COMPORTAMENTO DE CONCRETOS ASFÁLTICOS ...transportes.ime.eb.br/DISSERTAÇÕES/DIS213.pdfConcreto...

255
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA CAP WILLIAM RUBBIOLI CORDEIRO COMPORTAMENTO DE CONCRETOS ASFÁLTICOS PROJETADOS COM CIMENTO ASFÁLTICO MODIFICADO POR BORRACHA DE PNEUS Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes. Orientador: Profº. Luiz Antônio Silveira Lopes - D. Sc; Co-orientador: Profº. Salomão Pinto - D. Sc; Co-orientador: Profº. Álvaro Vieira - M. Sc. Rio de Janeiro 2006

Transcript of COMPORTAMENTO DE CONCRETOS ASFÁLTICOS ...transportes.ime.eb.br/DISSERTAÇÕES/DIS213.pdfConcreto...

  • INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

    CAP WILLIAM RUBBIOLI CORDEIRO

    COMPORTAMENTO DE CONCRETOS ASFÁLTICOS PROJETADOS

    COM CIMENTO ASFÁLTICO MODIFICADO POR BORRACHA DE

    PNEUS

    Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes.

    Orientador: Profº. Luiz Antônio Silveira Lopes - D. Sc; Co-orientador: Profº. Salomão Pinto - D. Sc; Co-orientador: Profº. Álvaro Vieira - M. Sc.

    Rio de Janeiro

    2006

  • 2

    c2006 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

    Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha

    Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270

    Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-

    lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer

    forma de arquivamento.

    É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre

    bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que

    esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações,

    desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica

    completa.

    Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e

    do(s) orientador(es).

    625.84 Cordeiro, William Rubbioli C794 Comportamento de Concretos Asfálticos Projetados com Cimento

    Asfáltico Modificado por Borracha de Pneus / William Rubbioli Cordeiro – Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2006.

    253 p.: il.

    Dissertação (mestrado) – Instituto Militar de Engenharia – Rio de janeiro, 2005.

    1. Concreto asfáltico. 2. Asfalto Borracha. 3. Borracha de Pneu. Instituto Militar de Engenharia. II. Título.

    CDD 625.84

  • 1

    55

    INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

    CAP WILLIAM RUBBIOLI CORDEIRO

    COMPORTAMENTO DE CONCRETOS ASFÁLTICOS PROJETADOS

    COM CIMENTO ASFÁLTICO MODIFICADO POR BORRACHA DE

    PNEUS

    Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes.

    Orientador: Profº. Luiz Antônio Silveira Lopes - D. Sc; Co-orientador. Profº. Salomão Pinto - D. Sc; Co-orientador: Profº. Álvaro Vieira - M. Sc.

    Aprovada em 30 de janeiro de 2006 pela seguinte Banca Examinadora:

    Profº. Luiz Antônio Silveira Lopes – D. Sc. do IME

    Profº. Salomão Pinto – D. Sc. do IPR/IME

    Profª. Laura Maria Goretti da Motta – D. Sc. da COPPE/UFRJ

    Profº. Álvaro Vieira – M. Sc. do IME

    Rio de Janeiro

    2006

  • 1

    56

    Aos meus pais Silas e Mareny, minha querida esposa Tatiana, ao meu filho Leonardo, e demais familiares, por todo o esforço, incentivo e apoio fornecidos durante toda a minha vida.

  • 1

    57

    AGRADECIMENTOS

    À DEUS pela oportunidade da vida, pela saúde e força em buscar novos

    conhecimentos, pela conquista de novos amigos, e pela materialização dos sonhos

    traçados ao longo da vida.

    Aos meus pais, Silas e Mareny, pela minha educação escolar, e principalmente

    pelo contínuo apoio em todos os acontecimentos da minha vida. São exemplos de

    luta e dedicação que os guardo como guia e principalmente admiração.

    À minha amada esposa Tatiana pelo seu companheirismo, dedicação e

    compreensão durante todo o período do curso, sem falar nos inúmeros finais de

    semana que precisamos passar em casa para a realização da redação da

    dissertação.

    Ao meu eternamente querido filho Leonardo, pelos seus sorrisos e

    companheirismo que me apoiaram enormemente nas horas de cansaço e desânimo

    da dissertação.

    À toda a minha família, avós, irmãos, cunhados, tios e demais parentes, pelo

    constante interesse e apoio.

    Ao Exército Brasileiro pela minha graduação na Academia Militar das Agulhas

    Negras, pelo curso do Instituto Militar de Engenharia, e por me disponibilizar durante

    dois anos em período integral, para a realização da minha dissertação de mestrado.

    A todos os professores do Departamento de Engenharia de Fortificação e

    Construção do IME pela forma amiga de tratar os alunos e particularmente pelos

    conhecimentos transmitidos durante a realização do curso de graduação. A todos os

    demais professores, o meu reconhecimento pelo agradável convívio e transmissão

    de informações adicionais.

  • 1

    58

    A todos os professores da Pós Graduação em Engenharia de Transportes do

    IME pelos ensinamentos transmitidos durante a fase de créditos e pela

    indispensável experiência e conselhos passados durante os seminários.

    Ao Professor e Orientador D. Sc. Luis Antônio Silveira Lopes por sua

    participação e companheirismo durante o ano de crédito e dissertação, sempre

    transmitindo orientações nos momentos importantes e me alertando contra possíveis

    erros e descuidos. Ademais, por toda a ajuda prestada na solução dos mais variados

    problemas encontrados ao longo do curso.

    Ao Professor e Co-orientador D. Sc. Salomão Pinto, inicialmente, pelo

    encorajamento ao tema da pesquisa, pelos conhecimentos transmitidos e inúmeras

    orientações profissionais nas diversas áreas da pavimentação. Foi um dos pilares da

    dissertação, principalmente pelo incansável esforço e dedicação apresentados

    desde a fase inicial da pesquisa até o seu findar, destacando-se o levantamento de

    dados (viagem à Curitiba/PR), reuniões com empresas fornecedoras de asfalto

    borracha, realização de contatos imprescindíveis para o sucesso desta. Os primeiros

    contatos com o sábio Professor nos bancos escolares da graduação, são

    insuficientes para o conhecimento desta pessoa impar na engenharia do Brasil.

    Entretanto, devido aos maiores contatos durante os dois anos deste curso, é

    possível admirá-lo pelo seu enorme conhecimento, grande capacidade didática,

    constante curiosidade nos assuntos de pavimentação e, principalmente inteligência

    e competência profissional. Hoje, é um exemplo de pesquisador para todo o meio

    acadêmico, devido à sua vivência prática em mais de 35 anos de pavimentação,

    embasados pelo fundamento teórico que possui. Tudo seria mais difícil se eu não

    tivesse contado com a enorme colaboração deste professor, que nunca deixou uma

    pergunta sem resposta. Ao final da dissertação de mestrado, agradeço sinceramente

    ao Grande Mestre Salomão Pinto pela amizade a mim dedicada, pela compreensão

    e apoio. Sinto-me realizado com o que estudei e ainda mais curioso pelos assuntos

    analisados. Muito Obrigado, Mestre!

    Ao Professor e Co-orientador M. Sc. Álvaro Vieira pelo convívio estimulador e

    amigo, pelos conhecimentos transmitidos na graduação na cadeira de Mecânica dos

  • 1

    59

    Pavimentos e ao longo do período de dissertação, pela bibliografia disponibilizada.

    Também todo o apoio recebido para que os resultados desta pesquisa fossem

    publicados nos principais congressos sobre infra-estrutura de transportes do país:

    36ª RAPv e XIX ANPET, ou mesmo para a realização de contatos e ensaios. Muito

    Obrigado, Mestre!

    Ao grande pesquisador, amigo, ídolo e professor Luiz Carlos Oliveira da Cunha

    Lima, detentor das patentes dos processos REGEN e ASFALBOR. Disponibilizou

    todo o conhecimento necessário à realização da pesquisa referentes aos assuntos

    de borracha. Com sua simplicidade, inteligência e competência foi uma das

    principais pessoas responsáveis pelo sucesso deste trabalho. Levarei a amizade

    dele como um dos maiores benefícios adquiridos ao longo destes dois anos de

    estudos. Qualquer palavra será pouca na tentativa de agradecimento. Muito

    Obrigado, MESTRE!

    Ao Dr. Chequer Jabour Chequer pela autorização do uso das instalações do

    laboratório do IPR para a caracterização de ligantes e moldagem dos corpos-de-

    prova utilizados na pesquisa.

    Às Engª. do IPR, Dilma e Luciana, por toda a ajuda prestada.

    Ao laboratorista do IPR, Sérgio Romário, pela imprescindível ajuda nos ensaios

    de caracterização de ligantes e na moldagem dos corpos-de-prova. Sempre

    disposto a ajudar e transmitir ensinamentos, contribuiu significativamente para a

    elaboração do programa de trabalho da tese, realizando mais de 100 ensaios de

    ligantes e mais de 145 corpos de prova de concreto asfáltico. Sua competência,

    dedicação e zelo ressaltam o excelente profissional que é. Por se tratar de uma

    pessoa sincera e agradável, tenho hoje o laboratorista Sérgio Romário como um

    grande amigo. Obrigado! Que Deus continue lhe abençoando, a sua família, e em

    particular seus recentes netos.

  • 1

    60

    Ao laboratorista do IPR, Luis Cláudio, pela ajuda na compactação de corpos de

    prova marshall e nos demais ensaios. Aos demais integrantes da equipe do IPR

    pelo excelente convívio durante o tempo em que trabalhamos juntos.

    À Dra. Vânia Periquito Vidal, Gerente de Lubrificantes e Produtos Especiais do

    CENPES, pela autorização do uso das instalações do laboratório para os ensaios

    necessários na pesquisa.

    Ao Corpo Técnico do setor de Asfalto e Lubrificantes do CENPES que me

    receberam amigavelmente durante os meses de junho a setembro (2005),

    contribuindo enormente para a pesquisa. Destaco os Eng Leni Leite, Luis Alberto,

    Cristina, e os Laboratoristas Adriana, Mariana, Luis Rosa, Áurea, Ulisses. Estes

    últimos ensinaram-me as metodologias de diversos ensaios de forma atenciosa,

    estando sempre dispostos no auxílio e elaboração de ensaios. Na oportunidade do

    estágio no CENPES, adquiri conhecimentos, mas principalmente amigos.

