Complexo do Alemão, fi nal de novembro A IGREJA O...
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A revista evangélica do Brasil
ENTREVISTA Pastor brasileiro fala sobre missão
A IGREJAA IGREJA CONTRACONTRA O TERRORO TERROR•• O bem vence o mal: polícia realiza a maior operação O bem vence o mal: polícia realiza a maior operação contra o tráfi co de drogas da história do Rio de Janeirocontra o tráfi co de drogas da história do Rio de Janeiro
•• Vítimas ou protagonistas: o que esperar dos Vítimas ou protagonistas: o que esperar dos evangélicos na luta pela pacifi cação em 2011?evangélicos na luta pela pacifi cação em 2011?
POLÍTICA Aumentam os
EVANGELISMO Estratégias de missionários
Complexo do Alemão, o maior conjunto de favelas cariocas, no
fi nal de novembro
Ano 1
5 •
Ediç
ão 1
46 •
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,90
Port
ugal 4
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E P Í S T O L A D A R E D A Ç Ã O
“Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”
Aplicando o que disse o apóstolo Paulo em sua Epístola aos
Romanos (Rm 12.21) aos dias atuais, mais precisamente ao que aconteceu
no Rio de Janeiro no fim de novembro, podemos traçar a seguinte
analogia: de um lado o mal, representado por traficantes dos morros que,
há décadas, protagonizam uma guerra urbana que faz mais vítimas – a
maioria, inocentes – do que qualquer outro conflito armado pelo mundo;
e de outro o bem, simbolizado por valentes e destemidos policiais,
heróis da maior operação de combate ao tráfico e à violência da história
da cidade. Como juízes desse embate, os evangélicos, sempre prontos
a colaborar com ações práticas de cunho social, além de mensagens e
princípios com embasamentos bíblicos que buscam uma transformação
espiritual no coração dos pecadores. Será, no entanto, que há mesmo
salvação para todos, inclusive ao mais alto escalão dos traficantes? Difícil
mensurar o pecado pelo tamanho, mas a resposta pode ser encontrada em
Atos 16.32: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”.
Há controvérsias, mas cada um que julgue por si mesmo. Enquanto
isso, a Igreja continua desempenhando seu papel junto ao poder público
– essencial, aliás –, para restabelecer de vez a pacificação nos morros da
“cidade maravilhosa”.
Longe daqui, depois de praticamente devastado por um terremoto
– em janeiro, a catástrofe completa um ano –, o Haiti volta a ser sacudido
por um novo tremor, só que de avivamento – o tremor do bem! É o que
nos conta o pastor Walter Pereira de Mello, tenente coronel e capelão
do Exército brasileiro, diretamente de Porto Príncipe. Com ajuda de
organismos internacionais e, sobretudo, divina, o país também tem
conseguido expulsar seus demônios e vencer o mal.
Não pense, caro leitor, que essa edição de ECLÉSIA traz temas
relacionados somente a guerras e à violência urbana; pelo contrário,
a revista está recheada de matérias e reportagens dos mais diversos
interesses, abordados sempre por uma ótica cristã: evangelismo, política,
esporte, comunicação, música, enfim...
Então, boa leitura!
JD Morbidelli
A REVISTA EVANGÉLICA DO BRASIL Filiada à Associação de Editores Cristãos (Asec)
Ano 15 – Número 146(11) 3346-2000
www.eclesia.com.br
DIREÇÃO
Diretor ExecutivoElias de Carvalho
Conselho Editorial
Elias de Carvalho Junior, Maria da Graça Rêgo Barros, Percival de Souza, Roseli de Carvalho, Samuel Medeiros
Jornalista ResponsávelMarcos Stefano
REDAÇÃO
(11) 3346-2033
Editor José Donizetti Morbidelli
Repórteres Artur Mendes, Cláudia Teixeira, Fernando Dias de Jesus,
José Donizetti Morbidelli, Karen Rodrigues, Marcos Stefano
Colunistas Emerson Menegasse, Lourenço Stelio Rega, Luiz Leite, Maria de Fátima M. de Carvalho,
Patrícia Guimarães, Percival de Souza, Romney Cruz
Apoio Editorial Sandra Frazão
Editor de ArteEmerson de Lima
Assistente de ArteFernando Jorge Baptista
Site Diego Bittencourt
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não representam necessariamente a opinião da revista.É proibida a reprodução total ou parcial de reportagens, entrevistas, artigos, seções, fotos e ilustrações sem a prévia autorização dos titulares de direitos autorais.
O bem vence o mal
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18 ENTREVISTA
Walter Pereira de Mello, pastor e tenente-coronel do Exército brasileiro, fala sobre seu trabalho de capelania e da missão de paz no Haiti
26 EVANGELISMO
Apesar das dificuldades, muitos pastores e missionários preferem evangelizar em cidades tradicionalmente católicas
32 ESPORTE
Evangélicos se rendem às academias de musculação, provando que crente também pode ter corpo sarado
40 SOCIEDADE
Igrejas e comunidades evangélicas assumem papel importante para a pacificação dos morros cariocas
50 POLÍTICA
Número de evangélicos eleitos praticamente dobra em relação à legislatura anterior, e bancada na Câmara e Senado pode chegar a 71 parlamentares
54 IGREJA
Pela unidade entre as igrejas, é fundada em São Paulo a Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB)
60 COMUNICAÇÃO
Rádios webs são cada vez mais comuns para o trabalho de igrejas e demais comunidades evangélicas
62 INTERNACIONAL
Igrejas e organismos internacionais em defesa dos direitos humanos se mobilizam contra condenação de cristã paquistanesa
64 RELIGIÃO
Invasão, musical da IB do Morumbi, celebra um Natal diferente, com muita reflexão e sem presépios
70 MEMÓRIA
Morre Werner Kaschel, pastor batista e um dos mais destacados tradutores das Escrituras Sagradas
72 LANÇAMENTO
Prestes a completar seu 86º aniversário, Luiz de Carvalho lança seu mais novo CD: Adoração
S UMÁR I O
“O Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ver quem passa correndo”
(Habacuque 2.2)
ECLÉSIA • A revista evangélica do Brasil • Ano 15 – Número 146
SEÇÕES
4 Epístola da Redação
8 Epístola dos Leitores
12 Em Foco
80 Agenda
COLUNAS
36 Opinião
38 Lugar de Mulher
56 Observatório
58 Pastoral
68 Missões
76 Louvor e Adoração
82 Percival de Souza
MULTIMÍDIA
72 Música
78 Literatura
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E P Í S T O L A S D O S L E I T O R E S
Por questão de espaço disponível ou clareza de texto, ECLÉSIA se reserva o direito de publicar os textos das cartas que seleciona na íntegra ou resumidos, eventualmente editados
MEGATEMPLOS
Não posso deixar
de comentar sobre
a reportagem A Era das Catedrais [edição 145]. Enquanto uns
gastam fortunas com
obras dessas grandezas,
milhares de pessoas
estão morrendo sem
ao menos saber quem
é Jesus Cristo. Esse
dinheiro todo poderia muito
bem ser investido em missões.
Só quero saber se Deus está
ou estará presente nesses
megatemplos. Certamente que
não, pois não foram construídos
para a glória do Senhor, mas
para a deles próprios.
Karol Mariane
ANDRELÂNDIA (MG)
Prefiro continuar frequentando
a minha igreja, que fica nos
fundos de uma garagem, a ir
num desses templos gigantes
citados na matéria, onde o
pastor nem sabe quem é cada
um e muito menos participa de
sua comunidade.
Maria Aparecida do Amaral
JUIZ DE FORA (MG)
POLÍTICA
Muito boa a reportagem Hora de Fazer História [edição 144], pois veio num momento
bastante oportuno para que
os evangélicos pudessem se
conscientizar de cada um dos
candidatos à presidência do país.
Não digo isso em relação a mim,
que já tinha a minha candidata
definida, mas em relação a
tantos que deixaram para se
decidir nas
últimas
horas. É uma
pena que
ainda não
foi dessa
vez que uma
evangélica
fez história,
mas quem
sabe não será
na próxima.
Tereza
Cristina dos
Santos
SALVADOR
(BA)
RENÊ TERRA NOVA
Depois de ler a entrevista do
apóstolo Renê Terra Nova –
matéria intitulada
Sob as Bênçãos do Patriarca Manauara
[edição 145]
–, fiquei
imaginando o
quanto o Senhor
é grandioso.
Tenho visto
algumas coisas
envolvendo o
nome dele por
aí, mas eu tenho
certeza de que
o apóstolo é
um homem de
Deus e que pode mesmo fazer a
diferença na vida daqueles que
acompanham o seu ministério.
Marta Luiza de Toledo
RECIFE (PE)
EXORCISMO
Em relação à matéria
Exorcizando Demônios do Sul [seção Multimídia Cinema,
edição 145], não tenho o que
falar sobre exorcismo. Posso
bancar o intelectual e dizer
que as possessões são fruto de
angústias internas, mas não vou
cuspir para cima, gritar que não
creio e dar boas vindas a algo
estranho no meu corpo.
Tiago do Valle
VIA INTERNET
HISTÓRIA
Apesar do crescimento dessa
seita – pois, para mim o
mormonismo é uma seita
–, os mórmons adotaram uma
doutrina meio maluca e cheia
de contradições. É só ler seus
livros; aliás, eu tenho vários
que comprovam essas doutrinas
totalmente antibíblicas. Um
de seus ensinamentos diz que,
após a morte, cada um deles
vai estar no céu com várias
mulheres lindas. E, em relação
ao massacre de
Mountain Meadows
– focado na matéria
De Quem é a Culpa: Mórmons ou Paiutes? [edição 141], acredito que
eles sejam culpados,
sim!
Fausto Santos
Rebelo
VIA INTERNET
A revista me
entrevistou para
compor essa
matéria por conta
de um artigo publicado em
meu blog sobre o assunto.
Recomendo a leitura – http:
//marcelotodaro.info/?p=203 –
para quem desejar se aprofundar
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nessa pesquisa sem se deixar
influenciar por opiniões parciais
e desinformadas.
Marcelo Todaro
MACEIÓ (AL)
TITANIC
Quanto ao texto Zombar de Deus Não é Bom Negócio [seção Em
Foco, edição 142], só quero
dizer que com Deus não se
brinca. Muitos se dizem ateus,
mas na verdade são pessoas à
toa, pois no fundo elas acreditam
que o Senhor é o Pai Todo
Poderoso.
Sarah
VIA INTERNET
LANNA HOLDER
Em relação à entrevista A Volta Depois da Queda [edição 130],
é evidente que a pregadora,
no auge de sua carreira, não
frequentava
igrejas. A queda
é difícil, assim
como também é
difícil o levantar,
pois a igreja
humana não está
preparada para
perdoar e sim
para condenar.
Isso é lamentável,
porque eu sei
que na vida
dela ficou uma
ferida exposta,
mas sei também
que o arrependimento vem do
coração. E maior é o que habita
no perdão do que na injustiça.
Não estou fazendo defesa
do pecado de quem quer que
seja, simplesmente penso que,
dentro das famigeradas igrejas
evangélicas, há um mundaréu de
pessoas que erram todos os dias,
mas não tem coragem de assumir
por estarem presos a cargos
operacionais e eclesiásticos.
Não conheço pessoalmente a
missionária,
mas ninguém
pode condená-la
pelos erros do
passado; isso só
cabe ao dono da
vida. E no mais,
o único pecado
para o qual não
há salvação é a
blasfêmia contra
o Espírito do
Senhor.
Itaguaci
GUARULHOS
(SP)
Eu sabia que um dia a missionária
iria ser totalmente restaurada para
a glória do Senhor. Afinal, ela é
muito especial para Deus.
Aparecida
DOURADOS (MS)
BRÁULIA
RIBEIRO
Não poderia
expressar de forma
melhor o que
senti diante das
palavras contidas
no artigo Amor ou Farisaísmo?
[coluna Contexto,
edição 130]. Lindo
e verdadeiro. Às
vezes, até mesmo
sem querer, temos
negligenciado a fé em Cristo por
um farisaísmo mais moderno. Dou
graças ao Senhor pela cruz e pelo
espírito que tem me incomodado e
incomodado a essa geração, para
que assim possamos mudar esse
quadro, viver em amor e levar
mais almas para o Reino de Deus.
Daniela dos Santos Casais
RIO DE JANEIRO (RJ)
RELIGIÃO
Em relação ao assunto focado
na matéria Torre de Vigia Sob Suspeita [edição 139], a 1ª Câmara
Criminal decidiu,
por unanimidade,
conceder a ordem
para trancar
a ação penal.
“Não vislumbro,
na escusa ao
trato cotidiano,
qualquer forma
de discriminação,
impedimento ou
obstacularização.
Há, sim, uma
escolha por
adeptos de credo religioso que,
errado ou certo, apregoam a
indiferença diante daqueles que,
antes irmanados, abandonaram a
crença, o que lhes parece lógico,
pois resultante de interpretação
da Bíblia Sagrada. Gostemos ou
não, isso faz parte da liberdade
de culto, sacramentada
constitucionalmente. Levar
a conduta ao patamar de
ilicitude penal me parece
demasiado. Ressalte-se que a
vítima, em nenhum momento
do inquisitório, acusou os
pacientes, preferindo generalizar,
afirmando que a discriminação
era incentivada pelos dirigentes
da aludida religião em todo
o país”, afirmou o relator do
processo, o desembargador
Francisco Pedrosa Teixeira.
Portanto, caso encerrado.
Anônimo
VIA INTERNET
Achei a matéria excelente.
As palavras saltam de uma
maneira incrível, fazendo com
que aqueles que o leem fiquem
muito mais informados sobre
o assunto do que se poderia
imaginar. Tal técnica é para
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poucos, e é esse tipo de texto
que faz o jornalismo no país
mais eficaz.
Carlos Alex
MORADA NOVA (CE)
SAÚDE
Li a matéria
Feridas no Corpo, Marcas na Alma [edição 126] e me
encontro muito
sensibilizada
pelos
acontecimentos a
respeito da lepra,
tanto pelo que
acontecia nos
primórdios da era
cristã como na atualidade.
Tatiane Cristina
VIA INTERNET
SOCIEDADE
Quero traçar meu comentário
sobre a matéria Alienados, Não! [edição 130]. Concordo
que costume não é doutrina
e não leva ninguém para o
céu, mas defendo também
que uma mulher que serve a
Deus não deva ficar andando
de minissaia ou usar roupas
muito curtas nas igrejas.
Não devemos nos considerar
fanáticos por aderirmos aos
costumes, nem desviados por
usarmos bermudas e calças
jeans, pois um servo de Deus
exterioriza seus frutos do
coração. Os crentes podem ser
tão elegantes, cultos e finos,
mas que cada um o faça com
temor a Deus para que não
caia em nenhuma armadilha do
inimigo. Eu sou assembleiana
e me considero culta, mas não
causo uma revolução por isso
ou aquilo, e nem descrimino o
tradicionalismo. Afinal, com ou
sem costume, acima de tudo está
a doutrina da Palavra de Deus.
Daniela Lucas
RIO DE JANEIRO (RJ)
MOTIVAÇÃO
ESPIRITUAL
Muito interessante
a matéria Fé Com Algo Mais [edição 123]. Num mundo
globalizado e
competitivo,
às vezes nos
deparamos com
nossa própria
desmotivação.
Armanda Cardoso
VIA INTERNET
LENDAS
URBANAS
Procurando na
internet por
alguma coisa
a respeito
do bebê-
diabo, acabei
encontrando
esse texto
– matéria Estão Dizendo por Aí [edição 132]. Estou me
formando em
jornalismo e esse caso foi tratado
em sala de aula por um professor
que nos contou toda a história do
extinto jornal Notícias Populares.
Andressa
SÃO PAULO (SP)
AÇÃO SOCIAL
Quero agradecer de todo o
coração pelo carinho, força e
atenção que recebi da direção da
creche do Centro de Educação
Infantil (CEI) Erik Gunnar
Eriksson, citada na matéria Uma
Esperança que Brilha [edição 127]. No momento mais difícil
pelo qual estava passando,
a atenção da direção e dos
professores atribuída ao meu filho
me deixa eternamente grata.
Miriam Barrozo
SÃO PAULO (SP)
QUALIDADE EDITORIAL
É com muita satisfação que
escrevo mais uma vez para
parabenizá-los por essa revista
abençoada, que tem sido um
bálsamo na minha vida. Há alguns
dias eu estava falando com meu
pastor, e ele ficou maravilhado
com o conteúdo da publicação.
Novamente, agradeço a todos.
Di Pereira
GUARULHOS (SP)
Eu não conhecia a
revista ECLÉSIA,
até que há algumas
semanas passei numa
banca e a vi exposta.
Dei uma folheada
rápida e, de súbito,
interesse-me pelo
conteúdo. Assuntos
interessantes, artigos
muito bem escritos
e, acima de tudo,
imparcialidade
no conteúdo das
reportagens. Parabéns a todos da
equipe.
André Guilherme
ASSIS (SP)
PARA COMENTAR AS
MATÉRIAS DE ECLÉSIA:
1 – Pelo site: www.eclesia.com.br
2 – Por carta: Revista Eclésia
(Rua Pedro Vicente, 90 –
01109-010 – São Paulo SP
3 – Por e-mail:
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12
E M F O C O
Procura-se
uma igreja Craque Kaká, do Real Madrid, não é mais membro da Igreja Renascer
Separação amigável: Kaká e esposa se despedem da igreja sem revelar motivos
DIVULGAÇÃO
Em 2005 eles trocaram
alianças na sede da
Igreja Renascer em
Cristo, em São Paulo, sob as
bênçãos do apóstolo e amigo
Estevam Hernandes. Agora,
cinco anos depois, o jogador
Kaká, craque do Real Madrid,
e sua esposa Caroline Celico
não são mais membros da
denominação – há pouco mais
de um ano, durante um culto
realizado nos Estados Unidos,
Caroline chegou a anunciar a
intenção de abrir uma célula da
igreja em Madri, na Espanha.
A confirmação foi divulgada
no começo de dezembro,
sem detalhar os motivos do
desligamento. De acordo com
a coluna Zapping, do jornal
Agora, as razões podem estar
ligadas a “descontentamentos
administrativos”. Nos últimos
anos a imagem da Renascer
esteve atrelada mais a páginas
policiais do que, propriamente, a
questões religiosas; primeiro, o
imbróglio dos fundadores, o casal
Estevam e Sônia Hernandes, com
a Justiça Federal, pela tentativa
de entrada nos Estados Unidos
com dólares não declarados; dois
anos depois, o desabamento do
teto da sede da denominação, em
São Paulo, resultando na morte de
nove pessoas e deixando dezenas
de feridos.
Mais do que fiéis comuns,
Kaká e Caroline Celico eram
participantes ativos dos principais
eventos promovidos pela
denominação, como a tradicional
Marcha para Jesus. De acordo
com a assessoria de imprensa da
igreja, a amizade entre o jogador e
os líderes continua
a mesma. Diante
disso, entende-se
que tenha sido uma
separação amigável
e não litigiosa.
Agora, a empresária
e sogra do jogador,
Rosangela Lyra,
tem feito lobby
para levar o genro
à Igreja Católica.
Faz sentido;
afinal, assim como
qualquer time do
mundo gostaria
de contar com seu
futebol, qualquer
igreja também
o receberia de
braços abertos.
(José Donizetti
Morbidelli)
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TV para todos os credos Além da católica e evangélica, outras religiões
também poderão ter espaço na grade de programação da rede pública do governo
Criada no fi nal de 2007 e gerida pela
Empresa Brasil de Comunicação
(EBC), a TV Brasil tem como propósito
primordial oferecer uma programação
independente e democrática ao povo
brasileiro. Contudo, não era bem isso
o que vinha acontecendo em relação
ao conteúdo de natureza religiosa,
tanto que o Conselho Curador da EBC
acenou com a proposta de tirar do ar
os programas católicos e evangélicos
veiculados pelo canal de televisão e
pelas emissoras de rádio que compõem
a rede pública do governo. Apenas
acenou, pois o tema religião não deverá
ser totalmente banido, mas ampliado de
maneira a atender a todas as confi ssões.
Em audiência pública realizada em
dezembro na cidade de Belo Horizonte
(MG), Tereza Cruvinel, presidente da
EBC, afi rmou que, caso os curadores da
campanha decidam pela permanência
dos programas católicos e evangélicos,
irá apresentar uma proposta que garanta
a outras religiões o mesmo direito.
“Hoje, de fato, só temos programas
católicos e evangélicos, mas em minha
opinião todas as religiões devem ter
expressão na TV pública. Na próxima
reunião quando o conselho retomar
o debate, a TV Brasil vai apresentar
uma proposta de ampliar o papel das
religiões”, disse. Se não houver um
novo adiamento, a decisão deverá sair
no próximo encontro, marcado para 15
de fevereiro. (JDM)
TEREZA CRUVINEL, PRESIDENTE DA EBC:
“Todas as religiões devem ter expressão
na TV pública”
DIVULGAÇÃO
Pela salvação do “baú” Com a crise do Banco Panamericano, igrejas evangélicas
fi nalmente veem possibilidades de entrar no SBT
PARA REFORÇAR SEU “BAÚ”, Sílvio Santos pode vender espaços em sua emissora para igrejas evangélicas
A crise fi nanceira por que passa
atualmente o Grupo Sílvio
Santos, desencadeada depois da
descoberta de um rombo contábil
de mais de R$ 2,5 bilhões no Banco
Panamericano, está fazendo com que
o empresário-apresentador reveja
seus conceitos administrativos e
abra negociações com líderes de
igrejas evangélicas, que há tempos
aguardam por uma oportunidade
para entrar na programação do
SBT. A própria assessoria da
emissora admitiu o interesse de
algumas denominações, embora
não tenha divulgado os nomes; o
que se cogita, no entanto, é que
a Igreja Internacional da Graça,
do missionário RR Soares, e a
Universal, de Edir Macedo, estejam
entre elas. Outro que também
estaria interessado é o pastor Silas
Malafaia, que até já se reuniu com
a direção do grupo. Ninguém, no
entanto, confi rma a informação. As
expectativas são grandes, sobretudo
pelo fato da emissora paulista ser,
hoje, a única que não traz em sua
grade nenhum programa de caráter
religioso – a Rede Globo não negocia
seus horários, mas apresenta a missa
católica nas manhãs de domingo.
