Comportamento Agressivo Da Criança Na Escola e Sua Relação Com a Violência Doméstica

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    Comportamento Agressivo da Criançana Escola e sua Relação com aViolência Doméstica

    Autor:Eliane Barbara Krticka | Publicado na Edição de:Maio de 2013

    Categoria: Desenvolvimento Humano

    Resumo:Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão da literatura

    sobre comportamento agressivo da criança na escola e sua relação com aviolência doméstica. Através da revisão de onze artigos, sendo doisinternacionais e obras busco fazer o entendimento desta relação retomando

    estudos já realizados de diferentes autores. Inicialmente buscou-se aconceitualização de agressividade e de violência doméstica. Foi feito um relatosobre as origens da agressividade na infância, os efeitos das interaçõesfamiliares agressivas, da punição física e de um padrão parental negligentesobre o desenvolvimento e posteriormente passamos a revisão dos estudos.Identificou-se que o comportamento agressivo da criança é na sua maioriaresultado da violência doméstica, tanto na escola como em qualquer outrolugar. O artigo aponta para a necessidade de pesquisas que procuremdesenvolver programas de preparação para educadores no manejo comcrianças que apresentam comportamento agressivo na escola, uma vez queesta seria o local que a criança teria como amparo.

    Palavras-Chave:Comportamento Agressivo de Crianças, Violência

    Doméstica, Educadores.

    Introdução

    Segundo Train (1997) e Gaiarsa (1993), a agressividade é parte integrantedo desenvolvimento infantil de qualquer criança, sendo necessário para asobrevivência desde o nascimento. À medida que a criança cresce aagressividade se modifica qualitativamente, deixando de manifestar-se parasuprir as necessidades físicas da criança, para surgir como defesa quando estase sente ameaçada.

    A criança torna-se um agente participante nas transações familiares, umser ativo e reativo pelas influências da família (Graham-Bermann, 1998). Aexistência de várias experiências da violência interparental evidencia-nos as

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    percepções e interpretações que cada criança elabora, com grandesimplicações ao nível do impacto. (Sani & Gonçalves, 2000; Sani 2003).

    Os riscos inerentes a exposição podem aumentar ou diminuir, de acordocom as diferenças individuais de cada criança, podendo criar fatores de

    vulnerabilidade ou de proteção. Os significados elaborados pela criança emtorno da violência e as crenças acerca dos relacionamentos com outraspessoas, acerca da família e acerca do seu desenvolvimento do sentido do selfsomam-se a estas características de nível pessoal (Graham-Bermann, 1998).

    Destaque será dado no presente estudo, aos comportamentos agressivosque são indiretamente mais valorizados pelas famílias e escola, constituindo-semuitas vezes, como base dos relacionamentos.

    Através dos estudos realizados por diferentes autores buscarei fazer um

    entendimento sobre o comportamento agressivo da criança na escola e suarelação com a violência doméstica, buscando uma população-alvo na faixaetária que vai dos seis aos doze anos de idade, de forma a promover umamaior compreensão do desenvolvimento infantil e que os profissionais queatuam na área da infância tenham conhecimento dos direitos de proteção dacriança e do adolescente, estabelecidos no Brasil, através do Estatuto daCriança e do Adolescente (ECA), devendo comunicar a autoridade competenteos casos de seu conhecimento envolvendo maus-tratos.

    Agressividade

    A agressividade é uma defesa que o sujeito utiliza para resolução deconflitos interpessoais, e é uma questão que tem demandado muitos estudos,provavelmente por expor maior risco para os envolvidos nos possíveisconfrontos que enseja. A agressão é uma conduta, que além de episódica, nãoé facilmente definível, assumindo diferentes formas de manifestação, cujaevolução é também variável, e também, porque está sujeita à influência de

    variáveis, tanto biológicas como sociais (Leme, 2004).

    A agressão pode ser definida como qualquer forma de expressão física ouverbal que acarreta danos físicos ou psicológicos a outros indivíduos (Kaplan,Sadock & Grebb, 1997). Fundamentadas nos estudos de modelo animal sobreagressividade e na Teoria da Aprendizagem Social, a agressão pode sercaracterizada como base na topografia do comportamento manifesto,independente da intenção do agressor ou de uma avaliação moral de seus atos(Tremblay, 2000).

