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COMPORTAMENTO SÓCIO-ESPACIAL DE PESSOAS EM MOVIMENTO: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO CALÇADÃO DA AVENIDA ENGENHEIRO ROBERTO FREIRE, NATAL-RN. Orientadora: Profa Dra Gleice Elali Aluna mestranda: Lis Barros Vilaça Natal, março de 2008.

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COMPORTAMENTO SÓCIO-ESPACIAL DE PESSOAS EM MOVIMENTO: UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO NO CALÇADÃO DA AVENIDA ENGENHEIRO ROBERTO

FREIRE, NATAL-RN.

Orientadora: Profa Dra Gleice ElaliAluna mestranda: Lis Barros Vilaça

Natal, março de 2008.

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Comportamento sócio-espacial de pessoas em movimento: um estudo exploratório no calçadão da Avenida Engenheiro

Roberto Freire, Natal-RN.

Dissertação apresentada por Lis Barros Vilaça, ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências de defesa.

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“Um passo à frente, e você já não está mais no mesmo lugar” (Chico Science, 1996)

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Dedicatória

Dedico esse trabalho aos usuários do calçadão da Avenida Engenheiro Roberto Freire e às pessoas que se locomovem pelas ruas dando vida às cidades. Além disso, também

dedico esse trabalho aos seres corajosos que habitam o terreno pantanoso da Psicologia Ambiental. Corajosos, pois acreditam ser possível fazer pesquisa no Brasil e, ainda por

cima, em áreas interdisciplinares.

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Agradecimentos

Brindo à casa(Universidade Federal do Rio Grande do Nortee ao Conselho Nacional de Pesquisa e Qualidade) Brindo à vida (Deus)Meus amores (Minha orientadora Dra. Gleice Elali,ao chefe do Grupo Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente Dr. José Pinheiro e meus demais amigos) Minha família.

(Letra da música Mar de Gente. O Rappa, 2003)

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Sumário

Lista de Siglas ________________________________________________________ 9

Lista de figuras e tabelas ______________________________________________ 10

Resumo_____________________________________________________________ 13

Abstract ____________________________________________________________ 14

A pré-trajetória: descrevendo antigos caminhos ___________________________ 15

O ponto de partida ___________________________________________________ 16

A trajetória _________________________________________________________ 19

1. Primeiros passos: o espaço extra-muros ________________________________ 21

1.1. A calçada no cotidiano da rua ______________________________________ 21

1.2. A calçada: múltiplos olhares ________________________________________ 23

1.3. O espaço urbano dos sentidos _______________________________________ 24

1.4. O espaço público e suas dualidades __________________________________ 25

1.5. Calçadão: uma calçada diferente ____________________________________ 27

2. Mosaico de pedras portuguesas _______________________________________ 33

2.1. Psicologia Ambiental e espaço urbano ________________________________ 33

2.2. A Psicologia Ecológica de Barker ____________________________________ 36

2.3. Comportamento sócio-espacial humano ______________________________ 38

2.3.1 Espaço Pessoal __________________________________________________ 39

2.3.2 Territorialidade _________________________________________________ 40

2.3.3 Privacidade _____________________________________________________ 41

2.3.4 Aglomeração ____________________________________________________ 43

2.4 Percepção Ambiental ______________________________________________ 44

2.5 Mobilidade ______________________________________________________ 48

3. O calçadão ________________________________________________________ 53

3.1 O nascimento _____________________________________________________ 53

3.2 Delimitações______________________________________________________ 55

3.3 O entorno ________________________________________________________ 56

3.4 Os componentes físicos _____________________________________________ 57

4. Percurso metodológico ______________________________________________ 62

4.1. Observação empírica e construção de diário de campo __________________ 63

4.2 Documentação fotográfica __________________________________________ 64

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4.3 Análise de Behavior Setting _________________________________________ 64

4.4 Estrevista com os usuários __________________________________________ 66

4.4.1 O desafio da categorização ________________________________________ 66

4.4.2. Elaboração do roteiro de entrevista ________________________________ 67

4.4.3 Perguntando ao usuário___________________________________________ 69

5. Vários ritmos: apreciação dos resultados _______________________________ 72

5.1 ____________________________________________ 72 Observando a realidade

5.2 Analisando Behavior settings no local _________________________________ 73

5.2.1 Delimitação de sinomorfos: buscando as similaridades _________________ 74

5.2.2 De sinomorfos a behavior settings __________________________________ 75

5.2.3 Formulação de perguntas a serem respondidas a partir do viés teórico ___ 76

5.2.4 Estudo das interdependências (Buscando BSs) _______________________ 79

5.2.5 Delimitação na quantidade de atividades/categorias ___________________ 88

5.2.6 Verificação de genótipos ambientais ________________________________ 89

5.3 Ouvindo os usuários: apresentação dos dados e discussões preliminares ____ 90

5.3.1 Perfil dos usuários entrevistados ___________________________________ 92

5.3.2 O que pensam sobre o CAERF _____________________________________ 94

5.3.3 Opções de uso ___________________________________________________ 96

5.3.4 Percebendo as demais atividades __________________________________ 101

5.3.5 Usuário sozinho versus usuário acompanhado _______________________ 105

5.3.6 Disputa pelo espaço: ciclistas e pedestres ___________________________ 107

5.3.7 Percebendo modificações no CAERF_______________________________ 108

5.3.8 Acessos, percursos e estratégias de locomoção _______________________ 109

5.3.9 A atenção______________________________________________________ 114

5.3.10 Vantagens e desvantagens no uso do CAERF _______________________ 118

5.3.11 Usuários sugerem alterações para o CAERF _______________________ 122

5.3.12 Motivação ____________________________________________________ 123

6. Enxergando o referencial teórico no objeto de estudo____________________ 125

6.1 Quem são, de onde vêm e o que pensam ______________________________ 125

6.2 Coleguismo de minuto: mobilidade gerando parcerias ao longo do tempo __ 128

6.3 Sentir-se seguro: a mobilidade como segurança _______________________ 129

6.4 Sozinho, acompanhado e a percepção nas/das diferentes velocidades______ 130

6.5 O balé e a previsão de comportamentos ______________________________ 133

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6.6 As alterações promovidas pela mobilidade____________________________ 136

6.7 Bicicletas, cães, paradas de ônibus e estresse ambiental _________________ 140

6.8 Considerações sobre conceitos do CSEH no estado de mobilidade ________ 143

6.9 Behavior setting e mobilidade_______________________________________ 148

Considerações finais: a cotidianidade do movimento ______________________ 151

Linha de chegada ___________________________________________________ 153

Apêndice___________________________________________________________ 157

Bibliografia ________________________________________________________ 182

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Lista de Siglas

BOPE = Batalhão de Operações Policiais e Especiais

BS = Behavior Setting

CAERF = Calçadão da Avenida Engenheiro Roberto Freire

CPFEM = Companhia de Polícia Feminina.

CSEH = Comportamento Sócio-Espacial Humano

MuSA = Morfologia e usos da Arquitetura

PPGAU = Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

PPGPSI = Programa de Pós-graduação em Psicologia

RN = Rio Grande do Norte

ROCAM = Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas

UFRN = Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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Lista de Figuras e Tabelas Figuras:1 - Calçadão em Villach (Áustria), p.29

2 - Calçadão em Viena (Áustria), p. 29

3 - Calçadão na cidade de Nice (França), p.29

4 - Calçadão em Lisboa (Portugal), p.29

5 - Calçadão em Barcelona (Espanha), p. 29

6 - Calçadão da rua XV Novembro, Curitiba-PR, p.30

7 - Calçadão no Vale do Anhangabaú, São Paulo-SP, p.30

8 - Calçadão da Av. Boa Viagem, Recife-PE, p.31

9 - Calçadão de Copacabana, Rio de Janeiro-RJ, p.31

10 - Calçadão da Praia dos Artistas, Natal-RN, p. 31

11 - Calçadão e ciclovia da Via Costeira, Natal-RN, p. 31

12 - Calçadão do Bosque dos Namorados, Parque das Dunas, Natal-RN, p.32

13 - Calçadão da Av. Engenheiro Roberto Freire, Natal-RN, p. 32

14 - Diagrama de integração temática do comportamento sócio-espacial humano, p. 42

15 - Estrada de Ponta Negra (1995), p. 53

16 - Av. Eng. Roberto Freire após a construção do calçadão, p. 53

17 - Localização do CAERF, p. 54

18 - Mapa de localização do CAERF, p. 55

19 - Mapa com localização das duas fases do CAERF, p. 56

20 - Mapa de uso do solo do entorno do CAERF, p. 57

21 - Abrigo de ônibus em frente à uma pizzaria, p. 59

22 - Exemplar de bancos do calçadão, p.59

23 - Exemplar de placa e lixeira do calçadão, p.60

24 - Rampa com sinalização para portadores de condições especiais de locomoção, p. 60

25 - Vista geral do CAERF, p. 61

26 - Esquema de percurso multimetodológico escolhido, p. 63

27 - Categorias representativas do CAERF, viés observacional, p. 73

28 - Principais sinomorfos no CAERF, p. 74

29 - Behavior settings advindos dos sinomorfos observados no CAERF, p. 88

30 - Categorias pelo viés teórico, p. 90

31 - Quadro numérico de entrevistas por categoria, p. 91

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32 - Sensações dos respondentes sobre o CAERF, p.95

33 - Uso dos bancos para ginástica e vendedor de coco, p. 103

34 - Passarela no CAERF, p.111

35 - Aglomeração nas paradas, p.113

36 - Vantagens no uso do CAERF, p.119

37 - Proximidade com o Parque das Dunas e local de encontro, p.119

38 - Desvantagens no uso do CAERF, p.121

39 - Desvantagens citadas pelos usuários, p.121

40 - Affordance: alongamento nos bancos e no poste, p. 123

41 - Esquema do foco de atenção (concentrado na atividade), p 137

42 - Esquema do foco de atenção (disperso), p. 138

43 - Ausência de ciclovia gera disputas, p. 141

44 - Usos polêmicos no CAERF, p.142

45 - Mecanismo de manutenção do setting, p. 149

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Tabelas:

1 - Descrição dos sinomorfos experimentias, com variação do tipo de atividade, p. 77

2 - Comparação de sinomorfos, p. 79

3 - Comparativo de sinomorfos de “utilização dos bancos” do CAERF, p. 80

4 - Interdependência entre sinomorfos da tabela 3, p. 81

5 - Descrição dos sinomorfos experimentais de “Esperar ônibus em horários próximos e

em paradas diferentes”, p. 82

6 - Interdependência dos sinomorfos da tabela 5, p. 82

7 - Descrição de sinomorfos experimentais em “ Esperar ônibus em horários próximos

e na mesma paradas”, p.83

8 - Interdependência dos sinomorfos da tabela 7, p. 83

9 - Interdependência dos sinomorfos em “ Esperar ônibus em horários próximos e na

mesma paradas ”, p. 84

10 - Interdependência dos sinomorfos da tabela 9, p. 84

11 - Interdependência dos sinomorfos em “Esperar ônibus em horários diferentes e na

mesma paradas ”, p. 85

12 - Descrição dos sinomorfos em“ Esperar ônibus”, variando a quantidade de pessoas

presentes, p. 86

13 - Descrição para comparação de sinomorfos “dupla” e “grupo” dentro do ponto focal

de uma mesma atividade (caminhar), p. 86

14 - Interdependência dos sinomorfos “dupla” e “grupo” dentro do ponto focal de uma

mesma atividade (caminhar), p. 87

15 - Análise de genótipos ambientais, p. 88

16 - Quadro de entrevistas, p. 93

17 - Atividades percebidas pelo grupo dos caminhantes, p. 101

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Resumo

A interação homem-ambiente, foco dos estudos da Psicologia Ambiental, pressupõe que o espaço influencia o comportamento, e vice-versa. Apesar da importância dessa reciprocidade dinâmica, são poucos os trabalhos que tratam da condição de mobilidade do homem ao experimentar o espaço. O presente estudo exploratório investiga o comportamento sócio espacial de usuários do calçadão da Avenida Engenheiro Roberto Freire, um dos poucos locais para prática de atividades físicas em Natal, no qual a maioria dos freqüentadores encontra-se em intenso e contínuo movimento. Foram algumas perguntas de partida: De que modo o indivíduo percebe o ambiente enquanto se movimenta? Como as relações recíprocas pessoa-ambiente ocorrem no local, à luz do contexto de mobilidade? Quais as principais dificuldades e facilidades na interação homem-ambiente sob essa condição? A busca por respostas teve como base conceitos do comportamento sócio-espacial humano - especialmente espaço pessoal, territorialidade, densidade e aglomeração – e contribuições da Psicologia Ecológica de Barker. Como o espaço físico em questão é multifacetado e que a percepção desses cenários é regida por múltiplos sentidos e estímulos, foi definido um percurso multimetodológico: (i) observação participante inloco; (ii) identificação dos principais behavior settings na área; (iii) categorização das atividades do local; (iv) aplicação de entrevista semi-estruturada; (v) registro de imagens e (vi) construção de um diário da pesquisadora. A percepção de si mesmo e dos outros em movimento pelo ambiente, imersos numa intrincada rede de inter-ações, faz com que as pessoas desenvolvam diversas estratégias de mobilidade com o intuito de garantir a satisfação em suas atividades, muitas vezes de modo inconsciente. Sendo o CAERF um equipamento público-urbano largamente utilizado pela população natalense, estima-se contribuir para a reflexão sobre o efeito da mobilidade na percepção ambiental de seus usuários, fornecendo sugestões para futuros trabalhos nesse campo de conhecimento, tanto naquele local específico quanto no estudo de locais semelhantes.

Palavras-chaves: Comportamento sócio-espacial humano; Behavior Setting; Percepção Ambiental; Espaço urbano; Mobilidade.

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Abstract

People-environment interaction, focus of Environmental Psychology studies, presupposes that space influences behavior and vice-versa. Despite of the importance of dynamic reciprocity, there are a few works that treat the mobility condition of the people experimenting space. The present study investigates environmental perception of users of the Engenheiro Roberto Freire Avenue sidewalk, one of the few places in Natal for physical activities practicing, where most people are in intense and continuous movement. A few questions for this study where made: In what way does the individual realize the environment while he is moving? How do reciprocal man-environment relations occur there, according to a mobility context? What are the main difficulties and easiness in man-environment interaction under this condition? The search for these answers is based on concepts of social-spatial human behavior - especially personal space, territoriality, density and crowding – and contributions of Barker´s Ecologycal Psychology. Considering that the physical space in this case is multifaceted and the perception of theses scenarios is governed by multiples senses and stimuli, it was defined a multi-methodological route: (i) observation participative in loco; (ii) identification of the main behavior settings at the area; (iii) categorization of the activities occurring at the place; (iv) application of a semi-structured interview; (v) images registered and (vi) construction of the researcher’s log. The perception of oneself and others in movement in the environment, immersed in a intricate web of inter-actions, makes people develop mobility strategies, many times unconsciously, with the aim of ensuring satisfaction in its activities. Since the Eng. Roberto Freire Avenue sidewalk is an equipment public-urban largely used by the population of Natal, the reflection of the mobility effectiveness in the users environmental perception is expected, providing suggestions for future studies in this field of knowledge.

Keywords: Social-spatial human behavior; Behavior Setting; Environmental Perception; Urban Space; Mobility.

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A calçada por si só não é nada. É uma abstração. Ela só significa alguma coisa junto com os edifícios e os outros usos limítrofes a ela (…). Ao pensar uma cidade, o que lhe vêm à cabeça? Suas ruas para comportar veículos, e suas calçadas – a parte das ruas que cabe aos pedestres. Se as ruas de uma cidade parecerem interessantes, a cidade parecerá interessante. (Jane Jacobs, 2000, p. 29)

A pré-trajetória: descrevendo antigos caminhos

Todo percurso tem um ponto de partida e um primeiro passo. Todo tema que nos

propomos a investigar sugere a necessidade de conduzir caminhos, traçando metas e

ultrapassando obstáculos que, porventura, venham a comprometer nosso ritmo. O ponta-

pé inicial, em geral, nasce de uma idéia que, quase sempre, amadureceu com o tempo.

Entendendo que todo estudo é fruto de uma trajetória pessoal de escolha, optei,

nesse primeiro momento, por introduzir a temática através da contextualização de seu

surgimento.

Ainda durante a formação como arquiteta-urbanista, interessei-me por estudar

outras fundamentações da área, em função do meu contato com o Laboratório de

Morfologia e Usos da Arquitetura (MuSA), do Departamento de Arquitetura e

Urbanismo da UFRN, coordenado pela Profª Drª Edja Trigueiro. Nessa mesma época,

entrei em contato com a obra de Jacobs1 (2000), o que também me abriu novos

caminhos à compreensão do ambiente construído. Tendo freqüentado por dois semestres

o Programa de Pós-graduação de Arquitetura e Urbanismo (PPGAU-UFRN) como

aluna especial, e já tendo a intenção de desenvolver meus estudos de pós-graduação

1 Em “Morte e vida de grandes cidades”, escrito em 1961, Jane Jacobs critica o Urbanismo Moderno norte-americano através de leituras do seu cotidiano. No livro, há um capítulo dedicados ao uso das calçadas sob três contextos: segurança, contato e integração das crianças.

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nesta área, percebi que necessitava aprofundar o contato com a Psicologia e o estudo do

comportamento humano. Lançando mão da iniciativa interdisciplinar peculiar à

Psicologia Ambiental – e já tendo contato anterior com a área através das disciplinas da

graduação e pós-graduação em Arquitetura –, ingressei no Programa de Pós-graduação

da Psicologia (PPGPSI) da UFRN.

Atualmente, meu interesse dirige-se, mais especificamente, ao comportamento

sócio-espacial de pessoas em movimento, estudo que se insere no foco da disciplina de

Psicologia Ambiental, ou seja, o relacionamento bidirecional homem-ambiente, inter-

ação que pressupõe que o espaço influencia o comportamento, ao mesmo tempo em que

a pessoa interfere no espaço, de modo que ambos estabelecem entre si um intercâmbio

dinâmico.

O ponto de partida (Apresentação do tema)

No estudo das ações recíprocas pessoa-ambiente, apesar da evidente importância

do ser humano vivenciar e explorar o espaço, ainda são poucas as investigações na área

de percepção ambiental que abordam a pessoa em movimento. Tendo em vista essa

necessidade, a seguir são apresentados os elementos trabalhados nessa dissertação a fim

de abordar essa temática.

Entendendo que as relações recíprocas pessoa-ambiente acontecem no espaço

físico mediante mobilidade (Günther, 2003), e que o modo como o usuário

percorre/experimenta esse espaço resulta em diversas formas de interações ecológicas, o

tema proposto para este estudo é investigar, de modo exploratório, o comportamento

sócio-espacial de usuários do calçadão da Avenida Engenheiro Roberto Freire

(CAERF).

Localizado no bairro de Capim Macio - Natal-RN, o calçadão da Avenida

Engenheiro Roberto Freire é largamente utilizado pela população para caminhar, correr,

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pedalar, passear com animais domésticos, namorar, entre outras coisas. Ou seja, trata-se

de um espaço no qual a maioria dos freqüentadores se encontra em intenso e contínuo

movimento. Além das práticas que visam à atividade física, ainda há pessoas que

utilizam o espaço para namorar, conversar ou simplesmente aguardar a chegada dos

ônibus nas paradas, dispostas ao longo da via. Sendo freqüentadora do local, constatei

uma característica peculiar nesse tipo de espaço: a sua intensa utilização por pessoas

que se encontram em estado de deslocamento, nas mais diferentes formas de mobilidade

humana.

Além de fatores de caráter pessoal, a escolha do CAERF como local de

pesquisa visa contribuir para a ampliação do conhecimento dos fenômenos sensíveis da

percepção ambiental em um contexto de mobilidade intensa, tendo rebatimentos tanto

na realidade local, quanto na compreensão do comportamento sócio-espacial humano

em situações semelhantes.

Devido ao contínuo uso diário e à observação assistemática do local, passados

cinco anos desde sua inauguração, mais do que a proposta arquitetônico-urbanística em

si, chamaram minha atenção os modos como os freqüentadores utilizam esse local e as

diversas formas de mobilidade por eles desenvolvidas.

Minha vivência como usuária do CAERF tem mostrado que as atividades ali

desenvolvidas recorrem a diversos modos de interação pessoa-ambiente e que, na

grande maioria dessas atividades, as pessoas encontram-se em estado de mobilidade.

Portanto, pensando o ambiente como um elemento atrelado a um sistema social

(Ittelson, Proshansky, Rivlin e Winkel, 1974), seja ele natural ou construído (Fisher,

Bell & Baum, 1984) e tendo em vista que seus usuários estão em movimento, o estudo

tem como objetivo geral refletir sobre o comportamento sócio-espacial e a percepção

desses usuários, bem como as estratégias utilizadas por eles a fim de conseguir realizar

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as atividades pretendidas. De modo geral, espero provocar a reflexão sobre o efeito da

mobilidade na percepção ambiental e no comportamento de seus usuários.

Os objetivos específicos desse estudo visam explorar as implicações e

influências na percepção ambiental dos usuários do CAERF, tendo por base a possível

implicação do estado de mobilidade nas interações humano-ambientais, em resposta a

perguntas como: De que modo o indivíduo percebe o ambiente enquanto se movimenta?

Como as interações pessoa-ambiente ocorrem no local, à luz do contexto de

mobilidade? Quais as principais dificuldades e facilidades na interação homem-

ambiente sob essa condição? Como convivem as diversas velocidades de deslocamento

ali presentes?

Além disso, é preciso enfatizar que, embora se tenha constatado a existência de

estudos na área de mobilidade, geralmente os mesmos visam compreender a diferença

de percepção entre o portador de condições físicas especiais e o não-portador. Este, no

entanto, não é foco dessa dissertação, que se propõe a discutir a percepção espacial

diante das diferentes velocidades que a pessoa utiliza para se locomover na área em

estudo.

A partir do estudo realizado, espero compreender alguns elementos que

influenciam o comportamento dos usuários do CAERF durante a realização de

atividades no local, bem como fornecer reflexões sobre o papel da mobilidade humana

nesses tipos de espaços públicos e sua influência em relação à percepção das pessoas,

através da identificação e descrição das características ambientais e comportamentais

relacionadas a essa mobilidade. O ganho advindo desse exercício poderá vir a fornecer

sugestões para futuros trabalhos nesse campo de conhecimento, evidenciando o papel da

mobilidade como elemento a ser considerado nos estudos do comportamento sócio-

espacial humano (CSEH), além de fornecer subsídios para a promoção de aplicações

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urbanísticas e projetuais ecologicamente mais coerentes, tanto para a re-estruturação do

CAERF, quanto para a criação de outros espaços destinados à prática de atividades

físicas (e usos semelhantes), em cuja concepção seja valorizado o modo como as

pessoas utilizam esses locais e se locomovem neles.

A trajetória

Visando os objetivos anteriormente definidos e diante das expectativas expostas,

foi preciso traçar a trajetória que conduziria aos resultados esperados. Para tanto,

estruturou-se o presente estudo em capítulos temáticos, tendo sempre em vista o

norteamento da proposta inicial.

No primeiro capítulo, estão dispostos os contados iniciais com o local de estudo,

bem como a contextualização do elemento “calçada” dentro da ótica cotidiana das ruas,

com seus múltiplos olhares, visando criar referências concretas para a compreensão da

temática que será apresentada no segundo capítulo. Por se tratar de uma investigação

embasada na percepção ambiental, os primeiros passos já nos remetem à calçada como

um espaço dos sentidos humanos, de sensações mais diversas tão diversas que, por

vezes, apontam contradições, dualidades. A categorização do calçadão, como variação

da calçada vem logo em seguida.

Visando embasar a pesquisa em andamento, a fundamentação teórica é o mote

do segundo capítulo, tendo em vista a necessidade de referenciais teórico-conceituais

para dar prosseguimento à caminhada. Os temas abordados têm como ponto de partida

sua contextualização do espaço urbano a partir do ponto de vista da Psicologia

Ambiental e, mais especificamente, da Psicologia Ecológica, adentrando, pouco a pouco

no comportamento sócio-espacial humano, percepção ambiental e mobilidade.

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No terceiro capítulo, a área onde foi desenvolvido o trabalho é descrita de forma

mais detalhada. A área de estudo reapresenta-se para o leitor, com mapas e fotos feitas

em várias épocas.

O quarto capítulo explica o percurso metodológico adotado e a opção pelo uso

de multimétodos, contendo especificações sobre as ferramentas adotadas: observação

empírica assistemática, construção de diário de campo, documentação fotográfica, os

meandros temáticos da dupla pré-categorização e a elaboração do roteiro de entrevistas

implementado com os usuários apontados pelas categorizações anteriores.

Os resultados começam a ser apresentados no quinto capítulo, no qual os dados

coletados são expostos e descritos, bem como os ganhos advindos das três fases do

trabalho de campo: a observação, a documentação (escrita e fotográfica) e as entrevistas

com os usuários.

O sexto capítulo está reservado à discussão dos dados, ou seja, ao esforço de

confronto/rebatimento das informações coletadas com a realidade observada e a teoria

anteriormente apresentada. Seguem a ele, as conclusões do estudo.

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1. Primeiros passos: o espaço extra-muros

Antes de tecer comentários sobre o elemento urbano em estudo – o calçadão -, é

imprescindível que se tenha em mente o seu papel sócio-físico no conjunto da cidade.

Quando se faz uso de uma calçada qualquer, é preciso lembrar que a mesma encontra-se

às margens de uma rua, delimitada pelas vias, paredes das edificações contíguas e/ou

seus muros. Os ambientes intra-muros são as áreas privadas (ou semi-privadas), cujo

uso se restringe aos indivíduos ou grupos que ali se abrigam. A rua, por sua vez,

comunica-se com outras ruas, a fim de desempenhar seu papel de “artéria” na qual as

pessoas circulam, proporcionando o fluxo da cidade. Seu funcionamento depende disso.

As ruas são, portanto, elementos indispensáveis ao tecido urbano, sendo

impossível conceber uma cidade sem elas (Santos, 1988, p. 91). Tal entendimento nos

direciona à compreensão da calçada como um espaço semelhante e complementar à

elas, ou seja, enquanto a rua per se garante, ou deveria garantir, a circulação dos

veículos (carros, carroças, ônibus etc.), a calçada garante a circulação dos pedestres, ou

seja, das pessoas – pelo menos nas grandes cidades ocidentais contemporâneas.

1.1 A Calçada no cotidiano da rua

Tendo em vista que esse trabalho tem por finalidade o estudo exploratório do

comportamento das pessoas em um local público e que, ao mesmo tempo, engloba um

aspecto peculiar de sua vida diária, explicitam-se, nesta seção, considerações sobre a

calçada – anexada à rua – como local de convivência pública e comportamento

cotidiano, tal qual compreendido pela Psicologia Ecológica (Barker, 1968; Wicker,

1979).

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A leitura acerca do nascimento das ruas, bem como sua função na sociedade e

para com o deslocamento humano, sugere sua compreensão como um fenômeno

atrelado ao nascimento do espaço público. Isto é, um dos lugares onde é possível o

exercício da vida pública cotidiana. O espaço público, no qual ocorre a livre circulação

de pessoas, pode ser compreendido em sua relação com espaço privado, no qual a

circulação é mais restrita. Tendo em conta uma análise das condições de existência

humana (Arendt, 1991), o espaço privado é aquele em que se realizam as práticas de

manutenção da própria vida, por exemplo, o cuidado com o próprio corpo. Por outro

lado, o espaço público é o lugar do exercício da liberdade humana, no esforço de estar

em coletividade, deslocar-se pelo espaço e realizar trocas com o meio e com as outras

pessoas. Por vezes, é no espaço público que cuidamos do nosso corpo, mediante

atividade física.

Enquanto a produção das condições de vida se fazia no interior da casa, e na rua

se praticava a política e o comércio, a distinção simbólica entre público e privado tinha

uma correspondência com a realidade física da casa e da rua (Da Matta, 1997, p 23).

Com a modernidade, as transformações tecnológicas e culturais têm contribuído para

mudanças, fazendo com que muito da prática política e comercial se exerça pela mídia,

que penetra no espaço intimo da casa, e não no espaço comum representado pela rua.

Mesmo assim, ainda é na rua que se realiza grande parte das práticas de manutenção da

vida: deslocar-se entre dois pontos, circular, festejar, protestar, entre outras coisas.

A rua é o espaço de mobilidade do cotidiano nas cidades, sendo compreendida

pela via de circulação de carros e pela calçada, que garante a circulação de pedestres,

tornando-se, portanto, um espaço legitimamente público (Yázigi, 2000, p. 341).

Ao longo do tempo, a rua passou a ter uma conotação individualizadora, a qual

se reflete, por exemplo, em expressões populares como “vá para o olho da rua”, ou

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“estar na rua da amargura”, que expressam o isolamento de uma pessoa de um

determinado grupo (Cabral, 2005). Não obstante todas essas transformações, a rua

preserva algumas de suas características de espaço público e que comporta o que sai do

comum, sendo, portanto, o espaço onde se realizam “acontecimentos” como

movimentos sociais e festas populares. Dentro desse caráter, e para cada uma dessas

atividades, as pessoas imprimem um ritmo, determinando um tipo de deslocamento.

No âmbito da rua como local de encontro, surge a prática de atividade física nos

espaços livres de calçadas e praças, nos quais os modos de deslocamento variam

conforme a necessidade e a escolha das pessoas envolvidas. Em cada uma dessas

escolhas, imprime-se uma forma de mobilidade e um olhar ao redor.

1.2 A calçada: múltiplos olhares

O exercício de percorrer ruas e calçadas requer um “saber andar” por seus

caminhos, traduzir a solidez das edificações, discernir trajetos (Matias & Vilaça, 2006).

Além disso, usar tais ambientes e entendê-los como públicos significa compartilhá-los

com outras pessoas e atribuir significados tanto aos espaços, quanto a seus usuários.

Desde o seu surgimento até os dias atuais, a rua tem mediado as diversas formas

de interação social. Mais do que mero cenário, ela possui papel ativo nessas interações.

As formas de convivência entre os seus usuários e entre esses usuários e o espaço da

rua, de algum modo reflete a coexistência dos diferentes significados atribuídos a ela. A

busca por interações faz com que, enquanto espaço voltado à coletividade, a rua

possibilite o atendimento dessas necessidades interpessoais e pessoa-ambiente. Na base

dessa interação social, encontram-se as convenções sociais, o modo de agir em público

e a maleabilidade de opiniões. O mediador dessa interação é o próprio espaço-rua.

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Não é à toa, portanto, que a rua assuma diferentes papéis, dependendo das

atividades que nela venham a acontecer. Em paralelo à história da rua, também é

possível tecer múltiplos olhares sobre o ambiente-calçada, uma vez que cada usuário

pode atribuir a ele diferentes funções, dependendo de sua necessidade.

Enquanto elemento de circulação humana, a calçada surgiu como espaço para

vendedores, vitrine para prostitutas, local de panfletagem e distribuição de brindes para

propaganda, espaço para lazer, faixa de trânsito entre dois lugares, lugar de encontro,

ponto de espera, pista de corrida, ciclovia, entre outros. Além disso, um desdobramento

da pluralidade dessas visões que mudam constantemente faz da calçada um possível

cenário popular para passeatas políticas. Em comum, para ocorrer de modo satisfatório,

a maioria dessas funções possui o viés da mobilidade, ou seja, dependem da

possibilidade das pessoas se deslocarem no espaço.

No âmbito urbano, a existência dos múltiplos olhares sobre o espaço das

calçadas exige, também, a compreensão de variáveis como o tamanho da cidade, a

porção do elemento em questão com relação à cidade na qual está inserido, o perfil de

seus usuários etc. Por outro lado, no âmbito humano, esses olhares enfocam a percepção

ambiental humana, pois para dar sentido ao uso que fazemos do espaço é preciso, antes

de tudo, ter como atribuir esse sentido. É aí que se tem a necessidade de lançar um olhar

sobre o que nos cerca. Estamos falando de percepção ambiental.

1.3 O espaço urbano dos sentidos

São diversas as maneiras de dar sentido à rua e às calçadas que percorremos, a

maioria das quais advém do sentido que damos ao seu uso. As ruas, e nelas as calçadas,

são o palco privilegiado onde se desenvolvem os dramas e representações da sociedade

(Santos, 1988, p. 91). Os espaços urbanos podem ser vistos por uma perspectiva

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geográfica, em seus aspectos materiais, como espaços físicos, ou como inseridos em

uma atmosfera de atribuição de valor significativo (Gieryn, 2000). Essa última

característica, principalmente, advém da percepção ambiental e faz com que muitos

antropólogos, sociólogos, urbanistas, psicólogos e outros profissionais se dediquem ao

seu estudo. O espaço físico é, portanto, multifacetado, de modo que essa percepção não

somente passa por múltiplos sentidos, como registra múltiplos estímulos

simultaneamente (Günther, 2003). Ao longo do tempo, a rua, que nasceu como um lugar

de passagem, transformou-se num misto de significados diversos e muitas vezes

opostos, tendo em vista que todo espaço físico assume ora função de cenário, ora de

personagem participante. A calçada, atrelada à rua, seguiu os mesmos passos e, por ser

contraditória, às vezes torna-se território de ninguém, outras vezes de todos (Santos,

1988, p. 91).

1.4 O Espaço público e suas dualidades

A cidade é uma construção social (Ramirez, 1998)

Constatar o uso comum da rua e da calçada implica em agregar grupos diversos

num mesmo espaço urbano. Trata-se, portanto, de um chamado à coletividade, à vida

em grupos, o que implica na possibilidade de, ao mesmo tempo, suprir a necessidade de

quem transita e a função de quem comercializa, por exemplo. Quando a rua se

coletiviza, ela se desindividualiza e torna-se espaço de todos. Sob esse ponto de vista, as

regras que orientam a conduta humana tendem a tornar-se menos claras, de modo que as

pessoas podem diversificar ainda mais os usos de um espaço, individualizando suas

funções. Em um local que, ao mesmo tempo, é de todos e não é de ninguém, cada um

tenta tirar o maior proveito possível, focando sua atenção nas próprias necessidades e

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esquecendo que outras pessoas utilizam o local. Provavelmente a depredação provém

daí.

Na medida em que a calçada se torna o lugar onde se radicaliza a pluralização

das experiências e, ao mesmo tempo, onde se encena o encontro das diferenças,

descobrimos que não se deve pensar na calçada sem levar em conta as suas diversas

representações sociais, pois são elas que nos contam sobre a vida do homem em seu

cotidiano (Matias & Vilaça, 2006).

A rua e a calçada fazem parte do imaginário social (Cabral, 2005). Por isso, é

preciso considerar a compreensão do seu trajeto na semântica social: as modalidades de

relações interpessoais que constituem o uso do espaço sócio-físico desse espaço

público, as regras de sociabilidade que lhe são peculiares e como os seus sentidos se

infundem sobre os seus usuários, produzindo percepções variadas, criando personagens,

identidades e encontros. Isso implica dizer que a rua e a calçada são compreendidas

como espaço simbólico e que o seu uso acontece sob influência dessa característica. O

estado de mobilidade compartilha dessa dimensão semântica, pois faz parte da

estruturação de como se utiliza o espaço. As relações interpessoais que se realizam em

determinado local são modeladas pelos significados construídos historicamente para as

possibilidades de estar no espaço público, entendidas aqui como programas

comportamentais, modos de se vestir, de andar, de falar, e até mesmo um conjunto de

regras morais para orientar os costumes.

As possibilidades de estar nesse espaço público também dão lugar a formas de

ser nesse mesmo espaço, porque os sentidos que a recriam como objeto da realidade

social compõem personagens ou tipos, que habitam o imaginário social (Matias &

Vilaça, 2006). O desafio é refletir esse estar no espaço público e este ser no espaço

público, levando em conta o contexto do percorrer o espaço público, ou melhor

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dizendo, percorrer a calçada, mais especificamente. Além disso, os sentidos exercem o

seu efeito sobre as pessoas que, por algum motivo, fazem do espaço ao seu redor um

ambiente importante de seu tempo vivido. A calçada, assim, passa a ser entendida como

uma construção social a partir de uma realidade física. Utilizar a calçada e vive-la

ultrapassa o nível de percebê-la simplesmente como espaço geográfico. É, acima de

tudo, enxergá-la como esfera de ação social capaz de despertar emoções e reações (Da

Matta, 1997, p. 15). No entanto, não podemos perder de vista nosso horizonte de

análise, no qual a realidade física também é reconstruída a partir do sentido social que

vai ao encontro dos conceitos do comportamento sócio-espacial humano. Trata-se da

inter-relação homem-ambiente, no caso, usuário-calçada.

A calçada é o elemento que, na contemporaneidade, garante que as pessoas

utilizem as ruas. “É como um chão de fractais que, sendo uma fração de algo maior,

consegue refletir a imagem do todo” (Yázigi, 2000, p. 167). Assim, ela subsiste à

ameaça constante dos automóveis, contrapondo a vulnerabilidade dos encontros

públicos à sociabilidade ideal da boa convivência. O homem é “pedestre por natureza”

(Yázigi, 2000, p. 340), pois necessita transitar pelo espaço para percebê-lo, conquistá-lo

e dominá-lo. Essas ações são suas estratégias para perceber e lidar com o que o cerca,

ou seja, irão garantir a satisfação no uso desse espaço e sucesso na atividade que

escolheu desempenhar nele. E isso irá ocorrer enquanto esse homem estiver se

deslocando.

É imersa nessa realidade que encontramos a figura do calçadão.

1.5 Calçadão: uma calçada diferente

O código de trânsito brasileiro não define a palavra calçadão, mas conceitua

calçada como parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada

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à circulação de automóveis e outros veículos de maior porte, reservada ao trânsito de

pedestres (Gold, 2003, p.1).

Para efeitos desse trabalho, calçadão é uma faixa da via de circulação

pavimentada, mais larga do que uma calçada habitual, por onde as pessoas podem

trafegar em diferentes velocidades e experimentar várias formas de mobilidade. Em

geral, no Brasil, o calçadão é usado para práticas de atividades físicas e comerciais, e

sua manutenção fica a cargo do Sistema Nacional de Trânsito e da prefeitura da cidade

(Gold, 2003, p.1).

Gold (2003, p. 16) também aponta nove fatores determinantes da qualidade de

calçadas: largura mínima de 1,5m; pavimentação que gere fluidez, conforto e segurança;

largura entre o tráfego veicular e o de pedestres; inclinação de no máximo 5%; presença

de rampas de acesso a portadores de condições especiais de locomoção; colocação

adequada de obstáculos – como placas de sinalização – nos passeios, quando necessário;

iluminação adequada; drenagem; e mobiliário urbano (incluindo vegetação).

A presença de calçadões pode ser observada em diversas cidades. Muitos deles

foram projetados para a prática da atividade física (e a população os utiliza dessa

maneira), outros visam lazer/contemplação e/ou simplesmente tráfego de pedestres. Em

Villach, na Áustria, o calçadão é desenhado com paralelepípedo e mosaicos (Figura 1),

a velocidade das práticas desportivas é limitada e há placas com indicação para “não

correr”. No mesmo país, em Viena, há uma pista exclusiva para corredores, separada da

ciclovia (Figura 2). Em Nice, na França, faixas de locomoção foram pintadas ao longo

do calçadão para facilitar o fluxo das pessoas em suas diferentes velocidades de

deslocamento (Figura 3). Em Lisboa, Portugal, há um calçadão às margens do Rio Tejo

(Figura 4). Em Barcelona, na Espanha, há mão e contra mão para o trânsito de bicicletas

(Figura 5).

