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Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - 2012 COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS DE GESTORES DE ONG-AIDS NAS FASES DO CICLO DE VIDA DO EMPREENDIMENTO SOCIAL DA ASHOKA Alexandre Meira de Vasconcelos UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA [email protected] Alvaro Guillermo Rojas Lezana UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA [email protected] Florianópolis - Março/2012

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COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS DE GESTORES DE ONG-AIDS NAS FASES DO CICLO

DE VIDA DO EMPREENDIMENTO SOCIAL DA ASHOKA

Alexandre Meira de VasconcelosUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

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Alvaro Guillermo Rojas LezanaUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

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COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS DE GESTORES DE ONG-AIDS NAS FASES DO CICLO DE VIDA DO EMPREENDIMENTO SOCIAL DA ASHOKA

Resumo Este trabalho apresenta uma investigação preliminar das competências requeridas aos empreendedores sociais no contexto da assistência aos portadores do vírus da aids e na prevenção da doença. Tais competências são classificadas de acordo com as fases do ciclo de vida do empreendedor social da Ashoka. Trata-se de uma pesquisa exploratória qualitativa, com base em dados primários coletados em entrevistas com os gestores das ONG-Aids da cidade de Curitiba-PR sobre a história da organização e sobre a atuação do gestor. Os resultados mostram que o estigma relacionado à doença e às pessoas contaminadas são um elemento dificultador do empreendedor e requer conhecimentos, habilidades e atitudes específicas para a defesa e promoção dos direitos das pessoas vivendo e convivendo com a aids. As competências acionadas em cada fase do ciclo de vida e sua correlação com as etapas propostas pela Ashoka podem servir para projetos de capacitação e desenvolvimento gerencial dos empreendedores em questão. O estudo mostrou-se relevante diante da pouca publicação sobre gestão de ONGs, principalmente quando focada em um segmento de atuação. Palavras chave empreendedorismo social, ONG-aids, competência, desenvolvimento gerencial. 1 Introdução A Ashoka é uma organização não-governamental com atuação em todo o globo, cuja função é fomentar e apoiar projetos de inovação social e iniciativas empreendedoras para a melhoria da sociedade e que tenham grande impacto social. Para a Ashoka (2004), ao empreendedor social cabe identificar bloqueios na sociedade e propor alternativas para desbloqueá-la. O desbloqueio altera a situação e tem um efeito multiplicador e transformador da sociedade. No Brasil e no mundo há vários exemplos de profissionais e organizações bem sucedidas nesse campo, como a Pastoral da Criança que ajudou a diminuir drasticamente a mortalidade infantil e hoje tem sua tecnologia social disseminada por todo o planeta, com resultados igualmente positivos em países africanos e asiáticos. Para mobilizar a sociedade em nome de uma causa coletiva, o empreendedor deve possuir e desenvolver algumas competências ao longo da sua vida profissional a frente deste empreendimento. O objetivo geral deste trabalho é identificar competências necessárias aos gestores, nas fases do ciclo de vida do empreendimento social da Ashoka, em organizações que atuam na assistência aos portadores do vírus da aids e/ou na prevenção da doença, ou ONG-Aids, como serão chamadas de agora em diante. O desejo de realizar esta pesquisa baseou-se na experiência de um dos autores deste artigo como consultor e facilitador de projetos para ONG-Aids patrocinados direta ou indiretamente pelo Ministério da Saúde do Brasil. Em alguns momentos da atuação junto às ONGs, percebeu-se que algumas não apresentavam capacidade gerencial, técnica e sócio-política para realizar as ações efetivas e eficazes no combate ao avanço da epidemia e, nesse contexto, a inerente relação com a competência empreendedora dos líderes dessas organizações. Nesse sentido, os encaminhamentos metodológicos foram organizados para responder a pergunta norteadora desta pesquisa: teriam estes gestores competências empreendedoras para lutar contra os problemas sociais vinculados à aids? Hunter (2005:266), quando fala da relação entre o empreendedor e o ciclo de vida da organização, afirma que “seu conhecimento, características, traços e habilidades são tão entrelaçados com as entidades econômicas que eles direcionam o próprio ciclo de vida,

