos pelos serviços públicos de saúde e distribuídos gratuitamente à população. A maioria dessas publicações tinham como referência pesquisadores europeus e norte-americanos. Entre os autores aqui analisados estão os trabalhos de Arthur Ramos, médico psiquiatra e um dos primeiros a propor o emprego da psicanálise na educação. Como um dos pioneiros do emprego da psicanálise Ramos tratava abertamente sobre os temas da sexualidade. Confirmava que a própria sociedade se encarrega de reprimir o sexo, transformando o assunto em preconceitos e em uma

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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série de tabus. O mais grave, segundo Ramos, era a interiorização dessas concepções por meio da auto-repressão. Havia uma forte oposição enfrentada por um autor que além de admitir a atividade sexual para além do seu caráter reprodutivo, o considerava como um instinto natural inclusive na infância. Aqui é preciso considerar que o Brasil era um país católico em que o sexo era visto apenas como meio de reprodução. Nestas condições falar em sexualidade infantil era um discurso que destoava das concepções morais do período. O comportamento sexual na criança se revelava sobre diversas formas e com diferentes características. O objetivo do artigo foi analisar as estratégias utilizadas para aproximar o saber técnico-científico sobre a sexualidade infantil da população e os princípios que orientavam a educação sexual naquele contexto histórico. A orientação dos médicos era recomendar aos pais que procurassem agir com justiça perante os filhos, tanto os excessos de carinhos como de castigos e punições eram prejudiciais à infância. O caminho para ajudar um menor a superar suas dificuldades na escola e no relacionamento com os demais era conhecer sua história de vida, conquistar a sua confiança e procurar compreender suas atitudes. Nestes estudos a infância era tratada à luz da ciência, por meio do que chamavam de “perspectiva esclarecida”, ciente das possíveis causas do comportamento inadequado das crianças. O ideal era desenvolver mecanismos precisos para localizar a origem dos problemas que afetavam a infância e propor soluções. Havia uma visível confiança no poder das ciências em resolver os mais diversos e controversos problemas da nação, como era o caso da educação. Era preciso implantar um modelo de ensino voltado para a transformação da realidade e a educação sexual faria parte desta nova escola que se vislumbrava.

JARDIM MODELO: ESPAÇO DE FORMAÇÃO DA INFÂNCIA NATALENSE (1953-1965)

SARAH LIMA MENDES ANTONIO BASILIO NOVAES THOMAZ DE MENEZES

Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Os conhecimentos produzidos sobre Instituição Escolar nos permite dialogar com as vivências culturais desenvolvidas no seio da escola, possibilitando conhecer os sujeitos, as práticas pedagógicas e os espaços compreendidos como locus de saber. Embora as pesquisas da História das Instituições Escolares venham demonstrando uma grande intensificação desse tema na área da História da Educação, observamos uma pequena parcela referente às instituições de Educação Infantil e sua história. Nesta perspectiva, objetivamos analisar a configuração do espaço pedagógico no Jardim de Infância Modelo de Natal, nos anos de 1953 à 1965, ressaltando as estruturas organizacionais e as práticas escolares na formação cidadã do sujeito. A instituição em questão foi escolhida, devido seu pioneirismo na educação destinada as crianças pequenas na cidade de Natal. Optamos como critério de análise os estudos acerca da Cultura Escolar, tendo como fio condutor Julia, Chervel, Frago e Escolano, os quais analisam a instituição escolar como um espaço que educa e que produz saberes. Assim, além de considerar as práticas escolares, normas e condutas, concebemos a escola como um espaço de produção de saberes e de formação hábitos e comportamentos civis. Mediante a isso, ao dialogarmos sobre a História do Jardim de Infância Modelo de Natal, estaremos abordando quais seriam os principais aspectos constituintes de um cotidiano escolar, pois refletir sobre cultura escolar é refletir sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas no dia-a-dia, é entender os sujeitos que compõe aquele espaço, é analisar os saberes e conhecimentos produzidos e reproduzidos no espaço escolar, é reconhecer a escola como um espaço de formação do indivíduo. Compondo os procedimentos metodológicos, debruçamo-nos sobre as fontes históricas coletadas no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGO/RN), no Acervo Histórico do Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy (IESP), as Mensagens Governamentais, a legislação (Leis e Decretos) e arquivos pessoais de ex-alunos. O uso do recurso metodológico icnográfico se faz presente como base primordial na construção da história do jardim modelo, apreciando a imagem como produto ideológico e cultural, buscando seus sentidos e efeitos causados na memória do local. Diante do exposto, escrever-se-á a história da primeira instituição educacional destinada à criança pequena na capital do Rio Grande do Norte, contribuindo na construção de uma identidade educacional para a infância natalense.