Longe da salvação do “baú” estar
depositada nas mãos dos evangélicos,
mas, caso as especulações se
confi rmem, bem que os crentes
poderão dar uma mãozinha para
abafar a crise. (JDM)
DIVULGAÇÃO
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Um pastor em
La Bombonera
FÉ CRISTÃ E PAIXÃO POPULAR: ingredientes não faltam para tirar
Boca Juniors da crise
Tradicional clube do futebol
mundial, o Boca Juniors já
conquistou praticamente
tudo o que um time pode almejar:
Campeonato Mundial, Taça
Libertadores da América, Copa e
Recopa Sul-Americana, Campeonato
Argentino, enfi m, sem falar que
sua torcida está entre as mais
fanáticas e participativas de todo
o mundo. Só que, de uns tempos
para cá, as coisas não têm andado
muito bem para o clube portenho
e, diante dos constantes resultados
ruins que o time tem amargado,
a direção resolveu recorrer até
mesmo a um pastor evangélico
na tentativa de espantar de vez a
crise que ronda a La Bombonera
– nome pelo qual é conhecido seu
estádio. A incumbência de zelar
pelo lado espiritual dos atletas é do
pastor Juan Bosso, amigo de um
dos auxiliares do treinador Claudio
Borghi. E sempre que requisitado, as
orações do religioso parecem surtir
resultado; pelo menos foi assim
quando ele visitou o clube pela
primeira vez – na ocasião, o Boca
Juniors bateu o Vélez Sarsfi eld por
2x1, numa das melhores partidas do
time no campeonato. (JDM)Pastor evangélico é convocado para
tentar espantar crise do mais
tradicional time de futebol argentino
DIVULGAÇÃO
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Pela saúde do corpo e da alma Igreja Universal, do bispo Edir Macedo
(foto), pode ser a salvação para
tradicional hospital privado de São Caetano
Uma baita crise administrativa e
fi nanceira custou, em meados do
ano passado, a rescisão do contrato de
gestão que o Hospital Brasil, de Santo
André, mantinha com o Hospital São
Caetano, uma das mais tradicionais
casas de saúde privadas da Grande
São Paulo. Agora, mergulhado em
problemas e com um passivo que
gira em torno de R$ 150 milhões
– conforme matéria publicada na
época pelo jornal Diário do Grande
ABC –, quem parece como eventual
salvador da instituição é a Igreja
Universal do Reino de Deus (Iurd),
do bispo Edir Macedo. Fechado
desde agosto, ainda não há qualquer
data defi nida para a reativação do
estabelecimento, mesmo porque nada
pode ser decidido antes que eventuais
negociações sejam sacramentadas.
Detentor do maior número de leitos
para atendimento de pacientes pelo
Sinstema Único de Sáude (SUS) e
bem avaliado pelos paranaenses por
sua gestão administrativa, o Hospital
Universitário Evangélico, mantido
por uma entidade cristã – a Sociedade
Evangélica Benefi cente de Curitiba
– pode ser um bom exemplo a ser
seguido pela Universal, caso as
negociações realmente se confi rmem.
Enquanto isso, os pacientes aguardam
“pacientemente”; muitos na
expectativa de uma transformação,
tanto física quanto espiritual. (JDM)
HOSPITAL EVANGÉLICO DE CURITIBA: bom exemplo de instituição gerida por entidade cristã
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Proteção
à vida Deputados evangélicos
se reúnem com presidente da Câmara para exibir reabertura da CPI sobre aborto clandestino, assinada
em 2008
Liderados pelo delegado de polícia
e deputado federal João Campos
(PSDB-GO), parlamentares da bancada
evangélica estiveram reunidos, no mês
de novembro, com o presidente da
Câmara dos Deputados, Michel Temer,
para cobrar a abertura da Comissão
Parlamentar de Inquérito para
investigação do aborto clandestino.
Assinada em 2008, pelo então
presidente Arlindo Chinaglia depois
de denúncias feitas pelo ministro
da Saúde, José Gomes Temporão, a
um programa de entrevistas sobre a
existência do comércio clandestino
de substâncias abortivas e da prática
do aborto no país, o trabalho foi
interrompido devido a uma série de
divergências. De acordo com João
Campos, que também é pastor da
Assembleia de Deus em Goiânia, a
abertura do debate deve ser imediata
para consolidar medidas de proteção
à vida. Contudo, como a Câmara
dos Deputados entrou em período de
recesso no fi m do ano, as discussões
sobre a CPI devem ser retomadas
somente em 2011. Até lá milhares de
abordos clandestinos ainda devem ser
realizados pelo país, e muitas mulheres
levadas à morte. (JDM)
PASTOR E DEPUTADO FEDERAL, João Campos pede abertura imediata da CPI do aborto clandestino
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Convertido desde 2004, líder da banda de rock Megadeth rejeita rótulo
de cristão e critica falso moralismo
Em entrevista à revista californiana
San Francisco Bay Guardian, o
roqueiro Dave Mustaine – vocalista e
guitarrista da banda Megadeth – não
poupou críticas a alguns cristãos que,
segundo ele, estão mais preocupados
em controlar a vida alheia com
falsos moralismos do que cuidar
de suas atividades religiosas. “Eu
realmente tenho muitas difi culdades
em dizer que sou cristão, porque
muitos são absurdamente hipócritas
e acabam com a imagem e o nome
do cristianismo”, cravou o músico,
quase que com a mesma força dos
acordes de sua guitarra. É por isso que
o metaleiro, que diz ter se convertido
há cerca de sete anos, rejeita rótulos
e prefere proclamar a fé à sua própria
maneira; um tanto peculiar para quem
Hipocrisia
na igreja?
sempre cultivou uma imagem mais
para o lado “demoníaco” do que para
o “divino”. “Eu acredito em Deus
e em Jesus cristo, e isso é tudo”,
sacramenta, ao mesmo tempo em
que defende que um pouco de magia
negra de vez em quando não vai matar
ninguém. (JDM)
DAVE MUSTAINE: “MUITOS cristãos são absurdamente hipócritas”
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18
MARCOS STEFANO
Tremor no Haiti:
de avivamento Tenente-coronel
e capelão do Exército
brasileiro, o pastor Walter Pereira de Mello fala
sobre os trabalhos evangelísticos e
da experiência em compor a missão de paz liderada
pelo Brasil, no Haiti
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Como seria bom se
certas datas fossem,
subitamente, apagadas da
memória coletiva; mas esquecer,
especialmente para os haitianos,
do terremoto sem precedentes
que praticamente devastou o
país mais pobre do continente
americano e fez milhares de
milhares de vítimas – estima-se
que o número de mortos tenha
chegado a 300 mil –, é algo que
foge completamente do controle
humano; principalmente porque,
agora em janeiro, a tragédia
completa seu primeiro ano.
Não bastassem as ocorrências
naturais – pela localização
geográfica da Ilha de Santo
Domingo, da qual o Haiti faz
parte, a ameaça de furações
é constante –, atualmente
o país sofre também com o
surto generalizado do cólera,
epidemia que já chegou à
capital Porto Príncipe, onde
vivem cerca de 2, 4 milhões de
haitianos – a grande maioria em
condições precárias de saúde e
saneamento. Diante de tantos
infortúnios, melhor então tentar
focar as atenções nas “coisas”
boas e nas lições que ficam
em decorrência das tragédias,
como a ajuda humanitária
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“Apesar de curto, o tempo que permaneci
distante da genuína comunhão
com Deus foi sufi ciente para
entristecer em muito o coração dos meus pais”
internacional; a mobilização
generalizada engajada na
reconstrução do país; a
missão de paz promovida pela
Organização das Nações Unidas
(ONU), liderada pelo Brasil e
que perdura há mais de seis anos;
enfim, em atos que demonstram
o quanto o ser humano pode, e
deve, solidarizar-se para com o
próximo, independentemente de
raça, etnia ou religião.
“Amarás ao Senhor teu Deus
de todo o teu coração, e de
toda a tua alma, e de todas as
tuas forças, e de todo o teu
entendimento, e ao teu próximo
como a ti mesmo”. Natural
de Duque de Caxias (RJ), o
pastor serve o Comando Militar
do Planalto (CMP) desde
2007 e, atualmente, integra
o 13º Contingente Militar da
Missão das Nações Unidas
para a Estabilização do Haiti
(MINUSTAH) – ele é o segundo
pastor evangélico a participar
da missão, já que nos últimos
anos os aconselhamentos e
acompanhamentos às tropas
eram realizados, quase que
exclusivamente, por padres
católicos. “Apesar das
significativas carências e
desafios, considero muito
positivo o trabalho da
MINUSTAH e, em particular,
das tropas brasileiras. Basta
lembrarmos que o país vivia
dominado pela violência e
pelo terror das gangues e, a
partir de 2006, foi pacificado
graças à ação mais efetiva do
governo haitiano, da ONU, das
ONGs e da ajuda humanitária
internacional”, antecipa.
Teólogo e mestre em Ciências
da Religião pela Pontifícia
Universidade Católica de Goiás
(PUC-GO), o militar é também
membro da Igreja Presbiteriana
do Brasil (IPB) e até maio do
Tenente-coronel e capelão
do Exército brasileiro, Walter
Pereira de Mello é um desses
homens que, além da motivação
solidificada pela fé cristã,
também traz dentro de si a
aptidão do comprometimento
assistencial; afinal, a própria
Bíblia diz em Lc 10.27:
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20
ano passado, pouco antes de
embarcar para o Haiti, compôs
o quadro de pastores da Igreja
Presbiteriana Nacional (IPN),
em Brasília, onde reside sua
família – a esposa Marta, as
filhas Évelin e Érika, e o genro
Bruno Tavez, por ele tido como
um filho. “São mais de 28
anos de casado, e sinto muitas
saudades da minha família, que
me incentiva, apoia e ora para
que a missão a mim confiada
seja cumprida com êxito”,
agradece.
Em entrevista exclusiva à
ECLÉSIA, diretamente de Porto
Príncipe, onde está fixada a Base
General Bacellar, sede do 1º
Batalhão de Infantaria de Força
de Paz (BRABATT 1/13), o
pastor apresenta um quadro geral
do país que, aos poucos, vem
sendo reconstruído, tanto social
como politicamente. Fala ainda
sobre a importância do trabalho
dos capelães evangélicos,
da satisfação de fazer parte
da missão de paz e de poder
testemunhar, mesmo diante de
tantos problemas, o tremor de
um intenso avivamento espiritual
numa região praticamente
renascida das cinzas – no caso
do Haiti, talvez seja mais
apropriado: salvo das águas.
Qual é o resumo que você
faz da sua vida – em todos os
aspectos – antes e depois de
se tornar pastor e capelão
militar?
Eu nasci num lar evangélico em
maio de 1960. Fui matriculado
no berçário da Igreja Metodista
de Mantiquira, em Duque de
Caxias (RJ), com um mês de
idade e batizado lá mesmo.
Sou filho de uma família
simples e tive bons amigos
na adolescência, mas que à
época não tinham qualquer
compromisso com Deus.
Isso me levou a afastar das
atividades da igreja e a buscar
as experiências mundanas no
namoro, nos usos e costumes,
até ser visitado pelo jovem
evangelista Silas da Silva
Corrêa, que me regou
novamente com a Palavra.
Apesar de curto, o tempo
que permaneci distante
da genuína comunhão
com Deus foi suficiente
para entristecer em muito
o coração dos meus pais
que, em momento algum,
deixaram de orar e esperar
pelo meu retorno. Uma coisa
ficou muito clara ao longo
do tempo: que o Senhor
nunca se esqueceu de mim.
Ele me livrou dos pecados
mais graves – se é que podemos
mensurar pecados pelo tamanho
– e guardou a minha vida para
uma verdadeira conversão
a seu serviço. Acredito que
tudo foi fruto de sua eterna
misericórdia e das orações
de meus pais que sempre me
amaram intensamente. Hoje,
com maior experiência de
vida, eu olho para trás e vejo
que a partir do dia da minha
conversão pessoal tudo mudou
para muito melhor: Deus me
encaminhou profissionalmente,
deu-me a mulher da minha vida,
duas filhas e, mais tarde, um
genro, que eu tenho como um
filho do coração. Mas, acima de
tudo, deu-me a capacidade de
entender e pregar o Evangelho
da salvação a toda criatura.
Qual é a sua ligação com a
Associação Pró-Capelania
Militar Evangélica do Brasil
(ACMEB), de Brasília?
Tenho o privilégio de fazer
parte do nascimento da ACMEB
e hoje, com muita alegria,
sou um dos associados. A
associação era um sonho antigo
de se ter um meio de integração
das igrejas evangélicas que
possuem capelães pastores nas
Forças Armadas, na Polícia
e Bombeiros Militares de
todo o Brasil. Atualmente, a
ACMEB cumpre esse papel e é
“A assistência aos militares do segmento evangélico
era um anseio mútuo, do
rebanho em missão de paz e dos pastores
capelães”
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reconhecida pelo Ministério da
Defesa. Com orgulho, eu posso
dizer que sou parte integrante
dessa história.
Liderada pelo Brasil, a
missão de paz promovida
pela Organização das Nações
Unidas (ONU) no Haiti
completou seis anos em junho
de 2010. Como você analisa
esse trabalho e como foi que
se integrou à missão como
capelão?
Apesar das significativas
carências e desafios, considero
muito positivo o trabalho da
Missão das Nações Unidas
para a Estabilização do Haiti
(MINUSTAH) e, em particular,
das tropas brasileiras. Basta
lembrarmos que o país vivia
dominado pela violência e
pelo terror das gangues e, a
partir de 2006, foi pacificado
graças à ação mais efetiva do
governo haitiano, da ONU, das
ONGs e da ajuda humanitária
internacional. É evidente que
os avanços não caminham na
velocidade que gostaríamos,
uma vez que as demandas
são enormes. Esses anos
representam 12 contingentes
de 6 meses cada; e, somente o
primeiro, em 2004, contou com
a participação de um pastor
capelão – o major Ivan Xavier.
A assistência aos militares do
segmento evangélico era um
anseio mútuo, do rebanho em
missão de paz e dos pastores
capelães. Assim, após a
insistente apresentação desses
anseios aos órgãos militares
competentes, verificou-se a
real necessidade da presença de
um pastor evangélico no Haiti.
Então, eu me voluntariei e fui
selecionado para a missão, razão
pela qual estou aqui e muito
feliz por sinal.
Quando você chegou ao
Haiti, e quando terminam os
trabalhos do 13º Contingente?
Cheguei em Porto Príncipe em
31 de julho de 2010, e tenho,
como previsão de retorno, o dia
29 de janeiro de 2011. Isso, se
Deus permitir.
Qual é o retrato sociopolítico e
religioso do país atualmente?
Do ponto de vista social, o Haiti
possui grandes desafios a serem
enfrentados, como por exemplo:
levar água tratada à população,
coleta sistemática de lixo,
moradia, sistema de esgoto e
educação. A situação, que já era
delicada antes, agravou-se ainda
mais após o terremoto de janeiro
de 2010, que fez mais de 250
mil vítimas fatais. No entanto, o
governo, com o apoio da ONU
e da comunidade internacional,
tem envidado esforços para
reverter esse quadro. Quanto à
política, a partir da escolha do
novo presidente o país deverá
lançar as bases para o processo
de reconstrução. Em relação à
religião, sobretudo no campo
evangélico, cada vez mais o
povo tem experimentado um
avivamento espiritual muito
forte e bonito, com igrejas
constantemente lotadas e
pessoas em genuína adoração
ao Senhor.
“O povo tem experimentado um avivamento espiritual muito forte e bonito,
com igrejas constante-
mente lotadas e pessoas
em genuína adoração ao
Senhor”
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Há muitos missionários e
pastores evangélicos atuando
no país ou participando da
missão de paz?
Tenho mantido contato
permanente com missionários
brasileiros, americanos,
chilenos, colombianos e de
outras nações. Muitos países,
em especial o Brasil, têm
enviado missionários para
evangelizar, reconstruir templos,
ajudar nas escolas, orfanatos e
a todos que se encontram em
dificuldades. Dentro da base
militar, temos muitos diáconos,
presbíteros, evangelistas e
colegas pastores, que, sem
perder o foco das funções a que
foram designados, colocam-se
como verdadeiros missionários
em terras estrangeiras. Além de
lutarem nas áreas administrativas
e participarem das operações
militares, eles lideram os
núcleos de soldados evangélicos
organizados nas diversas
unidades do nosso contingente
e, quando autorizados, visitam
igrejas e instituições de apoio às
famílias carentes.
Como é o relacionamento dos
evangélicos com membros de
outras confissões religiosas?
De harmonia, numa visão única
de reconstrução da paz e da vida
social do povo haitiano.
Quais as maiores dificuldades
enfrentadas por um estrangeiro
num país que está praticamente
sendo reconstruído, não
somente nas questões religiosas,
mas num sentido geral?
Apesar de simples, nossa base
militar é muito segura, estável
e dispõe de todos os meios para
uma vida saudável, tanto na
área física quanto emocional
e espiritual. Contudo, os que
dependem do meio civil se
deparam com a precariedade
do transporte urbano, das
acomodações em hotéis e de
alimentação, haja vista que, em
grande parte da cidade ou do
país, falta energia elétrica, água
encanada, rede de saneamento
público etc.
Após o terremoto de janeiro
de 2010, as estratégias da
força-tarefa brasileira
parecem ter mudado um
pouco de foco: enquanto
muitos soldados estão
retornando, engenheiros
engajados na reconstrução
das cidades e religiosos com a
incumbência de cuidar do lado
espiritual das tropas, estão
embarcando para o Haiti. O
que você pode dizer sobre
isso?
Na verdade, há um número
exato de militares estipulado
pelas Nações Unidas para
compor as tropas da missão de
paz. Entre elas, as brasileiras
que, em virtude do terremoto,
contam com a participação
de mais um Batalhão de
Infantaria de Força de Paz – o
“Somente uma verdadeira
aproximação com Deus
pode manter ou trazer novos
princípios éticos, morais e espirituais
a toda e qualquer pessoa,
independente do credo ou da
nação a que ela faça parte”
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BRABATT 2 –, para reforçar
as atividades de segurança,
que é o objetivo precípuo da
nossa tropa. Contudo, dada às
necessidades pós-terremoto,
foram desenvolvidas atividades
emergenciais de ajuda
humanitária, isso sem perder
de vista a missão principal que
permanece até hoje, ou seja,
gerar e manter um ambiente
seguro e estável em nossa área
de responsabilidade dentro
do país. Desde o início da
missão contamos com o apoio
da Companhia de Engenharia
de Força de Paz, que tem a
incumbência de cumprir as
demandas da MINUSTAH,
como manutenção de vias e
pontes, reparação de edificações,
perfuração de poços artesianos,
abastecimento de água e outras
áreas específicas de engenharia.
E, quanto aos religiosos, cada
batalhão traz um capelão – um
padre para um e um pastor para
outro – para que, assim, haja
uma coordenação no atendimento
e todos sejam assistidos em
suas respectivas necessidades
espirituais. Especificamente, o
BRABATT 1/13, que é o meu
batalhão, foi privilegiado com a
presença de dois capelães.
Como foi a passagem do
furacão Tomas, e como o país
está se preparando diante da
constante ameaça de novas
tempestades tropicais?
Embora a temporada de
furações já tenha passado, posso
dizer que foi uma experiência
marcante. Dias antes da possível
chegada dele a Porto Príncipe,
fui chamado por uma de nossas
autoridades militares que me
disse: “Capelão, mande seu
povo orar, porque o Tomas está
vindo aí e a coisa está feia”.
Muitos oraram na base, nas
igrejas e também no Brasil;
e ele realmente chegou bem
perto, mas mudou de rumo e
foi embora sem trazer nenhuma
consequência mais grave. Certo
mesmo é que Deus atendeu à
oração do seu povo.
E quanto ao surto do cólera?
Conforme mencionado antes,
o Haiti tem uma infraestrutura
social e econômica bastante
debilitada, o que acarreta em
condições não desejáveis de
higiene e saneamento básico.
A falta de acesso pleno à água
tratada, aos serviços de coleta
de lixo e a um adequado sistema
de esgoto tem contribuído
para deixar a população,
especialmente as crianças e
idosos, mais vulneráveis ao
surto de doenças como o cólera.
O que não falta, no entanto, é
empenho da MINUSTAH e do
governo para controlar esse
quadro.
Em sua opinião, no que a
religião pode, efetivamente,
contribuir nesse processo de
reconstrução e restauração da
ordem social por que passa o
Haiti?
Entendo que somente uma
verdadeira aproximação com
Deus pode manter ou trazer
novos princípios éticos, morais
e espirituais a toda e qualquer
pessoa, independente do credo
ou da nação a que ela faça
“O soldado brasileiro tem uma
característica própria que facilita em muito sua
interação com a população, e consegue transmitir
confi ança e sinceridade
nas suas ações”
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parte. Eu tenho visto isso com
meus próprios olhos, pois embora
não estivesse aqui antes desse
grande movimento de conversão
e avivamento pós-terremoto, ouço
constantemente que o povo está
mudando para melhor a partir
dessa comunhão.
Como os brasileiros são vistos
pelos haitianos?
Amados até o fundo do coração,
bem vistos e bem quistos em
todos os locais. O soldado
brasileiro tem uma característica
própria que facilita em muito
sua interação com a população,
e consegue transmitir confiança
e sinceridade nas suas ações.
Entre as várias virtudes, destaco a
cordialidade, a solidariedade e o
profissionalismo.
Por ser pastor, provavelmente
sua atividade é motivada
também por uma causa
evangelística. Como é realizado
esse trabalho?
Por princípios básicos da
capelania militar, toda atividade
evangelística deve ser realizada
com muita prudência e
espiritual daqueles que
já possuem uma vida de
compromisso com Deus.
Além dos soldados
brasileiros, suas ações
evangelísticas também se
aplicam ao povo haitiano?
Como eles as recebem?
Nossa atividade junto aos
haitianos se dá nas igrejas
evangélicas, nos orfanatos
ou, quando solicitado, em
eventos chamados de Ações
Cívico-Sociais (ACISO),
promovidos pelo batalhão
junto à comunidade local.
A receptividade é plena e
cheia de gratidão, como
também não é raro o pedido
de retorno.
Você pode relatar
alguma situação de grande, ou
extrema, dificuldade vivida até o
momento?
A distância da família é o que fala
mais alto; afinal são cerca de seis
meses longe de casa, incluindo
Natal, Ano Novo, aniversário
da esposa e outros momentos
especiais. Contudo, a visão
familiar é que todo esse sacrifício
vale a pena.
Há, atualmente, igrejas
evangélicas no país? Onde estão
concentradas, principalmente?
Há muitas, em todas as cidades.
Na área urbana da capital,
praticamente em cada rua há
uma igreja – às vezes, uma
ao lado da outra. E embora
várias delas tenham perdido
tudo com o terremoto, mesmo
assim as reuniões acontecem
sob tendas improvisadas com
os irmãos sentados em tábuas,
sem aparelhagem de som e sem
banheiros, mas cheios do poder de
Deus.
