Comportamento Alimentar Artigo

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236 R. Ci. med. biol., Salvador, v.10, n.3, p.236-245, set./dez. 2011 ARTIGO DE REVISÃO ISSN 1677-5090 2010 Revista de Ciências Médicas e Biológicas Obesidade: Controle Neural e Hormonal do Comportamento Alimentar Obesity: Neuro-hormonal control of food intake Fernanda Montero Landeiro 1 , Lucas de Castro Quarantini 2 2 Doutoranda em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas, Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Federal da Bahia; 2 Professor Adjunto do Departamento de Neurociências e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Bahia - Universidade Federal da Bahia. RESUMO Introdução: A obesidade é considerada um problema grave de saúde pública e seu crescimento endêmico na população mundial tem levado ao desenvolvimento de diversas pesquisas nessa área. Cada vez mais estudos apontam na direção de fatores hormonais e neuroquímicos como importantes elementos relacionados a essa patologia complexa. Objetivo: Identificar as evidências relativas a associação entre os processos psicobiológicos e o comportamento alimentar. Método: Revisão baseda nos artigos completos publicados em inglês e português, indexados na base de dados Pubmed, nos últimos 5 anos, com as palavras-chave “obesity”, “hormonal regulation” e “food intake”. Resultados: Foram encontrados 439 artigos no cruzamento das palavras "obesity" AND e "hormonal regulation" e 129 artigos com as palavras "obesity" AND e "hormonal regulation" AND e "food intake". Conclusões: Apesar dos avanços dos estudos nessa área, muitos mecanismos envolvidos no processo de fome e saciedade ainda precisam ser esclarecidos. Dessa forma, pesquisas nesse campo devem ser incentivadas para um melhor embasamento das medidas de promoção à saúde, prevenção e tratamento da obesidade e suas comorbidades. Palavras-chave: Obesidade. Regulação do apetite. Comportamento Alimentar. ABSTRACT Introduction: Obesity is considered a serious public health problem and its endemic growth in the world has led to the development of much research in this area. These studies have pointed towards hormonies and neurochemical as important factors to this complex pathology. Objective: To identify evidence regarding the association between the psychobiological processes and feeding behavior. Methods: A review was based on the collection of full text articles, published in Portuguese and English, indexed in PubMed, in the last five years, with the keywords “obesity”, “hormonal regulation” and “food intake”. Results: We found 439 articles on the intersection of the words “obesity” and “hormonal regulation” and 129 articles with the words “obesity” and “hormonal regulation” and “food intake”. Conclusions: Despite the advances of studies in this area, many mechanisms involved in the process of hunger and satiety need to be clarified. Thus, researches in this field should be encouraged for better grounding of the measures of health promotion, prevention and treatment of obesity and its comorbidities. Keywords: Obesity. Appetite regulation. Feeding behavior. Recebido: 30 de setembro de 2011; revisado: 20 de dezembro de 2011. Correspondência / Correspondence: Fernanda Montero Landeiro. Av. Sete de Setembro, nº 2265, apto. 301, Corredor da Vitória. 40080-002. Salvador, Bahia, Brasil. Tel.: (71) 3337-2744/ 9918-5343. E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A obesidade é um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, apresentando etiologia multifatorial. Entre os determinantes fisiológicos do controle do peso e do apetite, estão fatores neuronais, endócrinos, adipocitários, intestinais e psicológicos. A prevalência de pessoas com sobrepeso e obesidade nas nações desenvolvidas atingiu proporções epidêmicas. Estima-se que mais de 60% dos americanos estão acima do peso e aproximadamente metade deles está com índice de massa corporal (IMC) correspondente à obesidade (OGDEN et al., 2006). Atualmente, buscam-se compreender as relações entre algumas áreas específicas do sistema nervoso central (SNC), sistemas de neurotransmissão, processos sensoriais e a ingestão de alimentos. Os aspectos psicobiológicos primordiais ao desencadeamento da alimentação estão cada vez mais interligados às causas do excesso de peso e, sabe-se que algumas estruturas neuroanatômicas, neurotransmissores, precursores, sensorialidade, apetite e saciedade estão intimamente envolvidos nesse processo (COLL, FAROOQI; O’RAHILLY, 2007). Os fatores relacionados à obesidade são complexos e multideterminados, envolvendo mecanismos biológicos, ambientais e neuropsicológicos. Estudam-se os mecanismos cerebrais envolvidos no controle da saciedade, mudanças na disponibilidade dos alimentos e o aumento do apelo sensorial, associado ao seu valor hedônico, como principais responsáveis pelo excesso no consumo (BERTHOUD, 2007). A obesidade é associada

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A obesidade é considerada um problema grave de saúde pública e seu crescimento endêmico na populaçãomundial tem levado ao desenvolvimento de diversas pesquisas nessa área. Cada vez mais estudos apontam na direção defatores hormonais e neuroquímicos como importantes elementos relacionados a essa patologia complexa.

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236 R. Ci. med. biol., Salvador, v.10, n.3, p.236-245, set./dez. 2011

Fernanda Montero Landeiro e Lucas de Castro Quarantini

ARTIGO DE REVISÃOISSN 1677-5090 2010 Revista de Ciências Médicas e Biológicas

Obesidade: Controle Neural e Hormonal do Comportamento Alimentar

Obesity: Neuro-hormonal control of food intake

Fernanda Montero Landeiro1, Lucas de Castro Quarantini2

2 Doutoranda em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas, Instituto de Ciências da Saúde - UniversidadeFederal da Bahia; 2 Professor Adjunto do Departamento de Neurociências e Saúde Mental da Faculdade de

Medicina da Bahia - Universidade Federal da Bahia.