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    Com ênfase nessa perspectiva, Loeber e Hay (1997) diferenciamagressividade de violência a partir do impacto negativo das condutas violentassobre as vítimas, porém sem considerar os atributos morais ou a função socialdessas ações, principalmente em razão da falta de recursos metodológicos

    para essas avaliações.Segundo Bee (1997), Gomide (2000), Chaves, Kelder e Orpinas (2002),

    dentre outros pesquisadores, deve ser dada atenção à influência dedeterminadas condições ambientais que propiciam ou não o desenvolvimentode comportamento agressivo. Privação de alimento ou espaço físico, a retiradado afeto, dos cuidados parentais, a dor física ou psicológica, exposiçãofrequente e/ou por longos períodos à agressividade, por meio de filmes jogosinterativos (videogame e de computador), são alguns exemplos que podem ser

    determinantes potenciais de altos índices de agressividade.

    Compreensão da Agressividade Através da

    Psicanálise

    Freud (1905) sempre considerou a agressão como uma fonte instintiva epulsional. A teoria inicial freudiana das pulsões se desenvolveu a partir dadescoberta dos impulsos sexuais da infância, caracterizados por um

    antagonismo entre a pulsão sexual e a pulsão de autoconservação. Mais tarde,Freud (1914/1976) postulou que alguns fatos clínicos não eram passíveis deexplicação através desta dualidade, substituindo-a pela dualidade libido deobjeto xlibido do ego. O apego libidinal a um objeto e o amor por este eramdevolvidos ao ego, tornando-se o objeto amado. O conceito de narcisismo fazcom que Freud (1914/1976) repensasse sua Primeira Teoria das Pulsões, umavez que, ao tomar a si mesmo como objeto de amor, o ego não está emoposição à libido.

     O reconhecimento da existência da agressão e da destrutividade nosseres humanos ocorreu depois da Primeira Guerra Mundial, quando Freud(1920/1976) introduziu, em sua teoria, uma nova dicotomia pulsional: pulsão devida x pulsão de morte. A partir da repetição compulsiva de vivênciasdesagradáveis, Freud compreendeu que o princípio do prazer não poderiaexplicar a busca por estas repetidas situações, e com isso, conceituou aexistência de uma pulsão de morte. Assim, passou a definir essa pulsão como“um impulso inerente à vida orgânica, que visa restaurar um estado anterior decoisas” (p. 54), considerando, ainda, que o “objetivo de toda a vida é a morte”

    (p. 56). Ao utilizar a metáfora de território invadido, Freud passa a descreveruma situação psíquica na qual o aparelho psíquico se vê à mercê de forças

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    pulsionais que colocam o sujeito numa situação de repetição do desprazer(Freud, 1920/1976). O conceito de compulsão à repetição é apresentado comouma força própria de um princípio que estaria além do princípio de prazer ao tercomo objetivo reproduzir incessantemente situações de desprazer.

    A constatação da existência de forças pulsionais que visam à repetição desituações desprazerosas coloca Freud (1920/1976) frente àquilo que seránomeado como estando “Além do princípio do prazer”. A tendência a repetiçãofaz parte de uma propriedade geral das pulsões cuja consequência étransportar o organismo, na sua idêntica reprodução, a um estado anterior.Assim, a origem mitológica das pulsões, a partir de 1920, está no id, e oprincípio de prazer perde sua posição hierárquica e os problemas relativos àagressão ficam em primeiro plano. Dessa maneira, o organismo vivente é

    sustentado por um conjunto pulsional, dividido entre um pólo, que induz acrescer, somar e reproduzir, e outro, que leva a restabelecer um estado anterior(Tomasi, Werlang & Flach, 2012).

    As pulsões de morte aparecem segundo Laplanche e Pontalis (1983), naconceitualização freudiana, como um tipo completamente novo de pulsões, quenão tinha lugar nas classificações precedentes, sendo elas as “pulsões porexcelência, na medida em que nelas se realiza de forma eminente o caráterrepetitivo da pulsão” (p. 530). Laplanche (1988) ainda lembra que a pulsão demorte está estreitamente ligada, em Freud, não só à compulsão à repetição,

    mas também à noção do princípio do zero ou de Nirvana, ou seja, refere-se àausência de excitação. Destaca, ainda, o autor, que a existência de uma pulsãode morte no nível mais profundo do inconsciente nunca foi, para Freud,incompatível com outras teses que ele sustentava como a ausência denegação, de contradição e de idéia de morte no inconsciente.