Por trabalhar o lado espiritual
e emocional dos soldados, você
chega às vezes a se envolver
“O fruto desse trabalho
tem sido de transformação e manutenção
espiritual daqueles que já possuem uma vida de
compromisso com Deus”
respeito à visão religiosa do
próximo. Porém, faço isso
permanentemente por meio do
testemunho pessoal, pregando
o mais puro e genuíno ensino
da Palavra de Deus, tanto
dentro como fora da base
militar. Claro, sempre que
possível e autorizado. O fruto
desse trabalho tem sido de
transformação e manutenção
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ou de uma missão dessa
natureza?
A de que podemos e devemos
fazer muito mais, ou seja, fazer
tudo que vier às nossas mãos
com amor e dedicação a Deus, às
pátrias envolvidas e ao próximo,
seja ele quem for.
Por fim, quais as perspectivas
futuras para o país e o povo
haitiano?
Há indicativos de que aos poucos
o Haiti está reagindo. O comércio
informal está funcionando, as
pessoas estão circulando livremente
nas ruas, o calendário escolar
está em execução e, embora com
limitações, o aeroporto e o porto
estão em atividade. Houve avanços
significativos com a realização,
em novembro, do primeiro turno
das eleições presidenciais (o segundo turno deve acontecer na segunda quinzena de janeiro). Tudo
transcorreu dentro de um clima
de relativa tranquilidade, graças
ao suporte da MINUSTAH, cujo
trabalho tem sido muito positivo,
embora ainda haja um longo
caminho a ser percorrido para a
reconstrução plena do país.
emocionalmente? Como
conciliar, nessas horas, razão
com emoção?
Isso vai além da técnica, é preciso
contar com a bênção para amar,
chorar e sorrir com quem é
assistido sem se deixar envolver
ao ponto de se desgastar. Em
contrapartida, Deus também nos
assiste, diretamente, ou então
enviando irmãos que nos servem
de amparo nas horas em que
precisamos aliviar nossas tensões
emocionais. É maravilhoso fazer
parte dessa família da fé.
Você pode compartilhar o
testemunho de algum soldado
brasileiro que tenha necessitado
de auxílio espiritual?
São muitos. Teve um relacionado
a um militar que perdeu o pai,
morador de uma cidade do Sul
do Brasil. Pela perda e também
pela impossibilidade de participar
do funeral, seu estado emocional
estava bastante abalado. Após
ouvi-lo atentamente e orar com
ele, nós o colocamos em contato
direto com alguns membros
de sua família, com os quais
também tivemos a oportunidade
de conversar. No dia seguinte,
o jovem soldado me procurou
para uma nova conversa: “Pastor,
ontem meu coração estava
completamente em pedaços de
tanta tristeza, mas depois que
o senhor orou comigo e com a
minha família pelo telefone, algo
diferente o encheu e eu senti
uma paz muito grande. Tenho
certeza de que Deus estava me
abençoando”, disse-me. Com
isso, mais uma vez eu pude
constatar e mostrar a ele que a
paz de Cristo excede todo o nosso
entendimento.
Qual é a maior motivação e qual
a avaliação que você faz do seu
trabalho como capelão?
Minha maior motivação é servir a
Deus e ao próximo como soldado
de Cristo e, durante esse tempo
que estou no Haiti, como soldado
da paz. Para mim, a presença
de um capelão no meio militar,
especialmente no cumprimento de
uma missão de paz como essa, é
de fundamental importância para
o bem-estar moral, emocional e
espiritual da tropa.
Qual é a lição ou o aprendizado
que fica diante de um trabalho,
“É preciso contar com a bênção
para amar, chorar e sorrir
com quem é assistido
sem se deixar envolver ao ponto de se desgastar”
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26
E VA N G E L I S M O
Apesar das difi culdades,
pastores e missionários
não abrem mão de evangelizar
em cidades historicamente enraizadas na
cultura e tradição católicas
Evangelismo
fulminante
JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI
Entre o fi m de outubro e início de
novembro, a cidade de Juazeiro
do Norte (CE) é praticamente
invadida por dezenas de milhares de
romeiros, que viajam léguas e mais
léguas, muitas vezes em condições
precárias, para prestar homenagens ou
pagar promessas ao padim Ciço, como é
chamado o maior ícone da fé católica na
região sertaneja. Para os devotos, pouco
importa se o Vaticano tenha ou não assi-nado sua beatifi cação; desde um supos-
to milagre – a transformação da hóstia
em sangue durante uma missa celebrada
há mais de cem anos –, a fama do pa-
dre Cícero Romão Batista se espalhou,
ultrapassando fronteiras e até mesmos
os limites da crença, transformando-
APARECIDA, JUAZEIRO DO NORTE E NOVA JERUSALÉM: forte infl uência católica não inibe o trabalho de evangélicos
RE
PR
OD
UÇ
ÃO
RE
PR
OD
UÇ
ÃO
RE
PR
OD
UÇ
ÃO
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27
o num verdadeiro fenômeno de
popularidade entre os nordestinos.
Religiosamente falando, Juazeiro do
Norte pode até ser o município mais
famoso da região, mas não é o único
fortemente ligado ao catolicismo.
Por ocasião das comemorações da
Semana Santa, a cidade-teatro de
Nova Jerusalém – região distrital de
Brejo da Madre de Deus – se torna
o maior atrativo histórico-religioso
do agreste pernambucano, a ponto
de, anualmente, atrair milhares de
turistas. Considerado o maior teatro
ao ar livre do mundo – uma réplica
da antiga Jerusalém dos tempos
bíblicos –, a encenação dos últimos
dias de Jesus é pomposa, tanto que
atores globais são convidados para
fazer parte do elenco. Bem mais
ao Sul, em 12 de outubro as ruas
de Aparecida, no Vale do Paraíba,
também fi cam apinhadas de católicos
para as comemorações do dia da padro-
eira – como eles proclamam. De acordo
com a Secretaria Municipal de Turismo,
o município de pouco mais de 40 mil
habitantes, chega a receber cerca de 10
milhões de visitantes por ano. O que,
no entanto, cidades como Juazeiro do
Norte, Nova Jerusalém e Aparecida têm
em comum, especialmente se analisa-
das por uma ótica evangélica? Todas se
classifi cam naquilo que alguns crentes
costumam chamar de praças ou regiões
estratégicas de evangelização em virtu-
de das difi culdades por eles enfrentadas
para transmitir a Palavra de Deus, como
se um escudo as protegesse da ameaça
de outras manifestações religiosas que
não a enraizada na doutrina
católica.
Como cautela e canja de
galinha não fazem mal a nin-
guém, na opinião de Rubens
Macedo Coutinho, líder da
Primeira Igreja Batista da
Convenção em Juazeiro do
Norte, evangelizar nesses
lugares requer um pouco
mais de cuidado e perspicácia. “Expor
a Bíblia de uma maneira meiga e clara
tem sido a abordagem mais efi caz, e a
conquista da amizade e da confi ança é
de fundamental importância, além do
respeito aos ‘vulgos’ religiosos sem ja-
mais criticá-los”, aconselha o pastor.
Sem fugir das responsabilidades
como evangelista numa cidade singu-
lar e com inúmeros desafi os a serem
enfrentados, como ele mesmo defi ne,
o religioso priva sempre por manter um
relacionamento de harmonia e respeito
com os líderes católicos locais, tanto
que, juntos, costumam discutir questões
práticas inerentes ao desenvolvimento
do município, sem levar em considera-
ção as crenças individuais. “Claro que
existe uma luta para manter o controle
religioso, uma pressão feita por familia-
res e também por certos líderes como se
a cidade fosse ‘propriedade’ de um seg-
mento específi co, mas eu não chamaria
isso de preconceito”, ameniza.
Já que, ofi cialmente, o Brasil é um
país laico – assunto que causa bastante
controvérsia, uma vez que a maioria dos
feriados nacionais tem respaldo na reli-
gião católica – e a liberdade de culto é
garantida pela Constituição Federal, nas
últimas décadas inúmeras igrejas evan-
gélicas têm se instalado em Aparecida,
como a Assembleia de Deus Ministério
Bom Retiro, de responsabilidade do
comerciante Alcir de Souza Siqueira,
que concorda em número, gênero e
grau com a opinião do pastor cearense
quanto aos métodos de evangelização,
mas afi rma não ter enfrentado nenhuma
difi culdade. “Quando eu fui transferido
para cá há mais de dezesseis anos, ainda
havia certa resistência em relação aos
evangélicos, mas hoje não há problema
algum”, afi rma com convicção, apon-
tando em números a efi cácia de seu
ministério. “Atualmente, contamos com
mais de 250 membros, dos quais 90%
são formados por ex-católicos. É um
lugar abençoado para pregar o Evange-
lho, e eu me dou muito bem com isso”,
comemora.
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IMPACTOS EVANGELÍSTICOS DA JOCUM têm alcançado milhares de pessoas em Juazeiro
ANDERSON ARAÚJO (AO LADO DA ESPOSA):
“Nosso foco é transmitir o amor de Deus”
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Sediada em Guaratinguetá, também
no Vale do Paraíba, em meados do ano
passado a Igreja Evangélica Assem-
bleia de Deus do Pedregulho inaugu-
rou uma célula praticamente colada
ao Santuário de Aparecida, mas, antes
que a iniciativa seja julgada como pro-
vocativa e possa fomentar as discus-
sões entre evangélicos e católicos na
região, o pastor Patrício Roberto Araú-
jo adianta que a ideia partiu da própria
cúpula da igreja e contou até mesmo
com a aprovação do bispo local. “É um
sinal de tolerância entre religiões dis-
tintas que possuem em comum a fé em
Deus e em Jesus Cristo”, sacramenta.
Representantes católicos afi rmam que,
independente da crença, a instalação
do templo coloca as duas religiões
em contato mais íntimo. Além disso,
enquanto os fi éis católicos se dirigem
à Basílica, seus cônjuges evangélicos
podem participar das celebrações no
templo protestante. “Uma obra dessas
não tem a ver somente com a fé. Ao
fi m, eles se reencontram e seguem seus
caminhos”, defendem, em condição de
anonimato.
Impactos evangelísticos – Com um
forte trabalho no interior nordestino,
a Jocum-Cariri, de Crato (CE), tem
realizado constantes campanhas mis-
sionárias – batizadas de “impactos
evangelísticos” – em áreas carentes
de orientação cristã, como defi nem os
missionários. “Nosso foco é transmitir
o amor de Deus ao povo por meio de
diversas manifestações artísticas e so-
ciais”, explica o diretor de evangelismo
Anderson Araújo da Silva. A mais re-
cente empreitada dos jocumeiros locais
aconteceu entre os dias 28 de outubro e
2 de novembro, justamente na vizinha
Juazeiro do Norte, quando um exército
de missionários se misturou aos milha-
res de romeiros durante a tradicional
peregrinação.
Distribuição de água e comida,
apresentação de peças teatrais, concen-
trações noturnas em praças públicas,
músicas de louvor no melhor estilo do
sertão, além, é claro, de pregações; ali
vale tudo para atrair a atenção dos ro-
meiros. “Contamos com mais de 350
voluntários, entre brasileiros e estran-
geiros”, alegra-se o missionário.
Como a grande maioria dos devotos
não dispõe de condições sufi cientes se-
quer para suprir os gastos com alimen-
tação e hospedagem, não há católico
que recuse uma ajudinha humanitária,
mesmo que camufl ada por motivos
evangelísticos. Com isso, ano após ano
os resultados têm sido mais expressivos
e animadores. “De tão intenso, o nosso
trabalho já alcançou mais de 20 mil
Aparecida – O Milagre Com direção da cineasta
nipo-brasileira Tizuka Yamasaki, no mês de dezembro estreou nos cinemas brasileiros o fi lme Aparecida – O Milagre, protagonizado por Murilo Rosa e Maria Fernanda Cândido. No roteiro, a história de um empresário bem-sucedido, mas que entra em crise existencial depois que o fi lho, com o qual mantém uma relação não muito amistosa, sofre um grave acidente. As circunstâncias o levam a rever certos conceitos e retomar às suas origens humildes, cujas lembranças o remetem à mãe, uma fervorosa devota de Aparecida.
Para Gláucia Camargos, a intenção não é retratar a história de uma santa, mas um episódio importante da cultura e da religiosidade brasileira. Aliás, o projeto não saiu da noite para o dia; pelo contrário, segundo os
idealizadores, passou por um estudo de vários anos. “Trata-se do maior símbolo católico e cultural do país, e eu estou muito feliz por levar ao público uma história que mistura fé e entretenimento”, afi rma a produtora.
Nesse sentido, adeptos de diferentes religiões têm uma boa razão para prestigiar o longametragem; os católicos, pela devoção à “rainha do Brasil”, como eles próprios a chamam; e os crentes, pela questão cultural ou mera curiosidade. É o caso do assembleiano Alcir de Souza Siqueira, envolvido diretamente com a comunidade aparecidense. “Apesar de ser pastor evangélico, eu pretendo assistir ao fi lme; afi nal, é importante fi car bem informado sobre as questões culturais relacionadas à comunidade”, conclui o religioso.
APARECIDA – O MILAGRE: produção focada na cultura e, não propriamente, na história de um personagem
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exemplo do que acontece na romaria de
Juazeiro do Norte, também é coordena-
do por uma base missionária da Jocum.
“Temos uma identifi cação muito grande
com o povo de Ouro Preto, tanto que ca-
ímos na graça de evangélicos, católicos
e espíritas, que nos aceitam e se sentem
amados e abençoados com a nossa pro-
posta. A própria sociedade e as autorida-
des locais reconhecem a importância do
trabalho evangelístico realizado junto
aos jovens que participam do carnaval”,
orgulha-se o Pedro Bezerra de Souza
– mais conhecido como Tio Pedro –, di-
retor da Jocum de Contagem, cidade da
zona metropolitana de Belo Horizonte.
Paraibano de nascença e mineiro
de coração, o missionário admite, sim,
realizar um trabalho bastante forte de
evangelização, mas sem forçar a barra
ou tentar impor nada a ninguém. “Sim-
plesmente estamos ali com nossos valo-
res e princípios bíblicos bem defi nidos.
Com isso, conseguimos evangelizar em
massa durante todos os dias de carna-
val”, continua.
Ainda, de acordo com o evangelista,
pregar numa cidade “aparentemente”
tão católica não acarreta em nenhu-
ma difi culdade além do habitual em
comparação a outras praças. “Temos
consciência que somos muito peque-
nos diante de tantas igrejas históricas
e pomposas, mas jamais deixamos de
confi ar em Deus e sabemos que ele está
conosco”, fi naliza.
pessoas”, comemora Anderson Araújo,
que sabe como ninguém driblar as di-
fi culdades enfrentadas por falar de uma
religião protestante numa cidade esma-
gadoramente católica, mas que lamenta
pelo preconceito e intolerância que
ainda fazem parte de algumas comuni-
dades brasileiras. “Sofremos com per-
seguições, calúnias e ameaças por parte
daqueles que querem mandar na cidade,
que até usam a força política de outras
igrejas para proibir os trabalhos evan-
gelísticos e sociais. Às vezes somos até
chamados de bodes, fi lhos da mentira,
ladrões etc”, reclama, indignado.
Entre o sagrado e o profano – Re-
ligiosidade e profanação, ou então,
celebração divina e festa popular;
essas são algumas das características
díspares que fazem da histórica cidade
de Ouro Preto um dos lugares mais
singulares do país, pivô de constan-
tes controvérsias e questionamentos
no que tange às práticas religiosas
politicamente corretas, ao menos na
concepção de grande parte das co-
munidades evangélicas. Atualmente,
o mesmo sentimento de orgulho dos
ouropretanos pelo riquíssimo legado
histórico e à arquitetura colonial de
suas igrejas e casarões – na década
de 1980, a cidade foi reconhecida pela
Unesco como Patrimônio Universal da
Humanidade –, tem sido também atri-
buído ao que eles consideram como
um dos melhores carnavais de rua da
região, ocasião em que o número de
devotos da fé praticamente míngua,
enquanto que os foliões se amontoam
ladeiras de paralelepípedo abaixo.
Entram, então, em ação, grupos de
crentes que se misturam aos carnava-
lescos convencionais nas alegorias e
serpentinas, mas com uma diferença
fundamental no propósito: brincar o
carnaval de uma maneira saudável, sem
extravagâncias e, de quebra, abocanhar
almas para Cristo. Ou seja, unir o útil ao
agradável. Esse é o “impacto evangelís-
tico” do bloco Jesus Bom a Beça que, a
ENTRE O SAGRADO E O PROFANO: igrejas históricas e carnaval fazem de Ouro Preto uma cidade de peculiaridades díspares
TIO PEDRO, DA JOCUM DE CONTAGEM: “Somos muito pequenos diante de tantas igrejas históricas e pomposas”
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E S P O R T E
Malhação
ao ritmo
da fé
KAREN RODRIGUES
Bons de braço e fi rmes na fé: a exemplo do que acontece
nos Estados Unidos, academias de musculação se adaptam para agradar
público evangélico
Música gospel em diferentes
ritmos e, de quebra, equi-
pamentos e mais equi-
pamentos de musculação. Apesar
de parecer meio controverso esses
ingredientes têm combinado muito
bem, principalmente nos Estados
Unidos, onde a prática deixou de
ser apenas um modismo passageiro
e já se transformou na nova onda de
muitas academias. Tudo por causa
da professora evangélica Donna
Richardson Joyner, praticamente
uma celebridade em se tratando de
aeróbica e condicionamento físi-
co, tanto que seu DVD Sweating in the Spirit é sucesso de público
e figura na lista dos principais ví-
deos sobre fitness na avaliação do
badalado programa de entrevistas
The Oprah Winfrey Show. Nele, os
alunos exercitam e louvam simulta-
neamente, ao som de um coro dos
mais animados. Acredita-se, dessa
maneira – entre elas a apresentadora
–, que os praticantes possam cata-
lisar melhor as forças necessárias
na busca de seus objetivos; forças
essas provenientes de Deus. Como
prova de que os exercícios fí-
sicos praticados pelos cristãos
norte-americanos são levados
tão a sério, existe até uma em-
presa – a Church Fitness – que
se especializou na construção
de academias dentro de igre-
jas. “As igrejas estão cada vez
mais envolvidas no fitness. Ele
é um instrumento para manter
as pessoas da comunidade co-
nectadas”, afirmou o executivo
Rob Killen, em entrevista à
revista Isto É.
No Brasil, provavelmente o fit-ness cristão ainda está longe de se
comparar, em dimensão, ao norte-
americano; porém, como tudo que
acontece na terra do Tio Sam, de
uma forma ou de outra, acaba eclo-
DONNA JOYNER E SUAS AULAS DE FITNESS: malhação ao ritmo
de música gospel
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dindo por aqui, é cada vez maior
também o número de evangélicos
que se utilizam da fé cristã como
incentivo para ter o corpo sarado.
Localizada em São Bernardo do
Campo (SP), a Gospel Gym Carlos
& Cia passou por uma profunda
transformação de ordem estrutural
após a conversão de seu proprietá-
rio, Carlos Izídio da Silva, há mais
de quinze anos. “Quando me con-
verti, decidi passar tudo que tenho
para o Senhor. Deus é meu sócio
majoritário, e a prioridade aqui são
as vidas e almas”, propaga, fazendo
menção às mensagens que decoram
as paredes da academia. Além de
musculação, diversas outras ativi-
dades esportivas são realizadas num
espaço relativamente grande e divi-
dido em dois ambientes, como aulas
de defesa pessoal e aeróbica, ginás-
tica localizada, pilates com bola
e alongamento, além de eventuais
cultos e até vigílias. “Percebi que ao
convidar as pessoas para um culto
na academia, elas vêm; agora, se as
convidar para ir à igreja, há certa re-
sistência”, lamenta o professor.
Membro da Comunidade Evangé-
lica Pentecostal Estrela da Manhã,
Carlos Izídio conta que se tornou
evangélico após passar por frustra-
ções que quase o levaram ao sui-
cídio. Hoje, dizendo-se totalmente
restaurado, ele relata que decidiu re-
estruturar a academia
devido às humilha-
ções antes sofridas
pelos frequentadores
crentes, sempre
alvos fáceis de cha-
cotas e gozações.
Apesar da maioria
dos alunos não serem
evangélicos – cerca
de 60 de um total
de aproximadamente
150 frequentam igre-
jas –, agora a relação
ali é a mais respeito-
sa possível, sem qualquer tipo de
problema de ordem comportamental
e sem ninguém que se sinta inibido
com o estilo gospel; pelo contrário,
a opinião é unânime de que o clima é bastante benéfico para as ativida-
des físicas. “Alguns, que não são
evangélicos, até comentam que não
sentem vontade de ir embora porque
sentem paz no ambiente”, gaba-se o
proprietário.
Frequentador da Igreja Interna-
cional da Graça, de Santo André,
Paulo Antônio Batista exercita na
Gospel Gym há mais de um ano e,
segundo ele, a diferença no ambien-
te é facilmente perceptível, princi-
palmente porque, em vez de pala-
vrões e xingamentos, o que mais
se houve são palavras de incentivo.
“Eles nos ensinam que precisamos
cuidar da nossa parte física e espi-
ritual. Pois, não adianta estarmos
bem espiritualmente, que é o mais
importante, e com a parte física aca-
bada”, compara.
Formado em direito e
aluno de pós-graduação,
o angolano Estevão Go-
mes é outro evangélico
que dedica algumas ho-
ras do seu dia à malha-
ção. Para ele, que sem-
pre frequentou a Igreja
Metodista, inclusive em
seu país de origem, tão importante
quanto a prática esportiva é o papel
incentivador a ser desempenhado
pela igreja. “O esporte está ligado
à saúde, e as igrejas têm um papel
fundamental de pregá-lo como um
estilo de vida”, enfatiza com seu
português lisboeta.
Pronto socorro espiritual – Em-
bora pareça quase óbvio, tornear
músculos, ganhar massa corpórea,
perder peso ou definir medidas não
são os únicos motivos que levam
os não adeptos ao evangelismo à
Gospel Gym, de São Bernardo. Há
também quem encontre na malhação
e no contato com outros frequen-
tadores, uma espécie de refúgio
contra problemas como depressão,
síndrome do pânico ou até mesmo
nas relações conjugais. Nas esta-
tísticas de Carlos Izídio, 90% dos
matriculados sentem necessidade
de expor os problemas do dia-a-dia.
“Nós vimos aqui casos de cura de
Aids, diabetes e de lares desfeitos
sendo restaurados”, enumera, orgu-
lhoso por mencionar as dezenas de
pessoas que experimentam o mesmo
caminho de transformação espiritu-
al. Para qualquer tipo de dificulda-
de, ele tem a solução na ponta da
língua: “Eles pedem oração, e são
libertos”, receita.