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AS INFÂNCIAS TUTELADAS: AÇÕES INTERVENCIONISTAS E MATRIZES INTERPRETATIVAS ACERCA DA ASSISTÊNCIA E DA EDUCAÇÃO DA

CRIANÇA NO RIO DE JANEIRO NAS DÉCADAS DE 1920 A 1930

SÔNIA DE OLIVEIRA CAMARA RANGEL Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Visando promover o ingresso do país no “mundo civilizado”, discursos e práticas foram organizados tencionando intervir sobre a cidade, os indivíduos e a sociedade a partir dos fins do século XIX. Entre os fatores que impactaram de maneira considerável o desejo civilizador e modernizador, de setores da intelectualidade e da política, encontrava-se a infância pobre que, desprovida de assistência e de proteção ampliava os índices de morbidade, de mortalidade e de analfabetismo do país. No âmbito das políticas de assistência e de proteção à infância, instituições privadas e públicas foram criadas com o fito de socorrer as crianças. Embasadas em parâmetros científicos e racionais, essas instituições tenderam agenciar ações tutelares capazes de atuar sobre os fatores que corroboravam para o abandono, a criminalidade e a vadiagem em que se encontravam as crianças. Paulatinamente a este processo, enfeixado ao longo da Primeira República, deu-se a redefinição da concepção de infância, passando está a assumir novos contornos com base nos enunciados que a nomearam, recortaram, descreveram e explicaram. Partindo desta compreensão, está comunicação tem como intuito analisar as ações intervencionistas e as matrizes interpretativas que estruturaram os projetos assistenciais e educativos direcionados as infâncias tuteladas na cidade do Rio de Janeiro, capital do país, nas décadas de 1920 a 1930. Interesse assumiu as concepções cerzidas no sentido de instituir ações profiláticas, educativas e regeneradoras da infância interdita. Para isto, estaremos priorizando os debates travados pelos intelectuais, participes dos campos médico e do direito, promovidos por ocasião da aprovação do Código de Menores de 1927 e que circulou em periódicos do Rio de Janeiro, como: Jornal do Brasil, O Paiz, A Noite, entre outros, bem como os anais de congressos que tomaram a infância como objeto, fazendo circular matrizes intervencionistas em voga nacional e internacionalmente. O recorte temporal justifica-se tendo em vista ter, neste interregno de tempo, à infância assumido centralidade em diferentes pautas de reivindicações nacionais e internacionais. Neste cenário, é exemplar, a iniciativa da União Internacional de Proteção à Infância que propôs, em 26 de setembro de 1924, em Genebra, a elaboração de um documento em que ficou estabelecida a criação do Fundo de Socorro à Infância e instituiu a Carta dos Direitos da Criança. Sustentada nestes princípios, entre outros aspectos, esboçaram-se no Brasil, os pilares, sobre os quais arquearam-se as iniciativas tutelares sobre a criança. Assim, baseado em um modelo operatório de interpretação e de intervenção, os intelectuais agenciaram, por um lado, a judicialização da infância, aspecto que se operou mediante a criação e aplicação de normas jurídicas específicas e, por outro a sua medicalização, a partir de parâmetros que visaram definir e delimitar regras e normas embasadas em preceitos higiênicos específicos para as crianças.

HISTÓRIA DE UMA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE RIO CLARO/SP NO SEU PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO

SUELI IWASAWA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Apresentam-se neste trabalho etapas para o desenvolvimento de pesquisa em nível de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP, campus de Rio Claro, linha de pesquisa: Linguagem-Experiência-Memória-Formação. O interesse pelo estudo da temática da Educação de Jovens e Adultos (EJA) se dá desde os tempos de graduação no curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília, da UNESP, após contato maior com essa modalidade de ensino senti a curiosidade científica pela alfabetização de jovens e adultos. Com um levantamento e elaboração de um instrumento de pesquisa, em que foram reunidas referências de textos acadêmico-científicos em âmbito brasileiro, pude compreender melhor a respeito da produção sobre o assunto no Brasil. Uma das constatações observada refere-se à escassez de estudos sobre o tema, com abordagem histórica. Assim, após desenvolver pesquisa de iniciação científica, como bolsista PIBIC/CNPq/UNESP, e também o TCC, me senti motivada a pensar sobre EJA, em História da Educação, para desenvolver pesquisa em nível de Mestrado. Sendo assim, a fim de compreender como se deu a implantação da EJA no município de Rio Claro/SP, sob responsabilidade não Federal, mas do próprio município, delimitamos como problema, as seguintes questões: em que momento histórico os documentos históricos foram produzidos para a institucionalização da EJA em Rio Claro/SP? Quais as primeiras instituições que atenderam a essa educação de pessoas jovens e adultas, no município de Rio Claro? Com os objetivos de contribuir para a produção de uma história da EJA e para a compreensão de um importante momento da história da EJA no município, desenvolver-se-á pesquisa de