    Futterman (1969), cuja base teórica em seus escritos consisteprecisamente em tomar como fundamento a noção freudiana de pulsão demorte, explica que os componentes da pulsão agressiva mostram a mesma

    capacidade de fixação e regressão que os da pulsão de vida, sendo claro, paraele, que ambas as pulsões se manifestam durante o período dodesenvolvimento por fixação nas zonas oral, anal e fálica, surgindo a fusãodestas pulsões na resolução do complexo de Édipo e na formação dosuperego. Na fusão ideal de ambas as pulsões, os impulsos agressivos sãoliberados de sua qualidade destrutiva, possibilitando a sublimação dasmanifestações hostis, de maneira que o indivíduo é capaz de fazer umacontribuição produtiva e positiva no seu processo de vida.

    Em seu texto “Mal-Estar na Civilização”, Freud (1930[1929]/1974), aoabordar o processo civilizatório, pontua a inata inclinação humana para a

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    agressividade. Para ele, o impulso agressivo é o derivado e o principalrepresentante da pulsão de morte, e a civilização necessita utilizar reforços, afim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem, mantendoassim suas manifestações sob controle por formações psíquicas reativas.

    Neste mesmo texto, Freud ainda afirma que “no sadismo e no masoquismosempre vimos diante de nós manifestações do instinto destrutivo (dirigidas parafora e para dentro) fortemente mescladas ao erotismo” (p. 142).

    A teoria de Melanie Klein está embasada no conceito das relações objetaisinternalizadas que constitui, na psicanálise, o primeiro desenvolvimento dateoria das relações objetais após Freud (Kernberg, 1989; Hinshelwood, 1992).Em concordância com sua teoria da dualidade das pulsões (1920) – vida emorte -, a suposição teórica de Klein propõe que tanto a pulsão de vida quanto

    a de morte operam desde o nascimento, e, neste sentido, salienta-se aimportância da agressividade inata como uma manifestação da pulsão demorte. Para Klein (1975), então, os impulsos agressivos constituem umelemento radical e básico na psicologia humana e, em certos aspectosdesempenham um papel fundamental na luta pela existência.

    O sadismo oral é considerado a primeira manifestação da pulsão de morte;isto porque “os desejos canibalísticos são projetados para fora desde onascimento sob a forma de temores persecutórios vinculados aos primeirosobjetos, e são vivenciados como o temor de objetos devoradores, gerando

    fantasias de um seio mau, devorador, destrutivo” (Kernberg, 1989).

    Para Tomasi, Werlang e Flach (2012):

     A agressão é um fenômeno que faz parte do cotidiano das pessoas, sendo suas

    manifestações muitas vezes visíveis e outras vezes não; está associada a aspectos

    intrínsecos da constituição da personalidade. Tais manifestações podem ser observadas

    no desenvolvimento saudável de um indivíduo, quando associadas a atividades produtivas

    que visam ao desenvolvimento; entretanto, esse mesmo potencial pode ter como finalidade

    um comportamento mal-adaptativo; daí a relação feita com à violência e a capacidade

    destrutiva das pessoas, às quais a agressão está comumente associada. Nesse sentido,

     pela inegável relevância e importância desse fenômeno psíquico, pensadores da

     psicanálise procuraram compreender a origem e o dinamismo da agressão.

    Origens da Agressividade na infância

    Os psicanalistas Klein(1970) e Winnicott (1939/1987) esclarecem que aexistência de impulsos agressivos é inerente à constituição do ser humano.Segundo esses autores, o modo e as razões de a agressividade se destacar no

    funcionamento psíquico gerando a delinqüência e o comportamento anti-social

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    na vida adulta constitui um processo que se inicia precocemente e estáestreitamente ligado ao desenvolvimento infantil.

