COMPOSTO ORGÂNICO GERADO NA CENTRAL DE ...

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Disc. Scientia. Série: Ciências Naturais e Tecnológicas, S. Maria, v. 11, n. 1, p. 1-16, 2010. 1 1 Trabalho de Iniciação Científica - UNIFRA. 2 Aluno do Curso de Engenharia Ambiental - UNIFRA. E-mail: [email protected]; [email protected] 3 Orientador - UNIFRA. 4 Coorientadora - UNIFRA. COMPOSTO ORGÂNICO GERADO NA CENTRAL DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS DA CATURRITA – CTRC, SANTA MARIA – RS 1 SOLID WASTE: THE QUANTITY OF RECYCLABLE WASTE LOST IN DAYS OF SURPLUS IN THE PLANT Gabriela Pippi Denardin 2 , Delmira Beatriz Wolff 3 e Noeli Júlia Schüssler de Vasconcellos 4 RESUMO A biodegradação da matéria orgânica sem o devido controle gera impactos ambientais causados pela geração de gases e líquidos com elevado potencial de poluição. O processo de compostagem é a forma mais eficiente de reciclagem de resíduos sólidos urbanos. O presente trabalho teve como objetivo a qualificação do composto orgânico gerado nas leiras de compostagem implantadas junto à Central de Tratamentos de Resíduos da Caturrita – CTRC, Santa Maria – RS. Para isso foi melhorada a triagem do material e foi feito um ensaio de compostagem com o monitoramento dos parâmetros, juntamente com a pulverização de dois tipos de materiais nas leiras e a comparação com os limites preconizados na legislação vigente. Como resultado, obteve-se uma melhoria na qualidade do composto e do seu aspecto visual, e foi possível verificar-se as não conformidades do composto, ou seja, os parâmetros que não atenderam às normas da legislação. Palavras-chave: resíduo orgânico, compostagem, monitoramento. ABSTRACT The growth of cities has increasingly highlighted the problems of management of ISSN 2176-462X

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1 Trabalho de Iniciação Científica - UNIFRA.2 Aluno do Curso de Engenharia Ambiental - UNIFRA. E-mail: [email protected]; [email protected] Orientador - UNIFRA. 4 Coorientadora - UNIFRA.

COMPOSTO ORGÂNICO GERADO NA CENTRAL DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS DA

CATURRITA – CTRC, SANTA MARIA – RS1

SOLID WASTE: THE QUANTITY OF RECYCLABLE WASTE LOST IN DAYS OF SURPLUS IN THE PLANT

Gabriela Pippi Denardin2, Delmira Beatriz Wolff 3 e Noeli Júlia Schüssler de Vasconcellos4

RESUMO

A biodegradação da matéria orgânica sem o devido controle gera impactos ambientais causados pela geração de gases e líquidos com elevado potencial de poluição. O processo de compostagem é a forma mais eficiente de reciclagem de resíduos sólidos urbanos. O presente trabalho teve como objetivo a qualificação do composto orgânico gerado nas leiras de compostagem implantadas junto à Central de Tratamentos de Resíduos da Caturrita – CTRC, Santa Maria – RS. Para isso foi melhorada a triagem do material e foi feito um ensaio de compostagem com o monitoramento dos parâmetros, juntamente com a pulverização de dois tipos de materiais nas leiras e a comparação com os limites preconizados na legislação vigente. Como resultado, obteve-se uma melhoria na qualidade do composto e do seu aspecto visual, e foi possível verificar-se as não conformidades do composto, ou seja, os parâmetros que não atenderam às normas da legislação. Palavras-chave: resíduo orgânico, compostagem, monitoramento.

ABSTRACT

The growth of cities has increasingly highlighted the problems of management of

ISSN 2176-462X

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urban waste in a city. This study aimed to evaluate qualitatively and quantitatively the urban solid waste from March to August, 2008, which were taken to the Santa Maria city waste treatment center. It studied the time of the year with the peak arrival of these, the quantification of the diversion of waste and its economic study. The surplus waste the plant was not able to manage was sent to a landfill. With the results obtained, it was found that the plant lost a significant amount of material. The month of May had the largest economic loss of recyclable waste valued at R$ 39,853.90. Thus, it is recommended to build a warehouse to store all the waste that arrives at the city treatment center.

