Comunicação e Economia
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Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Natal, RN 2 a 6 de setembro de 2008
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Integraes entre comunicao e economia aps a primeira dcada da web
comercial1
Andr Fagundes Pase
Professor da Faculdade de Comunicao Social da Pontifcia Universidade Catlica doRio Grande do Sul
Resumo
Este artigo observa as relaes entre a comunicao e a economia diante da utilizaoda Internet como um meio de comunicao. Alem disso, revisa uma dcada depois aobra New Rules for New Economy, do socilogo Kevin Kelly, pioneira na anlise dasinterfaces entre as duas reas, atualizando os postulados com a justaposio de outras
pesquisas e anlises sobre o tema, principalmente de Nicholas Negroponte e GeorgeGilder. Por fim, estes links so reforados com observaes de Morin sobre o
paradigma da complexidade.
Palavras-chave
Internet, comunicao, economia, Kevin Kelly, complexidade
A histria dos meios de comunicao social no apenas revela seus avanos e
constitui um panorama da rea, mas tambm da cultura e economia das sociedades
envolvidas. As tenses e os rumos observados durante as evolues e movimentos entre
as mdias e os personagens envoltos no processo servem como base no apenas para acompreenso do estado atual, mas tambm para analisar as possibilidades que iro
compor o porvir.
Os ltimos anos do sculo XX foram marcados no setor pela crescente
digitalizao, conseqncia das novas configuraes das telecomunicaes e
apropriaes das mesmas pelas pessoas. Paralelo a isso, o contexto online surgiu e
conquistou mdias. As linguagens transformaram-se em 0 e 1 no ritmo do aumento da
largura da banda de dados, provocando convergncias e hibridaes entre os meios de
comunicao.
Ao longo da sua histria, a comunicao mostrou ser influenciada por fatores como os
econmicos, tecnolgicos, sociais/culturais e polticos, entre outros, mas andando em
ritmos muitas vezes sincronizados ou at mesmo opostos. O contexto novo releva estas
referncias, mas tambm as ultrapassa. Diante disso, o mapeamento das interfaces entre
1Trabalho apresentado na NP Tecnologias da Informao e da Comunicao, do VIII Nupecom Encontro dosNcleos de Pesquisas em Comunicao, evento componente do XXXI Congresso Brasileiro de Cincias daComunicao.
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comunicao, tecnologia e economia torna-se importante. A questo do vdeo digital e
suas diversas aplicaes, paralelas com a implantao da TV Digital, reforam a
necessidade desta perspectiva.
As pesquisas de Kevin Kelly indicaram, na dcada passada, uma mudana na dinmica
das redes e nas relaes com outras reas. Porm, passados alguns anos, a expanso do
Google e dos sites com a participao do pblico, impulsionados por mais conexes e
presena ativa na rede, provocou alteraes. No apenas nos moldes observados por
Don Tapscott e Anthony Williams, mas em um uso da Internet no cotidiano.
Neste contexto, poltica e cultura esto interligadas, de forma complexa, com a
economia. Porm, na cultura digital, relaes deste porte esto em constante
transformao. As pesquisas de Manuel Castells, em A Sociedade em Rede (2006), e
Thomas Friedman, em O Mundo Plano (2005), fornecem uma viso ampla das
mudanas, conseqncia de manobras do capital que colocam em choque companhias
tradicionais contra empresas novas. Um exemplo disso foi a compra da Time Warner
pela America Online em 2000, quando uma empresa com duas dcadas de operao
adquiriu parte de um conglomerado de mdia (FEDERAL TRADE COMMISSION,
2000).
Esta operao simbolizou um processo chamado de bolha da Internet, quando
investidores e organizaes investiram valores altos em "empresas ponto com",
provocando mudanas at mesmo na mdia, com a retirada de profissionais dos espaos
tradicionais para comunicar em sites, recebendo um salrio maior. Neste perodo
surgem os portais da Internet, endereos que renem diversas pginas de uma mesma
companhia. A fina camada de sabo inflou e estourou aps o Bugdo Milnio que no
foi observado, a partir da retirada do capital de investimento. Diversas empresasencerraram atividades, provocando um realinhamento no mapa financeiro (TAS, 2005).
A partir disso, o investimento no campo online contou com novas expectativas.