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espelham seus padrões de geração de riqueza e de contribuição econômica”. 2 Fundamentação teórica Para fundamentar este artigo optou-se por apresentar o significado e características das ONG-Aids para o leitor não familiarizado com tema e na sequência apresentar os conceitos centrais da pesquisa: ciclo de vida de empreendimentos sociais e competência. 2.1 ONG-Aids A denominação ONG-Aids não surgiu de forma natural, pois alguns analistas consideravam merecedoras desse título somente as organizações que atuavam com ativismo no campo da aids. Outros, de forma mais abrangente, preferiam considerar ONG-Aids aquelas que lutavam contra a doença ou em sua prevenção, independente da forma de atuação (RAMOS, 2004:1070). Preferiu-se considerar essa última abordagem, que é a mesma utilizada pelo Ministério da Saúde. Desde as primeiras ONG-Aids fundadas na década de 80 até os dias atuais, inúmeras ações foram desenvolvidas por essas organizações no combate ao risco de epidemia. Graças a essa atuação consistente, o Brasil tornou-se referência mundial no combate a aids, tendo exportado seu expertise para outros países, e obteve conquistas consideráveis nesse campo, sendo a principal a quebra de patentes dos remédios para garantir sua fabricação e distribuição gratuita a toda a população infectada no país. Atualmente, o país conta com cerca de setecentas ONG-Aids com perfil diferenciado, em uma rede complexa e heterogênea, com diferentes formações e interesses como redes de pessoas vivendo e convivendo com o vírus HIV, as minorias GLBT (Gays, lésbicas, transexuais e bissexuais), hemofílicos, movimentos religiosos, entre outros, que atuam desde a prevenção à assistência a doentes, bem como na garantia dos direitos fundamentais dos envolvidos. (BRASIL, 2005). Tal rede é interligada com diversos atores sociais e este fenômeno não se restringe à área da Saúde, pois tem interfaces com Direitos Humanos, Justiça, Trabalho, Direitos Civis, Educação, entre outras, e está espalhada por todo o país. O poder público sozinho é incapaz de estender sua atuação principalmente em demandas adjacentes ao tratamento médico hospitalar, como prevenção, educação, cidadania e assistência sócio-emocional às pessoas vivendo e convivendo como o HIV (FIGUEIREDO e FIORONI, 1996:28). A escassez de recursos nos últimos anos, originada principalmente pelo deslocamento de recursos dos financiadores internacionais para regiões do planeta onde houve aumento significativo de novos casos, como a África, obrigou as organizações brasileiras a profissionalizarem sua atuação para conseguir a tão almejada sustentabilidade. A sustentabilidade das organizações não-governamentais é um desafio atual no cenário brasileiro. Como reflexo da condição economico-financeira, as organizações têm buscado alternativas para obter renda e diversificar as fontes de recursos(ASHOKA–MCKINSEY, 2001:9), uma vez que o dinheiro público está mais escasso e mais concorrido. As ações dos empreendedores sociais tomaram uma dimensão maior perante o movimento social que atua no campo da doença e, por extensão, para a saúde pública, tornando presente e legítimo o estudo sobre a competência desses gestores. Para efeito deste artigo, considerou-se a descrição de Parry (apud FLEURY e FLEURY, 2001: 27) para competência:

"conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes que afetam a maior parte do trabalho de uma pessoa, e que se relacionam com o desempenho do trabalho; a competência pode ser mensurada, quando comparada com padrões estabelecidos e desenvolvida por meio do treinamento".

A Tabela 1 mostra a distribuição das ONG-Aids no Estado do Paraná e evidencia que a

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atuação é segmentada, ou seja, as organizações foram fundadas para atuar com públicos específicos, cada um com demandas sociais diferentes, conforme determinado em seus estatutos. Contudo, este padrão não é seguido quando da participação em projetos de financiamento. É comum haver ONGs voltadas para um segmento, que disputa recursos públicos para atuar com públicos diferentes daquele que norteou a fundação da organização. Na hora de concorrer pelo recurso público, os estatutos são alterados, coligações são feitas com outras instituições, ou seja, essas fronteiras são facilmente ultrapassadas em um ambiente pautado também pela concorrência, como nas organizações empresariais que visam lucro.

Tabela 1 – Organizações da Sociedade Civil do Paraná filiadas ao Fórum Estadual de ONG-Aids

PÚBLICO-ALVO Nº DE

ONG-AIDS Pessoas Vivendo com HIV - Incluem-se nesse grupo também as pessoas que

convivem com a pessoa infectada 18

GLBT - Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros 8

Casa de Apoio – são locais que “abrigam pessoas com Aids que não têm moradia, que não têm família ou que foram abandonadas pela mesma em decorrência da

Aids [...]” (SILVA, 1998:135) 4

Geral - Atuação com públicos diferenciados, sem priorizar um público-alvo específico

4

Redução de Danos - Política para diminuir os efeitos das drogas sobre os usuários

3

Mulheres – a grande maioria de baixa renda que foram contaminadas em relações sexuais com o próprio marido