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Figura 1. Calçadão em Villach (Áustria) Figura 2. Calçadão em Viena (Áustria) FONTE: Rubia Vilaça (2006) FONTE: Rubia Vilaça (2006)

Figura 3. Calçadão em Nice (França) Figura 4. Calçadão em Lisboa (Portugal) FONTE: Rubia Vilaça (2006) FONTE: Rubia Vilaça (2006)

Figura 5. Calçadão em Barcelona (Espanha)

FONTE: Rubia Vilaça (2006)

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O primeiro calçadão público do Brasil foi o da Rua das Flores, como é chamado

o trecho destinado aos pedestres da rua XV de Novembro, construído no início da

década de 70, na cidade de Curitiba-PR (Figura 6). A cidade de São Paulo-SP também

possui uma grande quantidade de ruas para pedestres na região central, dentre os quais

se destaca o calçadão do Vale do Anhangabaú (Figura 7). Muitas cidades à beira-mar,

como Recife-PE e Rio de Janeiro-RJ, possuem calçadões que seguem a orla marítima

(Figuras 8 e 9). Em outras cidades, como Curitiba-PR, os calçadões adentram em

parques urbanos. Nos centros de algumas cidades, antigas ruas são pavimentadas de

forma a ceder espaços aos pedestres, em detrimento dos automóveis, facilitando a

circulação por aqueles lugares.

Figura 6. Calçadão da rua XV Novembro, Curitiba - PR

Figura 7. Calçadão no Vale do Anhangabaú, São Paulo-SP

FONTE: http://www.parana.pr.gov.br/ FONTE: http://www.vivaocentro.org.br

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Figura 8. Calçadão da Av. Boa Viagem, Recife-PE

Figura 9. Calçadão de Copacabana, Rio de Janeiro-RJ

FONTE: Acervo da autora FONTE: http://www.rio.rj.gov.br/

Em Natal-RN, o calçadão da Avenida João Pessoa, no centro da cidade, foi a

primeira iniciativa de implementação de calçadões na cidade. cujo intuito era centrado

na circulação visando o comércio. Atualmente, dentre os calçadões da cidade de Natal,

alguns são destinados à práticas recreativas e desportivas, destacando-se: o da Praia dos

Artistas, Avenida Dinarte Mariz (Via Costeira – a qual, inclusive, conta com ciclovia), o

do Bosque dos Namorados e o da Av. Eng. Roberto Freire (Figuras 10 a 13). Destes,

observa-se que o último, CAERF, é o mais utilizado pela população, principalmente no

que tange a prática de exercícios, configurando-se como local de estudo dessa

dissertação.

Figura 10. Calçadão da Praia dos Artistas, Natal-RN

Figura 11. Calçadão e ciclovia da Via Costeira, Natal-RN

FONTE: Acervo da autoraFONTE: http://www.natal.rn.gov.br/

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Figura 13. Calçadão da Av. Engenheiro Roberto Freire, Natal-RN

Figura 12. Calçadão do Bosque dos Namorados, Parque das Dunas, Natal-RN

FONTE: Acervo da autoraFONTE: http://www.natal.rn.gov.br/

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2. Mosaico de pedras portuguesas

O presente trabalho, cujo objetivo é refletir sobre a percepção sócio-ambiental e

os comportamentos utilizados pelos usuários do CAERF para conseguir realizar as

atividades pretendidas, insere-se na ótica da Psicologia Ambiental. O estudo partilha da

abordagem da Psicologia Ecológica (Barker, 1968), visto que valoriza a análise da vida

em seu cotidiano real, obtendo conhecimentos a partir da análise de behavior settings. O

enfoque no estudo do comportamento sócio-espacial humano mediante mobilidade, e a

reflexão acerca da percepção ambiental dos usuários para avaliar as interações que

ocorrem no local de estudo solicitam esclarecimentos temáticos, justificando os itens a

seguir.

Tendo em vista essa opção teórica, serão explorados, como conhecimento

essencial à realização desse trabalho, os seguintes temas: Psicologia Ambiental e espaço

urbano, Psicologia Ecológica (com enfoque na análise de behavior settings),

comportamento sócio-espacial humano, percepção ambiental e mobilidade.

2.1 Psicologia Ambiental e espaço urbano

Ittelson, Proshansky, Rivlin e Winkel (1974) definem a Psicologia Ambiental

como sendo uma área de interesse pelo intercâmbio dinâmico entre homem e meio

ambiente. Em revisão a esse texto, quase trinta anos depois, Rivlin (2003) voltou a

discutir os pressupostos dessa disciplina, inserindo atualizações e reforçando seu caráter

multidisciplinar a partir de pesquisas mais recentes. Trata-se, portanto, de uma jovem

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disciplina em expansão, na qual as pessoas são vistas como componentes do ambiente,

que possuem qualidades ambientais e características psicológicas individuais (Ittelson &

al., 1974, p.2).

Inter-ação. Essa é a palavra de ordem dessa disciplina que teve os estudos de

Kurt Lewin (1946) como pioneiros, e que tem como premissa a busca pela

aplicabilidade dos estudos realizados (Valera, 1996). Sob esse ponto de vista, o

comportamento é resultado de uma força interna, presente na pessoa executora da ação,

e de uma força externa ambiental, que afetaria o comportamento através das percepções

(Lewin, 1936 citado por Moser & Weiss, 2003, p.249). A relação recíproca entre pessoa

e ambiente também é a base da Psicologia ecológica, uma vez que ela estuda as

interdependências entre as ações instrumentais dos indivíduos e os locais onde os

comportamentos acontecem (Wicker, 1979).

A Psicologia fez seus primeiros estudos sobre cognição e percepção dentro do

laboratório, enquanto a Psicologia Ambiental volta-se para a visão mais aplicável,

através dos experimentos in loco (Gifford, 1997). Essa característica da área exige que

se reconheça a complexidade da disciplina e suas interfaces.

Em relação ao tema deste estudo, busca-se a interface entre a Psicologia

Ambiental e os estudos urbanos, uma vez que a calçada se conecta, ativamente, dentro

da composição da cidade como um labirinto com múltiplos significados (Lee, 1977).

Tal entendimento reforça a compreensão da Psicologia Ambiental como campo de

conhecimento intimamente relacionado a outros, em função de suas raízes internas à

Psicologia e externas à ela, relacionando-se com áreas como Geografia, Ecologia,

Arquitetura e Urbanismo (Bonnes & Secchiaroli, 1995). Essa interdisciplinaridade é tão

marcante, que Sundstrom, Bell, Busby e Asmus (1996) classificam os estudos da

Psicologia Ambiental agrupando-os em função dos espaços físicos estudados. É

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justamente esse aspecto que permite que se estabeleçam conexões entre os autores da

área e outras referências complementares.

Partindo dessa perspectiva, Sundstrom, Bell, Busby e Asmus (1996) apontam a

teoria do arousal como uma das seis teorias mais recorrentes da Psicologia Ambiental.

Tal teoria discute as influências de fatores ambientais, tais como propagação do som e

temperatura, sobre o comportamento humano, sendo possível encontrar conexões entre

os trabalhos desenvolvidos por psicólogos como Anderson, Mullingan, Goodman e

Rezen (1989) e idéias defendidas pela urbanista Jane Jacobs (1961). Os estudos dos

primeiros investigam relações entre locais com alta temperatura e a probabilidade de

ocorrência da violência. Jacobs (1961) também estabelece esse tipo de relação variável

ambiental-comportamento humano. Embora não recorra ao embasamento da Psicologia

Ambiental, a autora dedica um capítulo inteiro de seu livro à descrição de

comportamentos observados em calçadas, mostrando que, por exemplo, ruas desertas

favorecem a marginalidade, ruas movimentadas promovem uma vigilância coletiva.

Além disso, Jacobs defende que as pessoas costumam desenvolver mecanismos de

regulação da segurança nas calçadas, relacionando esse aspecto à presença de muitas

pessoas em um espaço pequeno ou estreitamento do passeio. Essa idéia, também

conectada aos conceitos de territorialidade e aglomeração, foi posteriormente explicada

a partir do mecanismo de regulação das agressões, mencionado por Valera e Vidal

(1998).

No contexto da Psicologia Ambiental, o presente trabalho ressalta duas

importantes contribuições, a da Psicologia Ecológica e a dos estudos do

Comportamento Sócio-Espacial Humano, marcos teóricos dessa dissertação, que serão

melhores explorados nos próximos itens, seguidas de explanação sobre o conceito de

mobilidade utilizado.

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2.2 A Psicologia Ecológica de Barker

Saindo da pesquisa psicológica experimental - formulada em laboratório - e

dedicando-se ao estudo da vida cotidiana, em 1968, Barker publicou o livro Ecological

Psychology, no qual apresentava as características do comportamento de 100 crianças

em suas condições naturais, constatando que deveria haver outras influências geradoras

de comportamentos e ações nessas crianças, além das apontadas pela Psicologia

individual (Carneiro & Bindé, 2001). Esse tipo de trabalho conduziu Barker (1968) à

criação do conceito de behavior setting (BS): unidades ou conjuntos naturais,

delimitados no tempo e no espaço, nos quais certos comportamentos e/ou ações

acontecem sempre de forma semelhante.

Encarados como sistemas ativos, organizados, auto-regulados, e não meramente como fundo passivo onde as pessoas desempenham ações que escolheram livremente. (Wicker, 1979, p.11)

Quando Barker (1968) identificava as atividades que tinham potencial para

configurarem behavior settings, ele denominava essas ações de sinomorfos e,

posteriormente, os testava. Esse mesmo procedimento foi metodologicamente realizado

para o presente trabalho, com posterior identificação dos principais behavior settings

presentes na área e com o intuito de delimitar o universo das atividades que convivem

no CAERF.

Barker e Wright (1955) descreveram cinco dimensões mensuráveis dentro um

behavior setting: tempo de ocupação (que pode ser ocasional ou periódico); penetração

(hierarquia das posições que os componentes humanos ocupam dentro do BS); padrões

de ação (organizados nos programas do setting); mecanismos comportamentais

(padrões de ação, medidos em relação a sua freqüência, duração e intensidade); e,

riqueza (quantidade de comportamentos possíveis).

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Em trabalho complementar ao anterior, Schoggen (1973) demonstrou que, para

um acontecimento da vida diária ser considerado BS, é preciso: localização geográfica;

delimitação temporal; elementos físicos e humanos participantes; modelos de ação

(atividade educacional, de administração, de alimentação, de saúde física etc);

programa2 a ser seguido; mecanismos de comportamento; atribuição de papéis aos

participantes do setting (espectador, convidado etc); pressão para que determinados

componentes humanos participem ou não; independência com relação a outros

sinomorfos presentes no local; propiciar satisfação às necessidades dos participantes

(Schoggen, 1973).

Wicker (1979) indica que, para garantir o funcionamento de seus programas, os

BSs possuem sistemas auto-reguladores, ou seja, ao detectarem um problema de

funcionamento no BS, seus componentes atuam na tentativa de tornar a seqüência de

atividades do setting exeqüível, mediante o acionamento de mecanismos para a

regulação do programa. Para isso, os componentes envolvidos podem atuar como

mecanismo sensor (ou seja, identificando a fonte do problema) ou mecanismo executor

(lidando diretamente com a resolução do mesmo). Nessa última situação, o(s)

componente(s) responsável(is) pela resolução do problema poderá(ão) utilizar dois tipos

de mecanismos de manutenção: o contra-desviante (modificação da situação inadequada

através de ajustes que permitem a continuidade do programa, mas sem que ocorra a

exclusão de qualquer elemento); e o veto (eliminação de algum elemento indesejado a

fim de solucionar o problema).

Conforme identificado por Barker (1968), alguns desses problemas são

ocasionados pela ausência de sinomorfia, definida como a condição de adequação entre

componentes humanos e não-humanos em função do programa do behavior setting, de

2 Barker utiliza a denominação programa para designar as seqüências prescritas de interações ou transações entre pessoas e objetos, consideradas apropriadas para um determinado local.

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modo a possibilitar plena realização das atividades previstas, garantindo facilidade para

o desempenho das ações (Elali, 2002). Para haver sinomorfia é preciso, portanto, que as

ações das pessoas dentro do espaço estejam coordenadas com as características físicas

do setting e com os objetos existentes nele (Wicker, 1979, p.21). Quando a

correspondência entre ação e elementos disponíveis não ocorre, diz-se que ocorre uma

ausência de sinomorfia.

Em algumas ocasiões, para delimitar os BSs existentes em uma área é preciso

verificar as relações de interdependência entre eles, a fim de analisar modelos sócio-

espaciais e funcionamento de ambientes mais amplos (Pinheiro, 1986; Elali, 2002). Isso

ocorre em função da atribuição de valores a sete escalas de interdependência, as quais se

relacionam a: comportamentos, líderes, espaço/usos de áreas comuns, contigüidade

temporal, componentes humanos, componentes não-humanos e mecanismos

comportamentais.

No último capítulo de sua obra, Barker (1968) discute, ainda, a noção de

genótipo ambiental. Segundo ele, dois behavior settings pertencem à mesma “família”,

ou seja, têm o mesmo genótipo, quando possuem grande similaridade entre si, de modo

que seja possível permutar elementos entre eles sem modificar o programa. Isso envolve

semelhanças em termos de: estrutura dos programas; tempo para desenvolver as

atividades correlacionadas; itens transferíveis e não transferíveis de um BS para outro;

tempo diário de funcionamento que é ocupado na manutenção dos itens não

transferíveis, frente ao tempo das atividades comuns.

2.3 Comportamento sócio espacial humano

A diferenciação espacial se desenvolve em níveis crescentes de complexidade, relacionando-se com formação de conceitos, linguagem, pensamento e desempenho de papéis sociais. Nosso relacionamento com o mundo à nossa volta tem por condição o domínio do espaço e a identificação de suas relações. (Lee, 1977)

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Analisando o uso do espaço como elemento da comunicação interpessoal, Hall

(1977, p.108) definiu quatro zonas espaciais que servem para regular as interações

sociais: a distância íntima, na qual se pode sentir o outro através dos cinco sentidos; a

distância pessoal, na qual as pessoas podem se tocar estendendo os braços; a distância

social, utilizada em comunicações públicas; e a distância pública, cuja conduta é mais

formal e distante. Uma condição peculiar da conduta espacial é que, em geral, ela se dá

sem verbalizações, ou seja, através da linguagem não-verbal, isto é, com

comportamentos não expressos por palavras, o que envolve desde o tom de voz ou o

jeito como as palavras são ditas, até olhares e expressões faciais, gestos que

acompanham o discurso, postura corporal, distância física que as pessoas mantêm umas

das outras, o que inclui ainda roupas, acessórios e características físicas dos indivíduos.

Tudo isso pode acontecer sem que o a pessoa se dê conta de seu comportamento dentro

do espaço.

De modo geral, os estudos do comportamento sócio-espacial humano propõem a

análise da comunicação interpessoal e o dos mediadores da inter-ação pessoa-ambiente

(Pinheiro & Elali, 1998, p. 2), com ênfase para alguns conceitos-chave na área, dentre

os quais considera-se indispensáveis ao presente estudo: espaço pessoal, territorialidade,

privacidade e aglomeração.

2.3.1 Espaço Pessoal

Definido por Sommer (1973) como uma área com limites invisíveis cercando o

corpo de uma pessoa, na qual intrusos não são admitidos sem permissão, o espaço

pessoal é uma zona emocionalmente carregada em torno do corpo de cada pessoa, às

vezes descrita como uma bolha de sabão (não necessariamente esférica), e que ajuda a

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regular o espaçamento entre os indivíduos (Sommer, 1973). O autor esclarece que o

espaço pessoal é portátil, ou seja, acompanha o indivíduo em todas as situações, mesmo

quando está em movimento. O tamanho e a forma que essa área assume a cada

momento estão relacionados à história individual, às suas condições pessoais na ocasião

e à situação na qual se encontra.

O conceito de espaço pessoal assemelha-se com a noção de Hall (1977) para

distância íntima. Além disso, segundo Gifford (1997), ele teria duas funções básicas:

auto-proteção e comunicação/regulação da intimidade.

2.3.2 Territorialidade

Territorialidade é a associação contínua de uma pessoa - ou pessoas - com um

lugar específico, a respeito do qual experimenta-se sentimento de posse e exclusividade

no uso, cuja definição implica na necessidade de personalização e defesa do espaço

contra possíveis invasões (Sommer, 1974). Esse controle do acesso humano-espacial,

envolve, necessariamente, um espaço físico bem delimitado e marcado de alguma

maneira, com cercas e muros, ou mesmo com objetos facilmente percebidos como

pertencentes ao indivíduo. Por sua vez, essa defesa – que pode ser feita por uma ou mais

pessoas – parte da premissa de que a área é vista como exclusiva (Pastalan, 1982).

Sommer (1973) chama a atenção para as diferenças entre as noções de território

e espaço pessoal:

O espaço pessoal é portátil, acompanha a pessoa, enquanto o território é

relativamente estacionário.

As fronteiras do território são marcadas de algum modo, ao passo que as do

espaço pessoal são invisíveis.

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O espaço pessoal tem o corpo da pessoa em seu centro, o território não

necessariamente.

No espaço público, Lyman e Scott (1967, citado por Valera & Vidal, 1998, p.

138) classificam os territórios em dois tipos: corporais, nos quais o próprio corpo é o

elemento a ser preservado de toques, agressões e intervenções dos mais diversos tipos; e

os de interação, que correspondem a áreas físicas temporariamente controladas por uma

pessoa ou um grupo.

2.3.3 Privacidade

Compreendido como controle seletivo do acesso a si mesmo ou ao seu grupo

(Altman, 1975), o conceito de privacidade é definido por Newell (1994) como a

regulação da separação física, psicológica, informacional e funcional entre o indivíduo e

os demais. Regulando as fronteiras interpessoais, a privacidade possui um caráter

dinâmico e representa a contínua mudança das forças sociais de aproximação e

afastamento entre o eu e o outro, que se desenvolve a partir de três dimensões: pessoal

(eu comigo mesmo), interpessoal (existência de outras pessoas e a possibilidade de

relacionar-se com elas) e ambiental (o ambiente modifica as percepções pessoais e

delimita parte das opções comportamentais disponíveis – a partir da interação entre três

fatores: contexto cultural, sócio-físico e o estágio no ciclo-vital individual e familiar).

Discutindo o conceito, Valera e Vidal (1998) indicam que a noção de

privacidade pode ser analisada a partir de quatro perspectivas (Figura 14): o modo como

é entendida (regulação da interação com os outros), o modo como se manifesta (que

varia da solidão à intimidade), a quantidade de pessoas envolvidas (indivíduo ou grupo),

e o modo para ser alcançada (através de múltiplos mecanismos para regulá-la). Para os

autores, qualquer que sejam as vertentes assumidas, o objetivo da pessoa ou grupo é o

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mesmo: equilibrar o nível de privacidade desejada com a obtida. Assim, quando o

obtido é inferior ao desejado, a pessoa passa a se sentir como se houvesse “perdido a

privacidade”. Por outro lado, quando o obtido é muito maior do que o desejado, a

pessoa se sente “excessivamente isolada”.

Esse tipo de entendimento evidencia a grande correlação entre os vários

conceitos aqui apresentados (espaço pessoal, territorialidade, privacidade e

aglomeração), os quais, na realidade, muitas vezes se apresentam mesclados, de maneira

que sua separação pode ser entendida como artificial, ou simplesmente didática

ressalva que também corroboro, embora, para efeito de escrita, também tenha optado

pela definição de diferentes itens.

PRIVACIDADE

Regulação da interação Múltiplos mecanismos

Pode serentendida

Pode seralcançada

Verb

al

Não

ver

bal

Am

bien

tal

Sóc

io-c

ultu

ral

Pode seManis-festar

Pode se

referir

Solidão

Isolamento

Anonimato

Reserva

Uma pessoa

Um grupoIntimidade

Com famíliaOu amigos

Através

Contato com os outros

Informaçõesaos outros Objetivo:

EquilíbrioPrivacidade de

XPrivacidade ob

sejada

tida

Figura 14. Diagrama de integração temática do comportamento sócio- espacial humano, tendo a privacidade como base.

FONTE: resumo produzido pela autora, a partir de Sergi Valera & Vidal(1998)

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Nesse sentido, se considerarmos que a privacidade é um conceito tipo “guarda-

chuva”3, quase todas as ameaças de intrusão exemplificadas a partir de noções como

espaço pessoal e territorialidade também podem ser entendidas como ameaças à quebra

da privacidade.

Ressalte-se, ainda, que as condições de privacidade podem ser materializadas

pelo design e mediadas pelos elementos construtivos de uma edificação

(paredes/portas/janelas) encarados como fatores que propiciam a criação ou eliminação

de canais de contato entre pessoas, principalmente se facilmente controlados pelas

mesmas. Na ausência de barreiras físicas, as normas sociais (mais ou menos explícitas)

ajudam a limitar/regular o contato desejável com outras pessoas.

2.3.4 Aglomeração

O último conceito aqui comentado, a título de contextualizar o direcionamento

dessa proposta, é o de aglomeração, estado psicológico que provoca o estresse e que

pode motivar a pessoa a retirar-se de uma situação percebida subjetivamente como

densa. Estar numa situação de aglomeração subentende que o indivíduo sente-se

observado (Tuan, 1983, p. 69), e suas necessidades de espaço ultrapassam a quantidade

de espaço efetivamente disponível, não podendo, portanto, ser entendida como

equivalente à densidade física (número de pessoas por unidade de espaço). Em situações

de aglomeração indesejada obrigatória - como ônibus, elevadores e filas - comportamo-

nos de modo a compensar essa proximidade.

De acordo com Pinheiro e Elali, (1998), o termo aglomeração, corresponde a

crowding em inglês, ou hacinamiento em espanhol, em português sendo também

3 O termo “conceito guarda-chuva” é usualmente definido como um conceito que possui diversas dimensões e, quase sempre, abarca muitos outros conceitos dentro dele.

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traduzido como ajuntamento, superpovoamento (Almeida, 1981) e apinhamento (Hall,

1977; Tuan, 1980).

2.4 Percepção Ambiental

Quando alguém diz que vai “pensar” um espaço para alguma função ou situação,

na realidade está se referindo a buscar condições para possibilitar um comportamento

humano harmonioso. Nesse sentido, a Psicologia Ambiental fundamenta-se no

entendimento de que, do mesmo modo que modificamos o espaço à nossa volta, ele

também influencia o modo como agimos dentro dele. Ou seja, o ambiente é elemento

integrante das ações humanas. Não é um mero coadjuvante das situações, mas um

elemento que a integra e participa contínua e ativamente das mesmas.

Nesse contexto, o entendimento do modo como se percebe o ambiente ganha

especial interesse, uma vez que a troca pessoa-ambiente é mediada pelos processos

perceptivos. Nesse trabalho, o estudo da Percepção Ambiental tem como objetivo traçar

linhas gerais sobre esse tema, procurando inserir o contexto da mobilidade em sua

compreensão.

Antes de mais nada, é preciso ressaltar que Percepção é diferente de Sensação.

Sensação é o resultado da ativação de receptores sensoriais do organismo, da

intervenção do Sistema Nervoso Central que decodifica impulsos nervosos. Percepção é

um processo psicológico que integra, em unidades significativas, determinados

conjuntos de informações sensoriais (Gifford, 1997, p.17), permitindo a aquisição de

conhecimento a partir dessa vivência (Bueno, 1986). Além disso, a mente humana é

seletiva, ou seja, iremos “prestar atenção” naquilo que nos despertar interesse, tendo em

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vista que não podemos jamais perceber o mundo em si, mas apenas o choque das forças

físicas com os receptores sensoriais (Kilpatrick, 1961 citado por Hall, 977).

Segundo Gifford (1997), nos estudos clássicos de Psicologia em laboratório, o

entendimento de estímulos complexos começa a partir de sua decomposição em

estímulos simples. O mesmo autor explica que, na área de Psicologia Ambiental, é

necessário que os pesquisadores enfrentem a enorme quantidade e complexidade dos

estímulos a nosso redor, trabalhando com as percepções do dia-a-dia em ambiente real.

Isso quer dizer, fora do laboratório, em condições não-simuladas, pois é assim que os

estímulos reais acontecem! Encontram-se todos juntos, mesclados por todos os tipos de

registros: perceptivos, afetivos, normativos...simultaneamente (Lévy-Leboyer, 1985, p.

53).

Para esse tipo de trabalho de campo, Gifford (1997) destaca cinco métodos de

estudo da percepção ambiental: amostragem do tempo (observação de uma mesma cena

a cada intervalo de tempo para perceber o que muda); inferência de comportamento

(prever futuros comportamentos a partir do que já foi observado/percebido); métodos

psicofísicos (estudar o que varia na percepção de acordo com alturas dos objetos,

larguras, texturas, medida física variando conforme o brilho etc); métodos

fenomenológicos (investigação na qual o objetivo é usar um único observador muito

cuidadoso que tente perceber a essência de um ajuste em uma maneira qualitativa) e,

por último, o método no qual se insere o presente trabalho: os auto-relatos (investigação

através de questionários, entrevistas, check lists).

Nem todas as pessoas possuem a mesma percepção sobre as coisas, estando tais

diferenças associadas a filtros pessoais (gênero, nível de educação, treinamento

profissional, familiaridade com o local), culturais (valores da sociedade, ambiente onde

se vive) e físicos relacionados às características corporais do indivíduo delimitando suas

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possibilidades de decodificar o meio e usufruir de suas potencialidades). Além disso,

vários estudos mostram alternância desses fatores na percepção ambiental (Gifford,

1997; Okamoto, 1996). No entanto, as diferenças individuais, apesar de constituírem um

dos dados de observação nos estudos de Percepção Ambiental, não devem ser descritas

como variáveis dependentes na hora da análise, pelo contrário, os investigadores

precisam levar em conta essas diferenças do modo mais sistemático possível4 (Lévy-

Leboyer, 1985, p. 55).

Gifford (1997) identifica quatro teorias da percepção: (i) Funcionalismo

probabilístico de Brunswik (a pessoa recebe constantemente sinais complexos e

enganosos sobre o ambiente, o que gera estimações probabilísticas da verdadeira

situação e a elaboração de “juízos” sobre o ambiente); (ii) Propriedades colativas do

ambiente de Berlyne (os estímulos ambientais se apresentam em uma determinada

proporção e combinação, despertando atitudes curiosas nas pessoas, cuja base são

conflitos perceptivos como complexidade, novidade e surpresa); (iii) Fenomenologia

(dedicada ao estudo dos fenômenos per se); (iv) Affordance de Gibson (os objetos têm

características que demandam ou provocam determinados comportamentos, de modo

que a percepção do entorno é feita através de uma série de alternativas ambientais que

nos permitem “negociar” com o ambiente e nos relacionarmos com ele).

Alguns estudos indicam a percepção ambiental como fator de medição da

qualidade do lugar. Appleton (1975, citado por Nasar, 1989) afirma que as pessoas têm

percepções diferenciadas sobre os mesmos espaços. Anderson, Mulligan, Goodman e

Rezen (1983) estudaram a influência do som na percepção de espaços abertos. Francis

(1987) descobriu que o modo como a pessoa percebe o espaço contribui para o uso do

espaço. Ulrich (1981) estudou a influência da vegetação na qualidade de vida em

4 Livre tradução do espanhol, feita pela autora.

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espaços públicos. E Aoki, Yasuoka e Naito (1985) mediram a relação entre presença de

vegetação e satisfação dos usuários.

A percepção ambiental é, portanto, um processo mental sem o qual seria

impossível a consolidação da chamada “experiência ambiental”, e que, segundo Hall

(1977, p. 50) deriva de nosso aparelhamento sensorial, e ocorre a partir de dois tipos

receptores: à distância (que se relacionam com o exame de objetos que estão distantes

de nós, para o que usamos os olhos, o nariz e os ouvidos) e receptores imediatos

(empregados para examinar o mundo de perto, através do tato, das sensações na pele,

membranas e músculos).

Estudando especificamente o ambiente urbano, Lynch (1999) indica que a

percepção ambiental está diretamente relacionada ao modo como o espaço físico se

apresenta ao observador, não apenas quanto às suas formas, mas principalmente quanto

a sua carga de significados. Para esse autor, os lugares são mais facilmente

decodificados quando são legíveis, possuem identidade (elementos que o caracterizam,

que dão personalidade a ele) e trazem consigo a imageabilidade (qualidade que lhe

fornece a evocação de uma forte imagem no seu observador).

Como o ambiente está sendo continuamente avaliado por cada um de seus

usuários, e tendo em vista que o espaço e as pessoas, na maior parte das situações, não

se encontram estáticos, torna-se relativamente simples inferir a importância de levar em

consideração a mobilidade no processo perceptivo. Sadalla (citado por Okamoto, 1996),

por exemplo, mostra que a percepção do comprimento estimado de um trajeto cresce em

função do número das voltas e do número das interseções ao longo do trajeto.

Vários autores (Okamoto, 1996; Cullen, 1983, entre outros) indicam que, em

percursos semelhantes, quanto mais as cenas diferem, mais forte a influência do

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ambiente na percepção, e quanto mais as cenas são similares, mais forte será a

influência de outros fatores (pessoais, sociais etc).

Nunes (1991, p.130) descreve que enquanto um pedestre se desloca pelo

ambiente, ele passa por um processo que vai desde a percepção e memorização daquele

espaço até o julgamento de qual percurso seria o mais adequado para transitar. Num

resgate evolutivo, a identificação de um ambiente, atrelada ao esforço em traçar

possíveis percursos comportamentais, é necessidade vital na locomoção de todos os

animais (Lynch, 1999). É essa estruturação que irá conferir a sensação de proteção e

satisfação de suas necessidades (Kaplan & Kaplan, 1989).

Saber traçar os melhores trajetos confere ao homem a possibilidade de se

locomover de forma eficaz. E essa locomoção perpassa a questão de deslocamento no

espaço ao longo do tempo.

Quando falamos em “aqui”, estamos falando em “agora”. Se colocarmos a ação no passado ou no futuro, “aqui” transforma-se em “lá”, porque “agora” passa a ser então” (Tuan, 1983).

Ou seja, essa conexão entre pessoa, espaço e tempo é tão estreita que, muitas

vezes se confunde. E, em muitas situações, quem intermedeia essa conexão é a

mobilidade.

2.5 Mobilidade

O tamanho de um parque é diretamente proporcional ao modo como ele é usado. Remando numa canoa a 5 km por hora, o lago parece dez vezes mais comprido e largo do que cruzando-o numa lancha a 50 km por hora. Sempre que uma estrada toma o lugar de uma trilha ou uma lancha a motor substitui um barco a remo, a área do parque diminui. (Brooks, 1974 citado por Sommer, 1979)

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Mover-se corresponde a percorrer determinado espaço em um tempo, relação

que implica uma velocidade, e imprime ritmo às atividades humanas. Partindo desse

entendimento, o estudo do movimento no ambiente urbano tem sido identificado como

essencial à pesquisa em Percepção Ambiental, uma vez que “a velocidade do

movimento afeta o modo como o indivíduo percebe e reage ao que se encontra à sua

volta” (Nasar, 1989, p.49). Esse mesmo autor diz serem necessárias pesquisas que

investiguem a percepção ambiental sob a condição de mobilidade e indica esses estudos

como promessas futuras.

Segundo o geógrafo Balbim (2003), o conceito de mobilidade tem como

antecessor o de circulação, que surgiu em 1628, referindo-se ao movimento do sangue

no corpo. No século XIX, com as profundas alterações ocorridas nas cidades, a

circulação passou também a ser associada à idéia de movimento de ar (ou seja,

ventilação), entendido como o contrário de insalubridade. Assim sendo, a ventilação

passa a ser considerada fonte de purificação, de modo que as recomendações

urbanísticas da época sugeriam alargamento das ruas, noções de direção, continuidade e

perspectiva. Apenas depois desses momentos de revolução, circulação começou a ser

referenciada como deslocamento humano.

Atualmente a noção de mobilidade supera a idéia de simples deslocamento, pois

integra a ação de se deslocar e o conjunto de atividades a serem praticadas, de modo que

passa a relacionar-se às vontades e motivações dos envolvidos (Balbim, 2003). A partir

dessa afirmação, pode-se inferir que a mobilidade depende da condição de

deslocamento, mas o deslocamento per se, sem a identificação da atividade que se

executa, não constitui mobilidade.

Segundo Santos (1996, p.50), o espaço é um conjunto de fixos e fluxos em que

os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio

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lugar, incitam fluxos novos ou renovados e/ou recriam as condições ambientais e sociais

que redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e

atravessam ou se instalam nos elementos fixos, modificando a sua significação e o seu

valor, ao mesmo tempo em que também se modificam.

Complementando tal entendimento, o geógrafo Max Sorre (1952) define

mobilidade como a vontade presente no ser humano de se deslocar, explorar e conhecer

novos mundos, expandir fronteiras.

Por sua vez, Isaac Joseph (1984) identifica a existência de três mobilidades

básicas: uma própria do homem e de sua capacidade de locomoção; a mobilidade frente

ao ambiente no qual a pessoa vive, chamada mobilidade cotidiana; e a mobilidade sem

deslocamento, que configura uma versatilidade no viver (o passar da moda como tempo

de vida, por exemplo). O autor ainda indica que há quem defina outros tipos de

mobilidade, como a social, a geográfica, a profissional, a do trabalho, a ocasional, a

sazonal etc. Frente a tal diversidade é preciso esclarecer que, a mobilidade que se quer

tratar no presente trabalho é aquela referente à segunda categoria identificada por

Joseph (1984): mobilidade frente ao ambiente. Até porque, sendo essa mobilidade

“cotidiana”, é possível traçar paralelos com a Psicologia Ecológica.

Mobilidade cotidiana é aquela com temporalidades curtas, ritmos sociais da vida cotidiana. É um tempo recorrente, repetitivo, que implica retorno cotidiano à origem. Sua repetição forja hábitos e práticas espaciais. Esse é o termo mais correto para se referir aos deslocamentos e suas estratégias, aos orçamentos espaço-temporais, aos modos de transporte e às condições de acessibilidade. (...) A mobilidade cotidiana tem duração máxima de uma jornada, circunscrita ao espaço urbano e é, ao mesmo tempo, conseqüência da organização urbana, quanto fator de reorganização da cidade. (Balbim, 2004, p. 5)

Portanto, a definição de mobilidade cotidiana assemelha-se à encontrada nos

dicionários críticos de geografia, como aquele editado por Brunet, Ferras & Théry (1993

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citado por Balbim, 2004), que relaciona a noção de mobilidade com duas dimensões

articuladas, a espacial e a temporal, entendimento que gera as seguintes associações:

migração, mobilidade residencial, viagens e turismo e, finalmente a mobilidade diária.

Mais uma vez, é na mobilidade diária que se encontra a definição para a mobilidade a

qual se refere esse estudo.

Se essa mobilidade humana é tanto conseqüência quanto causa da organização

espacial de uma cidade, tem-se clara a relação que se busca para esse estudo: a

mobilidade como componente da relação pessoa-ambiente. Isso reforça a afirmação de

que o elo que possibilita a relação recíproca entre pessoas e espaços físicos nos estudos

pessoa-ambiente é constituído pela mobilidade (Günther, 2003).

Assim sendo, apesar dessa dissertação utilizar o conceito descrito por Balbim

(2004), para efeito de simplificação, a mobilidade cotidiana, abordada nesse estudo, será

a partir de agora indicada apenas pela palavra mobilidade.

A associação de percepção ambiental e mobilidade não é novidade. Ao definir

seu Método de Percursos, Thibaud (2001) estudou a percepção ambiental dos pedestres

através de seus relatos enquanto percorriam o espaço com o intuito de captar o maior

número possível de sensações estimuladas pelo ambiente. Por sua vez, Gunther (2003)

afirmou que as relações recíprocas pessoa-espaço físico acontecem no espaço físico

mediante mobilidade. Para o autor, territorialidade, espaço pessoal e privacidade são

conseqüências de acordos sociais, de modo que o movimento de uma pessoa (ou de um

grupo) no espaço afeta de maneira imediata e direta todos esses conceitos. Assim,

apesar do espaço pessoal ser portátil, o movimento altera a densidade do recinto e o

espaço pessoal do outro pode interferir (positivamente ou negativamente) no

deslocamento da pessoa. A “aparente” sensação de redução do espaço, advinda dessa

situação de deslocamento, pode modificar a noção de privacidade, tendo em vista que a

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perda de território torna-se mais freqüente, pela percepção de dimensão alterada. Ou

seja, o estudo da percepção ambiental pode fornecer subsídios para que se entenda como

esses conceitos se modificam quando inserimos a variante mobilidade.

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3. O calçadão

Figura 15. Estrada de Ponta Negra (1995)

Figura 16.Av. Eng. Roberto Freire

após a construção do calçadão. FONTE: http://www.natal.rn.gov.br FONTE: arquivo da autora

Neste capítulo, segue-se uma livre apresentação do CAERF, seguido de um

breve apanhado histórico e da descrição dos aspectos físicos mais relevantes. O seu

objetivo é o de familiarizar o leitor com o espaço onde será desenvolvido o trabalho.

3.1 O nascimento

A avenida Engenheiro Roberto Freire – antigamente, conhecida como Estrada de

Ponta Negra – é a principal via de acesso entre o centro e a zona sul da cidade (Figura

15). O calçadão foi construído ao longo dessa avenida com o intuito de servir de local à

prática de atividade física. A obra foi iniciada em setembro de 2002 e finalizada em

dezembro do mesmo ano (Figura 16) e toda a área do calçadão se entende desde o

Conjunto dos professores, passando pelo bairro de Capim Macio, até Ponta Negra,

próximo ao mar (Figura 17). A área de estudo desse trabalho compreende dois

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quilômetros e quatrocentos metros de extensão, no trecho que une a Via Costeira à Rua

Sólon Galvão.

Figura 17.Localização do CAERF (em vermelho): Perspectiva do Parque das Dunas e oceano Atlântico.

FONTE: http://www.natal.rn.gov.br

A paisagem que o usuário presencia no calçadão possui um certo paradoxo: em

sua margem direita, encontra-se o Parque das Dunas – o segundo maior parque urbano

do Brasil - e em sua margem esquerda, encontra-se uma das avenidas de maior

movimentação da cidade, pois é também uma das únicas vias de acesso às praias do

litoral Sul do estado. Essa dicotomia de cenários à esquerda e à direita resulta numa

paisagem contrastante (Figura 18).

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Figura 18. Mapa de localização do CAERF (em vermelho e sem escala) FONTE: Anúncio publicitário dois.a (2008), adaptado pela autora

3.2 Delimitações

A área estudada não abarca a segunda fase do calçadão - localizada da Via

Costeira até a Rua Tivoli (Figura 19). Optei por delimitar a área de estudo à primeira

fase de construção, porque entendi que há usos diferenciados nas duas fases. Além

disso, os usuários da primeira fase, em geral, não fazem uso da segunda fase, e vice-

versa.

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Figura 19. Mapa com localização das duas fases do calçadão da Av. Eng. Roberto Freire; Desenho sem escala. FONTE: Planta da CAERN (2004) adaptada pela autora.