O atual valor da marca Google e seu conseqente imprio atravs de sites como
YouTube observado por alguns economistas como indcio de uma nova bolha.
Porm, em contrapartida, observa-se que as operaes envolvendo a nova economia
permanecem, delineando um cenrio onde empresas de mdia contam com contedo e
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tradio mas necessitam de espao e acesso no mundo virtual, caracterstica observada
ao contrrio emsites como YouTube eMySpace, por exemplo.
Durante a primeira expanso da web, pr-Bolha, o socilogo e jornalista Kevin
Kelly definiu, em 1998, um manifesto para a nova economia. Mesmo com as alteraes
na topografia vistas desde ento, os indicadores permanecem vlidos.
Uma a uma, cada uma das coisas que importam para ns na vidaso tocadas pela cincia e ento alteradas. A expresso humana, o
pensamento, a comunicao e at a vida humana foram infiltradas pela altatecnologia. A cada setor transformado pela alta tecnologia, a ordemtradicional subvertida e novas regras estabelecidas. Os bravos tremem, osoutrora confiveis buscam ajuda desesperadamente e os espertos ganhamuma chance de prevalecer (KELLY, 1998, p. 1).2
A presena da Internetno cotidiano cada vez maior e as transformaes na
vida real so constantes. Servios como o Skype provocaram mudanas na telefonia
tradicional, alm da profuso de vdeos no YouTube, formando um banco de dados
audiovisual sob demanda e maior a cada dia. A fora da multido conectada tamanha
que cenas de novelas, filmes ou gols marcados horas antes esto na pgina, colocados
ali por outro usurio e no pela geradora do contedo.
H uma ruptura na ordem tradicional, provocada pelo uso das ferramentasdigitais. Elementos adjacentes, como a propaganda e a indstria de eletrnicos, tambm
sentem as conseqncias. Softwares como o MicrosoftMessenger, que conta com 39
milhes de usurios apenas no Brasil (ESTADO DE SO PAULO, 2007), tambm
contam com espaos para anncios, disputados pelas empresas. O cenrio diferente do
vivido uma dcada antes e assim os produtores tradicionais de informao atualmente
buscam novas sadas para a sua sustentabilidade. A sobrevivncia de um veculo, por
exemplo, tambm passa a depender da tecnologia utilizada.
Mas enquanto a revoluo tecnolgica do avano rpido manchete em todos os jornais, algo muito maior acontece por baixo. Ocontrole pelos lanamentos de novas ferramentas interessantes e objetos dedesejo constitui uma nova ordem econmica. A geografia das riquezas remodelada pelas nossas ferramentas. Agora vivemos em uma novaeconomia criada pela diminuio drstica dos computadores e expanso dascomunicaes (KELLY, 1998, p. 1).3
2Traduo livre do autor.
3Traduo livre do autor.
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A reunio das mdias em apenas alguns aparelhos foi diluda em muitos outros
com a digitalizao e a cpia idntica dos arquivos. Desta forma, dispositivos novos
ganham as ruas diariamente. Os meios de comunicao legitimam seu posto de
extenses do homem no mais apenas pelo comunicar, mas tambm pelo carregar
consigo da mobilidade e pelo conter, como um iPodque armazena a discografia inteira
de vrios artistas na palma da mo. Vdeos criados e produzidos para a Internetcontam
com mais audincia que alguns programas de TV e encontram veiculao atravs dos
nichos, alm do custo reduzido para o armazenamento. A mudana do broadcastpara o
on demand subverte a ordem tradicional e diminui os custos, reforando uma nova
cartografia entre os produtores de contedo.
Alm disso, a forma como o cidado usa um aparelho transforma ainda maisesta economia. Mesmo equipamentos caros, como um iPhone, so imitados e replicados
aps seu lanamento, numa economia tambm marcada pela transgresso digital.
Ao colocar que Apenas observamos o comeo da ansiedade, perda, excitao
e ganhos que muitas pessoas vo experimentar enquanto nosso mundo muda para uma
nova e altssima economia tcnica planetria (1998, p. 1)4, Kelly refora um ponto
observado por outros autores, como Lvy e Castells, o impacto da Internete das redes
digitais na sociedade recente. A influncia do capital voltil dos investimentos
financeiros nos pases, decorre da possibilidade de transferir valores para o mundo sem
sair de casa. Casos como o processo contra o Napster so sintomas da acelerao dos
caminhos e fluxos, agora globais, tambm na produo de contedo.