2

Profissionais do Sexo masculino e feminino 1

TOTAL 40 Fonte:Fórum de ONG-Aids do Paraná. Por email. O Estado do Paraná possui quarenta ONG-Aids atuantes, sendo dezenove em Curitiba e Região Metropolitana e as demais distribuídas pelo interior. As ONGs participantes deste estudo são filiadas ao Fórum Paranaense de ONG-Aids. Tal conjunto não contempla o universo de organizações da sociedade civil que atuam no enfrentamento da doença, mas congrega as organizações mais atuantes dos pontos de vista social e político. 2.2 Ciclo de Vida de Empreendimentos Sociais da Ashoka A Ashoka é uma organização internacional sem fins lucrativos que atua na disseminação de projetos sociais bem sucedidos e no fomento e suporte a empreendimentos sociais no mundo todo. Foi criada em 1986 e hoje tem ramificações por mais de cinquenta países. A Figura 1 ilustra graficamente as quatro fases do modelo de ciclo de vida de empreendimentos sociais proposto por esta organização e que é objeto de estudo deste artigo. O modelo de ciclo de vida organizacional da Ashoka (2001) prevê as fases de:

a) percepção de um problema social e busca de soluções, quando as ideias são postas em prática e testadas quanto aos resultados e/ou aceitação pelo público/comunidade atendida;

b) aprendizagem; que envolve a qualificação profissional, desenvolvimento de metodologias sociais, captação de recursos para os projetos e para a organização, entre outros;

c) institucionalização; que requer uma estrutura organizacional capaz de atender às necessidades de geração de impactos sociais relevantes, bem como de sustentabilidade das ações do empreendimento social;

d) maturidade, com a consolidação do modelo e sua replicação em outras regiões, com o

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reconhecimento da sociedade e aumento considerável de v

Figura 1 - Modelo de Ciclo de Vida de Fonte: Adaptado de Ashoka (apud VOLTOLINI, 2004)

2.3 Competências As competências que os empreendedores sociais têm de mobilizar no seu papel gerencial nas ONG-Aids pode ter ligação com sua formação inicial, embora o viés social seja o impulsionador da criação da organização e permeia toda a ação empreendedora(VASCONCELOS, 2009). Além disso, outras competências não relacionadas com sua formação também devem ser acionadas.

“Segundo o discurso contemporâneo das empresas, o apelo a essas competências requisitadas, e assim declaradas, para ocupar certo emprego em dado momento de evolução da empresa, já não está ligado (ao menos formalmente) à formação inicial. Essas competêncialongos ou breves, de formação contínua, mas também em atividades lúdicas, de interesse público fora da profissão, atividades familiares, etc.” (ROPÉ e TANGUY, 1997:107).

Le Boterf (apud FLEURY & FLEURY, 2004, p. 40) categorias:

a) conhecimento teórico interpretação de fatos e documentos;

b) conhecimento sobre os procedimentos aprimorado na vidatrabalho e no saber como proceder diante de situações do dia a dia;

c) conhecimento empírico anterior relaciona-se aos procedimentos, este se das atividades;

d) conhecimento social diminuir o distanciamentoa relação não se transforme em conflito de um com o outro

e) conhecimento cognitivo

reconhecimento da sociedade e aumento considerável de visibilidade

Modelo de Ciclo de Vida de Empreendimentos Sociais da Ashoka Fonte: Adaptado de Ashoka (apud VOLTOLINI, 2004)

As competências que os empreendedores sociais têm de mobilizar no seu papel gerencial nas ligação com sua formação inicial, embora o viés social seja o

impulsionador da criação da organização e permeia toda a ação empreendedora. Além disso, outras competências não relacionadas com sua

formação também devem ser acionadas.

“Segundo o discurso contemporâneo das empresas, o apelo a essas competências requisitadas, e assim declaradas, para ocupar certo emprego em dado momento de evolução da empresa, já não está ligado (ao menos formalmente) à formação inicial. Essas competências podem ter sido adquiridas em empregos anteriores, em estágios, longos ou breves, de formação contínua, mas também em atividades lúdicas, de interesse público fora da profissão, atividades familiares, etc.” (ROPÉ e TANGUY, 1997:107).

(apud FLEURY & FLEURY, 2004, p. 40) classifica as competências em cinco

conhecimento teórico – obtido pela educação formal e envolve o de fatos e documentos;

onhecimento sobre os procedimentos – também obtido na educação formalvida profissional e trata dos métodos, ao conhecimento das etapas do

e no saber como proceder diante de situações do dia a dia;conhecimento empírico – refere-se a saber como fazer. Enquanto o

se aos procedimentos, este se refere às habilidades para

conhecimento social – saber se comportar em um grupo social estigmatizado, signifo distanciamento entre o empreendedor social e o público atendid

a relação não se transforme em conflito de um com o outro; conhecimento cognitivo – saber como lidar com a informação obtida e como aprender

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isibilidade

As competências que os empreendedores sociais têm de mobilizar no seu papel gerencial nas ligação com sua formação inicial, embora o viés social seja o

impulsionador da criação da organização e permeia toda a ação empreendedora . Além disso, outras competências não relacionadas com sua