3.3 O entorno

Como comentado anteriormente, em uma das margens da avenida Engenheiro

Roberto Freire está o Parque das Dunas, onde não é permitido construir, por se tratar de

uma zona de preservação ambiental. Na outra margem há muitas edificações, mas não

há residências horizontais ou verticais, somente estabelecimentos de usos institucionais

(escolas e universidades), para serviços (farmácias, bancos e postos de gasolina) e

comércio (shoppings, papelarias, lanchonetes, bares e restaurantes). Há apenas um

terreno vazio na avenida e três lotes com construções, conforme indica o mapa de uso

do solo (Figura 20). Salienta-se, no entanto, que imediatamente a seguir dessa faixa

lindeira está localizado o bairro de Capim Macio, predominantemente residencial5.

5 Essa é a configuração de uso do solo foi realizada no mês de novembro de 2007, época do término da coleta de dados do presente trabalho. Essa área sofre alterações constantes.

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Figura 20. Mapa de uso do solo do entorno do CAERF

FONTE: produção da autora

3.4 Os componentes físicos

O CAERF é composto por um passeio pavimentado com pedras portuguesas, em

mosaico formando figuras geométricas. Nos abrigos de ônibus, o passeio de 5 metros de

largura fica um metro mais estreito para dar lugar à baía de embarque e desembarque

dos ônibus. Durante os dois quilômetros e quatrocentos metros de extensão, o calçadão

dispõe de placas de sinalização com frases de incentivo à prática de atividade física e

lixeiras. Não há ruas cruzando o CAERF. O único acesso feito por sobre a calçada é

permitido apenas para os usuários/sócios do clube de aeromodelismo (pois a pista fica

dentro do Parque das Dunas) e para o Exército Brasileiro que, eventualmente, efetua

treinamento de seus soldados na reserva ecológica.

Paradas de ônibus e bancos

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Existem seis abrigos de ônibus (Figura 21) dispostos na porção em estudo: dois

em frente a shoppings, um deles contendo universidade; outro diante de uma lanchonete

e padaria; um quarto abrigo fica em frente a um supermercado, onde foi construída,

recentemente, uma passarela; diante de um cursinho pré-vestibular e, por fim, um sexto

abrigo nas proximidades de pizzaria e churrascaria, próximo à rua Sólon Galvão, onde

recentemente foi construído um segundo supermercado. As paradas são largamente

utilizadas pela população que vai ao trabalho ou que utiliza os serviços presentes no

entorno, no entanto, possui apenas quatro assentos, o que faz com que muitos tenham de

ficar em pé, impedindo a circulação dos que cruzam pelo calçadão. Além disso, em uma

das laterais do abrigo, há um painel com anúncio publicitário.

A cobertura dos abrigos serve para proteger as pessoas do sol, mas em dias de

chuva, não impede que os que esperam se molhem. Isso se deve ao fato de que as

chuvas, na cidade de Natal, em geral, vêm acompanhadas por vento intenso, e as

paradas não estão adequadas a isso.

Nos locais onde há paradas de ônibus e em alguns pontos destinados a

estacionamento de veículos, foram projetadas reentrâncias no calçadão para que o

transito de veículos – intenso em alguns horários do dia – não ficasse prejudicado. Os

abrigos de ônibus são áreas mínimas, que possuem suas laterais destinadas à mídia.

Há 23 bancos (Figura 22) dispostos ao longo do CAERF. São feitos em madeira

e cimento. Os assentos não possuem encosto.

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Figura 21.Abrigo de ônibus em frente à uma pizzaria

Figura 22. Exemplar de bancos do calçadão FONTE: arquivo da autora

FONTE: arquivo da autora

Lixeiras, placas e adequação a portadores de condições especiais de

locomoção

Ao longo do calçadão, encontram-se ainda 26 lixeiras, 12 placas

informativas/ilustrativas (Figura 23) e rampas rebaixadas de acesso para portadores de

cadeiras de roda com sinalização para portadores de deficiência visual (Figura 24).

Algumas frases ilustram atividades corriqueiras do calçadão, dando um enfoque no uso

da prática desportiva: cuidados com a pressão sanguínea, recomendações saudáveis e

frases de incentivo à prática de atividades físicas. A inscrição “Lazer é um direito de

todos” denota o papel de espaço público assumido pelo calçadão. E há ainda frases

educativas que pregam o caráter de formação do cidadão-usuário, como “cuide do nosso

calçadão, ele também é seu!” e “Quem ama a vida, ama o verde”.

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Figura 23. Exemplar de placa e lixeira do calçadão;

Figura 24. Rampa com sinalização para portadores de condições

especiais de locomoção;FONTE: arquivo da autoraFONTE: arquivo da autora.

CAERF: aspectos de seu cotidiano

A observação empírica ao longo dos últimos dois anos permitiu traçar de forma

superficial o cotidiano do CAERF, majoritariamente freqüentado por pessoas que

desenvolvem atividades físicas (caminham, correm e pedalam), usuários de paradas de

ônibus, turistas, casais de namorados e pessoas que passeiam com seus cães.

A movimentação no local começa por volta das quatro e meia, quando a

incidência solar é mais amena e perdura até por volta das nove horas da manhã. O vazio

demográfico ocorre primordialmente ao meio-dia, quando a falta de sombras dificulta a

permanência no local. Ao final da tarde, o movimento se intensifica novamente. O

horário de pico ocorre às dezoito horas, tanto do trânsito de veículos, quanto de pessoas.

Durante a madrugada, às vezes observa-se prostitutas na área, embora em pequena

quantidade, sobretudo quando se compara à incidência delas na margem oposta da via.

A segurança é feita por viaturas da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas

(ROCAM), além de viaturas do Batalhão de Operações Policiais e Especiais (Bope) e da

Companhia de Polícia Feminina (CPFEM).

Sempre há pessoas transitando pelo CAERF, pois a busca pelo local para exercer

algum tipo de atividade física parece ter virado hábito, sobretudo para os que moram

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nas proximidades. Dentre os usuários, há predominantemente pessoas que desenvolvem

diversos tipos de atividades físicas e os utilizadores de abrigos de ônibus (Figura 25).

Figura 25. Vista geral do CAERF. FONTE: arquivo da autora

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4. Percurso metodológico

Sendo meta do presente estudo provocar a reflexão sobre o efeito da mobilidade

na percepção ambiental e no comportamento dos usuários do CAERF, foi preciso traçar

um plano de percurso. Para tanto, optei por ferramentas que possibilitassem a

identificação e descrição das características ambientais e comportamentais relacionadas

a essa mobilidade a fim de lançar um olhar adequado sobre a percepção e o

comportamento sócio-espacial humano no local de estudo.

Devido ao caráter qualitativo e interdisciplinar da temática, e corroborando as

indicações da área de Psicologia Ambiental no que se refere à utilização de

multimétodos (Sommer & Sommer, 1986), a estratégia metodológica adotada explorou

as vantagens do uso de vários instrumentos para a compreensão dos fenômenos,

buscando propiciar a adequação das dimensões tempo e espaço, essenciais ao

entendimento da mobilidade6.

O percurso multimetodológico para o trabalho de campo, englobou: (i)

observação participante in loco, para afinar a inter-ação com o espaço estudado e

levantar as principais atividades desenvolvidas no CAERF, tendo em vista que o

comportamento está ligado ao local onde ele ocorre (Günther, Nepomuceno, Spehar &

Günther, 2003); (ii) identificação dos principais behavior settings presentes na área,

seguindo o roteiro de Wicker (1979), que consta no anexo 01; (iii) pré-categorização das

atividades que convivem naquele local, seguindo dois critérios diferenciados (gerados

em função das 2 etapas anteriores), e cujo objetivo foi limitar o universo dos

6 Essa associação foi articulada junto à fase de término de coleta dos dados, já tendo sido comentada no capítulo 2.

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entrevistados; (iv) realização de entrevista com os usuários do CAERF, com gravação

da voz do entrevistado e posterior transcrição do material coletado. Além disso, também

foram executados: (v) registro de imagens da ocupação da área em estudo e (vi)

construção de um diário da pesquisadora, para documentação do processo de abordagem

do problema e (re)conhecimento do objeto estudado (Figura 26).

Buscou-se, portanto, explorar as condições de uso do CAERF a partir do viés

teórico (Psicologia Ecológica) e da observação participante direta.

Formulação de duas categorizações: teórica (análise de behavior settings) e observacional

Entrevistas com os usuários

Reconhecimento do local

Diário de campo da pesquisadora

Registro de imagem

Ferramentas Complementares:

Figura 26. Esquema do percurso multimetodológico escolhido. FONTE: produção da autora.

4.1 Observação empírica e construção do diário de campo

Sendo a aproximação pessoal com o local de estudo imprescindível ao trabalho

pretendido, o exercício de observação empírica no CAERF durou de dezembro de 2006

ao término de 2007.

A partir dessa observação foi construído um diário (ver trecho do diário no

apêndice 2.) das principais ocorrências verificadas no local, tendo por objetivo auxiliar

na identificação de behavior settings e nas interações pessoa-ambiente do local, de

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modo a promover uma tomada de consciência a respeito do processo de investigação a

ser utilizado. Diariamente, após o término da visita ao local, eram anotadas observações

consideradas relevantes, embora no início da construção dessa ferramenta não se tivesse

ainda a idéia do que seria abordado de forma definitiva. O diário foi, também, uma fonte

pessoal no rebatimento dos dados coletados com a realidade observada, recurso

metodológico complementar, mas não menos importante.

Foi através da observação empírica e das conversas informais que se pôde,

inclusive, iniciar o processo de categorizações dos usuários7, reduzindo o universo de

análise para as principais ocorrências no calçadão.

4.2 Documentação fotográfica

O registro de imagens também se fez necessário para ilustrar os modos de

interação identificados no CAERF, embora não seja proposta desse estudo fazer um

levantamento iconográfico exaustivo. O registro de imagem teve por objetivo auxiliar

na exposição de algumas análises, mas não se trata de um estudo imagético detalhado.

4.3 Análise de behavior settings

Metodologicamente, a Teoria de Barker serviu como ponto de partida para o

entendimento da dinâmica de ocupação do calçadão, começando pela compreensão dos

behavior settings existentes no local, analisados segundo roteiro adaptado a partir dos

exercícios 1 e 2 de Wicker (1979) que, tendo em vista as propriedades de um BS

(conceito explicitado no capítulo 2 dessa dissertação), anuncia elementos como:

condicionantes espaciais, temporais e de quantidade de componentes presentes em cada

atividade, identificação de programa e limitações.

Em termos seqüenciais, primeiro foram identificados os principais sinomorfos,

7 Essa categorização observacional será vista na p.71.

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ao que se seguiu a identificação de behavior settings e análise de genótipos ambientais,

na seguinte seqüência:

a) Identificação dos principais sinomorfos, seguindo o roteiro de Wicker (1979)

b) Comparação de sinomofos dois a dois, segundo os critérios: interdependência de

comportamentos, de população, de líderes, interdependência espacial,

interdependência com base a contigüidade temporal, interdependência de

componentes não-humanos e semelhança nos mecanismos comportamentais. De

acordo com as indicações de Barker (1968), a cada um desses sete itens é

atribuído um valor-índice “K”. Somados esses índices, se o valor obtido for

superior a 21, indica que cada sinomorfo é um BS independente (ou seja, trata-se

de dois BSs). Se for inferior a 21, indica que os sinomorfos pertencem a um

mesmo BS. Para facilitar a compreensão da atividade e seus resultados, foram

construídas tabelas comparativas entre sinomorfos, algumas das quais são

apresentadas ao longo do texto.

c) Identificação de BSs complexos semelhantes e seu agrupamento em genótipos

ambientais (Barker, 1968), nos casos em que seus padrões ambientais eram

muito semelhantes. Os itens analisados dizem respeito aos percentuais de

semelhança/diferença no programa, no tempo de treinamento dos componentes

humanos para exercer esse programa, itens do programa que são intransferíveis e

tempo usado na manutenção dos itens não transferíveis. Pertencem a um mesmo

genótipo, dois (2) BSs cuja média dessas quatro porcentagens for inferior a 25%;

além disso, nenhum dos itens analisados pode ter obtido avaliação superior a

esse número (25%).

A análise realizada permitiu a identificação e classificação dos principais BSs

encontrados no calçadão em função do conceito de genótipo, tendo gerado uma

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série de questionamentos ao serem trazidos à realidade do CAERF.

4.4 Entrevista com os usuários

A seleção dos entrevistados ocorreu a partir do cruzamento dos resultados de

dois estudos diferenciados: a análise de behavior setting, tendo em vista que o estudo

abrange a valorização da análise do cotidiano; e as observações realizadas pela

pesquisadora.

8A elaboração do roteiro para a entrevista semi-estruturada levou em conta o

modelo tópico guia desenvolvido por Bauer e Gaskell (2002), a partir do qual são

construídas perguntas abertas adequadas à investigação em questão, priorizando uma

estruturação que abarque praticidade, objetividade, eficiência e flexibilidade. Devido a

isso, foram realizadas várias entrevistas-piloto antes da ida a campo. Por questões de

ética científica, antes de cada entrevista, foi entregue ao entrevistado um documento

com explicações básicas relativas ao estudo, contendo um termo de consentimento

esclarecido, a ser assinado, caso o selecionado se dispusesse a participar da entrevista. O

número de entrevistas não foi pré-determinado antecipadamente, entendendo-se que a

coleta seria considerada terminada quando as respostas obtidas começassem se tornar

demasiadamente repetitivas.

4.4.1 O desafio da categorização

Mesmo sendo uma seleção qualitativa dos entrevistados, foi necessário elaborar

um critério para abarcar exploratoriamente o máximo da diversidade de atividades

representativas do CAERF. Diante de tal dificuldade e do tamanho do universo de

usuários, a escolha dos participantes teve como base o cruzamento de dois critérios: (i) a

8 Define-se como: formulação da maioria das perguntas previstas com antecedência e sua localização é provisoriamente determinada (Colognese & Melo, 1998).

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dinâmica da pesquisa social empírica, através da observação in loco, e que passou a ser

chamada categorização observacional; e (ii) a análise de behavior setting, tendo em

vista que o estudo abrange a valorização da análise da vida em seu cotidiano real,

doravante denominada caracterização através da teoria de BSs.

4.4.2 Elaboração do roteiro de entrevista

Para a elaboração do roteiro de entrevista individual ou tópico guia – conforme

defendem Bauer e Gaskell (2000) – foi feito, inicialmente, um tópico guia, buscando

construir perguntas adequadas à investigação exploratória. Entende-se o tópico guia

como parte vital do processo de pesquisa, planejado para dar conta dos fins e objetivos

da pesquisa (Bauer & Gaskell, 2000, p. 66). Para tanto, é necessário lançar mão dos

elementos identificados na observação de campo, além de inserir o contexto sobre o

qual se quer refletir, no caso, o enfoque do contexto da mobilidade na percepção do

usuário sobre o CAERF. Após a primeira elaboração do roteiro, foi feita uma entrevista

piloto, sob observação do grupo de pesquisa GEPA (Grupo de estudos inter-Ação

Pessoa-Ambiente) e, posteriormente, abriu-se a discussão a respeito do instrumento

investigativo. Após algumas sugestões, o roteiro de entrevista sofreu algumas

alterações, tais como melhoramentos no entendimento da pergunta formulada, alertas

sobre a conduta imparcial da entrevistadora, retirada de repetições e inclusão de alguns

pontos chaves.

Para embasamento metodológico, foram seguidas algumas recomendações de

Bauer e Gaskell (2000) para a elaboração do tópico guia:

Praticidade. Todos os tópicos a serem investigados deverão caber em uma

página;

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Objetividade. Deve ser elaborado um conjunto de títulos de parágrafos e não

perguntas específicas;

Eficiência. O tópico guia deve ser um lembrete ao entrevistador;

Flexibilidade. O entrevistador não deve se tornar escravo do guia e sim usar

sua imaginação social científica para perceber quando temas considerados

importantes e que não poderiam estar presentes em um planejamento ou

expectativa anterior, aparecerem na discussão. Assim como alguns tópicos

que seriam centrais podem se tornar desinteressantes por razões teóricas ou

porque o entrevistado poderia ter pouco a acrescentar ao tema (Bauer &

Gaskell, 2000, p. 67).

Primeiramente, o quesito “número da entrevista” discrimina a ordem de

execução das mesmas, seguida da situação de entrevista, ou seja, em que local foi

aplicado o instrumento de coleta e sob quais circunstâncias o entrevistado se encontrava

fisicamente. Esse apontamento deve-se ao fato de que algumas entrevistas foram

realizadas no CAERF e, portanto, foram feitas no momento em que o entrevistado fazia

alguma atividade física percorrendo o espaço ou logo após esse momento. Tendo em

vista que essa condição física pode apresentar alterações da resposta, foi necessário

explicitá-la.

A caracterização do respondente foi outro tópico explicitado pela pesquisadora

antes do momento de perguntas abertas, assim como o local/situação de entrevista.

Características como gênero, idade, escolaridade, estado civil e bairro de moradia foram

descritos para compor os dados sócio-demográficos.

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4.4.3 Perguntando ao usuário

Uma vez definidos os tópicos-guias, seguindo as indicações de Bauer e Gaskell

(2000, p.67), foram elaboradas 19 perguntas básicas para a entrevista, conforme consta

do apêndice 1 do presente trabalho. Entre essas perguntas pré-elaboradas havia espaço

para comentários mais específicos a respeito daquilo que era verbalizado pelo

respondente, com o intuito de investigar a precisão do discurso de cada um dos

entrevistados. A seguir, uma breve descrição do objetivo inicial das perguntas

formuladas.

Primeiramente, foram levantados os dados sócio-demográficos do respondente.

Em seguida, a primeira pergunta tinha como desafio fazer o respondente resumir o local

em algumas palavras para começar a inseri-lo no contexto daquele espaço e resgatar sua

percepção ambiental.

O primeiro grupo de perguntas visava adequar o respondente dentro das

categorias formuladas para o estudo: o número de vezes que vai ao calçadão, se vai

sozinho ou acompanhado, que atividade costuma e em que horário. Sempre mantendo

em vista as implicações secundárias que essas escolhas poderiam ter, por exemplo: a

freqüência com que o usuário acessa o espaço pode fornecer dicas sobre o nível de

conhecimento que o mesmo tem sobre o local estudado; ou saber se o entrevistado já

executou mais de uma atividade no local pode ajudar e identificar possíveis alterações

na forma como enxerga o espaço ao seu redor, dependendo da atividade que

desempenha. A hipótese é a de que isso forneça considerações sobre o tipo de

mobilidade ou características associadas a velocidade do(a) entrevistado(a),

modificando a sua percepção. Além disso, foi solicitado ao respondente que refletisse

acerca do porquê de suas escolhas, ou seja, se havia alguma outra opção disponível que

parecia menos interessante a ele e por qual motivo. Era o que acontecia, por exemplo,

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quando pedia-se para o respondente refletir sobre o horário escolhido para fazer a

atividade física e nas possíveis influências desse horário em seu desempenho.

Após sensibilizar a percepção ambiental do respondente, o segundo bloco de

perguntas, a partir da questão 7, tentava inserir um outro contexto na conversa: o da

mobilidade. A definição do plano de trajetória do usuário traça seu grau de intimidade

com o local, aliando grau de observação com o meio de transporte que escolhe para

chegar ao calçadão, por exemplo. Medir o grau de atenção do usuário, enquanto se

move pelo espaço, foi outro desafio desse segundo bloco de perguntas. Uma vez que

o(a) respondente já refletiu sobre a atividade que desempenha e já teve de fazer o

esforço de se imaginar percorrendo o espaço, identificar a existência elementos que o

distraem se torna mais fácil.

As perguntas 9 e 10, do terceiro bloco de questões, poderiam ser invertidas, caso

o entrevistado demonstrasse, até o presente momento, indicações de que enxergava mais

aspectos negativos ou positivos no CAERF. A primeira pergunta a ser feita viria ao

encontro das demonstrações do entrevistado.

Após refletir sobre seu próprio movimento, começava a quarta etapa da

entrevista, onde o respondente era convidado a refletir sobre o movimento das outras

pessoas e elementos que compõe o calçadão, investigando sua percepção sobre o que o

cerca: o tipo de atividade dos outros, as modificações espaciais pelo fato de estarem

sozinhas ou acompanhadas, a capacidade do calçadão em comportar as atividades ali

existentes e possíveis problemas de convivência pública.

A partir da questão 12 iniciava-se a quinta e última etapa da entrevista, na qual

os respondentes era levados a pensar em como lidavam com os elementos atrelados à

atividade que desenvolviam: como se processava a percepção que desenrolava a ação de

driblar o outro? Como se dá a implicação do tempo nessas pequenas escolhas espaciais

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do ir e vir? E quando há algo novo? Como lidar com isso?

As duas últimas perguntas do roteiro (18 e 19) possuem um viés de percepção

ambiental cruzando com conceitos do CSEH, principalmente no tocante à privacidade.

Tomou-se a idéia da privacidade para seguir a sugestão de Valera e Vidal (1998), que

utilizam a privacidade como base para o estudo dos demais conceitos.

Embora tenha sido traçado, aqui, um parâmetro das expectativas das perguntas

formulada, é importante que se diga que durante a aplicação das entrevistas – por se

tratarem de perguntas abertas – novas descobertas foram feitas, pois novos

levantamentos relevantes serviram para otimizar a investigação da percepção ambiental

do usuário entrevistado.

No tocante ao procedimento de entrevista seguiu-se a seguinte ordem: breve

explicação do estudo desenvolvido, pedido de assinatura do termo de consentimento

informado, aplicação da entrevista mediante tópico guia, solicitações de comentários

adicionais e esclarecimento de possíveis dúvidas dos entrevistados a respeito da

pesquisa da qual participaram.

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5. Vários ritmos: apreciação dos resultados

Toda trajetória é traçada com o intuito de levar a algum destino. No entanto,

para chegar a esse lugar é preciso reunir alguns elementos a serem trabalhados até

atingir a reta final, em um processo semelhante a buscar pelo tênis adequado à nossa

caminhada. Também é assim que acontece com a coleta dos dados de uma pesquisa.

Este capítulo contém a apresentação dos dois processos de categorização

realizadas nesse estudo, a análise observacional, análise a partir de BS e, finalmente, os

desdobramentos do contato direto com os usuários, com alguns resultados das

entrevistas.

5.1 Observando a realidade (categorização observacional)

A pré-categorização observacional recorreu às informações coletadas pelo

contato cotidiano da pesquisadora ao CAERF e delimitou o universo de atividades

segundo as principais ocorrências no calçadão (Figura 27). O único critério foi a

velocidade do deslocamento e as categorias assim definidas foram:

Corredores. Todos os usuários que se locomovem a pé em ritmo maior do

que o da caminhada;

Caminhantes. Todos os que caminham como exercício, seja se modo leve,

moderado ou intenso;

Ciclistas. Todos os usuários de bicicletas.

Estáticos. Aqueles que não estão em estado de deslocamento, como as

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pessoas que esperam no ponto de ônibus ou utilizam os bancos dispostos ao

longo do local.

Corredores Caminhantes

Ciclistas Estáticos

Figura 27. Categorias representativas do CAERF, viés observacional.

5.2 Analisando behavior settings no local (categorização através da

análise de BSs)

Tendo como base o roteiro de Wicker (1979) – ver anexo 01 -, e buscando

explorar o máximo possível de sinomorfos9, elaborou-se uma lista inicial contendo as

principais atividades que convivem no local e a adição de condições adicionais, tais

como: horário em que a atividade é desempenhada (separados por turnos do dia, ou seja,

manhã tarde e noite), número de pessoas fazendo a atividade conjuntamente, presença

ou não de animal no desempenho da atividade.

Por configurarem um uso totalmente diverso do dedicado à prática de atividades

físicas, os usuários localizados nos abrigos de ônibus foram analisados separadamente

diante das condicionantes descritas anteriormente. Nos casos dos usuários dos bancos

(assentos), surgiram dois grupos para abarcar a utilização desse equipamento urbano: os

em atividade estática, ou seja, que possuem comportamento com menor movimentação,

tal como namorar, conversar, esperar, descansar; e os em atividade dinâmica, ou seja,

desempenhando atividades com mais movimentação do corpo, tal como alongamento,

abdominais e outros exercícios.

9 Ver apêndice 6

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Segundo esses critérios, chegou-se aos 36 sinomorfos (Figura 28):

Figura 28. Principais sinomorfos no CAERF

A partir desses sinomorfos, foram formulados sub-critérios ou perguntas visando

estabelecer o confronto entre sinomorfos para avaliar a possibilidade de corresponderem

a um mesmo BS, como por exemplo, a diferenciação de BS devido ao gênero ou idade

das pessoas envolvidas, ou ainda, horário efetivo em que a atividade se desenrolava.

Para cada análise, foram confrontados, dois a dois, sinomorfos com maiores

semelhanças de propriedades entre si, para o que, a fim de facilitar a apresentação dos

resultados, recorreu-se à construção das tabelas.

5.2.1 Delimitações de sinomorfos: buscando as similaridades

a) Delimitação por tipo de ocorrência. Alguns sinomorfos eventuais não fizeram parte

da análise por não corresponderem a atividades representativas do local:

Caminhando com carrinho de bebê;

Correndo com carrinho de bebê;

turistas caminhando na primeira fração do calçadão;

Pedalando em dupla, em grupo ou com cachorro;

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Transeuntes alcoolizados;

Portadores de condições limitadoras da mobilidade;

b) Delimitação por atividade:

Como as principais atividades daquele equipamento urbano são a atividade física

e a espera por ônibus justifica-se a escolha por esses dois principais tipos de eventos

para a análise do local.

c) Delimitação espacial:

Três espaços foram considerados na análise:

Para os sinomorfos de desempenho de atividade física, levou-se em consideração

todo o percurso do calçadão. Para as ações estática e dinâmica nos bancos, foram

considerados todos os bancos dispostos ao longo do calçadão. E, para os casos de espera

por ônibus, todas as paradas dispostas ao longo do calçadão.

d) Delimitação por término de programa:

Sinomorfos que se extinguem por ausência de um dos componentes humanos ou

por mudança de atividade/programa (pessoas caminhando que passam a correr, por

exemplo) não foram levados em consideração.

e) Delimitação por percurso:

O percurso considerado para a análise de atividade física compreende toda a

extensão do calçadão, no trajeto de ida e volta, independente do número de vezes que

faz esse trajeto, pois é o percurso feito pela maioria dos freqüentadores.

5.2.2 De sinomorfos a behavior settings

Após as delimitações dos principais sinomofos (Figura 28), foi feita uma análise

para averiguar se os mesmos configuram um mesmo Behavior Setting. Para tanto, foram

elaboradas perguntas que visam esclarecer as possibilidades, diante das variáveis de

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análise, como: espaço, turno do dia, tipo de atividade e quantidade de componentes não-

humanos.

5.2.3 Formulação de perguntas a serem respondidas a partir do viés teórico:

Pergunta 01: O calçadão, com todas as atividades que ali convivem, é um só behavior

setting, que pode ser denominado “desempenho de atividade física no CAERF”, ou são

vários?

Partindo da premissa de que, para avaliarmos a condição de um behavior setting,

há sete itens de análise que devem ser considerados, percebe-se que ali convivem

diversos behavior settings, pois em cada atividade física desempenhada, há diferentes

líderes, diferentes programas que não dependem um do outro para ocorrer – visto que

para uma pessoa caminhar, basta que ela se dirija ao local, sem necessidade de haver

uma outra pessoa correndo, por exemplo - diferentes horários do dia e mecanismos

comportamentais que variam de acordo com a necessidade da ação desempenhada,

concluímos que todos os tipos de comportamento não podem pertencer a um só

behavior setting.

Pergunta 2: Considerando que o espaço utilizado é o mesmo, será que, por si, essa

condição faz com que alguns sinomorfos consolidem-se como um mesmo behavior

setting?

Para responder a essa pergunta, foram descritos vários sinomorfos que variam

conforme o horário, a atividade física desempenhada e a quantidade de pessoas.

A título de ilustração desse processo, foram inseridas análises de sinomorfos que

possuem apenas o espaço em comum. As demais análises realizadas, delimitadas por

critérios diversos, podem ser vistas no apêndice 6 desse estudo.

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Na análise (Tabela 1), o foco do estudo é a atividade física, considerando toda a

extensão do calçadão. Para tanto, foram estudados nove sinomorfos, observando-se o

cuidado em variar a quantidade de pessoas, a idade dos participantes, o horário do dia, o

tipo da roupa10, ações desempenhadas e objetos utilizados. Aqui, serão demonstrados os

primeiros exercícios dessa seqüência. Para efeito prático, os demais testes que

tencionam variar esses aspectos em sua totalidade, bem como as interdependências de

BSs e a verificação de genótipo ambiental poderão ser apreciados no apêndice 6 desse

trabalho.

10 Chamou-se de roupas A aquelas destinadas à prática de atividade física e de roupas B as demais vestimentas utilizadas para o trabalho, lazer, compras etc.

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S1S2

S3S4

S5S6

S7S8

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dão,

perc

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com

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imite

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9H

16-1

7H

18-1

9H

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0-20

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6-7:

3016

:40-

17:3

0 16

-18H

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-21H

16

-17H

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ão tá

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Cor

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sens

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tátil

, ouv

ir e

mon

itora

r ba

timen

tos

corr

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79

5.2.4 Estudo das interdependências (buscando BSs):

A fim de facilitar a tarefa, para analisar se cada par de sinomorfos descritos

pertenciam a um mesmo BS ou eram BS diferentes, procurou-se selecionar pares que

tivessem aspectos a serem comparados (diferentes e semelhantes): quantidade de

componentes (sozinho, em dupla, em grupo ou com cachorro), horário de utilização do

CAERF (manhã, tarde ou noite), tipo de atividade desempenhada (pedalar, correr,

caminhar, sentar nos bancos, ou esperar ônibus), além de confrontos a respeito do

gênero e idade do usuário. Chamou-se de “BS a ser averiguado” cada aspecto a ser

comparado.

Assim, analisar se a diferença de quantidade de componentes humanos, dentro

de uma mesma atividade influenciaria a denominação do BS foram comparados: S1

(idosa caminhando sozinha de manhã) x S2 (Casal caminhando de tarde), ou seja, com

variação de quantidade na ação caminhar. Em seguida faz-se o confronto, S5 (Moça

correndo sozinha de manhã) x S7 (Quatro rapazes correndo à tarde), ou seja, com

variação de quantidade na ação correr (Tabela 2).

Para a mesma análise com base na quantidade de componentes humanos (em

atividades diferentes) foram confrontados: S2 (Casal caminhando de tarde) x S6 (Pai e

filha correndo à tarde) (casais); e S4 (Homem caminhando com cachorro de noite) X

S8 (Senhor correndo com cachorro de noite), ou seja, atividades diferentes com uso de

cachorro. Depois, faz-se a investigação entre o sinomorfo S5 (Moça correndo sozinha

de manhã) X S9 (Uma adolescente Pedalando de tarde), a atividade pedalar versus

correr (Tabela 2).

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80

Para investigar se dois sinomorfos que possuem a mesma atividade e mesmo

número de pessoas, mas que ocorrem em diferentes horas do dia, pertencem a um

mesmo BS, fez-se a investigação entre S3 (Duas amigas caminhando à noite) X S2

(Casal caminhando de tarde) (Tabela 2).

S1a X S2a S5a X S7a S5a X S9a S2a X S6a S4a X S8a S3 x s2 Índice

KÍndice

KÍndice

KÍndice

KÍndice

KESC ESC ESC ESC ESC Índice K ESC Itens

DeComportamento 0 7 0 7 0 7 0 7 0 7 0 7

0 7 0 7 0 7 0 7 0 7 0 7De população

De líderes 34-66 3 5-33 4 95-100

95-100

95-1001 1 1 34-66 3

Espacial 95-100 1 95-

100 1 95-100 1 95-

100 1 95-100

95-1 110050-74

Contigüidade Temporal 0 -4 7 0 -4 7 0 -4 7 50-74 2 2 0 -4 7

Mais da1/2

Mais da1/2

Mais da 1/2

Mais da 1/2

Mais da 1/2

Mais da 1/2

Componentesnão-humanos 3 3 3 3 3 3

0-1 0-1 0-1Semelhança de Mecanismos

comportamentais 1 1 2-3 2 2-3 2 2-3 2 1Quase

iguaisQuase iguais

Quase iguais

29 36 27 23 23 29TotalBS

diferentes BS diferentes BS diferentes BS diferentes BS diferentes BS diferentes RESUL TADO

Tabela 2. Comparativo de sinomorfos da tabela 1

Como todos os valores do índice K foram superiores a 21, o resultado dessa

análise é a de que os sinomorfos confrontados configuram BSs diferentes. Como o

estudo efetuado com S2a X S6a e S4a X S8a o resultado foi 23, ou seja, muito próximo

a 21, a teoria indicaria uma nova pesquisa para garantir a afirmativa. No entanto, como

o objetivo dessa aplicação é apenas fazer indicativos para as futuras entrevistas, optou-

se por considerá-los behavior settings diferentes, o que aumentaria o número de

entrevistas.

Reproduzindo o mesmo raciocínio para confrontar outros sinomorfos, foi

analisada a utilização dos bancos (Tabela 3). Esses sinomorfos (de S10 a S14) possuem

um aspecto novo diante dos sinomorfos já apresentados: a ausência de deslocamento.

Enquanto os sinomorfos que possuíam a ação de caminhada e corrida, por exemplo,

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referem-se a ações de movimento, a utilização dos bancos, assim como a espera em

paradas de ônibus (Tabela 5) compreendem ações sem deslocamento no espaço.

Nesse confronto, os sinomorfos foram novamente descritos e posteriormente

fez-se o mesmo cálculo anterior de medição do índice K para determinar as

interdependências e averiguar quais pertencem a um mesmo BSs.

S10 S11 S12 S13 S14

Duas pessoas esperando ônibus e utilizando um

dos bancos à noite

Dupla conversando no banco de manhã

Casal namorando no banco

Homem Senhora fazendo abdominal no banco de

tarde fazendo alongamento no

banco de tarde (A. dinâmica)

Nome de noite (atividade (A. estática) (A. dinâmica) Estática) (A. Estática) Limite físico Calçadão, banco Calçadão, banco Calçadão, banco Calçadão, banco Calçadão, banco

19:30-20H 17:15-17:30H 8:00 – 9:00 17:25- 17:37 18:00-18:15 Limite temporal 1 homem e uma

mulher Um homem e uma mulher

Componentes Humanos 1 homem 2 homens 1 mulher

Roupas A, tênis, óculos escuros,

walk man, banco

Roupas B, mochilas, flores, banco

Roupas A, tênis, óculos escuros, walk man, banco

Roupas A, tênis, óculos escuros, walk man, banco

Roupas B, livros, banco

Componentes não-humanos

Compartilhado Compartilhado (2) único Único Compartilhado Líder (2)Namoro/Conversa Exercício/Alongamento Conversa Exercício/Abdominal Esperar ônibus Ponto Focal

conversar, sensação tátil, falar, ouvir,

observar

Namorar, conversar, sensação tátil, falar,

ouvir, observar

Conversar, observar,

sensação tátil

Alongar, ouvir, sensação tátil

Fazer esforço, ouvir, sensação tátil

Mecanismo comportamental

chega ao calçadão; senta no banco, alonga as pernas,

braços, observa, cumprimenta pessoas

conhecidas, ouve música, canta, depois do

alongamento vai embora para começar outra

atividade

chega ao calçadão; deita no banco, ouve música, depois do exercício, vai embora para começar

outra atividade

chega ao calçadão; senta no banco, abraça, beija,

conversa, observa

chega ao calçadão; senta

no banco, conversa, observa

chega ao calçadão; senta

no banco, observa e espera

Descrição do Programa

Tabela 3. Comparativo de sinomorfos de “utilização dos bancos” do CAERF

Estudo de interdependência:

Como o objetivo é encontrar possíveis behavior settings interdependentes,

analisaremos o confronto de sinomorfos dentro de uma mesma atividade dinâmica ou

dentro de um mesmo tipo de atividade estática.

A tabela 4 demonstra o confronto entre atividades dinâmicas no banco (S10 X

S12; S12 X S14; S10 X S14) e o confronto entre atividades estáticas no banco (S11 X

S13). Para efeito desse estudo, foi considerado que os diversos bancos do CAERF são

“espaços próximos” e, no máximo, “diferentes partes de um mesmo prédio”.

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S10 X S12 S12 X S14 S10 X S14 S11 X S13 Itens ESC K ESC K ESC K ESC KDe

Comportamento 0 7 0 7 0 7 0 7

De população 0 7 0 7 0 7 0 795-100

95-100

95-100

95-100 De líderes 1 1 1 1

Espacial (espaços 5-9 4 5-9 4 5-9 4 5-9 4

próximos) Contigüidade

Temporal 0-4 7 0-4 50-7 3 0-4 774Mais

da1/2

Maisda1/2

Maisda1/2

Maisda1/2

Componentes não-humanos 3 3 3 3

Semelhança de Mecanismos

comportamentais 2-3 2 2-3 2 2-3 2 4-6 3

Total 31 31 27 31BS

diferentes BS

diferentes BS

diferentes BS

diferentes RESULTADO

Tabela 4. Interdependências entre os sinomorfos da tabela 3

Esse resultado nos leva a crer que, mesmo que os sinomorfos ocorram no mesmo

local e num mesmo horário do dia – conforme se observa no confronto do sinomorfo

S10 com o S14, eles serão behavior settings diferentes.

No tocante ao uso das paradas de ônibus, investigou-se se a variável de

localização da parada (Tabela 5 e 6) e, posteriormente, a variável horário de espera (ver

em apêndice 6). Ou seja, o interesse era saber se a espera em paradas diferentes

configuraria mais de um BS e se os usos da parada no turno da tarde e da noite

compõem um mesmo BS, mesmo quando, a luminosidade, a quantidade de pessoas

transitando pelo calçadão e outros fatores sofrem alterações.

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S15 S16Moça aguardando ônibus no fim da

tarde Nome Rapaz aguardando ônibus à noite

Limite físico Calçadão, parada Calçadão, parada Limite temporal 17-17:17H 17-17:10

Componentes Humanos 1 moça Um rapaz

Componentes Roupas B, bolsa, livros e óculos escuros, parada

Roupas B, bolsa, livros e óculos escuros, parada não-humanos

Líder único Único Ponto Focal Espera Espera Mecanismo

comportamental Esperar, observar Esperar, observar

chega ao calçadão; observa, espera ônibus, fica atento ao

movimento dos ônibus, conversa (às vezes),

chega ao calçadão; observa, espera ônibus, fica atento ao movimento dos ônibus, conversa (às vezes), cuida dos

pertences

Descrição do Programa

cuida dos pertences Tabela 5. Descrição de sinomorfos experimentais em “Esperar ônibus em horários

próximos e em paradas diferentes”

Interdependência:

S15 X S16 Itens ESC K

De Comportamento 0 7De população 0 7

De líderes 95-100 1Espacial 5-9 4(espaços próximos)

Conforme os cálculos, se duas pessoas aguardam o ônibus no final da tarde no

CAERF, mas estão em paradas diferentes, cada uma delas vivenciará um BS diferente.

Diante disso, e tendo em vista que o presente esforço centra-se em aglutinar BSs, resta

averiguar se, num mesmo horário e na mesma parada (Tabela 7 e 8), cada pessoa

representa um BS ou se todo o ponto de ônibus congrega de um mesmo BS e, portanto,

podem ser considerados de uma mesma categoria para esse estudo.