RESUMOIntrodução: A obesidade é considerada um problema grave de saúde pública e seu crescimento endêmico na populaçãomundial tem levado ao desenvolvimento de diversas pesquisas nessa área. Cada vez mais estudos apontam na direção defatores hormonais e neuroquímicos como importantes elementos relacionados a essa patologia complexa. Objetivo:Identificar as evidências relativas a associação entre os processos psicobiológicos e o comportamento alimentar. Método:Revisão baseda nos artigos completos publicados em inglês e português, indexados na base de dados Pubmed, nos últimos5 anos, com as palavras-chave “obesity”, “hormonal regulation” e “food intake”. Resultados: Foram encontrados 439 artigosno cruzamento das palavras "obesity" AND e "hormonal regulation" e 129 artigos com as palavras "obesity" AND e "hormonalregulation" AND e "food intake". Conclusões: Apesar dos avanços dos estudos nessa área, muitos mecanismos envolvidos noprocesso de fome e saciedade ainda precisam ser esclarecidos. Dessa forma, pesquisas nesse campo devem ser incentivadaspara um melhor embasamento das medidas de promoção à saúde, prevenção e tratamento da obesidade e suas comorbidades.Palavras-chave: Obesidade. Regulação do apetite. Comportamento Alimentar.

ABSTRACTIntroduction: Obesity is considered a serious public health problem and its endemic growth in the world has led to thedevelopment of much research in this area. These studies have pointed towards hormonies and neurochemical asimportant factors to this complex pathology. Objective: To identify evidence regarding the association between thepsychobiological processes and feeding behavior. Methods: A review was based on the collection of full text articles,published in Portuguese and English, indexed in PubMed, in the last five years, with the keywords “obesity”, “hormonalregulation” and “food intake”. Results: We found 439 articles on the intersection of the words “obesity” and “hormonalregulation” and 129 articles with the words “obesity” and “hormonal regulation” and “food intake”. Conclusions: Despitethe advances of studies in this area, many mechanisms involved in the process of hunger and satiety need to be clarified.Thus, researches in this field should be encouraged for better grounding of the measures of health promotion, preventionand treatment of obesity and its comorbidities.Keywords: Obesity. Appetite regulation. Feeding behavior.

Recebido: 30 de setembro de 2011; revisado: 20 de dezembro de 2011.Correspondência / Correspondence: Fernanda Montero Landeiro.Av. Sete de Setembro, nº 2265, apto. 301, Corredor da V itória.40080-002. Salvador, Bahia, Brasil. Tel.: (71) 3337-2744/ 9918-5343.E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃOA obesidade é um dos principais problemas de

saúde pública da atualidade, apresentando etiologiamultifatorial. Entre os determinantes fisiológicos docontrole do peso e do apetite, estão fatores neuronais,endócrinos, adipocitários, intestinais e psicológicos. Aprevalência de pessoas com sobrepeso e obesidade nasnações desenvolvidas atingiu proporções epidêmicas.Estima-se que mais de 60% dos americanos estão acimado peso e aproximadamente metade deles está comíndice de massa corporal (IMC) correspondente àobesidade (OGDEN et al., 2006).

Atualmente, buscam-se compreender as relaçõesentre algumas áreas específicas do sistema nervoso

central (SNC), sistemas de neurotransmissão, processossensoriais e a ingestão de alimentos. Os aspectospsicobiológicos primordiais ao desencadeamento daalimentação estão cada vez mais interligados às causasdo excesso de peso e, sabe-se que algumas estruturasneuroanatômicas, neurotransmissores, precursores,sensorialidade, apetite e saciedade estão intimamenteenvolvidos nesse processo (COLL, FAROOQI; O’RAHILLY,2007).

Os fatores relacionados à obesidade sãocomplexos e multideterminados, envolvendomecanismos biológicos, ambientais eneuropsicológicos. Estudam-se os mecanismoscerebrais envolvidos no controle da saciedade,mudanças na disponibilidade dos alimentos e oaumento do apelo sensorial, associado ao seu valorhedônico, como principais responsáveis pelo excessono consumo (BERTHOUD, 2007). A obesidade é associada

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a diversas condições médicas, chamadascomorbidades, que caracterizam as síndromesmetabólicas, incluindo diabetes tipo II (DUVAL et al.,2006; REAGAN, 2007; TAYLOR; MACQUEEN, 2007). Aobesidade está relacionada também a um desequilíbriono balanço energético, ou seja, um desequilíbrio entrea ingestão alimentar e o gasto energético. Essedesequilíbrio é influenciado por múltiplos fatores:genéticos, endocrinológicos, do metabolismo, fatoresneuronais e comportamentais. Todos esses fatorespodem estar envolvidos na patogênese da obesidade,apesar de sua relativa participação diferir de acordocom as diversas síndromes (RIBEIRO, 2009; SERPA NETOet al., 2008).

Muito se discute e se pesquisa a respeito dasdoenças e transtornos físicos e psicológicos causadospela obesidade, mas a literatura científica acerca dascausas da obesidade ainda é escassa. Sabe-se, como jáfoi dito até aqui, que a obesidade é multideterminada,ou seja, causada por diversos fatores. Cada vez maisestudos apontam na direção hormonal e neuroquímicacomo um dos importantes fatores relacionados a essacomplexa patologia. O objetivo desse artigo de revisãoé evidenciar a intensa relação entre os processospsicobiológicos e a alimentação, ampliar os estudosacerca da neurociência e contribuir para o amplo campode estudo do comportamento alimentar.

MATERIAIS E MÉTODOSA revisão do tema proposto foi elaborada a partir

dos artigos completos de revisão relacionado ahumanos contidos no PubMed, nos últimos 5 anos, comas palavras-chave “obesity” e “hormonal regulation”,com as quais foram encontrados 439 artigos e “obesity”e “hormonal regulation” e “food intake”, com as quaisforam encontrados 129 artigos.

As informações importantes foramcompiladas da literatura científica para elaboraçãodessa revisão explanatória. No entanto, algumasreferências mais antigas publicadas em português e/ou inglês, que foram necessárias ao enfoque propostonesse artigo, também foram citadas.

Obedecendo a metodologia proposta, foramencontrados 568 artigos que serviram para oembasamento teórico e explanatório da presenterevisão. No entanto, foram selecionados para citaçãoalguns dos estudos com melhor metodologia e didáticae publicados em revistas de relevância na área ouartigos que se aproximavam mais do objetivo proposto.

A FUNÇÃO DOS HORMÔNIOS NO CONTROLE DA FOME EDA SACIEDADE

Evidências sugerem que a ingestão de nutrientes,assim como o metabolismo destes nutrientes, podemser controlados ou modulados por estruturas neurais epor sistemas neuroquímicos e neuroendócrinosespecíficos. Alterações nestes sistemas neurais podem

estar associadas às mudanças no comportamentoalimentar. Pesquisas sobre o controle neuroendócrinodo metabolismo energético identificaram os peptídeosleptina e insulina como os dois maiores sinalizadoresde adiposidade que informam ao cérebro a quantidadede energia corporal armazenada como excessiva(HALLSCHMID et al., 2008).