“Segundo o discurso contemporâneo das empresas, o apelo a essas competências requisitadas, e assim declaradas, para ocupar certo emprego em dado momento de evolução da empresa, já não está ligado (ao menos formalmente) à formação inicial.

s podem ter sido adquiridas em empregos anteriores, em estágios, longos ou breves, de formação contínua, mas também em atividades lúdicas, de interesse público fora da profissão, atividades familiares, etc.” (ROPÉ e TANGUY,

classifica as competências em cinco

e envolve o entendimento e

educação formal, porém os métodos, ao conhecimento das etapas do

e no saber como proceder diante de situações do dia a dia; . Enquanto o conhecimento

às habilidades para execução

comportar em um grupo social estigmatizado, significa entre o empreendedor social e o público atendido, para que

saber como lidar com a informação obtida e como aprender

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com os resultados, que é muito mais além do conhecimento teórico ou metodológico. 3 Procedimentos Metodológicos Nesta seção são apresentados os procedimentos usados nesta pesquisa para que possam ser replicados. 3.1 Amostra A amostra é composta de quatro ONG-Aids do Estado do Paraná, sediadas na cidade de Curitiba, e escolhidas pelo critério de conveniência e facilidade de acesso, cujas características principais são apresentadas na Tabela 2. Optou-se por organizações com atuação há mais tempo e com reconhecimento perante a sociedade para que fosse possível identificar claramente as competências acionadas pelos empreendedores sociais em cada fase do ciclo de vida.

Tabela 2 – Amostra de ONG-Aids pesquisadas

Empreendimento Social

Campo de atuação Tipo Ano de

Fundação

Classificação Internacional de Organizações Não-Lucrativas

(ONU, 2000)

B-A Direitos Humanos de Gays, Lésbicas,

Travestis E Transexuais ONG 1992

Defesa dos Direitos Humanos, civis e

Organizações Cívicas

D-B Promoção dos direitos humanos e o

acesso à educação e à saúde ONG 1995

Defesa dos Direitos Humanos, civis e

Organizações Cívicas

E-C Proteção e assistência a mulheres e

crianças em situação de vulnerabilidade social

ONG 1995 Promoção Social

I-D Direitos Humanos de Travestis e

Transexuais ONG 2004

Defesa dos Direitos Humanos, civis e

Organizações Cívicas

C-E

Mulheres em situação de vulnerabilidade social: pobreza,

violência, saúde, educação, entre outras áreas.

ONG 1995 Promoção Social

Fonte: Autores 3.2 Procedimentos de coleta e análise Para a coleta dos dados primários desta pesquisa, optou-se pelo instrumento de pesquisa desenvolvido por Vasconcelos (2009) que é um roteiro com questões abertas que estimula o entrevistado a relatar a história de vida da organização e, a partir dos dados coletados e da análise, o pesquisador é capaz de delimitar as fases do crescimento da organização. Para efeito deste artigo, buscar-se-á identificar as fases aderentes ao modelo de ciclo de vida de empreendimentos sociais e dentro delas as competências acionadas pelos empreendedores sociais para gerir o empreendimento e/ou para suplantar as dificuldades que se apresentaram. Somente serão identificadas as competências do empreendedor social nas fases do ciclo de vida de sua organização, segundo a definição encontrada em ASHOKA-MCKINSEY (2001): percepção de um problema social e busca de soluções; aprendizagem; institucionalização; e maturidade. Quando apropriado e conveniente serão trazidos dados secundários que possam suportar as afirmações dos autores deste artigo. Por questões éticas, os nomes das organizações e dos respondentes são mantidos em sigilo e cuidados foram tomados para não haver identificação a partir dos excertos dos comentários dos respondentes ou de documentos utilizados na pesquisa (BAEZ, 2002).

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4 Resultados e Análise Nesta seção serão apresentados os resultados encontrados na pesquisa de campo bem como as análises. Para facilitar o entendimento a seção foi dividida nas quatro fases do modelo de ciclo de vida da Ashoka. As competencias identificadas e as falas dos entrevistados estão colocadas em tabelas que se seguirão ao final das partes desta seção. As falas foram colocadas no intuito de ilustrar as competencias identificadas, porém não foram incluídas falas de todos os entrevistados para não comprometer o entendimento e também para não poluir o texto.