Contigüidade Temporal 50-74 2Componentes não-humanos Mais da 1/2 3

Semelhança de Mecanismos comportamentais 0-1 1Total 31

RESULTADO BS diferentes Tabela 6.Interdependência dos sinomorfos da tabela 5

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S17 S18Moça aguardando ônibus no

fim da tarde Nome Rapaz aguardando ônibus à noite

Interdependência:

Com esse resultado, conclui-se que num mesmo horário, cada parada é um BS

diferente. Todas as pessoas que estiverem numa mesma parada, num mesmo horário do

dia, farão parte de um mesmo BS.

Pergunta 03: Mas será que “Em horários diferentes, numa mesma parada de

ônibus, é um mesmo BS?”. Para isso, é preciso calcular o índice K – interdependência

de BS – entre os sinomorfos S19 e S20 (Tabela 9 e 10), onde há variação apenas do

horário.

Limite físico Calçadão, parada Calçadão, parada Limite temporal 17-17:17H 17-17:10

Componentes Humanos 1 moça Um rapaz

Componentes Roupas B, bolsa, livros e óculos escuros, parada

Roupas B, bolsa, livros e óculos escuros, parada não-humanos

Líder único Único Ponto Focal Espera Espera Mecanismo

comportamental Esperar, observar Esperar, observar

chega ao calçadão; observa, espera ônibus, fica atento ao

movimento dos ônibus, conversa (às vezes), cuida

dos pertences

chega ao calçadão; observa, espera ônibus, fica atento ao

movimento dos ônibus, conversa (às vezes),

Descrição do Programa

cuida dos pertences Tabela 7.Descrição de sinomorfos em “ Esperar ônibus em horários

próximos e na mesma parada”

S17 X S18 Itens ESC K

De Comportamento 0 7De população 95-100 1

De líderes 95-100 1Espacial 5-9 4

Contigüidade Temporal 50-74 2Componentes não-humanos Mais da 1/2 3

Semelhança de Mecanismos comportamentais 0-1 1Total 19

Mesmo BS RESULTADO

Tabela 8. Interdependência dos sinomorfos da tabela 7

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85

S19 S20Moça aguardando ônibus no

fim da tarde Nome Rapaz aguardando ônibus à noite

Agora, verificando a interdependência desses dois sinomorfos descritos apenas

com variação de horários, temos:

Resposta: Não. Se o horário variar, mesmo que seja numa mesma parada de

ônibus, serão BS diferentes.

De certo modo, é possível dizer que quanto mais tempo os sinomorfos

coexistirem, numa mesma parada, mais propensos eles serão de serem um mesmo BS.

Portanto, para efeito desse trabalho, ao investigar usuários de paradas, farão parte de

uma mesma categoria aqueles que utilizarem o mesmo abrigo e num mesmo horário do

dia.

Limite físico Calçadão, parada Calçadão, parada Limite temporal 9 – 9:15 17-17:10

Componentes Humanos 1 moça Um rapaz

Componentes Roupas B, bolsa, livros e óculos escuros, parada

Roupas B, bolsa, livros e óculos escuros, parada não-humanos

Líder único Único Ponto Focal Espera Espera Mecanismo

comportamental Esperar, observar Esperar, observar

chega ao calçadão; observa, espera ônibus, fica atento ao

movimento dos ônibus, conversa (às vezes), cuida

dos pertences

chega ao calçadão; observa, espera ônibus, fica atento ao

movimento dos ônibus, conversa (às vezes),

Descrição do Programa

cuida dos pertences Tabela 9..Descrição de sinomorfos experimentais em “ Esperar ônibus em

horários próximos e na mesma parada”

S19 X S20 Itens ESC K

De Comportamento 0 7De população 95-100 1

De líderes 95-100 1Espacial 5-9 4

Contigüidade Temporal 0-4 6Componentes não-humanos Mais da 1/2 3

Semelhança de Mecanismos comportamentais 0-1 1Total 23

RESULTADO BS diferentes

Tabela 10. Interdependência dos sinomorfos da tabela 9

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86

Recapitulando: o que já foi descoberto até o presente momento:

O calçadão inteiro não é um BS apenas. Há vários dentro dele.

Quanto mais tempo os sinomorfos coexistirem (quanto maior a

sobreposição temporal), numa mesma parada, mais propensos eles serão

de serem um mesmo BS.

As pessoas são substituíveis, então não importa o gênero nem a idade,

como Barker (1968) já havia mencionado em sua teoria. Não importa

quem faz a ação. Características pessoais não interferem na definição do

BS. O que importa é cumprir o programa do BS.

Pergunta 04: A quantidade de pessoas que fazem parte do sinomorfo é

fundamental para a definição do BS?

Repetiu-se o mesmo procedimento utilizado até agora, confrontando duas

situações onde apenas a quantidade de pessoas varia (Tabela 11 e 12). Em S21 há

apenas uma pessoa exercendo a atividade e em S22 há duas pessoas na ação.

S21 S22Moça caminhando

no fim da tarde 2 rapazes caminhando

no fim da tarde Nome

Limite físico Calçadão, parada Calçadão, parada Limite temporal 17-18H 17-18H

Componentes Humanos 1 moça 2 rapazes Componentes Roupas A, óculos

escuros, walk manRoupas A, óculos escuros, walk mannão-humanos

Líder único Compartilhado (2) Ponto Focal caminhada caminhada Mecanismo

comportamental Caminhar, conversar e

observar caminhar, observar

chega ao calçadão; observa, caminha,

conversa

chega ao calçadão; observa, caminha Descrição do Programa

Tabela 11. Descrição dos sinomorfos em “ Esperar ônibus”, variando a quantidade de pessoas presentes

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Interdependência:

S21 X S22 Itens ESC K

De Comportamento 0 7De população 0 7

De líderes 34-66 3

Resposta: Sim, mas quando se compara um indivíduo com duplas ou grupos. No

caso da comparação de duplas com grupos (Tabela 13 e 14), o coeficiente K fica muito

próximo de 21 (22), pois a liderança vai ser compartilhada da mesma maneira. Além

disso, haverá conversas paralelas em ambos, o que faz com que os mecanismos

comportamentais sejam semelhantes. Desse modo, para esse trabalho, consideraremos

dois grupos de sinomorfos: caminhar sozinho ou acompanhado (por uma ou mais

pessoas), como se vê a seguir com os sinomorfos S23 (dupla) e S24 (grupo)11.

11 Entende-se por “grupo” a reunião de 3 ou mais pessoas

Espacial 95-100 1Contigüidade Temporal 95-100 1

Componentes não-humanos 2Semelhança de Mecanismos comportamentais 2-3 2

Total 23RESULTADO BS diferentes

Tabela 12. Interdependência dos sinomorfos do ponto focal “Esperar ônibus”, variando a quantidade de pessoas presentes

S23 S242 moças caminhando no

fim da tarde 4 rapazes caminhando no

fim da tarde Nome

Limite físico Calçadão, parada Calçadão, parada Limite temporal 17-18H 17-18H

Componentes Humanos 2 moças 4 rapazes

Componentes Roupas A, óculos escuros, walk man

Roupas A, óculos escuros, walk mannão-humanos

Líder Compartilhado (2) Compartilhado (4) Ponto Focal caminhada caminhada Mecanismo

comportamental Caminhar, conversar e

observar Caminhar, conversar e

observar chega ao calçadão; observa, caminha,

conversa

Descrição do Programa

chega ao calçadão; observa, caminha, conversa

Tabela 13. Descrição para comparação de sinomorfos “dupla” e “grupo” dentro do ponto focal de uma mesma atividade (caminhar)

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Interdependência:

S21 X S22 Itens ESC K

De Comportamento 0 7De população 0 7

De líderes 34-66 3

5.2.5 Delimitação na quantidade de atividades/categorias:

Devido a essas descobertas, foi possível reduzir o número de sinomorfos – a

partir desse momento, chamados behavior settings – a serem analisados. Dos 36

sinomorfos descritos por observação (ver figura 28, p. 73), passou-se a ter 29 BSs

(Figura 29).

Espacial 95-100 1Contigüidade Temporal 95-100 1

Componentes não-humanos 2Semelhança de Mecanismos

comportamentais 0-1 1

Total 22BS diferentes, mas com K muito

próximo a 21 RESULTADO

Tabela 14 Interdependência dos sinomorfos “dupla” e “grupo” dentro do ponto focal de uma mesma atividade (caminhar)

1)Caminhar sozinho de manhã 17)Correr com cachorro de noite 2)Caminhar sozinho de tarde 3)Caminhar sozinho de noite

18)Pedalar sozinho de manhã 19)Pedalar sozinho de tarde

4)Caminhar com cia de tarde 20)Pedalar sozinho de noite 5)Caminhar com cia de noite 21)Esperar ônibus de manhã 6)Caminhar com cachorro de manhã 22)Esperar ônibus de tarde 7)Caminhar com cachorro de tarde 23)Esperar ônibus de noite 8)Caminhar com cachorro de noite 24)Sentar nos bancos em atividade estática 9)Correr sozinho de manhã (namorar, conversar, esperar, descansar) de manhã 10)Correr sozinho de tarde 25)Sentar nos bancos em atividade estática de tarde 11)Correr sozinho de noite 26)Sentar nos bancos em atividade estática de noite 12)Correr com cia de manhã 27)Sentar nos bancos em atividade dinâmica 13)Correr com cia de tarde (alongamento, abdominais, outros exercícios) de

manhã 14)Correr com cia de noite 15))Correr com cachorro de manhã 28)Sentar nos bancos em atividade dinâmica de tarde 16)Correr com cachorro de tarde 29)Sentar nos bancos em atividade dinâmica de noite

Figura 29. Behavior settings advindos dos sinomorfos observados no CAERF

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No entanto, esse número ainda tornava a categorização inviável para a análise

que se propõe nesse estudo. Era preciso agrupar mais. Diante desse desafio, foi utilizada

a verificação de genótipos ambientais12 para agrupar BSs “primos” entre si.

5.2.6 Verificação de genótipo ambiental

Conforme foi dito anteriormente, para delimitar o universo dos usuários, foi

definido um plano de agrupamento dos BSs detectados em função da noção de genótipo

ambiental. Para tanto, a teoria de Barker (1968) indica a necessidade de utilizar a média

entre 4 itens (tabela 15), de modo que 2 BSs pertencerão a um mesmo genótipo se essa

média for menor que 25%, e se nenhum dos item avaliado for inferior a 25% (Barker,

1968).

Iniciou-se analisando BSs que possuem espaços em comum.

BS1a X BS2a

BS5a X BS7a

BS9a X BS10a

BS2a X BS6a

BS4a X BS8a

ITENSDiferença no programa 20 20 20 50 50

Treinamentocomportamento 20 20 20 50 50

Itens não transferíveis 0 0 0 0 0

Tempo para manutenção 0 0 0 0 0itens não-transferíveis Média 10 10 10 25 25

Mesmo genótipo

Mesmo genótipo

Mesmo genótipo

Mesmo genótipo

Mesmo genótipo Resultado

Tabela 15. Análise de genótipos ambientais

A partir dessa verificação de genótipos foi concluído que, se as ações de uma

mesma natureza (como “caminhar” ou “correr” ou “pedalar” ou “esperar ônibus”)

ocorrem num mesmo local serão de um mesmo genótipo, mesmo que o horário do dia

12 ver considerações sobre genótipo ambiental no capítulo 2, p. 38.

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varie. Assim sendo, foi possível reduzir ainda mais as categorias de análise, para as

categorias apresentadas na Figura 30.

1) Caminhar sozinho 7) Pedalar sozinho 2) Caminhar com cia 8) Esperar ônibus numa mesma

parada, num mesmo horário 3) Caminhar com cachorro 4) Correr sozinho 9) Sentar nos bancos em atividade

estática5) Correr com cia 6) Correr com cachorro 10) Sentar nos bancos em atividade

dinâmica

Figura 30. Categorias pelo viés teórico

5.3. Ouvindo os usuários: apresentação dos dados e discussões

preliminares

Lançando mão das duas categorizações detalhadas nesse capítulo, foi iniciada a

etapa de entrevista com os usuários, terceira e última fase do presente trabalho.

Foram realizadas 20 entrevistas. A escolha dos entrevistados foi definida a partir

das categorias indicadas pela análise observacional (correr, caminhar, pedalar e usuários

em atividade estática) e pela análise de behavior setting, que detalha as categorias

anteriores pela indicação do número de participante e o tipo de atividade desempenhada

(Figura 31).

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Categorias viés observacional Categorias viés teórico N°

Caminhar sozinho 02

Caminhar Caminhar com cia 02

Caminhar com cachorro 02

Correr sozinho 02

Correr Correr com cia 02

Correr com cachorro 02

Pedalar Pedalar sozinho 0213Esperar ônibus 02

Atividade estática Usar bancos em atividade estática 02

Usar bancos em atividade dinâmica 02

Total 20

Figura 31. Quadro numérico de entrevistas, por categorias

A transcrição das entrevistas foi feita de forma a manter a maior fidelidade

possível, levando em conta, inclusive, as reações dos entrevistados no momento da fala.

A entrevista com gravação de áudio facilitou a conexão entre as respostas e as

onomatopéias utilizadas a contento pelos respondentes, bem como os silêncios, gírias,

hesitações, sorrisos e os momentos em que o entrevistado precisava pensar no que

responder. Devido a isso e às diferentes lógicas de discurso, foi necessário ouvir

repetidas vezes as entrevistas até que a transcrição dos principais comentários

progredisse de modo satisfatório. Durante algumas falas, foi necessário interrogar ao

respondente o significado literal do que estava sendo dito para não prejudicar a clareza

do relato. Descrever seus comportamentos e suas percepções foi uma atividade difícil

para a maioria dos entrevistados, o que exigiu um esforço adicional no momento da

entrevista. Além disso, uma vez que o interesse era identificar o maior número de

sensações e percepções possíveis, fez-se necessário incentivar o entrevistado a ser

menos sucinto ao falar sobre alguns temas.

13 De acordo com a categorização prévia, pertencem a um mesmo BS os usuários de uma mesma parada, que a utilizam num mesmo horário. O presente trabalho teve como preocupação entrevistar pessoas sob essas condições. Para efeito prático, a categoria “esperar ônibus” será assim chamada sem a ressalva de horários e localização, no entanto, é importante saber que se trata do BSs indicado pela análise.

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As entrevistas foram realizadas nas mais diversas situações, propositalmente.

Por vezes, a conversa era marcada em outros espaços públicos distantes do CAERF. Em

outras ocasiões, após a execução de suas atividades habituais, as pessoas eram

convidadas a participar da entrevista no próprio calçadão ou próximo a ele - como na

residência do entrevistado, por exemplo. A opção por um local próximo, ao invés do

CAERF, foi tomada algumas vezes devido ao fato de que, no calçadão, a qualidade da

gravação ficava comprometida por ruídos, como já havia sido constatado em

entrevistas-piloto. Numa primeira análise, a memória a respeito do espaço do calçadão

parecia melhor preservada quanto mais próxima do CAERF a entrevista ocorresse. Essa

constatação surgiu da preocupação em escolher, propositadamente, locais diversos para

a feitura da entrevista. No entanto, no decorrer da aplicação das mesmas, foi percebido

que o fator com o qual estava lidando era mais temporal do que espacial.

De modo geral, as entrevistas realizadas com pessoas que haviam acabado de

utilizar o CAERF eram mais ricas em detalhes, tanto espaciais como comportamentais,

em detrimento às entrevistas realizadas com pessoas que, por exemplo, usaram o

CAERF no turno da manhã e estavam sendo entrevistadas à tarde ou à noite.

5.3.1 Perfil dos usuários entrevistados

A maioria dos respondentes reside em bairros vizinhos ao CAERF, como Ponta

Negra (60%) e Capim Macio e Conjunto dos Professores (20%). Apenas dois

entrevistados relataram morar no Bairro Latino (afastado cerca de três quilômetros de

uma das extremidades do CAERF) e um outro, ciclista, é morador do bairro de

Petrópolis, zona leste da cidade. Os usuários de paradas de ônibus entrevistados

dispõem do transporte para se afastar de seu local de moradia e ir ao local de trabalho e

não o inverso. Isso talvez indique o fator “praticidade” do equipamento urbano, ou seja,

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conforme foi relatado, a proximidade do calçadão com o local de moradia e a

possibilidade de ir à pé até ele o transformam num ambiente atrativo. Essa proximidade,

inclusive, é reconhecida como vantagem pelos usuários, como será visto mais adiante.

A faixa etária dos entrevistados ficou entre 21 e 62 anos. Abaixo de 21 anos,

pelo que se observou, não há muitos usuários assíduos em práticas de atividades físicas

no CAERF. Talvez porque essa faixa etária da população prefira freqüentar academia

ou pratica esportes coletivos. Quanto ao uso dos bancos e paradas de ônibus pelos que

possuem menos de 21 anos, observou-se que ocorre, primordialmente, no início da

manhã, quando estudantes estão indo para o colégio. A maior parte dos entrevistados

tem entre 23 e 40 anos, mas pode-se dividir a faixa etária em dois principais grupos: os

que estão próximos dos 25 e os que estão próximos aos 55 anos. Apesar de não ter sido

preocupação do presente trabalho, a idade média das pessoas entrevistadas reflete o que

se observa no CAERF, em termos de proporção. Sendo a faixa etária dos 25 anos a

média dos usuários do turno noturno e 55 anos a média dos do turno matutino. No turno

vespertino, não se observa predomínio de uma faixa etária específica.

As oito mulheres e os doze homens entrevistados pareciam possuir bom

condicionamento físico, não apresentavam indício de limitação de locomoção e

demonstraram possuir boa condição econômica, compatível com o perfil dos moradores

da zona Sul da cidade, no qual se localiza o CAERF. Ou seja, tanto os homens quanto

as mulheres teriam condições financeiras de pagar pelo uso de um local privado para a

prática de exercícios, mas parecem optar pelo espaço público. A maioria dos

entrevistados possuem curso superior (65%), 25% estão na universidade e apenas 10%

possuem nível médio. As profissões variaram: dois médicos, um engenheiro civil, uma

dentista, dois engenheiros de computação, um profissional de educação física, três

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militares, dois advogados, uma manicure, uma enfermeira, um cabeleireiro e cinco

estudantes. A tabela 16 mostra as informações pessoais dos usuários entrevistados.

Número da

entrevista

Gênero Idade Profissão Atividadepredominante

EstadoLocal de Bairro de

entrevista civil moradia

Feminino 21 Estudante Corre - cia Outro solteira Capim Macio 1Feminino 31 Dentista Caminha - só Residência solteira Ponta Negra 2

Eng.computação

PróximoCAERFMasculino 26 Corre - cão casado Conj.Professores3

4 Feminino 30 Eng.computação Caminha - cão Residência casada Conj.Professores

PróximoCAERFFeminino 59 Médica Caminha - cia casada Ponta Negra 5

Feminino 23 Estudante Caminha - só Residência solteira B. Latino 6Profissional

deMasculino 28 Pedala Outro solteiro Ponta Negra 7Ed. Física

Masculino 61 Militar Caminha - cia Residência casado Ponta Negra 8Masculino 27 Advogado Corre - só CAERF solteiro B. Latino 9Masculino 23 Militar Corre - cia CAERF Solteiro Ponta Negra 10

Corre – Cia + Banco – dinâmico

(abdominal)

Masculino 22 Militar CAERF Solteiro Ponta Negra 11

Banco – estático

(namorar)Masculino 26 Estudante Residência Solteiro Ponta Negra 12

Masculino 27 Estudante Corre - só Residência solteiro Ponta Negra 13Parada de

ônibusFeminino 20 Estudante Residência solteira Ponta Negra 14

Próximoao

CAERFMasculino 28 Médico Pedala solteiro Petrópolis15

Masculino 55 Eng. Civil Caminha - cão Residência casado Ponta Negra 16

17 Masculino 38 Cabeleireiro

Caminha + Banco

dinâmico(alongamento)

Residência solteiro Ponta Negra

Masculino 25 Advogado Corre - cão Residência solteiro Ponta Negra 18

19 Feminino 27 EnfermeiraBanco estático

(medindopressão)

CAERF solteira Conj.Professores

Parada de ônibusFeminino 35 Manicure CAERF solteira Ponta Negra 20

Tabela 16. Quadro de entrevistas.

5.3.2 O que pensam sobre o CAERF

A tarefa dada aos entrevistados de pôr em palavras uma sensação espacial gerou

as mais diversas respostas possíveis. Talvez por ter sido a primeira pergunta do roteiro

de entrevistas, os entrevistados paravam pra pensar um pouco antes de responder.

Diante da pergunta “O que lhe vem à cabeça em termos espaciais quando pensa no

CAERF?”, a opinião dos entrevistados divergiu (Figura 32). Dentre os respondentes,

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45% descreveram aspectos positivos do lugar, 40% relataram aspectos negativos e 15%

responderam de forma descritiva, sem posicionamentos favoráveis ou desfavoráveis.

Dos que relataram características negativas, em geral, as queixas eram sobre a largura

do calçadão, seja pela disputa entre pedestres, ciclistas e paradas de ônibus, seja pela

quantidade de pessoas transitando no local. Segundo um dos entrevistados, as pessoas

não sabem usar o espaço adequadamente. Aquelas que imediatamente se lembraram dos

aspectos positivos relataram fatores associados aos benefícios da atividade física para a

saúde, além de poder ver a cidade e encontrar pessoas. Houve quem descreveu o

CAERF como um espaço voltado para a prática de exercícios.

O que vem à cabeça (em termos espaciais) quando pensa em CAERF?

Figura 32. Sensações dos respondentes sobre o CAERF. FONTE: produção da autora

“Muitas pessoas desfilando e poucas pessoas fazendo

“Uma extensão de 2,5Km de calçada favorável à prática de exercícios.” “Um contraste entre

o Parque das Dunas e um transito intenso do outro lado.”

“Poderia ser melhor. É apertado e não tem ciclovia.”

“Um ambiente para caminhar, correr e passar. Uma calçada.”

“Um lugar agradável pra fazer exercício, mas que as pessoas não usam adequadamente.”

“Um lugar bom de correr.”

“Acho o espaço limitado para o uso que está sendo feito”.

Poderia ter sido melhor projetado.

“Local onde tem várias pessoas que estão tentando cuidar da saúde”.

“Um bom ambiente, adverso para a prática esportiva”.

“Falta de Infra-estrutura”

“Importante pra comunidade e para a prática de atividades físicas”

“Calçadão estreito. Incompatibilidade entre exercício físico e paradas de ônibus. Indisponibilidade para ciclovia.”

“Como ando de bicicleta, acho muito pequeno porque quase atropelei pessoas”.

“Um lugar aprazível para exercer a qualidade de vida.”

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5.3.3 Opções de uso

A freqüência de uso do equipamento foi levantada com o intuito de selecionar os

respondentes. Só havia interesse de entrevistar pessoas que utilizassem mais de duas

vezes ao dia, pois se estima que quanto mais a pessoa freqüenta um espaço, mais

apurada fica a sua percepção a respeito dele e maior o grau de conhecimento da área.

Com o mesmo intuito de seleção, procedeu-se investigando o tipo de atividade que

desempenhada e o hábito de ir sozinho(a) ou acompanhado (a) ao CAERF. Foi

convencionado entrevistar o mesmo número de pessoas em cada categoria. Como

algumas delas eram definidas conforme a existência ou não de parceiro, a pergunta era

feita apenas para se ter a certeza da situação mais freqüente.

Como a atividade desenvolvida foi o fator que determinou as categorias para a

entrevista, não houve surpresas nesse quesito. No caso do respondente fazer mais de

uma modalidade física, era perguntado se ele observava diferença no modo de usar o

calçadão, dependendo da atividade que desenvolvia. Cerca de 65% dos entrevistados

relatou exercer mais de uma atividade no local. Desses, a quase totalidade disse

perceber diferenças em como executa as duas práticas, seja na forma como se comporta

ou como vê o espaço a sua volta.

É melhor quando eu tô caminhando porque você tem mais facilidade pra desviar das paradas, dos cães e das bicicletas. (Entrevista 16)

Em relação aos horários escolhidos pelos usuários para utilizar o espaço, o fator

determinante parece ser, em primeiro lugar, a disponibilidade de tempo do usuário e, em

geral, relacionadas ao trabalho. Estima-se que pelo fato do calçadão ser um espaço

público “aberto 24 horas”, as pessoas optam por ele, em detrimento das academias que

possuem horários pré-definidos. Utilizar o espaço público e fazer “seu próprio horário”

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faz da comodidade um dos principais atrativos. Em segundo lugar, estão os fatores

relacionados ao clima, especificamente à incidência do sol. Todos relataram optar pelo

horário em que faz menos calor e demonstraram saber que, nos horários mais quentes, o

desempenho da atividade física fica prejudicado, além dos efeitos nocivos que a

insolação pode conferir à saúde. Todos os respondentes reconheciam que o horário

interfere no desempenho da atividade.

No fim da tarde é mais agradável por causa do sol. Se você for correr de meio dia, você chega em casa um carvão torrado! (Entrevista 04)

A temperatura amena facilita a corrida, mas eu não vou de noite porque tenho que estudar. (Entrevista 13)

Talvez esses fatores apontados expliquem porque há maior quantidade de

pessoas transitando pelo CAERF no início da manhã e no final da tarde. Um

respondente, que caminha de manhã cedo e no final da tarde, disse preferir a manhã

porque sente o ar mais puro, devido ao volume de carros ser menor nesse horário.

A quantidade de pessoas também foi o terceiro fator mais apontado na escolha

do horário de uso do calçadão. As pessoas disseram se incomodar com o acúmulo de

pessoas, pois isso dificulta o fluxo harmonioso. No entanto, no decorrer da entrevista,

percebia-se que esse fator não era tão determinante do horário, pois grande parte dos

respondentes vê o maior número de pessoas como um benefício para segurança pública.

Eu vou de noitinha porque tem menos gente e por que o sol tá mais frio. (Entrevista 09)

Há casos de usuários que não podem optar pelo horário que vai freqüentar o

CAERF, como aqueles que aguardam ônibus nas paradas ou usam o calçadão apenas

como caminho para ir a algum outro lugar. E também há casos de pessoas que possuem

muito tempo livre e vão ao calçadão de acordo com seu estado de motivação para a

prática da atividade física.

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Durante o levantamento da freqüência de uso do CAERF, alguns dos

entrevistados disseram ser ex-usuários da Via Costeira, a Avenida Dinarte Mariz, via

que dá acesso às praias da zona Sul a partir do bairro de Ponta Negra. A Via Costeira,

construída na década de 70, possui um calçadão mais largo do que o CAERF e uma

ciclovia, e foi bastante utilizado pela população até a construção do calçadão da orla de

Ponta Negra e o CAERF. O motivo para a desistência de uso da Via Costeira, segundo

quatro entrevistados que são ex-usuários, foi o vazio demográfico que se estabeleceu

com a construção dos outros calçadões. Apesar do calçadão mais largo e da ciclovia, os

respondentes relataram não se sentir seguros no local devido à ausência de

movimentação de pessoas no entorno da Via Costeira, enquanto no CAERF, podem ir a

qualquer horário do dia sem se sentirem inseguros.

Dos entrevistados, 30% relataram levar walk man para o CAERF. Dentre eles, a

maioria pratica exercício físico, mas uma usuária de parada de ônibus disse recorrer à

música, pois assim o tempo passa mais rápido.

Sempre espero ônibus com walk man, porque quando espero ônibus ouvindo música, fico mais tranqüila, menos impaciente. Sem música, o tempo demora mais a passar. (Entrevista 14)

Todos os usuários de walk man entrevistados, inclusive ciclistas, disseram não

sentir diferença na forma como se comportam ou transitam pelo calçadão estando com

ou sem o aparelho. Apenas uma entrevistada constatou essa diferença. Os 70% que

responderam não levar walk man ao CAERF, em geral, vão acompanhados, não

possuem o aparelho ou optam por não utilizá-lo para não ficarem distraídos.

No entanto, todos os entrevistados que não levam walk man indicam que o uso

do aparelho muda o modo como a pessoa se locomove. Para eles, o walk man faz a

pessoa ficar mais concentrada na atividade que está desenvolvendo e aumenta o

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rendimento físico, mas há uma queda na percepção do que acontece a sua volta e menos

interação com o ambiente.

Quem usa walk man parece estar numa academia. Quando as pessoas vão com walk man, elas estão um pouco desligadas daquele ambiente. Elas parecem não estar interagindo com aquele ambiente. Deixa eu me expressar melhor...O que eu tô querendo dizer é que as pessoas que usam walk man geralmente tem mais dificuldade de ver uma pessoa e conversar com ela, porque é como se o walkman conseguisse...digamos assim....abafar os outros estímulos que estão ali presentes. Entendeu?! (Entrevista 15)

Acho que a pessoa que está com walk man vive mais a música dela, o mundo dela. Ela não tá muito ligada ao externo. Então não tá muito ligada às pessoas que estão em volta, não vai olhar pra ninguém, não vai cumprimentar ninguém, na maioria das vezes. Então acho que esse é o comportamento diferente das demais pessoas que estão ali andando, observando, vendo pessoas, vendo os carros... (Entrevista 11)

Apenas 20% dos entrevistados disseram levar telefone celular ao CAERF.

Desses, dois entrevistados (ou seja, 10%) praticam atividade física. Eles relataram

sentirem-se diferentes quando estão se locomovendo e falando ao aparelho ao mesmo

tempo.

Geralmente, uma das coisas vai ter uma perda. Se é na caminhada, você vai diminuir o ritmo, porque você tá conversando...se você tá conversando tem o barulho das pessoas que estão passando e do trânsito, mas...bom, uma das duas coisas é afetada. Ou o telefonema ou a caminhada. Quando eu tô usando o celular eu não percebo o que está acontecendo do meu lado. (Entrevista 6)

Dois entrevistados alegaram não levar o aparelho por medo de furtos. No

entanto, 100% dos entrevistados disseram ter visto pessoas portando telefone celular no

calçadão ou falando ao telefone durante o exercício físico. Os respondentes que não têm

o hábito de levar o aparelho para o CAERF não acham a prática saudável, seja porque

quem fala ao telefone fica distraído e isso interfere na forma como se locomovem ou

porque entendem que o aparelho interfere no rendimento da atividade.

Eu não levo celular porque eu vou pra lá pra caminhar e correr, não vou ficar atendendo telefonema. Acho que elas não estão preocupadas com o exercício.

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Não se desligam. Já observei pessoas usando e elas costumam ficar distraídas. Não coordenam bem na hora de passar um pelo outro, além de falar alto e incomodar as pessoas. (Entrevista 2)

Nos turnos da manhã e da tarde é comum encontrar pessoas caminhando e

correndo com cães. À noite é mais raro, tanto que uma das entrevistadas que corre a

noite disse nunca ter visto cães no CAERF.

Com exceção dos entrevistados que fazem atividade com cães, a maior parte dos

respondentes se incomoda com a presença dos animais. Três entrevistados disseram que

deveria ser terminantemente proibido levar cães ao CAERF. Alguns admitem sentir

medo, principalmente quando os cachorros são de grande porte.

Não levem cachorros para o calçadão porque as pessoas têm medo! Elas se recuam. Outro dia, vi um cachorro enorme e um rapaz bem magrinho segurando. Se aquele cachorro cismar com alguém, ele não segura o cachorro nem a pau!Até porque se você tem medo, você atrai o cachorro. (Entrevista 17)

Já vi até Pit Bull! Eu me sinto ameaçado de ser atacado por aquele animal. (Entrevista 20)

Os que disseram que a convivência é possível, fizeram ressalvas. Usar

estrangulador, focinheira, deixar a coleira bem curta, permitir apenas animais de

pequeno porte e levar saquinhos para apanhar os dejetos dos animais foram os cuidados

adicionais mais citados. Dois caminhantes que não foram categorizados como

portadores de cães disseram já terem tentado passear com seu animal de estimação no

CAERF, mas desistiram diante da demonstração de medo dos demais usuários. Segundo

eles, era estressante desprender tantos cuidados e atenção para deslocar-se pelo local.

Eu já levei meu cachorro, mas hoje eu não levo mais porque meu cachorro é muito grande e incomodava os outros. Como o espaço é estreito, mesmo que eu tentasse afastar, não dava. (Entrevista 2)

Eu ando com minha cachorrinha pequena. Eu pensei que ninguém nunca ia se assustar, mas tem gente que não gosta. Eu também tenho medo que o povo pise nela...e ainda tem os dejetos....tem que levar saquinho. Tem outro problema de

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levar cachorro: tem gente que quer ver o cachorro de perto e a gente tem que parar. Já que o objetivo é caminhar, eu não acho muito legal. (Entrevista 3)

Um dos portadores de cães disse não enxergar motivo para tanto medo, pois o

cachorro dele é manso. No entanto outro entrevistado relatou que não há como um

desconhecido medir essa grandeza.

Não me sinto bem porque não tem como evitar os cães porque não tem espaço. Você fica no meio do “fogo cruzado”. Não há espaço para reajustes. Não é conveniente levar cães para o calçadão, de nenhum porte. Mesmo que o cão seja manso com você, as pessoas na rua não sabem disso e têm medo. (Entrevista 18)

5.3.4 Percebendo as demais atividades

De acordo com os entrevistados, quem caminha percebe melhor as demais

atividades no CAERF do que quem corre, pedala, usa os bancos ou espera nas paradas

de ônibus. Entre os que caminham, os que vão com cachorro relataram maior número de

atividades, seguidos dos que vão acompanhados e, por fim, dos que têm o hábito de

caminhar sozinhos. Em geral, os caminhantes prestam bastante atenção ao que acontece

ao seu redor e citaram uma média de 11 atividades identificadas. A Tabela 17 mostra as

atividades descritas pelos caminhantes, grupo que mais identificou modalidades no

calçadão.

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Os corredores formam o segundo grupo a perceber mais atividades,

principalmente se correm sozinhos. A média de atividades relatadas para os corredores é

de oito modalidades. Nenhuma modalidade diferente das relatadas pelos caminhantes

surgiu dentre as descritas pelos corredores. Quem vai acompanhado percebe menos as

atividades presentes. E a quantidade de modalidades descrita reduz de doze para nove.

Já os ciclistas relataram uma média de seis atividades presentes no calçadão. As

pessoas que esperam nas paradas de ônibus possuem uma média ainda menor: quatro

atividades (esperar nas paradas, caminhar, pedalar e correr). Na verdade, algumas

dessas atividades poderiam ser desmembradas, como é o caso do relato dos caminhantes

que se alertaram ao fato de existirem pessoas correndo sozinhas e com cachorros. Mas,

14 Devido ao fato do grupo de caminhantes ter identificado mais atividades no CAERF e dos demais grupos não terem identificado novas modalidades além das descritas na tabela 17, seria redundante identificar, nesse quadro, as atividades percebidas pelos demais grupos.

Grupo do

respondenteCategoria

Número de

Atividades percebidas atividades

percebidas

Caminhantes; corredores; pessoas na espera por ônibus; turistas; casais de namorados; ciclistas; pessoas passeando com cachorro; e usuários da pista de aeromodelismo

Sozinho 8

Caminhantes; corredores; pessoas fazendo alongamento e ginástica nos bancos; ciclistas; crianças andando em velocípedes; vendedores de coco; medidores de pressão; pessoas descansando nos bancos; e pessoas nos bancos observando os outros passarem

Acompanhado 9

Caminhantes

Pessoas fazendo alongamento nos bancos; caminhantes; caminhantes com cachorros; corredores; pessoas fazendo abdominal nos bancos; ciclistas; vendedor de coco; pessoas fazendo pesquisas de opinião pública; equipe de medidores de pressão; pessoas que esperam por ônibus; e prostitutas.

11Com cachorro

14Tabela 17 . Atividades percebidas pelo grupo dos caminhantes FONTE: produção da autora

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diante do objetivo desse trabalho, entende-se que a falta desse detalhe pode representar

uma percepção menos apurada do que ocorre a sua volta, denotando que não haveria

diferença entre estar sozinho ou com um cachorro no CAERF, por exemplo.

No grupo dos que utilizam os bancos a média de atividades relatadas foi três, a

menor dentre os entrevistados.

Esse levantamento demonstra a dificuldade em reunir as categorias para a feitura

desse estudo, pois o primeiro desafio do respondente frente à pergunta “que atividades

acontecem no calçadão” é o de agrupar um misto de atividades em modalidades

caracterizantes do local. Nesse caso, as pessoas que trabalham medindo a pressão dos

usuários do calçadão, por exemplo, prestam um serviço esporádico e não representam

um uso caracterizador daquele local. O mesmo ocorre com os pesquisadores de opinião

publica e as pessoas que fazem panfletagem, que sequer foram lembradas nas

entrevistas.

A presença dos vendedores de coco quase sempre vista como prejudicial para o

espaço (Figura 33). Apenas um entrevistado relatou ser algo positivo, mas disse que não

costuma comprar.

Figura 33. Uso dos bancos para ginástica e vendedor de coco: duas atividades citadas pelos usuários.

FONTE: arquivo da autora

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Outra ocorrência importante de ser relatada foi a pequena quantidade de pessoas

que se lembrou de citar “namorar” como atividade praticada no CAERF. Um corredor

comentou que havia um tipo específico de usuários do calçadão: os que desfilam. Para

ele, a diferença entre quem está caminhando e quem está desfilando é que quem desfila

está menos comprometido com a atividade física e fica olhando pro Parque das Dunas e

para o pôr do sol, atrapalhando o fluxo.

Ninguém faz atividade física de mãos dadas, você já viu?! Aí pára no banco e fuma um cigarro. É melhor ir pro shopping”. (Entrevista 13)

O entrevistado 15 também comentou a respeito de “desfiles”. Segundo ele,

“quem usa celular está desfilando”. Já o entrevistado 03 comentou que “ver as pessoas

desfilando é uma das vantagens de usar aquele espaço”.

Para 90% dos respondentes, o CAERF não comporta todas essas atividades. Os

dois entrevistados que responderam que o calçadão cumpre bem sua função fizeram

uma ressalva: “por enquanto está comportando seus usos, mas, no futuro, deve ser

tomada alguma providência para que as condições melhorem” (Entrevista 06). Isso

denota a crescente utilização do CAERF pelas pessoas, uma vez que quem está lá

identifica ou o seu inchaço populacional ou a tendência a esse sintoma.

Gostaria que ou se abrisse mais o espaço ou se estruturasse de alguma forma um espaço próprio pra ciclistas e pra cachorros. Eu acho que ali tá complicado por causa da parada...cria problemas. O corredor ou caminhante, o ciclista, quem vai andar com cachorro e quem vai esperar nas paradas. São esses quatro grupos que eu vejo. E eles estão se chocando! (Entrevista 9)

Os motivos mais citados para o calçadão não comportar todas as atividades, em

geral, dizem respeito ao estreitamento do espaço físico provocados pelas aglomerações

nas paradas e pela pavimentação em alguns trechos, bem como a falta de ciclovia. Um

dos entrevistados comentou que o calçadão deveria ser duplicado na largura. No

entanto, cerca de 45% dos entrevistados apontaram fatores relacionados a dificuldade de

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locomoção pura e simples, ou seja, mais do que o estreitamento do espaço, seria a

presença de outras pessoas que dificultaria a locomoção no ambiente. Um dos

entrevistados chegou a chamar de “falta de solidariedade” a formação de paredões15 e o

fato dos que esperam por ônibus não afastarem para dar passagem aos que trafegam. Ou

seja, na hora de indicar o porquê do CAERF não comportar todas as atividades, o

problema de funcionamento é visto como uma via de mão dupla: espacial e

comportamental.