Keywords: treatment center, sorting plant, urban waste.

INTRODUÇÃO

O crescimento populacional tem sido marcado pelo aumento constante da geração de resíduos sólidos urbanos, que é hoje um dos problemas mais sérios enfrentados pela humanidade. Os resíduos sólidos urbanos compreendem apenas as parcelas geradas nos domicílios (resíduo sólido domiciliar), nas repartições comerciais públicas e privadas, nas lojas e armazéns em geral, restaurantes, lanchonetes e similares (resíduo sólido comercial) e na limpeza de ruas, avenidas, praças, parques, jardins e demais locais públicos (resíduo sólido de limpeza pública).

Sabe-se que grande parte dos resíduos sólidos produzidos pelo homem é de natureza orgânica. Segundo Pereira Neto (2007), matéria orgânica é todo produto proveniente de corpos organizados contendo basicamente carbono (C), hidrogênio (H2) e oxigênio (O2). Porém, num sentido mais amplo, o termo relaciona-se a todo composto de carbono susceptível de degradação.

Quando a degradação dos resíduos sólidos ocorre sem medidas de controle, poderá haver impactos ambientais causados pela geração de gases e líquidos com elevado potencial de poluição do ar, solo e água, além da atração e proliferação de insetos e roedores. A melhor maneira de se obter a degradação de forma controlada dos resíduos orgânicos é por meio da compostagem, que é definida como um processo de decomposição microbiana de oxidação e oxigenação de uma massa heterogênea de matéria orgânica no estado sólido e úmido. O produto final da compostagem é o composto orgânico, processo cujo desenvolvimento acontece pelas seguintes fases: uma inicial e rápida de fitotoxicidade ou de composto cru ou imaturo, seguida da fase de semicura ou bioestabilização, para atingir finalmente a terceira e última fase,

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a cura, maturação ou humificação, acompanhada da mineralização de determinados componentes da matéria orgânica.

Conforme Lima (2001), compostar também é reciclar. É reciclar a fração orgânica (restos de alimentos, frutas, vegetais, tecidos, folhas e outros) em húmus para utilizá-lo na agricultura e também, cumprir, entre outros, os objetivos seguintes: atenuar os problemas sanitários e de saúde pública; evitar a poluição e contaminação ambiental; permitir a economia de energia pelo aproveitamento de produtos existentes nos resíduos; contribuir para a proteção e preservação dos recursos naturais.

O processo de compostagem destina-se ao tratamento da matéria orgânica contida nos resíduos, portanto, ela deve ser precedida por um processo de triagem para separação dos materiais recicláveis e de qualquer material que não seja orgânico.

Assim, os resíduos sólidos urbanos coletados e levados para usina de triagem são separados por um processo de catação manual, em seguida, passam por um triturador e são levados para a unidade de compostagem, onde ocorrerá a decomposição microbiana, transformando-se no fertilizante orgânico denominado composto e com características e propriedades totalmente diferentes do material que lhe deu origem. Por ser um processo biológico, a compostagem é afetada pelos mesmos fatores que limitam a atividade microbiana, dentre eles: umidade, oxidação, temperatura, pH, tamanho da partícula e relação carbono/nitrogênio.

A umidade deve ser mantida em torno de 55%, para que não ocorra anaerobiose. Porém, é preciso ter cuidado para que a umidade não baixe de 40%, o que restringe a atividade microbiana de degradação dos resíduos orgânicos (FONSECA, 2001). Para corrigir o excesso de umidade basta adicionar um material que absorva esse excesso, como folhas, capins e gramas. Caso a umidade esteja baixa, é só adicionar água ou outro resíduo orgânico com elevado teor de umidade em quantidade e proporção compatíveis ao balanço final do teor de umidade desejado.

Quanto à oxigenação, pode ser feita por processos mecânicos ou reviramento manual. É necessária para que haja a atividade microbiológica e funciona como agente de controle da temperatura (PEREIRA NETO, 2007). Para processos simplificados de compostagem, o reviramento é feito em ciclos predeterminados e devem ocorrer ao menos três vezes por semana.