Ao se matricular na academia,
Cristiano de Campos estava inte-
ressado em apenas cuidar da saúde
física; entretanto, depois de um
certo tempo se dedicando exclusi-
vamente à malhação, confessa que
CARLOS IZÍDIO DA SILVA, professor e proprietário de academia: “Deus é meu sócio majoritário”
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PARA O EVANGÉLICO PAULO ANTÔNIO BATISTA,
não adianta estar bem apenas espiritualmente
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que levanta os pesos do equipamen-
to: “Algumas doutrinas influenciam
as pessoas de forma negativa, e a
prática esportiva só tem aspectos
positivos”, denuncia.
Pastor da Casa de Oração Árvore
da Vida, de São Caetano do Sul, Ro-
berto Marcos Leopoldino considera
uma hipocrisia não querer se sentir
bem e saudável, e que o esporte, ao
contrário de outras práticas ilícitas
e condenáveis, agrada a Deus. “Há
quem corra para o outro lado, que
faz cirurgias e use anabolizantes.
Isso é corrupção e, certamente, não
agrada ao Senhor. A academia não
é para exibirmos o corpo, mas para
nos sentirmos bem”, atesta, com ex-
periência tanto no púlpito como no
aparelho de leg press – aquele para
exercitar as pernas. E o pastor sa-radão aponta uma passagem bíblica
(1Co 11.28) como conselho para os
evangélicos que se sintam discri-
minados ou até mesmo intimidados
antes de iniciar uma atividade físi-
ca: “Examine-se, pois, o homem a
si mesmo”, conclui.
percebeu haver ali algo diferente,
e que estava disposto a viver essa
diferença. “Se fosse uma academia
só de evangélicos, as pessoas de
fora não estariam aceitando Jesus
aqui dentro. O Senhor traz os doen-
tes aqui e nós cuidamos do corpo e
da alma”, enfatiza o ex-católico,
com conhecimento de causa de
quem deixou de ser um apren-
diz para se tornar um autêntico
evangelista. Hoje, ele frequenta
a Comunidade da Graça.
Preconceito – Todo mundo já ou-
viu falar em noticiários, revistas
segmentadas ou outros meios de
informação sobre a importância
e os benefícios que a prática
de exercícios físicos traz para a
saúde. Contudo, apesar de todo
o modernismo do século 21, esse
ainda é um tabu que persiste em
fazer parte do conservadorismo
exacerbado de alguns evangéli-
cos. De acordo com o treinador
Carlos Izídio, infelizmente há
cristãos que relutam e até mesmo
criticam os “irmãos” que aderem
a esse tipo de comportamento,
julgado que o cuidado exces-
sivo com o corpo não passa de
pura vaidade pessoal. E vão
além: para eles, o ambiente
chega a ser um atentado ao
pudor, e o único intuito dos
frequentadores é se vanglo-
riarem diante do espelho e
de exibirem músculos bem
torneados em trajes que não
condizem com a prática cristã.
“Na opinião deles, estamos
idolatrando nosso corpo. Infe-
lizmente, eles não conseguem
entender o que Deus faz aqui”,
lamenta-se.
Por sua vez, Paulo Antônio
Batista afirma não ter sofrido
nenhum tipo de discriminação
por parte dos fiéis que, com
ele, frequentam os cultos na
igreja. Em contrapartida, o mesmo
não acontece no ambiente de traba-
lho, onde é constantemente questio-
nado pelos colegas. “Eles perguntam
que tipo de crente é esse que pratica
atividade física; e eu respondo que
sou diferente dos outros, um crente
do século 21”, resume. O angolano
Estevão Gomes pega mais pesado
na questão, com a mesma energia
O ANGOLANO ESTEVÃO GOMES cobra mais participação das igrejas no incentivo ao esporte
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EX-CATÓLICO, CRISTIANO DE CAMPOS se converteu na academia por ali
encontrar algo diferente
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“A ACADEMIA NÃO É PARA EXIBIRMOS O CORPO”, diz o pastor
Roberto Marcos Leopoldino
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Romney Cruz
é pastor na Comunidade Cristã para as Nações em Belo Horizonte (MG)
O P I N I Ã O
Por debaixo
da armadura
“Homens que empolgam
multidões nos púlpitos ou
palcos da fé, desagradam
a Deus nos cantos obscuros e
privados onde sua plateia não os vê”
A história de Naamã
(2 Reis 5.1-19)
é um exemplo
categórico de que nem
sempre o que está debaixo
da armadura corresponde
ao que pensamos ser o seu
conteúdo. Armadura é algo
imponente, impressionante e
exterior. Analisando de forma
conceitual, é possível apontar
muitos aspectos interessantes.
Por exemplo: a armadura
protege o rosto do guerreiro,
porém não impede a visão
do mesmo; permite que o
guerreiro entre no campo
de batalha com vitória total
sobre os despidos de proteção;
impetra medo aos oponentes;
enfim...
Encontramos, na Palavra
de Deus, vários exemplos
interessantes referentes à
armadura, exemplos que nos
deixam muitas microlições
e apenas uma macrolição: o
guerreiro é mais importante
que a couraça, jamais o
contrário. E há situações
bíblicas que elucidam esse
conceito.
Leia em 1 Samuel 17.24-
58 que o jovem Davi, ao
chegar no campo de batalha
israelense e ver um gigante
e um caminhão. Entretanto,
ofereceu ao fusquinha (Davi)
sua armadura, a qual não lhe
serviu por ser muito grande.
Por fim, Davi foi mesmo sem
proteção e todos nós sabemos o
fim maravilhoso da história; sem
armadura e com somente cinco
pedras do ribeiro na sacola, o
garoto enfrentou o gigante com
sua enorme armadura. Girou a
funda, e com apenas uma pedra,
abateu o filisteu.
Leia em 1 Reis 22.29-35 que,
sabendo que poderia morrer em
batalha, o rei Acabe, um homem
dissimulado e cruel, arquitetou
uma situação para enganar Josafá
fazendo-o entrar na batalha
trajado de rei (diferenciado dos
demais, ele seria um alvo fácil),
enquanto ele próprio iria a campo
vestido de soldado. Em meio a
tantos combatentes trajados com
armaduras, dificilmente seria
descoberto; porém, um sírio
atirou uma flecha ao ocaso, que
o atingiu exatamente nas juntas
de sua armadura – o rei Acabe
morreu em virtude do ferimento.
Tanto o primeiro como o
segundo exemplo elucidam
claramente que a armadura pode
impressionar, impor e confundir
os homens, mas não o Senhor.
Ninguém engana a Deus, e tudo
filisteu (Golias) afrontar um
exército inteiro que se mantinha
calado, bradou: “Quem é, pois,
este incircunciso filisteu, para
afrontar os exércitos do Deus
vivo?”. E pediu permissão a
Saul para enfrentar o gigante; o
rei, sem outra opção, permitiu
que o garoto assim o fizesse.
Contextualizando: ele autorizou
a colisão entre um fusquinha
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não foram explicitadas aqui
para destruição e sim para
trazer à tona sentimentos e
ações, para que possamos nos
autoconfrontar, com espelhos
nos olhos. Se o resultado desse
confronto nos disser que “por
fora somos heróis, mas por
dentro ladrões”, que possamos
sair dessa revolta, quebrar
nossos grilhões e retornar. Pois,
Deus tem vida plena e vale a
pena retornar para ver o amor
antigo, o abraço amigo, a festa
começar... Arrependidos, nós,
filhos de Deus, sempre teremos
um lar para nos receber, sempre
teremos um rio Jordão para
mergulhar; o que importa é que
não escondamos nossa lepra,
pois escondê-la só nos levará
ao fim, ou seja, a carne podre
invadindo os limites do corpo e
o levando à morte.
Não morra, clame por cura.
Afinal, Deus o ama.
sua plateia não os vê; mulheres
que profetizam em nome de Deus,
fazem jogos sedutores quando
sua plateia não as vê; casais
tidos como exemplos entre seus
grupos de jovens, perdem-se nos
prazeres da carne, envolvidos
por penumbras diabólicas onde
sua plateia também não os vê. E
mais: moralistas e exemplos de
boa administração, eclesiástica ou
empresarial, maquiam relatórios
e balancetes usando números
falsos, furtando a honestidade e a
confi ança de seus fi éis depositários
em benefícios próprios; líderes
que arrebatam multidões com suas
psicologias persuasivas controlam
a mente de súditos em nome
de bênçãos que advêm de seus
impérios pessoais e não das mãos
de Deus, isolando-se nas ilhas do
poder pelo prazer pedante de se ter
almas humanas sob seus controles.
Sei que as verdades ditas
acima são pesadas, mas
que o homem semear será por ele
colhido. A vitória é daqueles que,
por debaixo da armadura, têm um
coração íntegro guardado em Deus.
O que há debaixo de sua
armadura? Onde você tem
depositado sua confiança? De
que importam os resultados que
os outros veem? São perguntas
que você deve responder com
toda sinceridade, pois das
respostas dependem sua vida
futura. Sem armadura Davi
venceu o gigante, enquanto que
o rei Acabe, protegido e diante
de uma situação arquitetada
maquiavelicamente, foi atingido
por uma flecha lançada ao ocaso.
Sua armadura é de um homem
ou de uma mulher espiritual?
Lembre-se de que nosso
verdadeiro caráter é revelado no
escuro. Homens que empolgam
multidões nos púlpitos ou palcos
da fé, desagradam a Deus nos
cantos obscuros e privados onde
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38
Maria de Fátima M. de Carvalho é escritora, advogada, mestre em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba e membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de João Pessoa
L U G A R D E M U L H E R
Jesus e a quebra
do androcentrismo
“Do aprendizado com Jesus, as mulheres começaram a construir
novas regras de comporta-
mento na busca do
reconheci-mento de seu papel igualitário
no contexto social”
Assistimos em nossos dias
a uma ascensão crescente
de mulheres em todas
as áreas do mercado de trabalho,
e até mesmo no comando de
nações. Atualmente, encontramos
17 líderes globais femininos,
governando 16 países. A partir
de janeiro de 2011, o nome da
presidente do Brasil, Dilma
Rousseff, fi gurará nas estatísticas
que demonstram o quanto a mulher
avançou na conquista de seus
direitos e ideais.
Tal liberdade inexistia no
tempo de Jesus. As mulheres
viviam sob total repressão, e
todas as civilizações adotavam
o androcentrismo disseminado
pelas escolas fi losófi cas platônica,
aristotélica, estoica e pitagórica,
cujos pensamentos privilegiavam os
homens. Aristóteles imaginava que
o corpo feminino era dotado de um
cérebro menor e, portanto, impedido
de desenvolver sua capacidade
racional e intelectual. Pitágoras
ensinava que um princípio bom
gerou a ordem, a luz e o homem,
enquanto que um princípio mau
gerou o caos, as trevas e a mulher.
As leis atenienses ordenavam que
as mulheres deveriam permanecer
em silêncio nos ajuntamentos
solenes e não podiam participar
das assembleias dos cidadãos.
As mulheres judias igualmente
do androcentrismo e da proibição
feminina de anunciar a Torá, quando
acolheu mulheres no seu próprio
grupo de discípulos, para o seguirem,
servirem e proclamarem as mensagens
anunciadas, o que, subentende-
se, incluía também as referências
messiânicas dos Escritos Sagrados dos
judeus.
A presença de Maria Madalena
e de outras mulheres no movimento
de Jesus é incontestável sob o ponto
de vista dos evangelhos canônicos,
tanto que elas são mencionadas
desde o começo de seu ministério na
Galiléia como sendo discípulas em
toda a extensão que esse termo requer
– seguiam, serviam e anunciavam aos
outros o que viam e ouviam da parte
de Jesus. E isso não só ocorria com
Maria Madalena, mas com as muitas
mulheres que são mencionadas tanto
nos evangelhos como nas epístolas
paulinas. Com Jesus elas viveram a
experiência de serem curadas, de se
tornarem seres humanos saudáveis
e participantes, vivenciando uma
experiência de plenitude de vida até
então reprimida pelo patriarcalismo
fi losófi co e judaico. Elas
permaneceram fi éis a Jesus, mesmo
na hora em que ele estava entregue à
morte por exigência das autoridades
judaicas e sob seus olhares atentos.
Apesar disso, elas não temeram, não
fugiram; pelo contrário, puseram-se
como testemunhas oculares de sua
viviam em silêncio e em situação de
grande privação e isolamento social.
De acordo com Champlin, não era
permitido à mulher alguma frequentar
escolas de ensinamentos da lei, porque
os rabinos afi rmavam: “É preferível
queimar a lei do que ensiná-la a uma
mulher”. Entretanto, as narrativas
do Novo Testamento revelam
que Jesus quebrou o paradigma
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39
sua esperança (1Co 15.19-20). É até
imaginável que tenha sido o silêncio
paulino sobre o testemunho de Maria
Madalena que levou João a registrar
no quarto Evangelho, décadas depois
de Paulo, todo o detalhamento de
como se deu o encontro entre ela
e Jesus após a ressurreição (Jo
20.11-18). Entretanto, em 323 d.C.
Constantino concedeu liberdade de
culto à Igreja, e, à medida que essa foi
se estatizando, o discurso ofi cial com
relação às mulheres foi fi cando cada
vez mais excludente e misógino. O
androcentrismo paulino foi adotado
pelo clero ortodoxo e sedimentado
pelo papa Gregório Magno (590–604)
que estigmatizou Maria Madalena
como prostituta, confundindo-a com
a mulher pecadora mencionada no
Evangelho de Lucas. Essa concepção
discriminatória da mulher, assegurada
pelo clero, foi prevalecente por
cerca de 1500 anos, permitindo a
manutenção dos homens no poder,
legitimando a submissão feminina
e sufocando qualquer tentativa de
subversão da ordem masculina
estabelecida. Mas, a partir de 1945,
as descobertas arqueológicas em
Nag Hamaddi, no Egito, de papiros
contendo cópias de textos gnósticos,
incluindo o Evangelho de Maria e o
Evangelho de Filipe, inauguraram
um novo período de pesquisas sobre
Maria Madalena e abriram as portas
para o surgimento de movimentos
feministas e de emancipação da
mulher. Leis foram criadas em
benefício do chamado “sexo frágil”,
como por exemplo, o direito ao
voto. As escolas e universidades
abriram as portas também para elas,
e suas vozes passaram a ser ouvidas
e seus conselhos seguidos. Igrejas
evangélicas começaram a ungi-las
pastoras e auxiliares de trabalho. E,
fi nalmente no ocidente, em nossos
dias, já existe o reconhecimento
consagrado – embora ainda
embrionário em alguns aspectos
– da igualdade de gêneros; e, em
alguns casos, da vitória da mulher
sobre o domínio dos homens, como
estamos vendo pela primeira vez em
nosso país: a eleição de uma mulher
presidente do Brasil.
ressurreição de Jesus (1Co 15.5-8).
Sem demérito do precioso e basilar
trabalho que ele realizou em prol
do cristianismo, tal omissão sugere
uma atitude androcêntrica por parte
do apóstolo, uma vez que o fato foi
citado nos quatro evangelhos, tendo
João retratado com exclusividade o
encontro e o diálogo ocorrido entre
Maria Madalena e Jesus ressurreto.
Uma leitura cuidadosa das
epístolas paulinas põe em evidência
que o apóstolo preservou o
androcentrismo fi losófi co e judaico,
que supostamente adquirira com os
fariseus e com as literaturas pagãs
dos cultos mitológicos praticados em
Tarso, sua cidade natal, prováveis
frutos de sua dupla cidadania farisaica
e romana. Tais evidências estão
presentes nos seus escritos sobre
modelos éticos e morais impostos aos
cristãos, onde há literal esclarecimento
se os mesmos procedem de revelação
de Deus; de imposição da lei; ou do
seu entendimento pessoal. O exemplo
disso está nos seus ensinamentos
sobre o casamento, onde o apóstolo
emprega expressões como: “digo,
“digo eu, não o Senhor”, “ordeno”,
“dou o meu parecer”, “segundo o
meu parecer” (1Co 7.6-40). E ainda
em 1Co 14.34, onde há clara menção
de que a doutrina que impunha
silêncio às mulheres procedia de
um preceito da lei: “As mulheres
estejam caladas nas igrejas; porque
lhes não é permitido falar; mas
estejam sujeitas, como também
ordena a lei”. Entende Champlin,
com essas declarações, que Paulo
estava simplesmente transferindo
para a Igreja cristã, algumas ideias
que trouxe do judaísmo, no que diz
respeito à mulher. Nesse pressuposto,
é possível compreender que
difi cilmente o apóstolo iria mencionar
Maria Madalena como testemunha
da ressurreição de Jesus, mesmo
sabendo que foi ela quem anunciou
aos discípulos o fenômeno da
ressurreição. A cultura androcêntrica
que trazia dentro de si, resultante dos
muitos anos a serviço do judaísmo
o impediam de declarar uma mulher
como testemunha do fenômeno que
constituiu a razão maior de toda a
morte e sepultamento. Foram as
primeiras a irem ao túmulo, mesmo
sabendo que corriam o risco de serem
mortas.
Onde encontraram tanta coragem
se viviam sob um regime de total
repressão? Encontramos explicação
para essa questão no entendimento
de que Maria Madalena e as demais
mulheres que seguiram Jesus
absorveram e se apropriaram da ética
por ele ensinada, que não faz acepção
de pessoas, não estabelece diferença
de gênero, nem de origem, nem de
condição social, como disse Paulo:
“Nisto não há judeu nem grego; não
há servo nem livre; não há macho
nem fêmea; porque todos sois um em
Cristo Jesus” (Gl 3.28). Entenderam
assim que eram livres para decidir
por si mesmas, e agir segundo suas
decisões, com a coragem de assumir
as implicações de seus atos, quer
fossem de recompensa ou punição.
Do aprendizado com Jesus, as
mulheres começaram a construir
novas regras de comportamento na
busca do reconhecimento de seu
papel igualitário no contexto social.
Jesus abriu caminho para que elas
também assumissem posições de
liderança. Na fase difícil de formação
da Igreja primitiva, as mulheres
se faziam presentes e atuantes nas
comunidades como diaconisas,
líderes, profetisas, num período em
que o cristianismo era perseguido,
uma religião proibida pelo Estado.
As reuniões aconteciam em lugares
reservados, nos interiores das casas
ou em catacumbas. As mulheres
cediam seus lares, eram as patronas,
fundadoras de comunidades. Paulo
as apresenta como lutadoras pela
divulgação do Evangelho: Evódia
e Sintique (Fl 4.2-3); Febe, Trifena,
Trifosa e Perside (Rm 16.1-2, 12);
todas trabalharam arduamente na
formação do cristianismo, cedendo
suas casas para servirem de
templo, hospedando os discípulos,
proclamando a palavra. Mas, apesar
de mencioná-las e reconhecer que
Cristo instituiu a igualdade de
gênero, Paulo omite o nome de Maria
Madalena e das outras mulheres, no
seu relato sobre as testemunhas da
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S O C I E D A D E
Participação das comunidades Participação das comunidades evangélicas na divulgação evangélicas na divulgação
da Palavra de Deus continua da Palavra de Deus continua essencial depois da maior essencial depois da maior
operação policial da história operação policial da história do Rio de Janeiro no combate do Rio de Janeiro no combate
ao tráfi co ao tráfi co
A Igreja contra o terrorA Igreja cont
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MARCOS STEFANO
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ÃO
A Igreja contra o terrorntra o terror
Pareciam mais cenas de
um terceiro filme da
franquia Tropa de Elite,
ou então o prenúncio de um
Armagedon – a famosa guerra
bíblica –, só que numa grande
cidade brasileira. O contra-
ataque do poder público em
ofensiva ao crime organizado
no Rio de Janeiro, no fim do
mês de novembro, teve cenas
realmente inusitadas. Pela
primeira vez na história, ve-
ículos militares blindados da
Marinha foram usados para
tomar o controle de um morro.
Com o auxílio de seis tanques
de guerra, do mesmo modelo
usado no Iraque, os policiais
do Batalhão de Operações
Especiais (Bope) superaram
blocos de concreto, restos de
trilhos de trem, carros e cami-
nhões incendiados em pontos
estratégicos, para, numa ação
digna do capitão Nascimento,
entrarem na Vila Cruzeiro e
no Complexo do Alemão, os
principais bunkers do Coman-
do Vermelho, maior facção
SOLDADOS DO EXÉRCITO DURANTE OPERAÇÃO para tomar uma das principais trincheiras do
tráfi co na cidade e restabelecer a paz no morro
41
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criminosa do Estado. Enquanto
isso, 800 soldados do Exército,
dentre eles vários veteranos do
Haiti, apoiados por helicópteros
da Aeronáutica, vigiavam todas
as saídas. O desespero bateu na
porta dos bandidos, e alguns ten-
taram resistir com fuzis, bazucas
e outros artefatos bélicos. Quem
via que a tentativa era inútil e não
conseguia fugir pelas galerias de
esgoto ou pela mata, vestia um ter-
no com gravata, colocava a Bíblia
debaixo do braço e tentava se fazer
passar por membro de alguma igre-
ja evangélica. “Esse é um caminho
sem volta. Prender é importante,
mas você prende um e amanhã
aparece outro. Sem o território,
eles perdem seu poder”, declarou
o Secretário de Segurança José
Mariano Beltrame, ao comentar a
nova estratégia de combate à vio-
lência. Enfrentar o tráfico e ocupar
seu território, tarefas que durante
anos foram negligenciadas por su-
cessivos governos, são essenciais
para a vitória nessa batalha. Mas,
para vencer a guerra, é preciso
muito mais do que apenas ações
policiais.
Mostrar ao mundo que o Rio
tem capacidade de sediar a Copa
do Mundo de 2014 e as Olimpíadas
de 2016 é algo a se levar em conta
numa ofensiva desse porte. Contu-
do, há fatores mais importantes, e
a segurança de toda a população
está entre essas prioridades. Na
mesma semana em que as forças
públicas subiram os morros, a ci-
dade havia sido barbarizada pelos
criminosos, que lançaram granadas
às ruas, atearam fogo em carros e
ônibus, promoveram arrastões
e espalharam ainda mais medo
com boatos sobre seu “novembro
negro”. Tudo não passava de um
enorme protesto promovido por
duas facções rivais – agora aliadas
– contra a diminuição de seus lu-
cros e a política de ocupação de fa-
velas, em vigor desde 2008, e que
já conseguiu pacificar 13 morros.
Na Vila Cruzeiro e no Complexo
do Alemão, moradores acenavam
com panos, toalhas e lençóis bran-
cos aos policiais, pedindo paz,
ajuda e agradecendo pelo
fim do domínio do terror
imposto pelo tráfico. A
luta, em suma, é contra a
violência que, hoje, talvez
seja o mais grave e assus-
tador problema enfrentado
pelos brasileiros.