4.1 Percepção do problema social e busca de soluções A aids surgiu em meados dos anos oitenta, diagnosticada inicialmente como uma estranha forma de pneumonia em alguns pacientes nos Estados Unidos. Rapidamente, evidenciaram-se diversos casos em todo o mundo e o risco de epidemia tornou-se evidente. No Brasil, as principais respostas e políticas relacionadas ao HIV/aids têm como origem uma intervenção contundente e articulada da sociedade civil para enfrentar o problema, desde os primórdios da detecção da doença no país (LINDNER, 2005):

“Com o aumento do número de pacientes começaram a se tornar freqüente os encontros entre eles, amigos e familiares. Ali se discutia a necessidade de multiplicar informações sobre a doença e daí surgiu a idéia de realização de palestras esclarecendo a situação. Invariavelmente as primeiras reações eram de pavor e pânico. Sabia-se muito pouco ainda e as práticas sexuais seguras não estavam incorporadas ao comportamento da maioria da população [...] O grupo acabou decidindo que era necessário investir mais em formação e multiplicação de informações confrontando a idéia de terror e de culpa, que o discurso médico aliado a setores conservadores da sociedade semeava. O caminho para isto seria a constituição de um grupo comunitário que atuasse em três frentes: prevenção, assistência aos doentes e familiares e ativismo político. [...] Passado o início de 1985 o grupo voltou a se reunir e, já de forma mais decidida, encaminharam a fundação do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids de São Paulo (GAPA/SP) em 27 de abril de 1985 [...].”

O caminho seguido pelas ONG-Aids sugere que a motivação para a abertura de tais organizações buscaram atender as necessidades (LEZANA e TONELLI, 2004: 43-45) de aprovação/respeito/consideração da sociedade, em menor grau, e prioritariamente pela necessidade de segurança, não focada na subsistência econômico-financeira do empreendedor, mas na manutenção de sua vida e/ou de seus pares. O alarde aconteceu devido a uma doença até então desconhecida, com alta capacidade de transmissão e risco de epidemia, e que provocava morte rápida, comum à época do aparecimento dos primeiros casos. Alguns indivíduos tiveram uma identificação verdadeira com a missão da ONG e baixas recompensas monetárias do terceiro setor não os impediram de escolher tal empreendimento social (HANDY e RANADE, 2000). Em outras palavras, pode-se dizer que os empreendedores sociais não escolheram seu campo de atuação, mas foram escolhidos por ele. Nas entrevistas com os empreendedores e excertos da literatura, observou-se que nessa fase, o empreendedor social atua pessoalmente sobre o problema social da aids no âmbito local, diretamente com o público, com caráter predominantemente assistencialista, embora muitas vezes não saiba o que e nem como fazer pois é movido por um sentimento de algo precisa ser feito porque é certo e correto fazê-lo. A Tabela 3 apresenta as competencias mobilizadas nesta fase e algumas falas dos entrevistados que colaborem para entender a identificação dos cinco níveis de competências identificados na fase.

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Tabela 3 – Competências na Fase de Percepção do problema social e busca de soluções COMPETÊNCIAS FALAS DOS ENTREVISTADOS

Conhecimento Teórico Formas de contágio;

Formas de prevenção e intervenção social;

“Os primeiros meses foram um processo meio sem norte[...]conforme as pessoas que vinham participando a conversa foi para um lado, foi pro outro. [...] tinha uma

parte que era mais pra discutir auto-ajuda, discutir problemas e outra parte que era mais política[...] e às vezes não batia e gerava desentendimento, as pessoas desistiam. [...] nem conseguia chegar a um consenso

sobre o nome” (Fundador do empreendimento social B).

“Eu estou acompanhando o projeto desde o início, desde a elaboração dele, o desenvolvimento dele, conheço

todas as mulheres que estão participando, as atividades que elas desenvolvem e [...] na elaboração do projeto eu tive participação até para direcionar melhor as propostas de trabalho” (Fundador do empreendimento social C).

“Eu entrei nessa assim: em 2000 eu me encontrava

desempregada, acabado de passar por uma fase terrível na minha vida. [...]comecei a trabalhar, a ver, a conhecer essa questão e fui me interessando fui, me interessando e

é hoje como eu digo é difícil. É difícil você trabalhar” (Fundador do empreendimento social I).

Conhecimento Sobre Os Procedimentos

Condução de reuniões produtivas; Atuar em redes;

Mobilização de pessoas

Conhecimento Empírico

Condução de reuniões produtivas; Atuar em redes;