Fatores neuroendócrinos vêm sendo apontadoscomo os mais relevantes para a manutenção do balançoenergético do nosso organismo, evitando a perda ouganho de peso. Diversos sinais, pela interação comneurônios do núcleo arqueado no terceiro ventrículohipotalâmico, são capazes de aumentar a termogênesee estimular a saciedade em momentos de muita ofertaenergética. Esses sinais são capazes também depromover o contrário, estimulando a fome e inibindo atermogênese em momentos de privação. Entre essesmediadores, os mais importantes são a leptina, a grelinae a insulina (SIMPSON; MARTIN; BLOOM, 2009).

A leptina e a insulina são hormônios secretadosem proporção à massa adiposa e atuam perifericamente,estimulando o catabolismo (SIMPSON; MARTIN; BLOOM,2009; KHOK, JAKOBSDOTTIR; DRENT, 2007). No SNC, ainsulina e a leptina interagem com receptoreshipotalâmicos, favorecendo a saciedade. Indivíduosobesos têm maiores concentrações séricas desteshormônios e apresentam resistência à sua ação. Ospeptídeos intestinais, combinados a outros sinais,podem estimular (grelina e orexina) ou inibir(colecistocinina, leptina e oximodulina) a ingestãoalimentar. Todos atuam nos centros hipotalâmicos, quesão os grandes responsáveis pelo comportamentoalimentar. Embora as relações entre IMC e perdacognitiva ainda não estejam totalmente esclarecidas,evidências têm demonstrado que o impacto dahiperglicemia e da resistência à insulina sob a estruturae função do hipocampo acarreta perdas na plasticidadesináptica hipocampal nos sujeitos diabéticos e podeafetar adversamente o desempenho cognitivo e aumentara vulnerabilidade para doenças do estresse e depressão(TAYLOR; MACQUEEN, 2007; REAGAN, 2007). Muitosestudos com animais têm sugerido que a dieta rica emgordura influencia o desenvolvimento normal do SNC epode comprometer o desempenho cognitivoindependente do tecido adiposo acumulado. Emhumanos, aumenta os níveis de cortisol e pode afetarnegativamente a função cerebral (LINDQVIST et al., 2006).

A leptina é uma proteína secretada pelosadipócitos com papel regulador em vários sistemas doorganismo, como sistema imune, respiratório ereprodutivo, bem como no balanço energético via açãohipotalâmica. Sua ação primária ocorre no núcleohipotalâmico arqueado, no qual inicia uma cascata deeventos para inibição da ingestão energética e aumentodo gasto energético. As concentrações de leptina sãoinfluenciadas pela adiposidade, fatores hormonais enutricionais (KHOK; JAKOBSDOTTIR; DRENT, 2007).

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A restrição e os episódios de compulsãoalimentar, presentes na anorexia nervosa e bulimia,respectivamente, são considerados na l iteraturacientífica, fatores determinantes na leptinemia. Seusníveis também alterados no tratamento dessesdistúrbios alimentares sugerem uma relação entre asalterações neuroendócrinas e consequentesmodificações nos sinais de fome e saciedade, com apatogenia ou manutenção dos quadros clínicos (KHOK;JAKOBSDOTTIR; DRENT, 2007).

A grelina é responsável por estimular o apetite.Ela é produzida no estômago e no intestino e sinaliza,no cérebro, a vontade de comer. Sua concentração nosangue varia durante o dia. Antes das refeições, elaatinge picos, criando a sensação de fome. Depois, elacai, contribuindo para a sensação de saciedade. Já aleptina é produzida nas células de gordura e emquantidades proporcionais à massa do indivíduo.Quanto maior a quantidade de gordura estocada, maiora sua concentração (KHOK; JAKOBSDOTTIR; DRENT, 2007).A grelina atua na regulação da ingestão alimentar, pesocorporal, síntese do hormônio de crescimento e secreçãode gastrina e insulina. Dentre esses hormônios, acolecistocinina apresenta grande relevância nosprocessos digestivos e de saciedade e é um dos maisabundantes neuropeptídios no cérebro (HEISLER et al.,2007).

Historicamente, o cérebro era consideradoinsensível à insulina. Atualmente, já se sabe que ainsulina exerce ações metabólicas, neurotróficas,neuromodulatórias e neuroendócrinas no cérebro(PLIQUETT et al., 2006). Participa da plasticidadesináptica, regulação da ingestão de alimento e pesocorporal. A resistência à absorção de insulina podeinduzir indiretamente à obesidade, à intolerância àglicose e dislipidemia (PLIQUETT et al., 2006) associadascom uma resistência neuronal central aos sinais deadiposidade insulínicos, principalmente nos homens(HALLSCHMID et al., 2008). O SNC controla a ingestão eo gasto de energia por meio de um complexo circuito deneurotransmissores e neuromoduladores. Atualmente,busca-se compreender a relevância fisiológica dessessistemas e o papel que desempenham na obesidade(RIBEIRO, 2009). Esse complexo circuito age de formaintegrada, interferindo nas sensações de fome,saciedade, esvaziamento e plenitude gástrica. De formasimplificada, esse processo ocorre da seguinte maneira:primeiramente, o cérebro é informado sobre aquantidade de alimentos ingeridos e sobre o seuconteúdo em nutrientes por sinais aferentes. O tratogastrointestinal é equipado com quimiorreceptores emecanorreceptores especializados que monitoram aatividade fisiológica e passam informações ao cérebro,principalmente, por meio do nervo vago. Essasinformações aferentes constituem uma classe de “sinaisde saciedade” e formam parte do controle do apetitepré-absortivo. A fase pós-absortiva inicia-se quando

os nutrientes sofrem digestão e atravessam a paredeintestinal para entrar na circulação.