O calçadão não comporta todas as atividades. Não tem respeito entre caminhantes, ciclistas e pessoas com cachorro. É um problema do comportamento das pessoas e do espaço não ser adequado”. (Entrevista 09)

Não comporta porque o projeto do espaço não foi bem feito. (Entrevista 11)

5.3.5 Usuário sozinho versus usuário acompanhado

Tanto no que se refere ao desempenho da própria atividade que exerce no

CAERF, quanto em relação às outras pessoas a sua volta, pouco mais de 80% dos

entrevistados relatou notar mudanças ao se locomover sozinho(a) ou acompanhado(a).

A grande maioria acha a diferença evidente. Segundo os usuários, quando estão

acompanhados, a conversa os torna mais distraídos e menos concentrados na atividade

que estão executando. Assim, quem vai sozinho alega possuir maior facilidade em

driblar as pessoas, melhor concentração no exercício e mais flexibilidade em estabelecer

rotas e ultrapassagens. Um ciclista, dois corredores e um caminhante identificaram a

formação de “paredões” como a pior conduta das pessoas que percorrem o CAERF em

grupos (mesmo pequenos), pois quando mais de duas pessoas andam lado a lado, a sua

ultrapassagem fica bastante difícil.

As pessoas que vão acompanhadas, geralmente vão fazer uma atividade e, junto com essa atividade, elas conversam entre elas. Se você vai gastar calorias, vai

15 Configuração formada por pessoas que costumam percorrer o espaço andar lado a lado, dificultando a passagem de quem cruza.

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correr e tudo o mais, você não consegue fazer isso de uma maneira adequada se ficar conversando. A diferença é essa. (Pensa). Quando as pessoas vão acompanhadas, elas se tornam um pouco mais “espaçosas”. Sei lá, fica mais difícil de conseguir ultrapassá-las, tá entendendo? (Entrevista 15)

A pessoa que vai sozinha tem noção de espaço mais limitada. Ela ocupa menos espaço. Quando você tá acompanhado, você tá conversando, então não tem muito esse cuidado de andar reto. Você tende a ser mais espaçoso. (Entrevista 9)

De modo geral, ir sozinho(a) parece ser o modo de prestar mais atenção a

atividade que se está fazendo. Quem vai sozinho usa mais walk man e se desliga mais

do que acontece à sua volta. Um dos entrevistados falou que vê benefícios nos dois

modos e que sempre permuta idas sozinho e acompanhado ao CAERF. Segundo ele,

embora sua velocidade de deslocamento na caminhada reduza quando ele vai

acompanhado, o fato de poder conversar torna a atividade mais prazerosa.

Gosto de ir dos dois jeitos: sozinho e acompanhado. Acompanhado você faz o exercício, mas é quase um lazer porque você vai num ritmo menor. Sozinho levo mais a sério o exercício, forço mais, presto mais atenção na respiração. Mas ir acompanhado é melhor pra cabeça, distrai mais. (Entrevista 17)

Uma das entrevistas mais ricas nesse quesito foi a de número 10. O respondente,

na primeira pergunta, relatou não perceber tais diferenças, mas em outro momento da

entrevista disse que, correndo acompanhado, ele percebe menos o que está a sua volta

porque fica conversando e olhando para o rosto da pessoa, além de ficar mais

preocupado sobre como driblar as pessoas no calçadão, uma vez que fazer a

ultrapassagem estando com uma pessoa do lado é mais complicado do que estando

sozinho. Depois de alertado sobre a diferença entre as duas respostas, o respondente

mostrou surpresa e comentou que era uma adequação espacial tão natural que ele não se

dava conta. Foi o próprio entrevistado que voltou a pensar na pergunta e acrescentou

que, para ele, a velocidade de corrida também interfere na forma como ele usa o espaço,

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porque, quando vai acompanhado de alguém que não corre tão rápido quanto ele, há

mais tempo para mudar sua trajetória ou a reagir a algum imprevisto.

5.3.6 Disputa pelo espaço: ciclistas e pedestres

Todos os entrevistados indicaram perceber problemas entre ciclistas e pedestres.

Quase sempre, delegavam a culpa ao fato de não haver ciclovias ou pelos ciclistas

insistirem em usar aquele espaço que, segundo os respondentes, é muito estreito. A

presença das pessoas nas paradas de ônibus agrava ainda mais esse estreitamento.

O risco de atropelamento por bicicletas parece ser constante no CAERF. Alguns

relataram ter sido vítimas, outros disseram já ter visto ocorrências de encontrões entre

ciclistas e pedestres. Para a maioria dos entrevistados, a culpa pelo risco de

atropelamentos é do ciclista, apenas uma das entrevistadas alegou ser do pedestre a

responsabilidade pelo cuidado. Segundo ela, o pedestre tem maior facilidade de mudar a

trajetória que descreve e cabe a ele verificar em que direção está vindo a bicicleta e

tentar driblá-la. Para todos os outros respondentes, “é o ciclista quem não respeita o

pedestre” (Entrevista 14). Segundo eles, o principal problema é a conduta dos ciclistas.

“Eles ficam “costurando” no calçadão. Acho chato” (Entrevista 17). “Já vi senhoras

caminhando bem tranquilamente, aí passa alguém na bicicleta gritando, pedindo

passagem e elas ficam aperreadas16” (Entrevista 1).

A ameaça das bicicletas parece estar ligada ao fato de que elas possuem uma

velocidade superior a do pedestre, ou seja, um possível choque entre essas duas partes

ocasionaria lesões mais graves no pedestre do que no ciclista. Para os entrevistados,

além da construção de um local apropriado para as bicicletas, a dinâmica de

deslocamentos entre as duas partes precisaria estar bem coordenada para que não

houvesse acidentes.

16 Regionalismo. “Ficar aperreada” significa mostrar-se nervosa.

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Eu já vi problemas ali, porque a maioria das pessoas que estão ali, numa calçada onde não há uma ciclovia, nunca espera que venha uma bicicleta, principalmente quando ela vem por trás. Você vem andando descontraída e quando se dá conta, tem uma bicicleta vindo. Eu já presenciei leves traumatismos, sustos, ciclistas “tirando fino” (passando rente), pessoas cangueiras (que não sabem conduzir)andando de bicicleta lá. E quando há crianças, é horrível porque a criança não sabe pra onde deve correr se vier uma bicicleta. (Entrevista 4)

5.3.7 Percebendo modificações no CAERF

No momento de responder se percebem modificações no calçadão, metade dos

entrevistados disse perceber tanto alterações na paisagem (como novas construções),

quanto alterações mais pontuais, como acúmulo de lixo e aparição de buracos no

mosaico de pedras portuguesas do piso. Modificações no piso foram as mais citadas. Os

que mais alegaram perceber modificações foram os corredores, muitos dos quais se

autodenominam bons observadores ou atribuíam sua “percepção apurada” a sua

assiduidade no local.

Noto quando se apara a grama, quando plantam árvores, quando recolhem o lixo, quando varrem. E nos arredores, eu observo sempre as novas construções. Isso é muito comum entre as pessoas que freqüentam sempre lá....quando começa a construção todo mundo fica querendo saber o que é. (Entrevista 8)

Sim, quando há alterações no piso, eu noto. E às vezes as pedras se soltam. Quando chove, há locais no asfalto que juntam água e, vez por outra, a gente vem passando, passa um carro e a gente toma banho de lama. Nos arredores desse calçadão ta sempre aparecendo prédios e é muito agradável olhar. (Entrevista 5)

Mesmo os que disseram não perceber modificações relataram algumas ao longo

da entrevista. Dois respondentes alegaram ficar com receio de responder que percebem

as modificações, pois não conseguiriam citá-las.

Não percebo, mas não sou muito observador, realmente. (Entrevista 15)

Foi notado que a percepção das modificações depende também do horário que os

usuários utilizam o calçadão, devido à luz do sol. Quem freqüenta o calçadão durante o

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dia tem maior visibilidade do que quem freqüenta a noite e, em geral, percebe mais

modificações, principalmente em relação ao entorno no CAERF. Além disso, algumas

alterações citadas, como a presença de policiais e do posto de medição de pressão só

ocorre em determinado horário do dia.

5.3.8 Acessos, percursos e estratégias de locomoção

Além de pedir para descrever os acessos, os entrevistados tiveram de relatar de

que forma chegam ao CAERF e qual percurso costumam fazer. Nesse ponto, a maior

parte dos entrevistados parou para pensar por algum tempo, tentando descrever seu

percurso. A dificuldade parecia ser no tocante aos pontos de referência. Quase sempre,

eles usavam elementos presentes no outro lado da avenida para orientar a trajetória em

sua fala. O calçadão, nesse momento, transformava-se em um lugar de passagem, que

não comunica.

Eu chego no calçadão pela extremidade do Rede Mais (supermercado)...sei lá como se chama. Perto do conjunto dos professores. (pensa um pouco) É porque se eu disser que eu chegava pelo lado de cá e caminhava até o lado de lá, você não vai saber do que eu estou falando, né? Então, entrava pelo conjunto dos professores, ia até a extremidade de lá, caminhava até o outro fim e voltava pela mesma extremidade que a gente entrou. (Entrevista 3)

Cerca de 80% dos entrevistados chegam ao CAERF a pé. Os outros 20% vão de

carro ou bicicleta. Desses últimos, todos estão envolvidos com outras atividades que

não incluem apenas o calçadão e, devido a isso, necessitam de um meio de transporte

mais rápido para se locomover. Apenas um entrevistado relatou que gostaria de acessar

o calçadão de carro, mas que não fazia isso por causa da falta de estacionamentos.

Em geral, todos possuem uma idéia de percurso na cabeça antes de começar a

utilizar o calçadão e costumam seguir esse trajeto sempre que o usam. Isso permitiu

confirmar a suspeita levantada na etapa de observação do local, de que a parte do

calçadão, onde foi feito o estudo, é dissociada – espacialmente e funcionalmente - da

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outra parte do calçadão, não incluída no contexto desse trabalho, e que fica após a rótula

da Via Costeira (ver mapa da figura 19, no capítulo 3, p.55).

O modo como as pessoas descreveram seu caminho, esboça a percepção espacial

de começo, meio e fim que cada uma delas possui.

Meu percurso é todo o calçadão. Vou pelo início do calçadão...(pensa)...entro por uma das extremidades...como é que eu vou dizer. O inicio! Para mim, o início é o do Praia Shopping porque eu moro em Ponta Negra. (Entrevista 5)

Além disso, esse levantamento também permitiu apurar o que seriam os limites

(Lynch, 1999) daquele espaço para as pessoas. A surpresa foi a ausência de relatos que

trouxessem o Parque das Dunas como limite espacial. O ponto de referência mais

lembrado foi o Praia Shopping. Os limites foram a Via Costeira e a rua Solón Galvão,

que leva ao Campus universitário da UFRN.

Enquanto os dados estavam sendo coletados, sugiram modificações no entorno

do CAERF. Dois supermercados foram construídos, um na extremidade mais próxima

do Conjunto dos Professores e outro mais ou menos no meio do percurso de 2,4 km do

calçadão. Para dar acesso a esse último supermercado, foi construída uma passarela por

sobre a Av. Eng. Roberto Freire (Figura 34) e, no canteiro central dessa mesma avenida,

abaixo da passarela, foram colocados alguns metros de telas-divisórias, com intuito de

impedir os perdestes de atravessar a avenida por baixo da passarela. Antes da existência

do supermercado, quando perguntadas a respeito do trajeto que faziam no CAERF, as

pessoas relatavam irem até a “ponta” do calçadão e voltar. Após a construção, quando

ainda foram entrevistadas quatro pessoas, as pessoas relatavam ir até “o supermercado”.

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Figura 34. Passarela no CAERF FONTE: Arquivo da autora

As pessoas que utilizam os bancos para atividade estática relataram irem a pé, de

carro ou bicicleta, dependendo da proximidade de onde vinham, talvez pelo fato da

atividade física não ser o foco central de sua ida ao calçadão. Um deles relatou ir

namorar e a outra, auxiliar o posto móvel de assistência à saúde, onde são feitas

medições de pressão.

17Uma das perguntas do roteiro de entrevista pedia para que os entrevistados

descrevessem como procediam para driblar os usuários em mais baixa velocidade. A

maioria dos entrevistados demonstrou surpresa com a pergunta, pois segundo eles, o

mecanismo é lógico. No entanto, muitas e diferentes formas de drible foram relatadas.

Alguns disseram driblar do jeito que dava, sem nenhuma tática de drible pré-concebida.

Tento sempre observar a melhor forma. Não tem uma técnica. Só me antecipar ao que vai acontecer...e tentar causar o menor mal pra todos. (Entrevista 11)

17 Responderam a essa pergunta somente os praticantes de atividade física. Os usuários de paradas de ônibus, obviamente, não precisam fazer dribles ou ultrapassagens, pois ficam paradas. Dos usuários de bancos, todos eles já percorrem o calçadão como praticante de atividade física, por isso também responderam a pergunta. Apenas um dos entrevistados que utiliza o banco do CAERF para namorar, relatou nunca ter percorrido o calçadão e, por isso, também não respondeu a pergunta.

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Para os que descreveram estratégias de drible previamente pensadas, a tática de

ajuste espacial é sempre a mesma e eles tentam reproduzi-la em cada necessidade de

drible. Quando a estratégia não obtém êxito, os “estrategistas” em geral atribuem a

responsabilidade do “encontrão” à outra parte envolvida, pois segundo eles, a estratégia

deveria ser conhecida por todos. A estratégia mais citada foi o mecanismo de drible e

ultrapassagem semelhante ao que os veículos fazem pelo código de trânsito brasileiro:

manter-se sempre do lado direto da “pista”-calçadão e, havendo necessidade, verificar

se há espaço para uma ultrapassagem segura (sem encontrões) e efetuar o drible. Cinco

entrevistados relataram usar essa tática e atribuem a responsabilidade pelo “encontrão”

àqueles que andam na “contra-mão”.

Não tem muito mistério. Pra ultrapassar, tem que cair pra esquerda. O ideal era que o calçadão fosse orientado pra ter mão e contra-mão, porque as pessoas são desorientadas e vêm nos sentidos errados. (Entrevista 5)

Outra forma descrita pelos usuários foi a de negociação espacial através de

linguagem não-verbal. Quando há disputa entre duas pessoas por um único espaço, os

respondentes demonstram ao outro a intenção de ocupação através do olhar ou

posicionam-se em direção à lacuna.

As pessoas não sabem andar à direita, como carro, por isso as pessoas se trombam. Ai, pra driblar, eu olho pra pessoa pra ver se ela se toca e se afasta. Senão, como é que vai ficar? E sempre dá certo, geralmente elas se afastam pra eu passar. (Entrevista 12)

Um ciclista também relatou usar linguagem não-verbal para fazer

ultrapassagens. Ele afirmou não se sentir confortável em usar a buzina para pedir

passagem no CAERF, pois as pessoas se assustam com o barulho e encaram como falta

de educação. Portanto, para avisar que está chegando perto, ele precisa olhar e acenar.

Quando não dá tempo de indicar que quer passagem, ele precisa agir rapidamente para

verificar se há carros na avenida e efetuar o drible.

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Segundo os entrevistados, sair do calçadão diante da necessidade de drible é algo

comum, principalmente quando se trata de passar pelas paradas de ônibus e pelos

“paredões”. Para o entrevistado 18, passar pelos abrigos de ônibus é muito difícil

porque o painel de propaganda que fica na lateral das paradas de ônibus (Figura 35)

impede a visibilidade de quem vem correndo e não se pode prever o comportamento de

quem está do outro lado. É aí que ocorrem os “encontrões”. Quatro entrevistados

alegaram precisar sair do CAERF para fazer ultrapassagens.

Figura 35. Aglomeração nas paradas: situação corriqueira da necessidade de drible, agravada pela barreira visual nas paradas.

FONTE: produção da autora

Geralmente vou correndo pela margem da grama, porque é uma parte que ninguém usa e não tem o risco de ser atropelado, se eu precisar driblar alguém eu vou logo pra grama (Entrevista 18)

Quando eu tô correndo sozinho e tem um ônibus parado, eu corto pelo lado de fora, vou até a rua pra passar. Eu não vou onde o pessoal tá embarcando, eu vou pro meio da rua pra não perder o ritmo. Se não tem ônibus parado, mas tem gente na parada, eu desço pelo lugarzinho reservado por ônibus parar e corro ali, nunca vou pela calçada. (Entrevista 10)

O desafio, além da dificuldade de driblar as pessoas no CAERF, é manter a

velocidade. Alguns entrevistados comentaram que é a velocidade constante que garante

o sucesso da atividade física. Por isso, ter de reduzi-la traz aborrecimentos.

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Às vezes, quando tem parada, se não vier ônibus, dá pra desviar pela pista sem reduzir o ritmo. Quando eu tô no mesmo sentido que os outros e as pessoas não me vêem, porque estão de costas pra mim, eu tento ir por um cantinho entre o calçadão e o Parque das Dunas. Mas às vezes tem quatro mulheres conversando, uma do lado da outra, aí elas não abrem (passagem) de jeito nenhum! Ai você tem que parar, andar no sentido delas um pouquinho, até que elas se toquem que tem gente atrás e abram espaço. O pior é nas paradas e do lado do aeromodelismo, porque fica bem estreitinho aí você tem que dar uma parada. Pra você manter a mesma velocidade tem que descer pra pista. (Entrevista 1)

5.3.9 A atenção

No intuito de avaliar os elementos e ocorrências que atraem a atenção dos

usuários, foi perguntado se algo “tira a sua atenção” da atividade que está

desempenhando.

O primeiro desafio do entrevistado era refletir sobre o que seria tirar a atenção.

Para algumas pessoas, isso significava reduzir a dedicação à atividade para perceber

outras coisas, enquanto para outras, significava aumentar percepções sobre outras coisas

para melhorar o desempenho da atividade. O uso do walk man ou encontrar com outras

pessoas no CAERF, para uns parece melhorar o rendimento, pois desconcentrar-se da

atividade “corrida”, por exemplo, faz com que o exercício seja menos sentido, o que

pode diminuir o cansaço “psicológico”. Nesse caso, a atenção retirada seria vista como

“distração positiva”, mas na grande maioria dos casos teve uma conotação negativa. A

diferença está no foco da atenção que foi retirada: se é na atividade desempenhada ou

no espaço ao redor do respondente.

Quando eu caminho, eu olho mais pro lado verde porque é mais agradável, mas às vezes eu perco a atenção por causa dos veículos. É que tem a atenção boa e a atenção ruim, né? Na boa, você olha porque quer, pra ver. É o que eu faço com o Parque das Dunas. A ruim é quando passa um carro e tira a sua atenção por causa do barulho. (Entrevista 09)

Por haver esse aspecto prejudicial, muitas pessoas utilizaram o momento de

resposta a essa pergunta para criticar alguns aspectos do calçadão. Precisar driblar as

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pessoas nas paradas ou assustar-se com a movimentação e barulho dos carros foram as

duas ocorrências relatadas como as que mais tiram a atenção. E sempre que um desses

problemas era relatado, havia uma preocupação em fornecer possíveis soluções, como:

retirar as paradas de ônibus do calçadão e fazer um calçadão mais afastado da rua,

respectivamente18.

Um entrevistado relatou ter medo de que algum carro da avenida invadisse o

calçadão e o atropelasse. Outro comentou que temia somente os ônibus porque eles

andam sempre à direta da pista, rente ao calçadão, portanto. Em geral, esses fatores que

punham medo aos entrevistados eram citados como fatores de “atenção redobrada”. Do

mesmo modo, a presença de cães também foi referida como fator de perda de atenção na

hora de fazer exercícios no calçadão, tanto por quem transita com os cães, como por

quem freqüenta o CAERF sem animais.

O fato de eu caminhar com cachorro costuma tirar a atenção do povo. (Entrevista 03)

Prestar ou não atenção em determinados aspectos foi descrito, na maioria das

vezes, como um mecanismo involuntário, não controlado pelo usuário. No entanto,

alguns relataram conseguir bloquear alguns desses estímulos que retiram a atenção. Ou

seja, uma redução proposital da percepção – por vezes bloqueando um dos sentidos –

com o intuito de não prejudicar o rendimento físico na atividade desempenhada.

O barulho dos carros e os odores são muito desagradáveis, mas você acaba filtrando, né? (Entrevista 4)

No caso das pessoas que utilizam os bancos, todos relataram não haver grandes

fatores de retirada de atenção. Pelo contrário, em geral, estão muito concentradas em

suas atividades, seja um exercício de alongamento (atividade dinâmica) ou em

conversar com seu namorado(a) (atividade estática). Para quem aguarda nas paradas, o

18 Essas sugestões serão melhores descritas mais adiante

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que os distrai são as pessoas que cruzam na frente do ponto de ônibus, tanto correndo,

quanto caminhado. Os entrevistados relataram que não é raro haver encontrões e, por

vezes, alguns xingamentos. A entrevistada 14 relatou que além das pessoas passarem

atrapalhando a visibilidade dos ônibus que estão vindo na rua – o que pode impedi-la de

tomar o ônibus -, também é desagradável estar arrumada para trabalhar, enquanto os

passantes que esbarram nela estão suados e sujos.

Para os ciclistas, a redução da atenção pode ser mais arriscada. Segundo eles,

são diversos os motivos que tiram a atenção, desde encontrar pessoas conhecidas a

driblar usuários “distraídos”. Um dos ciclistas relatou ter de prestar atenção a todo o

tempo no que está fazendo, pois já quase atropelou algumas pessoas no CAERF. De

acordo com os relatos, o fato de estar em maior velocidade confere ao “velocista” maior

responsabilidade pelo encontrão. Isso talvez aconteça, pelo tempo mais reduzido que as

outras pessoas têm para reagir, devido ao fato de que quem tem mais velocidade confere

maior choque na hora da colisão, ou porque a velocidade altera o grau de atenção do

desportista.

Quando você está correndo é mais difícil de prestar atenção nas coisas do que quando está andando. Correndo você fica prestando mais atenção na corrida. Caminhando dá pra prestar atenção nas coisas porque você fica mais descontraída. (Entrevista 02)

Da maneira semelhante, segundo os relatos, estar sozinho ou acompanhado

também modifica a atenção que é dada pelo usuário àquilo que está ao seu redor. Uma

das entrevistadas relatou que “quem vai sozinho ao calçadão parece notar menos

atenção ao que está a sua volta”, porque fica mais concentrado no exercício,

principalmente se vai com walk man. Quem vai acompanhado presta mais atenção ao

redor, ou porque está mais distraído da atividade que exerce, pelo fato de estar

conversando ou porque o outro chama a atenção para o entorno durante a caminhada.

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Umas das suspeitas também reside no fato de que, por se sentir mais segura

acompanhada, a pessoa está mais apta a olhar ao redor.

Freqüentar sempre o mesmo espaço, no mesmo horário, faz com que os usuários

do CAERF estabeleçam relações de cordialidade uns com os outros. Um hábito bastante

observado é o de cumprimentar as pessoas que se tornam conhecidas com o passar do

tempo. No entanto, 75% dos entrevistados relataram que, algumas vezes, o costumeiro

“bom dia”, “olá”, “boa noite” acaba não acontecendo. Falta de tempo ou falta de

atenção? Na verdade, quanto maior a somatória das duas velocidades de encontro

envolvidas, menor o tempo para agir. Quase sempre, quando não dá tempo de

cumprimentar, as duas partes vêm em sentidos opostos. Os que estão acompanhados

disseram ser muito comum deixar de cumprimentar alguém porque ficam conversando e

se distraem. Os que correm sozinhos e os ciclistas disseram que não dá tempo porque

passam muito rápido e, quando reconhecem a pessoa, já é tarde demais. Nesse caso, o

usuário parece ter duas opções ao se dar conta de que não teve tempo de cumprimentar

o outro: seguir em frente ou voltar para falar. Todos os respondentes alegaram optar

pela primeira opção. Para eles, mudar o sentido para a direção oposta é um esforço

muito grande, pois o que está em jogo é o sucesso da atividade que estão

desempenhando.

Muitas vezes, vejo alguém...mas ai ele está conversando, distraído e não dá pra falar com ele. Às vezes dá pra fazer algum gesto rápido. Mas eu nunca parei, parei (ênfase na ação) pra falar mesmo, senão atrapalha. (Entrevista 1)

Os caminhantes, seja sozinhos ou acompanhados, não atribuem somente à

velocidade o motivo de não terem tempo de cumprimentar os conhecidos. Segundo eles,

o ruído dos carros na avenida, o uso do walk man ou o fato de estarem “distraídos” do

mundo exterior e concentrados na atividade física os fazem não perceber o outro.

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Às vezes, pelo fato de caminhar, você fica mais aéreo e não presta atenção. O caminhar é quase uma terapia, é uma atividade reflexiva. Você caminha e fica pensando na vida, bem mais do que quando está correndo. Ai a pessoa passa e você nem viu, geralmente quando ela vem correndo. Caminhando dá tempo. (Entrevista 9)

Entre os 25% que disseram sempre dar tempo de cumprimentar pessoas

conhecidas, estão os usuários de paradas de ônibus, os que utilizam os bancos do

calçadão e um caminhante que alegou que, quando não dá tempo, sempre volta para

falar com o outro. Obviamente, no caso dos usuários de paradas de ônibus e de bancos,

por estarem parados, a velocidade de encontro é mais reduzida, ou seja, há mais tempo

para agir. Por fim, os usuários demonstraram estar cientes de que a falta de atenção no

CAERF pode contribuir para problemas mais sérios, como o de pôr a vida de alguém

em risco.

Poderia acontecer coisas mais sérias se eu não tivesse atento. Uma vez, vinha um ônibus e um cara na bicicleta vindo na avenida. Ai não dava pra eu passar pela calçada porque tava lotado e eu fui cortar (ultrapassar as pessoas) descendo pela avenida. Mas ai eu vi a bicicleta a tempo, porque se tivesse ido, só tinha espaço pra um, ou seja, um dos dois iria ser jogado pra cima do ônibus. (Entrevista 10)

5.3.10 Vantagens e desvantagens no uso do CAERF

Os entrevistados, em geral, tinham mais facilidade em apontar as desvantagens

do local. Devido a isso, propositalmente, quase sempre a primeira pergunta era referente

aos pontos negativos do uso do CAERF, para que o respondente se sentisse mais a

vontade em explorar suas percepções. Por isso há maior variedade de respostas que

apontam desvantagens do que vantagens de uso do CAERF. Em seguida, os

respondentes eram levados a pensar nos pontos positivos na utilização daquele espaço

(Figura 36), 60% dos quais tendo indicado a proximidade entre o CAERF e o local de

moradia como a maior vantagem no uso do espaço. A segunda vantagem mais apontada

foi relativa à qualidade de vida (25%), pois, segundo os respondentes, o espaço

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promove a possibilidade de exercer atividades que fazem bem a saúde. O fator

segurança veio em terceiro lugar (20%), seguido pela contigüidade do espaço (ausência

de ruas cruzando a calçada), a proximidade com o Parque das Dunas e o aspecto de

“local de encontro” do calçadão (vantagens apontadas por 10% dos entrevistados)

(Figura 37).

Qualidadede vida Proximidade

(60%) (25%)

Segurança(20%) Vantagens no

uso do CAERF

Figura 37. Proximidade com o Parque das Dunas e local de encontro: aspectos positivos no CAERF.

FONTE: arquivo da autora

19 A soma das porcentagens apresentadas nesse quadro não totalizam 100%, pois era possível fornecer várias respostas a esse quesito e cada entrevistado podia apontar quantas vantagens quisesse.

Figura 36. Vantagens no uso do CAERF19.FONTE: produção da autora

Proximidade com o Parque das Dunas (10%)

Local de encontro(10%)

Contigüidade espacial(10%)

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Segundo os entrevistados, a presença dos carros na avenida, as paradas de

ônibus e a quantidade de pessoas transitando pelo calçadão são as três principais

desvantagens no uso no CAERF (Figura 38 e 39). Os carros incomodam 40% dos

entrevistados, tanto por causa do ruído que provocam, quanto pela emissão de gases

poluentes e o risco de atropelamentos. Outros usuários reclamam de ter de pensar em

como driblar as pessoas nas paradas de ônibus (40%), pois elas atrapalham a passagem

e prejudicam o desenvolvimento das atividades eles que estão desempenhando. A

quantidade de pessoas, embora alguns relatem ser positivo (devido à segurança e pelo

prazer de encontrar pessoas), também é visto como negativo, pois dificulta a

mobilidade, além de agravar outra desvantagem apontada pelos respondentes: a largura

do calçadão. No entanto, os 5m de largura do CAERF foram menos citado do que a

ausência de ciclovia e o tipo do piso empregado. Segundo os respondentes, as pedras

portuguesas no mosaico do piso se soltam com freqüência e os reparos não são feito

com rapidez, podendo gerar acidentes. Quando chove, o piso fica escorregadio e muitas

pessoas relatam que é impróprio para correr, pois tem muitas irregularidades. O mau

cheiro provocado pelo lixo e a presença de pessoas passeando com cães foram

desvantagens apontadas por dois entrevistados. Em relação aos cães, mais uma vez, o

problema parece ser a ausência de espaço físico para reajustes espaciais, o mesmo

desconforto gerado pela falta de um local apropriado para as bicicletas. O calor e a

necessidade de mais estacionamentos foram fatores lembrados por um entrevistado

apenas.

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Figura 38. Desvantagens no uso do CAERF. FONTE: produção da autora

Figura 39. Desvantagens citadas pelos usuários do CAERF: paradas, quantidade de pessoas, estreitamentos no CAERF e

buracos (sentido horário). FONTE: produção da autora

Carros(40%)

Paradasde ônibus

MuitasBicicletas

(25%)Pessoas

(30%)

(40%) Piso(25%) Desvantagens no

uso do CAERF Estreito (20%)

Cães(10%) Lixo

(10%)

Falta de estacionamento

Calor (10%)

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5.3.11 Usuários sugerem alterações para o CAERF.

As cidades são um imenso laboratório de tentativa e erro, fracasso e sucesso em termos de construção e desenho urbano. ( Jacobs, 2000, p. 5)

Apesar de não ter sido uma pergunta estabelecida previamente no roteiro de

entrevista, muitos respondentes, ao longo de seu relato, indicavam sugestões de

melhoria para o espaço do CAERF. Foi muito comum haver esse tipo de preocupação

no momento de apontar as desvantagens de uso do espaço.

É preciso valorizar mais essa área (o calçadão) porque ela é muito usada pela população. E deixar aquele espaço só para as pessoas, sem ciclistas e sem cachorro (Entrevista 16).

A sugestão mais citada foi a construção de uma ciclovia. Cerca de 35% dos

entrevistados alegou ser importante separar os ciclistas dos demais usuários do CAERF.

Outros 30%, quando se referiam à pouca largura do calçadão, reclamavam de não haver

espaço para desenvolver atividades como ioga, ginástica e alongamento, que segundo

eles, poderiam ser atividades oferecidas à população pela prefeitura. Os alongamentos,

inclusive, acabam sendo feitos nos bancos, lixeiras, placas e postes (Figura 40),

exemplos da teoria de Affordance de Gibson (Gifford, 1997).

Eu faço alongamento no meio do percurso. Aí eu me encosto num negócio lá que nem é apropriado, uma barra lá, acho que era uma placa que caiu e ficou só o bastão ou então eu faço alongamento nos bancos. (Entrevista 17)

Então as pessoas ficam utilizando os bancos (ênfase de admiração) pra fazer um alongamento...quer dizer, não é necessariamente um banco que vai servir pra essa utilidade. Era melhor um objeto apropriado pra isso. (Entrevista 8)

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Figura 40. Affordance: alongamento nos bancos e no poste. FONTE: arquivo da autora

Dois respondentes sugeriram a retirada das paradas e um terceiro disse que a

solução estaria em fazer um calçadão por trás dos abrigos de ônibus e não pela frente,

como é atualmente. Um dos entrevistados sugeriu alargar o calçadão na direção do

Parque das Dunas e fazer mais estacionamentos. Outro entrevistado disse que o ideal

seria que houvesse como separar uma faixa do calçadão somente para aqueles que

correm. A presença das motocicletas dos policiais da Rocam estacionadas por sobre o

CAERF incomodou um dos usuários de bancos. Segundo ele, isso atrapalha a

mobilidade das pessoas, pois o calçadão fica ainda mais estreito. Houve quem sugerisse

alongar o calçadão até um dos shoppings da cidade (O Natal Shopping) ou até o

Campus Universitário, ambos distantes cerca de três quilômetros de uma das

extremidades do CAERF. Um respondente chegou a reclamar que paga imposto demais

para ver apenas obras de maquiagem da prefeitura.

5.3.12 Motivação

Talvez o espaço mais apropriado facilitaria pra quem utiliza e incentivaria para quem não utiliza. Então, quando você vê um espaço adequado pro uso da prática

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esportiva, você se sente convidado/motivado a participar, estar lá, freqüentar. (Entrevistado 11)

Embora não fosse preocupação desse trabalho, no decorrer das entrevistas,

algumas pessoas comentavam sobre fatores motivacionais à prática de atividade física

no CAERF. Muitos elementos ditos como vantagens apareceram nos relatos, mas

algumas pessoas mostraram se motivar justamente com uma desvantagem: a quantidade

de pessoas no local. O que parece ser uma contradição, na verdade, é uma ótica

diferenciada da percepção das pessoas sobre as coisas. Ou seja, é possível ter mais de

uma percepção sobre determinada coisa, dependendo do que está sendo julgado. Como

já foi visto, a quantidade de pessoas, quando observada pela ótica da mobilidade, é um

problema, no entanto, quando vista pela ótica da segurança, é um benefício aos

usuários. Isso também ocorre com a motivação. O relato a seguir é prova disso e esboça

também como se travam os primeiros contatos interpessoais entre pessoas

desconhecidas no CAERF.

Quando você faz uma coisa sozinho, parece mais chato. Você relaxa, não dá vontade de fazer mais. Aí às vezes ali passa um colega, ai você cumprimenta. Já é uma coisa que motiva, entendeu?! Tem uma pessoa que às vezes tá correndo no mesmo ritmo que você, aí você diz ‘vou pegar esse cara’. Motiva pra caramba! Teve uma vez que eu vim lá do início até aqui (apontando pra ladeira) fazendo isso. E eu nem conhecia a pessoa. Ai eu o vi correndo e pensei ‘vou aumentar o ritmo aqui pra ver se ele agüenta’, ele agüentou! Ai quando chegou no final aqui da ladeira, ele puxou o ritmo e eu o acompanhei. Ai no final a gente se agradeceu e fomos embora. Foi um coleguismo de um minuto. (Entrevista 10)

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6. Enxergando o referencial teórico no objeto de estudo

A soma desses contatos públicos casuais no âmbito local – a maioria dos quais é fortuita, a maioria dos quais diz respeito a solicitações, a totalidade dos quais é dosada pela pessoa envolvida e não imposta a ela por ninguém – resulta na compreensão da identidade pública das pessoas, uma rede de respeito e confiança mútuos e um apoio eventual na dificuldade pessoal ou da vizinhança. (Jane Jacobs, 1961, pp. 60)

Este capítulo aprofunda a discussão do conjunto de dados apresentados no

capítulo anterior, à luz da teoria do comportamento sócio-espacial humano, além de

considerações acerca da Psicologia Ecológica. Essa fase final foi construída em

articulação com os dados adquiridos e busca relações com a fundamentação teórica.

Boa parte das idéias apresentadas aqui não são novas, mas são passos na direção

da aplicabilidade de conhecidos conceitos numa dimensão prática e cotidiana de um

espaço público, no qual pessoas estão em movimento constante.

Buscou-se fazer o que Okamoto (1996) identificou para investigações sobre

percepção ambiental: analisar como o homem vê, interpreta, convive e se adapta à

realidade do meio em que vive.

6.1 Quem são, de onde vêm e o que pensam

As pessoas são vistas como componentes do ambiente que possuem qualidades ambientais e características psicológicas individuais (Ittelson & al, 1974, p.2)

Nem todas as pessoas possuem a mesma percepção sobre as coisas. Os fatores

associados a essa diferenciação foram vistos no capítulo de fundamentação teórica do

presente trabalho. São os filtros pessoais, culturais e físicos (Gifford, 1997; Okamoto,

1996). No caso dos usuários do CAERF, os valores culturais e físicos aos quais os

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entrevistados estão submetidos variam pouco, o ambiente onde o comportamento

estudado se desenvolve é o mesmo para todos e não foram contatados entrevistados com

decréscimos de suas possibilidades em decodificar o meio ou gozar de suas

potencialidades. O fato de terem histórias de vida diferentes, profissões distintas e

viverem sob convivências sociais diversas, afeta o modo como descrevem o espaço.

Assim, no caso do CAERF, os aspectos pessoais muito valorizados, tendo em vista que

quanto mais as cenas são similares, mais forte será a influência desses fatores na análise

da percepção ambiental (Okamoto, 1996; Cullen, 1983, entre outros).

Desse modo, uma estudante do curso de Biologia entrevistada diz voltar sua

atenção às modificações observadas no Parque das Dunas e aos pássaros que sobrevoam

o calçadão, enquanto um militar entrevistado afirmou que corre próximo aos carros

quando vai acompanhado, para proteger a pessoa com quem está correndo do fluxo de

veículos. Isso indica que tanto na construção perceptiva, quanto na avaliação, aquele

que descreve o ambiente irá recorrer à bagagem de representações mentais e esquemas

cognitivos, confrontando-os com as normas sócio-culturais com as quais convive. Ou

seja, os registros perceptivos, afetivos e normativos são postos em jogo

simultaneamente (Lévy-Leboyer, 1985, p. 52 e 53), e o modo como essas pessoas

descrevem comportamentos no CAERF também indica suas percepções sobre o espaço.

Solicitadas a descrever o CAERF em poucas palavras, as pessoas,

freqüentemente, confiavam em sua memória perceptiva e usavam associações para

descrever o ambiente, corroborando os estudos de Moser e Weiss (2003, p. 124), o que

fez surgirem respostas muito variadas. A maioria desses relatos relacionava-se a duas

características apontadas por Lynch (1999) como fatores facilitadores da legibilidade

urbana: a identidade e a imageabilidade. Geralmente os entrevistados se esforçavam

para tornar aquele espaço legível ao descrê-lo, e como na lateral voltada para o Parque

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das Dunas e na própria via calçada há pouca diversidade de elementos, alçaram placas

de sinalização com frases sobre o tema e indivíduos vestidos para fazer exercício ao

papel de elementos identificadores do local (relatos como “acho que é importante para a

prática de atividades físicas” e “é um lugar aprazível para a exercer a qualidade de

vida”, por exemplo). De maneira análoga, a imageabilidade faz o entrevistado evocar

imagens representativas do local. Respostas como “É um contraste entre o Parque das

Dunas um trânsito intenso do outro lado” ou “É apertado e não tem ciclovia”

exemplificam essa afirmação.

Essa carga de significados faz com que o espaço se comunique com o seu

usuário, embora em alguma situação o CAERF deixe de comunicar. Nas entrevistas

feitas fora do CAERF, quando os respondentes precisavam descrever localizações, o

calçadão assumia apenas função de local de travessia, sem muitos pontos de referências.