Mobilização de pessoas

Conhecimento Social Lidar positivamente com os

problemas da aids

Conhecimento Cognitivo

Iniciativa

Fonte: autores 4.2 Aprendizagem Na medida em que o movimento social de combate à aids cresceu, o número de organizações que incorporaram estas bandeiras aos seus trabalhos aumentou graças à iniciativa corajosa de empreendedores sociais que viram na criação de uma empresa do terceiro setor, uma oportunidade de mobilização da sociedade para combater o avanço e as conseqüências da doença. Os que inicialmente abraçaram a causa eram, na sua grande maioria, indivíduos que sofriam ou tinham alguma pessoa próxima infectada com o vírus; ou faziam parte dos chamados “grupos de risco” (homossexuais, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis, entre outros). Tais empreendedores sociais moveram-se inicialmente pelo “problema social e a busca de soluções” (ASHOKA-MCKINSEY, 2001) e criaram organizações em função de uma necessidade premente e não de uma oportunidade de negócio (GRECO, 2006), e sempre mantiveram uma dependência grande em relação ao poder público quanto aos recursos para seu funcionamento. Aliada à pouca ou nenhuma experiência na gestão de uma organização, tais personagens tiveram de enfrentar nos primórdios da doença no país, de enfrentar o estigma (Goffman, 1963) relacionado à doença, além daquele gerado por sua condição física, social e/ou psíquica: homossexuais, profissionais do sexo, hemofílicos, entre outros, primeiras vítimas identificadas da doença. Não se pode esquecer que inicialmente a aids era conhecida como “câncer gay”. O processo de não-aceitação de indivíduos estigmatizados tem implicações na identidade real do sujeito. O estigmatizado percebe os acontecimentos ruins como resultado de sua condição física ou psíquica geradora do estigma. Em relação à aids, a questão do estigma não se restringe ao portador do vírus, pois perpassa todos de sua intimidade (pais, cônjuges, filhos, amigos, entre outros), passando a influenciar as relações com seus pares e com a sociedade em geral na forma, normalmente, de uma resposta social negativa. Os indivíduos infectados tendem a esconder ao máximo sua condição para não sofrerem tais reforços negativos. Segundo Loeck, (2006) “o anonimato tem um papel importante no que diz respeito ao

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estigma, já que preserva os membros participantes de serem conhecidos enquanto tal”. As ONG-Aids são influenciadas externamente pelo Estado, por agências financiadoras estrangeiras, Igrejas e outros segmentos religiosos diversos, indústrias farmacêuticas, universidades, empresas, movimentos internacionais, sindicatos e de uma gama enorme de atores sociais que se relacionam de alguma forma com este espaço sócio-político. Internamente, têm de lidar com uma temática que demanda profissionais com um mínimo de qualificação técnica e com todas as demais exigências técnico-administrativas relacionadas à gestão de uma organização do terceiro setor. Essas influências tão fortes e variadas demandam gestores aptos a minimizar os seus impactos negativos e a potencializar os positivos para o sucesso da organização e isto requer uma estrutura organizacional condizente e a profissionalização do quadro de pessoal (ASHOKA, 2001). A Tabela 4 sintetiza as competências dessa fase do ciclo de vida.

Tabela 4 – Competências na Fase de Aprendizagem COMPETÊNCIAS FALAS DOS ENTREVISTADOS

Conhecimento Teórico Legislação do terceiro

setor; Direitos humanos; Voluntariado

“De agosto até dezembro a gente continuou no mesmo esquema, reunindo lá em casa. Não tinha sede [...]. Nesse

período a gente começou a formar uma parceria com a Secretaria de Estado [...]. Na segunda metade dos anos 90 [...] o diretor do programa nacional veio e fez uma

reunião com todas as ONGs, com os programas de aids e ninguém queria fazer... [...] Nós não tínhamos pessoas

qualificadas e tivemos de recorrer a pessoas que tinham conhecimento [...]. Formou-se uma equipe que não vestia

a causa e queriam fazer as coisas do jeito delas [...] a gente já tinha iniciado a trabalhar com profissionais do

sexo que não era nossa missão, nosso público original[...]. Então já houve um desvio do ideal original. Isso foi se intensificando no grupo. Depois houve mais

um projeto em escola com alunos e professores também. No final de 95 percebemos que dávamos tiros pra tudo que é lado. [...] realmente começou a dispersar demais”

(Fundador do empreendimento social B).

“[...] o grupo mudou bastante nesta época. Antes não tinha recursos. Tudo era doado. A contribuição das

pessoas era difícil de cobrir as despesas. [...]entrou o financiamento. Aí dava para ter pessoas que podiam ficar

liberadas. A gente comprou um monte de móveis para mobiliar a sede, mas também trouxe conflitos, no sentido de que quando o dinheiro entra numa ONG, que é uma

coisa que partiu de um ideal de mobilização, [...] os interesses aparecem [...]. Foi um momento de muito crescimento, mas também de muita turbulência na

administração do grupo” (Fundador do empreendimento social D).

Conhecimento Sobre Os Procedimentos

Interpretação da legislação aplicável Articulação

sócio-política; Multiplicação de

informações; atuação com públicos estigmatizados;

Mediação

Conhecimento Empírico

Aplicação da legislação aplicável Articulação

sócio-política; Multiplicação de

informações; atuação com públicos estigmatizados;

Mediação

Conhecimento Social

Vontade de ajudar; Receptividade;