Assim, esses produtos que refletem o alimentoconsumido podem ser metabolizados nos tecidos ouórgãos periféricos, ou podem entrar diretamente viacirculação, sendo que, em qualquer dos casos, essesprodutos constituem uma outra classe de sinaismetabólicos da saciedade. Adicionalmente, os produtosde digestão e agentes responsáveis por seu metabolismopodem alcançar o cérebro e ligar-se a quimiorreceptoresespecíficos, influenciar a síntese de neurotransmissoresou alterar algum aspecto do metabolismo neuronal,sendo que em cada caso, o cérebro é informado sobrealguns aspectos do estado metabólico resultante doconsumo de alimentos.

Complementando esse mecanismo, Naslund etal. (1997) relatam que isto ocorre porque após ingestãoalimentar uma cascata de hormônios é liberada dediferentes partes do trato gastrointestinal e esses podeminfluenciar funções que promovem digestão denutrientes por meio de ações na motilidade, secreção eabsorção. Entre os principais hormônios liberados coma presença do alimento na luz gastrointestinal tem-se acolecistocinina (CCK), secretina, gastrina, peptídio YY(PYY), polipeptídio inibidor da gastrina, grelina dentreoutros. O esvaziamento gástrico, motil idadegastrointestinal e funções biliares são promovidos peloCCK e PYY, enquanto o estímulo da secreção do sucogástrico, impedimento do refluxo gástrico para oesôfago durante aumento da atividade gástrica eaumento do esvaziamento gástrico é promovido pelagastrina. A presença de alimentos na luz intestinalfavorece o aumento de CCK, gastrina e secretina,estimulando com isso a secreção gástrica e secreçãopancreática exócrina. A CCK estimula a liberação doPYY e esse inibe a liberação da CCK, sendo que o PYYpode também atuar freando o íleo, diminuindo oesvaziamento gástrico e trânsito intestinal.

Da mesma forma, o hipotálamo também exerceinfluência na auto-seleção de alimentos, nas respostasa dietas com alto conteúdo protéico, nodesbalanceamento de aminoácidos, na placentofagia,no estresse alimentar, na textura dietética, naconsistência e paladar, na aprendizagem aversiva, noolfato e nos efeitos de manipulações hormonais. Ohipotálamo é referido como o “gate keeper” dasinalização do apetite e recebe respostas do córtex e daperiferia do cérebro. O controle hipotalâmico do apetiteé um mecanismo complexo e está ligado não somenteao cérebro, mas a sistemas e sinais periféricos queatuam via circuitos de recompensa (HEISLER et al., 2007).O hipotálamo lateral está envolvido nos sistemascatecolaminérgico e serotoninérgico, participa docontrole circadiano da alimentação, de atividadesespontâneas devidas à excitabilidade de neurônios nosistema motor e de diferenças sexuais típicas naalimentação. O hipotálamo basomedial e a expressão

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gênica do neuropeptídeo Y (NPY) estão diretamenterelacionados com o decréscimo protéico na dieta e como aumento na ingestão de alimento (SIMPSON, MARTIN& BLOOM, 2009). Associado ao hipotálamo, o NPY é umimportante regulador do peso corporal e da ingestãoalimentar. O NPY age em cinco diferentes receptores (Y1a Y5) e a maioria dos neurônios que expressam o NPYestá localizada no núcleo arqueado do hipotálamo(ARC).

O ARC vem sendo considerado, em estudosrecentes (HEISLER et al., 2007; HISLER et al., 2006; WARDet al., 2008) como a chave para a regulação do apetite.Em ratos, lesões no ARC resultaram em obesidade ehiperfagia (HEISLER et al., 2007; WADE et al., 2008). Osneurônios do ARC expressam neurotransmissoresanabólicos (orexígenos, responsáveis pela sensação defome) e catabólicos (anorexígenos, responsáveis pelasaciedade) e estão inervados com o núcleo ventromedial(VMH), o núcleo paraventricular (PVN) e o hipotálamolateral (LH). A ingestão alimentar é modulada tambémpelas estruturas límbico-corticais do cérebro, como aamígdala e o córtex pré-frontal, que estabelecemmecanismos de feedback com o hipotálamo lateral eestão relacionados à atribuição de valor hedônico aoalimento, como sabor, aparência, textura etc. (HEISLERet al., 2007).

O hipocampo, além de exercer funções essenciaisnos processos de aprendizagem e memória, tambémparticipa do controle da alimentação. Possui múltiplasfunções na motivação para consumo de alimentos, epesquisadores começam a enfatizar o papel dosmecanismos de aprendizagem e memória no controledo comportamento alimentar. É reconhecido que ocontrole da ingestão de alimento depende da habilidadedos animais em codificar e representar na memória umavariedade de informações sobre suas experiências comos alimentos. Estudos farmacológicos de funçõesserotoninérgicas e colinérgicas no hipocampocontribuem para o conhecimento dos mecanismosenvolvidos em alterações de longo prazo da memória eda aprendizagem.

O eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA)participa no controle da ingestão energética e tambémna preferência pela gordura. Animais que exibem altapreferência por gordura podem apresentar exageradasensibilidade ao hormônio liberador da corticotropina.Estudo desenvolvido por Leal e Moreira (1996)investigou em ratos o efeito da restrição de alimentosnos ritmos de diferentes níveis de atividade do eixohipotálamo-pituitária-adrenal e a variação diurna dasrespostas da pituitária e adrenal aos seus principaishormônios (SIMPSON; MARTIN; BLOOM, 2009). Adesregulação do eixo HPA está implicada nafisiopatologia de várias outras doenças, além daobesidade, como transtornos de humor e distúrbios deansiedade generalizada (HEISLER et al., 2007). Aatividade do eixo HPA é mediada por múltiplas

respostas, convergindo para o núcleo paraventriculardo hipotálamo (PVH).

O balanço na ingestão de carboidratos pareceenvolver a ação do ácido gama- aminobutírico (GABA),da noradrenalina e do NPY, em associação comcorticosterona e glicose circulantes no sangue. Um doslocais de ação destas substâncias no cérebro é a regiãomedial do hipotálamo. Experimentos nos quais ratospodem selecionar os três macronutrientes (proteína,carboidratos e gordura), separadamente oferecidos,revelam que estes neuroquímicos especialmentepotencializam a ingestão de carboidratos e têm pequenoou nenhum impacto no consumo de proteína e gordura.No caso do NPY, que participa no controle da ingestão emetabolismo dos carboidratos, o nível varia nohipotálamo do nascimento à puberdade e, somente emratas fêmeas adultas, há variação na concentraçãodeste neuropeptídeo. Nas fêmeas, a baixa preferênciapor gordura pode ser consequência do esteróideestrogênio, o qual tem sido associado à supressão deingestão de gordura (WADE et al., 2008).