    Para Klein (1970) a criança começa bem cedo a vivenciar os conflitos comsuas pulsões destrutivas, já no final do primeiro ano de vida e início do

    segundo. Trata-se de uma experiência dolorosa, marcada por tensão, angústia,culpa e medo. Quanto menor a capacidade da criança de tolerar estessentimentos, maior a necessidade de baní-los de seu mundo interno,projetando-os para fora. Com isso, o ambiente passa a representar um perigoem potencial, já que se torna o depositário de sentimentos fortes e destrutivosda criança, despertando-lhe mais angústia. A autora explica que ocomportamento anti-social viria aplacar esta angústia, pois as represáliassofridas em função da agressividade confirmariam a fantasia de um mundo

    perigosamente mau, e as punições também minimizariam a ansiedade e aculpa sentida inconscientemente pelo fato de provocarem sentimentos ruins nomundo externo. Klein (1970) afirma que a capacidade de suportar ansiedade etolerar sentimentos de culpa, a etapa de desenvolvimento em que fatostraumáticos ocorreram e as histórias de vida constituem os fatores quediferenciam a criança “normal” daquela mais predisposta à personalidade anti-social.

    Winnicott (1939/1987) por sua vez, aprofunda as observações kleinianas,salientando a importância do ambiente para permitir a expressão e

    transformação da agressividade infantil. Partindo do princípio de que aagressividade, no início da vida, não traz consigo a intenção de destruir, o autorenfatiza a função da mãe na criação de condições para que a criança possatolerar a ansiedade e a culpa proveniente das pulsões destrutivas. Taiscondições são possíveis na medida em que a mãe se mostre uma presençaconfiável, disponível, tolerante e constante, ou seja, como alguém que cuida dacriança suprindo-a não apenas de alimentação e conforto, mas também desegurança emocional. Quando, ao contrário, não há condições para a formação

    de um vínculo seguro e estável com a figura materna, a criança não conseguealcançar uma organização interna madura o suficiente para integrar a própriadestrutividade, necessitando cada vez mais da continência ambiental a fim decontrolar seus impulsos.

    O efeito das interações familiares agressivas, da punição

    física e de um padrão parental negligente sobre o

    desenvolvimento

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    Kupfer (1998) analisa aspectos da cultura para afirmar que o professorbrasileiro não encontra mais uma rede de sustentação simbólica que lheassegure o suporte da autoridade no exercício da profissão. Sugere, assim,que a agressividade na escola seja uma reação à falta de limites simbólicos

    essenciais para o aprendizado e crescimento humano, podendo apresentar-sesob três diferentes naturezas: 1) imaginária dirigida ao professor, na forma depequenos ataques que o desqualificam, numa agressividade miúda e cotidiana;2) real, portanto próxima da ação psicótica, em que não há sentido para osatos, a exemplo da depredação pura e simples; e 3) simbólica, no sentido derestaurar a figura da autoridade perdida, como acontece em contextosescolares dirigidos pela lei de traficantes.

    O modelo de comportamento que os pais apresentam tem grande

    influência sobre o desenvolvimento da agressão na criança. A brutalidade narelação entre os pais e seus filhos, ensina às crianças, por meio daobservação, o que fazer, assim concluem que bater é apropriado e poderoso. Arejeição parental, a negligência, a disciplina rígida e a crueldade contra outrosda família também estão ligadas à agressividade dos filhos (Bazi, 2003).

    Revisão de Literatura Quanto aos Estudos Já

    Realizados

    A revisão de literatura foi realizada primeiro com a busca de artigos quetratassem de comportamento agressivo em crianças na escola e depois foi feitauma busca com violência doméstica, que é a temática aqui investigada. Foramutilizados 11 artigos científicos aqui revisados e obras.

    Em estudo publicado sobre Crianças Expostas à Violência Conjugal:Avaliação do Desempenho Acadêmico, de Brancalhone, Fogo e Williams(2004) temos que o comportamento agressivo está presente na criança quepresencia episódios agressivos dos pais, mas não impede que tenha um bomdesempenho acadêmico, se tiver no professor expectativas positivas emrelação à ela. O trabalho avaliou o desempenho acadêmico de 30 crianças,com idade entre 7 a 11 anos de idade, de ambos os sexos, sendo 15 criançasexpostas à violência conjugal e 15 crianças não expostas à violência.