Esta nova economia tem trs caractersticas distinguveis: global.favorece coisas-idias intangveis, informao e relacionamentos. E tambm intensamente interligada. Estes trs atributos produzem uma nova espciede mercado e sociedade, com razes em redes eletrnicas ubquas (KELLY,
1998, p. 2).5
As trs caractersticas observadas por Kelly podem ser aplicadas para a
comunicao. O contedo publicado em um pas torna-se global ao ir para a Rede, as
barreiras geogrficas deixam de ser impedimento para a difuso de um programa. Os
seriados de televiso exemplificam isto, pois a exibio em um pas gravada e logo
aps colocada para download para todo o mundo.
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Alm disso, as aes esto interligadas so complexas, como apontaria Morin
pois dados so trocados entre pessoas pelo mundo instantaneamente. Kelly tambm
afirma que sempre as economias foram conectadas fato que se observa em outra
velocidade nas navegaes do sculo XVI, por exemplo , porm a agilidade dos
movimentos e a influncia da tecnologia marcam o tempo presente. Empresas como El
Pas (Espanha) e BBC (Reino Unido) buscam mercados globais e oferecem contedo
em alguns casos especfico para algumas regies.
A economia tradicional permanece forte, mas as idias colocadas online so
replicadas como ossites de relacionamento ou messengers, que se tornam modelos de
negcios. Em alguns casos, empresas tradicionais adaptam-se aos modelos novos e
buscam relaes novas com seus leitores Fox e o MySpace, Estado de So Paulo ecomunidade Link, por exemplo. Os elementos de uma Internet mais pessoal e
colaborativa tambm podem reforar marcas tradicionais.
Escrito em 1998, o livro indica como exemplo de companhia atual a Microsoft,
por vender conhecimento intangvel (mesmo que armazenado em CDs) e ditar regras
no apenas para a sua rea, mas tambm para setores interligados. Porm, o contexto
online to mutante que menos de uma dcada depois uma empresa deste porte e
modelo enfrentado por outra. O modelo Google, gestado no final dos anos 90, coloca
em xeque o simples organograma tradicional administrativo e informtico visto tambm
no contexto online atravs do Yahoo.
O modelo Web 2.0, definido por OReilly, coloca investimentos e lucros no
mesmo nvel das aes dos usurios. A economia dos Wikinomics, conforme definio
de Don Tapscott e Anthony Williams (2007), age com a diviso das idias com o
consumidor. Trata-se no mais do registrar apenas quando finalizado e recolherconseqncias favorveis disso, porm colocar o pensamento no plano online, dar um
verniz de sempre em construo (o Beta presente nossites) e buscar o posto de melhor
espao que realiza tal tarefa. O YouTube no foi o primeirosite com vdeos naInternet,
porm a facilidade para inserir e assistir vdeos caracterstica da marca e seu maior
trunfo perante outros concorrentes. Nos ltimos meses, as mudanas realizadas pela
equipe gestora provocaram inclusive a criao de um espao para feedback. As
informaes so coletadas e analisadas, refletindo nos passos futuros (YOUTUBE,
2007).
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No h a perda do controle, porm as ferramentas utilizadas pelo pblico
refletem mais a sua vontade ao receber e armazenar contedo produzido pela prpria
audincia tradicional. A programao de televiso com os padres de qualidade das
emissoras tambm colocada neste plano, porm de forma diferente do simples exibir
em um nico horrio, o tradicional broadcast. A possibilidade de gravar e depois trocar
arquivos online ou publicando em algumsite modifica como um programa apreciado
pela audincia.
Este uso do material difere do modelo de negcios vigente e provoca
questionamentos sobre a validade dos indicadores de popularidade e como anunciar
neste contexto. Na Grande Rede, umsite torna-se popular pela sua utilidade, pelo modo
como manipulado pelo pblico e as informaes publicadas no espao tornam-se partedo cotidiano. Registra-se esse fenmeno no apenas no YouTube, mas tambm com
Flickr,MySpace e Orkut. E esta troca de informaes, com relaes importantes para a
vida fora do computador, global. O perfil de uma pessoa em umsite de redes sociais
observado por pessoas antes da contratao e por amigos, por exemplo, e encontra-se
hospedado em outro pas, muitas vezes. Assim como ocorreu com a economia e os
investimentos globalizados, os dados e relaes pessoais, alm das informaes
assimiladas durante o dia, trafegam pela rede mundial.