Um grupo de substâncias no hipotálamo controlaespecificamente a ingestão de gordura. Estassubstâncias incluem o peptídeo galanina, peptídeosopióides e o mineralocorticóide aldosterona, que agemno hipotálamo medial potencializando a ingestão degordura. Esta ação é mais intensa nas últimas horas dociclo alimentar e pode ocorrer independentemente daação da corticosterona A monoamina dopamina podeatenuar os efeitos da galanina e dos opióides naingestão de gordura.

A serotonina é liberada de neurôniosserotoninérgicos e age em receptores de neurônios pós-sinápticos antes de ter significado funcional. Oconsumo de uma refeição altamente protéica aumentao nível sanguíneo de muitos aminoácidos, contribuindocom mais aminoácidos neutros competindo com otriptofano, resultando em reduzida entrada detriptofano no cérebro e reduzida síntese de serotonina.A administração de triptofano pode aumentar a síntesede serotonina até duas vezes mais, entretanto, nãopotencializa a liberação de serotonina apreciavelmente.Uma questão relevante é determinar em quecircunstância particular poderia o triptofano exibir umapossível ação antidepressiva. A relação entreserotonina (5-HT) e o HPA tem sido muito estudada nosúltimos trinta anos, mas seus mecanismos de interaçãoainda não foram bem definidos (HEISLER et al., 2007). Aserotonina tem efeito inibitório em agressão e dadosclínicos sugerem que seu baixo nível no cérebro estáassociado à agressão direcionada a outros e à agressãopor suicídio. Estudos animais sugerem que a serotoninaesteja também envolvida no controle da ingestão dealimento, com altos níveis de serotonina diminuindo aingestão energética total, ou seletivamente diminuindoa seleção de carboidratos em relação à proteína.

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A tirosina é a substância precursora dascatecolaminas dopamina e noradrenalina; o usoexperimental e clínico de tirosina é similar ao detriptofano, a carga de tirosina não afetanecessariamente a neuropsicologia relacionada aobaixo nível de catecolaminas. O efeito da tirosina nohumor tem sido estudado, revelando que o baixo nívelde catecolaminas pode estar também relacionado coma etiologia da depressão. L-fenilalanina é precursordireto da tirosina e também um precursor dascatecolaminas; no entanto, é ainda controverso o efeitodeste precursor em diversas circunstâncias de consumode alimento.

A histamina tem sido implicada no controle dodespertar, metabolismo energético cerebral, atividadelocomotora, liberação de hormônios, comportamentosexual, percepção de dor, alimentação e ingestão deágua. É um dos neurotransmissores que suprimem oapetite, sendo que a interação de neurônioshistaminérgicos com outros neurônios em centros desaciedade ainda não está clara. Estudo realizado porestes autores evidenciou que a histamina inibe aliberação de noradrenalina no hipotálamo e suprime aingestão alimentar, apresentando ação anorética.Baseados em observação clínica, Morimoto, Yamamotoe Yamatodani (2001) verificaram que algunsantidepressivos e antipsicóticos com atividade anti-histamínica estimulam a ingestão de alimento e oaumento de peso corporal.

A colina é precursora do neurotransmissoracetilcolina; como o triptofano, tirosina, fenilalanina ehistidina, que são aminoácidos, a colina está presentena dieta como um constituinte da gordura(fosfatidilcolina). Kopf et al. (2001) testaram os possíveisefeitos da administração combinada de glicose e colinana memória e aprendizagem de camundongos.Verificaram que baixas doses de colina agemsinergicamente melhorando a memória, efeitopossivelmente devido à liberação de acetilcolina,reforçando o fato de as funções colinérgicas sereminfluenciadas por certas condições da ingestão deprecursores dietéticos.

Uma vez compreendidos o papel desses diversoshormônios na alimentação, é importante tambémcompreender que existem dois sistemas neuronais queestão intimamente associados à ingestão alimentarexcessiva e, consequentemente, o excesso de peso. Essessistemas são o sistema canabinóide (CB) e o sistemaserotoninérgico (WARD et al., 2008). O papel daserotonina na regulação do apetite já foi discutidoanteriormente. O sistema CB também exerce papelimportante nesse mecanismo. O efeito da estimulaçãodo apetite causado pela cannabis sativa (conhecidapopularmente como maconha), já é conhecido há maisde dois mil anos. O princípio ativo da maconha e osreceptores agonistas CB estão associados a esseexcesso de apetite em humanos e animais. Estudos com

ratos (WARD et al. , 2008; WADE et al. , 2008)demonstraram que a destruição dos receptores CBdiminuiu a ingestão alimentar e a escolha por alimentosmais palatáveis, como os carboidratos, a gordura e osaçúcares, causando, consequentemente, a perda de pesonesses animais. De modo contrário, ratos sem o receptorserotoninérgico (5-HT), tornaram-se hiperfágicos eobesos. Esses mesmos estudos (WARD et al., 2008; WADEet al., 2008) demonstraram que o agonista do receptor5-HT2C m-clorofenilpiperazina (mCPP) diminui aingestão alimentar e produz uma redução crônica dopeso corporal em animais de laboratório. Em humanos,o 5-HT agonista indireto (fenfluramina edexfenfluramina) foi usado durante alguns anos paratratamento da obesidade, já que produz perda de pesosignificativa e diminuição sustentada do apetite. Essesresultados foram atribuídos ao receptor 5-HT2C, quevem sendo considerado como um agente antiobesidade.Entretanto, para reduzir efetivamente o apetite, essasubstância deveria ser ministrada em uma dose queproduz alto nível de ansiedade (WARD et al., 2008).

Em um estudo realizado por Rowland, Mukherjeee Robertson(2001) foi administrada a dexfenfluraminaem ratos com livre acesso à comida. Após aadministração da substância, observou-se uma reduçãodrástica no consumo de alimentos, principalmente osque continham açúcar. Outro estudo realizado por Wardet al. (2008) demonstrou que a administração desubstâncias que inibem os agonistas dos receptores CBdiminuem a motivação em ratos para consumo dealimentos palatáveis. Apesar de esses estudosdemonstrarem a importância do receptor CB nadiminuição da ingestão alimentar, eles não especificamo caminho do mecanismo de ação desse efeito.