A primeira indicação do início da compostagem é o aumento da temperatura do substrato. Por causa do resfriamento provocado pela evaporação da água, logo após a montagem da leira, a temperatura pode ser menor do que a do ambiente; sendo denominada como fase criófila. Na sequência, a decomposição do composto gera calor e ocorre o aumento da temperatura; início da fase mesófila (temperaturas de 15ºC a 45°C), seguida de outra ainda mais quente denominada

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termófila (temperaturas ótimas de 50ºC a 55°C) (KIEHL, 2004). Quando a leira perder calor e ficar com temperatura igual a do ambiente,

desde que tenham sido respeitadas as condições de umidade e oxigenação, o composto está completamente curado.

Segundo Kiehl (2004), a atividade benéfica dos microrganismos é reduzida quando a temperatura fica por tempo prolongado acima dos 70°C. Para corrigir o pro-blema pode-se irrigar a leira ou rebaixar a sua altura para favorecer a perda de calor por dissipação. A falta de microrganismos, excesso ou falta d’água pode provocar a ausên-cia de calor na leira. Para correção do primeiro caso, se junta à leira materiais ricos em nitrogênio. Nos outros dois casos, deve-se agir conforme os procedimentos de umidade.

No início da decomposição de uma leira de matéria orgânica o índice pH é baixo (geralmente ácido). No decorrer da decomposição ocorre um consumo dos ácidos, elevando o pH. O valor final normalmente é superior a 8,5 (PEREIRA NETO, 2007).

Os resíduos devem ser submetidos a uma correção do tamanho das partículas, para garantir uma granulometria adequada para o processo. As dimensões das partículas devem atingir 1,2cm x 5,0cm, o que favorece fatores como: boa aeração das pilhas, menor compactação, melhoria da porosidade e menor tempo de compostagem (BIDONE, 2001).

A relação carbono/nitrogênio, no início da compostagem, deve ser da ordem de 30/1 (D’ALMEIDA; VILHENA, 2000). Relações de C/N elevadas demandam maior tempo de compostagem e em relações muito baixas pode haver perda de nitrogênio por volatilização na forma de amônia. Neste caso deve-se incorporar ao resíduo materiais ricos em carbono.

Além de ter perfeita maturidade, um composto de qualidade deve apresentar características e propriedades que não torne o produto inadequado para o uso agrícola. Ou seja, um composto pode estar perfeitamente maturo e ainda assim ser condenado por não possuir as qualidades exigidas para um fertilizante orgânico com bom valor agrícola (KIEHL, 2004).

A atribuição legal de fiscalizar a produção e o comércio de fertilizantes, corretivos e inoculantes é do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (1980, 2004), conforme disposto na Lei n° 6.894 de 16 de dezembro de 1980, regulamentada pelo Decreto n° 4.954, de 14 de janeiro de 2004.

A Instrução Normativa n°27, de 05 de junho de 2006 dispõe sobre fertilizantes, corretivos, inoculantes e biofertilizantes, que para serem produzidos, importados ou comercializados, deverão atender aos limites estabelecidos nos Anexos I, II, III, IV e V desta Instrução Normativa no que se refere às concentrações máximas admitidas

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para agentes fitotóxicos, patogênicos ao homem, animais e plantas, metais pesados tóxicos, pragas e ervas daninhas (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2006).

A Instrução Normativa n° 25, de 23 de julho de 2009 aprova as Normas sobre as especificações e as garantias, as tolerâncias, o registro, a embalagem e a rotulagem dos fertilizantes orgânicos simples, mistos, compostos, organominerais e biofertilizantes destinados à agricultura.

Para fins do Decreto n° 4.954, de 14 de janeiro de 2004, considera-se que fertilizante é: a substância mineral ou orgânica, natural ou sintética, fornecedora de um ou mais nutrientes de plantas; o corretivo constitui produto de natureza inorgânica, orgânica ou ambas, usado para melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, isoladas ou cumulativamente, ou como meio para o crescimento de plantas, não tendo em conta seu valor como fertilizante, além de não produzir característica prejudicial ao solo e aos vegetais. O biofertilizante é um produto que contém princípio ativo ou agente orgânico, isento de substâncias agrotóxicas, capaz de atuar, direta ou indiretamente, sobre o todo ou parte das plantas cultivadas, elevando a sua produtividade, sem ter em conta o seu valor hormonal ou estimulante.