    A Professora D. Sc. Laura Maria Goretti da Motta, pelos valiosos conhecimentos

    transmitidos na cadeira de Materiais de Pavimentação e Gerência dos Pavimentos,

    pelo tempo dedicado à apreciação desta dissertação, pelo constante incentivo ao

    longo do período da pesquisa. Pessoa de incomparável paciência, dedicação e boa

    vontade com seus alunos. Ainda, pela bibliografia a mim disponibilizada. Muito

    Obrigado, Professora!

    Às empresas fornecedoras de asfaltos borracha analisados na pesquisa.

    GRUPO GRECA ASFALTOS, CENTRO OESTE ASFALTOS, BR PETROBRAS

    Distribuidora, BETUNEL KOCH, CBB ASFALTOS.

    Em particular ao Grupo Greca Asfaltos pela viagem à sua fábrica em

    Araucária/PR, e principalmente aos engenheiros Armando Morilha, Wander Omena

    que sempre estiveram dispostos em fornecer informações, bibliografias, e até na

    realização de ensaios. Neste agradecimento singelo, as poucas palavras não

    retratam a enorme admiração que obtive pelo Grupo Greca Asfaltos e pelos seus

    profissionais. A capacidade desta empresa nacional de ser uma das pioneiras no

  • 1

    61

    assunto em pauta a classificam como uma das mais experientes do Brasil no ramo

    de ligantes modificados por borracha de pneu.

    À Concessionária CONCER pelo fornecimento dos agregados e do asfalto

    borracha CAPFLEX-B empregados na pesquisa. Particularmente, aos engenheiros

    Ricardo Barra e Adir Borges pelo apoio prestado na fase de acompanhamento dos

    trabalhos executados na rodovia BR 040/RJ.

    Ao pessoal técnico da Construtora CONSÓRCIO CONSTRUTOR BR-040

    Alexander, Celso e Walter pelo apoio e fornecimento de ensinamentos práticos.

    Ao Sgt Mozeika, Sgt Araújo e FC Wanderlei pela ajuda dos ensaios

    desenvolvidos no laboratório do IME.

    Às bibliotecas do IPR, IME, ABPv e da COPPE por toda a bibliografia

    consultada durante a dissertação.

    A todos os amigos do 1º e 2º ano do curso de pós graduação em transportes do

    IME, pela amizade e companheirismo demonstrados ao longo de todo o curso.

  • 1

    62

    “Pois, na verdade, o grande amor nasce do

    grande conhecimento da coisa amada.”

    Leonardo Da Vinci

  • 1

    63

    RESUMO

    Pesquisas sobre a aplicação de borracha de pneus descartados em pavimentação

    asfáltica vêm sendo desenvolvidas desde o início da década de 1990 no Brasil. Este

    trabalho apresenta uma inovadora tecnologia de obtenção de uma mistura

    homogênea de ligante asfáltico com borracha regenerada. São analisadas as

    principais propriedades reológicas do ligante modificado com diferentes

    concentrações de borracha, segundo ensaios tradicionais e da metodologia

    SUPERPAVE, comparando-as com um ligante convencional. Ainda, são analisadas

    algumas propriedades dos asfaltos borracha de algumas empresas fornecedoras

    deste tipo de ligante no Brasil. Para caracterização e verificação de desempenho

    dos concretos asfálticos, realizaram-se os ensaios da metodologia Marshall, ensaios

    de resistência à tração, módulo de resiliência à compressão diâmetral, fadiga à

    tensão controlada. Ficou evidente a existência da viabilidade técnica para execução

    de revestimentos com a utilização de borracha reciclada.

  • 1

    64

    ABSTRACT

    Researches on the application of discarded tires in asphalt pavements has been

    developed since the beginning of the 90’s in Brazil. This work presents an innovator

    technology of obtaining a homogeneous mixture of binder with regenerate rubber.

    The main properties of the binder modified with different concentrations of rubber are

    analyzed, according to traditional tests and SUPERPAVE methodology as well.

    comparing them with conventional asphalt cement. Some properties of the asphalt

    rubber of some Brazilian binder supply’s companies are also analyzed. To

    characterize and verify the hot mixed performance, tests were carried out: Marshall

    methodology tests, tensile strength, resilient modulus, fatigue (controlled stress

    mode). It was evident the technical viability to use recycled rubber as flexible

    pavement material.

  • 1

    65

    LISTA DE FIGURAS

    FIG. 2.1 Representação do pneu criado por Dunlop............................... 33

    FIG. 2.2 Pneus descartados indevidamente............................................ 34

    FIG. 2.3 Disposição indevida Itapeva/SP ............................................... 36

    FIG. 2.4 Entulhos do Rio Tiete / SP ........................................................ 36

    FIG. 2.5 Fazenda de pneus nos EUA...................................................... 37

    FIG. 2.6 Fazenda de pneus nos EUA...................................................... 37

    FIG. 2.7 Partes que compõem o pneu..................................................... 41

    FIG. 2.8 Sistema “eco-estrutural pneumático”......................................... 45

    FIG. 2.9 Esquema da execução de muro de pneus................................ 46

    FIG. 2.10 Esquema da execução de muro de pneus................................ 46

    FIG. 2.11 Esquema dos recifes artificiais.................................................. 47

    FIG. 2.12 Distribuição dos recifes artificiais............................................... 48

    FIG. 2.13 Construção de depósito com paredes de pneus....................... 48

    FIG. 2.14 Sarjeta de proteção aterro ....................................................... 48

    FIG. 2.15 Tubo de drenagem de águas pluviais. ..................................... 48

    FIG. 2.16 Recuperação de áreas degradadas.......................................... 48

    FIG. 2.17 Artigos confeccionados com borracha de pneu......................... 50

    FIG. 2.18 Pisos revestidos com material reciclado de pneus.................... 51

    FIG. 2.19 Piso de quadras esportivas....................................................... 52

    FIG. 2.20 Sinalizador de tráfego ............................................................... 52

    FIG.2.21 Quantidade de pneus empregados na pavimentação de rodovias .................................................................................... 53

    FIG. 2.22 Esquema geral da trituração de borracha de pneu................... 61

    FIG. 2.23 Máquinas de retirada de talão................................................... 61

    FIG. 2.24 Triturador de pneus................................................................... 62

    FIG. 2.25 Linha de processamento e trituração de pneus......................... 62

    FIG. 2.26 Borracha de pneu triturada........................................................ 63

    FIG. 2.27 Método criogênese e trituração a temperatura ambiente.......... 63

    FIG. 2.28 Processo REGEN...................................................................... 67

    FIG. 2.29 Área de separação e picagem de carcaças ............................. 68

  • 1

    66

    FIG. 2.30 Máquinas de retirar talões......................................................... 68

    FIG. 2.31 Pedaços de carcaça................................................................. 68

    FIG. 2.32 Detalhe das Fibras de Aço (ARAME) do Pneu.......................... 69

    FIG. 2.33 Borracha já separa do nylon e do arame................................... 69

    FIG. 2.34 Regenerado seco (granulometria de 100 mesh – 0,154 mm)... 70

    FIG. 3.1 Representação dos componentes do cimento asfáltico............ 73

    FIG. 3.2 Tipos de ligantes para o Brasil ( SuperPave ).......................... 78

    FIG. 3.3 Esquema de modificação do CAP (processo úmido)................ 80

    FIG. 3.4 Processos de misturas e terminologia. ..................................... 82

    FIG. 3.5 Equipamento do processo por batelada.................................... 83

    FIG. 3.6 Esquema dos componentes do processo por batelada............. 83

    FIG. 3.7 Esquema dos componentes do primeiro do processo continuo 84

    FIG. 3.8 Equipamento do primeiro estágio do processo continuo........... 85

    FIG. 3.9 Esquema do processo continuo.(segundo estágio)................... 85

    FIG. 3.10 Equipamento do processo continuo.(segundo estágio)............. 86

    FIG. 3.11 Viscotest. ................................................................................. 87

    FIG. 3.12 Fatores que influenciam na produção asfalto borracha ............ 93

    FIG. 3.13 Interação entre as partículas de borracha granulada e o CAP. 95

    FIG. 3.14 Grão de borracha antes do inchamento.................................... 95

    FIG. 3.15 Grão de borracha após do inchamento .................................... 95

    FIG. 3.16 Esquema da diferenças das interações entre borrachas ......... 97

    FIG. 3.17 Tela de exibição do microscópio óptico..................................... 98

    FIG. 3.18 Envelhecimento do ligante asfáltico ......................................... 102

    FIG. 3.19 Configuração de selante “band-aid” ......................................... 105

    FIG. 3.20 Trechos tratados com asfalto borracha em Sacramento (EUA) 110

    FIG. 3.21 Estados americanos que utilizam asfalto borracha. ................. 111

    FIG. 3.22 Trechos restaurados no Estado do Arizona ............................. 112

    FIG. 3.23 Uso de ligantes no mundo. ....................................................... 115

    FIG. 3.24 Custo comparativo de materiais de pavimentação.................... 116

    FIG. 3.25 Trecho Experimental na BR 116................................................ 121

    FIG. 3.26 Simulador de Tráfego DAER-UFRGS....................................... 124

    FIG. 3.27 Comparação entre os trechos ensaiados com simulador de tráfego 124

  • 1

    67

    FIG. 4.1 Penetrômetro ........................................................................... 136

    FIG. 4.2 Ensaio de ponto de amolecimento............................................ 137

    FIG. 4.3 Execução do ensaio de recuperação elástica........................... 138

    FIG. 4.4 Tubo de alumínio para ensaio de estabilidade à estocagem.... 140

    FIG. 4.5 Molde (base mais cubo) utilizado no ensaio.............................. 140

    FIG. 4.6 Coesivímetro realizando o ensaio............................................. 141

    FIG. 4.7 Penetrômetro usado no ensaio de resiliência........................... 142

    FIG. 4.8 Simulação do ensaio de Resiliência.......................................... 142

    FIG. 4.9 Viscosímetro Brookfield ........................................................... 144

    FIG. 4.10 Spindles utilizados..................................................................... 145