INTERAÇÕES ENTRE MECANISMOS NEUROLÓGICOS,BIOQUÍMICOS E AMBIENTAIS

Diversos autores têm adotado uma perspectivaevolucionista para explicar a ineficácia dos sistemasregulatórios do organismo em controlar o excesso depeso e o aumento do consumo de alimentos na sociedademoderna. Achados que suportam esta hipótese sãoabundantes na literatura (BERTHOUD, 2007; ROLLS,2007a; ROLLS, 2007b; GRABENHORST, ROLLS; BILDERBECK,2008; WARDLE, 2007; MIETUS-SNYDER; LUSTIG, 2008).

Considera-se que, durante a evolução da espéciehumana, o sistema nervoso desenvolveu mecanismosdedicados à procura de alimento e à defesa contra ainanição, mas não contra a obesidade. O cérebro seespecializou em escolher os alimentos mais em funçãode seus aspectos sensoriais como cor, formato, sabor etextura, do que de sua equivalência metabólica emtermos de proteína, carboidrato ou gordura (ROLLS,2007b). Além disso, os mecanismos de saciedadetomaram como critério a variedade de alimentos,garantindo a ingestão de toda a gama de substânciasnutricionais necessárias à sobrevivência.

Nas áreas gustativas do córtex orbitofrontal, dos112 neurônios que respondem a cada uma destas

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modalidades, muitos são unimodais (34% gustativos,13% olfativos e 21% visuais), mas em estreitaproximidade. Alguns apresentam convergência,respondendo aos inputs gustativos e visuais (13%),gustativos e olfatórios (13%) e olfatórios e visuais (5%).Os neurônios multimodais possuem sensitividadecorrespondente à duas modalidades e exercematividades discriminativas como, por exemplo,respondem mais para estímulos visuais que significamsuco de fruta doce do que para aqueles que significamsolução salina, ou respondem para gosto doce em umatarefa de discriminação olfativa para odor de fruta. Istoparece acontecer nas áreas corticais orbitofrontais nasquais as representações do sabor são construídas eonde o sabor é utilizado para dar significado a umarepresentação que é melhor evocada por umacombinação de inputs gustativos e olfatórios. Sete dosnove neurônios olfatórios responsivos ao odor dealimentos declinam sua resposta para o odor dealimentos quando ingeridos até a saciação. E oito dentreos nove neurônios que apresentam resposta seletiva àdireção do alimento também apresentam redução desua resposta visual para alimentos após saciação. Umaparte da representação olfatória nesta região estárelacionada ao valor hedônico do estímulo olfatório eo prazer eliciado pelo odor do alimento é, pelo menosem parte, o que é representado. Uma implicação disto éque, se um é alimento é ingerido até a saciação, aredução do apetite para outros alimentos é,frequentemente, incompleta, e este efeito pode levar aoaumento da ingestão quando uma variedade dealimentos é disponibilizada (ROLLS, 2007b).

Portanto, o elemento sensorial, específico dosmecanismos de saciação, corresponde ao decréscimodo apetite por um alimento em particular quando aquantia ingerida se torna suficiente, sem haverdecréscimo do apetite para outros alimentos. Este é umfator importante que influencia o quanto de cadaalimento é ingerido em uma refeição e explica porque oorganismo humano tende a aumentar a ingestão quandoaumenta a variedade de alimentos disponíveis. Estesmecanismos, de suma importância para a sobrevivênciahumana nas épocas remotas, têm sido consideradosresponsáveis pela alimentação excessiva e aumento daincidência de obesidade nos últimos 30 anos (ROLLS,2007b).

Um órgão sensorial é a parte especializada docorpo que é seletivamente sensível a alguns tipos demudanças no ambiente e não a outros. Paladar, olfato,visão e audição, agindo principalmente por intermédiodo hipotálamo, podem afetar o estado corporal e ocomportamento; promovem reflexos, liberação dehormônios e ajustamento visceral, assim como,desempenho somático. O sabor do alimento e o estadocorporal podem não ser tão essenciais ou críticos nocontrole da ingestão protéico-energética de animais delaboratório. Independente da fonte de carboidratos

(sacarose ou amido), animais adultos geralmenteapresentam constante ingestão energética, apesar deque animais que consomem sacarose apresentam maiorpeso corporal. Algumas propriedades sensoriais doalimento ingerido recebem prioridade sobre os aspectosfisiológicos internos no controle da ingestão. Mudançana densidade energética das dietas promove efeitoimediato no comportamento alimentar do rato; o padrãoalimentar é claramente afetado por algumaspropriedades dos alimentos.

Os receptores do paladar possuem habilidadessensoriais peculiares, e participam aindasensorialmente no monitoramento da ingestão dealimento, associado ao olfato, ao tato e a temperatura,regulando o comportamento e a homeostase corporal.O senso do paladar ou a gustação é um mecanismoquimiosensório primário que detecta e identifica muitosestímulos em condições animais e humanas. O paladardefine nossa ingestão de alimentos, bebidas emedicamentos; deficiência no paladar para substânciasdoce, azeda, ácida e salgada pode estar associada adoenças e desordens que vão desde a obesidade,hipertensão, má nutrição e diabetes até algumasdoenças neurodegenerativas.

Os botões do paladar são encontradosprincipalmente na língua, variando em número e tipo,em estruturas denominadas papilas. O processoquimiosensório apresenta um esquema de transduçãode sinal para substâncias. Íons eletricamente ativadospodem passar pelas células através das membranascelulares, via canais de íon. Sinais para doce e amargosão geralmente mais complexos quimicamente do quepara o sal e o azedo. Diferenças genéticas na sensaçãodo paladar influenciam o comportamento humanoquanto à escolha de alimentos, e podem também afetaro peso corporal e mesmo a susceptibilidade a certasdoenças.