Como uma primeira
ação para combatê-la, a
ocupação dos morros foi
aplaudida também por
lideranças cristãs. “O
governo teve a atitude
correta ao tomar aqueles
lugares dominados por
forças satânicas”, diz o
pastor Marcos Pereira, lí-
der da Assembleia de Deus
dos Últimos Dias (Adud).
Ele e sua equipe estiveram
numa das madrugadas no Com-
plexo do Alemão na tentativa de
ajudar nas negociações, como já
fizeram em outras oportunidades
de conflitos entre a polícia e os
bandidos. “A cocaína é uma dro-
ga, mas há algo espiritual em ação
nesse lugar. Já o material bélico
que os traficantes usam não é, e
não é possível permitir que isso
chegue às mãos deles”, completa
o pastor, comemorando por não
haver derramamento de sangue
durante a ocupação.
Poucas instituições sofrem tanto
com a violência e também poucas
têm tão efetivo poder de combatê-
la quanto as igrejas evangélicas,
mas na guerra ao terror a postura
da Adud é uma exceção. O silêncio
mais uma vez foi a resposta prefe-
rida da maioria das lideranças. Um
silêncio incompreensível e que faz
eco à voz da sociedade não cris-
tã. “A grande maioria das igrejas
não tem teologia para questões de
natureza política e social. A ética
pregada é apenas privada, não
tem dimensão pública”, avalia o
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ÃO POLICIAIS SE MISTURAM
A CIVIS no Complexo do Alemão, até então dominado por facções criminosas
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reverendo Antonio Carlos Costa,
da Igreja Presbiteriana na Barra
da Tijuca e presidente da ONG Rio
de Paz.
Varais de rosas – Quando se fala
em guerra contra a violência não
se está exagerando. Calcula-se, so-
mente na última década, que mais
de 500 mil brasileiros tenham sido
vítimas de homicídio. Por aqui,
morre todos os anos pelo menos
50 vezes mais gente dessa maneira
do que em conflitos armados pelo
mundo, como os que acontecem
entre israelenses e palestinos. A
própria ONG Rio de Paz, criada no
começo de 2007, foi por reação a
mais um momento de barbárie. No
fim do ano anterior, uma onda de
atentados realizada contra a cida-
de contabilizou 19 mortes brutais,
sendo que 8 pessoas foram quei-
madas em um ônibus incendiado
por traficantes.
Desde então a entidade vem
organizando debates, eventos e,
principalmente, manifestações
públicas para conscientizar a so-
ciedade sobre a questão. Logo em
março de 2007, por exemplo, a Rio
de Paz espalhou milhares de cruzes
pela praia de Copacabana, fazendo
o lugar parecer um cemitério, para
alertar sobre o elevado número
de pessoas mortas por crimes. Na
mesma linha e sempre com criati-
vidade, montou varais de rosas e de
uniformes manchados de sangue,
espalhou sacos de “corpos” nas
areias, fez caminhadas e inaugurou
até um memorial com o placar do
número de mortos na cidade.
O manifesto não se restringe
somente à capital carioca; tra-
balhos semelhantes já foram
realizados em Brasília, Belo
Horizonte, Recife e São Paulo.
Em 2008, o presidente da
ONG teve um encontro com
Beltrame, justamente num
momento em que a política de
segurança do Rio enfrentava
severas críticas, vindas de to-
dos os lados. No ano anterior,
o Bope havia invadido a mes-
ma Vila Cruzeiro, matando 9
pessoas e ferindo outras 6. Em
seguida, invadiu também o Ale-
mão com mais de mil homens e
PARA O SECRETÁRIO DE SEGURANÇA, José Mariano Beltrame, os trafi cantes perdem poder sem seu território
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PROTESTOS CONTRA A VIOLÊNCIA organizados pela ONG Rio de Paz na praia de Copacabana
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matou 19. Não havia limites para a
carnificina e, como se pode perce-
ber, até agora não trouxe qualquer
fruto permanente. “Não dava mais
para tolerar aquele banho de san-
gue, nem ver os moradores como
reféns. Os mais pobres estavam pri-
vados de todos os seus direitos, até
mesmo o de ir e vir. Em 10 anos,
houve 100 mil mortes violentas,
a maioria, 80%, nas comunidades
mais pobres. Era preciso liberta-
ção”, lembra o reverendo.
Após essa e outras pressões o
governo mudou de tática, e a ideia,
então, passou a ser a de manter
uma força policial permanente no
território; policiais que não par-
ticipassem da rede de corrupção
que une os oficiais da lei com os
traficantes. Assim, inspiradas num
modelo que já havia dado certo nas
cidades colombianas de Bogotá,
Medellín e Cali, nasciam as Uni-
dades de Polícia Pacificadora – as
UPPs. Com os bandidos expulsos
de um morro, como aconteceu em
novembro, abre-se um posto de
policiamento permanente no in-
terior da favela ocupada, seguida
por uma série de ações sociais:
construção de creches, ginásios,
postos de saúde, bancos, além da
criação de cursos profissionalizan-
tes e até uma central de empregos.
Os policiais designados para esses
locais são recém-formados, ou
seja, não fazem parte da
banda podre do poder
público.
A proposta é ótima e
tem dado bons resulta-
dos, mas ainda sofre com
limitações, sobretudo do
ponto de vista estrutural.
A UPP exige a presença
constante da polícia e
um contingente que ne-
nhuma força policial do
mundo é capaz de man-
ter permanentemente.
No Morro Dona Marta,
onde foi estabelecida a
primeira unidade, a re-
lação é de um policial
para cada grupo de 81
habitantes. Já, no restan-
te da cidade, a proporção
é de um para 340, maior,
por exemplo, do que em
Nova York, cuja média é
de um para 230 cidadãos.
Nessa linha, para montar
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MAIOR APREENSÃO DE DROGAS E ARMAS da história do Estado: tropas policiais realizam verdadeira limpeza no território dos bandidos
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uma UPP no Complexo do Alemão
será necessário um efetivo de 2200
agentes treinados, boa parte dos
3500 novos policiais cariocas que
deverão se formar em 2011.
Outro problema, pelo menos ob-
servado até agora, é que a presen-
ça da UPP acaba com a violência
e inibe o tráfico de entorpecentes,
mas não o suprime de vez. Car-
regamentos de drogas, que antes
chegavam aos morros em enormes
lotes e à luz do dia, passam a en-
trar nas favelas ocupadas aos pou-
cos, levados por pessoas e em pe-
quenas quantidades – um trabalho
de formiguinha. E sabendo que os
traficantes ainda dominam 450 das
1020 favelas cariocas, comerciali-
zando 20 toneladas de cocaína por
ano, dá para se ter uma noção do
tamanho do desafio do poder pú-
blico para exterminar essa praga.
TV a gato – Por mais alvissareira
que seja a novidade, será difícil
conter a violência se o Brasil não
fizer a lição de casa. Ações de or-
dem práticas são essenciais, como
a reforma e a valorização das
polícias; profundas mudanças no
sistema de leis do país; o trabalho
integrado entre as esferas munici-
pal, estadual e federal; e a constru-
ção de novos e modernos presídios
de segurança máxima, com regras
que dificultem aos chefões do
tráfico passar ordens e comandar
seus bandos de dentro das cadeias.
Isso sem falar no problema das
milícias que, também no Rio de
Janeiro, rivalizam com os trafican-
tes e, agora sozinhas, exercem um
poder paralelo e cobram até pelas
ligações clandestinas de TV a cabo
– os populares “gatos”.
Mesmo com tantas dificulda-
des, a Igreja pode fazer a dife-
rença nessa batalha entre o bem
e o mal. Em muitas favelas, o
poder público está ainda omisso,
mas as comunidades evangélicas
funcionam a todo vapor. “Claro
que sua primeira tarefa é pregar o
Evangelho, mas lembrando que a
Palavra de Deus transforma vidas
inteiramente. Não é apenas um
consolo ou um caminho fácil para
a prosperidade financeira”, alerta
o reverendo Costa. “E quem não
se converte? Aí é preciso cobrar
políticas públicas e que as igrejas
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JOVINO RENALDO NETO (À ESQUERDA), missionário da Jocum Borel: “Procuramos servir o homem em sua integralidade”
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façam trabalhos sociais,
pois você acaba com a
violência oferecendo
expectativas e educação
para o não convertido.
Oração e pregação devem
ser acompanhadas dessas
ações. Por que andar em
Paris é mais seguro do
que no Rio? Poucos lu-
gares no mundo são tão
secularizados quanto a
capital francesa, mas não
há tantas desigualdades
e injustiças sociais, que
servem de combustível
para o crime.”
Levando também em
conta a inconveniente
verdade de que uma boa
parte dos jovens que
trabalham para o tráfico
nos morros cariocas é
composta por desviados
ou filhos de crentes, será que é
possível realizar um trabalho des-
se porte, uma teologia com essas
prioridades? Esse dado é real e
baseado em conhecimento de cam-
po, confirmado por muitos grupos
missionários que trabalham nos
morros, visitam presídios e evan-
gelizam drogados. Contrariando
muitas expectativas e até o interes-
se de gente que torce o nariz quan-
do se fala nesse tipo de trabalho, a
organização Jovens com uma Mis-
são (Jocum) vem mostrando que
é possível sim fazer a diferença,
mesmo diante da falta de recursos
e a mercê do poder do tráfico.
Presente há mais de duas déca-
das no Morro do Borel, a Jocum
leva a sério a máxima Justiça, Transformação, Educação, Saúde e Cidadania com a Palavra de Deus. De fato, essa é receita para
uma série de trabalhos que vem
mudando a vida de mais de 20
mil habitantes da Tijuca, bairro
da Zona Norte da cidade. “Além
de evangelizar, promovemos ações
de desenvolvimento comunitário
baseadas em uma cosmovisão bí-
blica, e projetos auto-sustentáveis
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POLICIAIS REINAUGURAM O MORRO: bandeira brasileira simboliza vitória contra os trafi cantes
para ajudar a comunidade caren-
te”, explica o missionário Jovino
Renaldo Neto, líder da base do
Borel, onde trabalham 11 missio-
nários em tempo integral e outros
15 voluntários, entre professores,
pedagogos, assistentes sociais,
médicos e dentistas.
Há alguns meses, a polícia avi-
sou que entraria no Borel. Houve
tensão, mas a ocupação foi pací-
fica. O governo montou ali a sua
UPP, mas, para surpresa geral,
quando chegou já havia um forte
trabalho social. Justamente aquele
promovido pela Jocum, que man-
tém no local uma creche apta para
atender 30 crianças com idades
entre 2 e 4 anos; uma escola de
música com mais de uma centena
de alunos; ambulatório médico e
dentário e farmácia comunitária.
A base oferece, ainda, atendimento
psicológico, aulas de medicina pre-
ventiva e, periodicamente, realiza
mutirões comunitários. Sem falar
nas clínicas de esportes, cursos de
artesanato e de informática.
Com uma forte relação com a
sociedade local, mesmo antes dos
traficantes deixarem o morro, os
missionários já haviam montado
uma clínica de recuperação para
dependentes químicos. “Não faze-
mos nada além de levar o Evange-
lho às pessoas, sempre em parceria
com as igrejas locais. A diferença
é que procuramos servir o homem
em sua integralidade”, comple-
menta Neto. Agora, com a chegada
do poder público, a expectativa é
ampliar tudo mediante parcerias
com a prefeitura e o governo do
Estado. Se o trabalho feito pela
UPP no Borel é um modelo, di-
vulgado com pompa pelas próprias
autoridades, a verdade é que boa
parte dos méritos é do povo de
Deus. Como dizem os jocumeiros,
deixando que o Reino de Cristo
alcance pés e mãos e não somente
bocas, é perfeitamente natural su-
perar a omissão da Igreja, obedecer
plenamente as ordens do Mestre e
começar a vencer não só a batalha,
mas também a guerra.
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“Fui um “Fui um
criminoso criminoso
do PCC”do PCC”Hoje pastor, Renato Cesar de Sousa, o Renatinho, comandou gangues, roubou bancos e conheceu como poucos o mundo do banditismo
Não é apenas o Rio de Janeiro que
tem sofrido com a violência. O
Brasil todo se tornou alvo de
balas perdidas ou mesmo bem dirigidas.
Quem não se lembra, por exemplo, dos
levantes e atentados que São Paulo sofreu
em 2006? Aqueles ataques, comandados
pelo Primeiro Comando da Capital, o
famigerado PCC, foram até mais graves
do que a atual crise experimentada pelos
cariocas. Considerada uma das facções
criminosas mais temidas do país, até
hoje o PCC assusta, especialmente
por conta da aura de mistério que
cerca a organização. Algo que Renato
Cesar de Sousa conhece como poucos;
afi nal, durante a adolescência, e longos
anos que se seguiram, ele fez parte do
partido do crime. Renatinho, como
era chamado, ingressou com o aval
de Marcos Willians Herbas Camacho,
o Marcola, e lá liderou gangues de
roubo a bancos e, por diversas vezes,
viu a morte de perto. Hoje, aos 31 anos,
está convertido e é pastor itinerante das
Assembleias de Deus. Em entrevista
a ECLÉSIA, ele fala sobre suas
experiências no mundo do crime, como
Jesus o alcançou e de que forma o Brasil
pode vencer a violência.
ECLÉSIA - Como você conheceu e
entrou para o PCC?
Renato Cesar de Sousa – Aos
nove anos, rejeitado por meus pais,
fui morar na rua. Na boca do lixo
de Campinas (SP), conheci outros
meninos e meninas como eu, passei
a usar maconha, cocaína e crack.
Acabei sendo adotado por um casal de
trafi cantes. Meu pai adotivo, o Naldo,
era membro do partido 1533, forma
como chamávamos o PCC. Ele me
levou para lá e me apresentou todo o
comando. Quem deu o veredicto para
que eu entrasse na organização foi o
Marcos Willians Herbas Camacho, o
Marcola, chefão do partido.
O que o atraiu para entrar para a
organização? Como era sua vida
sendo membro dessa facção?
Eu estava com 16 anos quando me
batizei no PCC. Aquela adrenalina
me atraiu, assim como as promessas
de ser importante, ser alguém
temido nessa vida. Que ilusão!
Mas frequentei muitos terreiros de
umbanda, quimbanda e candomblé.
Tudo estava ligado. Aos poucos,
ganhei o respeito no mundo do crime.
Em seu testemunho, você conta que
a cadeia e o PCC o transformaram
num ladrão de bancos e
sequestrador. E que pelo menos
escapou da morte por duas vezes,
quando toda a gangue que liderava
foi morta pela polícia. Pode dizer
como foram esses episódios?
Comecei liderando uma quadrilha de
assaltantes juvenis. Estávamos em
11 bandidos e resolvemos assaltar
um banco no interior de São Paulo.
Quando saímos com aqueles malotes
de dinheiro, já tinha várias viaturas
da polícia. Houve uma troca de tiros
terrível na porta do banco. Meus
companheiros foram mortos um
MA
RC
OS
ST
EFA
NO
MARCOS STEFANO
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49
a um. Eu fui o último a sair e,
com um fuzil, troquei tiros com
os policiais. Mesmo drogado,
pesando apenas 46 quilos,
consegui atravessar a avenida.
Consegui chegar a um muro, subi
numa casa e fui pulando de um
telhado para outro. Quando olhei,
policiais do helicóptero Águia
começaram a atirar em mim. Um
tiro acertou o peito do meu pé e
eu caí na cozinha da casa de uma
serva de Deus. Naquele momento,
estava começando o círculo de
oração e ninguém se importou
com o telhado quebrado. Mas a
dona da casa, líder do trabalho,
convenceu-me a entregar. Então,
ela saiu abraçada comigo para
que eu não fosse morto. No outro
roubo que fi zemos, estávamos
fugindo de carro pela rodovia, quando
fomos cercados e meus comparsas
foram mortos. Mais uma vez, apenas
eu sobrevivi.
Nesse primeiro assalto, você
recebeu uma profecia de Deus.
Como foi?
A mulher que liderava o círculo de
oração veio em minha direção e,
usada pelo Senhor, disse em profecia:
“Tu és Zaqueu e nessa tarde convém
pousar em sua casa. O Brasil hoje o
conhece como um ladrão, uma causa
impossível, mas eu vou fazer de você
um pregador da minha Palavra”. Na
Bíblia, Zaqueu era um ladrão, mas
Deus mudou a vida dele. Por meio
dela, Deus também revelou que eu só
não havia morrido porque o anjo de
sua igreja estava orando por mim. Era
meu irmão, o pastor Reginaldo, e sua
esposa Akesia. Mesmo assim, preso
pelo pecado, endureci o coração e não
aceitei entregar a vida a Deus.
E de que forma foi sua conversão?
Primeiro, é preciso dizer que aprontei
muito antes de me converter. Fugi do
Carandiru, realizei outros assaltos,
como aquele segundo que contei há
pouco. E terminei preso novamente,
condenado a 33 anos. Na época,
estava com apenas 21. Dividia uma
cela com outros 9 detentos e estava
deitado na jega, a cama, quando
chegaram 3 homens, um deles cego –
o pastor Jarbas de Almeida. Apesar de
não enxergar, ele apontou o dedo para
mim e começou a dizer que eu havia
nascido para dar errado, mas que o
sangue de Jesus Cristo poderia mudar
minha vida e fazer as coisas darem
certo. Mesmo sem nunca ter me
visto ou ouvido falar de mim, ele me
chamou por meu apelido, Renatinho,
e disse que Deus me conhecia e queria
me fazer um pregador, para que o
Brasil conhecesse uma partícula da
sua glória. Não resisti. Comecei a
chorar e, ali mesmo, entreguei a vida
ao Senhor.
De que maneira foi solto?
Também por uma profecia. Ele me
disse que, no dia seguinte, antes do
ponteiro do relógio marcar meia noite,
eu estaria solto. Achei uma loucura,
mas ele afi rmou que quem falava
comigo era o Juiz dos juízes, que
não tinha me condenado. O pastor
Jarbas precisou morrer para viver,
precisou fi car cego para enxergar. Foi
alvejado pela Rota e morreu com 11
tiros, mas na hora da autópsia, Jesus
o ressuscitou. Ele foi meu pai na fé.
No dia seguinte, uma sexta-feira, logo
pela manhã, chegou uma escolta para
me levar ao reconhecimento. Eu estava
condenado, mas houve um recurso.
Minha quadrilha era composta por 16
bandidos e todos morreram. Como
não havia ninguém que pudesse me
reconhecer, eu acabei solto. Hoje eu sei
que foi obra de Deus.
Muita gente afi rma que entrar
para uma facção criminosa como
o PCC é como fazer um pacto de
sangue: não há volta, não há saída.
Quando deixou a organização, não
chegou a sofrer ameaças ou teve
medo de ser morto?
Quando retornei do fórum, dentro
do bonde, aquele carro todo fechado
que conduz os presos, o diretor do
presídio mandou me colocarem na
triagem e não no pavilhão. A notícia de
minha conversão havia se espalhado
e o pessoal do PCC queria me matar.
Eles queriam me enforcar, mas
mesmo assim pedi ao carcereiro que
me levasse de volta para o convívio.
Afi nal, eu tinha a promessa de Deus.
Logo, fui levado para o local do acerto
de contas. Começaram os debates. Um
deles falou: “Irmão, não podemos dar
o xequemate antes de falarmos com o
padrinho que o batizou”. Meu padrinho
chegou e, para minha surpresa,
perguntou se eu tinha certeza da
minha decisão. Disse que sim. Então,
ele completou: “Pode sair de cabeça
erguida. Ninguém vai tocar em você. É
ordem do comando geral”.
Ainda hoje há coisas que você evita
falar por causa de represálias dos
criminosos?
Sim.
Muitos dos jovens que atuam no
crime organizado nos morros do Rio
e nas periferias de São Paulo são
fi lhos de crentes ou desviados. Como
você vê essa situação? Não está na
hora da Igreja se preocupar mais?
Reconheço que é importante uma
mudança na estrutura eclesiástica
e na teologia pregada por muitas
denominações. Mas também
vejo igrejas desenvolvendo um
importante papel social e anunciando
o Evangelho. O sistema prisional
brasileiro, por exemplo, não consegue
recuperar ninguém. É uma escola do
crime, a começar pela Fundação Casa
– antiga Febem. Quem recupera? A
Palavra de Deus pregada dentro das
cadeias. Eu sou um exemplo disso,
mas também partilho do pensamento
do reverendo Martin Luther King
Junior. Também tenho um sonho,
que é viver num país de igualdade,
onde o Estado cumpra a Constituição,
oferecendo segurança, habitação,
saúde e dignidade. Para tanto, a Igreja
deve se fazer presente e cobrar.
DE MEMBRO DO PCC A PASTOR EVANGÉLICO: “O sistema prisional não consegue recuperar ninguém; quem recupera é a Palavra de Deus pregada dentro das cadeias
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50
P O L Í T I C A
Política Política
com mais fécom mais fé
MARCOS STEFANO
Bancada evangélica, que pode chegar a 71 parlamentares, comemora vitória
contra escândalos de 2006 e a força das questões religiosas nas últimas eleições
Parafraseando a Bíblia, o que
parecia impossível tornou-se
possível pela fé. Ao levantar
as bandeiras do combate à descrimi-
nalização do aborto e ao casamento
homossexual, a religião foi a grande
protagonista na reta fi nal das eleições
em 2010. Mas não somente na corrida
presidencial, com os quase 20 milhões
de votos da evangélica Marina Silva
(PV) ou por se tornar o centro dos
debates na disputa de segundo turno
entre o tucano José Serra e a petista
Dilma Rousseff. Também no Senado
e na Câmara dos Deputados, crer em
Deus mostrou ser um ótimo negócio.
No dia 1º de fevereiro de 2011, quan-
do os novos congressistas forem em-
possados, a bancada evangélica terá
aumentado sua participação em quase
50% se comparado à legislatura ante-
rior. Segundo um levantamento divul-
gado pelo Departamento Intersindical
de Assessoria Parlamentar (Diap), 32
dos 45 parlamentares da bancada se
reelegeram e terão a companhia de
mais 34 integrantes de igrejas evan-
gélicas que também venceram nas
urnas, totalizando 63 deputados e 3
senadores. Já um levantamento pré-
vio da Frente Parlamentar Evangélica
mostra ainda mais deputados, 68,
num total de 71 representantes.
Não parece muito se comparado
ao tamanho total do Congresso, com
seus 513 deputados e 81 senadores.
Mas com os novos números passa
a ser uma das maiores bancadas su-
prapartidárias, ao lado da ruralista. O
número de parlamentares é o mesmo
daqueles eleitos pelo PSDB, terceira
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51
maior representação das casas,
só perdendo para PT e PMDB.
Também representa uma tremenda
reviravolta em relação às eleições
de 2006. Naquele ano, por causa
do envolvimento de parte de seus
integrantes nos escândalos do
mensalão e da máfi a dos sangues-
sugas, os evangélicos perderam
representatividade e viram a ban-
cada minguar, interrompendo um
crescimento iniciado desde fi ns
dos anos 1980.
