COMPREENDENDO SAÚDE E...

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COMPREENDENDO SAÚDE E ESPIRITUALIDADE O CUIDADO COMO CAMINHO DOMINGOS JOSÉ VAZ DO CABO PRECEPTOR DE RESIDÊNCIA DE MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE – SMS – RIO DE JANEIRO GT DE SAÚDE E ESPIRTUALIDADE - SBMFC

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COMPREENDENDO SAÚDE E ESPIRITUALIDADE

O CUIDADO COMO CAMINHO

DOMINGOS JOSÉ VAZ DO CABO

PRECEPTOR DE RESIDÊNCIA DE MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE – SMS – RIO DE JANEIRO

GT DE SAÚDE E ESPIRTUALIDADE - SBMFC

LIGAÇÃO ENTRE MEDICINA E RELIGIÃO

• Os egípcios (2000-1800 A.C.) já exorcizavam espíritos usando o nome do Deus Horus

• Os cientistas gregos (500-300 A.C.) já discutiam sobre a origem da alma

• Nos tempos medievais (1000-1200 D.C) as autoridades religiosas eram as responsáveis pelas licenças para a prática da Medicina.

Luchetti et al, Espiritualidade

na prática clínica: o que o clínico deve saber? Rev Bras Clin Med 2010;8(2):154-8

POLISSEMIA DO SIGNIFICADO DE RELIGIÃO

• Cícero (45 a.C.) – Religio – Reler, repetir (sentido organizacional)

• Agostinho de Hipona (Século IV) – Religere – Reeleger (sentido de escolha)

• Lactâncio (Século IV) – Religare – Religar (sentido de conexão)

AS ORIGENS DO CUIDADO

• Derivado do latim cura, cogitare - aplicadas ao ato de imaginar, pensar, meditar, julgar, supor, tratar, aplicar a atenção, refletir, prevenir, ter-se.

• Contrapondo a máxima grega “conhece-te a ti mesmo” com outra formulada por Sócrates em seus diálogos “o cuidado de si te assenhora”, Foucaultdemonstra que aquele princípio deriva deste último, ou seja, conhecer-se estaria contido em cuidar-se.

• Esta diferenciação se faz importante, pois, já naquele momento, havia a percepção de que as pessoas se ocupavam de suas coisas, porém não cuidavam de si.

RUPTURA ENTRE MEDICINA E RELIGIÃO, ENTRE RACIONALIDADE E CUIDADO

• A partir do racionalismo científico do século XVII, o pensamento cartesiano consagrou o “conhece-te a ti mesmo”, colocando a evidência da existência do sujeito no princípio do acesso ao ser (“Penso, logo existo.”).

• O conhecimento tem a primazia para se chegar à verdade.

• Ruptura entre ciência e religião.

• Em última análise, o cuidado seria não-científico, matéria da espiritualidade, não do conhecimento.

Cabo, DJV, 2013

RACIONALISMO VITALISTA ANTIPOSITIVISTA NO SÉCULO XX

Georges Canguilhem (1904 – 1995)

“A doença não pode ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece.”

REENCONTRO DA ESPIRITUALIDADE COM A SAÚDE

• Na década de 1960, começaram a ser publicados diversos estudos epidemiológicos demonstrando a relação entre espiritualidade e religiosidade com a saúde do paciente.

• No mesmo período que foi iniciado o Journal of Religion and Health (Jornal de Religião e Saúde) indexado até o presente momento no PubMed.

• Nas décadas seguintes cresceu o conceito da chamada “Espiritualidade baseada em evidências”, o estudo dos mecanismos pelo qual a fé levaria a esses desfechos clínicos

Luchetti et al, Espiritualidade

na prática clínica: o que o clínico deve saber? Rev Bras Clin Med 2010;8(2):154-8

Plsek PE and Greenhalgh T.Complexity science: the challenge of complexity in health care. BMJ. 2001

DE QUE SAÚDE, DOENÇA E SER QUE ESTAMOS FALANDO?