    FIG. 4.11 Viscosímetro rotacional Brookfield…………….......................... 145

    FIG. 4.12 Estufa de filme fino rotativo (RTFOT)........................................ 147

    FIG. 4.13 Esquema dos frascos do ensaio. .............................................. 147

    FIG. 4.14 Equipamento Vaso de Pressão(PAV)........................................ 148

    FIG. 4.15 Esquema do ensaio de cisalhamento dinâmico ...................... 149

    FIG. 4.16 Moldes do DSR.......................................................................... 150

    FIG. 4.17 Esquema do DSR em operação ............................................... 150

    FIG. 4.18 Esquema do BBR em operação ............................................... 151

    FIG. 5.1 Resultados dos ensaios de viscosidade ................................... 166

    FIG. 5.2 Visualização de dois ligantes modificados. .............................. 167

    FIG. 5.3 Gráfico de ensaios de asfalto borracha..................................... 171

    FIG. 5.4 Suscetibilidade Térmica comparativa. ...................................... 178

    FIG. 5.5 Envelhecimento do ligante asfáltico ......................................... 179

    FIG. 5.6 Resultados dos ensaios de ponto de amolecimento ................ 181

    FIG. 5.7 Evolução da consistência dos ligantes analisados ................... 182

    FIG. 5.8 Resultados dos ensaios de recuperação elástica..................... 183

    FIG. 5.9 Gráfico comparativo dos resultados dos ensaios de P.A.......... 184

    FIG. 5.10 Influência do tempo de digestão ............................................... 187

    FIG. 5.11 Variação da Viscosidade Brookfield ......................................... 189

    FIG. 5.12 Variação do Ponto de Amolecimento ....................................... 189

    FIG. 5.13 Local de coleta de amostras (tanque abaixo)............................ 193

    FIG. 5.14 Local de coleta de amostras (tanque acima)............................. 194

  • 1

    68

    FIG. 5.15 Variação do P.A. ....................................................................... 194

    FIG. 5.16 Variação da Recuperação Elástica ........................................... 195

    FIG. 5.17 Variação da Viscosidade Brookfield ......................................... 195

    FIG. 5.18 Arrancamento de agregado em um revestimento .................... 198

    FIG. 5.19 Gráfico do ensaio de coesividade.............................................. 200

    FIG. 5.20 Curva Granulométrica utilizada na pesquisa............................. 202

    FIG. 5.21 Vida de Fadiga, em termos de diferença de tensões................ 206

    FIG. 5.22 Vida de Fadiga, em termos de deformações específicas resilientes 207

    FIG. 5.23 Representação gráfica da relação Viscosidade X Módulo Resiliente 211

    FIG. 5.24 Gráfico da compactação SUPERPAVE CAP 20 X C00-10%) 213

    FIG. 5.25 Gráfico da compactação SUPRPAVE (CAP 20 X ECOFLEX-B) 214

  • 1

    69

    LISTA DE TABELAS TAB. 1.1 Classificação Geral do Pavimento Avaliado em 2004.................... 24

    TAB. 2.1 Composição química de pneus de automóveis e caminhões........ 44

    TAB. 2.2 Mercado de borracha natural no Brasil (em toneladas)................. 57

    TAB. 2.3 Processos de regeneração de borracha........................................ 64

    TAB. 3.1 Performace Grade (PG) dos ligantes ASTM D 6373..................... 77

    TAB. 3.2 Tecnologias de produção de asfalto borracha............................... 90

    TAB. 3.3 Especificações de asfalto borracha................................................ 92

    TAB. 3.4 Exigências da norma ES-P 28/05 do DER/PR............................... 92

    TAB. 3.5 Fatores que afetam a viscosidade Brookfield................................ 93

    TAB. 3.6 Resumo de projetos de pesquisa com asfalto borracha................ 117

    TAB. 3.7 Alguns trechos realizados com asfalto polímero no Brasil............. 119

    TAB. 3.8 Alguns trechos Executados até 2005-Grupo Greca Asfaltos......... 131

    TAB. 3.9 Outros trechos executados com asfalto borracha no Brasil........... 132

    TAB 4.1 Características básicas do CAP 20 REDUC................................... 134

    TAB. 4.2 Características físicas dos agregados............................................ 135

    TAB. 5.1 Relação dos tipos de ligantes fabricados em laboratório................ 158 TAB. 5.2 Características dos ligantes comercializados no Brasil.................. 160 TAB. 5.3 Características dos ligantes fabricados em laboratório.................. 163 TAB. 5.4 Ligantes analisados nos demais ensaios........................................ 168 TAB. 5.5 Resultados do ensaio de Estabilidade ao Armazenamento............ 170 TAB. 5.6 Resultados dos ensaios de cisalhamento dinâmico ...................... 174 TAB. 5.7 Resultados dos ensaios de cisalhamento dinâmico (após PAV).... 175 TAB. 5.8 Classificação SUPERPAVE dos ligantes analisados...................... 177 TAB. 5.9 “Índices de Envelhecimento” dos ligantes analisados na pesquisa 180 TAB. 5.10 Índices de Aumento de Consistência dos Ligantes analisados...... 189 TAB. 5.11 Resultados do teste de estabilidade à estocagem de asfalto

    borracha na Flórida......................................................................... 188 TAB. 5.12 Variação das propriedades das amostras de asfalto borracha

    durante a estocagem ................................................................... 191 TAB. 5.13 Programação de coleta de amostras no tanque de estocagem.... 193

  • 1

    70

    TAB. 5.14 Resumo dos resultados das amostras ensaiadas......................... 196 TAB. 5.15 Valores de Coesividade de asfaltos borracha............................... 199 TAB. 5.16 Curva granulométrica.................................................................... 202 TAB. 5.17 Principais características dos concretos asfálticos analisados..... 204 TAB. 5.18 Principais características mecânicas e de dosagem dos

    concretos asfálticos analisados...................................................... 206 TAB. 5.19 Características de fadiga dos concretos asfálticos analisados....... 218 TAB. 5.20 Resultados dos concretos asfálticos compactados em

    temperaturas diferentes das especificadas................................... 210 TAB. 5.21 Resultado dos Modelos Matemáticos que regem o problema...... 215 TAB. 5.22 Resultados dos ensaios de extração de betume (ROTAREX)...... 216

  • 1

    71

    SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ………………………………………………………….. 15

    LISTA DE TABELAS…………………………………………………………….……. 19

    1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 23

    1.1 Objetivo do Trabalho............................................................................ 27

    1.2 Estrutura da Dissertação...................................................................... 31

    2 1 UTILIZAÇÃO DE BORRACHA RECICLADA DE PNEUS

    INSERVÍVEIS 33

    2.1 Considerações Iniciais........................................................................ 32

    2.2 Descarte de Pneus Inservíveis ........................................................... 34

    2.2.1 Tentativas de Solução do Problema Ambiental................................... 36

    2.3 Reutilização do Pneu .......................................................................... 40

    2.3.1 Considerações Iniciais......................................................................... 40

    2.3.2 O Pneu................................................................................................. 41

    2.3.3 Diversas Alternativas de Utilização De Pneus Usados........................ 44

    2.3.3.1 Reforma de Pneus............................................................................... 44

    2.3.3.2 Muros de Gravidade e Obras de Contenção de Encostas.................. 45

    2.3.3.3 Recifes Artificiais para a Reprodução da Fauna Marinha................... 47

    2.3.3.4 Construção de Edificações................................................................. 47

    2.3.3.5 Drenagem........................................................................................... 48

    2.3.3.6 Cobertura de Aterros Sanitários......................................................... 49

    2.3.3.7 Recuperação de Áreas Degradadas.................................................. 49

    2.3.3.8 Confecção de Dormentes.................................................................. 50

    2.3.3.9 Diversos............................................................................................. 50

    2.3.3.10 Extração de Óleo e Voláteis............................................................... 52

    2.3.3.11 Co-Processamento em Fábricas de Cimento.................................... 52

    2.3.3.12 Pavimentação.................................................................................... 53

    2.4 A Borracha......................................................................................... 55

    2.4.1 Uma Visão Estratégica da Borracha.................................................. 56

    2.5 Reciclagem da Borracha dos Pneus Inservíveis................................ 58

  • 1

    72

    2.5.1 Processos de Reciclagem da Borracha ............................................ 59

    2.5.1.1 Processo Mecânico de Trituração da Borracha.................................. 60

    2.5.1.2 Processos de Regeneração da Borracha........................................... 64

    2.6 O Processo Regen.............................................................................. 66

    2.7 O Processo de Modificação de Asfalto (ASFALBOR) ........................ 71

    3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DO ASFALTO BORRACHA........ .......... 73

    3.1 Conceitos Sobre Cimentos Asfálticos................................................. 73

    3.1.1 Classificação SUPERPAVE de Ligantes............................................. 76

    3.2 Processos de Obtenção do Asfalto Borracha...................................... 78

    3.2.1 Asfalto Borracha (Processo Úmido).................................................... 80

    3.2.1.1 Batch Process (Processo por Batelada).............................................. 82

    3.2.1.2 Continuous Blend (Processo Contínuo).............................................. 83

    3.2.1.3 Comentários Adicionais....................................................................... 87

    3.2.2 Normas de Asfalto Borracha................................................................ 91

    3.2.1.3 Mecanismo de Interação da Borracha no Cimento Asfáltico............... 93

    3.3 O Envelhecimento dos Asfaltos Borracha .......................................... 100

    3.4 Comportamento de Concretos Asfálticos Projetados com Asfalto

    Borracha .............................................................................................. 102

    3.5 Breve Histórico do Asfalto Borracha.................................................... 103

    3.6 Algumas Experiências Brasileiras com o Emprego do Asfalto

    Borracha.............................................................................................. 118