Ainda segundo o Decreto n° 4.954, de 14 de janeiro de 2004, os fertilizantes orgânicos são classificados em: fertilizante orgânico simples: produto natural de origem vegetal ou animal, contendo um ou mais nutrientes de plantas; fertilizante orgânico misto: produto de natureza orgânica, resultante da mistura de dois ou mais fertilizantes orgânicos simples, contendo um ou mais nutrientes de plantas; fertilizante orgânico composto: produto obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matéria-prima de origem industrial, urbana ou rural, animal ou vegetal, isoladas ou misturadas, podendo ser enriquecido de nutrientes minerais, princípio ativo ou agente capaz de melhorar suas características físicas, químicas ou biológicas; e fertilizante organomineral: produto resultante da mistura física ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos.

Conforme a Instrução Normativa n° 25, de 23 de julho de 2009, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2009) os fertilizantes orgânicos simples, mistos, compostos e organominerais são classificados de acordo com as matérias-primas utilizadas na sua produção, em Classe “A”: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza matéria-prima de origem vegetal, animal ou de processamentos da agroindústria, onde não sejam utilizados, no processo, metais pesados tóxicos, elementos ou compostos orgânicos sintéticos potencialmente tóxicos, resultando em produto de utilização segura na agricultura; Classe “B”, fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza matéria-prima oriunda de processamento da atividade industrial

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ou da agroindústria, onde metais pesados tóxicos, elementos ou compostos orgânicos sintéticos potencialmente tóxicos são utilizados no processo, resultando em produto de utilização segura na agricultura; Classe “C”, constituído pelo fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza qualquer quantidade de matéria-prima oriunda de resíduos sólidos domiciliares, resultando em produto de utilização segura na agricultura; e Classe “D” que é o fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza qualquer quantidade de matéria-prima oriunda do tratamento de despejos sanitários, resultando em produto de utilização segura na agricultura.

Segundo o Decreto n° 4.954, de 14 de janeiro de 2004, nutriente é o elemento essencial ou benéfico para o crescimento e produção dos vegetais, subdividido em macronutrientes primários: Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K); macronutrientes secundários: Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), e Enxofre (S); micronutrientes: Boro (B), Cloro (Cl), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Molibidênio (Mo), Zinco (Zn), Cobalto (Co), Silício (Si) e outros elementos que a pesquisa científica vier a definir.

Para os fertilizantes orgânicos compostos para aplicação no solo, produtos sólidos, as garantias serão no mínimo de acordo com as constantes na Instrução Normativa n° 25, de 23 de julho de 2009, que fornece as especificações dos fertilizantes orgânicos compostos (com valores expressos em base seca, umidade determinada a 65°C. Nos produtos para aplicação no solo com macronutrientes secundários, micronutrientes ou ambos, estes, serão indicados na sua forma elementar, com as garantias em percentagem mássica por se tratar de um produto sólido, em acordo também com a Instrução Normativa n° 25, de 23 de julho de 2009.

Os fertilizantes para serem produzidos, comercializados ou importados, deverão atender aos limites estabelecidos na Instrução Normativa n° 27, de 05 de junho de 2006, no que se refere às concentrações máximas admitidas para agentes fitotóxicos, patogênicos ao homem, animais e plantas, metais pesados tóxicos, pragas e ervas daninhas.

No presente trabalho, teve-se como objetivo geral monitorar o processo de compostagem para a formação do composto orgânico gerado na Central de Tratamentos de Resíduos da Caturrita – CTRC, no município de Santa Maria, RS e qualificar o composto orgânico gerado nas leiras de compostagem.

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MATERIAL E MÉTODOS LOCALIZAÇÃO DO EXPERIMENTO

O trabalho de compostagem foi realizado na Central de Tratamento de Resíduos da Caturrita – CTRC, localizada na Estrada Geral da Boca do Monte, bairro Caturrita na cidade de Santa Maria, RS, utilizando-se da matéria orgânica gerada pela população da cidade de Santa Maria e macro-região de Santa Maria.