Kelly tambm refora que a comunicao seja no sentido apenas da troca de
dados e principalmente na relao entre pessoas com compreenso de informao
atualmente forma a economia Porque a comunicao aquela formada pelas
tecnologias e mdias digitais no apenas um setor da economia. Comunicao a
economia (KELLY, 1998, p. 5).6
No se trata de um pensamento alinhado com os conceitos de ondasformulados por Alvin Toffler nos anos 70, mas de constatar a importncia das
comunicaes em rede para a manuteno do atual patamar de desenvolvimento
mundial. Alm disso, emergncias como as vistas na questo do vdeo e da digitalizao
das mdias reforam o movimento de enfatizar a comunicao no cotidiano observado
no movimento do jornalismo participativo e apropriao popular das tecnologias. O
planeta est interligado pela comunicao.
6Traduo livre do autor.
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realizado h dcadas, mas recentemente nossa habilidade de conectar ascoisas foi acelerada (KELLY, 1998, p. 9).9
A sociedade vive interligada por redes desde as tribos de ndios, atravs das
comunicaes entre as aldeias. Sculos depois, o homem aprimorou as tcnicas para oenvio de mensagens sem sair do seu lugar.
Conforme ressaltado anteriormente, o processo de digitalizao ligou empresas
de comunicao de uma forma mais gil, permitindo que textos, por exemplo, fossem
repassados para uma redao de maneira instantnea por fax. A Internet e redes
derivadas aceleraram o processo com uma velocidade maior.
Dois avanos tecnolgicos novssimos o chip de silcio e a asfibras ticas em conjunto permitem aplicaes e transmisses em altavelocidade. Como partculas nucleares colidindo ao mesmo tempo, ainterseco destas inovaes provocaram uma fora nunca antes vista: o
poder da rede difundida. Assim como essa grandiosa rede espalha-se peloplaneta, uma agitado enxame cobre a superfcie da Terra. Estamos cobrindo oglobo com uma sociedade em rede (KELLY, 1998, p. 9).10
Portanto, no contexto conectado, a sintonia com o movimento das redes
importante. Esta fora de muitos, tambm designada como fora de vrios pequenos
Davis dos novos meios contra os Golias tradicionais por Glenn Reynolds, em Army ofDavids (2006), provoca um jogo de foras que direcionam o trnsito das mdias.
Desta forma, a percepo dos autores mostra-se sintonizada com Negroponte.
Na trinca de captulos 13, 14 e 15 A Era da Ps-Informao, Horrio Nobre
Meu e Boas Conexes , o autor refora que a TV deve buscar pensar menos como
TV convencional e mais pela lgica das conexes digitais. Esta comunicao alteraria
envios sncronos e assncronos de acordo com a natureza do contedo transmitido (um
jogo de futebol ou uma novela, por exemplo).
A base para o trnsito deste vdeo deve ser uma Internet de altssima
velocidade. George Gilder define tal caminho em Telecosmo, obra que centra a
discusso na afirmao que quanto maior a largura de banda maior o uso de diferentes
mdias em um ambiente convergente.
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Essas tecnologias de fibra tica, comunicao de alto espectro e asredes sem fio, juntas, constituem o telecosmo. O telecosmo torna a largura de
banda informao a uma velocidade enorme e escala praticamente infinita a abundncia que define uma nova era, eclipsando at mesmo a maravilhosaera do computador (GILDER, 2001, p. 11).
Portanto, o contexto tcnico est apto para receber a torrente de dados. A
crescente oferta de planos de acesso com distintas velocidades disponveis no mercado
indica isso. A quantidade de cabos e redes sem fio transmitindo informaes criam uma
nova pele de comunicao para o planeta, com o digital cobrindo o outrora domnio do
envio de sinais analgicos.
No captulo 13 de Telecosmo, Gilder refora que as atuais estruturas que
exercem poder no capitalismo e em especial nos setores de informao utilizamestratgias para provocar receio em novos investidores e atores que podem provocar
mudanas em um cenrio. O governo e a mdia alimentam-se do medo de monstros
(2001, p. 191). Desta forma, conseguem apropriar-se de inovaes ou mesmo bloquear
seu acesso atravs de normas e leis, tanto criando novas bem como sem atualizar outras.