    3.6.1 Teses de Doutorado............................................................................ 125

    3.6.2 Teses de Mestrado.............................................................................. 128

    3.6.3 Trechos Rodoviários Executados com Asfalto Borracha .................... 130

    4 MATERIAIS E MÉTODOS.............................. ..................................... 133

    4.1 Materiais Empregados......................................................................... 133

    4.1.1 Ligante Asfáltico Base para a Modificação ......................................... 133

    4.1.2 Tipo de Borracha................................................................................. 134

    4.1.3 Agregados........................................................................................... 135

    4.2 Ensaios Tradicionais de Caracterização de Ligantes......................... 136

  • 1

    73

    4.2.1 Penetração.......................................................................................... 136

    4.2.2 Ponto de Amolecimento...................................................................... 136

    4.2.3 Recuperação Elástica......................................................................... 137

    4.2.4 Densidade e Massa Específica.......................................................... 138

    4.2.5 Ponto de Fulgor.................................................................................. 138

    4.2.6 Viscosidade Saybolt-Furol.................................................................. 139

    4.2.7 Estabilidade a Estocagem.................................................................. 139

    4.2.8 Ensaio de Coesividade....................................................................... 140

    4.2.9 Ensaio de Resiliência......................................................................... 141

    4.3 Ensaios SUPERPAVE........................................................................ 142

    4.3.1 Viscosidade Aparente (Brookfield)..................................................... 143

    4.3.2 Envelhecimento de Curto Prazo (ASTM D 2872)............................... 146

    4.3.3 Envelhecimento de Longo Prazo (ASTM D 6521)............................. 147

    4.3.4 Cisalhamento Dinâmico (ASTM P 246).............................................. 148

    4.3.5 Rigidez à Fluência na Flexão............................................................. 151

    4.4 Ensaios de Concretos Asfálticos........................................................ 152

    4.4.1 Dosagem Marshall.............................................................................. 152

    4.4.2 Ensaio de resistência à tração estática por compressão diametral.... 152

    4.4.3 Ensaio de compressão diametral sob carregamento repetido............ 153

    5 DISCUSSÃO E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.......... ......... 156

    5.1 Considerações Iniciais......................................................................... 156

    5.1.1 Programa de Trabalho......................................................................... 157

    5.2 Apresentação dos Resultados de Análises de Ligantes..................... 160

    5.2.1 Ensaios de Caracterização dos Ligantes (ensaios tradicionais)......... 160

    5.2.2 Ensaio de Estabilidade ao Armazenamento........................................ 168

    5.2.3 Análise Paramétrica de Algumas Características do Asfalto Borracha

    (Processo ASFALBOR)....................................................... 171

    5.2.4 Ensaios e Caracterização de Ligantes pela Metodologia

    SUPERPAVE....................................................................................... 173

    5.2.4.1 Ensaio de Viscosidade Aparente Brookfield........................................ 173

    5.2.4.2 Propriedades Reológicas Medidas pelo Reômetro de Cisalhamento 173

  • 1

    74

    Dinâmico..............................................................................................

    5.2.4.3 Rigidez à Fluência na Flexão.............................................................. 176

    5.2.4.4 Grau de Desempenho SUPERPAVE.................................................. 177

    5.2.4.5 Susceptibilidade Térmica..................................................................... 178

    5.2.5 Breve Estudo sobre o Envelhecimento dos Asfaltos Borracha

    Analisados nesta Pesquisa.................................................................. 179

    5.2.6 Manutenção das Propriedades do Asfalto Borracha Durante a

    Estocagem em Tanque de Usina Asfáltica.......................................... 186

    5.2.7 Ensaio de Coesividade dos Asfaltos Borrachas.................................. 198

    5.3 Comportamento de Concretos Asfálticos............................................ 200

    5.3.1 Projeto de Dosagem Marshall............................................................. 200

    5.3.2 Comportamento Mecânico dos Concretos Asfálticos Analisados....... 205

    5.3.3 Compactação de Concretos Asfálticos Executados com Asfalto

    Borracha.............................................................................................. 208

    5.3.4 Extração de Betume pelo Método de Centrifugação (ROTAREX)...... 215

    6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES....................... ...................... 217

    6.1 Conclusões.......................................................................................... 217

    6.2 Recomendações.................................................................................. 220

    7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................... ............................ 221

    8 ANEXO 1............................................................................................. 232

    8.1 Acompanhamento da Restauração do Trecho Concessionado da

    BR-040 - “Lições Aprendidas”............................................................ 233

  • 1

    75

    1 INTRODUÇÃO

    No Brasil, o transporte rodoviário posiciona-se com relevância no contexto

    do desenvolvimento do país, a par de se constituir em grande indutor do

    crescimento sócio-econômico e em fator de segurança e integração político-

    administrativo.

    A partir dos anos de 1940, em especial após o térm ino da 2ª Guerra

    Mundial, o modo rodoviário ultrapassava o ferroviár io na movimentação de

    cargas, e, por volta de 1950, as rodovias passaram a transportar mais

    “toneladas x quilômetro” de cargas domésticas do qu e a navegação de

    cabotagem. A malha rodoviária brasileira apresentou sua maior expansão nas

    décadas de 60 e 70 – período no qual cerca de 20% d o total de gastos do setor

    público foi destinado à construção e manutenção de estradas.

    A partir do final da década de 70, devido ao grande volume de tráfego, a

    rede rodoviária começou a dar sinais de exaustão. E m seqüência, nas décadas

    de 80 e 90 o processo de deterioração das rodovias acentuou-se, necessitando

    de intervenções como restauração e/ou reforço do pa vimento. No início do

    século XXI, com a falta de manutenção ou restauraçã o das estradas, o estado

    de degradação da rede ultrapassou o patamar de 70% da extensão total da

    malha rodoviária.

    Em pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) no

    ano de 2004, foram analisados trechos importantes d as malhas rodoviárias

    Federal e Estadual, que totalizaram, na pesquisa, 7 4.681 km de rodovias,

    sendo: 8.638 km na região Norte, 21.582 no Nordeste , 11.052 km no Centro-

    oeste, 20.612 km no Sudeste e 12.797 km na região S ul. . Os resultados da

    avaliação das condições de operação e conservação d estas rodovias resultam

    em índices extremamente desfavoráveis. Relata-se qu e ¾ da extensão

    analisada (74,7%) apresenta algum tipo de compromet imento, sendo, portanto,

  • 1

    76

    classificadas como deficiente, ruim ou péssimo, con forme mostrado na TAB.

    1.1 a seguir.

    TAB. 1.1. Classificação Geral do Pavimento Avaliado em 2004.

    Extensão Avaliada Estado Geral km %

    Ótimo 8.692 11,6 Bom 10.227 13,7 Deficiente 27.148 36,4 Ruim 17.686 23,7 Péssimo 10.928 14,6 Total 74.681 100,0

    fonte:site CNT 2004

    Podem-se agrupar, tecnicamente, as causas da deteri oração dos

    pavimentos em: cargas dos veículos, associadas ao v olume médio do tráfego;

    solicitações climáticas, principalmente as variaçõe s de temperatura e teor de

    umidade; a vida útil do pavimento. Entretanto, os i nconstantes repasses de

    recursos financeiros destinados à infra-estrutura d e transportes e a carência

    (ou mesmo impossibilidade) de uma política séria de gerência de pavimentos

    contribuem significativamente para a atual situação deficitária da malha

    rodoviária.

    Ainda, o desenvolvimento tecnológico trouxe veículo s com maiores

    capacidade de carga (tonelada transportada) e por c onseqüência solicitações

    aos pavimentos cada vez mais acentuadas. O aumento das cargas por eixo, e a

    respectiva ausência de fiscalização do excesso de c arga, o acréscimo na

    pressão de inflação dos pneus e tipos de rodagem, t ambém contribuem para a

    deteriorização dos pavimentos.

    Dentre os defeitos que ocorrem nos pavimentos flexí veis, dois se

    destacam: as trincas por fadiga do revestimento e o acúmulo de deformações

    permanentes nas trilhas de roda.

  • 1

    77

    Recentemente, o aumento do custo dos materiais de c onstrução,

    principalmente os derivados de petróleo, e as limit ações orçamentárias de

    construção e manutenção de pavimentos alavancaram a s pesquisas que

    buscam materiais que possam apresentar desempenho d os pavimentos com o

    benefício/custo elevado.

    Em países desenvolvidos, a preocupação efetiva com a melhoria da

    qualidade e com a vida útil do pavimento rodoviário impulsionou, a partir dos

    anos de 1960, pesquisas com ligantes modificados. N estas pesquisas foram

    verificadas que a adição de polímeros ao asfalto me lhora consideravelmente

    as propriedades do revestimento asfáltico. (LEITE, 1999)

    Atualmente, em projetos de grande importância, o pl anejamento da

    construção de rodovias não se limita apenas ao seu dimensionamento inicial,

    mas abrange a política de manutenção e restauração ao longo de toda a sua

    vida útil. São avaliadas as alternativas de interve nções na via, através de

    modelos de previsão de desempenho, tanto das condiç ões estruturais quanto

    funcionais do pavimento.

    No Brasil, a partir do início da década de 1990, os técnicos e o meio

    acadêmico têm utilizados polímeros na modificação d os cimentos asfálticos.

    Destaca-se neste período a pesquisa pioneira de pol ímeros desenvolvida pelo

    Instituto de Pesquisas Rodoviárias do Departamento Nacional de Infra-

    estrutura de Transportes (IPR/DNER), que teve por o bjetivo elucidar questões

    sobre a modificação dos ligantes asfálticos por mei o de polímeros.

    Esta pesquisa estudou preferencialmente os asfaltos modificados por

    polímero do tipo SBS (estireno-butadieno-estireno). Em 1998 foram publicados

    seus principais resultados, e, em 1999, o DNER disp onibilizou então as

    Especificações Gerais sobre o tema.

  • 1

    78

    Da revisão bibliográfica desta dissertação, ressalt a-se que a modificação

    de ligantes asfálticos proporciona algumas caracter ísticas diferenciais e

    fundamentais, em relação ao ligante sem modificação , tais como:

    • Melhoria da susceptibilidade térmica.

    • Resistência maior ao envelhecimento.

    • Maior resistência coesiva.

    • Maior recuperação elástica.

    • Melhor desempenho de misturas asfálticas.

    Em sinergia com os conceitos de sustentabilidade do desenvolvimento e

    preservação do meio ambiente, tem-se estudado, tamb ém, a incorporação de

    borracha moída proveniente da reciclagem de pneus e m ligantes asfálticos. A

    borracha, também é chamada de elastômero ou composi ção de borracha, é um

    polímero insaturado natural ou sintético que quando reticulado apresenta

    características elásticas.