Anderson, MIP e Rodrigues, RD. Integralidade na pratica do MFC e na APSIn: Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2012

IAM

HASDM TBG

DLPOBESD

MEDO

DINHEIRO

DROGAS

PRESSÃO

COPING

FAMÍLIA

INFÂNCIA

EMOÇÃO

RESILIÊNCIA

FILHOS

MÁGOA

VALORES

DESAMOR

VIOLÊNCIA

EXCLUSÃO

CULPA

Anderson, MIP e Rodrigues, RD. Integralidade na pratica do MFC e na APS

In: Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2012

Integralidade Biopsicossocial

BARREIRAS PARA A ABORDAGEM ESPIRITUAL DO PACIENTE

• Falta de conhecimento sobre o assunto

• Falta de treinamento

• Falta de tempo

• Tema não é relevante ao tratamento médico

• Não faz parte do papel do médico

• Desconforto com o tema

• Medo de impor ponto de vista religioso

South Med J. 2004 Dec;97(12):1194-200. Religion, spirituality, and medicine: research findings and implications for clinical practice. Koenig HG

Koenig HG (editor). Espiritualidade no cuidado com o paciente: Por quê, como,

quando e o que?. São Paulo. Editora FE. 2005

HOPE = ESPERANÇA

• Do latim Spes – Expandir, ampliar, confiar em algo positivo

• “Sentimento que o ser humano cultiva e colhe dentro de si” (Renée Venâncio)

• Parte da consciência sensível

• Ao contrário do significado que atribuímos hoje, fé vem do hebraico Emunah, que significa “fazer conforme está escrito”

• Pressupõe atitude, baseada no raciocínio construído e ancorado em nosso sentir

• Consciência racional

A essência da prática clínica centrada na pessoa é que o médico atende sentimentos, emoções e estados de espírito,

além de categorizar a doença do paciente.

O que significa assistir a uma pessoa com sentimentos, emoções e estados de espírito?!

Compreender emoções é algo que se dá pessoa a pessoa, e não podemos atender às emoções de outra pessoa sem

atender às nossas próprias.

McWhinney IR. The importance of being diferente.

Part 2: Transcending the mind-body fault line. Can Fam Physician. 1997

Para isso, a habilidade essencial é a escuta ativa. Escuta ativa?!

Ouvir uma pessoa com atenção total é uma dos maiores presentes que podemos dar. Significa ouvir não só com nossos ouvidos, mas com todas as nossas faculdades, especialmente

com um coração aberto.

Não podemos fazer isso se nossos olhos estão voltados para nós; se estamos pensando o que dizer depois; ou se estamos

consumidos por nossas próprias emoções negativas.

McWhinney IR. The importance of being diferente.

Part 2: Transcending the mind-body fault line. Can Fam Physician. 1997

Esse estado de abertura é descrito como um estado atencioso "não-egoísta, dotado de amor impessoal", um amor que

chamamos de ágape [charity, compaixão].

Não podemos atender aos sentimentos de um pacientee emoções sem conhecermos os nossos próprios...

Há muitos caminhos para esse conhecimentoe a educação médica poderia ser um deles. Poderia a medicina

se tornar uma disciplina auto reflexiva?

McWhinney IR. The importance of being diferente.

Part 2: Transcending the mind-body fault line. Can Fam Physician. 1997

CÍRCULO DO APRENDIZADO DE KOLB

FÉ ESPERANÇA

PIRÂMIDE DE MILLER

SE “PENSO, LOGO EXISTO”, ENTÃO SE “CUIDO, LOGO... SOU!

• Cuidar de si define, fundamentalmente, um modo de viver junto

• É a fé (razão), alimentada pela esperança (sentir), que sustenta o ser. E a essência do ser é cuidar.

• O autocuidado é, portanto, nossa consciência intuitiva. Para além do fazer o ser!

• “É a atitude que torna possível o convívio com o outro, uma vez que tendo claras minhas necessidades e minha impossibilidade de supri-las integralmente, estabeleço regras de conduta perante o outro – em acordo com o cuidado que desejo para mim mesmo”. (Cabo, DJV, 2013)

ESPIRITUALIDADE E CUIDADOCuidar de si implica em:

• atitude com relação a si, aos outros, ao mundo;

• uma forma de atenção, de olhar para o “interior”, uma observação sobre o que se pensa;

• em olhando para si, reflexionar em uma série de atitudes, pelas quais se purifica, se transforma, se transfigura.

Foucault M. A Hermenêutica do sujeito. Rio de Janeiro: Martins Fontes; 2010.

Espiritualidade é o dinâmico e intrínseco aspecto da humanidade, por meio do qual indivíduos buscam o significado último, propósito e transcendência. Vivenciam relações consigo mesmos, com a família, com os outros, a comunidade, a sociedade, a natureza e com aquilo que é significativo ou sagrado.

Puchalski CM. Journal of Palliative Medicine. 2011

OS MAIS INESTIMÁVEIS TESOUROSSÃO: A CONSCIÊNCIA

IRREPREENSÍVEL E A BOA SAÚDE. O AMOR A DEUS E O ESTUDO DE SI

MESMO (ESPIRITUALIDADE) OFERECEM UMA; A

HOMEOPATIA (PRÁTICASINTEGRATIVAS) OFERECE A OUTRA.

SAMUEL HAHNEMANN