Falando sobre a economia das margens do Lago Ness, os eruditosinvestigam a escurido em constante evoluo do mercado e vem por trs detoda mudana industrial a forma espectral de alguma serpente ou tubaro
nadando em crculos, de onde apenas uma nova burocracia ou guarda liberalpode nos salvar (2001, p. 190).
Esta afirmao no apenas encaixa-se com situaes como a de novos padres
de informtica, mas tambm para descrever aes das empresas no limiar da
digitalizao. O prprio caso do Brasil, que trocou um modelo com caractersticas
distintas das presentes no mercado por outras adequadas para as estruturas vigentes (e
tradicionais) pode ser descrito por este caso.
Os reguladores nunca tiveram problemas para encontrartestemunhas para a ameaa iminente. Em suas campanhas de destruiocriativa, qualquer capitalista provoca pnico no estabilishmentpara abasteceros bedis com recursos para derrub-los [os inovadores] (GILDER, 2001, p.191).
Escritas em 2001, as frases poderiam servir para uma explicao dos anncios
das emissoras de TV durante a discusso sobre a entrada da TV Digital no Brasil, por
exemplo. Informaes sem contexto, como o custo da TV aberta e os interesses por trs
do processo, apoiaram uma campanha das instituies oficiais que reforou aspectos
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novos ao meio televisivo, sem o devido esclarecimento da populao. A realidade norte-
americana do incio do sculo permanece atual tambm no contexto brasileiro.
Agora, com a tecnologia da informao sendo a principal fonte de novas
riquezas, existe uma caada a novos monstros para justificar uma futura campanha
governamental de tributao e regulamentao (GILDER, 2001, p. 191). A criao das
guias de desenvolvimento das novas mdias tornou-se a ocasio ideal para uma
renegociao poltica e econmica. A alterao das leis no Brasil a adaptao das leis
de telecomunicaes para permitir tele e radiodifuso sob demanda e o padro WiMax,
por exemplo tornam-se instantes oportunos tambm para rever fontes de recursos e
tambm a manuteno de estruturas geradoras de capital para o governo e empresas
relacionadas.
Gilder no defende um campo para concorrncia, um capitalismo tradicional
com verniz contemporneo, mas sim aes que caminhem para o reforo do proposto
telecosmo. Resumindo, o verdadeiro monstro que deve ser combatido so as
regulamentaes mal-orientadas (2001, p. 199). A constatao carece de um
complemento, no somente para economias em expanso como o Brasil, pois o monstro
nesta metfora tambm formado pelas empresas que no compreendem as
propriedades do novo meio digital e jogam suas foras no mercado para garantir a
sobrevivncia. Tal perpetuao do negcio como visto nos perodos analgicos no
apenas concede foras aos monoplios, objeto suficiente para um outro estudo, porm
veste de avano iniciativas com potencial limitado, como o Sistema Brasileiro de TV
Digital.
Com cada nova verso capenga da Lei das Telecomunicaes, oCongresso americano afeta importantes jogadores americanos que ele deveria
estar recompensando. Entretanto, a longo prazo, nem mesmo o progressopoder parar o telecosmo (GILDER, 2001, p. 199)
A proposta de um padro brasileiro para a TV Digital foi estimulada pelo
governo, que meses depois cortou a atuao prtica das universidades antes estimuladas.
Apesar da definio contrria aos pensamentos do incio do processo de prospeco do
SBTVD e prioridade para os padres j vigentes e seus interesses relacionados, o
processo deixou como conseqncia um novo estmulo para pesquisa.
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Tal impulso para o conhecimento no conta com tantos investimentos como
outrora, porm novas alianas foram formadas em busca de alternativas. Apenas na
Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, por exemplo, a Faculdade de
Comunicao Social iniciou projetos com a unidade da Informtica e da Engenharia,
tanto com troca de conhecimento com laboratrios como estudos para outros projetos.
A sabedoria adquirida neste processo est alinhada no apenas com o
paradigma do pensamento complexo de Morin, mas tambm com o reposicionamento
da cultura e das aplicaes do homem seja no nvel social ou econmico , provocado
pela acelerao das redes e da informtica.