    A tese de doutorado apresentada por Carolina Saraiva de Macedo Lisboa,na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005, que leva o títuloComportamento Agressivo, Vitimização e Relações de Amizade de Criançasem Idade Escolar: Fatores de Risco e Proteção temos que as escolas exercem

    um papel fundamental de acolhimento e proteção para um desenvolvimentosaudável em crianças com comportamento agressivo. Estudos existentes

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    confirmam que relações de amizade servem de proteção ao desenvolvimento.A agressividade, neste estudo foi identificada como comportamento de risco ecomo anúncio da vitimização relacionada à baixa qualidade da amizaderecebida, ausência de compartilhamento na amizade e não associado a

    comportamentos pró-sociais. Ficou aqui entendido que não existe diferençaentre gêneros, como alguns professores apontam que meninos são maisagressivos que meninas, o que ficou evidenciado neste estudo é que osmeninos externalizam mais os comportamentos que as meninas e estas peloprocesso relacional, possuem mais amizades recíprocas e estão satisfeitas, oque muitas vezes mascara o comportamento.

    Foi realizado em 2004 um estudo sobre O Comportamento Agressivo deCrianças do Sexo Masculino na Escola e Sua Relação Com a Violência

    Doméstica, por Maldonado e Williams, onde 28 crianças do sexo masculino, de7 a 11 anos de idade e suas mães participaram. Foram estabelecidos osseguintes critérios nesta pesquisa; crianças do sexo masculino, famíliacomposta por figura materna e paterna no lar e que o casal deveria ter pelomenos um ano de união. Foram divididas em dois grupos, 14 crianças queapresentavam comportamento agressivo e 14 que não apresentavam estecomportamento. Após o levantamento dos dados constataram que a violênciafamiliar aparecia em ambos os grupos, bem como a de punição corporal foramiguais. O que foi levantado é que as crianças que não apresentavam

    comportamento agressivo foram expostas a níveis menores de violência etinham, fatores de proteção, como a capacidade de resiliência, como mediadorda violência a que a criança estava sujeita.

    No artigo Violência familiar e comportamento agressivo e transgressor nainfância: uma revisão da literatura , de Renata Pesce (2008) foi levantado que aviolência conjugal é um fator de maus tratos familiar que podem gerar nacriança comportamento agressivo e transgressão. Os comportamentosagressivos em crianças tendem a manter-se ao longo do tempo e de forma

    cada vez mais acentuada. A família é essencial na construção do sujeito, sendoos problemas de comportamento externalizantes um dos prováveis agravospara crianças e jovens expostos a conflitos familiares inadequados.

    Para corroborar os estudos brasileiros levantados temos o artigo publicadona Revista Portuguesa de Educação, 2005, da Universidade de Minho,Portugal, onde estudos realizados por Martins (2005), confirmam a idéia de queviolência gera violência, na medida em que conviver com a violência aumenta orisco de o sujeito vir a exercer o mesmo padrão de comportamento,principalmente na infância e adolescência, onde a exposição à vulnerabilidadeé maior.

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    No estudo de Sani (2007), publicado pela Revista da Faculdade deCiências Humanas e Sociais, de Porto, que tem como tema “As crenças dascrianças sobre a violência e as percepções sobre os conflitos interparentais”,constatou-se que os fatores de natureza sociocultural eram os mais facilmente

    assumidos pelas crianças com experiência de exposição à violência comofundamentando a violência interpessoal. Entendo que neste estudo ficouevidenciado que àquelas crianças que são expostas a situações de violênciatem uma percepção diferente de violência, podendo na maioria dos casos serdistorcida, diferente daquela criança que não foi exposta a esta situação derisco. O resultado sugere que as crianças expostas à violência têm em geralpercepções mais negativas sobre os conflitos interparentais, apresentamtambém uma maior percepção de ameaça face a tais situações.