    As justificativas e a relevância para o desenvolvim ento desta criativa

    tecnologia têm por fundamento o incremento de desem penho nos pavimentos

    que utilizam o asfalto modificado por borracha de p neu, asfalto borracha, e os

    benefícios ambientais da reciclagem e reuso de um r ejeito da indústria dos

    transportes.

    A expressão “ asfalto borracha” é comumente empregada no meio

    rodoviário, e nesta pesquisa representa o cimento asfáltico modif icado por

    borracha de pneu.

    O reaproveitamento de pneus inservíveis se constitu i em todo o mundo em

    um desafio de difícil solução e de grande preocupaç ão ambiental, devido as

    suas peculiaridades de quantidade, volume, peso e d urabilidade (em torno de

    600 anos). O aspecto ecológico e social deve ser re forçado como um benefício

    muito importante e adicional às melhorias que podem os observar na

    modificação do asfalto tradicional com a adição da borracha moída de pneus.

    Sob esta ótica, podemos citar os seguintes benefíci os gerados:

  • 1

    79

    1. Surgimento e fortalecimento de empresas especial izadas na

    reciclagem de pneus para convertê-los em asfalto bo rracha;

    2. Benefícios diretos ao setor público pela criação de novas fontes de

    tributos a ingressar no erário público, e adicional mente criação de

    novos empregos diretos nas empresas recicladoras e indiretos ligados

    ao processo de angariação e movimentação de pneus i nservíveis;

    3. Inibição maior aos focos de criação de insetos p rejudiciais à saúde e

    até letais ao ser humano;

    4. Diminuição do assoreamento de rios, lagos e baía s, causados, em

    parte, pelo indevido descarte de pneus;

    5. Diminuição do número de pneus em depósitos, com a conseqüente

    redução do risco de incêndios incontroláveis e a nã o deposição de

    pneus, sob qualquer formato, em aterros sanitários.

    6. Redução da demanda de petróleo (asfalto), por do is motivos: pela

    substituição de parte do asfalto por borracha moída de pneus e também

    pela maior durabilidade que será alcançada na vida útil de nossas

    estradas. Não podemos esquecer que o petróleo, e po r conseqüência o

    asfalto, é uma fonte não renovável de energia. (MOR ILHA & GRECA,

    2003)

    A borracha constituinte do pneu possui excelentes p ropriedades físicas e

    químicas a serem incorporadas ao ligante convencion al, trazendo uma série de

    melhorias que se refletem diretamente na durabilida de do pavimento, a saber :

    incorporação de agentes anti-oxidantes que diminuem , sensivelmente, o

    envelhecimento do cimento asfáltico, o aumento da r esistência a ação

    degradante de óleos e combustíveis, diminuição da s uscetibilidade térmica e o

    aumento da resistência a tração admissível (melhora ndo o comportamento à

    fadiga). Ainda, segundo LEITE, 1999 - em sua tese d e doutorado, a qual

    analisou o preparo e caracterização de asfaltos mod ificados por diversos tipos

    de polímeros - a borracha de pneus é a matéria prim a mais barata, dentre os

    diversos tipos de polímeros testados. Este fato con tribui para a

  • 1

    80

    comercialização de um asfalto modificado mais compe titivo (técnica e

    financeiramente) no mercado.

    1.1 OBJETIVO DO TRABALHO

    O crescimento da população e a forte industrializaç ão colaboram para o

    aumento de resíduos das mais diversas naturezas. De ntre os diversos

    resíduos que têm causado preocupação à sociedade de staca-se o pneu. O

    aumento do número de veículos circulando no país co nduz a um crescente

    aumento do número de descartes de pneumáticos de fo rma inadequada.

    O conceito moderno de exploração e desenvolvimento do sistema de

    transportes procura atender às necessidades da soci edade, por meio de uma

    inter-relação com o meio ambiente, e por direcionam ento das disponibilidades

    da indústria. Entretanto, impõe responsabilidades, como a minoração dos

    grandes impactos ambientais causados durante a expl oração da atividade.

    O emprego de borracha reciclada de pneus inservívei s nas misturas

    asfálticas é uma alternativa criativa, pois contrib ui para a solução de um

    passivo ambiental e melhora as condições de operaçã o dos pavimentos

    rodoviários. O aumento da vida útil dos revestiment os asfálticos realizados

    com asfalto borracha relatado em diversas experiênc ias realizadas no mundo e

    a respectiva diminuição dos custos de manutenção de pavimentos comprovam

    que esta técnica é capaz de contribuir para o desen volvimento sustentável do

    país.

    Historicamente, o uso da borracha de pneus em ligan tes asfálticos foi

    impulsionado a partir de 1963, quando o engenheiro Charles McDonald

    desenvolveu no Arizona – EUA, a tecnologia Overflex e posteriormente, na

    metade dos anos 1970 a Companhia de Refinação do Ar izona – ARCO,

    desenvolveu a tecnologia (Arm-R-Shield), também con hecida como tecnologia

    McDonald, pelo processo úmido, que consiste na mist ura de cimento asfáltico

    e borracha triturada (15 a 25% em relação ao peso d e ligante), durante 20 a 120

  • 1

    81

    minutos a uma temperatura de 170 a 200ºC. Após a mi stura, se forma um

    composto denominado asfalto-borracha, com proprieda des diferentes do

    cimento asfáltico original. (PATRIOTA, 2004)

    No Brasil, esta tecnologia teve seu início por inte rmédio de pesquisas

    pioneiras de LIMA (1995), LEITE (1999), ODA (2000). Os primeiros trechos

    experimentais datam do início do século XXI, em rod ovias concessionadas

    como a BR-116 no Rio Grande do Sul. Atualmente, acr edita-se que o Brasil

    possui cerca de 1000 km de rodovias, entre federais e estaduais, ruas e

    avenidas municipais pavimentadas com a utilização d e borracha reciclada de

    pneus.

    Do levantamento bibliográfico realizado, foram veri ficadas 8 teses de

    doutorado ou mestrado sobre este assunto no Brasil. Todas realizaram seus

    experimentos a nível laboratorial, ou seja, os liga ntes foram modificados em

    pequenas quantidades. Tiveram por objetivo analisar a influência da adição da

    borracha nos cimentos asfálticos e, em algumas, tam bém nas misturas

    asfálticas. São pesquisas já bastante avançadas, q ue abordaram as diversas

    variáveis que compõem o assunto, adaptadas aos liga ntes e à tecnologia de

    reciclagem de borracha de pneus brasileiras. Em pou cas ocorreram

    oportunidades de execução ou acompanhamento de algu m trecho

    experimental. Entretanto, não foram avaliados até o momento os cimentos

    asfálticos modificados por borracha produzidos em e scala industrial e

    comercializados no país desde o ano 2.000. Também n ão foi analisado o

    comportamento de misturas asfálticas realizadas com asfalto modificado por

    borracha regenerada (processo ASFALBOR), método est e inovador e descrito

    nos capítulos seguintes.

    A hipótese principal desta dissertação é que a modi ficação do cimento

    asfáltico por adição de borracha reciclada de pneus inservíveis é

    suficientemente vantajosa a ponto de justificar o s eu emprego. Ainda, que a

    qualidade da borracha a ser incorporada nesta modif icação, aqui analisadas a

  • 1

    82

    borracha regenerada e a borracha vulcanizada (não r egenerada), produz

    asfaltos borracha diferentes. Para tanto tem por ob jetivo:

    1. Apresentar uma nova tecnologia de modificação de cimento asfáltico

    por borracha regenerada de pneus, e certificar-se d a sua viabilidade

    técnica.

    2. Verificar a influência da adição de borracha rec iclada, regenerada e

    não regenerada, nas características dos cimentos as fálticos, segundo os

    ensaios tradicionais de caracterização de ligantes e pela metodologia

    SUPERPAVE. Nesta verificação, procura-se comparar o s resultados

    obtidos com as normas internacionais e a norma do D ER/PR

    recentemente publicada.

    3. Analisar o comportamento de misturas asfálticas projetadas com os

    ligantes modificados por borrachas de pneu.

    Ainda, como objetivo secundário, discorrer sobre as últimas pesquisas de

    desempenho de pavimentos realizados com ligantes as fálticos modificados

    com borracha, ressaltando a viabilidade técnica, am biental e econômica do

    aproveitamento de pneus reciclados na pavimentação de rodovias. Procura

    valorizar a competência de pesquisadores, empresas e órgãos públicos e o

    esforço nacional de “desenvolvimento, sem o comprom etimento ou prejuízo

    das futuras gerações” (extraído do conceito de Sust entabilidade do

    Desenvolvimento - Comitê Mundial do Desenvolvimento e Meio Ambiente,

    1987).

    Apoiaram a pesquisa, fornecendo amostras de ligante s modificados,

    empresas que comercializam o asfalto borracha e um pesquisador brasileiro

    de regeneração de borracha. Então, 5 dos ligantes e nsaiados estão disponíveis

    no mercado do Brasil.

  • 1

    83

    Ressalta-se que o objetivo da tese não é realizar u ma comparação entre os

    ligantes analisados na pesquisa, e sim verificar as características destes

    perante as diversas normas de asfalto borracha. Afi nal são ligantes diferentes,

    de origens diferentes (diferentes petróleos), difer entes tipos de borrachas

    (diferentes fornecedores de borracha em pó), difere ntes porcentagem de

    incorporação de borracha em pó e diferentes tecnolo gias de incorporação.

    Para a análise do comportamento dos concretos asfál ticos realizadas com

    o asfaltos borracha, foram confeccionados corpos de prova pela metodologia

    Marshall, e foram verificadas, então, as suas carac terísticas mecânicas, como

    módulo resiliente, resistência à fadiga.

    Optou-se pela utilização de dados do projeto (curva granulométrica,

    temperaturas de mistura e de compactação) da restau ração da BR 040/RJ –

    Pedro do Rio a Itaipava, RJ - (trecho concessionado ), bem como dos

    agregados daquela obra. Utilizou-se do acompanhamen to desta obra (em

    execução no ano de 2005) para a busca de dados e pr ocedimentos práticos de

    estocagem do ligante, usinagem e execução de ciment os asfálticos com

    asfalto borracha.