Kelly salienta que, nesse contexto, a propriedade descentralizada,
conseqncia da facilidade para trocar arquivos de mdia, e centros de conhecimento e
de especialistas fazem contraponto aos centros financeiros:
A distribuio da propriedade torna-se global, assim como aprpria economia. Nos ltimos anos, a Europa enviou muitos recursos paraos mercados de aes... ao mesmo tempo, investidores famintos despejamvolumes financeiros nos cofres dos mercados emergentes da sia e AmricaLatina (1998, p. 157).11
Mesmo que existam locais como o Vale do Silcio, com idias e dinheiroconcentrados, espaos como o CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avanados do
Recife), em Pernambuco, e a crescente busca por profissionais da rea em pases como
ndia e Brasil alerta para esta importncia do saber. Como etapa final desta cadeia de
sucesses, o autor indica que conceitos econmicos tornam-se elementos decisivos em
todas as etapas da vida.
Nesta economia das redes, a propriedade est fragmentada em uma
mirade de partes, espalhada em caminhos eletrnicos, e dispersa entretrabalhadores, investidores, membros de parcerias e, em doses mnimas, atentre rivais. As redes provocaram uma nova distribuio do capitalismo(KELLY, 1998, p. 157).12
A difuso dos conhecimentos e padres provoca uma nova paginao nas
estruturas de negcios. O fato, por exemplo, observado tanto para a construo de
novas estruturas caso do Software Livre e doLinux ou tambm para a reformulao
dos padres troca de arquivos em MP3 e ajustes na indstria musical. Esta mudana
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de etapas acontece com rapidez entre os utilizadores das mdias no interessados em
protocolos e regras, mas sim nos usos , porm sem tanta rapidez entre as empresas e
instituies responsveis pela produo e regulamentao dos setores.
Desta forma, os vetores importantes para estes processos mudam suas
propriedades.
Assim como as redes surgem, o centro retrocede. No coincidncia que as redes globais apareceram paralelas com o movimentofilosfico da ps-modernidade. Na ps-modernidade, no h autoridadecentral, no h dogma universal, no h uma premissa tica nica (KELLY,1998, p. 159).13
Sintomas do contemporneo, o crescimento das redes informatizadas
configura-se at mesmo como ps-moderno. Kelly recorda as definies de Steven Best
e Douglas Kellner, em The Postmodern Turn (1997), para o estado das artes, cincias e
polticas, fragmentadas, instveis, indeterminadas e incertas. Isto define a rede
(KELLY, 1998, p. 159).14
No apenas trata-se de observar que o futuro das tecnologias e das
comunicaes est nas redes. O futuro da tecnologia formado pelas redes. Redes
largas, grandes, profundas e rpidas. Redes eltricas de todos os tipos vo colorir oplaneta e seus ns complexos vo definir nossa economia e colorir nossas vidas
(KELLY, 1998, p. 159).15 Isto observado antes da digitalizao pelas grandes cadeias
de rdio e televiso, alm da expanso da telefonia, porm na contemporaneidade h a
apropriao coletiva das tcnicas para a comunicao e produo de contedo. As
ferramentas outrora disponveis para poucos so expandidas com a criao de novos
sites na rede, como o YouTube e seus derivados.
Portanto, a Internet e suas ramificaes ou mesmo conexes com outras
mdias esto inseridas em uma economia da informao conectada. Vincent Mosco
define este setor tradicionalmente como estudo das relaes sociais que constituem a
produo, a distribuio e o consumo de recursos, incluindo os recursos da
comunicao (1999, p. 98).
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Traduo livre do autor.14Traduo livre do autor.
15Traduo livre do autor.
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Entende-se ento que a economia da informao obedece a estes pressupostos,
porm no mais compreende apenas a produo exercida pelos atores tradicionais. No
trata-se de ousar e afirmar que no h mais pblico, mas o contexto online favorece a
expresso do espectador e concede a ele elementos para tambm influir no processo. O
computador ferramenta para expresso tanto dos emissores tradicionais quanto da
audincia. Este pblico est situado em uma outra cultura, digital, e dialoga com os
meios novos.