Exemplo marcante nesse
sentido vem da centenária As-
sembleia de Deus, a maior igreja
protestante do país. Na legislatura
de 2003-2006, o número de de-
putados federais pertencentes à
denominação bateu recorde – 22
cadeiras. Na seguinte, o número
de representantes despencou para
apenas 5, e agora a igreja regis-
trou novamente um signifi cativo
aumento, com 20 assembleianos
na casa. Em sequência, na lista
das maiores bancadas denomina-
cionais estão a Igreja Batista, com
12 deputados; a Universal do Rei-
no de Deus, com 8; a Presbiteriana,
com 5; Evangelho Quadrangular, com
4; Internacional da Graça de Deus,
com 3; Maranata e Metodista, com 2
cada uma, entre tantas outras.
No Senado Federal, Marcelo
Crivella (PR-RJ) e Magno Malta
(PR-ES) tiveram seus mandatos re-
novados. O batista Walter Pinheiro
(PT-BA) é a novidade entre os re-
ligiosos por lá. Na Câmara, muitos
dos que conseguiram se eleger, como
fi guras conhecidas no meio político
ou celebridades dos púlpitos e da
música gospel. No primeiro grupo
estão nomes como o do ex-governa-
dor fl uminense Anthony Garotinho
(PR), que só disputou o pleito graças
a uma liminar obtida na Justiça; de
José Carlos Vaz de Lima (PSDB), ex-
presidente da Assembleia Legislativa
de São Paulo; do empresário carioca
Arolde de Oliveira (DEM); e do mi-
neiro Gilmar Machado (PT), um dos
mais votados em seu Estado.
Fama e votos – Mais uma vez foram
as celebridades que mostraram que
entender de política, ter propostas
relevantes ou um histórico de luta
pelo povo não são os fatores mais
importantes em uma eleição. Diante
do poder da mídia, a fama tem sido
um caminho mais seguro para ganhar
votos. E se o palhaço Tiririca foi o
deputado mais votado da nação, a Câ-
mara dos Deputados não fi cará pior
com a presença dos cantores Lauriete
Rodrigues (PSC), eleita no Espírito
Santo, e Marcelo Aguiar (também do
PSC), eleito por São Paulo.
Os púlpitos também estarão repre-
sentados em Brasília. A Assembleia
de Deus, por exemplo, elegeu os pas-
tores Marco Feliciano (PSC) e Paulo
Freire da Costa (PR), esse último,
fi lho de José Wellington Bezerra da
Costa, presidente da CGADB, ambos
de São Paulo; e Hidekazu Takayama
(PSC), do Paraná. Já a Brasil para
Cristo será representada pelo pastor
Roberto de Lucena (PV), de São
Paulo, e a Quadrangular por Mário de
Oliveira (PSC), de Minas Gerais.
Também haverá caras novas na po-
lítica brasileira a partir de 2011. Uma
das maiores surpresas é Bruna Furlan
(PSDB), de apenas 27 anos, eleita
deputada com mais de 200 mil votos,
a terceira maior votação do Estado
de São Paulo. Vinda de uma família
tradicional na política em Barueri,
na Grande São Paulo, a moça, que é
evangélica da Igreja Cristã do Brasil
– não confundir com Congregação
Cristã no Brasil, como fi zeram impor-
tantes veículos da imprensa brasileira
–, já declarou que não pretende ser
apenas mais um rosto bonito ou uma
candidata à musa do Congresso. “Sei
que tenho muita coisa a aprender, mas
tenho muito boa vontade, muito boa
intenção e tenho esperança de poder
contribuir, com a minha juventude,
na discussão de assuntos de interesse
nacional”, disse ela, após o pleito.
Em compensação, fi guras conheci-
das fi caram de fora. Mas isso não é
necessariamente motivo de pesar para
os cristãos protestantes. Pelo menos,
no caso da senadora Fátima Cleide
(PT-RO), que não conseguiu se reele-
ger. Cleide era relatora do famigerado
DOS 513 DEPUTADOS ELEITOS, cerca de 14% se declaram evangélicos: uma das maiores bancadas ao lado da ruralista
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BANDEIRA POR TESTEMUNHA: reeleitos, o carioca Marcelo Crivella e o capixaba Magno Malta terão a companhia de mais um evangélico no Senado, o batista Walter Pinheiro
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PLC 122/06, projeto que cria a fi gura
do “delito de opinião” e criminaliza
aqueles que expressarem pontos de
vista contrários ao homossexualismo.
Defensora intransigente da propos-
ta, ela teve um aguerrido apoio da
comunidade gay em Rondônia, mas
não passou da metade dos votos do
primeiro colocado.
Mesmo com o projeto enfraqueci-
do, é difícil prever o que acontecerá
no futuro, mas o blog da Frente Par-
lamentar Evangélica antecipa alguns
assuntos que aguardam os congres-
sistas e propõe uma agenda de atu-
ação. “O crescimento expressivo se
deu pelo combate a propostas nocivas
à sociedade. Mas deve haver união
para evitar a aprovação de projetos
como a legalização do aborto, casa-
mento entre pessoas do mesmo sexo,
mudança do conceito de família,
Plano Nacional de Direitos Humanos
e projetos homofóbicos que crimina-
lizem pastores e demais pessoas
que ousarem protestar contra o
pecado da homossexualidade”,
destaca o site. O que todos os elei-
tores esperam é que não fi que ape-
nas nisso. Afi nal, tão importante
quanto as questões morais são as
sociais, oportunas para uma na-
ção, em sua maioria, constituída
por gente simples e humilde.
Enquanto os candidatos lutavam para conseguir votos e garantir
vitória nas eleições de outubro passado, uma verdadeira guerra santa era travada por duas das mais importantes lideranças da Igreja evangélica no Brasil. De um lado, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus; do outro, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória Em Cristo. Entre eles, a internet e provocações capazes de fazer o mais experimentado crente corar de constrangimento.
Tudo começou quando Macedo usou seu blog na rede mundial de computadores para questionar os motivos que teriam levado Malafaia a deixar de apoiar a senadora Marina Silva para se colocar ao lado de José Serra, ainda no primeiro turno da disputa presidencial. “Ele mudou de lado usando o frágil argumento de que o PV apoia o aborto. Depois, para justifi car sua posição contrária à candidata Dilma, acusou o PT de ser favorável não apenas ao aborto, mas ao casamento homossexual. O que fará agora, já que apareceram declarações do próprio Serra favoráveis à união entre pessoas do mesmo sexo e denúncias de ex-alunas de sua esposa, Mônica, que afi rmam ter ela dito em uma aula que já fez aborto apoiada pelo próprio marido?”, escreveu o bispo. Para completar, ele ainda insinuou que o pastor assembleiano teria o “espírito do profeta velho de 1Reis 13” que “continua atuando e tentando levar as pessoas ao engano”.
A resposta de Malafaia não tardou. Veio em dois vídeos com
duração total de uns 20 minutos, postados no site Youtube. “O PT lutou quatro anos para aprovar o PLC 122/06. Pergunte ao seu sobrinho, o senador Marcelo Crivella”, alfi netou o pastor. Nem a TV Record escapou. Segundo o líder assembleiano, Deus deve livrar o Brasil de ter a emissora em primeiro lugar na audiência. “Você perdeu o foco. O dízimo e as ofertas não podem ser usadas para promover o lixo, a imoralidade e o jornalismo barato e chapa branca, feito em troca de publicidade.” Para encerrar, Malafaia pagou na mesma moeda: “O que vejo é um falso profeta (...) Talvez, o único pastor do mundo que apoia o aborto.”
A situação só não piorou ainda mais porque a eleição estava em cima da hora. Mesmo assim, logo após a vitória da candidata petista, Macedo aproveitou as comemorações para replicar Malafaia, novamente usando seu blog. Ainda que não tenha citado nomes, para bom entendedor, pingo é letra: “A guerra das eleições acabou. Entre salvos e perdidos, o maior prejudicado foi o Reino de Deus. Isso por causa de alguns líderes, supostamente convertidos, unindo-se de corpo, alma e espírito à liderança romana em favor do candidato das elites”, provocou o representante da Iurd, no texto Cuidado com o Ecumenismo Disfarçado, postado dia 4 de novembro. Fim? Por enquanto, talvez. Pelo menos, como mostra a história, até o próximo embate eleitoral.
“Profeta velho” X “Falso profeta”
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SURPRESA NAS URNAS, A EVANGÉLICA Bruna Furlan (PSDB-SP) declarou que não pretende ser apenas
mais um rosto bonito no Congresso
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PINGA FOGO NA IGREJA:
divergências políticas e
rivalidades no púlpito fazem
líderes evangélicos trocar alfi netadas
via internet
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54
I G R E J A
Aliança dos púlpitos
JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI
Fundada em São Paulo a Aliança
Cristã Evangélica Brasileira que, dentre outros
propósitos, busca a unidade entre as igrejas evangélicas
Líderes e representantes de
igrejas, além de jornalistas
e outras entidades ministe-
riais estiveram presentes, no dia 30
de novembro, na Catedral Metodis-
ta, em São Paulo, para a fundação
da Aliança Cristã Evangélica Bra-
sileira (ACEB), movimento
iniciado há quase dois anos
por um grupo de evangelistas
munidos do propósito de criar
uma organização para congre-
gar as diferentes denomina-
ções atuantes no país. Desde
então, os idealizadores têm
trabalhando um documento
– a Carta de Princípios e Dire-
trizes –, uma espécie de esta-
tuto embasado por princípios
como crenças, valores e obje-
tivos, e levando-se em conta
as declarações de fé históricas
de organizações reconhecida-
mente cristãs. “Sei que é im-
possível representar de forma
MAIS DE 200 PESSOAS COMPARECERAM à Catedral Metodista, no bairro da Liberdade, para o culto de inauguração
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Tivemos a presença de várias
lideranças estratégicas em
nossa reunião, e o futuro nos
aponta algo muito positivo”,
comemora o religioso, enfa-
tizando que inúmeras foram
as solicitações de entrevistas,
fotos e releases por parte da
imprensa cristã.
Depois da semente ter sido
lançada, o próximo passo é
colocar todas as ideias em
prática para que os frutos pos-
sam ser rapidamente colhidos.
“Precisamos estruturar nosso
núcleo central, e já elegemos um
grupo gestor de trabalho. Vamos
usar a internet para dar mais vi-
sibilidade à associação, em vista
de congregarmos mais institui-
ções e aumentarmos nossa base. E
também já estamos estabelecendo
grupos – de ação social, oração,
missões e juventude – com o ob-
jetivo de arregimentar cada vez
mais instituições e pessoas para
compô-los”, planeja o pastor com
grande entusiasmo, mas ciente de
que o trabalho a ser feito é extre-
mamente árduo.
macro a Igreja brasileira, mas o
propósito primordial da ACEB
é tornar uma expressão da uni-
dade do corpo de Cristo, numa
identidade mais comunitária
do que individual”, explica Fa-
brício Cunha, pastor da Igreja
Batista da Água Branca, em
São Paulo, e membro do Con-
selho Geral. Como parâmetro
de trabalho, o religioso cita o
Pacto de Lausanne – congres-
so evangelístico realizado na
Suíça, na década de 1970, com
o objetivo de criar um comitê
mundial de igrejas evangélicas
– para levar adiante os propó-
sitos da associação. E ele não
que as outras não conseguiram.
Nossa intenção é responder a uma
demanda reprimida, que clama por
unidade e por algum nível de re-
presentatividade”, esclarece.
Trabalho árduo – Pelo menos, a
basear-se pelo culto inaugural e
pelo enfoque que a mídia evangé-
lica tem atribuído à empreitada, o
Conselho Geral da AECB já pode
começar a agradecer – ou, numa
linguagem mais apropriada aos
evangélicos, dar “glória” a Deus.
“A repercussão tem sido excelente.
demonstra nenhuma preocupação
com o “insucesso” de entidades do
passado, de visões similares, como
a Confederação Evangélica Bra-
sileira (CEB), que perdurou por
cerca de três décadas até 1964, e
a Associação Evangélica Brasileira
(AEBV), que atuou nos anos 1990.
“Não somos órfãos nem ufanistas,
mas parte de um processo histórico
e respeitamos o legado das insti-
tuições passadas. Não temos um
sentimento ‘messiânico’ que nos
permita achar que, dessa vez, va-
mos conseguir resolver problemas
FABRÍCIO CUNHA: “NÃO SOMOS ÓRFÃOS nem ufanistas, mas parte de um processo histórico e respeitamos o legado das instituições passadas”
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56
O B S E RVAT Ó R I O
Santa ignorância
“Deus e o Evangelho merecem
mais, merecem ser mais
conhecidos. Os valores
éticos bíblicos e cristãos
necessitam ser
compreendi-dos para serem
praticados”
Tenho participado de
diversos congressos e
já se tornou comum a
exaltação da ignorância no estudo
da Bíblia e da Teologia, como se
o aprofundamento nesses estudos
fosse obra de desocupados, e até
demonizados os que se ocupam
com a tarefa de entender melhor a
Bíblia, a Doutrina, a Exegese etc.
Confesso que é muito
divertido ouvir uma pessoa
tentando legitimar a
argumentação, valendo-se de um
conjunto de raciocínios do campo
fi losófi co da Lógica. Assim, para
afi rmar a “desintelectualização”
do Evangelho torna-se necessário
usar o intelecto, o raciocínio,
a lógica. Não há como fugir,
porque até para tentar mostrar
que a refl exão é inútil a pessoa
necessita refl etir. Algumas causas
podem ser citadas sobre isso:
Em primeiro lugar, a época
em que vivemos tem como
um dos principais impulsores
a valorização do indivíduo
com suas opiniões pessoais.
A compreensão da realidade
e da verdade se inicia com
ela e depende dela. É a era do
velocímetro zerado da verdade.
Isto é, nada antes pode ser
legitimado se o indivíduo
entender que não pode ser
aceito. Foucault já dizia
que o “homem é descoberta
recente”, não como pessoa, mas
como indivíduo. O que vale
é a sua própria e individual
opinião sobre as coisas, sobre
a leitura da Bíblia, enfi m. Por
si mesma, a leitura que faço
como indivíduo, é sufi ciente;
nada mais basta. Nesse caso, a
compreensão bíblica que temos
hoje não se iniciou no passado
com a construção da história da
doutrina, mas no momento em que
o indivíduo começou a pensar no
assunto. Então, para que estudar
História da Teologia, Exegese,
Hermenêutica? A Bíblia já era
como fonte da verdade, nós é que
devemos dizer o que Deus é.
Em segundo lugar, e como
consequência da causa anterior,
o que vale é a minha experiência
como indivíduo para determinar a
verdade. Tenho uma experiência
e vou buscar na Bíblia algum
versículo que possa ser
compatível com essa experiência,
para dar um toque de sagrado no
que estou sentindo. Novamente, o
ponto de partida é a pessoa e não
Deus e sua verdade.
Em terceiro lugar, para muita
gente, o que vale é a atividade
da igreja, a pregação, missões.
Para que estudar se as pessoas
estão morrendo sem Cristo? É o
“vício” pragmático e utilitarista
que herdamos dos que trouxeram
o Evangelho para cá. Que tipo
de evangelho e salvação estamos
pregando? Será que levar a
pessoa à salvação é tudo? E
a vida dela no Evangelho, o
crescimento cristão?
Nossa geração é uma geração
“Power Point”. Basta tudo ser
sumarizado, sem profundidade;
vale a experiência, a opinião
pessoal ou mesmo o ativismo.
Deus e o Evangelho merecem
mais, merecem ser mais
conhecidos. Os valores éticos
bíblicos e cristãos necessitam
ser compreendidos para serem
praticados. Vamos dar um basta
a essa ignorância de Bíblia e
Teologia.
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58
Luiz Leite é escritor,
conferencista, administrador de empresas e psicanalista. Preside a International Fellowship Network e pastoreia a Igreja Vida com Cristo, em Belo Horizonte (MG)
P A S T O R A L
Ó tempos, Ó modos!
“Duvide do pastor que não tem cheiro de ovelha! Se não tem cheiro de ovelha não é
pastor”
Gosto da designação que
se dava aos sacerdotes de
antanho. Ainda que tenha
caído em desuso, muito me atrai
e fascina. É bastante apropriado
chamar padres e pastores de
curas d’alma. O sacerdote cristão,
consciente do seu chamado e
vocação, trabalha basicamente
para esse fi m, e vê nesse
expediente a razão fundamental
do exercício do seu ministério.
Num tempo em que a
medicina, destituída de sua usual
onipotência, admite que grande
parte dos males que afl igem o
homem tem origem em uma
psique adoentada, e que por essa
razão não há recurso alopático,
homeopático ou de qualquer
ordem medicamentosa que
resolva, médicos da alma surgem
no cardápio de alternativas como
os únicos que podem dar resposta
adequada a um número cada vez
maior de males.
Como médico de almas, o
sacerdote religioso – não importa
sua confi ssão – deve estar
disposto a lidar com as pessoas
num nível de proximidade que
inevitavelmente vai colocá-lo
em contato direto com quadros
carregados de dor e angústia
concentradas. É necessária
muita disposição para, como o
Samaritano, descer de sua posição
e tomar medidas concretas para
providenciar socorro àqueles que
encontramos à beira do caminho.
No caso mais específi co do
Temos a mania de achar que os
nossos tempos são escandalosos, e
que pelo jeito que as coisas vão o
mundo está mesmo chegando ao fi m.
O grande orador, fi lósofo e escritor
romano Cícero (106-43 a.C) nos
seus dias, abismado com os fatos
do seu tempo, dizia: “O tempora, O
mores!”, ou “Ó tempos, ó modos!”.
Depois da queda da raça humana
no Éden, nunca mais houve uma
única geração que não produzisse
escândalos que causassem pasmos.
Em Gênesis 4, temos o registro do
primeiro homicídio – e também
fratricídio – da história; logo a
seguir, em Gênesis 6, encontramos
a narrativa bíblica expressando
o desgosto do Criador em face à
corrupção de suas criaturas.
A corrupção do gênero humano
se reedita em todas as áreas, mais
requintada a cada geração. “O que
foi é o que há de ser, e o que se fez
isso se tornará a fazer...”. O velho
Salomão tem razão; nada, pois,
há novo debaixo do sol. Jesus,
sabedor de tudo, já alertava seus
discípulos acerca da inevitabilidade
do escândalo. É inevitável, frisou,
e fazendo uso da fi gura magistral
do joio semeado no meio do trigal,
ilustrou de forma abundantemente
clara essa triste realidade.
O poeta baiano Gregório de
Matos (1633-1696), conhecido pela
alcunha de “Boca do Inferno”, em
razão de sua irreverência desbocada,
o que lhe custou perseguição e
exílio nos seus dias, no longínquo e
inocente século XVII, denunciava as
ambiente cristão, é comum ouvir
aqui e ali, de pastores que não
gostam de se envolver com o povo e
se misturar com o rebanho... Duvide
do pastor que não tem cheiro de
ovelha! Se não tem cheiro de ovelha
não é pastor. É simples assim!
Muitos gostam de ostentar títulos
e granjear a honra e benefícios que
isso confere, mas na hora de tratar
da ovelha, desconversam e mandam
para outro – isso quando o fazem.
Esse tipo de “pastor” é responsável
pela mercantilização da fé cristã e
promoção da simonia, ou seja, do
comércio de artigos sagrados, como
a venda de bênçãos, favores divinos
e demais práticas que transformam a
crendice e boa fé dos desesperados
em ouro, numa espécie de alquimia
bem calculada e produzida.
Observando esses “sacerdotes”
que não têm vocação para cuidar de
vidas, e vendo-os tão abundantes,
exclamamos perplexos: “Que
absurdo!”.
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nela que têm o ofício de sal, qual será, ou qual não pode ser a causa dessa corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina (...) ou porque os pregadores dizem uma coisa e fazem outra (...) ou é porque o sal não salga, e os pregadores pregam a si e não a Cristo...”
Nesse sermão, pregado em São
Luiz do Maranhão nos idos de
1654, que evoca as mais românticas
imagens de uma época pueril,
Vieira envia uma crítica severa aos
pregadores do seu tempo, que, por
incrível que pareça, já andavam
praticando os vícios que hoje são
comuns. O padre se mostra tão
atual que parece estar se referindo à
realidade por nós experimentada
nesses dias.
Pelo que se observa, nada mudou: Ó tempos! Ó modos!
não teria feito o barulho que fez se
o clero não o tivesse munido com
um rosário imenso de razões, além
de pincel e tinta abundante para
pintar suas famosas caricaturas
literárias. Como Gregório, vemos no
mesmo século outro feroz escritor
se levantar contra os desmandos
do sacerdócio desviado que já
naqueles dias se caracterizava por
tudo que hoje nos causa espanto. O
Padre Antonio Viera (1608-1697),
o padre protestante, não poupou
os pastores que não tinham cheiro
de ovelha e nem disposição para
andar com o rebanho. Diz o velho e
saudoso Vieira:
“Vós, diz Cristo, senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra; e chama-lhe sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção,mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos
práticas corrompidas de nobres, de
políticos, e também da sacerdotada
cujo Deus era o próprio estômago.
(...) Em um tempo é tão velhaco,tão dissimulado, e tanto,que só por parecer santocanoniza em santo um caco:se conforme o adágio fraconinguém pode dar, senãoaquilo, que tem na mão,claro está que no seu tantonão faria um ladrão santo,senão um Santo Ladrão.
Estou em crer, que hoje em diajá os cânones sagradosnão reputam por pecadospecados de simonia:os que veem tanta ousadia,com que comprados estãoos curados mão por mão,devem crer, como já creram,que ou os cânones morreram,ou então a Santa unção.
É óbvio que Gregório de Matos
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C O M U N I C A Ç Ã O
Nas ondas das rádio s
Em 1895, Guglielmo Marconi,
rapaz ainda, conseguiu transmitir
um sinal de áudio sem a
utilização de fi os a uma distância de
aproximadamente 20 quadras. Tal feito,
revolucionário para a época, aconteceu
na cidade de Bologna, na Itália, e rendeu
ao seu idealizador o reconhecimento
como um dos “pais do rádio”. Hoje,
passado mais de um século, um sinal
sonoro pode sair da mesma Bologna e,
pelas ondas da internet, chegar a qual-
quer lugar do planeta num piscar de
olhos. E apesar da célebre frase “uma
imagem vale mais do que mil palavras”,
o veterano rádio continua se renovando
e se energizando a cada dia, um cama-
leão da comunicação que exige o uso de
apenas um dos sentidos humanos e mes-
mo assim consegue se sobreviver aos
modismos do mundo contemporâneo;
e vai além, companheiro inseparável de
milhões de usuários, está presente em
praticamente todos os lares brasileiros.