    Destaca-se nesta pesquisa a análise de uma técnica inovadora de obtenção

    de uma mistura de asfalto com borracha regenerada, obtida por um processo

    inédito no mundo e patenteado por um pesquisador br asileiro.

    Algumas questões que nortearam a pesquisa são:

    • Quais as alternativas para a solução do mencionado passivo ambiental

    e qual a conscientização nacional para a importânci a do fato?

    • Como é reciclada a borracha de pneu? Quais as empre sas fornecedoras

    deste produto?

    • Quais as empresas que comercializam o asfalto borra cha no Brasil?

    • Quais são as tecnologias de modificação do cimento asfáltico por

    borracha reciclada de pneus?

  • 1

    84

    • Como é feito o controle de produção do asfalto borr acha?

    • Qual é o desenvolvimento das pesquisas e tecnologia s desenvolvidas

    no país sobre o assunto?

    • Quais são os trechos rodoviários executados com o a sfalto borracha, e

    seu respectivo desempenho?

    • Como é executada a pavimentação com o asfalto borra cha? Como é

    realizado o controle do recebimento do ligante na o bra?

    • Quais são as vantagens técnicas da modificação do l igante por esta

    tecnologia?

    1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

    A presente dissertação está estruturada em 6 capítulos e 1 anexo que tratam

    dos seguintes assuntos:

    Capítulo 1 – Introdução. São apresentados o objetivo da dissertação, a

    justificativa para a realização do estudo e a sua estruturação;

    Capítulo 2 – Utilização de Borracha Reciclada de Pn eus Inservíveis. Tem

    por finalidade apresentar o problema ambiental que envolve a destinação de

    pneus inservíveis, as características dos pneus aut omotivos, as diversas

    formas de utilização dos pneus usados. Em prossegui mento, discorre sobre os

    processos de reciclagem e regeneração, tendo ao fin al do capítulo a

    apresentação de uma técnica nacional de regeneração de borracha e o seu

    emprego na pavimentação.

    Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica do Asfalto Borra cha. Apresenta os

    principais conceitos que envolvem o assunto, ressal tando o mecanismo de

    interação entre a borracha e o cimento asfáltico, e algumas características de

    misturas asfálticas utilizadas com este tipo de lig ante modificado. Ainda, faz-

    se um breve histórico do asfalto borracha, destacan do-se um resumo das

    principais experiências com asfalto borracha realiz adas no Brasil.

  • 1

    85

    Capítulo 4 – Materiais e Métodos. São apresentados os materiais utilizados

    (agregados e ligante), os diversos ensaios de caracterização do ligante, incluindo a

    classificação SUPERPAVE, os projetos de dosagem das misturas na faixa C do

    IPR/DNIT, e os ensaios mecânicos realizados em cada etapa da pesquisa.

    Capítulo 5 – Discussão e Apresentação dos Resultados. São apresentados os

    resultados dos ensaios de caracterização de ligantes pelos métodos tradicionais e

    pela metodologia SUPERPAVE. Ainda, são apresentados os comportamentos das

    misturas asfálticas por meio de ensaios mecanísticos. Como uma contribuição para

    a elucidação de questionamentos práticos, é realizado um estudo sobre a

    estocagem do ligante em tanque de uma usina de asfalto, bem como apresenta

    parâmetros para a estimação da temperatura de compactação.

    Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações. São apresentadas as conclusões

    do estudo realizado e algumas recomendações e sugestões para estudos futuros

    nessa mesma linha de pesquisa;

    Anexo 1 - Acompanhamento da Restauração do Trecho Concessionado da

    BR 040/RJ. Este anexo discorre sobre os aprendizados adquiridos durante o

    acompanhamento dos trabalhos de restauração dos km 45 ao 64 (BR040/RJ).,

    região de Itaipava -RJ, particularmente o que se refere à estocagem, produção e

    aplicação do asfalto borracha.

  • 1

    86

    2 2 UTILIZAÇÃO DE BORRACHA RECICLADA DE PNEUS

    INSERVÍVEIS

    2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    O engenheiro escocês Robert William Thomson é tido como o inventor do pneu

    devido à sua patente datada de 1845. Nela se descreve um pneumático composto

    de um invólucro de lona com uma banda de couro protegendo uma câmara de ar no

    seu interior. Quando testados em uma carruagem, verificou-se que os pneus de

    Thomson ofereciam menor resistência às irregularidades da superfície das estradas

    que as rodas com aro externo de ferro ou de borracha maciça usadas até então,

    reduzindo o esforço de tração e proporcionando um deslocamento relativamente

    mais confortável. Contudo, devido à fabricação dispendiosa e às dificuldades de

    desmontagem, este invento caiu no esquecimento por mais de quarenta anos.

    Somente em 1888 que o pneu voltou a ser testado. Nesse ano, o cirurgião

    veterinário de Belfast John Boyd Dunlop aplicou nas rodas de madeira do triciclo de

    seu filho tubos de borracha dentro de um invólucro de lona com uma banda de

    borracha. Ao tubo de borracha, Dunlop costurou uma válvula de retenção pela qual

    encheu o tubo com ar. Esse pneu primitivo era fixado à roda de madeira através de

    pregos e de uma cola à base de borracha. (PINHEIRO, 2001)

    FIG. 2.1 Representação do pneu criado por Dunlop. Fonte: PINHEIRO, 2001.

    Atualmente, o pneu possui papel fundamental e insubstituível considerando o

    transporte de passageiros e de cargas. Hoje, estima-se que o número de veículos no

    mundo é de 580 milhões de unidades. Pode-se considerar que cada veículo produza

  • 1

    87

    cerca de dois pneus inservíveis por ano.(MAGANHA et al, 2000, apud MORAIS,

    2002).

    Entretanto, quando se tornam inservíveis, são objetos que precisam ser

    armazenados em condições apropriadas para evitar riscos de incêndio e proliferação

    de mosquitos e roedores. A disposição em aterros é inviável, já que apresentam

    baixa compressibilidade e degradação muito lenta (600 anos). Além disso, quando

    enterrados, tendem a subir e sair para a superfície (EPA, 1991; JARDIM, 1995).

    Devido a estas dificuldades, tem havido uma tendência da população em abandonar

    os pneus em cursos de água, terrenos baldios e beiras de estradas, que agravam

    ainda mais o problema.

    2.2 DESCARTE DE PNEUS INSERVÍVEIS

    Cerca de 285 milhões de pneus são descartados anualmente nos Estados

    Unidos (CEMPRE, 1998). Desse montante, 33 milhões de pneus são recauchutados,

    22 milhões são reutilizados (revendidos) e outros 42 milhões são destinados a

    diferentes aplicações. Os 188 milhões de pneus restantes são enviados para aterros

    ou dispostos ilegalmente (HEITZMAN, 1992), conforme FIG. 2.2. Segundo

    AYRES(1997) existe um passivo ambiental de mais de 3 bilhões de pneus

    inservíveis .

    FIG. 2.2 Pneus descartados indevidamente nos EUA (ODA, 2000).

  • 1

    88

    FIG. 2.2 Pneus descartados indevidamente nos EUA - continuação - (ODA, 2000).

    A produção brasileira de pneus teve seu início em 1936. Desde o seu início até

    2002 o Brasil já produziu cerca de 900 milhões de unidades, cujo descarte ocorreu,

    na maioria das vezes, de forma incorreta, seja por meio de incineração sem controle

    de emissão de gases ou mesmo pelo depósito em área livres, rios, etc.

    (http://www.plastico.com.br/revista/pm329/borracha5.htm) Atualmente, produz 45

    milhões de pneus por ano (30 milhões de pneus de passeio para automóveis e 15

    milhões de pneus de caminhões, ônibus e utilitários), sendo parte desta produção

    exportada para 85 países. São colocados no mercado brasileiro, aproximadamente,

    61 milhões de pneus por ano, sendo que cerca de 38 milhões são resultados da

    produção pneus novos nacionais e 23 milhões são pneus reaproveitados (usados

    importados e recauchutados). Estima-se que pelo menos 50% dos pneus

    comercializados anualmente no país estão sendo descartados e dispostos em locais

    inadequados, e que o passivo ambiental seja superior a 100 milhões de pneus

    (ANIP, 1996). As FIG. 2.3 e 2.4 apresentam algumas formas inadequadas de

    descartes de pneus.

    Com base nos dados da ANIP, seriam necessários, por ano, mais de 40 campos

    de futebol para estocar pneus de passeio e mais de 35 campos de futebol para os

    de caminhões, ônibus e utilitários no Brasil. Considera-se nestes cálculos o tamanho

    médio dos pneus de passeio de 0,60 m (diâmetro externo); tamanho médio dos

    pneus de caminhões e utilitários de 1,0 m (diâmetro externo); altura da pilha do

    estoque de 5 metros.

  • 1

    89

    FIG.2.3 Disposição indevida

    Itapeva/SP (TEIXEIRA, 2003).

    FIG. 2.4 Entulhos do Rio Tiete / SP

    (ODA, 2000).

    2.2.1 TENTATIVAS DE SOLUÇÃO DO PROBLEMA AMBIENTAL

    Vários estados norte americanos cobram dos fabricantes de pneus uma taxa em

    torno de cinco dólares por unidade produzida, que é empregada para financiar os

    mais diversos projetos que envolvem reciclagem dos pneus usados, tais como:

    usinas de desmonte e de produção de borracha em pó (ou Crumb Rubber Moddified

    - CRM). (SPECHT, 2004)

    Nos Estados Unidos existem fazendas apropriadas para a disposição de pneus

    inservíveis. Exemplificando, seguem as FIG. 2.5 e 2.6 de uma fazenda de disposição

    de pneus nos Estados Unidos. Em algumas fazendas os pneus são picotados para a

    diminuição do volume a ser ocupado.

  • 1

    90

    FIG. 2.5 Fazenda de pneus nos EUA. (ROUTHIER & SONS)

    FIG. 2.6 Fazenda de pneus nos EUA. (ROUTHIER & SONS)

    Muitos países legislaram para direcionar seus departamentos de transporte a

    investigar a possibilidade de utilização de materiais recicláveis em obras de

    pavimentação. O governo americano, em especial, incentivou a incorporação de

    borracha moída nas misturas asfálticas.

