Comportamento de Fontes Nitrogenadas no Solo

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Boletim - Maio / 2000

As principais fontes de nitrogênio utilizadas no Brasil, a uréia, sulfato de amônio, serão sucintamente avaliadas quanto ao comportamento quando aplicadas no solo

Uréia - CO(NH2)

Após a hidrólise da uréia, a amônia formada é imediatamente hidrolisada formando íons bicarbonato (HCO3-) e principalmente a hidroxila (OH-) resultando numa sensível elevação do pH.

Como conseqüência, nos locais onde é aplicado o fertilizante o pH poderá atingir valores iguais a 10 (Nommik & Nilsson, 1963), e nestas condições parte da amônia (NH3) será inevitavelmente perdida por volatilização. Entretanto, parte da amônia em ambiente ácido será convertida pelos organismos amonificadores na forma amoniacal (NH4+), como segue (IFDC/UNDO, 1998):

O nitrogênio na forma amoniacal (NH4+) formado pela aplicação da uréia ou pelo uso do sulfato de amônio ou nitrato de amônio poderá ser absorvido pelas plantas, promovendo a acidificação da rizosfera. Neste aspecto a sua utilização pode ser avaliada como vantagem, pela possibilidade de aumentar a eficiência na utilização dos micronutrientes metálicos, cuja disponibilidade é influenciada pela diminuição do pH. A acidificação das rizosfera significa também uma amplificação de problemas fitossanitários, quando a área possui histórico de doenças causadas por fungos de solo. A preferência por ambientes ácidos pelos fungos pode ser resultante da menor concorrência proporcionada pela menor população de actinomicetos e principalmente de bactérias.

Como discutido anteriormente, a redução na transformação da forma N-amoniacal para a forma N-nítrica, que depende, dentre outros, do pH do solo e da relação C/N dos resíduos vegetais, são caminhos que podem modificar a dinâmica do nitrogênio, reduzindo a sua perda do sistema, com benefícios para o agricultor e o ambiente.

Comportamento de fontes nitrogenadas no solo

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A lixiviação de nitrogênio embora citada com muita freqüência na literatura, é questionável, considerando que a maior parte do nitrogênio do solo encontra-se na forma orgânica, na biomassa de resíduos vegetais e de microorganismos. Destaque-se que a biomassa microbiana é muito grande, variando de 400 a 5.000kg.ha-

1 para fungos (Siqueira, 1988), de 700(1) a 1000(2)kg.ha-1 para actinomicetos (Loures(1), 1988 e Siqueira, 1988(2)), enquanto a bacteriana é estimada em 100 a 4.000kg.ha-1 (Siqueira, 1988). Portanto a maior parte do N encontra-se imobilizada, inferido pela sua participação nas células bacterianas - 5% de N (Siqueira, 1988), superior à composição das culturas agrícolas. Finalmente, merece também destaque a grande aptidão dos microorganismos para extrair do solo o nitrogênio e demais nutrientes que necessitam, apresentando maior capacidade comparativamente às plantas superiores.

Além disso o comportamento do nitrogênio no solo sob agricultura depende da ocorrência de excedente hídrico, que devido a estacionalidade nos trópicos, limita-se ao período chuvoso e em períodos definidos, quando a taxa de infiltração excede a evapotranspiração.

Estudos desenvolvidos para quantificar a taxa de movimento do N-NO3- no solo variam em função do mesmo, alcançando valores entre 0,5mm.mm-1 de chuva (Wild, 1972) a 1,5mm.mm-1 de chuva (Suhet et al. 1986). Do exposto, considerando uma precipitação média de 1500mm.ano-1 durante o período de 180 dias, de outubro a março, com evapotranspiração média de 5mm.dia-1, o excedente hídrico, considerando 100% de infiltração, seria de 600 mm.ano-1. Adotando-se uma taxa média de lixiviação de N-NO3- igual a 1,0mm.mm-1 de chuva, chega-se a conclusão que o deslocamento do nitrato ocorrerá até 60cm de profundidade, dentro da faixa de exploração pelas raízes. Resultados semelhantes foram observados por (França et al. 1986), após a aplicação de 30, 60 e 240kg/ha de N em Latossolo Vermelho-Escuro, no período chuvoso, os quais constataram que o nitrato movimentou da camada de 20 a 40cm para a profundidade de 40 a 60cm.

De acordo com o balanço de 15N no sistema solo planta realizado por Coelho (1978) foi encontrado 67% do 15N aplicado dentro dos primeiros 15cm do solo, estando a maior parte imobilizado na matéria orgânica, enquanto que a sua perda por lixiviação correspondeu a 2kg/ha do total de 60kg/ha aplicados. As perdas de N por lixiviação não constituem problema, tendo sido encontrados valores entre 2 a 4kg/ha, na maioria dos trabalhos realizados sobre o assunto no Brasil, para aplicações de até 100kg/ha de N (Reichardt et al. 1982).

Nitrato de amônio - NH4NO3 e Nitrocálcio

Os argumentos discutidos anteriormente considerando a simulação da aplicação de uréia e sulfato de amônio ao solo podem ser extrapoladas para as referidas fontes, seja nitrato de amônio ou nitrocálcio.

Quanto à eficiência no aproveitamento das fontes analisadas é do conhecimento que a uréia devido as perdas por volatilização apresenta a menor eficiência comparativamente às demais. Para o sulfato de amônio as perdas por lixiviação, se ocorrer, dependeriam das condições já abordadas, pH da solução do solo e relação C/N dos resíduos, enquanto que o nitrato de amônio, por apresentar 50% na forma nítrica (NO3-) dependente das mesmas condições, o mesmo aconteceria apenas com menor intensidade.

Não há uma fonte ideal para o fornecimento de nitrogênio, pois a eficiência das mesmas dependem, com intensidades diferentes, das interações biológicas que o nutriente é submetido no solo, do manejo do sistema de produção agrícola e obviamente da relação benefício: custo para cada situação.

Se o manejo do nitrogênio for orientado no sentido de reduzir o processo de nitrificação, haverá possibilidades de elevar a eficiência no aproveitamento das fontes amoniacais, como sulfato e nitrato de amônio. Para a uréia o mesmo não se aplica pois a natureza do fator de risco é diferente, ocasionado nesse caso pela volatilização,

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processo inerente a hidrólise do próprio fertilizante com produção de íons bicarbonato e hidroxila os quais elevam o pH próximo do grânulo, promovendo a sua transformação no gás amônia (NH3). Esta certamente é a principal causa de perda de nitrogênio do solo cultivado, podendo atingir valores entre 50 e 80% do total de nitrogênio adicionado ao solo através da referida fonte (Volk, 1959; Allison, 1965, Cabezas, 1998).