Se até a década de 1950 o rádio
era considerado um artigo de luxo e
ocupava lugar de destaque na sala de
estar, onde famílias inteiras se reuniam
em torno das notícias e das novelas
faladas, hoje em dia o rádio se tornou
tão pessoal quanto um relógio de pulso
ou um celular, e pode ser encontrado no
bolso, no carro, no computador, enfi m...
O segredo de tamanho sucesso, talvez,
seja o fato de ser o único veículo de
comunicação cujo uso não compromete
as atribuições do dia-a-dia, ou seja, nin-
guém precisa parar o que está fazendo
para ouvi-lo.
Utilidade mais do que comprovada, é
fato também que, em tempos de i-Pods
e smartphones, rádios e computadores
não conseguem mais viver desgrudados.
De olho nesse nicho de mercado, mi-
lhares de emissoras, inclusive mantidas
por igrejas evangélicas, têm investido
pesado para levar suas programações a
todos os locais onde haja um compu-
tador conectado a internet. Estima-se
que, das 3700 emissoras outorgadas
no Brasil, cerca de 7% são vinculadas
a igrejas, especialmente às católicas
e neopentecostais. Além de espargir
suas poderosas ondas sonoras pelo ar, a
Rádio Vida, uma das mais importantes
do gênero no interior paulista, não des-
preza o poder de força da rede mundial
de computadores. “A internet amplia a
audiência e nos dá a interatividade que
ARTUR MENDES
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CONSIDERADO UM DOS “PAIS DO RÁDIO”, Guglielmo Marconi foi o primeiro a transmitir um sinal de áudio sem a utilização de fi os
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DE ACORDO COM JUANRIBE PAGLIARIN (à direita), a internet permite
a interatividade com os ouvintes
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Maior alcance, audiência e
interatividade: igrejas evangélicas
usam rádios webs para levar mensagens aos
quatro cantos do mundo
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61
o s webs
precisamos para falar e ouvir nossos 80
mil ouvintes do Brasil e do mundo, que
nos acompanham todo o mês”, afi rma o
diretor Juanribe Pagliarin, que também
é pastor e presidente da Comunidade
Cristã Paz e Vida.
Entretanto, não são somente as deno-
minações tidas como mais liberais que
se renderam ao novo aparato tecnoló-
gico das transmissões online. Igrejas
clássicas reformadas, como a Metodista,
Luterana e a Presbiteriana, apesar da
longa e histórica participação evange-
lística em solo brasileiro, agora também
contam com seus canais de radiodifusão.
Essa descoberta pode até ter demorado
um pouco para a Igreja Presbiteriana do
Brasil (IBP), que soma mais de 800 mil
membros e um século e meio de história,
mas, a iniciativa foi pra lá de pioneira,
levando-se em consideração sua doutri-
na puramente tradicional. No ar há mais
de quatro anos, a Rádio IPB tem colhido
os frutos plantados à custa de seu van-
guardismo. “São mais de 45 mil ouvin-
tes por mês, de diversas denominações
evangélicas, que ouvem e participam
ativamente do chat da emissora, inte-
ragindo com outros ouvintes e com os
apresentadores”, comemora o reverendo
Ricardo Mota, secretário executivo da
Agência Presbiteriana de Comunicação.
De seus estúdios em Higienópolis, bair-
ro nobre da capital paulista, a IPB Web
pode ser ouvida, pela internet, em todo
o mundo, e apresenta uma programação
basicamente musical, entremeada de
programetes curtos com mensagens
pastorais a cada meia hora.
Sem censura e outorga – Mais ousada
do que as igrejas reformadas, a centená-
ria Assembleia de Deus pode se orgulhar
de ter fundado a primeira emissora virtu-
al que se tem notícia entre as denomina-
ções evangélicas. Transmitida exclusi-
vamente pela internet, a Assembleia de
Deus Online disponibiliza até um pastor
virtual para seus ouvintes. De sobra, a
audiência – a emissora registra mais de
80 mil ouvintes por mês – parece fazer
justiça ao tamanho da denominação, que
conta com milhões de membros.
Igrejas novas, baseadas em targets
específi cos como a Bola de Neve tam-
bém encontraram seu braço forte de co-
municação. Fundada em 1993, a igreja
do pastor-surfi sta Rina tem tudo a ver
com a geração virtual, e não demorou
em aportar nas ondas da web sua famosa
prancha. Além do site, todinho voltado
para o público jovem, a Bola de Neve
criou sua própria estação de rádio onli-ne. Aliás, duas, com a mesma linguagem
jovem, mas com estilos diferenciados
– a Bola Rádio Worship, recheada de
louvores, adoração e ministração; e a
Bola Rádio Extreme, repleta de sonzeira
gospel da pesada.
Seja qual for seu estilo, atualmente
a internet soma mais de 45 mil esta-
ções de rádios catalogadas, das quais
milhares são evangélicas, números su-
fi cientes para atender aos 75 milhões de
internautas brasileiros e aos mais de 1
bilhão espalhados pelo mundo. E, com
a tecnologia avançado cada vez mais e
a consequente convergência dos meios
de comunicação, muito em breve qual-
quer indivíduo poderá ouvir sua rádio
predileta em qualquer lugar do planeta
num radinho doméstico – já há no mer-
cado aparelhos do tipo rádio relógio
de cabeceira –, ou mesmo receivers e
rádios automotivos que captam as esta-
ções sem o uso de computadores, como
se fossem emissoras locais. Assim, será
possível caminhar descontraidamente
pelas ruas de Bologna com o radinho
sintonizado nas rádios citadas nessa
matéria. Afi nal, a internet é um territó-
rio livre, democrático, de baixo custo, e
que permite a qualquer pessoa abrir seu
site e instalar sua rádio, sem recorrer
em problemas com a censura ou outor-
ga. Basta querer e fazer.
RICARDO MOTA, DA RÁDIO IPB: quatro anos no ar e muitos frutos colhidos
AR
TU
R M
EN
DE
S
A IGREJA BOLA DE NEVE, do pastor Rina, também aportou sua prancha na
nas ondas da web
Para ouvir as rádios webs
citadas nessa matéria, acesse:
Rádio Vida www.vidafm.fm
Rádio IPB www.ipb.org.br/radio
Rádio Assembleia http://assembleia.org.br
Bola Rádio Worshipwww.bolaradio.com.br/worship
Bola Rádio Extremewww.bolaradio.com.br/extreme
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I N T E R N A C I O N A L
Pela vida de Asia
JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI
Condenação à
morte de cristã
paquistanesa
mobiliza igrejas
e organismos
internacionais
em defesa dos
direitos humanos
Promulgada pelo general Zia-ul-
Haq na década de 1980 e ex-
tremamente infl exível, a ponto
de até incentivar muitos muçulmanos
paquistaneses a fazer justiça com as
próprias mãos, a Lei da Blasfêmia tem
dado o que falar nos últimos meses,
principalmente após a condenação à
morte da cristã Asia Bibi, uma tra-
balhadora rural e mãe de três fi lhos
acusada de ofender o profeta Maomé
– ou Muhammad, o fundador da reli-
gião islâmica.
Já que no contexto paquistanês, a
palavra de um muçulmano tem peso
maior do que a de dois cristãos, e que
não é necessário haver provas con-
cretas para a acusação de blasfêmia,
a prisão de Asia aconteceu assim que
a queixa foi levada a um clérigo da
região do Punjab, na fronteira com a
Índia, em junho de 2009. Desde que
a sentença de condenação por enfor-
camento foi anunciada, em meados
de novembro, inúmeros têm sido os
apelos e manifestações provenientes
de todas as partes do mundo, princi-
palmente de entidades relacionadas
aos direitos humanos, em favor da
vida da cristã.
Governador do Punjab, Salmaan
Taseer chegou a declarar a um jornal
local que considera a sentença de morte
um “episódio vergonhoso para o país”,
demonstrando assim que nem todos
os paquistaneses compactuam com as
leis impostas pelos ditadores e radicais
islâmicos. Presidente do Conselho Pon-
tifício para o Diálogo Inter-Religioso
– departamento da Igreja Católica que
tem como fi nalidade o diálogo entre
religiões –, o cardeal Jean-Louis Tau-
ran esteve, pessoalmente, no Paquistão
– país de maioria esmagadora muçul-
mana, incluindo a região da Caxemira,
pivô de uma disputa territorial histórica
com a Índia – para tentar sensibilizar o
governo local sobre o caso e solicitar
a revogação da lei. “A comunidade
DIVISA ENTRE O PAQUISTÃO E A ÍNDIA: liberdade religiosa é uma expressão
“praticamente” proibida no país asiático
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de Sandha Chistana. Nas ruas ou na
prisão, o fato é que crente algum pode
se sentir seguro no Paquistão; afi nal,
indícios dão conta de que há até uma
recompensa para quem assassine a
mulher cristã antes que os apelos inter-
nacionais façam algum efeito.
internacional está acompanhando com
grande preocupação a difícil situação
dos cristãos no Paquistão, muitas vezes
vítimas de violência e discriminação”,
afi rmou o papa Bento XVI, semanas
antes do embarque do padre francês à
Ásia. “Peço que lhe seja restituída a li-
berdade o mais rapidamente possível, e
os que se encontram em situações aná-
logas que tenham sua dignidade huma-
na e direitos fundamentais respeitados”,
complementou o pontífi ce.
Entre os crentes, a corrente também
tem sido grande contra a intolerân-
cia religiosa no país asiático; vale
lembrar que, em setembro, um
pastor evangélico – Patras Sani,
da Church of God Ministries – foi
agredido e morto por paquistane-
ses, num mal explicado episódio
de assalto ocorrido na comunidade
LEI DA BASFÊMIA: legado do governo do ditador Zia-ul-Haq, morto durante um acidente de avião em 1988
PASTOR DA CHURCH OF GOD
MINISTRIES, Patras Sani foi morto por paquistaneses durante um assalto: crime
convencional ou intolerância religiosa?
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R E L I G I Ã O
CLÁUDIA TEIXEIRA
Com produção requintada e muitos efeitos especiais, musical da IB do Morumbi traz mensagem de refl exão sobre o amor, a
tolerância e o verdadeiro sentido do Natal
Natal multimídia
Invasão, mas não no sentido
literal. Esse foi o tema do já
tradicional musical de Natal
da Igreja Batista do Morumbi,
apresentado entre os dias 15 e 21
de dezembro, em São Paulo. No en-
tanto, a invasão mesmo aconteceu
por parte do público, e em todas as
apresentações, ocupando pratica-
mente todos os 2 mil lugares dispo-
níveis no auditório da igreja. Mais
importante ainda do que a causa, ou
seja, a maciça presença de fiéis, foi
o efeito causado: a reflexão coletiva
acerca dos problemas que o mundo
vem enfrentando ao longo dos anos,
e que têm provocado milhões de
mortes e muita dor.
Diferentes culturas, classes so-
ciais e confissões religiosas compu-
seram a equipe de cerca de 400 vo-
luntários, entre membros da própria
igreja, moradores da comunidade
da Vila Andrade, além de artistas e
músicos profissionais. Como resul-
tado, um espetáculo para ninguém
botar defeito: música orquestrada,
coral, ações de multimídia, teatro
e dança, tudo na mais perfeita har-
monia.
Sem presépios, adereços e as
principais referências às comemo-
rações natalinas, o propósito do
musical, idealizado pelo diretor ar-
tístico Rhode Mark e pelo pastor de
adoração da igreja, Sérgio Lula, foi
demonstrar, de maneira diferente,
como o amor de Cristo vem derro-
tando todas as tentativas do homem
de dominar o planeta. “As escolhas
do homem têm consequências, e ge-
ralmente colocam Deus no meio. No
entanto, não é Deus quem faz guer-
ras”, explica um anjo do Senhor ao
ser questionado sobre tantas mortes,
diante dos olhos atentos do público.
Isso, logo depois que, ao som de
helicópteros, quatro soldados, nos
moldes do Batalhão de Operações
Policiais Especiais (Bope) do Rio
de Janeiro, descem ao palco presos
por cordas – rapel –, representado
a morte, a doença, a guerra e a mi-
séria. Ao contrário, no entanto, da
polícia carioca, que tem trabalhado
para livrar a população das garras
do tráfico, os soldados do musical
tinham como objetivo assolar a hu-
manidade em nome do mal. Claro
que, um a um, eles são derrotados,
FO
TO
S: C
AR
OLI
NE
RIB
EIR
O
SEM PRESÉPIOS, MAS COM MUITA REFLEXÃO: celebração contou com participação maciça de fi éis e membros da comunidade
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feito algo assim. Ensaiamos muito
e tivemos esse resultado maravi-
lhoso. Foi muito bom contar com
o apoio e participação de todos da
igreja”, orgulha-se o regente.
Emocionada também ficou a en-
fermeira Mônica de Fátima Alves
Bastos, que pela primeira vez parti-
cipou de uma apresentação musical.
“É um prazer transmitir o que sinto
para as pessoas. É como se eu fosse
um instrumento de Deus”, declara,
com olhos marejados.
E assim, todos que assistiram
ao musical – para quem não viu, o
negócio agora é esperar pela versão
a ser lançada em DVD – puderam
acompanhar a derrocada da morte,
da fome, da guerra e da miséria. A
Invasão mostrou o quanto é possí-
vel vencer ou, pelo menos, nutrir
uma esperança para superar o caos,
os problemas, as dificuldades e até
a tristeza, que comumente se abate
sobre muitos na época do Natal.
sucumbindo cada vez que um coral,
todo vestido de branco e iluminado,
entra em ação. É como a vitória da
luz frente às trevas.
E teve mais: farrapos humanos
vagueando sem esperança – ou seja,
sem Jesus –, diálogo entre anjo e
menino, enfim, não faltou criativi-
dade e extremo cuidado
com a produção. “Pro-
curamos levar as pesso-
as a refletir sobre o que
Jesus Cristo tem a ver
com o sentido da vida e
com os mais diferentes
aspectos de nossa exis-
tência”, ressalta Marcos
Amado, membro da
equipe pastoral da IB do
Morumbi, enfatizando
também a escolha do
tema – no ano passado,
o foco foi bem mais
light: o nascimento de
Jesus.
Para Rhode Mark,
ganhar almas traduz o
verdadeiro sentido do
Natal. “A montagem
de um espetáculo assim
é como se nascesse
um filho. A gente
sente dores na bar-
riga e quer ver logo
o resultado final”,
compara, extrema-
mente satisfeito
por ter conseguido
transmitir a mensa-
gem. “Mesmo que
apenas uma pessoa
se aproxime de
Deus, então todo o
trabalho já terá vali-
do a pena”, comple-
menta.
Brilho nos bastidores – Graças aos
recursos técnicos e da multimídia,
o público pôde ver o coral se multi-
plicar, causando a impressão de ser
formado por milhares de pessoas.
No fundo do palco um telão de
fazer inveja aos cinemas, enquanto
que o pastor-maestro Sérgio Lula
regia a orquestra, numa simbiose
musical completa com os cantores,
atores e bailarinos. “Nunca havia
DOS BASTIDORES PARA O TELÃO: o pastor Sérgio Lula rege a orquestra
PENSAR EM JESUS SOBRE TODOS os
aspectos, aconselha o pastor Marcos Amado
DEBUTANTE NO CORAL DA IGREJA, a enfermeira Mônica de Fátima afi rmou ter fi cado emocionada
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68
Emerson Menegasse
é teólogo, fi lósofo, psicoanalista e missionário no Nepal, onde coordena o Projeto Nepali
M I S S Õ E S
A pequenez da
MEGALOMANIA
“Enquanto eles lutam
para ver quem constrói o
templo maior, fazemos
pequenos apelos aqui
na nossa realidade
missionária transcultural para levantar
algumas paredes”
Comecei a escrever
para a Eclésia no
ano passado. Ao
receber uma nota da redação
estipulando o prazo para
envio do próximo artigo e
ter acesso à edição anterior,
de imediato um dos temas
abordados cativou a minha
atenção: os megatemplos
que estão sendo construídos
no Brasil. Fiquei chocado
e, ao mesmo tempo,
incomodado, uma vez que a
sumptuosidade dos nossos
templos e essa necessidade
de “aparentar ser” sem
“sentido de existir” é uma
marca pungente dos tempos
pós-modernos. Uma estranha
necessidade de “querer
ser’’ mais do que meu
“próximo”, na tentativa de
mostrar a GRANDEZA de
um DEUS que se manifestou
na simplicidade de um
carpinteiro, diminuído e
encarnado à nossa realidade
fosca e tosca, que não
consegue ver DEUS como
Ele verdadeiramente é!!!
A competitividade entre
os GRANDES EGOS
cristianizados cada vez
mais aflora, tentando
demarcar seu território,
verdareiros impérios humanos
que nada têm a ver com a
simplicidade constitutiva do
Reino de Deus. Enquanto eles
lutam para ver quem constrói
o templo maior, fazemos
pequenos apelos aqui da
nossa realidade missionária
transcultural para levantar
algumas paredes – tentando
não ferir a arquitetura
tradicional – para servir de
templo, centro comunitário,
ambulatório, salas de
alfabetização de adultos, e
outras tantas cabíveis nesse
pequeno espaço de construção
de possibilidades.
E ainda temos que aguentar
e-mails de mal-educados,
daqueles que não perdem a
oportunidade de nos alfinetar,
que vivem em suas casas
repletas de comodidades e
dão aquela “ofertinha” básica
só para não dizer que deixam
de contribuir com o trabalho
missionário da igreja. E dão
OFERTAS GORDAS para
melhorar as condições dos
bancos da igreja, pois têm que
se assentar confortavelmente
e se refrescar com um sistema
de ar condicionado mais
moderno; afinal, são filhos de
Deus e se julgam no direito de
como numa exposição de
poder e autoridade, daqueles
que podem mais e vendem
suas indulgências a la catolique, numa roupagem
protestantizada, construindo
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69
(João 14.6) –, doando-se sem
nada pedir em troca.
Gente, que evangelhozinho
vazio de sentido é esse, que
“é aquilo que tem”, enquanto
o Mestre dos Mestres
manda que nos esvaziemos
de nós mesmos. Não para
repreenchermos o espaço
com nossos egos feridos e
baixoestimados – que de tão
inferiorizados querem se
sentir GRANDES apenas nas
estruturas visíveis ao invés
de se deixarem encher pelo
Espírito Santo e jorrar para
libar àqueles que estão na
suas Jerusaléns até alcançar
as nações, com o verdadeiro
bálsamo curador das almas
– mas pelo real propósito de
sermos igreja para além das
estruturas dos templos.
Pelo amor de Deus, eu
quero o EVANGELHO DA
CRUZ de volta...
de uma psiquê cansada da
diminuição da GRANDEZA
DE DEUS a uma pequenez
de alma, bem do tamanho
dessas que esses venderores
de indulgências cristãs, que
negociam salas de mármore
branco com seu nome em
ouro, com intercessores 24
horas, pagos apenas para
orar por você como garantia
da sua prosperidade nessa
terra, made in teologia da
prosperidade “Tio San”.
É réplica do Templo
de Salomão, réplica do
Tabernáculo, réplica disso,
réplica daquilo... Só que
ninguém quer ser uma réplica
daquele que abriu mão de
tudo o que tinha – e olha que
Ele tinha muito (João 1.1-5),
mas se esvaziou de si mesmo
(Filipenses 2.5-8) para se
humanizar e abrir caminhos
de vida, verdade e eternidade
ter o melhor. Enquanto isso,
outros congelam pela falta
de aquecedores adequados
na Mongólia. Que ironia!!!
Como ter aquecedores nas
montanhas geladas dos
himalaias ?!?! Se mal dá
para subir sozinho, imagine
então com um aquecedor nas
costas!!! Fala sério!!!
Nesses e-mails
mencionados ainda tentam
espiritualizar, como donos
de uma verdade que deve ser
apenas deles (relativismo),
porque chamar o que
fazemos de um “modo sem
vergonha de professar uma
religião” é bem típico de
quem não faz nada a não
ser criticar sem perspectiva
construtivista. Se você está
achando que esse artigo é
um desabafo, está repleto de
razão, pois é uma descarga
das acumuladas sinapses
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70
M E M Ó R I A
A Bíblia paraA Bíblia para
as multidõesas multidões
MARCOS STEFANO
Esse foi o grande lema da vida do pastor batista
Werner Kaschel, um dos mais destacados
tradutores das Escrituras Sagradas
na atualidade, que faleceu em
novembro
SBB
PASTOR BATISTA, TEÓLOGO E TRADUTOR, Werner Kaschel – em ação ainda nos tempos da SBB – foi um dos
responsáveis pela Nova Tradução na Linguagem de Hoje
“Ao revisar a tradução bíbli-
ca, é preciso levar em con-
ta que a Palavra de Deus
deve ser simples e compreendida por
todos. E isso inclui ricos, pobres, cultos
e incultos”, costumava dizer o pastor
batista Werner Kaschel. Mais do que
falar, ele procurou transformá-la no mo-
tivo de sua vida. Assim, termos como
“verbo” e “caridade” se transformaram
em “palavra” e “amor”. E trechos difí-
ceis de compreender como “a terra era
sem forma e vazia” foram trocados por
“a terra era um vazio, sem nenhum ser
vivente, e estava coberta por um mar
profundo”. Kaschel faleceu no último
dia 8 de novembro, aos 88 anos, vítima
de complicações de uma pneumonia.
Mas com obras como a Nova Tradução
na Linguagem de Hoje (NTLH) e uma
vida dedicada à divulgação do Evange-
lho e à educação, seu legado não será
esquecido.
Descendente de alemães, Werner
Kaschel nasceu em Campinas, no in-
terior de São Paulo, e se batizou cedo,
em dezembro de 1934, na Primeira
Igreja Batista. Mesmo no começo da
adolescência, sentiu o chamado para
o ministério e decidiu que precisava
se qualifi car. Graduou-se em teologia
no Seminário do Sul, ligado à Igreja
Presbiteriana do Brasil, em Campinas
mesmo, no ano de 1944. Cinco anos
depois, fez o mestrado no Seminário
Batista Southwestern, em Fort Worth,
Texas. Voltou aos Estados Unidos para
concluir o doutorado em Filosofi a, em
1971, no Seminário Batista Southern,
em Louisville, Kentucky.
Desde o começo de sua carreira,
ele decidiu colocar o que aprendeu na
prática. Assim, nos anos de 40, 50 e 60,
pastoreou igrejas batistas em Americana
(SP), Rio de Janeiro e na capital paulis-
ta. Também foi diretor do Departamen-
to de Treinamento da Junta de Escolas
Dominicais e Mocidade, a atual Juerp;
Primeiro Secretário da Convenção
Batista Brasileira; professor e deão do
Seminário Teológico do Sul, no Rio; e
diretor do Colégio Batista Brasileiro,
novamente em São Paulo. Em 1972, as-
sumiu a reitoria da Faculdade Teológica
Batista de São Paulo, cargo que exerceu
até 1989. Ainda como educador, foi
presidente da Associação de Seminários
Teológicos Evangélicos (ASTE) e da
Associação Brasileira de Instituições
Batistas de Ensino Teológico (Abibet).