    Em estudos realizados por Dessen e Szelbracikowski (2004) onde oobjetivo era descrever tipos de famílias de crianças com comportamentoexteriorizados, destacando o perfil cognitivo das crianças, o estresse parental ea qualidade das relações familiares temos que as crianças em idade pré-escolar tendem a repetir comportamentos de irmãos mais velhos e estascrianças não são percebidas por seus pais com comportamento agressivo, quea criança também pode aprender comportamentos agressivos na escola e noconvívio com pares agressivos, e que genitores/padrastos de famílias de classesocial baixa tendem a empregar práticas punitivas físicas e verbais que podem

    estimular a manifestação de comportamentos agressivos pela criança.O objetivo do estudo de Rios e Williams (2007) foi investigar sobre trabalho

    com famílias visando à prevenção de problemas de comportamento infantil. Noseu levantamento temos que sem um programa de intervenção precoce, osproblemas de comportamento em crianças podem se cristalizar a partir dos 8anos de idade, iniciando uma trajetória de problemas acadêmicos, evasãoescolar, abuso de substâncias, transtornos de conduta e violência. E que oíndice, de problemas de comportamento em crianças de famílias de baixa

    renda, chega a 35%. Williams (2006) desenvolveu um programa que surgecomo um trabalho de prevenção primária promissor na área e tem o nome deProjeto Parceria. Foi desenvolvido com o apoio do CNPq e seu objetivo édesenvolver e avaliar um programa de intervenção voltado às mães vítimas deviolência pelo parceiro, de forma a prevenir problemas de comportamento emseus filhos.

    Os estudos realizados por Joly, Dias e Marini (2008) objetivou identificar apercepção de crianças do ensino fundamental acerca da agressividade nafamília e na escola. Neste estudo foi apontado que os meninos apresentammais comportamentos agressivos que meninas, que a agressividade familiar

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    apresentou-se maior que a escolar. Identificou-se neste estudo que a criançaque tem situações de agressividade na família tende a desenvolvê-la em outrosambientes.

    No artigo de Maia e Williams(2005), que trata dos fatores de risco e fatores

    de proteção ao desenvolvimento infantil, temos que existe pouca literaturaacerca dos fatores proteção no desenvolvimento infantil e da necessidade deevoluirmos neste item, visando promover a resiliência. A violência doméstica éo fator que mais estimula crianças e adolescentes a viverem nas ruas.

    Em tempos difíceis, a compreensão e a construção de forças e virtudes,como: valores, perspectivas, integridade torna-se mais urgente. Neste sentido,as forças e virtudes funcionam como pára-choque contra o infortúnio edesordens psicológicas, e podem ser a chave para a construção da resiliência

    (Seligman, 2002).Em estudo realizado por Picado e Rose (2009), no artigo que leva o título

    “Acompanhamento de pré-escolares agressivos: adaptação na escola e relaçãoprofessor-aluno”, fica evidenciado a importância do desenvolvimento deestudos de acompanhamento da adaptação de alunos de risco ao contexto pré-escolar bem como de ampliar esse acompanhamento para os níveis de ensinoposteriores. A maioria das crianças estudadas está exposta a fatores de risco eparece não apresentar rede protetora suficiente para minimizar esses efeitos. A

    verificação de que uma parcela dos alunos já entra no ensino fundamentalapresentando acentuadas dificuldades comportamentais e insuficiente domíniodos pré-requisitos acadêmicos está de acordo com os resultados da literatura arespeito do desenvolvimento e do difícil manejo desses comportamentos(Gomide, 2001, 2003; Marinho, 2003; paterson ET AL., 2002; paterson ET AL.,1989). Este estudo procurou destacar a importância do professor como agenteparticipante na prevenção e na diminuição desses problemas e descrevercaracterísticas favoráveis da relação que podem beneficiar o aluno.

    No livro Violência e risco na infância e adolescência: pesquisa e

    intervenção, de Claudio Simon Hutz, (Org) (2005), no título que trata deCrianças na Idade Escolar, o autor relata que a criança nesta idade tem maiorcapacidade de autonomia, porque fica fora do campo doméstico e tem relaçãocom outros adultos e crianças e está exposta a duas forças socializantes, aescola e as relações sociais com outros adultos e crianças. Em termos dematuração, a criança entre seis e doze anos tem uma maior capacidade deexplorar o mundo devido a expansão da sua autonomia, baseada na condiçãode uma habilidade de reconhecer suas necessidades internas – pensamentos e

    compreender o estado interno dos outros.