Por isso, comumente, eles recorriam a elementos do outro lado da avenida para indicar a

porção que queriam relatar do CAERF. Tal dificuldade, provavelmente, decorre da

escassez de elementos construtivos no local, principalmente quando se compara o

calçadão com a outra margem da avenida, na qual a diversidade de estabelecimentos de

comércio e serviço fornece uma grande quantidade de estímulos visuais que podem

servir como pontos de referência.

Já nas entrevistas realizadas no CAERF, a escassez de elementos construtivos

fez com que os respondentes apontassem para o local ao qual se referiam, ou

simplesmente indicassem “mais à frente”, “ali”, “lá” etc, quando estavam mais

distantes.

A experiência com o espaço, a partir de referências do tipo aqui, lá, acolá, dentro,fora, é uma experiência de posição: posição de um objeto entre outros objetos. A localização desses objetos no espaço se dá pela percepção visível e por uma experiência motora. No âmbito do visível, o objeto torna-se claro ou obscuro a partir da distância de um corpo que vê. Portanto, as relações de

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proximidade com o objeto estão relacionadas à capacidade de deslocamento de um corpo que observa e que depende, diretamente, da sua capacidade motora (Reyes, 2005, p. 67)

O local de moradia dos respondentes também interferiu no modo como

indicaram referências espaciais no CAERF. O mesmo ponto que os moradores do bairro

de Ponta Negra chamam de início do calçadão, para os moradores do conjunto dos

professores, é o final dele, por exemplo.

Para mim, o início do calçadão é n Praia Shopping porque eu moro em Ponta Negra (Entrevista 5).

6.2 Coleguismo de minuto: mobilidade gerando parcerias ao

longo do tempo

Os habitantes de uma cidade não preferem contemplar o vazio, a ordem e o sossego palpável como os projetistas pensam. O prazer das pessoas de ver o movimento e outras pessoas é evidente em todas as cidades. Quanto mais estranhos houver na rua, mais divertida ela será. (Jacobs, 2000, p. 38 e 41)

Grande parte dos usuários do calçadão obedece a uma rotina de utilização do

espaço e costumam optar por percorrê-lo, diariamente, no mesmo horário. Isso acaba

criando uma familiarização entre as pessoas. A maioria dos entrevistados demonstrou

enxergar essa familiaridade como positiva. O entrevistado 10 relatou, inclusive, que se

sente estimulado quando, eventualmente, corre com pessoas que costuma encontrar no

calçadão, mas que não descreve como “pessoas conhecidas”. O “coleguismo de

minuto”20 (como denominou) é uma situação proporcionada pela convivência no

calçadão, derivada da identificação estabelecida entre duas pessoas pelo fato de estarem

desenvolvendo uma mesma atividade. Enquanto perdura essa comunalidade, o novo

participante é aceito dentro do programa do setting e se estabelece uma inter-ação

20 O trecho dessa entrevista pode ser visto na página 123.

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estimulante. Perceber a mobilidade do outro é o fator determinante para que se

estabeleça esse “coleguismo”, que também proporciona segurança.

6.3 Sentir-se seguro: mobilidade como segurança

Grande parte dos contatos na calçada é absolutamente trivial, mas a soma de tudo não é nem um pouco trivial. A soma desses contatos públicos casuais no âmbito local – a maioria dos quais é fortuita e dosada pela pessoa envolvida e não imposta a ela por ninguém – resulta na compreensão da identidade pública das pessoas, uma rede de respeito e confiança mútuos e um apoio eventual na dificuldade pessoal (Jacobs, 2000, p. 60).

De modo geral os entrevistados demonstraram sentir-se seguros no CAERF, com

exceção de uma entrevistada, usuária de paradas de ônibus. Provavelmente isso

acontece, conforme já foi comentado, porque as pessoas pensam no fator segurança ao

escolher os horários que irão freqüentar o local, e os definem buscando momentos do

dia em que consigam ter alguma tranqüilidade para a prática de exercícios, mas não se

sintam em um local que considerem exageradamente isolado. Além disso, os ex-

usuários da Via Costeira entrevistados relataram ter deixado de utilizar aquele espaço

devido à ausência de movimentação de pessoas. Ou seja, quanto mais pessoas se

movem pelo espaço, mais a sensação de segurança do usuário do CAERF, constatação

que vai ao encontro do que Jacobs (2000) relata em seus estudos.

Uma rua movimentada consegue garantir a segurança; uma rua deserta, não (Jacobs, 2000, p.35).

E eu me sinto seguro em relação a assalto também, porque eu acho que a chance de ser assaltado ali é menor. Por conta da quantidade de pessoas que estão lá naquele momento. (Entrevista 15)

Segundo a autora, para uma rua receber desconhecidos e ter como trunfo a

segurança são necessárias três características principais: que haja separação entre espaço

público e privado, que os moradores possuam janelas voltadas para a rua e a olhem

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constantemente e, por último, que a calçada tenha usuários transitando

ininterruptamente, aumentando o número de olhos atentos, tanto na própria rua, quanto

dentro dos edifícios, observando as calçadas. Assim, um dos aspectos positivos para que

essa calçada permaneça movimentada é ter estabelecimentos comerciais que, de

preferência, permaneçam abertos à noite, como pôde ser comprovado no relato de um

dos usuários entrevistados.

A movimentação de pessoas no comércio do outro lado da avenida e a dos próprios carros me faz sentir seguro no CAERF. (Entrevista 16)

No entanto, em várias situações, dizer o contrário também é verdade. Um dos

respondentes relatou que o esvaziamento de pessoas transitando pela calçada gera

insegurança.

Você fica com receio quando vê um lugar com poucas pessoas, né? Ou mal iluminado. Mas o que incomoda mais é a falta de pessoas. (Entrevista 20)

Ou seja, a movimentação de pessoas pelas ruas é o que mantém a cidade viva,

embora elas nem sempre se dêem conta disso.

A ordem pública é mantida fundamentalmente pela rede intricada, quase inconsciente, de controles e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplicados. (Jacobs, 2000, p.32)

Quando se trata de estar em movimento, cercado por desconhecidos que

possuem seus próprios trajetos, os entrevistados enxergam benefícios, mas quando se

trata de mover-se acompanhado, dividindo uma mesma trajetória, as opiniões se

diversificam.

6.4 Sozinho, acompanhado e a percepção nas/das diferentes

velocidades.

De modo geral, quem vai sozinho se locomove de forma mais eficaz pelo

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CAERF e ocupa menos espaço enquanto se desloca, não só pela da massa corpórea, mas

pelo distanciamento que os espaços pessoais exigem. Conforme foi visto na percepção

dos entrevistados com relação às outras atividades, quanto maior a velocidade menor a

percepção. E estar acompanhado reduz a percepção das pessoas em relação às demais

atividades que as cercam.

O grau de atenção também se modifica. Uma das entrevistadas relatou que quem

vai sozinho ao calçadão presta menos atenção ao que está a sua volta, porque fica mais

concentrado no exercício, principalmente se vai com walk man. Quem vai acompanhado

presta mais atenção no que está ao redor, ou porque está mais distraído da atividade que

exerce, pelo fato de estar conversando, ou porque a companhia chama a atenção para o

entorno. Uma das suspeitas também reside no fato de que, por se sentir mais segura

acompanhada, a pessoa está mais aberta a olhar ao redor.

Outra questão é a própria percepção nas/das diferentes velocidades, pois apesar

das diversas atividades terem sido agrupadas para o presente trabalho, é importante

destacar que esses eventos ocorrem paralelamente, mas de forma interligada.

A velocidade do movimento afeta o modo como o indivíduo percebe e reage ao que se encontra a sua volta. (Nasar, 1989).

Mobilidade subentende a ação do deslocamento e o desempenho de alguma

atividade. Isso significa que cada uma das atividades no CAERF são geradas por

vontades e motivações distintas (Balbim, 2003), e possuem behavior settings com

necessidades e satisfações diferentes, conforme demonstrou a categorização realizada

pelo viés teórico.

Como ficou evidente nos relatos, a diferença de velocidade em cada atividade

altera o grau de responsabilidade pelo encontrão (quem vem em maior velocidade

costuma ser o responsável), conferem diferença na percepção do que está ao redor da

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pessoa (quem caminha percebe mais) e apresenta importantes diferenciações também na

escolha de caminhos e no traçado de trajetórias. Isso acontece porque a diferença de

velocidade modifica as necessidades do espaço. Quem caminha anda pela calçada, mas

quando passa a correr, muitas vezes, tem de ir para a avenida porque a quantidade de

pessoas nos abrigos de ônibus passa a incomodar mais. Quanto maior a velocidade com

que o usuário transita ao passar pelas paradas de ônibus, maior a sensação de incômodo

pela quantidade de pessoas na espera. Quem pedala reclama que não há ciclovias que

promovam o rendimento de sua velocidade sem que isso represente uma ameaça aos

outros, mas quem namora nos bancos certamente não se dá conta dessa necessidade.

Dentro de uma mesma atividade há menos disputas pelo espaço e menos

dificuldade em negociar reajustes espaciais porque as velocidades variam menos e as

percepções de espaço são mais semelhantes. Dentro de um mesmo ritmo é mais difícil

que as pessoas se tornem obstáculos umas para as outras, pois elas passam a perceber

que existe um fluxo de continuidade do qual o comportamento delas também faz parte.

O caminhar é mais tranqüilo de fazer no calçadão porque a maioria das pessoas está caminhando, então o fluxo é mais fácil. (Entrevista 19)

Diante dos relatos também se pôde verificar que a velocidade, por ser uma

variável dependente do tempo, relativiza o espaço. Um dos entrevistados relatou que, ao

caminhar, o calçadão se torna mais largo do que ao correr. Além disso, a velocidade

muda a percepção de perigo, altera o nível de cuidado com a locomoção e a fluidez do

caminho.

O fato de caminhar em si faz você ficar menos firme com o caminho que você vai seguir. Quando você vai caminhar, como a probabilidade de você bater em alguém é menor, ai você tem menos essa preocupação de saber por onde está andando. Quando você ta correndo você tem mais cuidado ao se locomover (Entrevista 9)

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Se é a velocidade que altera as relações de percepção, então visível é só um

efeito de superfície gerado pelo excesso de velocidade. A aparência é retida cada vez

em menor tempo. A aparência é o que se move (Virílio, 1995, p.48 citado por Reyes,

2005, p. 79). Virílio (1995) possui uma visão da cidade onde o espaço passa a ser mais

do que uma extensão, ele é uma redução do tempo real. A visão em perspectiva advinda

do homem em movimento, diferentemente do estado fixo, possibilita apenas um olhar

da perspectiva e, esse olhar segundo Reyes (2005, p. 79) é reduzido, interrompido por

barreiras e desvelados pouco a pouco pela continuidade temporal.

6.5 O balé e a previsão de comportamentos

É preciso ter em mente, principalmente para efeitos desse trabalho, que a

mobilidade aqui está sendo tratada como importante mediadora da conexão entre

pessoa, espaço e tempo, reforçando a afirmação o papel da mobilidade como um dos

elos que possibilitam a relação recíproca entre pessoas e espaços físicos Günther (2003).

As estratégias desenvolvidas e descritas pelos entrevistados para a prática dos

dribles e ultrapassagens são provenientes da convivência em uma mobilidade cotidiana

que, muitas vezes, necessitam antever o comportamento dos demais usuários. A

liberação de espaço para ultrapassagem segue um processo de negociação não-verbal

que varia de acordo com a velocidade de encontro, tendo em vista que quanto maior a

somatória dessas velocidades, menor o tempo disponível para negociação. Quando

interrogadas sobre como fazem para executar suas ultrapassagens, as pessoas, em geral,

descrevem esse mecanismo de forma óbvia e rápida. No entanto, quando relatam

aborrecimentos advindo da falha dessa negociação, ficam surpresos por perceberem que

essa negociação não é tão clara para todos.

Sob a aparente desordem da cidade tradicional existe uma ordem surpreendente que garante a manutenção da segurança e a liberdade. É uma ordem complexa composta de movimento e mudança. Podemos comparar essa ordem com uma

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134

dança, em que cada pessoa e os grupos têm papéis distintos, que por milagre se reforçam mutuamente e compõem um todo ordenado. O balé da boa calçada urbana nunca se repete em outro lugar, e em qualquer lugar está sempre repleto de novas improvisações. (Jacobs, 2000, p. 52)

A inferência de comportamento consiste em um método de percepção ambiental

descrito por Gifford (1997). As táticas de linguagem não-verbal, bem como a aplicação

de regras de trânsito de automóveis a movimentação de pessoas, visam evitar a redução

da velocidade, que implicaria ausência de sinomorfia no setting.

A experiência da realidade cotidiana é uma experiência compartilhada. No encontro face a face temos a apreensão do outro na sua quase total plenitude, pelo menos no que diz respeito a seus sinais exteriores. Todos os sentidos estão aí disponíveis à percepção do outro. (Reyes, 2005, p.21)

Ao descrever a própria percepção, os entrevistados indicaram que prestar ou não

atenção em determinados aspectos, muitas vezes é parte de um mecanismo involuntário.

Se tivessem esse controle, os respondentes certamente optariam por não prestar atenção

nem nas pessoas que precisam driblar, nem da presença dos carros, que foram os dois

fatores mais descritos como “focos de atenção”. No entanto, em alguns momentos isso

pode acontecer. Um exemplo é a entrevistada 4 que relatou “filtrar” o barulho dos

carros e os odores do lixo no CAERF. Isso só é possível porque a mente é seletiva e

podemos prestamos atenção naquilo que nos desperta mais interesse, conforme indica a

literatura. Se é assim, também seria correto afirmar que não prestamos atenção naquilo

que não nos desperta interesse, pois as diversas percepções do ambiente real são

decompostas em estímulos simples captados ou não por nossos receptores sensoriais.

Mas além da percepção ambiental variar de acordo com a atividade que está

sendo desempenhada e de acordo com os aspectos pessoais, foi observado que a

percepção ambiental também varia conforme a dimensão do tempo futuro considerada

pelos usuários para estipular a análise dos comportamentos alheios. O método consiste

em otimizar as escolhas pelos percurso mais adequado para transitar, estimando de que

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forma os demais usuários do CAERF irão se locomover. Mediante a observação do

local e os dados extraídos dos relatos, foi possível classificar três tipos diferentes de

tempos futuros: imediato, próximo e cíclico. O futuro imediato, medido em segundos, é

aquele no qual estão imbuídas as reações mais curtas, quase instintivas. Um ciclista que

desvia de um pedestre desatento, segundos antes de um iminente atropelamento,

exemplifica esse breve espaço de tempo. Trata-se de um tempo em cuja dimensão

espacial coberta é diminuta, mas muito decisiva para a ação que está sendo empregada.

O futuro próximo, medido em minutos, é aquele no qual estão imersas as reações menos

imediatas, ou seja, há tempo para pensar no comportamento antes de realizá-lo. Para

exemplificar esse tempo mais delongado, basta imaginar a seguinte cena: um

caminhante passa por um abrigo de ônibus lotado e se dá conta de que a passagem por

aquele local está difícil. Para evitar reduzir o ritmo de sua caminhada, na parada de

ônibus seguinte, minutos após ter se dado conta da dificuldade de passagem, o usuário

vai para avenida e faz a travessia. Por último, o futuro cíclico é aquele tempo que

envolve as reações dos usuários intermediadas por dias. De acordo com as experiências

de locomoção acumuladas nas tentativas de ultrapassagem, ou na forma como os outros,

em geral, costumam se locomover, a pessoa infere suas decisões. É aí que nascem as

estratégias relatadas pelos entrevistados. Criam-se hábitos, como “correr sempre pela

grama porque quase ninguém descreve essa trajetória” (entrevistado 18) ou “ultrapassar

usando o mesmo conceito dos carros pelo código de trânsito” (entrevistados 5, 8 e 9).

Em cada porção do espaço do CAERF há uma configuração diferenciada de

pessoas e essa configuração é modificada a cada instante, pois a maioria das pessoas

está em movimento. Tendo em vista que cada pessoa pode vir a se tornar um obstáculo

para os outros, percebe-se que a configuração dos obstáculos mudará no segundo

seguinte. É por isso que a maioria dos entrevistados relatou formular estratégias para

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locomover-se, estimando os trajetos que serão seguidos por cada um desses “obstáculos

com vontade própria” (as pessoas). Perceber o ambiente e tentar prever o

comportamento do outro dá mais chances de obter êxito e, embora os entrevistados não

se dêem conta, eles parecem agir dessa forma.

6.6 As alterações promovidas pela mobilidade

A mobilidade foi trazida, por definição, de movimento do ar, ou seja, com uma

conotação de fonte de purificação (Balbim, 2003). Portanto, o significado de

movimentar-se provém, por definição, de estar saudável. No CAERF, mais ainda,

move-se com esse intuito.

Estar em deslocamento no CAERF altera a sensação de “isolamento” mediante

uma possível privacidade. Cria uma condição nova em que pessoas em diferentes

velocidades estão isoladas uma das outras. Segundo Nasar (1989, p. 49), não há como

avaliar a variável colativa “surpresa” no ambiente sem considerar que a pessoa está em

movimento. Estar em movimento, distraído ou concentrado, também altera o foco das

atenções da pessoa. Elementos que também estão em movimento pelo espaço, assim

como aquele que observa, talvez pelo fato de necessitarem do esforço de previsão de

comportamento, costumam chamar mais atenção. Numa cena típica (Figura 41), com

um usuário do CAERF concentrado na atividade que está desempenhando, percebe-se

pelos relatos que os elementos localizados na linha de trajetória da pessoa merecem

maior atenção do que os demais que estão dentro do ângulo de visão, mas não podem

interferir na trajetória. Quando o possível obstáculo está em movimento e dentro desse

ângulo da linha de trajetória do observador, a atenção é redobrada. E isso ocorre com

freqüência no CAERF. A área que está fora do ângulo de visão do observador, não

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possui visibilidade e só há atenção do observador quando existe algum tipo de estímulo

adicional como ruídos, emissão luzes e movimentos bruscos.

Em outra cena típica (Figura 42), com o usuário do CAERF distraído da

atividade que está desempenhando em deslocamento, a atenção desprendida no ângulo

da linha de trajetória é reduzida e outros aspectos passam a chamar atenção dentro do

ângulo de visão do usuário ou numa situação excepcional, como durante o uso do

telefone celular. A “distração” relatada como “falta de atenção” faz o rendimento de sua

atividade decrescer. Estar acompanhado e envolvido numa conversa também pode fazer

o usuário comportar-se dessa maneira, sem perceber. O sentido do deslocamento, em

casos no qual a falta de atenção é mais grave pode variar, pois estar distraído pode

modificar comportamento condicionamento deslocar-se de maneira reta. Se isso

ocorrer, o ângulo da linha de trajetória também muda.

Figura 41.Esquema do foco de atenção de usuário do CAERF numa cena típica (concentrado na atividade).

FONTE: produção da autora

Sentido do deslocamento

Ângulo da linha de trajetória

Ângulo de visão Sem visibilidade

LEGENDAÁrea do foco de atenção

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Pode-se traçar uma relação entre esse comportamento e o uso dos receptores do

aparelhamento sensorial do homem indicado por Hall (1977, p. 50). Para o usuário do

CAERF que está concentrado, a decodificação dos receptores à distância, referentes ao

exame de objetos distantes, e dos imediatos, referentes às sensações da pele, membranas

e músculos, é feita de maneira eficaz. No caso do usuário distraído, o controle dos

receptores à distância parece se encontrar deficiente e os receptores imediatos passam a

reger boa parte de seu comportamento. Devido à mobilidade, os receptores imediatos do

usuário distraído podem acabar não dando conta de promover reações perceptivas em

tempo hábil para evitar encontrões com outras pessoas ou obstáculos. Por isso há relatos

de pessoas que percebem mudanças entre quem está acompanhado ou sozinho, falando

ao celular, “desfilando” ou em diferentes atividades onde a velocidade varia.

Segundo Hall (1977, p. 16), há diversas formas de distorções da comunicação

derivadas do fato de nenhuma das duas partes estarem conscientes de que cada uma

Figura 42. Esquema do foco de atenção de usuário do CAERF numa cena típica (disperso).

FONTE: produção da autora

1

Ângulo da linha de trajetória

Ângulo de visão Sem visibilidade

Sentido do deslocamento

2

3

LEGENDAPossíveis focos de distração 1)Telefone celular 2)Lixo 3)Outro usuário

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delas habita um mundo perceptivo distinto. Para Hall (1977, p. 67) os olhos, além de

serem úteis para recolher informações do ambiente e facilitar a navegação, são um

importante agente da linguagem não verbal, pois transmitem informações de punição,

encorajamento e domínio, além do homem depender mensagens recebidas pelo seu

corpo para se locomover pelo espaço e estabilizar seu mundo visual.

Nesse sentido, quando era sugerido para os respondentes que descrevessem o

modo como driblava as pessoas no CAERF, muitos relatavam aborrecimentos advindos

de falha no entendimento não-verbal. O ajuste espacial da ultrapassagem, no mesmo

sentido ou em sentido contrário, foi descrito como uma negociação visual do

comportamento do outro.

Quando eu estou no mesmo sentido a minha preocupação é menor, porque é mais difícil de eu bater nela. (Entrevista 09)

Os relatos indicam o desenvolvimento de um mecanismo social, no qual se

espera que os envolvidos no drible/ultrapassagem estejam aptos a fazer pequenos

cálculos mentais, tanto espaciais como temporais. Desse cálculo mental, deve-se extrair

um “veredicto de passagem”, no qual alguns fatores serão levados em conta, em frações

de segundos. Um desses fatores é a posição que ocupa na “faixa” do calçadão. Os

respondentes, em geral, relataram haver certa concordância das leis de trânsito de

veículos na rua com as “regras” de movimentação do calçadão.

Eu driblo as pessoas no calçadão igual como eu faço no volante. Eu chego bem pertinho da pessoa, assim VUM! Aí passo bem pertinho correndo. Dou um freio em cima e dou uma desviada. Porque às vezes eu vou correndo e me irrita um pouco quando tem uma pessoa mais devagar na minha frente. (Entrevista 09)

Além disso, o fator quantidade de pessoas (quanto maior o grupo, maior a

preferência) e o tipo de atividade desenvolvida por cada um (em geral quem se desloca

com mais velocidade tem prioridade de passagem) também são levados em conta na

hora de fazer os cálculos mentais.

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Por que a previsão está relacionada à velocidade. E também porque, na maioria das vezes, quando você está caminhando, diferente de estar correndo, você é ultrapassado e não ultrapassa. A não ser que seja frente a frente, mas ai tem um tempo maior pra raciocinar (do que correndo) e todo mundo tá se vendo. (Entrevista 11)

A falha desses mecanismos origina os chamados “encontrões”, aborrecimentos e

desvios de rota.

Às vezes não dá. Como é que você vai driblar pessoas que estão andando em quatro, num espaço onde só cabe 4? 3 talvez? Então você vai ter de diminuir, ir pra grama, sair do ritmo. Isso estraga o exercício, o batimento cardíaco, muda o piso, diminui ou aumenta o impacto, muda tudo o que você tá utilizando. (Entrevista 11)

Mas o desvio de rota nem sempre se deve a falhas de negociação. Algumas

vezes, a quantidade de pessoas no calçadão não permite que se façam ajustes espaciais,

principalmente devido ao posicionamento das paradas de ônibus.

Não tem espaço pra pessoa caminhar confortável lá! Quando você chega na parada de ônibus tem que sair pro meio da rua. Além das bicicletas passando. Você pode ser atropelado. (Entrevista 04)

Quando eu tô correndo, se não for possível desviar delas sem que eu empurre ninguém, tudo bem. Mas tem horas que a pessoa tem que colocar o pé na rua mesmo. Quando eu vou de bicicleta eu desço e subo por aquelas rampas pra deficientes pra não ter de passar pelas paradas. Isso faz com que eu me arrisque na rua com o trânsito. Se eu pudesse evitar todo o calçadão, eu evitaria. (Entrevista 07)

Em geral, era nesse ponto em que as pessoas indicavam também o problema

existente entre ciclistas e pedestres.

6.7 Bicicletas, cães, paradas de ônibus e estresse ambiental

Passaram bicicletas perto de mim, os únicos insetos daquele minuto seco de verão, inaudíveis, velozes, transparentes: pareceram-me os movimentos do ar21.(Neruda, 1957)

A calçada é do pedestre. Essa é a opinião dos entrevistados e também é o que diz

o Código de Trânsito Brasileiro, artigo 69. A calçada é preferencialmente de uso dos

21 Livre tradução da autora do espanhol para português.

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pedestres e ciclistas desmontados (Gold, 2003, p.11). Todos os ciclistas reconhecem que

o CAERF é destinado ao pedestre e, embora a presença incomode aos demais usuários,

alguns são solidários à classe por reconhecerem a inexistência de ciclovia no local, o

que faz com que muitos ciclistas tenham de se arriscar na avenida, junto aos carros

(Figura 43).

O desprezo urbanístico da cidade em relação às ciclovias não coloca outra opção ao ciclista que se acha no direito de circular pela calçada. As bicicletas, aparentemente inofensivas, causam transtornos diários aos pedestres, sendo incontáveis os casos de acidentes. Sobre isso não há qualquer controle pois os ciclistas costumam alegar que lhes é inconveniente circular junto aos automóveis. (Yázigi, 2000, p. 284)

Figura 43. Ausência de ciclovia gera disputas: ciclistas versus demais usuários do CAERF e ciclistas versos carros na avenida.

FONTE: Arquivo da autora

Assim como as bicicletas, as paradas de ônibus e a presença de pessoas

transitando com cães foram foco de disputas. Os abrigos impedem que os que transitam

mantenham a velocidade e também os obriga a sair do CAERF (Figura 44).

Eu acho até uma falta de consideração esse pessoal nas paradas. Incomoda. Eles vêem que a gente tá passando e não saem do canto! (Entrevista 16)

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Figura 44. Usos polêmicos no CAERF: caminhada com cães e paredões formados pelos usuários de paradas de ônibus.

FONTE: Arquivo da autora

Os cães são uma ameaça a segurança física dos usuários, sujam o calçadão com

seus dejetos e atrapalham o fluxo de pessoas, dificultando a satisfação das pessoas com

o setting. Além disso, não há como o portador do cão dosar o espaço que o outro

necessita para ultrapassá-lo, pois isso só seria possível se houvesse como medir o medo

que o outro sente.

Sou contra animais no calçadão. As pessoas se assustam com o tamanho dos cachorros, mesmo quando são ditos como mansos. Já vi gente atravessar pro outro lado do calçadão com medo de cachorro. Quase esbarrando nas outras pessoas. Tem gente que desce do calçadão e vai pra rua. (Entrevista 5)

“O medo dos cães faz as pessoas recuarem” (Entrevista 17) para fazer reajustes

espaciais, que são realizados, quando possível, numa situação de perigo iminente. Esse

entrevistado relatou julgar o grau de perigo pelo porte físico da pessoa que transita com

o cachorro. Isso representa uma tentativa de antecipação de comportamentos tanto do

animal quanto do seu portador (tema que será melhor explorado mais adiante) e

delimitação do espaço pessoal necessário para atravessar com segurança (outro tema

que também será melhor explorado mais adiante).

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Situações como essas podem causar estresse ambiental nos usuários do CAERF.

Yazigi (2000, p. 478), após verificar ocorrências de acidentes e entrevistar pessoas na

cidade de São Paulo, mostrou que a presença de bicicletas sobre as calçadas reforça o

estresse do cidadão, forçando-o a desvios muito freqüentes e à vigilância constante.

Segundo Gary W. Evans e Sheldon Cohen (1987), o ruído, a aglomeração e a

poluição do ar podem aumentar o grau de ansiedade nos usuários de um espaço com

essas características estressoras. Alguns entrevistados descreveram essas características

no CAERF. Uma das queixas dos respondentes foi a respeito presença do tráfego é

intenso de automóveis na Avenida Engenheiro Roberto Freire. Segundo Lévy-Leboyer

(1985, p. 113 e 114), estudos comprovam que, além da poluição do ar, os altos níveis de

ruídos podem ocasionar decrescimento de atenção e perturbar o rendimento das

atividades desenvolvidas no local. A preferência pelo horário de uso do CAERF no

início da manhã e final da tarde, vista por essa ótica, é prejudicial. No entanto, quanto a

insolação, é benéfico. O horário de maior movimento de veículos e emissão de ruídos e

poluição coincide com a hora do dia em que há menos incidência solar no CAERF.

Lévy-Leboyer (1985, p.111) demonstrou que o calor afeta não só o rendimento da

atividade realizada como também a conduta social da pessoa. A sensação de

aglomeração, a perda de território e a ameaça de invasão do espaço pessoal também

podem gerar estresse.

6.8 Considerações sobre conceitos do CSEH no estado de

mobilidade

O conceito de espaço pessoal, pode ser contextualizado no transitar de pessoas

pelo CAERF, desde as relações pessoais estabelecidas nos abrigos de ônibus aos dribles

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e ultrapassagens entre os usuários. O tamanho e forma dessa bolha variam de acordo

com história individual e condições pessoais, mas quanto mais rápido a pessoa se

locomove, mais deformada para frente fica essa “bolha”, pois a preocupação se volta a

eliminar possíveis obstáculos pelo caminho. Quando acompanhadas, as pessoas tendem

a ampliar mais seu espaço pessoal para incluir o interlocutor, pois há o distanciamento

necessário para estar junto à outra pessoa (que também varia dependendo da atividade

que ela está exercendo). Talvez daí derive a sensação de que acompanhadas as pessoas

ficam “espalhadas” (Entrevista 15). Ou seja, o espaço pessoal do outro pode interferir

positivamente ou negativamente no deslocamento da pessoa (Günther, 2003).

Tendo em vista o espaço pessoal como “zona emocionalmente carregada”

(Sommer, 1973), o vazio físico entre duas pessoas que conversam no CAERF contém

uma carga emocional, de modo que a reação da dupla à alguém que os ultrapasse por

essa área central pode ser agressiva, principalmente quando se trata de um casal de

namorados, pois o intruso está interferindo nas duas funções do espaço pessoal, auto-

proteção e regulação da intimidade (Gifford, 1997). Isso também ocorre nas paradas de

ônibus, quando desconhecidos regulam o grau de intimidade distancia entre eles. Hall

(1977) em suas investigações sobre intrusão, mostrou que quando um sujeito se

aproxima de outro em um lugar público, a pessoa que se sente invadida abandona o

lugar, podendo expressar sua insatisfação verbalmente ou através de linguagem não-

verbal. Quanto mais aproximada for a intrusão, mais rapidamente a pessoa se afastará.

Quando trafega acompanhada, a pessoa opta por se aproximar mais de seu

parceiro do que de outras pessoas. A aproximação entre duas pessoas que percorrem o

calçadão juntas, pelo fato de estarem em movimento, diferem um pouco em relação às

distâncias apontadas por Hall (1977). A distância pessoal, estabelecida para conversas

paralelas, pode aumentar se, na ocasião, as duas pessoas estiverem correndo, pois a

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prioridade que determina essa distância é a ação “correr” e não “conversar”, além das

medidas de segurança física necessárias para não haver que esbarrões.

A noção territorialidade, enquanto conceito que confere ao usuário uma defesa

contra possíveis invasões, é observada no CAERF quando o usuário interpreta que

aquela área é de seu uso exclusivo – mesmo que momentaneamente –, numa tentativa

de “semi-privatizar” um espaço público. No caso das paradas de ônibus, o espaço físico

delimitado para a espera é disputado entre os que esperam e os que cruzam o espaço em

diferentes velocidades. Alguns entrevistados relataram se afastar ou ir para a avenida

quando a parada está muito cheia. No entanto, o problema é que parte do espaço

destinado à espera confunde-se com o passeio do calçadão, destinado a quem se desloca

exercendo suas atividades. Nesse caso, a disputa é por um território de interação, ou

seja, por uma área física temporariamente controlada por uma pessoa ou por um grupo

de pessoas (Lyman & Scott, 1967, citado por Valera & Vidal, 1998, p. 138)

Lévy-Leboyer (1985, p.130) indica que as relações interpessoais não se limitam

à comunicação verbal e que a possessão do espaço e sua defesa constituem uma

modalidade importante dos intercâmbios sociais. Como, no CAERF, as pessoas

normalmente estão de passagem, nem mesmo os usuários de paradas de ônibus

“demarcam seu território” utilizando objetos. Geralmente é o próprio corpo que assume

a posição do lugar disputado.

No tocante aos conceitos de aglomeração e densidade, observa-se que, nas

passagens onde há um estreitamento do passeio destinado ao calçadão, pode ocorrer

aglomeração, ou seja, um estado em que os aspectos restritivos de delimitação espacial

são percebidos pelos indivíduos a eles expostos (Stokols, 1978). De forma semelhante,

quando há um aumento da densidade física nas paradas de ônibus, por exemplo, os

usuários sentem-me muito mais propensos a encarar os caminhantes e corredores como

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“invasores” do seu espaço (pessoal ou simplesmente geográfico). Nota-se, portanto, que

esses conceitos estão interligados.

O estresse causado pela aglomeração parece ser comum no CAERF, pois em

várias situações, a pessoa pode se sentir-se observada (Tuan, 1983, p. 69) por outras

pessoas no CAERF e pelos que passam nos carros pela avenida. Por outro lado, “estar

perdido na multidão” parece gerar um certo grau de não-notoriedade agradável, talvez

advinda de uma sensação de privacidade pelo anonimato, uma vez que é mais cômodo

realizar os exercícios em um espaço onde se pode ter mais liberdade com as suas

emoções e atitudes.

Lévy-Leboyer (1985, p. 106) relata que a densidade tem um aspecto subjetivo,

uma dimensão interpessoal e possui conseqüências moduladas pelas atividades dos

indivíduos. Ou seja, dependendo da ação que a pessoa desempenha, ela pode vir a sentir

que o espaço está mais ou menos denso. Essa sensação de densidade, entendida em

Psicologia Ambiental como aglomeração (Tuan, 1983; Hall, 1977; Valera & Vidal,

1998), independe da quantidade de pessoas por metro quadrado e varia em função da

atividade que está sendo desenvolvida, de modo que, no caso do CAERF, a mobilidade

afeta ainda mais essa sensação.

Nos espaços públicos, como o calçadão em questão, onde nem sempre há a

possibilidade de isolar-se fisicamente, a privacidade pode ser mantida evitando-se

estabelecer contato visual com as pessoas ao seu redor. De modo semelhante, uma

pessoa que opta por não estabelecer contato verbal com um dos rostos familiares, evita

que essa pessoa tente contatá-lo no futuro, evitando que haja uma interrupção da

atividade física para “bater papo”.Assim, a privacidade é mantida. Isso vai ao encontro

do que constataram Pinheiro e Elali (1998): ter privacidade é uma maneira das pessoas

refletirem sobre sua interação com as outras pessoas e ponderar sobre contatos futuros.

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A privacidade desenvolvida na dimensão interpessoal, pela ausência de

elementos físicos que promovam essa separação no CAERF, ocorre através da

possibilidade de aproximar-se ou afastar-se das outras pessoas. O uso do walk man pode

sinalizar que a pessoa não pretende conversar com as demais e, portanto, reduzir o

acesso de outras pessoas. Trata-se de um afastamento ocasionada por uma barreira

invisível, mas bastante conhecida e relatada pelos entrevistados.

22Seguindo o diagrama de Valera e Vidal (1998), pode-se dizer que quando o

usuário do CAERF utiliza walk man, a privacidade é entendida através da regulação da

interação do contato com os outros, manifestada por uma pessoa (pois a pessoa

acompanhada dificilmente vai com o aparelho), no aspecto de reserva, e alcançada por

múltiplos mecanismos, incluindo o não-verbal e sócio-cultural.

A presença de um grande número de pessoas no CAERF, assim como o uso de

walk man, pode dar a sensação de redução do espaço e menor tempo para percorrê-lo.

Günther (2003) afirma que o movimento altera a densidade do recinto. No CAERF, a

densidade altera a sensação de tempo, pois distrair-se com os outros faz o tempo parecer

passar mais rapidamente.

Os usuários apontaram a ausência de ruas cruzando o CAERF como vantagem e

confirmaram que a percepção do comprimento estimado de um trajeto cresce em função

das interseções ao longo do trajeto Sadalla (citado por Okamoto, 1996). Quanto menos

interseções, maior a sensação de um tempo reduzido para percorrê-la.

A mobilidade cotidiana é circunscrita ao espaço urbano e, ao mesmo tempo,

conseqüência da organização urbana e fator de reorganização da cidade (Balbim, 2003,

p. 5). Ou seja, é por mover-se nesse espaço que os usuários podem inferir percepções,

22 Apresentado na p, 43.

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identificando possibilidades espaciais (vantagens), problemas (desvantagens), e

sugerindo alterações.

6.9 Behavior Settings e mobilidade

Eu só quero andar nas ruas do Brasil

Andar no mundo livre Sem ter sociedade

Andando pelo mundo E todas as cidades

Andar com os meus amigos Sem ser incomodado

(Chico Science e Nação Zumbi, 1996)

Nos casos analisados no CAERF, o sucesso do programa do setting depende,

entre outros fatores, da manutenção da velocidade antecipadamente pré-estabelecida.

Isso também significa evitar os obstáculos, uma vez que pensar no melhor percurso para

transitar é o que confere a satisfação de suas necessidades (Kaplan & Kaplan, 1989). Os

fatores que causam aborrecimentos aos entrevistados, no CAERF, em geral, dizem

respeito a essas ausências de sinomorfia, como ter de reduzir a velocidade ao cruzar

com paradas de ônibus, driblar cães, bicicletas, paredões e pessoas desatentas no

calçadão. Diminuir o ritmo para falar com pessoas conhecidas não é uma prática

comum, pois interfere no rendimento do exercício, por isso muitos entrevistados relatam

não ter tido tempo de cumprimentar seus colegas.

Trafegando sozinho, o usuário é, ao mesmo tempo, o agente sensor e executor

no mecanismo de manutenção do BS. Ao atravessar um abrigo de ônibus lotado, o

caminhante ou corredor pode agir de diversas formas. Os que disseram pedir licença

para passar, usam o mecanismo contra-desviante. Mas quando o que está em jogo é

manter o ritmo de deslocamento, em alguns casos, é necessário ir para a avenida,

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arriscando-se com os veículos em alta velocidade (Figura 45). Nesse caso, pode ter

havido uma interrupção momentânea do setting ou um mecanismo de veto.

Figura 45. Mecanismo de manutenção do setting: corredor vai para a avenida para

facilitar o drible e manter o ritmo. FONTE: Arquivo da autora

Não se deve descartar a possibilidade de haver, no CAERF, behavior settings em

movimento, ou seja, unidades que possuem todas as características que compõem um

BS, mas que, no entanto, apresentam uma variação da delimitação espacial que possui

um redimensionamento constante, ao longo do tempo de duração do programa. A

suposição se baseia no fato de que, uma vez feita a análise dos BS no local, pode-se

associar os programas desempenhados com as atividades desenvolvidas, que dependem

da mobilidade para ocorrer, ou seja, os programas só ocorrem enquanto o usuário se

desloca pelo espaço através do tempo.

Foi possível classificar os BS em genótipos ambientais por causa da semelhança

na estrutura dos programas, o que comprova que não importa quem executa a ação, pois

as pessoas são substituíveis, assim como os elementos não humanos.

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A linguagem não-verbal é comumente utilizada como mecanismo contra-

desviante para pedir passagem ou demonstrar desaprovação em caso de intrusões.