O clima da região, segundo a classificação de Köeppen, é do tipo Cfa (subtropical úmido). A precipitação pluviométrica média anual é de 1700mm, temperatura média anual de 19,2°C, com média mínima de 9,3°C, em junho e média máxima de 24,7°, em janeiro.

O resíduo sólido urbano que chega à Central de Tratamento da Caturrita – CTRC é pesado em uma balança rodoviária, e descarregado no pátio de recepção e levado para a moega na usina de triagem, de onde é encaminhado para duas esteiras de triagem, onde trabalham aproximadamente 30 funcionários (Figura 1a), divididos em dois turnos, somando um total de 14 horas de trabalho de segunda-feira a sábado. Na usina de triagem é feita a separação do material, e o material destinado à compostagem é triturado (Figura 1b).

Figura 1 - Funcionários fazendo a separação dos resíduos (a) e triturador de matéria

orgânica (b) na Central de Tratamentos de Resíduos da Caturrita– CTRC, Santa Maria, RS, 2000.

ENSAIO DE COMPOSTAGEM

Instruções de trabalhoTendo em vista que a compostagem é aplicada somente à matéria

orgânica, os resíduos urbanos que chegam a CTRC passam por um processo de triagem para separação dos materiais recicláveis. A triagem foi feita em duas

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esteiras e o material orgânico era retirado por dois funcionários. Após a triagem, o material orgânico era levado por outra esteira mecânica para o triturador e permanecia depositado em um “bag”, que quando cheio, for levado até a usina de compostagem por uma retroescavadeira.

Ficha técnica para o controle das pilhas de compostagemPara auxiliar no trabalho de controle e manter um histórico de temperatura,

reviramento e pulverização das leiras, foi elaborada uma ficha técnica para uso do funcionário, no dia a dia.

Formação das pilhas de compostagemNa usina de compostagem o material é acumulado, até formar uma leira

de cerca de 1,8m de altura e 2,0m de diâmetro.

Verificação da pilha de compostagemCom a leira formada, foi feito o controle e monitoramento dos seguintes

fatores: temperatura, aeração, pulverização e umidade. A temperatura foi monitorada de segunda-feira a sexta-feira com um termômetro bimetálico de haste metálica de 1,5 metros de comprimento, marca Manotécnica, que é colocado no topo, no centro e na base da leira. Não foi possível acompanhar a temperatura das leiras durante os 3 primeiros meses, por falta de instrumental. A umidade foi controlada manualmente e foi feita a pulverização, em caso de baixa umidade, com água nas leiras 2 e 3 e com PNC (produto não conforme originado em indústria de refrigerante) na leira 4. O armazenamento da água pluvial e do PNC é feito em contêineres. O reviramento, executado 3 vezes por semana, foi feito com o uso da retroescavadeira e teve como objetivo baixar a temperatura e aerar a leira.

As duas primeiras leiras formadas foram pulverizadas unicamente com PNC, enquanto que a outra formada posteriormente foi pulverizada com água pluvial.

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Limpeza das pilhas de compostagemAlém da separação do material orgânico feita nas esteiras, era realizada

uma limpeza manual da matéria orgânica contida no “bag” antes dela ser incorporada à leira. Esse processo era feito com a finalidade de evitar ao máximo a presença de materiais recicláveis nas leiras.

Peneiramento e análise do compostoApós o processo de compostagem estar completo, foi feito o peneiramento

manual das leiras e o composto formado foi analisado pela empresa Química Pura Laboratório de Análises e Consultoria Ltda, Porto Alegre, RS. A peneira foi construída com uma malha de 4mm.

Estudo da legislaçãoFoi estudado a legislação vigente, junto ao Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento para que os parâmetros exigidos pela Lei n° 6.894 de 16 de dezembro de 1980, regulamentada pelo Decreto n° 4.954, de 14 de janeiro de 2004 e representados na forma das Instruções Normativas n° 27, de 05 de junho de 2006 e N° 25, de 23 de julho de 2009 pudessem ser usados como base para as análises feitas no composto orgânico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

TRIAGEM E SEPARAÇÃO DO MATERIAL ORGÂNICO

Os dois funcionários destinados a separar a matéria orgânica dos outros materiais têm como função separar mais 4 tipos de material, o que dificulta a qualidade da matéria orgânica que chega até o triturador. Além disso, o ritmo de trabalho na esteira é intenso e o funcionário deve retirar a maior quantidade possível de material, nem que para isso deva ser feita uma nova separação depois.