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    Segundo Osofsky (1999), crianças que foram expostas à violência familiarapresentam sintomas internalizantes – agressividade, delinqüência. As criançasdeste grupo também manifestam dificuldades no sono, agitação, jogoprejudicado e muitas queixas somáticas. A adaptação à escola, o baixo

    desempenho escolar e relacionamentos com colegas também são situações dedificuldades para a criança provenientes de um ambiente violento, Stiles(2002).Crianças expostas a violência doméstica tem dificuldades comportamentais emambientes sociais, sentimentos ambivalentes em relação aos pais, que levam adificuldades na vida posterior em estabelecer relacionamentos em função dequestões relativas ao estabelecimento de intimidade, controle da agressão eexpressão de afetos amorosos, Osofsky(2003). Observou-se, também, quecrianças, especialmente meninas, expostas à violência doméstica adotavamcomportamentos de enfrentamento agressivo dos colegas na escola -“bullying” , com muito maior freqüência, Baldry(2003).

    Na obra espanhola de Sylvie Bourcier, La Agresividad en niños de 0 a 6años: Energía vital o desórdenes de comportamiento? (2012), quando a autoraescreve sobre controlar a agressividade das crianças, o faz não no sentido detransformá-los em conformistas, mas sim de canalizar as suas energias brutastransformando-as em criatividade. Seu relato sobre família traz que esta é omotor do processo de socialização. É ela que é responsável pelarepresentação dos valores como responsabilidade, respeito, generosidade,

    dentro dos seus lares. As crianças que não tem dentro de sua família essasrepresentações, que são sozinhos, não tem referências e nem afeto tendem aprocurar outros iguais pela necessidade de formar grupos, pois tem dentro de sisentimentos de abandono, raiva e tristeza. Para que construa umapersonalidade flexível faz-se necessário uma presença ativa e afetuosa dafamília, da escola, ter disciplina e diálogo que exige tempo e paciência. Acriança que tem um olhar positivo sobre si mesma tende a ter maior aceitaçãopelos demais. A autora relata estar convencida da importância das relaçõespositivas entre as pessoas e do total investimento na prevenção precoce decomportamentos agressivos. Ensinando as crianças a viverem juntas com afamília, na escola e em outros ambientes as ajudaremos a ser cidadãosresponsáveis.

    Considerações Finais

    Está evidente em todos os estudos que a violência doméstica é um dosfatores mais relevantes no comportamento agressivo da criança, não só na

    escola como em qualquer lugar, porém em alguns estudos foi evidenciadotambém o comportamento agressivo em crianças na escola devido à

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    reprodução de comportamento de seus pares, mesmo não tendo sofridoviolência doméstica. Teve-se em menor número estudos apontando que emgênero existe a igualdade de comportamento agressivo, mas que as meninastendem a ter mais resiliência que os meninos devido a sua relação de amizade

    com pares do mesmo sexo. Em maior quantidade, nos demais estudos listadosconstatou-se que os meninos tendem a ter o comportamento mais agressivoque as meninas.

    Registro que a violência doméstica que foi tratada nos diferentes estudosnão se limita a punição física, mas àquela em que a criança presencia a mãesendo agredida por seu parceiro, a violência que é psicológica e tambémverbal, a violência entre irmãos e o abuso sexual.

    Sugiro que os educadores devam ser mais bem preparados para trabalhar

    com crianças que sofrem a violência doméstica, pois poderiam ser um portoseguro, mesmo que transitoriamente a solução para o desamparo de muitascrianças, principalmente àquelas em situação de vulnerabilidade social, quesão as mais atingidas pela violência, o abandono e a negligência.

    É importante analisar o lugar da educação formal, isto é, aquela exercidapelos equipamentos educacionais institucionalizados na formação dos sujeitose, portanto, no manejo da violência. A dinâmica das relações interpessoais, quesão vivências coletivas dentro da escola é que vão propiciar ao sujeito

    desenvolver a percepção de si mesmo, dos seus parceiros, suas afinidades, terdisciplina, horários, limites, realizar tarefas e ter hábitos de estudo propiciandoa construção de sua auto-imagem e identidade de sujeito social.

     Creio na importância de serem desenvolvidas pesquisas sobre odesenvolvimento de crianças com comportamento agressivo na escola, dandocontinuidade neste estudo, pois precisamos identificar de que forma essecomportamento se cristaliza, para podermos então orientar os educadores nomanejo com esse aluno.