Persistência; Lidar com preconceitos

Conhecimento Cognitivo

Aproveitamento de oportunidades; Buscar

qualificação; Análise de cenários

Fonte: autores 4.3 Institucionalização “A atividade econômica pode ter qualquer motivo, até mesmo espiritual” (SCHUMPETER, 1982: 14), ou como no caso das ONG-Aids, a prevenção da doença e/ou assistência ao portador do vírus, mas o foco no assistencialismo pode levar o empreendedor social a descuidar da captação de recursos, fundamental ao funcionamento da organização. No edital público 2005/01 da Secretaria de Estado da Saúde, por exemplo, dos cinqüenta e um projetos apresentados, nenhum foi aprovado. Os principais motivos da não aprovação foram a ausência da documentação exigida, que demonstra que as organizações não leram criteriosamente os

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itens do edital; não mantêm a documentação da ONG em dia; têm pendências com o programa nacional de DST-Aids do Ministério da Saúde; entre outros motivos, que evidenciam a falta de qualificação para elaboração de projetos. A função de líder exige habilidade especial, competência técnica e interpessoal, para criar, com o grupo, uma atmosfera sócio-emocional de confiança recíproca. Segundo Moscovici (2002), a competência técnica é fundamental para o desempenho eficiente, porém a tecnologia gerencial é determinada pela dinâmica da personalidade. Na organização, assim como na família, as diferenças individuais não são bem compreendidas nem aceitas. As grandes decisões estratégicas serão implantadas com sucesso se o corpo gerencial desenvolver competência interpessoal para liderança efetiva, comunicação, negociação e participação em equipe. Como a completa atualização profissional é tarefa sobre-humana, a ênfase passa a ser a preparação metodológica, capacidade de aprender os problemas, fazer uma leitura ambiental apropriada e saber buscar as informações e pessoas para implantar os projetos. Conhecer os outros e a si mesmo e aceitar as diferenças interpessoais possibilita aprender a conviver com a diversidade. O governo brasileiro, através do Ministério da Saúde, optou por uma abordagem de enfrentamento da epidemia baseada na parceria, principalmente com organizações da sociedade civil, passando o poder público de prestador de serviços para facilitador de serviços (GOLDSMITH e EGGERS, 2006:25) e às ONGs couberam executar as ações de prevenção e assistência congruentes com as expectativas do governo e a ele prestar contas do uso de recursos públicos. Observam-se na Tabela 5 as competências das fase de Institucionalização.

Tabela 5 – Competências na Fase de Institucionalização COMPETÊNCIAS FALAS DOS ENTREVISTADOS

Conhecimento Teórico

Realidade social em profundidade; Técnicas de gerenciamento; Fontes de financiamento públicas e

privadas; Ambiente interno e externo à organização

“[...] não vejo muitas alternativas [...] porque não há interesse nessa mudança [...] não há interesse em que

aquela população cresça, que ela evolua[...] se eu tenho um poder num determinado local [...] que me dá uma posição melhor diante dos outros moradores daquela região, porque vou querer que aquilo melhor se vou perder meu poder? ” (Fundador do empreendimento

social E).

“as pessoas não têm liberdade [...]. A realidade é uma coisa extremamente complicada, ela não tem liberdade,

as pessoas não têm liberdade, estão presas naquele mundo. Para mudar essa nossa realidade tem que haver

uma conscientização verdadeira [...] Isso pra mim ainda é difícil” (Fundador do empreendimento social C).

“[...] a gente nasceu sim dentro de uma organização, mas hoje nós temos a nossa identidade e as nossas ações são definidas pelos pares, pela nossa base [...]. A gente tem

sim o apoio sempre dessa organização de onde nascemos e de outras que também fazem parte que a gente chama

de aliança” (Fundador do empreendimento social I).

Conhecimento Sobre Os Procedimentos

Técnicas de gerenciamento; Fontes de financiamento públicas e

privadas;

Conhecimento Empírico

Acessar órgãos públicos; Captação de recursos;

Atuar em redes; Geração de renda; Gestão de recursos humanos,

materiais e financeiros; Planejamento; Formação de redes; Prestação de

contas.

Conhecimento Social

Liderança; Exigência por padrões de desempenho

adequados; Interesse pela coletividade; Coragem p/ questionar a ordem social.

Conhecimento Cognitivo

Visão de negócio; Responsabilidade pessoal pelos resultados obtidos;