Por isso, depois do material ser separado e triturado, é levado até o galpão da compostagem, onde passa por um processo de limpeza manual dos resíduos orgânicos antes de serem incorporados à leira e com isso se ganha na qualidade do produto. Pode-se observar na figura 3 a diferença entre as leiras 1 e 2. Na primeira, é possível observar a grande quantidade de material reciclável presente na leira, e em quantidade muito menor na leira 2.

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Figura 3 - À direita a leira 1 observa-se a presença de material reciclado. À

esquerda limpeza manual da leira e remoção do material reciclado.

A leira demora em média 15 dias para estar completamente formada (Figura 4).

Figura 4 - Leiras formadas.

MONITORAMENTO DAS LEIRAS

Após a sua formação, inicia-se então o monitoramento de alguns dos fatores que afetam a atividade microbiana, são eles: umidade, temperatura e aeração. O reviramento das leiras (Figura 5a) é feito baseado nas condições de temperatura (Figura 5b) e umidade. A pulverização das leiras 2 e 3 foi feita com PNC armazenado em contêiner (Figura 5c) e a pulverização da leira 4 foi feita com água pluvial (Figura 5d).

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Figura 5a - Aeração da leira. 5b - Controle da temperatura. 5c - PNC. 5d - Pulverização com água pluvial.

Quando as leiras estão prontas, são abertas para secar e depois é feito o seu peneiramento (Figura 6).

Figura 6 - Peneiramento do composto.

Depois de peneirado, o produto da compostagem recebe o nome de composto orgânico (Figura 7), e fica armazenado nas dependências da empresa.

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Figura 7 - Composto Orgânico.

Na figura 8, é mostrado a variação da temperatura durante o período do estudo (julho a outubro de 2009), o qual foi comparado com a curva padrão da variação da temperatura do resíduo durante o processo de compostagem.

Figura 8 - Variação da temperatura das leiras no período de 10 de julho a 9 de outubro de 2009.

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Figura 9 - Curva padrão da variação da temperatura do resíduo durante o processo de compostagem (KIEHL, 2004).

Nota-se que diferentemente da curva padrão (Figura 9), verificou-se nas leiras picos e quedas bruscas de temperatura. Isso ocorreu principalmente pela má operação do processo, ocasionada pelo não reviramento da pilha de compostagem, uma vez que a retroescavadeira necessária no processo estava sendo utilizada em outros serviços, e pelo fato da empresa ter sido vendida no início de agosto de 2009 e não haver funcionários trabalhando por 15 dias. Isto justifica o atraso na formação do composto orgânico, que chegou a demorar 5 meses para ficar pronto.

Os resultados obtidos nas análises dos parâmetros indicativos da qualidade do composto produzido (leiras 2, 3 e 4) são mostrados na tabela 1.

Por se tratar de um produto obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico controlado, a partir de matéria-prima oriunda de resíduos domiciliares, resultando em produto de utilização segura na agricultura e podendo ser enriquecido de nutrientes minerais, princípio ativo ou agente capaz de melhorar suas características físicas, químicas ou biológicas, o composto foi enquadrado como Fertilizante Orgânico Composto Classe C.

O composto orgânico atingiu as garantias mínimas para as especifica-ções dos fertilizantes orgânicos compostos, com exceção do parâmetro umi-dade, quando comparado com os parâmetros da Instrução Normativa n°27, de 05 de junho de 2006 e da Instrução Normativa n° 25, de 23 de julho de 2009.

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Tabela 1 - Parâmetros indicativos da qualidade do composto produzido das leiras 2, 3 e 4.