Considera-se que a ingestão de alimento éclaramente controlada por uma série de fatorescognitivos, incluindo representações mnemônicas dosalimentos e seu contexto ambiental, bem comopropriedades emocionais e de recompensa destasrepresentações e seu impacto hedônico. Estes principaisprocessos corticais determinam o quanto um alimentoem particular é desejado e podem, frequentemente, sesobrepor à saciação. Como são constantementeestimulados no ambiente socioeconômico moderno,resultam em aumento do consumo de energia(BERTHOUD, 2007; GRABENHORST; ROLLS; BILDERBECK etal, 2007).

A motivação também exerce grande influênciano consumo alimentar e tem um aspecto explícito e outroimplícito ou inconsciente. Para Berridge e Robinson(2003) o querer ou saliência do incentivo é um aspectomotivacional mais que um componente afetivo darecompensa. Sua atribuição transforma informaçãomeramente sensorial sobre a recompensa (localização,

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sons e cheiros) em incentivos atrativos, desejados ecapazes de levar a pessoa a um grande empenho paraconsegui-los. Os efeitos visuais e outros estímulos queconduzem ao alimento, incluindo os anúncios depublicidade, ativam os sistemas cerebrais associadosà recompensa podendo, para alguns indivíduos,contribuir ainda mais para a obesidade. A ingestãoexcessiva de alimentos pode produzir respostasfisiológicas semelhantes àquelas da adição de drogas.Muitas pessoas referem utilizar a comida para se“automedicarem” contra problemas emocionais (DAVISet al., 2004).

Os processos cognitivos podem ter umainfluência fundamental no modo como o valor hedônicode um alimento é representado e, neste nível deprocessamento, as propriedades associadas a cadaalimento exercem profunda influência no empenho doindivíduo para obtê-lo. Esta sensação de prazer éinfluenciada por elementos cognitivos e afetivos quevão além do sabor intrínseco do alimento(GRABENHORST; ROLLS; BILDERBECK, 2007). O valor derecompensa, atribuído cognitiva e afetivamente,frequentemente se sobrepõe ao controle homeostáticoaos sinais fisiológicos da fome e saciedade que regulama ingestão de alimento e peso corporal (TATARANNI eDELPARIGI, 2003). Estudos de neuroimagemdemonstraram que o padrão de respostas cerebraisvaria conforme as representações cognitivas e afetivasque são atribuídas ao alimento, antes mesmo de ingeri-lo: se é favorito ou não, se tem baixa ou alta caloria, érico ou pobre em carboidratos ou em gorduras etc. Estasrepresentações dependem do modo como ele éapresentado (imagem, som, cheiro, sabor) e dascircunstâncias associadas. Estas redes cerebrais,especializadas em ativar o sistema de recompensa,incluem a ínsula, o cíngulo anterior e o córtexorbitofrontal (PLIQUETT et al., 2006).

Desde os tempos de Penfield e Faulk (1955), ocórtex insular já era considerado responsável pelasfunções psicossomáticas e de regulação autonômica.Possui conexões com diversas regiões e sistemascerebrais envolvidos no processamento visceral,vestibular, da atenção, dor, emoção, informaçõesverbais, motoras, musicais e sensoriais. Juntamente como córtex orbitofrontal e o pólo temporal, o córtex insulartambém se relaciona de forma importante com váriasclasses de comportamento complexo e coordena nossoambiente interno com o espaço extrapessoal,estabelecendo o equilíbrio entre experiência, afeto ecomportamento. Como a alimentação é frequentementedirecionada pelo valor hedônico do alimento, a respostacerebral ao componente afetivo do paladar e olfato podecontribuir para o que e o quanto nós comemos. Aresposta insular a antecipação sensório-estimulada darecompensa do alimento pode representar um marcadorneural da propensão ao ganho de peso (TATARANNI eDELPARIGI, 2003). Nagai, Kishi e Kato (2007) realizaram

uma revisão da l iteratura investigando o papelintegrativo destas estruturas na função psicossomáticae concluíram que pode levar à hiperfagia ou anorexia.Afirmaram também que o córtex insular pode estarenvolvido nas desordens do humor, nos transtornos doestresse pós-traumático, do pânico, alimentares,transtorno obsessivo-compulsivo e esquizofrenia.

O córtex pré-frontal ventromesial também temsido fortemente implicado no sistema neural necessáriopara tomar decisões vantajosas quando várias opçõesestão disponíveis para a ação. Uma função crítica nesteprocesso consiste em ativar sentimentos ou estadosemocionais dos pensamentos (crenças) sobre eventosrecompensadores ou punitivos que não estãocotidianamente presentes no ambiente imediato.Pacientes com lesão nesta estrutura apresentaminabilidade para acessar vantajosamente asconsequências futuras, tanto positivas quantonegativas. Seu comportamento é sempre guiado pelascontingências imediatas, semelhante ao dos usuáriosde substâncias psicoativas (DAVIS et al., 2004). Osautores investigaram o comprometimento do processode tomada de decisão em 41 mulheres com sobrepeso eobesidade aplicando um questionário que mensurou atendência do indivíduo de comer em resposta à raiva/frustração, ansiedade ou depressão. Utilizaram tambémum teste para avaliar a tendência a tomar boas decisõese, consequentemente, a capacidade de aprender com aexperiência a partir de situações da vida diária queacarretam recompensa ou punição, nos moldes de jogosde cartas (jogos de azar). Encontraram pior desempenhoentre aqueles que comiam em excesso quandodeprimidos e aqueles com maior IMC. Concluíram que oaumento do IMC pode levar a períodos mais frequentesde humor depressivo e, então, à maior hiperfagia. E quea manutenção de um corpo com peso normal parecedepender da força dos processos inibitórios corticaisnecessários à boa tomada de decisão sobrepondo-se àforça do impulso a consumir calorias. Os obesos seriammais sensíveis às propriedades de recompensa doalimento e “míopes” para as consequências negativasfuturas de determinada dieta com teor nutricional pobre,tornando-se propensos a comer mais por impulso quepela tomada de decisão.