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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abordagem histórica centrada em pesquisa documental, por meio dos procedimentos de localização, seleção e análise de fontes documentais; e de leitura de bibliografia especializada sobre a EJA, especialmente de abordagem histórica. A relevância do estudo de Rio Claro justifica-se, por se desenvolver salas de EJA, sob responsabilidade do município, que atendem jovens e adultos: nas etapas de 1º segmento (processo de alfabetização - 1ª a 4ª séries) e 2º segmento do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries); além de possuir salas que atendem educandos jovens e adultos, por meio de um projeto de extensão universitária - PEJA - desenvolvido pela UNESP, Rio Claro. Do desenvolvimento dessa pesquisa na qual serão apresentados, resultados da análise das fontes documentais. Os resultados dessa análise propiciarão compreender como se deu o atendimento dessa EJA após a municipalização dessa modalidade de ensino, possibilitando compreender a história da(s) primeira(s) escola(s) que atenderam a EJA, em Rio Claro/SP.

AS HISTÓRIAS DE VIDA E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO PROEJA NO IFRJ;

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS.

TELMA ALVES Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

Na História da Educação, a Educação de Jovens e Adultos pode ser inserida considerando três fases: a fase de discuti-la como direito, já conquistada através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996; a fase de discutir seus objetivos, que aparece a cada proposta de programa e a fase de discutir a diversidade que a caracteriza. Esta última apenas começou, já que os conceitos de diversidade e equidade são aprofundados a cada congresso ou seminário. O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA, é uma política pública que, na sua concepção, apresenta os pressupostos históricos dessa modalidade de ensino, além de afirmar que seu horizonte não é restrito e próximo. Logo, o programa se insere na História da EJA. O projeto de pesquisa aprovado no Programa de Doutorado da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense propõe investigar os saberes docentes mobilizados pelos professores de matemática na sua prática no curso técnico integrado de Manutenção e Suporte em Informática, do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – IFRJ – campus Rio de Janeiro, implantado em 2006, em atendimento ao PROEJA. Sendo a EJA um campo de conhecimento específico, entende-se que o programa, próximo de completar oito anos de implantação, pode e deve contar a sua história e também as histórias daqueles que atuam nas suas salas de aula, com o objetivo de trazer à tona o conhecimento possível e necessário para que o sonho dos educadores brasileiros se torne cada vez mais tangível. O objetivo deste trabalho é refletir acerca dos aspectos teóricos e metodológicos de como devem ser realizadas entrevistas com os professores de matemática. A leitura das ideias de Ivor Goodson mostrou a importância de se compreender o desenvolvimento do professor e do currículo, e para tanto, ser necessário saber mais sobre as prioridades dos professores, e consequentemente saber mais sobre suas vidas. De forma similar, o texto de Bernard Lahire, em que ele defende uma sociologia à escala individual, despertou a preocupação com as disposições sociais postas em prática pelos professores que atuam no PROEJA do IFRJ (micro contexto). As entrevistas que têm o objetivo de desvelar a prática pedagógica desses professores, devem, considerando Goodson, saber mais das suas vidas e suas trajetórias. Porém, após o contato com Bernard Lahire, se percebeu que, na elaboração inicial dessas entrevistas, havia uma ausência de reflexão sobre esses indivíduos. Uma, dentre as várias perguntas postas por Lahire, é a que questiona como as experiências socializadoras múltiplas podem (co) habitar o mesmo corpo e como é que elas intervêm, nos diferentes momentos da vida social e da biografia de um indivíduo? As reflexões despertadas por esses autores são importantes para aprofundar a forma de pensar a EJA e contribuir com a formação inicial para atuar nessa modalidade.