Parâmetros UnidadeLeira Limites

mínimosLimites

máximos2 3 4

Umidade % 50,33 57,90 54,01 --- 50

N total g /N/100g 1,44 1,11 1,34 0,5 ---*Carbono orgânico g/ C/100g 16,9 24,0 22,5 15 ---

*CTC mmolc/Kg 739 610 718 --- ---

pH --- 8,67 8,47 8,41 6,5 ---

Relação C/N --- 5,85 9,10 7,71 --- 20

Relação CTC/C --- 43,7 25,4 31,9 --- ---

Cálcio g/100g 1,30 1,47 1,30 1,0 ---

Magnésio g/100g 0,220 0,198 0,204 1,0 ---

Enxofre mg S/Kg ND ND ND 10.000 ---

Boro mg/Kg 24,5 18,1 21,6 300 ---

Cloro (Cloreto) g/ Cl/100g 0,868 0,652 0,597 0,1 ---

Cobalto mg/Kg 1,73 1,23 1,56 50 ---

Cobre mg/Kg 39,6 24,6 31,1 500 ---

Ferro g/100g 0,383 0,254 0,302 0,2 ---

Manganês mg/Kg 134 135 138 500 ---

Molibdênio mg/Kg 0,247 0,205 0,445 50 ---

Níquel mg/Kg 3,71 3,48 4,45 50 70

Silício g /Si/100g 5,24 4,69 4,97 1,0 ---

Zinco mg/Kg 66,8 57,3 57,8 1.000 ---

Arsênio mg/Kg ND ND ND --- 20

Cádmio mg/Kg ND ND ND --- 3,0

Chumbo mg/Kg 9,40 4,70 6,67 --- 150

Cromo mg/Kg 5,19 4,09 10,9 --- 200

Mercúrio mg/Kg ND ND ND --- 1,0

Selênio (mg/kg) _ _ _ _ 80Coliformes termotolerantes (NMP/g) 48 31 11 _ 1.000Ovos viáveis de Helmintos

(n° em 4g ST) _ _ _ _ 1,0

Salmonella sp UFC/10g Ausente Ausente Ausente ---Ausência em 10g de MS

ND = não detectado, NMP= Número Mais Provável, MS= massa sólida, ST=.Sólidos Totais, UFC= Unidade Formadora de Colônia

Nota: as amostras das leiras 2, 3 e 4 que foram para análise ainda não estavam completamente secas e foram enviadas ainda durante o processo de

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secagem. Isso ocorreu porque as chuvas do período de secagem foram constantes, não permitindo uma secagem completa, ocasionando um erro no parâmetro umidade, que muito provavelmente ficaram bastante acima do verdadeiro.

Os macronutrientes secundários e micronutrientes ficaram abaixo dos limites mínimos, exceto Cálcio, Ferro e Silício. Porém, a Instrução Normativa n° 25, de 23 de julho de 2009 permite o uso de agentes quelantes complexantes orgânicos em fertilizantes orgânicos, com a finalidade de enquadrar o composto nas normas.

Os limites máximos de contaminantes admitidos em fertilizantes orgânicos foram todos respeitados. No entanto, não foram analisados na amostra Selênio e Ovos viáveis de Helmintos.

Com base nos resultados, não é possível afirmar que a pulverização com PNC (produto não conforme originado em indústria de refrigerante) (leiras 2 e 3) tenha influenciado em algum parâmetro da amostra. Avaliava-se a hipótese do PNC influenciar no tempo da compostagem, porém devido aos problemas ocorridos no decorrer do processo, não foi possível verificar-se a veracidade desta hipótese. Na maioria dos parâmetros não houve diferença significativa entre as leiras, porém o número mais provável de coliformes termotolerantes por grama de massa seca ficou um pouco mais baixo na leira pulverizada apenas com água do que nas pulverizadas com PNC, assim como as quantidades do micronutriente molibdênio e do contaminante cromo ficaram mais altas.

CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que com a pulverização de PNC nas leiras não se verificou uma diferença significativa nos parâmetros analisados quando comparada com a pulverização das leiras feita com água.

O composto orgânico gerado na Central de Tratamento de Resíduos da Caturrita - CTRC não atendeu 100% do que é exigido por lei, porém atinge as garantias mínimas para as especificações dos fertilizantes orgânicos compostos e não ultrapassa os limites máximos de contaminantes admitidos em fertilizantes orgânicos.

O desejo para a continuidade de processo de compostagem é visível na empresa, que tem como responsabilidade a correta disposição dos resíduos. Apesar do processo de compostagem da empresa não ser de grande escala, a retirada do descarte desse material no aterro é vista como um benefício extremamente positivo para o meio ambiente.

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REFERÊNCIAS

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