Fluente em cinco idiomas e especia-
lista em hebraico e grego, Kaschel era
mestre nas letras. Tanto que compôs,
traduziu e escreveu diversos hinos e
livros. E, por mais de duas décadas,
trabalhou na Sociedade Bíblica do
Brasil (SBB), integrando e liderando
a Comissão de Tradução da Bíblia na
Linguagem de Hoje. Ainda assim, no
melhor espírito da Reforma Protestante,
era capaz de reconhecer as limitações
de sua atividade ao admitir que a nova
versão estava longe de ser uma una-
nimidade: “A impressão é que muitos
gostam dessa Bíblia, mas ainda existem
reações contrárias a ela”. Mesmo em
idade avançada, trabalhou até 2008 na
SBB; porém, desde então, começou a
perder a visão. Deixa a esposa Dirce,
sua companheira de longa data, fi lha,
neta e uma legião de admiradores e,
principalmente, seguidores, talvez sua
mais importante herança.
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M Ú S I C AM U LT I M Í D I A
Em rápida passagem pelo Brasil, revelação da música gospel esbanja talento, simpatia
e comprometimento cristão
Elvis Presley, Areta Franklin,
Beyonce, Chris Brown, enfi m,
inúmeros são os cantores e
bandas, evangélicos ou não, que
deram os primeiros passos musicais
em coros de igrejas protestantes
norte-americanas. E esse também tem
sido o caminho trilhado pela novata
Kerrie Roberts, recém-lançada no
mercado fonográfi co e já considerada
uma das maiores revelações da
música gospel dos últimos anos; só
que com um diferencial em relação
aos outros: até agora, pelo menos,
Impossível de parar
ela ainda não se debandou para o
universo secular.
Numa curta e quase
despercebida passagem pelo
Brasil no mês de novembro,
Kerrie deu mostras de seu
comprometimento cristão e
talento musical, entoando canções
com uma voz impactante e ao
mesmo tempo suave, num estilo que
mescla o soul com a música pop. De seu repertório, ainda não muito
vasto se comparado aos que estão na
estrada há mais tempo, destacam-se
Unstoppable – traduzindo, algo como
“impossível de parar” – que, inclusive,
é tema dos comerciais da 10ª edição
do American Idol, programa de grande
sucesso da TV americana; e No Matter What, ou “não importa o quê”, sucesso
das paradas evangélicas – não confundir
com a música de mesmo titulo da boy band irlandesa Boyzone, que de crente
não tem nada.
Nessa miniturnê, a norte-americana
dividiu o palco com o cantor
Fernandinho, em Goiânia; em seguida,
partiu para Brasília, onde participou
de uma reunião na Igreja Sara Nossa
Terra, ministrada pelo pastor Robson
Rodovalho, e encontrou com os
músicos da banda Supernovavida. Em
São Paulo, mesmo com o cancelamento
do SOS da Vida 2010, ela não deixou
os fãs de mãos abanando e esbanjou
simpatia durante um culto de louvor
e adoração realizado pela Igreja
Renascer. Pode ter sido um aperitivo
para que, numa próxima vez, a festa
seja compatível ao seu talento.
(Fernando Dias de Jesus)
RECEITA PARA O SUCESSO: talento e comprometimento cristão na medida certa
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ENCONTRO DE MÚSICOS NA IGREJA Sara Nossa Terra: KERRIE
ROBERTS E RIBAMAR RIBEIRO, da banda brasiliense Supernovavida
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L A N Ç A M E N T O
Mais um para a c o
JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI
DIVULGAÇÃONovo, mas
longe de ser o último: prestes a completar o 86º aniversário, Luiz
de Carvalho lança mais um álbum
para seu já vasto repertório
“Fui um privilegiado por
ter gravado o primei-
ro LP evangélico do
Brasil”, diz com orgulho o cantor
Luiz de Carvalho. O bolachão de
vinil ao qual ele se refere é Boas Novas, guardado como um tro-
féu entre seus objetos pessoais e,
principalmente, nas lembranças
que marcaram o início da carreira
– ou, ministério, como o próprio
evangelista define. Isso tudo acon-
teceu no histórico ano de 1958, que
ficou marcado não somente para
os crentes como também para todo
o povo brasileiro; pois, do outro
lado do Atlântico, na Suécia, a
Seleção Brasileira conquistava o
primeiro título mundial e entrava
definitivamente para o mapa do
futebol. Fã do esporte e torcedor
do São Paulo Futebol Clube, Luiz
de Carvalho também vibrou com a
conquista; vibração que se mistura-
va com a alegria de impactar vidas
com versos e melodias, de quebrar
paradigmas e romper fronteiras, e
de reinventar a história da música,
já que usar qualquer ritmo como
instrumento de fé na época chegava
a ser quase uma afronta à indústria
fonográfica.
Com o passar dos anos, a música
evangélica começou a conquistar
espaço nas lojas e nos corações dos
fiéis, graças, principalmente, ao
pioneirismo do cantor, que se tor-
nou o maior ícone do gênero. Aliás,
ainda o é; afinal, nenhum outro ar-
tista cristão entrou tantas vezes em
estúdio quanto ele, e nem conhece
tão bem as veredas do ritmo cristão
pelo país afora.
Dezenas e dezenas de álbuns
lançados, inúmeros países visi-
tados e milhares de seguidores
convertidos com suas mensagens
cantadas e participações in loco nas
campanhas evangelísticas – entre
elas, uma apresentação para mais
de 100 mil pessoas no Maracanã,
durante a primeira cruzada de Billy
Graham pelo país. E hoje, prestes a
completar seu 86º aniversário, Luiz
de Carvalho continua na ativa, com
o mesmo timbre de voz e jeito de paizão acolhedor. Seu mais recente
álbum, Adoração, acaba de sair do
forno pela gravadora Bompastor,
companheira de décadas.
Nessa minientrevista concedida
à ECLÉSIA, o cantor fala um pou-
co sobre seu ministério, a fé que o
mantém firme e forte na estrada e,
claro, do repertório do novo CD
– pasmem, o 45º de sua trajetória,
além de algumas dezenas de long plays –, mas longe de ser o último.
Quem garante é o próprio Luiz de
Carvalho. Alguém duvida?
Impossível apontar em números,
mas durante todos esses anos de
ministério milhares de pessoas se
converteram graças à sua música.
Essa é a maior recompensa para
um cantor cristão?
O Senhor me deu o dom de can-
tar para que os pecadores sejam
chamados ao arrependimento, pois
MEMÓRIA VIVA DA MÚSICA EVANGÉLICA NACIONAL: seis décadas
de ministério e dezenas de álbuns
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75
c oleção
a própria Bíblia diz que os anjos
cantam no céu quando um peca-
dor se arrepende. É uma recom-
pensa maravilhosa saber que a
minha música tem abençoado
muitas pessoas.
O que seus admiradores po-
dem esperar de Adoração? Há
algum diferencial em relação
aos álbuns anteriores?
É um disco muito especial, com
músicas mais jovens e muita un-
ção. Canções como Não Há Outro,
Doce Voz e Vencendo em Cristo
são de uma inspiração incrível,
cujas letras falam muito ao cora-
ção. Louvado seja Deus que me
permite interpretar cada uma delas
de uma maneira especial, como
merece uma verdadeira adoração.
Onde o senhor encontra inspi-
ração, motivação, e até mesmo
forças para prosseguir nessa
caminhada evangelística?
Sinto que o Senhor usa e continu-
ará usando a minha vida e a minha
voz para o seu louvor, glória e
honra. É essa certeza e fé que me
enchem de disposição para conti-
nuar trabalhando, firme e forte na
minha caminhada.
O senhor continua fazendo
longas viagens pelo país afora,
inclusive dirigindo seu próprio
carro?
Continuo, sim, viajando também
de carro quando me é convenien-
te. Procuro atender a todos os
convites das igrejas, sempre com
amor e dedicação. Afinal, todo o
meu trabalho e esforço são para a
glória do Senhor Jesus.
CRUZADA EVANGELÍSTICA: MAIS DE 100 MIL FIÉIS acompanharam o cantor no Maracanã, durante primeira vinda de Billy Graham ao Brasil na década de 1970
LUIZ DE CARVALHO: “É uma recompensa maravilhosa saber que a minha música tem abençoado muitas pessoas”
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76
Patrícia Guimarães
é mestre em Musicologia, bacharel em Canto Lírico, e regente e professora de Canto em Juiz de Fora (MG)
L O U V O R E A D O R A Ç Ã O
Palco, delírio
e recomeço
“Por que continuamos fazendo essa arte invisível
se, no dia seguinte,
só restarão lembranças sonoras do
que foi feito?”
Recentemente, participei
de uma apresentação no
principal teatro da cidade
em que moro, um concerto que
envolvia orquestra, regente, coral
e solistas. Entre a correria nos
camarins e arrumação do palco,
percebi que havia perdido minha
partitura, ou seja, na última hora
teria que executar as músicas
de cor – um problema menor
para um músico. O problema
maior é que havia ensaiado
pouco com a orquestra. A
música começou e a memória
auditiva foi me auxiliando nas
sequências e passagens musicais
que se seguiram. O concerto
aconteceu como o planejado,
e os sorrisos alegres e olhos
brilhantes do público nos diziam
que havíamos alcançado seus
corações. A grandiosidade da
música e os aplausos fi caram em
minha mente. E foi sonhando
com a beleza sonora produzida
pela orquestra, solistas e coro
que voltei para casa. Na manhã
seguinte, embora a adrenalina
não me tivesse deixado dormir
direito, levantei e fui caminhar
pelo centro da cidade. Ao passar
pelo teatro onde realizamos o
evento, lembrei da partitura
perdida e pensei: “Pode ser
que ainda a encontre!” E, nessa
tanto trabalho, tanto esmero e
busca de arte perfeita? Arte, que
arte? Ela não estava mais ali para
ser admirada, nada de visível
permaneceu. Permaneci parada
no palco com uma indescritível
sensação de perda. Foi tudo um
sonho? Névoas da memória? Um
delírio musical? Mas as marcas do
cansaço do concerto insistiam em
me trazer de volta à realidade e me
lembrar que nossa arte aconteceu,
sim. Por instantes foi admirada...
E se foi. Como neblina, minha
arte e a de todo o grupo se esvaiu
e, com ela, toda a “música” do
dia anterior. Eu me senti parte de
um jogo de dominó, quando as
peças previamente enfi leiradas são
derrubadas pelo impulso inicial
de uma criança. Mas, se a criança
reconhece que o trabalho de colocar
as peças em pé vai se perder no fi m,
por que persiste em sua brincadeira?
Igualmente nós, músicos, por que
continuamos fazendo essa arte
invisível se, no dia seguinte, só
restarão lembranças sonoras do que
foi feito? Rapidamente, minhas
memórias correram para a narração
de Eclesiastes 1.2, quando o autor
descreve a efemeridade da vida:
“Vaidade das vaidades, tudo é
vaidade”.
Em hebraico, “vaidade”
signifi ca sopro, neblina. Essa
esperança, entrei. Logo percebi
barulhos de grandes objetos sendo
arrastados: madeiras, tablados,
caixas, fl ores. Uma desorganização
ocupava o palco para que,
organizadamente e algumas
horas depois, um novo evento
acontecesse ali. E, nesse vaivém
de um novo cenário, um calafrio
tomou meus sentimentos e percebi
minha angústia; aliás, uma ausência
de som, um vazio inexplicável!
Onde estava a música que fi zemos
na noite anterior? Para onde foi
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aloés, preparando o corpo do Mestre
para a ressurreição, recomeço da
história do cristianismo. O velho
fariseu percebeu o que o sábio de
Eclesiastes já havia descrito: “...
não há limites para fazer livros, e o
muito estudar é enfado da carne. De
tudo o que se tem ouvido, a suma
é: Teme a Deus e guarda os seus
mandamentos, porque é o dever de
todo homem” (Ec 12.12-13).
A neblina do saber de
Nicodemos envolveu-se na minha
naquela manhã pós-concerto. E em
meio aos meus desajeitados passos
no palco desconfi gurado por metais
e novas montagens, a verdade de
Eclesiastes pareceu-me muito mais
clara. Deus estava me confrontando
com a glória passageira do dia
anterior, mostrando-me o “teatro
vazio” da vida que segue sem
Cristo. Não há razão para cantar
sem Ele. Não há sabedoria, nem
sopro, nem audição alguma. É
correr atrás do vento.
fala do Mestre: “... aquele que não
nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus” (Jo 3:3). E o sábio
Nicodemos não se envergonha em
expor sua dúvida: “Como pode um
homem nascer, sendo velho? Pode,
porventura, tornar a entrar no ventre
de sua mãe, e nascer segunda vez?”
(Jo 3.4) Seus anos e dias devem
ter passado por sua mente naquele
instante. Um velho homem precisa
de coragem para recomeçar. Jesus
estava confrontando Nicodemos
com sua “vaidade”, sua “neblina de
conhecimento”, e lhe devolve uma
pergunta: “Tu és mestre em Israel
e não compreendes estas coisas?”
(Jo 3:10). Em outras palavras, Jesus
lhe estava dizendo: “Nicodemos,
encaixe as peças das promessas
na lei sobre o Messias. Sou eu,
que falo com você!” Por ocasião
da morte de Jesus, Nicodemos
reaparece na narrativa bíblica numa
mudança de atitude: ele ajuda no
sepultamento de Jesus com mirra e
expressão descreve bem a música
daquela noite: ela se foi, ecoou
e se perdeu no vento e como o
vento. E, como na brincadeira da
criança, meu coração estava preso
àquela arte. Num confronto de
mente e sentidos, em instantes,
olhando para o teatro vazio e para
o vazio em minha alma, indaguei:
“Devo recomeçar a ‘brincadeira’?
Enfi leirar os sons novamente? Sim,
preciso continuar a impulsionar os
ouvintes com melodias que lhes
assaltam os sentidos”. E, tomada
por esses pensamentos, continuei
caminhando pelo palco, traçando
um paralelo entre “espetáculo” e
“vida”. Somos sempre desafi ados
a “enfi leirar peças”, a tentar uma
segunda, terceira, quarta chance;
quantas forem necessárias para
fazer o melhor em cada “jogada”.
Lembrei, então, do velho fariseu
sabedor da lei, Nicodemos. Ao
encontrar-se com Jesus, ele é
desafi ado a repensar sua vida na
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78
Marcos Stefano
L I T E R AT U R AM U LT I M Í D I A
Guerra efi caz também
para os desconfi ados
mas tenta se restringir à análise
dos textos das Escrituras.
Dessa maneira, analisa o
fundamento do tema batalha
espiritual, a já tão esquecida
relação entre autoridade e
caráter, os planos de Deus para
as pessoas, a origem e a atuação
de Satanás, intrigas dentro das
igrejas e o poder da oração,
como principal arma nessa
guerra. Claro, também não deixa
de dar sua visão a respeito de
pontos mais delicados, como
Batalha espiritual é um
dos temas na moda
entre os evangélicos
brasileiros. Daí o lançamento
de tantos títulos e testemunhos
– muitos polêmicos e quase
inacreditáveis – sobre o
assunto. Batalha Espiritual, a mais nova obra da editora
LifeWay Brasil, no entanto,
foge completamente a esse
estereótipo. Na mesma linha
de estudos e discipulado que já
consagrou a editora, reafirma
que se trata de questão
bíblica, sim, mas a analisa de
modo bem mais tradicional,
apresentando uma versão mais
conservadora de passagens
bíblicas como o capítulo 6 de
Efésios e o capítulo 5 de 1
Pedro.
Na verdade, a análise
desses textos não é tão
diferente daquela que costumam
fazer protestantes históricos
e pentecostais clássicos.
Entretanto, não recai nas mesmas
interpretações dadas por autores
que as usam para defender ideias
como mapeamento espiritual,
domínios de espíritos territoriais
e quebras de maldições
hereditárias. Dividido em
oito capítulos e mais um guia
do líder no final, o livro traz
alguns episódios para ilustrar a
aplicação de cada trecho bíblico,
Lançamento da LifeWay Brasil reinterpreta conceitos bíblicos sobre
batalha espiritual
a possessão maligna, o que
significa resistir ao diabo,
de que maneira é possível
“amarrar” o adversário e qual
seria o real papel dos demônios
no mundo. Um prato cheio para
quem já desconfiava
de muito do que se
tem dito ultimamente
sobre o tema, mas tinha
medo de usar o termo
“heresia”. Aliás, até os
autores o evitam. São
contundentes em seus
pontos de vista, mas
evitam radicalismos.
Polêmicas à parte,
há dois capítulos que
merecem uma atenção
toda especial. Ao
estudar a “armadura
espiritual” descrita por
Paulo em Efésios, os
escritores John Franklin
e Chuck Lawless
mergulham no contexto
histórico dos tempos
bíblicos para analisar
cada peça da vestimenta
usada pelos soldados
romanos, em quem o
apóstolo estava se baseando
para falar figurativamente das
armas espirituais. Igualmente
interessantes são os conselhos
e instruções apresentadas para
se discernir a voz de Deus
do pensamento humano e das
inspirações satânicas. Um
contraponto importante e que
permite perceber como assuntos
e concepções têm mudado
após a enorme influência do
avivamento espiritual do começo
do século passado.
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A G E N D A
I Escola de Líderes Profetas da Dançameio de ofi cinas práticas de dança,
adoração e ministrações de preletores
que atuam no Brasil e no exterior.
O evento acontece no Sítio Bom
Tempo, localizado na Avenida do
Cabral, Lote 01 – Quadra 39, no
bairro de Sambaetiba. Quem quiser
obter informações e conhecer
De 15 a 22 de janeiro, a Escola
Profetas da Dança, veiculada
ao Ministério Dança Pelas Nações,
de Contagem (MG), estará
promovendo, em Itaboraí (RJ), o I
Congresso de Líderes Profetas da
Dança, com o propósito de trabalhar
e treinar líderes ministeriais, por
Encontro Sepalboliviano Russell P. Shedd, PhD em
Novo Testamento pela Universidade
de Edimburgo, Escócia; o escritor
e teólogo Augustus Nicodemus;
o pastor Márcio Valadão, titular
da Igreja Batista da Lagoinha,
entre outros. O encontro será no
Hotel Monte Real, que fi ca na Rua
São Paulo, 622 – Centro. Mais
A 38ª edição do Encontro Sepal,
atividade que já perdura mais
de quarenta anos com expressivos
resultados alcançados, acontecerá
entre os dias 2 e 6 de maio em Águas
de Lindóia, interior de São Paulo.
Entre os palestrantes já confi rmados,
estarão o pastor Abe Huber, fundador
da Igreja da Paz de Fortaleza; o
um pouco mais sobre o
trabalho desenvolvido pela
escola, deve acessar o site
www.escolaprofetasdadanca.com.br
ou enviar um e-mail para
O telefone para contato é
(31) 3390-1449.
informações podem ser obtidas
pelo site www.sepal.org.br ou pelo
telefone (11) 5523-2544.
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P E R C I VA L D E S O U Z A
Sob nova direção
“É preciso pensar alto e, na refl exão, pedir a luz divina para esclarecer
mentes sinceramente preocupadas com os rumos de um mundo cada vez mais
distante do Altíssimo”
Começa o ano novo, e com
ele uma nova presidente.
Algumas mudanças no
Congresso e os dados revelados
pelo último censo do IBGE
indicam que teremos uma taxa de
crescimento anual que deve girar
em torno de 1,1% e revelações
curiosas, como cada vez mais
as crianças vendo os pais no
mercado do trabalho e os fi lhos
sendo criados com participação
maior de avós, creches e internet.
Não se trata exatamente de
um admirável Brasil novo, mas,
agora que a poeira da sucessão
presidencial baixou, pode ser
proveitoso conciliar a expectativa
do que poderá acontecer a partir
de 2011, no mais amplo dos
sentidos, com o nosso exercício
de religiosidade. Como visto,
as campanhas eleitorais foram
mornas, superfi ciais; pouco se
falou do que realmente interessa e
o engajamento político-partidário
de religiosos foi, na maioria das
vezes, beligerante e deplorável.
Houve até quem se apresentasse
como “líder” para se dar ao
direito de fazer interpretações
bíblicas desconexas, tais como
a de transformar relatos sobre
montanhas em “serras” em tom
de nome pessoal, e – o que é pior
– ligar a semântica da fi ctícia
montanha particular para designar
um município capixaba, vendo
nele um forçado nexo causal com
a Terceira Pessoa da Trindade
Excelsa e o nome do Estado
a que ele pertence. Em Direito,
chamaríamos esse comportamento
de doloso, e com todas as
circunstâncias agravantes. E por aí
desfi lou essa indigência teológica,
bíblica e política – ignorando-
se até o detalhe que antes do ser
humano chegar à montanha, ela
chegou até ele, como sabem os reais
conhecedores das Escrituras.
Por força da profi ssão, sou
obrigado a tecer as mais variadas
considerações, pela TV, sobre
o que acontece, procurando
interpretar fatos e situações,
tantas vezes catastrófi cas em
termos éticos e morais. Por
consequência, às vezes acontece
de se pedir um paralelo desse
tipo em comunidades de fé, e
uma experiência assim ocorreu
num agradável encontro com
lideranças nacionais de irmãos
presbiterianos, em novembro
passado no Recife (PE).
Nessas horas, é preciso pensar
alto e, na refl exão, pedir a luz
divina para esclarecer mentes
sinceramente preocupadas com os
rumos de um mundo cada vez mais
distante do Altíssimo, e que tanto
exige de nós em termos de sal para
uma terra que precisa se deixar
salgar e luz para os que insistem
em habitar nas trevas. Sim, é
importante saber o que Jesus disse
e nos ensinou, e ao mesmo tempo
reparar no que Ele não disse. É
possível partir de uma constatação
simples e efi caz: os ensinamentos
do Mestre continuam tão efi cientes
e verdadeiros como atuais. A
sabedoria proporcionada pela
boa notícia – o Evangelho – é
fundamental. Saber transmiti-la,
nesse perfi l de novas gerações que
se desenha no país, é um desafi o.
O egoísmo acaba se tornando
primitivamente bárbaro. Nesse
cenário, somos convocados – a
missão que o Senhor nos confi ou
– para transmitir a Palavra perene,
divinamente eterna, humanamente
perpétua, caminho seguro
– quando intacta – para um ano
novo melhor.
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A IGREJA CONTRA O TERROR
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