Também existe a possibilidade da ocorrência de sobreposição de BSs no

CAERF. Um usuário que pré-defina em seu programa de exercícios uma caminhada

antes da corrida pode mudar de setting, mas duas pessoas que caminham separadas e se

encontram em determinado ponto do CAERF e então começam a caminhar juntas

podem partilhar um BS ou sobrepô-los, uma vez que o programa está sendo cumprido,

os componentes humanos foram somados, os itens não-humanos permanecem os

mesmos e o comportamento que rege o movimento também perdura.

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Considerações finais: a cotidianidade do movimento

Licença poética

Amanhece na Zona Sul de Natal. Às quatro e meia da manhã, já há passos por

sobre o mosaico de pedras portuguesas, parte deles amortecida por tênis. Percebem-se

vozes que, por ainda não haver ruídos automotivos, são ouvidos à distância.

Trabalhadores humildes aguardam o transporte coletivo e observam os primeiros

caminhantes do calçadão. Há um distanciamento entre eles que delimita a intimidade de

suas relações sociais, mas eles nunca ouviram falar sobre isso. São poucos os que

correm. Os primeiros a circular por ali, em geral, são idosos, vestem roupas de cores

claras e têm o hábito de cumprimentar os ilustres desconhecidos, pois a soma da

velocidade de encontro deles fornece tempo hábil para isso. Transitar mantém viva a

cidade e seus usuários. Qualidade de vida. Os caminhantes não sabem, mas cumprem

programas de behavior settings semelhantes, buscando satisfações ambientais bem

parecidas.

O tempo vai passando, já são seis e meia da manhã. O número de usuários

aumenta rapidamente. Eles aproveitam o sol “frio” para exercer atividades físicas. Na

área lindeira ao Parque das Dunas, ainda se pode sentir o exalar do vento de temperatura

amena que a mata absorveu durante a madrugada. É agradável, no entanto, a

movimentação dos carros também cresce e há mais ruídos nas ruas. A quantidade de

pessoas transitando dificulta os ajustes espaciais. Tudo se move. Todos possuem

objetivos. Nos rostos de algumas pessoas nos abrigos de ônibus, o semblante sonolento

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parece revelar aos que cruzam com as paradas: não quero te dar passagem!

Oito da manhã, o sol “já está quente” e calçadão, mais vazio. Os carros correm

apressados, levando pessoas atrasadas para o trabalho. Na parada de ônibus, poucos

retardatários. Onde não há sombra, poucas pessoas. Sol e movimento formando

equações inversamente proporcionais. E é o sol que rege o vazio das horas seguintes. A

circulação por sobre as pedras portuguesas limita-se a pequenos percursos de turistas

desavisados. Poucos. Raros são os praticantes de atividade física.

É a partir das quatro horas da tarde que eles retornam. Tênis, roupas leves, walk

man, cães, bicicletas...é o período no qual convivem o maior número de atividades.

Programas de setting diversos, sobrepostos ou não, mas em contínua mobilidade. Até

nove horas da noite, haverá esse balé, essa dança pública: a tentativa de privacidade

pelo anonimato, o afastamento necessário para não ameaçar o conforto do outro, o

cansaço, a motivação, o suor, a aglomeração dos estreitamentos e paradas de ônibus, os

contatos furtivos e eventuais, a necessidade de prever comportamentos, as estimativas

de tempo. O mundo em movimento percebido por quem trafega. Dinamismo de pessoas

e conceitos. Sozinhas ou acompanhadas, distraídas ou atentas, de todas as idades. Em

busca da satisfação, utilizam o espaço como lhes convém: bancos para fazer exercícios,

placas e lixeiras para fazer alongamento.

Seis e meia da noite, pico no trânsito de automóveis da avenida. A ingestão de

monóxido de carbono cresce entre os usuários do calçadão, mas o movimento de

pessoas não cessa. Eles se sentem seguros. O silêncio e a quietude do Parque das Dunas

contrastam com o rio de luzes vermelhas e brancas no asfalto da avenida. Idas e vindas.

Referências opostas. Nos bancos, os namorados distraídos, que nunca ouviram falar em

Lynch, formulam imagens mentais do calçadão. O vendedor de coco, localizado no

meio do percurso do calçadão, testemunha tudo. Ao menor sinal de redução de

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velocidade daqueles que trafegam, ele estuda abordagens de venda. Rostos conhecidos

circulam quase sempre no mesmo horário. Acenos, sorriso, “boa noite”. Os usuários das

sete horas da noite possuem rostos mais jovens do que os de doze horas atrás. Falam

mais alto para vencer o ruído dos carros. Pena que conversar, algumas vezes, atrapalha

o fluxo.

É apenas por volta das oito da noite que tanto o trânsito de veículos como de

pessoas volta a se acalmar. Boa parte dos usuários do calçadão está correndo.

Lentamente, o calçadão vai ficando deserto outra vez. Dá-se voz novamente à coruja

branca que habita o Parque das Dunas. A madrugada chega. As prostitutas, que já

marcavam ponto do outro lado da rua desde o entardecer, eventualmente, atravessam o

asfalto e passeiam pelo calçadão deserto. Os tênis dão lugar aos saltos altos. Até que o

sol nasça de novo, as pedras portuguesas não sofrem grandes esforços, nem acomodam

os pés ligeiros. Mas, há de se esperar, pois logo será quatro e meia da manhã

novamente.

Linha de chegada

Diante do objetivo geral dessa dissertação, pôde-se refletir aspectos da

percepção sócio-ambiental dos usuários do CAERF, bem como os comportamentos

utilizados por eles para garantir a realização das atividades pretendidas. A mobilidade

afeta a percepção e a interação da pessoa com ambiente e sugere o desenvolvimento de

mecanismos que possibilitem a convivência social. Escolher os caminhos mais eficazes

e manter o ritmo de deslocamento faz o usuário necessitar focar sua atenção em

aspectos sócio-físicos específicos, dentro de um campo de visão que pressupõe a

antecipação de comportamentos, tanto de si mesmo, quanto dos outros à sua volta.

As diferentes condições de agrupamento dos usuários do CAERF (a partir do

viés teórico da Psicologia Ecológica e da observação participante direta), apesar de

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possuírem semelhanças em relação às atividades desempenhadas, promoveram

resultados diferentes, o que comprovou a adequação do percurso metodológico

empregado. O extenso levantamento de sinomorfos para a aplicação da teoria de Barker

(1968) promoveu avanços. A presença do cachorro no desempenho da atividade física e

a companhia de outras pessoas demonstrou mudanças significativas no comportamento

e na percepção dos usuários, em relação aos que se locomovem sozinhos e sem

cachorro. Pelo viés observacional, todos os caminhantes e corredores, acompanhados ao

não, foram agrupados em uma só categoria, no entanto, essas diferenças comprovaram

que dentro de uma mesma atividade se obtém percepções ambientais diversas,

dependendo da configuração dessa mobilidade. Isso porque o ambiente físico do

CAERF é diferente do ambiente social. Além disso, a conduta espacial dentro de uma

mesma atividade pode divergir mediante a percepção que se tem da velocidade do outro

e das coisas ao redor das pessoas.

A percepção de si mesmo e dos outros em movimento pelo ambiente, todos

imersos em uma intrincada rede de inter-ações, faz com que as pessoas desenvolvam

estratégias de mobilidade e utilização do espaço das calçadas, muitas vezes de modo

inconsciente, com o intuito de garantir a satisfação em suas atividades, pois “o modo

como a pessoa percebe o espaço contribui para o uso que faz dele” (Zube & Moore,

1987, citado por Kaplan, 1985). Essa afirmativa encontra reflexo direto no estudo

realizado na CAERF, comprovando que a realização de estudos empíricos que levem

em conta o movimento das pessoas pode contribuir para o maior entendimento/

aprofundamento das teorias existentes na área.

No entanto, é natural que ocorram limitações em qualquer estudo. Se cada

pessoa percebe e reage de diferentes formas às ações do meio, é possível que, dentre os

usuários do CAERF, existam pessoas que percebam o local de modo diferente daqueles

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que foram demonstrados nesse trabalho, cuja compreensão poderia contribuir ainda

mais para a análise da vida em seu cotidiano real. Por outro lado, a escassez de uma

legislação brasileira que defina e delimite a função de um calçadão, dificulta o

entendimento social dessa porção pública da cidade e o controle de seu uso.

A luz de uma solução sempre ilumina outras dúvidas. Algumas hipóteses, como

as da existência de behavior settings sobrepostos ou em movimento, merecem ser

averiguadas com mais profundidade em futuros estudos.

As recentes modificações físicas feitas no CAERF (existência de uma passarela

e de telas que impedem a travessia da avenida pelo asfalto), que coincidiram com a

época do término da coleta de dados, podem gerar impactos ambientais e mudanças nos

dados aqui apresentados. A existência de pessoas portando sacolas de supermercado

pode sinalizar uma nova categoria, pois elas possuem outro programa de setting a

cumprir. Isso pode alterar a dinâmica espacial, pois esse novo uso poderia interferir nos

outros usos do CAERF, assim como mudanças de trajeto e acessos oriundos dessas

modificações físicas no local.

Apesar dessas ressalvas, a realização desse estudo foi uma fase prazerosa e

enriquecedora para mim, representando um marco em meu desenvolvimento pessoal.

Além disso, espero ter a oportunidade de apresentar os resultados obtidos em diversos

fóruns, de modo a contribuir, não apenas com o aperfeiçoamento do CAERF, mas com

a realização e a avaliação de outros projetos semelhantes, e a consolidação de

metodologias de pesquisa voltadas para a valorização da percepção e comportamento

dos usuários como elementos imprescindíveis à intervenção projetual.

A interação entre o homem em deslocamento e ambiente que ele percorre é tão

dinâmica quanto o próprio homem e, portanto, precisa ser analisada mediante essa

mobilidade. Saber como o homem percebe o espaço que o circunda, estando em

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diferentes velocidades e executando atividades diversas, pode tornar a interação

ecológica mais satisfatória, promovendo, ao mesmo tempo, bem estar às pessoas e

equilíbrio ao ambiente.

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Apêndice 1 UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Roteiro de entrevista Número da entrevista: Situação/local de entrevista: Caracterização do respondente: Gênero/Idade/Escolaridade/Estado Civil/Bairro de Moradia

1. O que vem a sua cabeça - em termos espaciais - quando pensa no calçadão da Avenida Engenheiro Roberto Freire (CAERF)?

2. Quantas vezes por semana freqüenta o CAERF? Tem dias da semana pré-definidos?

3. O que costuma fazer no CAERF? (Se exerce mais de uma atividade). Acha que hádiferença no modo de usar o calçadão dependendo da atividade?

4. Costuma vir só ou acompanhado(a)? (Se ambos) Qual a situação mais freqüente?5. Há horário pré-definido para freqüentar o CAERF? Qual? Por quê?6. O horário interfere no desempenho de suas atividades? (se a resposta for sim) Como?7. Como chega ao CAERF (meio de transporte)? Qual o seu percurso no calçadão? 8. Algo tira sua atenção da atividade que está desempenhando? (se sim) O que? Em

que trecho?* A ordem das próximas perguntas pode variar de acordo com a postura negativa ou positiva do entrevistado ao uso do calçadão

9. Quais são as vantagens de usar o CAERF para realizar a atividade que desempenha?

10. E quais as desvantagens?11. Além do tipo de atividade que realiza, que outras atividades acontecem no

CAERF? 12. O calçadão comporta todas essas atividades? Por quê?13. Acha que há diferença no modo de usar o CAERF, entre pessoas sozinhas x

acompanhadas? Quais? (Preparo sobre velocidade) 14. Descreva como dribla(m) as pessoas que estão em mais baixa velocidade. 15. Percebe algum problema entre pedestres e ciclistas? Quais? Como se deu conta

disso? 16. Já deixou de cumprimentar um conhecido porque não “deu tempo”? Como isso

acontece? 17. Costuma perceber modificações no calçadão? De que tipo?18. Leva walk man? Leva celular ao CAERF? (Se sim) Como procede ao falar nele?

(Se não) Por que não leva celular? Já observou alguém falando ao celular no CAERF?(Para ambos) Algo muda na forma como percebe as coisas ao seu redor (com walk man e ao falar ao celular)? O que?

19. Costuma levar animal ao CAERF? (Se sim) Que tipo de animal?

Toma algum cuidado adicional quando sai com seu animal? Qual? Sente mudança na forma como você lida com o que está ao seu redor de

quando está caminhando com o cachorro para quando está sem ele? Qual?(Se não) Qual sua opinião sobre animais no CAERF?

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Apêndice 2

Diário de Pesquisadora

Data: 26 de Setembro: (Quarta feira) Horário: 6:30 – 8:00 Fui pela manhã para variar o horário. Sempre há mais idosos do que ao final da tarde. A idéia de passarela de desfile quase não é sentida por mim. Há poucas pessoas correndo em comparação com a noite. – acho que o perfil dos usuários muda. Árvores que precisam ser cortadas viram obstáculo Um amigo quase me atropela com a bike, fazendo com que um senhor que andava de bicicleta no sentido oposto se assustasse – o cara chegou a xingar meu amigo, que não se incomodou.

Data 30 de setembro(Domingo) (véspera de eleição – primeiro turno) Horário: 18:00 – 19:30

Dia deserto. Domingo. Mas havia uma passeata de Mineiro no calçadão, com bandeiras, cerca de 25 pessoas. Percebi um tarado que anda com o poodle! – o que é aquilo? Só eu noto aquele homem? Vi algumas mulheres passando afastada dele.

Observação: Nesse final de mês apareceu um vendedor de água de coco. Ele parecia chegar no fim da tarde e ficava até as 20 horas. Com um suporte de carro cheio de coco gelado. Vi algumas pessoas comprando.

Data: 1 de outubro Horário: 18:30 – 20:00 (segunda)Me toquei de que as placas dispostas ao longo do calçadão são a única prova de que aquele é um local projetado para a prática de atividade física. “Cuida da sua pressão arterial” e “exercício faz bem para o corpo e a mente” Há uma outra placa que trás essa noção de qualidade de vida: “LAZER é um direito de todos” isso inclui bicicletas, caminhadas, corridas...etc?

Observações comparativas mensais:

Apelos comerciais no calçadão: panfletagem, distribuição/representação de brindes (cremes, água e suco), vendedor de água de coco (ficou algumas semanas – do final de outubro ao inicio de dezembro e depois foi embora); venda de cães um cara trás o casal de cães dele e vende. Os filhotes ficam dentro de uma caixa de papelão. A venda parece ser discreta.

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Apêndice 3 Transcrição da Entrevista 11 (modelo 01) Gênero: masculino Idade: 22 anos Escolaridade: Superior completo ou correspondente Estado civil: solteiro Moradia: conj. Alagamar/ Bairro Ponta Negra Situação da entrevista: residência da entrevistadora

O que vem a sua cabeça - em termos espaciais - quando pensa no calçadão da Avenida Engenheiro Roberto Freire (CAERF)? (Sorri) É um bom ambiente. Adverso para a prática de atividade física, mas tem suas partes boas: com o comprimento do calçadão sem interrupções, que facilita a atividade, tanto da corrida, quanto da caminhada; o ambiente do Parque das Dunas...embora seja um pouco apertado, inapropriado para a prática. Quantas vezes por semana freqüenta o CAERF? Três vezes.Tem dias da semana pré-definidos? Não.(Como é que você escolhe os dias?) É de acordo com a minha atividade, disponibilidade e também de acordo com a minha atividade física antes da corrida. Então, em virtude da academia ser em frente ao calçadão, na hora que termina a atividade, de acordo com o grupos musculares malhados no dia, isso se adéqua è corrida. Sendo que o ideal é que sejam três vezes utilizado a prática...duas ou três.Você só faz correr no calçadão? Ou faz outra atividade? Não.(Você nunca fez outra atividade no calçadão?) Apenas a caminhada para anteceder a corrida ou pra desaceleração, mas somente como componente da atividade. Em termos de espaço, você nota alguma diferença de quando você está caminhando pra quando você está correndo? Creio que não. Creio que a visualização, o que eu consigo ver, seja muito semelhante. Tenho a mesma percepção de tudo. Costuma vir só ou acompanhado(a)? Acompanhado. Dificilmente sozinho.Há horário pré-definido para freqüentar o CAERF? Não. É de acordo com a disponibilidade Normalmente no período noturno.Então você já usou em outros horários o calçadão? Não.Como acessa o CAERF? Como é que você chega lá? Carro.Sempre de carro? Sempre de carro. Às vezes, bem esporadicamente, a pé. Caminhando até o calçadão por ser perto de casa. Como é o seu percurso no calçadão? Descreva!Atualmente, tem sido: sair da academia que fica mais ou menos no primeiro terço do calçadão. Tomando uma referência. Tenho feito o percurso até o final do segundo terço, no caso, os outros dois terços, né?! E volto completo o calçadão, dando duas voltas ali, considerando 2,5km o calçadão, dá cinco km.

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Então se você fala que começa no primeiro terço, você ta querendo dizer que o início do calçadão fica onde? No lado da via costeira. Na minha realidade é assim. Algo tira sua atenção da atividade que está desempenhando?Sim. O quê?Principalmente os pontos de ônibus. Por quê?Porque são totalmente inadequados pra prática. Por vezes tem que diminuir a velocidade, alterar o percurso, sair do próprio calçadão e ir pra avenida. É o que mais atrapalha na prática. Os pontos de ônibus são assim a coisa que mais distrai no calçadão, porque é um acúmulo de gente que não ta envolvida com atividade física nenhuma, que ta ali por necessidade também, mas que atrapalha quem ta ali pra desenvolver a atividade. Então é isso que tira sua atenção, independente se você corre ou caminha?Independente. Independente da atividade que eu faça, ta incomodando a minha prática. Da mesma que eu devo estar incomodando eles correndo no meio enquanto eles estão esperando ônibus pra ir pra casa. Na sua opinião, o que deveria ser feito pra evitar isso?Na minha opinião, se fosse possível, eu acho que o calçadão deveria ser aumentado pro lado do Parque das Dunas, com o dobro do tamanho que ele ocupa hoje. Todo ele? Toda a extensão?Toda a extensão pelo menos. Que facilitaria, por exemplo, se houvesse uma divisão....por exemplo, uma pista de asfalto, você poderia possibilitar a prática do ciclismo ou de outras atividades...uma ciclovia. E isso facilitaria. Creio que não teria um impacto muito grande. E nas partes onde se julgasse necessário, talvez criar outras áreas pra outro tipo de atividade, como um alongamento, uma barra...como se fosse os parques normais que se têm aí nas grandes cidades. Então, voltando ao início da questão, o que mais tira a sua atenção no calçadão? Existe mais alguma coisa? O trânsito, mas é praticamente insignificante... assim...na maioria dos lugares onde você possa correr...em outras cidades, sempre vai ter uma coisinha que tira sua atenção. Mas eu acho que no calçadão, o mais crítico, são as paradas de ônibus. Como você procede quando tem que passar pelas paradas e tem muita gente? Aí eu altero a minha prática esportiva pra não interromper a vida das pessoas que estão ali, que também não tem culpa nenhuma... Como é essa alteração?Passar por trás das paradas, na grama, que não é o local adequado pra corrida. Diminuir...passar andando pelo meio das pessoas, que é totalmente nocivo a minha atividade esportiva. Ir para o meio da avenida, que o normal que ocorre com a maioria das pessoas. O pessoal se expõe aos veículos pra poder passar, não alterar a sua atividade, nem incomodar as pessoas ali. Creio que sejam as três alterações. Quais são as vantagens de usar o CAERF para realizar a atividade que desempenha? A grande vantagem é o espaço contínuo, não ter uma interrupção. Por exemplo, eu não posso correr em qualquer calçada da cidade porque ela tem ruas cruzando. O calçadão não. É uma faixa contínua de 2,5Km, onde eu não tenho interrupção, a não ser as paradas de ônibus ou um possível ambulante também. O Parque das Dunas ali na lateral também favorece muito, pela questão de diminuir o calor e proporcionar um vento maior...pelo menos no horário que eu freqüento. Isso também é uma vantagem grande.

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E também não se tem tantas pessoas quanto se tem no calçadão da praia. O calçadão da praia tem mais ou menos o mesmo tamanho do da avenida. Creio eu. Entretanto, tem muito mais gente andando: turista e ambulantes numa quantidade absurda que impede qualquer tipo de prática. A não ser, na parte onde já não existe a avenida ali junto (antes da Erivan França).As pessoas que você fala que estão andando ali, no caso, não estão desempenhando atividade física? Sim. Elas não estão. Estão passeando.Então você não utiliza aquele local por isso? Também. Porque você vai ter que acabar ou indo pra areia em virtude de ter uma quantidade de quadros espalhados no chão ou ter uma quantidade de pessoas de mãos dadas andando...acho que isso vai te impedir. Você não vai atrapalhar a vida delas porque elas não têm nada a ver com a sua atividade esportiva, mas você vai ter que ir pro meio da rua ou ter que...então, no calçadão da praia isso é muito mais comum do que no da avenida. O que me faz ir pro CAERF, porque a maioria das pessoas que vai pra lá, não vai pra ficar admirando o Parque das Dunas, vai pra prática esportiva. Se o uso que se atribui aos dois calçadões fosse o mesmo, qual você freqüentaria? Continuaria freqüentando o CAERF, por causa da facilidade de ser em frente a academia que eu freqüento. Mas creio que se os usos fossem iguais, não teria porque optar por um ou por outro. E quais as desvantagens?A desvantagem é que o local não é apropriado. As paradas, eu sou contra. Não tem espaço apropriado para fazer alongamento ou outra atividade que seja: Abdominal, barra...um complemento. E não tem à disposição. Devia ter, já que tantas pessoas freqüentam o calçadão pra prática esportiva. Isso é a desvantagem Um ou outro ambulante (vendedor), menos do que no calçadão da praia, mas um ou outro tem. Isso também atrapalha. Vendedor de água de coco e companhia.Outra desvantagem são os estreitamentos que ocorre, por exemplo, naquela parte que tem próximo ao Rede Mais, naquela pista de aeromodelismo, onde fica a passarela. Existe um encurtamento do calçadão muito grande. E ali é uma região bem crítica, porque tem um acumulo de pessoas maior do que no restante do calçadão. Não sei se é em virtude do Supermercado ou...mas ali é onde tem maior problema. Atrapalha a atividade. (Esclareço que a Rede Mais fica um pouco mais a frente e que o encurtamento/estreitamento existe por causa do estacionamento) Além do tipo de atividade que realiza, que outras atividades acontecem no CAERF? Esportivas ou não?Ambas.As pessoas que caminham, correm. Alguns que, mesmo inapropriadamente, executam seus exercícios físicos nos bancos. Creio que alguns namorados também. Pessoas que estão ali pra pegar ônibus. E pessoas que aproveitam o calçadão pra fazer trânsito. Entre supermercado e casa etc. Creio que também, justamente, por não ter ruas cruzando. E vendedores de água de coco. Percebe algum problema entre pedestres e ciclistas?Sim. Existe. Justamente por tudo aquilo que a gente já falou. Eu creio que a quantidade de ciclista seja até menor pelo espaço ser inapropriado. Se tivesse uma ciclovia, talvez muito mais pessoas estariam dispostas à prática e talvez o conflito entre pedestre e ciclista fosse menos. Porque teria uma faixa apropriada pro ciclista que uma faixa apropriada pra quem deseja correr. Por que você acha que existe esse conflito?

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Por o local não ser apropriado. Quem pensou naquele local, pensou somente numa calçada. Não pensou que a calçada pudesse ser o que ela é hoje. Na sua opinião, quem tem o direito de ir ao calçadão? Ciclista ou pedestre?Todo mundo. A legislação impede? Se impede, talvez o ciclista não possa estar lá. O calçadão comporta todas essas atividades?Não.Por quê?Não comporta, justamente pelas questões anteriores. O projeto incomoda. Tem a ver com o espaço físico. Se ele fosse um pouco maior, seria melhor. Você diz que sempre vai acompanhado, mas você já experimentou ir ao CAERF sozinho? Não.Mas já observou pessoas que vão sozinhas e que vão acompanhadas? Sim.Acha que há diferença no modo de usar o CAERF, entre pessoas sozinhas x acompanhadas?Sim. Acho que as pessoas que estão sozinhas, na maioria das vezes, ela tem algum outro meio de distração que não a pessoa que ta ao lado, com quem geralmente se conversa. A pessoa que ta sozinha ta ouvindo um MP3, um som, alguma coisa. Ela ta, talvez observando menos o que tem em volta e mais concentrada no seu mundo, ali, no momento. Descreva como dribla(m) as pessoas que estão em mais baixa velocidade. Eu observo antes que vai haver uma rota de colisão, que eu preciso ultrapassar, e tento observar qual vai ser o melhor local pra passar. Que não prejudique ninguém e que não prejudique minha prática esportiva. De preferência permanecendo no calçadão pra não haver maior impacto com o joelho ou outras coisas...pra não me expor aos carros. Tento sempre observar a melhor forma. Não tem uma técnica. Só me antecipar ao que vai acontecer...e tentar causar o menor mal pra todos. Independe do sentido que a pessoa vem?Independe. Mas às vezes não dá. Como é que você vai driblar pessoas que estão andando em quatro, num espaço onde só cabe 4? 3 talvez? Então você vai ter de diminuir, ir pra grama, sair do ritmo. Isso estraga o exercício, os batimento cardíaco, muda o piso, diminui ou aumenta o impacto, muda tudo o que você ta utilizando. E tem diferença em relação esse drible de quando você está correndo pra quando você está caminhando? Essa previsibilidade? A velocidade, talvez. Por que a previsão está relacionada a velocidade. E também porque, na maioria das vezes, quando você está caminhando, diferente de estar correndo, você é ultrapassado e não ultrapassa. A não ser que seja frente a frente, mas ai tem um tempo maior pra raciocinar (do que correndo) e todo mundo tá se vendo. Por falar em tempo, já deixou de cumprimentar um conhecido porque não “deu tempo”?Não.Costuma perceber modificações no calçadão?Não. Só se for das pessoas, do espaço em volta. Do calçadão em si, não. Só dos arredores. Estão construindo supermercado...Às vezes tem pessoas diferentes. Bom, isso é notável. Você observa que em determinados dias tem mais gente. Fora isso eu não lembro de nada. As paradas de ônibus e os buracos do calçadão continuam na mesma posição. Não houve nenhuma mudança. Você falou que a quantidade de pessoas é notável. Você conseguiria dizer quais são os dias que tem mais pessoas no calçadão? Ou você só se dá conta disso quando você

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chega lá? Ah, quando chego lá. Nunca parei pra pensar qual é a relação existente. Mas é observável que nas sextas feiras tem muito menos gente do que nos dias normais. Fim de semana não corro, não sei. Mas com certeza a sexta é diferente dos outros dias porque as pessoas não estão tão preocupadas com a atividade física. Leva walk man?Não.Mas já observou pessoas usando?Sim Saberia dizer ou já prestou atenção na forma como as pessoas se comportam com e sem walk man?Acho que a pessoa que está com walk man vive mais a música dela, o mundo dela, o que ela ta vivendo ali. Ela não tá muito ligada ao externo. Então não tá muito ligada às pessoas que estão em volta, não vai olhar pra ninguém, não vai cumprimentar ninguém na maioria das vezes. Então acho que esse é o comportamento diferente das demais pessoas que estão ali andando, observando, vendo pessoas, vendo os carros... Leva celular ao CAERF?Não.Mas já observou pessoas que atendem celular?Sim. A respeito da percepção dessa pessoa, na sua opinião, o que muda?É...a atividade profissional dela deve ser bastante importante...rs. Ou familiar. E não ta muito envolvido ou envolvida/preocupada com a atividade física. Por quê?! Você acha que o rendimento cai?Com certeza. Por que a atenção fica difusa, não está voltada pra prática esportiva, então com certeza o rendimento cai. Ta mais preocupada com o celular do que... Costuma levar animal ao CAERF? Não. Não possuo. Mas já observou alguém com cachorro no calçadão? Sim, sim. Qual sua opinião sobre animais no CAERF?Não. O cidadão ta levando o cachorrinho pra passear. Então a atividade dele não é atividade física...é outra atividade paralela ou coisa. Então ele não busca a mesma coisa que eu e as pessoas que caminham e correm. Creio eu. Talvez não. Talvez eu esteja errado.Ok. Mas qual sua opinião a respeito do fato deles levarem os animais para o calçadão?Desde que esteja dentro da legislação em vigor lá....se tiver que usar focinheira, que use. Desde que não esteja incomodando os demais... E você já viu algum cão com focinheira no CAERF?Não. Negativo. Você não tem receio de passar próximo a um cão no calçadão?NãoVocê se sente seguro no calçadão?Sim. Nunca senti insegurança. Embora ache que um policiamento é necessário...já cheguei a ver policiais lá, uma vez ou outra. Não é sempre. Mas eu acho que isso seria muito saudável. Porque hoje, talvez, a gente esteja com o calçadão seguro, mas não sabe o dia de amanhã e a segurança está sempre envolvida com a questão de você impor um medo a quem está pensando em fazer alguma coisa. Então, seria interessante um patrulhamento constante no calçadão pra fazer prevenção. Já vi policial de bicicleta...é legal, porque ele ta na prática esportiva, tem tudo a ver com o

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local, com o ambiente. Se tivesse uma ciclovia era mais adequado ainda. E ele ta ali patrulhando, observando. E o meliante ou quem quer que seja vai observar que a vigilância ta ali, o Estado ta ali, então isso transmite mais segurança pra quem freqüenta. Você fala que corre somente a noite e que viu o policiamento poucas vezes. E mesmo assim nunca se sentiu inseguro no CAERF. O que é que existe no calçadão que te passa essa sensação de segurança?O ambiente. Nunca vi nada de anormal. Vejo que as pessoas que freqüentam, freqüentam pra prática esportiva, na maioria das vezes, sei lá...80%...não sei...mas creio que a maioria ta com esse intuito. As pessoas que estão pra pegar o ônibus estão lá só na fila, esperando o ônibus. Talvez eles fossem até mais alvo do que eu que to na prática esportiva.Por que eles seriam mais alvo?Porque eu porto meu celular, relógio...não tenho bem nenhum pra oferecer. Afinal você só se sente inseguro a partir do momento que você tem algo a oferecer. Então, no ponto de ônibus tem pessoas com bens e bolsa, carteira, jóia. A maioria das pessoas não correm de corrente de ouro ou objeto de valor. No máximo o tênis, que seria o objeto de maior valor. Mas que também não significa muita coisa. Você gostaria de fazer mais alguma colocação a respeito das suas percepções a respeito do espaço CAERF?Não. Acho que talvez, se o espaço fosse mais apropriado, facilitaria pra quem utiliza e incentivaria para quem não utiliza. Então, quando você vê um espaço adequado pro uso da prática esportiva, você se sente convidado/motivado a participar, estar lá, freqüentar. Isso seria um diferencial grande. E um espaço que você vê que tem aquilo que você necessita, que você quer. Hoje eu busco corrida, então pra mim o espaço é adequado. Talvez pra quem queira fazer ciclismo, não seja. Não o atrai hoje. Pra quem queira outros complementos de atividade física, talvez não valha a pena.

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Apêndice 4 Transcrição da Entrevista 15 (modelo 2) Gênero: masculino Idade: 28 anos Escolaridade: Superior completo Estado civil: solteiro Moradia: Petrópolis Local da entrevista: proximidades do calçadão Situação da entrevista: logo após o uso do equipamento urbano

O que vem a sua cabeça - em termos espaciais - quando pensa no calçadão da Avenida Engenheiro Roberto Freire (CAERF)? Como eu ando de bicicleta por lá, eu acho pequeno, porque eu já atropelei...aliás, eu quase já atropelei algumas pessoas. Pequeno como? Deveria ter uma ciclovia lá. É estreito. Quantas vezes por semana freqüenta o CAERF?Duas vezes por semana, normalmente nos fins de semana. Sábado e domingo de tarde.Você já exerceu alguma outra atividade lá, fora pedalar? Já caminhei algumas vezes. Acha que há diferença no modo de usar o calçadão dependendo da atividade? Sim. Caminhar é bem mais fácil, porque ao caminhar o calçadão se torna mais LARGO. Costuma vir só ou acompanhado(a)? Quando vou pedalar sempre vou acompanhado...e quando vou caminhar também. Há horário pré-definido para freqüentar o CAERF?Entre 16 e 18 horas.Por que você escolhe esse horário?Porque é o horário que ainda tem um pouco de sol e não está tão quente assim...e como eu sou muito branquelo não posso me submeter ao sol assim tão quente. O horário interfere no desempenho de suas atividades, fora o sol?Não...(pensa um pouco). Talvez a questão da segurança, porque assim, como eu venho de Petrópolis, passo pelo calçadão e volto pela Via Costeira, eu não posso vir muito tarde, sob pena de sofrer um assalto na Via Costeira...se bem que eu nunca sofri assalto lá...acho que isso não existe. Você se sente inseguro só na Via Costeira ou no Calçadão também? No calçadão não. Tem muita gente lá. Acho pouco provável que eu seja assaltado lá. É por causa da quantidade de gente que você não se sente inseguro lá? É...é um ambiente onde, caso ocorro um assalto, acho que o ladrão vai acabar se prejudicando, porque alguém vai pegar ele. É um ambiente muito movimentado, principalmente nesse horário de pico. Como chega ao CAERF (meio de transporte)?De bicicleta...já saio de casa de bicicleta. Não venho de carro e paro ali perto, até porque eu acho que é complicado de parar nas imediações, afinal, onde eu estacionaria?! Qual o seu percurso?Eu venho de bicicleta. Eu moro em Petrópolis, ai venho pelas avenidas, enfim...no final das contas, eu pego a Rui Barbosa, depois pelo Campus, depois por aquela rua do conjunto dos Professores até chegar no calçadão. Ai eu percorro todo o calçadão até chegar na via costeira e chegar em casa. Algo tira sua atenção da atividade que está desempenhando?

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Não. Porque eu tenho que prestar muita atenção pra não atropelar ninguém com a bicicleta. A única vez que eu perdi a atenção foi quando encontrei uma pessoa conhecida e andei com a bicicleta para falar com ela e quase atropelo um senhor idoso por conta disso. Foi quando eu fui conversar com ela. Então, só quando você encontra pessoas conhecidas, você perde a atenção? Exato. As desconhecidas não me interessam. Quais são as vantagens de usar o CAERF para realizar a atividade que desempenha? Na verdade, eu não vejo nenhuma vantagem, nem desvantagem porque ele serve apenas como caminho pra mim. Se ali fosse o calçadão ou uma rua, pra mim seria a mesma coisa....(pensa um pouco). Não, eu estou sendo radical. Porque o calçadão, de qualquer maneira, como é um ambiente seguro, onde você não está disputando o local com carros, então acaba sendo um momento, onde por exemplo, eu posso aumentar ou reduzir a velocidade de forma mais segura...eu me sinto seguro lá. Me dá segurança pra andar de bicicleta.Te dá segurança em relação aos carros? Exatamente. E eu me sinto seguro também em relação a assalto também, porque eu acho que a chance de ser assaltado ali é menor. Por conta da quantidade de pessoas que estão la naquele momento. Então não seria correto dizer que se o calçadão fosse uma rua, seria a mesma coisa pra você, né?(O entrevistado sorri) É...eu radicalizei. Afinal, se assim fosse, você viria pelo outro lado da rua, né? É...exatamente. Mas eu não faço porque acho o calçadão melhor. E quais seriam as desvantagens de usar o CAERF? (Pensa bastante) Nenhuma. Assim...não é questão de desvantagem, mas eu acho que poderia ter uma ciclovia. É um sugestão que eu faria. Além do tipo de atividade que realiza, que outras atividades acontecem no CAERF, que você já identificou? Ah, tem vários tipos de atividades lá. Eu vejo pessoas caminhando, correndo...pessoas em atividades pré-sexuais, pessoas que vão para aquela pista de aeromodelismo e ficam lá. Várias atividades. Como assim atividades pré-sexuais? Pessoas que vão namorar lá....foi isso que eu quis dizer...só isso. Nada mais que isso...(sorri). Amantes. Mas também tem pessoas que usam os bancos pra esperar o ônibus. Aliás, também tem essa atividade de ficar esperando ônibus. O povo fica la e fica atrapalhando a nossa pedalada. E tem pessoas que usam os bancos só pra ficar jogando, conversando, lendo. Como você se sente em relação às pessoas que esperam nas paradas de ônibus? Elas incomodam, porque às vezes eu tenho que parar. Às vezes eu tô numa certa velocidade e, quando eu vou passar pela parada, eu tenho que reduzir a velocidade. Então aquela questão a respeito do que tira sua atenção no CAERF. Você acha que o momento em que você passa pelas paradas é um momento que tira sua atenção? É...quer dizer, não. (pensa um pouco) As paradas não tiram minha atenção, elas prejudicam a minha caminhada ou o meu andar de bicicleta. Ela não tira minha atenção, pelo contrário, ela prende a minha atenção, porque eu tenho de desacelerar, frear pra poder não fazer nada com ninguém. O calçadão comporta todas essas atividades? Sim. Acha que há diferença no modo de usar o CAERF, entre pessoas sozinhas x

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acompanhadas?Sim...as pessoas que vão acompanhadas, geralmente vão fazer uma atividade e, junto com essa atividade, elas conversam entre elas. Ou seja, tipo, dependendo do tipo de atividade que elas forem fazer, a atividade fica meio incompleta. Tipo, se você vai gastar calorias, vai correr e tudo o mais, geralmente as pessoas não conseguem fazer isso de uma maneira mais adequada quando ficam conversando. A diferença é essa. (Pensa). Geralmente quem vai desacompanhado, vai mais pra fazer uma atividade física, regular e tal. Entendeu? Mas em relação a como as pessoas se movimentam no espaço. Você acha que tem diferença?Aham...quando as pessoas vão acompanhadas, elas parece que se tornam um pouco mais espaçosas”. Sei lá, fica mais difícil de conseguir ultrapassá-las, ta entendendo? Por falar nisso, descreva como dribla(m) as pessoas? Geralmente, eu freio e tento ver uma brecha pra eu poder passar. Como eu não tenho buzina – e mesmo que eu tivesse, eu acho que eu não buzinaria, porque eu acho que ficaria um pouco complicado de chamar a atenção das pessoas e acho um pouco de falta de educação também -, eu prefiro reduzir a velocidade e, chegando perto, eu aviso que eu to ali. Ou então, às vezes, já aconteceu também, de eu sair do calçadão e ir pela pista, porque não dá tempo de eu frear ou então porque eu não estou com paciência de ficar freando. Por isso que, novamente, eu falo da questão da ciclovia. Então, se você fala que não tem paciência pra ficar freando, então é por que te incomoda? Incomoda. Mas assim...ao menos tempo que incomoda eu sei que elas estão no lugar certo e eu estou no lugar errado, porque se é um calçadão, geralmente as pessoas que vão pro calçadão, geralmente vão pro calçadão pra caminhar e não pra andar de bicicleta.Então você acha que de quem é o direito de uso do espaço ali? Do pedestre. O meu direito seria secundário ao deles.Você identifica algum problema entre pedestres e ciclistas?Aham. Mas você já observou algo acontecendo de mais grave ou já aconteceu com você? Já...eu já fui até xingado...pelo senhor que eu quase atropelei.Já deixou de cumprimentar um conhecido porque não “deu tempo”?Sim. Tipo, porque às vezes você vem na bike, ai você vê uma pessoa, aí você sabe que a conhece, mas ai quando você lembra o nome dela, você já passou por ela. Você não vai voltar pra cumprimentá-la. Passou passou. Ai fica naquela palhaçada. Isso acontece só quando você está de bicicleta? Hoje mesmo aconteceu e eu estava correndo. Eu estava correndo, ai eu vi uma moça – inclusive vi duas vezes, na ida e na volta – e não a cumprimentei porque toda vez que eu a via, depois que eu identificava, já tinha passado por ela e eu não ia voltar pra falar com ela. Costuma perceber modificações no calçadão?Em relação a que? EspaciaisNão. Não, mas é porque eu não sou muito observador, realmente. A única modificação que eu percebi foi aquela passarela que fizeram ali. Leva walk man ou celular?Não.Já observou alguém usando walk man no CAERF? Já.Algo muda na forma como percebe as coisas ao seu redor com walk man? É...elas parecem estar numa academia, por exemplo. Quando elas vão com walk man, elas

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estão um pouco desligadas daquele ambiente. Elas parecem não estar interagindo com aquele ambiente. Estão apenas utilizando o calçadão para fazer suas atividades próprias. Deixa eu me expressar melhor. O que eu to querendo dizer é que as pessoas que usam walk man geralmente tem mais dificuldade de ver uma pessoa e conversar com ela, porque é como se o walk man conseguisse...digamos assim....abafar os outros estímulos que estão ali presentes. Entendeu?! Ele abafa e você concentra tudo ali naquela musiquinha...e aí você fica ali pensando em marte ou Nova Iorque. Mas em relação a atividade que ela está desempenhando. O que você observa que acontece? Eu acho que ela faz mais adequadamente, porque como ela consegue socar tudo (os estímulos) num canto só, ali ela se concentra mais. E no caso do celular? Você já viu pessoas usando celular no calçadão? Eu não me lembro, mas já devo ter visto. Eu não sei, né, porque assim, com o nível de criminalidade que a nossa cidade passa, é muita idiotice andar de celular ali, né? Principalmente aqueles muito chiques... Mas você não comentou que o CAERF é seguro? É seguro pra mim, por exemplo, porque eu vou com o tênis caindo aos pedaços, a minha bicicleta jamais seria roubada porque os aros estão todos quebrados...ou seja, eu vou como uma pessoa que não seria assaltada (rir muito) Você saberia dizer se algo muda na forma como a pessoa se comporta quando está falando no celular para quando não está falando? Acho que mais ainda, porque você está entretido com a conversa. Você, além de escutar o que está sendo dito, você vai ter de usar sua mente para formular uma resposta. Então, eu acho que no caso do celular, você tem dificuldade tanto pra você interagir com o ambiente, quando pra fazer alguma atividade que você estava disposto a fazer naquele momento. O walk man não. Como o walk man concentra mais e você não precisa responder o walk man,só se você for esquizofrênico, ele não prejudica a atividade que você está desempenhando. Você costuma levar animais pro calçadão? Não. Eu não tenho animais. Mas você já observou pessoas com animais no calçadão? Já. Até Pit Bull! Se eu pudesse eu matava os Pit Bulls. Eles matam, então é melhor matá-los.Qual sua opinião a respeito de levar animais para o calçadão? É positiva, contanto que você não leve uma fera, não é? Por quê? Eu me sinto ameaçado de ser atacado por aquele animal. Mas você já viu alguma ocorrência como essa no calçadão? Não. Nunca vi não. Você gostaria de fazer mais alguma colocação sobre o CAERF? Algo que você ache relevante?Não. Achei legal. Mas se pudesse distribuir água grátis lá, seria bom, né? Eu pago muito imposto pra porcaria de cidade que eu vivo. Então nada mais normal que fornecer esse tipo de serviço. Afinal, pra onde vai o IPTU que eu pago?! Eu não vejo nenhum resultado. Fora as obras de maquiagem que a prefeitura e o governo fazem.