    Em 1991, nos Estados Unidos, surgiu a Lei sobre a Eficiência do Transporte

    Intermodal de Superfície ((Intermodal Surface Transportation Efficiency Act, Public

    Law 102-240 – ISTEA, 1991) que obrigou os Departamentos de Transporte

  • 1

    91

    Estaduais (DOTS) e a Agência de Proteção Ambiental (EPA), em cooperação, a

    desenvolver estudos para utilizar pneus na construção de pavimentos asfálticos

    (ODA, 2002). Tal fato é melhor comentado no capítulo três.

    No Brasil, a Resolução nº 258 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio

    Ambiente), aprovada em 26 de agosto de 1999, estabelece o conceito de que o

    produtor é o responsável pelo destino final do produto. Esta resolução estipula que

    as empresas fabricantes e os importadores de pneus ficam obrigados a coletar e dar

    destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis existentes no

    território nacional, na proporção estipulada em cronograma previsto nesta. A partir

    de janeiro de 2002, produtores e importadores de pneus seriam forçados a coletá-los

    e colocá-los em locais ambientalmente adequados. Além disso, a partir de 2005,

    esta resolução determina que se inicie a redução do passivo ambiental criado pela

    disposição inadequada de pneus.

    Portanto, desde 02/12/99, está proibida a destinação final inadequada de

    pneumáticos inservíveis, tais como a disposição em aterros sanitários, mar, rios,

    lagos ou riachos, terrenos baldios ou alagadiços, e queima a céu aberto. Os

    fabricantes e os importadores poderão criar centrais de recepção de pneus

    inservíveis, a serem localizadas e instaladas de acordo com as normas ambientais e

    demais normas vigentes, para armazenamento temporário e posterior destinação

    final ambientalmente segura e adequada. Os distribuidores, os revendedores e os

    consumidores finais de pneus, em articulação com os fabricantes, importadores e

    Poder Público, deverão colaborar na adoção de procedimentos, visando

    implementar a coleta dos pneus inservíveis existentes no País.

    Para se ter uma idéia da importância desta resolução, da totalidade dos pneus

    de automóveis substituídos na rede de revendedores autorizados, 20% são

    mantidos com o proprietário. Dos 80% coletados pelos sucateiros, 13% voltam a

    pontos de revenda, 22% são reformados e 65% são descartados clandestinamente

    ou incinerados ilegalmente (Fonte: Anip/Revista Meio Ambiente Industrial).

  • 1

    92

    Os Municípios de Campinas-SP, por meio da lei nº 10.289 de 20 de outubro de

    1999, e Vitória-ES, lei nº 2.847 de 28 de julho de 1981, e o Estado do Paraná , lei nº

    12.493 de 22 de janeiro de 1999, possuem legislações que prevêem medidas para

    a coleta e correto armazenamento de pneus usados. (MORAIS, 2002). Ressalta-se

    que na maioria das cidades analisadas em pesquisa de MORAIS, 2002, o poder

    público municipal proíbe a entrada dos pneus nos aterros.

    Atualmente, como uma medida mitigadora do passivo ambiental, foram criados

    os Centros de Coleta de Pneus Inservíveis, também conhecido como

    "Ecopontos". São locais onde são recolhidos os pneus coletados e depois

    transportados para empresas de picotagem e que encaminham para a sua

    destinação final. São frutos de uma estreita parceria entre a iniciativa privada

    e os governos municipais, onde a Associação Nacional da Indústria de

    Pneumáticos (ANIP) oferece todo o apoio técnico e logístico. A ANIP já

    investiu, somente em logística, cerca de R$ 20 milhões no programa de coleta

    dos pneus inservíveis.

    Os fabricantes de pneus têm enfrentado dificuldades para cumprir integralmente

    a Resolução 258 do CONAMA. Segundo Evilazio de Oliveira, a indústria trabalhou com

    entusiasmo nos anos de 2002 e 2003, cumprindo com as metas estabelecidas

    naquela lei. Entretanto, em 2004 não foi possível alcançar tamanho êxito, apesar

    dos benefícios incontestáveis. Podem-se destacar as parcerias com prefeituras de

    vários municípios brasileiros na criação de ecopontos. Desde 2000 até hoje foram

    construídos 78 ecopontos no Brasil, que recolheram 300 mil toneladas de pneus; o

    equivalente a 60 milhões de pneus de veículos de passeio. A expectativa é

    ampliar o projeto e estendê-lo para outras cidades. (www.abr.org.br/clip16.htm -

    consultado em 27 set 2005).

    De outras iniciativas do Poder Legislativo, ressalta-se o projeto de lei nº 133

    /2004 da Deputada Estadual do estado do Paraná Cida Borghetti que dispõe sobre a

    destinação de pneumáticos inservíveis para a produção de misturas asfálticas,

    prevendo em seu artigo segundo...

  • 1

    93

    “Art. 2º - Os pneumáticos recolhidos deverão ser destinados

    à pavimentação asfáltica, em processo úmido ou em processo seco, na proporção

    mínima de 80% (oitenta por cento) do total de pneumáticos recolhidos, observadas

    as quantidades e os prazos fixados pela Resolução do CONAMA nº 258/1999.”

    Em 2001, a empresa paranaense BS Colway Pneus criou o Programa Rodando

    Limpo, diminuindo o número de pneus inservíveis dispostos inadequadamente

    naquele estado. Coletou, até maio de 2005, mais de 8 milhões de pneus inservíveis.

    Seguindo o exemplo do Paraná, os estados da Paraíba e Pernambuco já

    implantaram os programas Nordeste Rodando Limpo e Pernambuco Rodando

    Limpo.

    Não há dados no Brasil sobre as quantidades de pneus recolhidos referentes às

    outras diversas formas de reciclagem de pneus. Contudo, os remoldadores (que

    reformam pneus velhos) dizem ter recolhido, somente em 2002, quase 3,8 milhões

    de carcaças.

    Após coletados, os pneus podem ser utilizados em diversas alternativas

    discutidas nos próximos itens. Algumas dessas possuem a capacidade de consumir

    muitas toneladas de borracha. Em outras, destacam-se a criatividade e a

    diversidade do aproveitamento de sua carcaça, porém menos expressivas na

    destinação de grandes quantidades de pneus.

    3 2.3 REUTILIZAÇÃO DO PNEU

    2.3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.

    Tendo por hipótese nesta pesquisa que a introdução de diferentes tipos de

    borracha no cimento asfáltico proporciona diferentes tipos de asfaltos borracha, será

    tratado neste capítulo, além do aspecto ambiental da utilização dos pneus

    inservíveis, alguns aspectos importantes sobre a borracha e a sua respectiva

  • 1

    94

    reciclagem. Outros itens também possuem destaque como as características do

    pneu e a as diversas formas de sua reutilização.

    2.3.2 O PNEU

    O pneu é o componente de interface entre o veículo e o solo, transmitindo e

    recebendo esforços provenientes de acelerações e desacelerações longitudinais,

    laterais e impactos. Por força de sua função o pneu possui uma geometria próxima

    da toroidal (dupla curvatura) que se deforma ciclicamente em contato com o contra-

    corpo rígido que é o solo. (PINHEIRO, 2001).

    A fim de facilitar o entendimento, descreve-se na FIG. 2.7 os termos que serão

    utilizados para identificar as diversas partes que compõem o pneu. Os componentes

    mais importantes do pneu são: banda de rodagem, ombro, flanco, talão e carcaça.

    FIG. 2.7 Partes que compõem o pneu.

  • 1

    95

    A banda de rodagem é a parte que entra em contato direto com o solo. É feita

    com produtos (carga ativa) de alta resistência ao desgaste. É nesta parte do pneu

    que existe a maior concentração do produto chamado de negro de fumo, o qual

    proporciona maior resistência à abrasão. Os diversos tipos de desenhos (sulcos) da

    banda de rodagem propiciam a maior aderência destes em situações adversas,

    como em dias de chuva.

    O ombro é a região que faz a ligação da banda de rodagem, que é muito rígida,

    com o flanco do pneu que é mais flexível.

    Os flancos são as partes laterais do pneu. É a região que deve suportar toda a

    carga e as constantes flexões mecânicas. Deve resistir às agressões externas e

    climáticas. São constituídas por borrachas com alto grau de flexibilidade.

    O talão é constituída por diversos arames de aço de alta resistência a tração,

    unidos e recobertos por borracha. Possui a forma de anel e tem a função de manter

    o pneu acoplado ao aro da roda, além de garantir a estanqueidade do pneu. Ainda,

    assegura a transmissão dos esforços de aceleração e frenagem do veículo.

    A carcaça é a estrutura interna do pneu, com a função de reter o ar sob pressão

    e suportar o peso do veículo. É constituída por lonas com fios de poliéster, nylon ou

    aço.

    É importante salientar que os pneus podem ter mais de uma dezena de

    componentes, cada um desempenhando uma função específica. Segundo

    MORILHA & GRECA (2003), um pneu normalmente é composto por:

    - estrutura em aço, nylon, fibra de aramid, rayon, fibra de vidro e/ou

    poliester;

    - borracha natural e sintética, incorporando aí centenas de tipos diferentes

    de polímeros;

    - compostos ou cargas reforçadoras, como carbono preto, sílica e resinas;

    - anti-degradantes: produtos anti-oxidante e ceras inibidoras da ação do gás

    ozônio;

  • 1

    96

    - promotores de adesão: sais de cobalto, cobertura de ligas metálicas nos

    arames e resinas;

    - agentes de cura: aceleradores de cura, ativadores, enxofre;

    - produtos auxiliares no processamento dos pneus como óleos.

    Um pneu típico para veículos de passeio possui: (MORILHA & GRECA, 2004)

    - 2,50 kg de 30 diferentes tipos de borracha sintética;

    - 2,05 kg de 8 tipos diferentes de borracha natural;

    - 2,27 kg de 8 tipos de carbono preto (negro de fumo)

    - 0,68 kg de aço para o cinturão;

    - 0,45 kg de poliester e nylon;

    - 0,23 kg de arame de aço;

    - 1,36 kg de 40 tipos diferentes de componentes químicos, ceras, óleos,

    pigmentos, anti-oxidantes, inibidores de raios ultra-violetas, etc.

    Portanto, do total de 9,54 kg aproximados de um pneu, praticamente a metade é

    borracha natural ou sintética.