A partir de uma revisão da literatura Mietus-Snyder e Lustig (2008) apresentaram um modelo teóricoque integra os diferentes fatores cerebrais envolvidosna alimentação – saciação, recompensa e estresse –para explicar os sistemas que eliciam os mecanismosfisiológicos de sobrevivência humana que sesobrepõem à homeostase e contribuem para o ganho depeso. Para os autores, os centros de controle queregulam o apetite e o gasto de energia situam-se emregiões profundas, entre três áreas do sistema límbicoprimitivo compreendendo hipotálamo, área tegmentalventral e amígdala. Cada uma destas áreas percebe umasensação distinta, mas complementar que leva ao

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comportamento alimentar. Projeções descendentes dosneurônios hipotalâmicos podem modular a ingestão dealimento modificando a capacidade de controle dasaciação. Sob ação crônica de insulina podem inibir asinalização da lecitina que, por sua vez, provocadiminuição da atividade simpática e aumento daatividade vagal, reduzindo o gasto de energia epromovendo seu armazenamento. Além disso, a açãocrônica da insulina na área tegmental ventral desregulaas vias hedônicas da recompensa que, por seu turno,aumentam o comportamento de busca do alimento,especialmente para os ricos em gordura ou açúcar, eisto resulta na ingestão excessiva de energia. E,finalmente, a ativação crônica da amígdala, sobcondições de estresse, depressão ou ansiedade,aumenta a secreção de cortisol. Esta produçãoexcessiva de cortisol leva ao acúmulo de gorduravisceral e aumento na sinalização da lecitina,perpetuando o ciclo vicioso de ganho de peso. De acordocom os autores, quando a pessoa entra neste “triângulolímbico”, é virtualmente impossível sair sem assistênciaadequada, incluindo, além das práticas nutricionais efarmacológicas, orientação familiar, intervençãopsicológica e redução do estresse.

APETITE E SACIEDADESob condições usuais, o alimento é ingerido após

a percepção da fome e a ingestão termina quando asensação de saciedade é alcançada. Sistemas distintossão responsáveis pelo início e término do consumo dealimento; cada um é regulado por sinais de respostasoriundos do sistema central e periférico, incluindo tratogastrintestinal, fígado, cérebro e sistemas sensoriaisperiféricos.

Alterações do apetite são observadas nas váriasfases do ciclo reprodutivo. Nas fêmeas, geralmente, osperíodos gestacional e puerperal ocorrem com maiorconsumo alimentar, tanto em relação aos outrosperíodos quanto em relação ao consumo alimentarverificado em machos da mesma espécie. As dietasafetam a secreção corporal de hormônios e estesinfluenciam o comportamento. Variação na ingestão denutrientes depende do sexo e pode estar relacionada,em parte, aos hormônios circulantes, em particular oshormônios adrenais e esteróides gonadais.

Saciedade é o estado no qual a alimentação éinibida, e geralmente ocorre como consequência dehaver comido. Após o consumo de uma refeição, o tratogastrintestinal parece ter a maior participação nasaciedade, que resulta na cessação da refeição, assimcomo, no controle da duração da saciedade. A saciedadepode ser descrita pela duração e/ou tamanho darefeição. A intensidade de resposta da saciedade écorrespondente ao intervalo entre refeições ou ocasiõesde alimentação e/ou à quantidade de alimentoconsumido na próxima refeição.

Um regulador circadiano parece dominar amotivação alimentar durante o final da noite,interagindo com os sinais que reportam a quantidadede calorias nos intestinos. Estudo com ratas, conduzidopor Strubbe e Gorissen (1980), demonstrou acontribuição dos sinais de saciedade e de regulaçãocircadiana, no controle do comportamento alimentar.Estes sinais podem contribuir para a saciedade duranteoutras partes do ciclo claro-escuro, quando aalimentação é dependente dos requerimentos de energiamais imediatos.

Muitos neuropeptídeos têm sido propostos comofatores centrais da saciedade, mas poucos têm umafunção fisiológica bem definida. A diminuição naingestão de alimento provavelmente envolve tambémalguns dos processos reguladores da saciedade namanifestação do comportamento alimentar emcondições experimentais. A redução na ingestão de dietaé o primeiro sinal comportamental de resposta àdeficiência de aminoácidos, induzida após a refeiçãocom uma dieta desbalanceada quanto ao conteúdodestes elementos. Estudos que envolvem os efeitos pós-prandiais do desbalanceamento de aminoácidos têmmostrado que respostas a estas dietas envolvemprimeiro, o reconhecimento do desbalanceamento eapós, a rejeição da dieta.

CONSIDERAÇÕES FINAISClaramente, muitos neurotransmissores e

estruturas do SNC participam na regulação docomportamento alimentar. Metodologiascomportamentais sofisticadas têm-nos permitidocompreender alguns dos parâmetros psicológicos queestão envolvidos nos processos neurais. No entanto, háreduzida informação sobre as mudanças celulares emoleculares que estão envolvidas na manifestação docomportamento e ação de eventos ambientais namodificação dos processos fisiológicos básicos. Apsicobiologia tem contribuído com um impressionanteconjunto de informações, que revela a plasticidade dosistema nervoso em todos os estágios dedesenvolvimento.

Foi visto que o comportamento alimentar estádiretamente relacionado ao cérebro e ao sistemanervoso, bem como às condições mentais e emocionais.A aplicação da dieta no estudo das desordenscomportamentais representa uma nova fronteira nocampo da psicobiologia. Em se tratando do ser humano,devem ser levados em conta fatores como variáveissociais, hábitos alimentares, nível de informação oueducação. A pressão das indústrias de alimentos e damídia leva às distorções cognitivas e um generosoaumento no consumo de alimentos, com aumentoexcessivo da ingestão de alimentos altamente palatáveise de baixo valor energético (basicamente carboidratose gorduras), com consequências preocupantes para asaúde da população.

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A interação entre os aspectos neurais,fisiológicos, endócrinos e comportamentais no processode regulação da fome e saciedade estão intimamenterelacionados ao comportamento alimentar. Acompreensão dos processos psicobiológicos ligadosdireta e indiretamente à alimentação favorece odesenvolvimento da neurociência nutricional, queproporciona compreensão mais clara da complexarelação sociobiológica dos seres vivos com o ambiente.Diante disso, conclui-se que vários mecanismoshomeostáticos estão envolvidos no controle doequilíbrio energético. Mesmo diante de todo avançocientífico que já ocorreu acerca dos sistemas neurais,muito ainda precisa ser esclarecido em relação a essecomplexo mecanismo de regulação do consumo dealimentos.

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