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Apêndice 5 Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas Letras e Artes

Grupo de Pesquisa Inter-Ações Pessoa-Ambiente

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Meu nome é Lis Barros Vilaça, sou pesquisadora do Grupo de Pesquisa Inter-Ações Pessoa-Ambiente da UFRN, e estou desenvolvendo um trabalho para análise do uso do Calçadão da Av. Roberto Freire.

Por meio desse documento, estou convidando o(a) Sr.(Sra.) a contribuir com esse trabalho, participando de uma entrevista gravada, na qual será solicitada sua opinião sobre essa área.

O(A) Sr.(Sra.) foi selecionado(a) como possível participante dessa pesquisa, e tem plena liberdade para aceitar ou recusar esse convite.

Caso concorde em participar, solicitamos que leia atentamente este documento e esclareça possíveis dúvidas, antes de passar a responder às questões que lhe serão formuladas.

Eu,

____________________________________________

(escreva seu nome completo), concordo em participar da

pesquisa sobre o uso do calçadão de Ponta Negra,

respondendo às questões que me serão formuladas e

aceitando que minhas repostas sejam gravadas, e

sabendo que quaisquer resultados da pesquisa serão

divulgados sem a identificação dos nomes dos

participantes.

Assinatura:_____________________________________________

Natal, _____ de ____________ de 2007

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Apêndice 6

Estudos adicionais com a teoria de Behavior Setting e sinomorfos observados no CAERF

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anda

10

min

utos

;se

nta-

se 5

m

inut

os;

anda

nova

men

te,

acen

a pa

ra

conh

ecid

os,

equi

libra

-se

com

be

ngal

a

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

peda

laen

quan

todr

ibla

pes

soas

e

tent

a nã

o se

se

para

r do

com

panh

eiro

,ob

serv

a,cu

mpr

imen

ta

pess

oas

conh

ecid

as,

conv

ersa

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

peda

laen

quan

todr

ibla

pes

soas

e

tent

a nã

o se

se

para

r dos

co

mpa

nhei

ros,

obse

rva,

cum

prim

enta

pe

ssoa

sco

nhec

idas

,co

nver

sa

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

obse

rva,

espe

raôn

ubis

, fic

a at

ento

ao

mov

imen

todo

s ôni

bus,

conv

ersa

veze

s),

cuid

a da

bo

lsa

e liv

ros

cheg

a ao

ca

lçad

ão; f

az

alon

gam

ento

;co

rre

enqu

anto

obse

rva,

ouve

mús

ica,

cu

mpr

imen

ta

pess

oas

conh

ecid

as e

dr

ibla

as

pess

oas.

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

peda

laen

quan

todr

ibla

pe

ssoa

s,ob

serv

a,cu

mpr

imen

ta

pess

oas

conh

ecid

as

cheg

a ao

cal

çadã

o;

sent

a no

ban

co, a

long

a as

per

nas,

braç

os,

obse

rva,

cum

prim

enta

pe

ssoa

s con

heci

das,

ouve

mús

ica,

can

ta,

depo

is d

o al

onga

men

to

vai e

mbo

ra p

ara

com

eçar

out

ra

ativ

idad

e

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

cam

inha

, ri,

conv

ersa

, obs

erva

os

rapa

zes,

aper

ta

a bo

linha

de

borr

acha

, en

cont

ra o

utra

s pe

ssoa

s

cheg

a ao

ca

lçad

ão; a

jeita

co

leira

do

cach

orro

, cam

inha

en

quan

to o

bser

va

pess

oas e

esq

uiva

-se

com

o

cach

orro

.

cheg

a ao

cal

çadã

o;

faz

alon

gam

ento

; an

da d

uran

te u

ma

hora

enq

uant

o co

nver

sa, o

bser

va

as p

esso

as e

fala

co

m c

onhe

cido

s.

cheg

a ao

ca

lçad

ão; c

orre

en

quan

to d

ribla

pe

ssoa

s, ob

serv

a,

cum

prim

enta

pe

ssoa

sco

nhec

idas

cheg

a ao

ca

lçad

ão;s

enta

no

banc

o, e

ntre

ga

flore

s abr

aça,

be

ija, c

onve

rsa,

ob

serv

a

Des

criç

ão d

o Pr

ogra

ma

Page 174: COMPORTAMENTO SCIO-ESPACIAL DE PESSOAS EM … · users of the Engenheiro Roberto Freire Avenue sidewalk, one of the few places in Natal for physical activities practicing, where most

172

Aná

lise

de 1

4 Be

havi

or S

ettin

gs:

(Uni

ficaç

ão d

o es

paço

e c

ompo

rtam

ento

: tod

os u

sam

o c

alça

dão

inte

iro e

des

empe

nham

a m

esm

a at

ivid

ade:

cor

rer,

em h

orár

ios v

aria

dos)

BS1

BS2

BS3

BS4

BS5

BS6

BS7

BS8

BS9

BS1

0B

S11

Mul

her

Hom

em

cam

inha

ndo

com

ca

chor

ro

Moç

aca

min

hand

oQ

uatro

Um

aad

oles

cent

e G

rupo

de

8 pe

ssoa

sca

min

hand

ode

noi

te

Três

am

igas

ca

min

hand

oPa

i e fi

lha

cam

inha

ndo

Senh

orca

min

hand

o co

m

cach

orro

de

tard

e

Cas

al

cam

inha

ndo

de n

oite

cam

inha

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sozi

nha

de

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Cas

al c

amin

hand

ode

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rapa

zes

cam

inha

ndo

de

tard

e

Nom

e so

zinh

a C

amin

hand

ode

noi

te

de m

anhã

à

tard

e de

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de ta

rde

Cal

çadã

o,

perc

urso

com

plet

o

Cal

çadã

o,

perc

urso

com

plet

o

Cal

çadã

o,pe

rcur

soco

mpl

eto

Cal

çadã

o,

perc

urso

com

plet

o

Cal

çadã

o,

perc

urso

com

plet

o

Cal

çadã

o,pe

rcur

soco

mpl

eto

Cal

çadã

o,

perc

urso

com

plet

o

Cal

çadã

o,

perc

urso

com

plet

o

Cal

çadã

o, p

ercu

rso

com

plet

o C

alça

dão,

perc

urso

com

plet

o C

alça

dão,

pe

rcur

so c

ompl

eto

Lim

ite fí

sico

8-9H

8-9H

8-9H

8-9H

16:4

0-17

:30

16:4

0-17

:30

16-1

8H16

-18H

20-2

1:30

H20

-21:

30H

20-2

1:30

HL

imite

tem

pora

l U

m h

omem

e u

ma

mul

her

1 ho

mem

e 1

m

oça

1 ho

mem

e 1

m

ulhe

r 4

rapa

zes e

4

moç

as

Com

pone

ntes

H

uman

os

1 m

ulhe

r 3

mul

here

s 1

hom

em1

mul

her

4 ad

oles

cent

es

1 ho

mem

1

moç

a

Rou

pas A

, tê

nis,

ócul

os

escu

ros e

m

onito

res

card

íaco

s

Rou

pas A

, tê

nis,

ócul

oses

curo

s

Rou

pas A

, tê

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ócul

os

escu

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w

alk

man

Rou

pas A

, tên

is,

wal

k m

an, ó

culo

s es

curo

s e m

onito

r ca

rdía

co

Rou

pas A

, tê

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óc

ulos

escu

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Rou

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, tên

is,

toal

ha e

ócu

los

escu

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Rou

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e tê

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bola

de

borr

acha

, óc

ulos

esc

uros

Rou

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, tên

is,

ócul

os e

scur

os e

ca

chor

ro

Rou

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, tên

is,

ócul

os e

scur

os e

ca

chor

ro

Rou

pas A

, tê

nis,

ócul

os

escu

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Rou

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, tê

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ócul

os

escu

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Com

pone

ntes

o-hu

man

os

Líd

er

únic

o C

ompa

rtilh

ado

(2)

Com

parti

lhad

o (3

)C

ompa

rtilh

ado

(hom

em/c

acho

rro)

C

ompa

rtilh

ado

(2)

Com

parti

lhad

o (4

)C

ompa

rtilh

ado

(hom

em/c

acho

rro)

C

ompa

rtilh

ado

(2)

Com

parti

lhad

o (8

)ún

ico

únic

o

Pont

o Fo

cal

Exer

cíci

o Ex

ercí

cio/

conv

ersa

Exer

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o/pa

quer

a Ex

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cio/

pass

eio

com

o c

acho

rro

Exer

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o Ex

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cio

Exer

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o/pa

quer

a Ex

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cio/

leva

r ca

chor

ro p

ra fa

zer

xixi

Ex

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cio

Exer

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o Ex

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cio

And

ar,

obse

rvar

,fa

lar,

sens

ação

til, o

uvir,

m

onito

rar

batim

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s

And

ar,

obse

rvar

,ca

ntar

, se

nsaç

ãotá

til, o

uvir

And

ar,

obse

rvar

,ca

ntar

, se

nsaç

ãotá

til, o

uvir

And

ar, o

bser

var,

fala

r, se

nsaç

ão

tátil

, ouv

ir,

enxu

gar s

uor

And

ar, o

bser

var,

se

nsaç

ão tá

til,

ouvi

r, gu

iar

cach

orro

And

ar, o

bser

var,

, se

nsaç

ão tá

til,

ouvi

r e m

onito

rar

batim

ento

s

And

ar, o

bser

var,

sens

ação

tátil

, ou

vir,

cont

rola

r o

cach

orro

And

ar, o

bser

var,

fala

r, se

nsaç

ão

tátil

, ouv

ir

And

ar,

obse

rvar

,ou

vir

And

ar, f

alar

, ob

serv

ar,

ouvi

r

And

ar, f

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, ob

serv

ar,

ouvi

r

Mec

anis

mo

com

port

amen

tal

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

drib

la p

esso

as

e op

ta p

elos

ca

min

hos q

ue

evite

m a

se

para

ção

dos

dois

, obs

erva

, co

nver

sa e

m

onito

ra o

s ba

timen

tos

card

íaco

s

cheg

a ao

ca

lçad

ão; d

ribla

pe

ssoa

s e o

pta

pelo

s cam

inho

s qu

e m

enos

ev

item

a

sepa

raçã

o do

s 4,

obse

rva,

con

vers

a e

mon

itora

os

batim

ento

s ca

rdía

cos e

ouv

e m

úsic

a

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

drib

la p

esso

as

e te

nta

não

se

sepa

rar d

o co

mpa

nhei

ro,

obse

rva,

cum

prim

enta

pe

ssoa

sco

nhec

idas

,co

nver

sa

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

drib

la p

esso

as

e te

nta

não

se

sepa

rar d

os

com

panh

eiro

s,ob

serv

a,cu

mpr

imen

ta

pess

oas

conh

ecid

as,

conv

ersa

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

anda

10

min

utos

;se

nta-

se 5

m

inut

os;

anda

nova

men

te;

acen

a pa

ra

conh

ecid

os

cheg

a ao

ca

lçad

ão; f

az

alon

gam

ento

;ob

serv

a,ou

ve m

úsic

a,

cum

prim

enta

pe

ssoa

sco

nhec

idas

e

drib

la a

s pe

ssoa

s.

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

cam

inha

, ri,

conv

ersa

, obs

erva

os

rapa

zes,

aper

ta

a bo

linha

de

borr

acha

, en

cont

ra o

utra

s pe

ssoa

s

cheg

a ao

ca

lçad

ão; a

jeita

co

leira

do

cach

orro

, cam

inha

en

quan

to o

bser

va

pess

oas e

esq

uiva

-se

com

o

cach

orro

.

cheg

a ao

cal

çadã

o;

faz

alon

gam

ento

; an

da d

uran

te u

ma

hora

enq

uant

o co

nver

sa, o

bser

va

as p

esso

as e

fala

co

m c

onhe

cido

s.

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

obse

rva,

cum

prim

enta

pe

ssoa

sco

nhec

idas

cheg

a ao

ca

lçad

ão; o

bser

va,

cum

prim

enta

pe

ssoa

sco

nhec

idas

Des

criç

ão d

o Pr

ogra

ma

Page 175: COMPORTAMENTO SCIO-ESPACIAL DE PESSOAS EM … · users of the Engenheiro Roberto Freire Avenue sidewalk, one of the few places in Natal for physical activities practicing, where most

173

Aná

lise

de 1

4 Be

havi

or S

ettin

gs:

Uni

ficaç

ãoes

paço

, tem

po e

com

port

amen

to: p

esso

as d

ifere

ntes

, soz

inha

s, em

dup

la o

u em

gru

po u

sam

o c

alça

dão

inte

iro, m

ais o

u m

enos

no

mes

mo

horá

rio, p

ara

real

izar

a m

esm

a at

ivid

ade:

cam

inha

r.

BS1

B

S2

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B

S4

Hom

em

cam

inha

ndo

com

ca

chor

ro

Idos

a ca

min

hand

o so

zinh

a de

no

ite

Três

am

igas

ca

min

hand

o C

asal

cam

inha

ndo

de n

oite

N

ome

à no

ite

de n

oite

C

alça

dão,

perc

urso

co

mpl

eto

Cal

çadã

o,pe

rcur

so

com

plet

o

Cal

çadã

o,pe

rcur

so c

ompl

eto

Cal

çadã

o, p

ercu

rso

com

plet

o L

imite

físi

co

Lim

ite te

mpo

ral

18-1

9H

19-2

0H

18-1

9H

19:3

0-20

:40

Com

pone

ntes

H

uman

os

1 m

ulhe

r id

osa

Um

hom

em e

um

a m

ulhe

r 3

mul

here

s 1

hom

em

Rou

pas A

, tê

nis,

beng

ala

Com

pone

ntes

R

oupa

s A, t

ênis

, to

alha

R

oupa

s A e

têni

s, bo

la d

e bo

rrac

ha

Rou

pas A

, tên

is e

ca

chor

ronã

o-hu

man

os

Líd

erún

ico

Com

parti

lhad

o (2

) C

ompa

rtilh

ado

(3)

Com

parti

lhad

o (h

omem

/cac

horr

o)

Exer

cíci

o/pa

ssei

o co

m o

cac

horr

o Po

nto

Foca

l Ex

ercí

cio

Exer

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o/co

nver

sa

Exer

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o/pa

quer

a

And

ar,

obse

rvar

, ca

ntar

,se

nsaç

ão

tátil

, ouv

ir

And

ar, o

bser

var,

se

nsaç

ão tá

til,

ouvi

r, gu

iar

cach

orro

And

ar, o

bser

var,

fala

r, se

nsaç

ão

tátil

, ouv

ir,

enxu

gar s

uor

And

ar, o

bser

var,

fala

r, se

nsaç

ão

tátil

, ouv

ir

Mec

anis

mo

com

port

amen

tal

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

anda

10

min

utos

;se

nta-

se 5

m

inut

os;

anda

nova

men

te,

acen

a pa

ra

conh

ecid

os,

equi

libra

-se

com

ben

gala

cheg

a ao

cal

çadã

o;

faz

alon

gam

ento

; an

da d

uran

te u

ma

hora

enq

uant

o co

nver

sa, o

bser

va a

s pe

ssoa

s e fa

la c

om

conh

ecid

os.

cheg

a ao

cal

çadã

o;

cam

inha

, ri,

conv

ersa

, obs

erva

os

rapa

zes,

aper

ta a

bo

linha

de

borr

acha

, enc

ontra

ou

tras p

esso

as

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a ao

cal

çadã

o;

ajei

ta c

olei

ra d

o ca

chor

ro, c

amin

ha

enqu

anto

obs

erva

pe

ssoa

s e e

squi

va-s

e co

m o

cac

horr

o.

Des

criç

ão d

o Pr

ogra

ma

Page 176: COMPORTAMENTO SCIO-ESPACIAL DE PESSOAS EM … · users of the Engenheiro Roberto Freire Avenue sidewalk, one of the few places in Natal for physical activities practicing, where most

174

Aná

lise

de 1

4 Be

havi

or S

ettin

gs:

Uni

ficaç

ãoes

paço

, tem

po e

com

port

amen

to: p

esso

as d

ifere

ntes

usa

m o

cal

çadã

o in

teiro

, mai

s ou

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os n

o m

esm

o ho

rário

, par

a re

aliz

ar

a m

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a at

ivid

ade:

esp

erar

ôni

bus.

B

S1B

S2B

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S4M

oça

agua

rdan

do

ônib

us d

e no

ite

8 pe

ssoa

s des

conh

ecid

as

agua

rdan

do ô

nibu

s a n

oite

C

asal

agu

arda

ndo

4 am

igos

agu

arda

ndo

ônib

us a

noi

te

Nom

eôn

ibus

de

noite

Cal

çadã

o,

para

da C

DF

Cal

çadã

o, P

arad

a Pr

aia

Shop

ping

C

alça

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par

ada

Ber

eian

aC

alça

dão,

par

ada

UnP

L

imite

físi

co

18-1

8:23

H19

:30-

19:4

0H19

-19:

15H

20-2

0:05

Lim

ite te

mpo

ral

1 ho

mem

e u

ma

mul

her

8 pe

ssoa

s C

ompo

nent

esH

uman

os1

moç

a 4

rapa

zes

Rou

pas B

, bo

lsa,

livr

os

e pa

rada

Rou

pas B

, bol

sa, s

acol

a,

para

da, w

alk

man

R

oupa

s B, s

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as,

para

daR

oupa

s B, m

ochi

las,

para

da, l

ivro

s C

ompo

nent

esnã

o-hu

man

os

Úni

co (c

ada

um d

os o

ito é

líd

er d

e su

a at

ivid

ade)

ún

ico

Com

parti

lhad

o (2

) C

ompa

rtilh

ado

(4)

Líd

er

Espe

raEs

pera

Espe

raEs

pera

Pont

o Fo

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Espe

rar,

obse

rvar

,cu

idar

dos

pe

rtenc

es

Espe

ra, c

onve

rsar

, cu

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dos

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es, o

bser

var

Espe

rar,

conv

ersa

r, ob

serv

ar e

cui

dar d

os

perte

nces

Espe

rar,

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e c

uida

r do

s per

tenc

es, o

uvir

mús

ica

Mec

anis

mo

com

port

amen

tal

Che

ga a

o ca

lçad

ão;

obse

rva,

espe

raôn

ibus

, fic

a at

ento

ao

mov

imen

todo

s ôni

bus,

cuid

a do

s pe

rtenc

es

Che

ga a

o ca

lçad

ão;

obse

rva,

esp

era

ônib

us, f

ica

aten

to

ao m

ovim

ento

dos

ôn

ibus

, cui

da d

os

perte

nces

, con

vers

a

Che

ga a

o ca

lçad

ão;

obse

rva,

esp

era

ônib

us,

fica

aten

to a

o m

ovim

ento

do

s ôni

bus,

cuid

a do

s pe

rtenc

es, c

onve

rsa

Che

ga a

o ca

lçad

ão;

obse

rva,

esp

era

ônib

us,

fica

aten

to a

o m

ovim

ento

do

s ôni

bus,

cuid

a do

s pe

rtenc

es

Des

criç

ão d

o Pr

ogra

ma

Page 177: COMPORTAMENTO SCIO-ESPACIAL DE PESSOAS EM … · users of the Engenheiro Roberto Freire Avenue sidewalk, one of the few places in Natal for physical activities practicing, where most

175

Uni

ficaç

ãoes

paço

, tem

po e

qua

ntid

ade

de p

esso

as: p

esso

as d

ifere

ntes

, em

dup

las,

usam

o c

alça

dão

inte

iro, m

ais o

u m

enos

no

mes

mo

horá

rio, p

ara

real

izar

ativ

idad

es d

ifere

ntes

. B

S1

BS2

B

S3

BS4

B

S5

BS6

B

S7

BS8

B

S9

BS1

0 B

S11

BS1

2 B

S13

BS1

4 C

asal

nam

oran

do

no b

anco

D

uas m

oças

co

rren

do

Doi

s hom

ens

Dua

s moç

as

agua

rdan

do

ônib

us d

e no

ite

Doi

s hom

ens

corr

endo

com

ca

chor

ro d

e no

ite

Pai e

filh

a co

rren

do

Doi

s hom

ens c

amin

hand

o co

m c

acho

rro

2 Id

osas

ca

min

hand

o de

no

ite

Dua

s ado

lesc

ente

s C

asal

ped

alan

do à

no

ite

Doi

s cic

lista

s à

noite

D

ois

Cas

al c

amin

hand

o de

noi

te

Dua

s am

igas

cam

inha

ndo

Nom

e fa

zend

o al

onga

men

to n

o ba

nco

de n

oite

(A. d

inâm

ica)

Pe

dala

ndo

de n

oite

ra

paze

s cor

rend

o à

noite

à

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de

noi

te

à no

ite

de n

oite

(A

. est

átic

a)

de n

oite

C

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dão,

pe

rcur

so

com

plet

o

Cal

çadã

o, p

ercu

rso

com

plet

o C

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dão,

per

curs

o co

mpl

eto

Cal

çadã

o, p

ercu

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com

plet

o C

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dão,

pa

rada

Cal

çadã

o, p

ercu

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com

plet

o C

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dão,

per

curs

o co

mpl

eto

Cal

çadã

o, p

ercu

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com

plet

o C

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dão,

per

curs

o co

mpl

eto

Cal

çadã

o, p

ercu

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com

plet

o C

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dão,

per

curs

o co

mpl

eto

Cal

çadã

o, p

ercu

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com

plet

o C

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dão,

ban

co

Cal

çadã

o, b

anco

L

imite

físi

co

18-1

9H

19-2

0H

18-1

9H

19:3

0-20

:40

18:3

0-20

19

-19:

30

18-2

0H

20-2

1H

20-2

1H

19-1

9:45

H

20-2

0:30

H

18-1

8:23

H

19:3

0-20

H

19-1

9:15

H

Lim

ite te

mpo

ral

Um

hom

em e

um

a m

ulhe

r 1

hom

em e

1

mul

her

1 ho

mem

e u

ma

mul

her

Com

pone

ntes

H

uman

os

2 m

ulhe

res i

dosa

2

mul

here

s 2

hom

ens

2 m

ulhe

res

1 ho

mem

e 1

moç

a 2

adol

esce

ntes

2

hom

ens

2 m

oças

2

rapa

zes

2 m

oças

2

hom

em

Rou

pas B

, m

ochi

las,

flore

s, ba

nco

Rou

pas B

, bo

lsa,

livr

os e

pa

rada

Rou

pas A

, tên

is, e

m

onito

res

card

íaco

s

Rou

pas A

, tên

is, w

alk

man

e

banc

o R

oupa

s A, t

ênis

, wal

k m

an,

e m

onito

r car

díac

o R

oupa

s A, t

ênis

e

cach

orro

R

oupa

s A, t

ênis

, bi

cicl

eta

Rou

pas A

, tên

is e

bi

cicl

eta

Rou

pas A

, tên

is e

bi

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etas

R

oupa

s A, t

ênis

, be

ngal

a R

oupa

s A, t

ênis

, to

alha

R

oupa

s A e

têni

s, bo

la d

e bo

rrac

ha

Rou

pas A

, tên

is e

ca

chor

ro

Rou

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, tên

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w

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C

ompo

nent

es

não-

hum

anos

Com

parti

lhad

o (2

ho

men

s/ca

chor

ro)

Com

parti

lhad

o (2

ho

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s/ca

chor

ro)

Com

parti

lhad

o (2

)C

ompa

rtilh

ado

(2)

Com

parti

lhad

o (2

) C

ompa

rtilh

ado

(2)

Com

parti

lhad

o (2

) C

ompa

rtilh

ado

(2)

Com

parti

lhad

o (2

) C

ompa

rtilh

ado

(2)

Com

parti

lhad

o (2

) C

ompa

rtilh

ado

(2)

Com

parti

lhad

o (2

) C

ompa

rtilh

ado

(2)

Líd

er

Exer

cíci

o/le

var

cach

orro

pra

fa

zer

xixi

/con

vers

a

Pont

o Fo

cal

Exer

cíci

o/co

nver

sa

Exer

cíci

o/co

nver

sa

Exer

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o/co

nver

sa/p

aque

ra

Exer

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o/co

vers

a/pa

ssei

o co

m o

cac

horr

o Ex

ercí

cio/

conv

ersa

Ex

ercí

cio/

conv

ersa

Ex

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cio/

conv

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Es

pera

/con

vers

a N

amor

o/C

onve

rsa

Exer

cíci

o/A

long

amen

to/c

onve

r sEx

ercí

cio/

conv

ersa

Ex

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cio/

conv

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cio/

paqu

era/

conv

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Nam

orar

, ent

rega

r co

nver

sar,

sens

ação

tátil

, fa

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ouvi

r, ob

serv

ar,

Cor

rer,

obse

rvar

, fa

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sens

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til, o

uvir,

drib

lar

pess

oas,

mon

itora

r ba

timen

tos

corr

er, o

bser

var,

sens

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tátil

, ou

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cont

rola

r o

cach

orro

, co

nver

sar

And

ar, o

bser

var,

cant

ar, s

ensa

ção

tátil

, ouv

ir,

conv

ersa

r

And

ar, o

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var,

sens

ação

tátil

, ou

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enxu

gar

suor

, con

vers

ar

corr

er, o

bser

var,

cant

ar, s

ensa

ção

tátil

, ouv

ir,

conv

ersa

r

And

ar, o

bser

var,

se

nsaç

ão tá

til, o

uvir,

gu

iar c

acho

rro,

con

vers

ar

Cor

rer,

obse

rvar

, , se

nsaç

ão

tátil

, ouv

ir e

mon

itora

r ba

timen

tos,

conv

ersa

r

Alo

ngar

, ouv

ir, se

nsaç

ão tá

til,

conv

ersa

r A

ndar

, obs

erva

r, se

nsaç

ão

tátil

, ouv

ir, c

onve

rsar

Pe

dala

r, ob

serv

ar,

ouvi

r, co

nver

sar

Peda

lar,

fala

r, ob

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ar, o

uvir

Peda

lar,

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r, ob

serv

ar, o

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Espe

rar,

obse

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M

ecan

ism

o co

mpo

rtam

enta

l

cheg

a ao

cal

çadã

o;

corr

e en

quan

to

drib

la p

esso

as e

op

ta p

elos

ca

min

hos q

ue

evite

a se

para

ção

dos d

ois q

ue c

orre

r ju

ntos

, obs

erva

, co

nver

sa e

m

onito

ra o

s ba

timen

tos

card

íaco

s

cheg

a ao

cal

çadã

o;

peda

la e

nqua

nto

drib

la p

esso

as e

te

nta

não

se

sepa

rar d

o co

mpa

nhei

ro,

obse

rva,

cu

mpr

imen

ta

pess

oas

conh

ecid

as,

conv

ersa

cheg

a ao

cal

çadã

o;

peda

la e

nqua

nto

drib

la p

esso

as e

te

nta

não

se

sepa

rar d

o co

mpa

nhei

ro,

obse

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cu

mpr

imen

ta

pess

oas

conh

ecid

as,

conv

ersa

cheg

a ao

cal

çadã

o;

faz

alon

gam

ento

; co

rre

enqu

anto

ob

serv

a, o

uve

mús

ica,

con

vers

a co

m a

mig

a e

cum

prim

enta

pe

ssoa

s co

nhec

idas

e

drib

la a

s pes

soas

.

cheg

a ao

ca

lçad

ão;

obse

rva,

esp

era

ônib

us, f

ica

aten

to a

o m

ovim

ento

dos

ôn

ibus

, co

nver

sa, c

uida

da

bol

sa e

livr

os

cheg

a ao

cal

çadã

o;

anda

10

min

utos

; se

nta-

se 5

m

inut

os; a

nda

nova

men

te, a

cena

pa

ra c

onhe

cido

s, eq

uilib

ra-s

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m

beng

ala,

con

vers

a co

m a

am

iga

cheg

a ao

cal

çadã

o;

peda

la e

nqua

nto

drib

la p

esso

as,

obse

rva,

cu

mpr

imen

ta

pess

oas

conh

ecid

as e

co

nver

sa c

om

capa

nhei

ro

cheg

a ao

ca

lçad

ão; c

orre

en

quan

to d

ribla

pe

ssoa

s, ob

serv

a,

cum

prim

enta

pe

ssoa

s co

nhec

idas

e

conv

ersa

com

co

mpa

nhei

ro

cheg

a ao

cal

çadã

o; c

orre

en

quan

to d

ribla

pes

soas

e

opta

pel

os c

amin

hos q

ue

men

os e

vite

m a

sepa

raçã

o do

s 2 q

ue c

orre

r jun

tos,

obse

rva,

con

vers

a e

mon

itora

os b

atim

ento

s ca

rdía

cos e

ouv

e m

úsic

a

cheg

a ao

cal

çadã

o; se

nta

no

banc

o, a

long

a as

per

nas,

braç

osen

quan

to c

onve

rsa

com

am

igo,

obse

rva,

cum

prim

enta

pes

soas

co

nhec

idas

, ouv

e m

úsic

a, c

anta

depo

is d

o al

onga

men

to v

ai

embo

ra p

ara

com

eçar

out

ra

ativ

idad

e

cheg

a ao

cal

çadã

o; a

jeita

co

leira

do

cach

orro

, ca

min

ha e

nqua

nto

obse

rva

pess

oas,

conv

ersa

com

co

mpa

nhei

ro e

esq

uiva

-se

com

o c

acho

rro.

cheg

a ao

cal

çadã

o;

faz

alon

gam

ento

; an

da d

uran

te u

ma

hora

enq

uant

o co

nver

sa, o

bser

va

as p

esso

as e

fala

co

m c

onhe

cido

s.

cheg

a ao

ca

lçad

ão;s

enta

no

banc

o, e

ntre

ga

flore

s abr

aça,

be

ija, c

onve

rsa,

ob

serv

a

cheg

a ao

cal

çadã

o;

cam

inha

, ri,

conv

ersa

, ob

serv

a os

rapa

zes,

aper

ta

a bo

linha

de

borr

acha

, en

cont

ra o

utra

s pes

soas

Des

criç

ão d

o Pr

ogra

ma

Inte

rdep

endê

ncia

Intr

a-G

rupo

: Esp

aço

e te

mpo

com

uns

Aná

lise

de d

ifere

nça

de q

uant

idad

e de

com

pone

ntes

hum

anos

(den

tro d

e um

a m

esm

a at

ivid

ade)

: BS1

x B

S2 (v

aria

ção

de q

uant

idad

e na

ão c

amin

har)

, BS5

x B

S7 (v

aria

ção

de q

uant

idad

e na

açã

o co

rrer

), B

S9 X

BS1

0 (v

aria

ção

de q

uant

idad

e na

açã

o pe

dala

r);

Aná

lise

de se

mel

hanç

a de

qua

ntid

ade

de c

ompo

nent

es h

uman

os (e

m a

tivid

ades

dife

rent

es):

BS2

x B

S6 (c

asai

s), B

S5 X

BS1

2 (s

ozin

ha)

Aná

lise

da p

rese

nça

do c

acho

rro

(ativ

idad

es d

ifere

ntes

com

uso

de

cach

orro

): B

S4 X

BS8

Out

ras a

ssoc

iaçõ

es: B

S13

X B

S 14

(por

que

aind

a nã

o tin

ham

apa

reci

do)

Page 178: COMPORTAMENTO SCIO-ESPACIAL DE PESSOAS EM … · users of the Engenheiro Roberto Freire Avenue sidewalk, one of the few places in Natal for physical activities practicing, where most

176

BS9

b X

B

S10b

BS5

b X

B

S12b

BS1

b X

BS2

b B

S5b

X B

S7b

BS2

b X

BS6

b B

S4b

X B

S8b

BS1

3bX

BS1

4bÍn

dice

KÍn

dice

KÍn

dice

KÍn

dice

KÍn

dice

KÍn

dice

KÍn

dice

KIt

ens

ESC

ESC

ESC

ESC

ESC

ESC

ESC

De

Com

port

amen

to0

70

70

70

70

70

70

7

De

popu

laçã

o 0

70

70

70

70

70

70

7D

e líd

eres

0

70

70

70

70

70

70

7

Esp

acia

l95

-10

01

95-

100

195

-10

01

95-

100

195

-10

01

95-

100

95-

11

100

Con

tigüi

dade

Tem

pora

l75

-10

02

75-

100

275

-10

02

75-

100

275

-10

02

75-

100

75-

22

100

Com

pone

ntes

não-

hum

anos

Sem

elha

nça

de

Mec

anis

mos

co

mpo

rtam

enta

is

Tot

al>2

1>2

1>2

1>2

1>2

1>2

1>2

1R

ESU

LT

AD

O

BS

Dife

rent

es

BS

Dife

rent

es

BS

Dife

rent

esB

S D

ifere

ntes

B

S D

ifere

ntes

BS

Dife

rent

es

BS

Dife

rent

es

Inte

rdep

endê

ncia

Intr

a-G

rupo

: Esp

aço

e co

mpo

rtam

ento

com

uns

Aná

lise

de d

ifere

nça

de q

uant

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e de

com

pone

ntes

hum

anos

(den

tro d

e um

a m

esm

a at

ivid

ade)

: BS1

x B

S2 (v

aria

ção

de q

uant

idad

e na

ão c

amin

har)

; BS2

X B

S3A

nális

e de

sem

elha

nça

de q

uant

idad

e de

com

pone

ntes

hum

anos

(em

ativ

idad

es se

mel

hant

es: c

amin

har)

: BS1

x B

S5 (s

ozin

ho),

BS2

X B

S6(d

upla

),B

S3 X

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(Gru

po),

Aná

lise

com

para

tiva

com

e se

m o

cac

horr

o: B

S9 X

BS8

Out

ras a

ssoc

iaçõ

es: B

S10

X B

S 11

(dup

la x

gru

po, e

xerc

endo

mes

ma

ativ

idad

e)

Page 179: COMPORTAMENTO SCIO-ESPACIAL DE PESSOAS EM … · users of the Engenheiro Roberto Freire Avenue sidewalk, one of the few places in Natal for physical activities practicing, where most

177

BS1

c X

BS2

c B

S2c

X B

S3c

BS1

c X

BS5

c B

S2c

X B

S6c

BS3

c X

BS7

c B

S9c

X B

S8c

BS1

0cX

BS1

1c

Índi

ceK

Índi

ceK

Índi

ceK

Índi

ceK

Índi

ceK

Índi

ceK

Índi

ceK

Iten

sES

CES

CES

CES

CES

CES

CES

C

De

Com

port

amen

to0

70

70

70

70

70

70

7

De

popu

laçã

o 0

70

70

70

70

70

70

7D

e líd

eres

0

70

70

70

70

70

70

7

Esp

acia

l95

-10

01

95-

100

195

-10

01

95-

100

195

-10

01

95-

100

95-

11

100

Con

tigüi

dade

Tem

pora

lC

ompo

nent

esnã

o-hu

man

osSe

mel

hanç

a de

M

ecan

ism

os

2-3

20-

11

0-1

12-

32

2-3

22-

32

0-1

1co

mpo

rtam

enta

isT

otal

>21

>21

>21

>21

>21

>21

>21

RE

SUL

TA

DO

B

S D

ifere

ntes

B

S D

ifere

ntes

B

S D

ifere

ntes

BS

Dife

rent

es

BS

Dife

rent

esB

S D

ifere

ntes

B

S D

ifere

ntes

Inte

rdep

endê

ncia

Intr

a-G

rupo

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Conclusão: Se for a mesma pessoa, sob as mesmas condições, não importa a hora que ela executa a atividade. Serão BS interdependentes ou o mesmo.

27 Se todos na parada forem levados em conta, fora o principal integrante humano do BS analisado 28 Considerando mesma parte do dia, com as ações ocorrendo simultaneamente. Dependerá do ônibus que estão esperando, mas em geral ninguém fica muito tempo esperando na parada por um ônibus.

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