    Os antioxidantes presentes na borracha vulcanizada de pneu podem ser

    definidos como agentes que retardam a oxidação da borracha, prolongando assim a

    sua vida útil. Os principais agentes antioxidante são: agentes contra a quebradura

    por flexão do pneu quando em uso, contra a deterioração pelo calor e luz, e contra a

    ação prejudicial dos metais, como o cobre. Para a proteção dos raios solares, a

    melhor solução encontrada para a proteção da borracha é a incorporação de ceras

    que tendem a produzir uma superfície eflorescente na borracha,recobrindo-a com

    uma película protetora. (SIQUEIRA, 1985)

    Ainda, existem diferenças significativas nas composições de pneus de passeio e

    de caminhões. A TAB. 2.1 apresenta um resumo das diferenças entre alguns

    componentes dos pneus de caminhão e de passeio.

  • 1

    97

    TAB. 2.1 Composição química de pneus de automóveis e caminhões.

    Banda de Rodagem Pneus Inteiros Componentes (%) Automóvel Caminhão Automóvel Caminhão

    Negro de Fumo 32,0 30,0 31,0 28,5 Borracha Sintética 37,0 23,0 26,0 21,0 Borracha Natural 5,0 27,0 20,0 33,0

    Solúvel em Acetona 21,0 16,0 19,0 12,5 Sílica 5,0 4,0 5,0 5,0

    Fonte: HEIZTMAN, 1992.

    O pneu possui diversos atrativos para sua reciclagem, destacando-se:

    i) A "carcaça" de pneu é de fácil transporte e pode ser encontrada em

    qualquer centro urbano;

    ii) É um material inerte e não tóxico, não oferecendo riscos para os

    operadores.

    iii) É uma matéria prima com alta resistência ao envelhecimento.

    iv) É um material homogêneo, permitindo a determinação das suas

    características de comportamento com mínima variação;

    v) Atualmente, seu custo maior de obtenção resume-se ao transporte aos

    pontos de reciclagem;

    vi) Os pneus possuem dimensões geométricas padronizadas, o que facilita o

    desenvolvimento de equipamentos de desmonte e trituração, caso sejam

    necessários.

    2.3.3 DIVERSAS ALTERNATIVAS DE UTILIZAÇÃO DE PNEUS USADOS

    2.3.3.1 REFORMA DE PNEUS

    A forma mais racional de utilização de uma carcaça de pneu descartado em

    boas condições é sua reforma; ou seja, levá-la a uma condição próxima de pneu

    novo. Segundo o Boletim Informativo da Bolsa de Reciclagem Sistema FIEP,o Brasil

    ocupa o 2o lugar no ranking mundial de reforma de pneus, atingindo 70% da frota de

    transporte de carga. Estima-se que no Brasil sejam reformados 8 milhões de pneus

    de caminhão por ano e 4 milhões de pneus de veículos de passeio. Tecnicamente,

    este tipo de reaproveitamento pode ser de três tipos: a recapagem, quando somente

  • 1

    98

    a banda de rodagem é substituída; a recauchutagem, propriamente dita, que inclui a

    troca da banda de rodagem de uma parte da lateral do pneu; e a remodelagem,

    quando todo componente ganha nova cobertura (de talão a talão).

    2.3.3.2 MUROS DE GRAVIDADE E OBRAS DE CONTENÇÃO DE ENCOSTAS

    Os pneus inservíveis são dispostos em camadas ou intercalados em

    determinados espaçamentos, formando colunas que são preenchidas com outros

    materiais, como cimento, pedras e entulho grosso. Por meio desse sistema, pode-se

    executar o revestimento de muros de arrimo ou de contenção, aterros, alicerces,

    silos subterrâneos, escadarias e outras obras, onde os pneus funcionam como

    elemento estrutural.

    O sistema “eco-estrutural pneumático”, conforme FIG. 2.8, foi utilizado na

    barragem que a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) construiu no

    Ribeirão Santo Antônio no município de Turmalina, Vale do Jequitinhonha. A obra

    com 40 metros de extensão e seis metros de altura, utilizou 2.630 pneus,

    provenientes dos veículos da própria companhia. (SILVA et al., 2004).

    FIG. 2.8 Sistema “eco-estrutural pneumático”. (SILVA et al., 2004).

  • 1

    99

    Existem diversas experiências de construção de muros de arrimo utilizando

    pneus velhos em muitas cidades do Brasil, conforme exemplos mostrados nas FIG.

    2.9 e 2.10. Os pneus são amarrados lado a lado com arame galvanizado ou corda e

    preenchidos com solo do local ou material pétreo. São estruturas semelhantes ao

    gabiões, no entanto, praticamente sem custo de investimento.

    FIG. 2.9 Esquema da execução de muro de pneus. (SPECHT, 2004).

    FIG. 2.10: Esquema da execução de muro de pneus. (SILVA, 2004c).

  • 2

    00

    2.3.3.3 RECIFES ARTIFICIAIS PARA A REPRODUÇÃO DA FAUNA MARINHA

    A prática de submergir estruturas para criar artificialmente ecossistemas

    marinhos semelhantes aos fundos rochosos de lajes, conforme FIG. 2.11, vem

    sendo empregado a muito tempo. Dentro dessa perspectiva, pesquisadores do

    Grupo de Estudos de Recifes Artificiais (GERA) do Laboratório de Ciências do Mar

    da Universidade Federal do Ceará desenvolveram uma estrutura modular feita de

    pneus velhos, que estimula a aglomeração e a permanência de organismos de

    importância econômica (peixes, crustáceos, algas e outros). O projeto já foi

    implantado em diversos municípios do litoral cearense, conforme indica a FIG. 2.12.

    FIG. 2.11 Esquema

    dos recifes artificiais.

    (GERA / UFC).

    FIG. 2.12 Distribuição dos recifes artificiais.

    (GERA / UFC).

    2.3.3.4 CONSTRUÇÃO DE EDIFICAÇÕES

    Podem-se fazer muros com pneus velhos, ou até mesmo paredes de depósitos,

    sendo excelentes como isolante acústico e térmico. Os pneus são preenchidos com

    solo local e possuem algumas vantagens em relação às paredes tradicionais como

    flexibilidade para absorver possíveis recalques nas fundações. A mão-de-obra para

  • 2

    01

    execução das paredes pode ser de cunho social. No Chile, no Reino Unido e no

    Brasil (Mato Grosso) existem experiências bastante recentes da utilização de pneus

    inteiros para construção de edificações, conforme exemplo da FIG. 2.13. (SPECHT,

    2004)

    FIG. 2.13 Construção de depósito com paredes de pneus.

    2.3.3.5 DRENAGEM

    Existem iniciativas de se utilizar módulos compostos por vários pneus cortados

    ao meio e amarrados para servir como sarjetas de drenagem, conforme FIG.2.14, ou

    ainda, como tubos de drenagem de águas pluviais, FIG.2.15.

    FIG. 2.14 Sarjeta de proteção

    aterro (BERTOLLO, 2002).

    FIG. 2.15 Tubo de drenagem de

    águas pluviais. (foto do auto)

  • 2

    02

    A FIG. 2.15 exemplifica um tubo composto por 40 talões de pneus, que, após

    prensados e amarrados, fornecem uma peça de 50 cm de comprimento, com um

    diâmetro de 70 cm. Esta experiência tem tido especial sucesso em áreas rurais. A

    empresa RUBBER Borracha Reciclada, com sede em Três Rios – RJ,

    comercializava, em julho de 2005, tubos, obtidos conforme descrito acima, por R$

    5,00 a unidade.

    2.3.3.6 COBERTURA DE ATERROS SANITÁRIOS

    O pó ou farelo ou raspa de pneus é utilizado como cobertura diária de aterros

    sanitários, para evitar a proliferação de roedores e insetos, bem como evitar o

    espalhamento do lixo pelo vento. Não há necessidade de remoção desta cobertura;

    ao contrário do que seria a prática em caso de utilização de solo. As camadas de

    borracha podem auxiliar também na drenagem interna dos aterros. (SPECHT, 2004)

    2.3.3.7 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

    Consiste em enterrar pneus em voçorocas ou com eles constituir barreiras de

    assoreamentos como parte da estratégia de recuperação da paisagem erodida. Este

    sistema permite a recuperação de grandes áreas degradadas, onde são depositados

    material estéril, entulho, terra e pneus, formando pequenas barreiras posteriormente

    revegetadas. Segundo CAPPI (2004) a técnica possui a capacidade ainda de

    contribuir para a drenagem da área, funcionando como um “colchão drenante”.

    FIG. 2.16 Recuperação de áreas degradadas (CAPPI, 2004)

  • 2

    03

    2.3.3.8 CONFECÇÃO DE DORMENTES

    Recentemente foi solicitado um pedido de patente para a confecção de

    dormentes a partir de pneus inservíveis pelo D.Sc. Eduardo Gonçalves David. O

    dormente é composto de lâminas de pneu coladas em quantidade suficiente para

    formar a altura de 17 cm – dimensão padrão das ferrovias brasileiras. A quantidade

    de lâminas a serem utilizadas depende da situação de desgaste da carcaça e da

    compressão a ser utilizada – um dado ainda a ser referendado por testes

    laboratoriais e práticos.

    2.3.3.9 DIVERSOS

    Equipamentos para playground, sola de sapato, tapetes de automóveis, tapetes

    para banheiros e borracha de vedação, FIG. 2.17. Como exemplo, a YEPP é uma

    fabricante de sapatos que utiliza pneus reciclados em seus solados.

    ( www.yeppbrasil.com.br).

    FIG. 2.17 Artigos confeccionados com borracha de pneu. (fotos do autor)

    Ainda, podem ser usados em concretos de baixo desempenho, compostagem,

    absorção de óleos sendo utilizado em caso de derramamento de óleo ou produtos

    químicos semelhantes ou para filtragem e absorção de resíduos líquidos, barreiras

    absorvedoras de impactos em pistas de autódromos. Também em pisos de parques

    em praças públicas, conforme FIG. 2.18, pisos industriais, pisos de quadras

    esportivas, conforme FIG. 2.19, extraídas de BERTOLLO, 2003.

  • 2

    04

    FIG. 2.18 Pisos revestidos com