Conforme Lvy (2007) observa, neste atual contexto a populao apropriou-se
das mdias e da cibercultura, retirando poder dos agentes iniciais e difundindo tanto
ferramentas quanto informaes produzidas desta forma. Atribuies de definio ejulgamento de valor da mdia e do contedo veiculado nela para a comunidade, seja de
dimenso pequena ou grande, tambm so aferidas pela populao. Alm destes pontos,
o plano geral formado pela equao das foras das tenses observadas, com soma ou
subtrao em determinados pontos.
Desta maneira, h a formao de um fluxo da informao entre as mdias, um
anel recursivo como observa Edgar Morin. possvel realizar uma metfora com a
biologia. A natureza digital dos dados e sua transmisso pelaInternete redes derivadas
criam um manancial que serve de fonte de gua (dados) para alimentar os seres vivos
(mdias) que dependem deste recurso.
[...] Ora, na prpria idia de complexidade que enuncio, anuncioao mesmo tempo em que ela contm em si a capacidade de unificar, aimpossibilidade de acabamento, uma parte de incerteza, uma parte deindecidibilidade e o reconhecimento com o tte--tte final com o indizvel(MORIN, 1996, p. 98).
Esta formao de um fluxo nico no pacfica e acontece tanto com estmulos
e guias bem como atravs das prticas. A colocao do texto na Internetno previa o
seu uso nas emissoras de rdio, porm os comunicadores contam muitas vezes com
acesso Internet dentro do estdio, com empresas reduzindo custos de reportagem e
enfatizando investimentos em materiais colocados online. Esta incerteza, este jogo do
acaso ps-moderno que altera as mdias de maneira orgnica, unifica atravs da
dependncia. Por exemplo, a concentrao das informaes enviadas por agncias
atravs dos seus feeds online torna a imprensa tradicional dependente do recurso. Ao
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simplesmente capturar as informaes, sem trabalhar e diferenciar do online, replica
informaes e no torna seu meio diferente dos outros, mas sim pasteuriza o produto
final.
O que necessrio compreender o modo de estruturao dosoutros tipos de pensamento diferentes do nosso, e isto no s de cultura paracultura mas tambm no interior de uma civilizao (MORIN, 1996, p. 32).
Em virtude do modo como as redes digitais costuram as mdias nesta adaptao
para a era da cultura digital, em um prazo maior pode ser observada a autonomia do
contexto online. Conforme observado no pargrafo anterior, se atualmente serve de base
para os outros, a simples aplicao das informaes em outros meios pode provocar na
populao adulta e idosa o fenmeno observado na juventude, que busca fontes maisgeis para atualidades. Por exemplo, registra-se isso no atual estado dos jornais
impressos, que perdem leitores tradicionais e tentam manter o pblico com a migrao
digital para a web e celular, e apenas expande-se com a entrada de publicaes em
classes menos favorecidas. A adaptao das mdias tambm refora movimentos de
formao de novos espaos convergentes.
Conforme observado por Morin, em Terra-Ptria, o mundo encontra-se
conectado e a informao tambm.
Ademais, devemos dizer que o mundo encontra-se cada vez
mais uno e cada vez mais particularizado, digamos cortado em
pedaos. Uno no sentido de que cada parte do mundo cada vez
mais faz parte do mundo em sua globalidade. E que o mundo
em sua globalidade encontra-se dentro de cada parte (MORIN,
2002, p. 46).
No paradigma da troca de informaes, sejam elas culturais ou polticas ou
econmicas, a mundializao instantnea e suas conseqncias atravs das aplicaes
da Internet provocam alteraes constantes na comunicao. Portanto, a rea no s
agrega valores de outras como outrora, mas tambm transforma e modifica o papel do
comunicador. Seja atravs das redes sociais, informaes publicadas em websites ou
restries para campanhas polticas online, possvel constatar que as idias de Kelly
continuam vlidas, embora transformadas.
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7/28/2019 Comunicao e Economia
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Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Natal, RN 2 a 6 de setembro de 2008
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A justaposio com outros olhares no apenas permite uma compreenso da
situao, mas uma atualizao que carrega consigo passos evolutivos do meio e formam
bases para a compreenso do porvir. Desta forma, o comunicador pode compreender os
novos fluxos da informao, influenciados por fatores econmicos e pela participao
do pblico. Cria-se um novo cenrio, que requer tambm novos agentes de
comunicao. Passados 10 anos, o olhar de Kevin Kelly continua atual e atraente para
novas discusses.
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