Fonte: autores

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4.4 Maturidade As ONG-Aids surgiram como resposta às questões sociais e políticas vinculadas à doença para ocupar o espaço deixado por um Estado ineficaz, associada a alguns fatores, dentre os quais, o comprometimento com os ideais de transformação social e o impacto dos resultados sociais sobre a saúde da população. Advocacy é um termo sem tradução direta para o português, que significa mobilizar os tomadores de decisão e lideranças para o apoio político e mobilização de recursos. Nunes (1997) alertava, há dez anos, que os diversos tomadores de decisão tanto da área de saúde quanto econômica deveriam dar continuidade aos trabalhos até então executados no combate à doença, bem como reforçar as estratégias de prevenção e controle do avanço da doença e na assistência aos portadores. Sen (2000:32) informa que “a direção da política pública pode ser influenciada pelo uso efetivo das capacidades participativas do povo”, ou seja, a participação da sociedade civil, em uma relação bilateral com o poder público, pode ser transformadora. Um dos conceitos emergentes dessa fase do ciclo de vida do empreendimento social é o de “franquia social”, que significa o repasse de metodologias sociais de sucesso para outras organizações públicas e/ou privadas. Há opiniões controversas sobre este conceito, que se originou do meio empresarial e que tem seu maior expoente nas redes de fast-food. A polêmica gira em torno do lucro. Pode uma organização sem fins lucrativos vender sua tecnologia? Legalmente, parece que não há empecilho algum (MARTINS, 2004). A tabela a seguir busca sintetizar o que até agora foi apresentado sobre as competências do empreendedor de acordo com o ciclo de vida do empreendimento social.

Tabela 6 – Competências na Fase de Maturidade COMPETÊNCIAS FALAS DOS ENTREVISTADOS

Conhecimento Teórico

Funcionamento dos órgãos públicos; Papel do Estado;

Relações de poder; advocacy; Conjuntura

sócio-política; Licitações; Gestão de contratos.

Franquia Social

“O [empreendimento social] sempre teve um papel de liderança conjunta no âmbito nacional do movimento e

continua tendo até hoje. [...] Embora demorasse em tomar vulto, a (nome da rede) se tornou uma porta para o

movimento [...]. A partir da fundação [...] tinha uma organização que representava um número crescente de

outras organizações que podia chegar ao governo e falar ‘nós estamos falando em nome de tantas organizações,

estamos respaldados para fazer isso’ e aí começou a haver dialogo com o governo federal. O primeiro

programa nacional de direitos humanos só tinha um artigo sobre a comunidade GLBT. O segundo tinha um

capítulo inteiro. [...] Hoje se vê como o movimento cresceu” (Fundador do empreendimento social B).

Conhecimento Sobre Os Procedimentos

Técnicas de advocacy; Licitações; Gestão de

contratos. Franquia Social

Conhecimento Empírico

Acessar e analisar indicadores sociais;

Identificar tomadores de decisão;

Conhecimento Social

Negociação; Estabelecimento de

parcerias; Visão sistêmica; Gerar confiança;

Conhecimento Cognitivo

Comprometimento com os ideais de transformação

social; Congruência entre prática e discurso.

Fonte: autores Observou-se que a liderança de uma organização não-governamental tem de mobilizar a organização para torná-la apta a lidar com as variadas nuances sociais, políticas e econômicas: enfrentamento de vulnerabilidades sociais; execução de ações diretas junto à população;

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promoção do desenvolvimento organizacional; controle social das instituições públicas; ações de advocacy; atividades técnico-administrativas rotineiras de manutenção da própria organização, bem como a captação de recursos para a sobrevivência da organização. Internamente, a liderança do terceiro setor tem de lidar com uma temática que demanda profissionais com qualificação técnica variada (assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros, pedagogos, entre outros), com voluntários e com as demais exigências técnico-administrativas relacionadas à sua gestão.

5 Conclusões, Limitações e Recomendações Rifkin (1995) afirmava há quase duas décadas que as organizações do terceiro setor assumiriam o papel do Estado como provedor de serviços frente a impossibilidade de manutenção do Welfare State . A importância das organizações do terceiro setor no mundo contemporâneo e, neste caso, das que atuam com prevenção e assistência a indivíduos vulneráveis a uma doença ainda sem cura, requer uma reflexão mais profunda sobre a sua atuação no espaço coletivo e, em particular, de características representativas de sua forma de gestão. Tal atribuição não é tão simples, pois o cenário em que essas organizações do terceiro setor estão inseridas é, como já foi dito, bastante complexo e heterogêneo. O estudo aqui apresentado é uma iniciativa embrionária para investigar competências dos gestores das ONG-Aids, mas mesmo assim pode se caracterizar sua relevância diante da quase ausência de literatura científica sobre competência de empreendedores sociais no campo de atuação da aids. Acredita-se que um estudo mais aprofundado destas competências poderá orientar propostas para o melhor encaminhamento das organizações, com maior clareza, redefinição e qualificação do papel dos gestores, bem como fornecer a base para metodologias de avaliação, qualificação e/ou desenvolvimento dos gestores das ONG-Aids, no contexto de sua atuação. Uma outra proposta de estudo decorrente deste artigo seria investigar se os atuais gestores têm tais competências e como as utilizam cotidianamente. Segundo Hunter (2005:266), “o empreendedor precisa ser considerado separadamente da organização, como também seu comportamento, características e modus operandi”. Referências ASHOKA. Social Entrepeneur, 2004. Disponível em http://www.ashoka.org/fellows/social_entrepeneur.cfm. Acesso em agosto de 2010.

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