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COMPARTILHAR PARA CHEGAR: UM ESTUDO SOBRE O CONSUMIDOR DE CARRO COMPARTILHADO VIA APLICATIVO NO TRÂNSITO DA CIDADE DE SÃO PAULO. Daniela Cunha Fernandes Miranda São Paulo | 2019

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COMPARTILHAR PARA CHEGAR: UM ESTUDO SOBRE O CONSUMIDOR DE CARRO COMPARTILHADO VIA APLICATIVO NO TRÂNSITO DA CIDADE DE SÃO PAULO.

Daniela Cunha Fernandes Miranda

São Paulo | 2019

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SÃO PAULO

2019

ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

DANIELA CUNHA FERNANDES MIRANDA

COMPARTILHAR PARA CHEGAR:

Um estudo sobre o consumidor de carro compartilhado via aplicativo no trânsito da cidade de

São Paulo.

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SÃO PAULO

2019

DANIELA CUNHA FERNANDES MIRANDA

COMPARTILHAR PARA CHEGAR:

Um estudo sobre o consumidor de carro compartilhado via aplicativo no trânsito da cidade de

São Paulo

Dissertação apresentada como requisito para a

obtenção do título de Mestre em

Administração, com ênfase em

Comportamento do Consumidor, pela Escola

Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.

Orientadora: Profa. Dra. Suzane Strehlau

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DANIELA CUNHA FERNANDES MIRANDA

COMPARTILHAR PARA CHEGAR:

Um estudo sobre o consumidor de carro compartilhado via aplicativo no trânsito da cidade de

São Paulo.

Dissertação apresentada como requisito para a

obtenção do título de Mestre em

Administração, com ênfase em

Comportamento do Consumidor, pela Escola

Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.

Data de aprovação:

/ /

Banca examinadora:

Prof. Dra. Suzane Strehlau (Orientador)

MPCC/ESPM

Prof. Dr. Leonardo

Aureliano da Silva- ANHEMBI MORUMBI

Profa. Dra. Profa. Dr a. Luciana

Florêncio de Almeida

MPCC/ESPM

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Ao meu marido, Bira, que me faz acreditar que o impossível é mais que possível, e que o inalcansável é simples de se conseguir: basta acreditar e correr atrás.

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AGRADECIMENTOS

Gratidão define o que sinto hoje a todos que estiveram ao meu lado, que torceram por

mim e que de alguma forma contribuiram para a realização deste trabalho.

Foram dias difícéis, de incerteza, alguns até de dor, mas cheguei até aqui.

A você, amigo, colega de sala, colega de trabalho, professores, orientadora e todos

os que cruzaram meu caminho nessa jornada, o meu muito obrigada!

À minha família, que de uma forma ampla viveu comigo mesmo que a distância um

pouco da expectativa de quando e como terminaria essa jornada, muito obrigada! À

vida, que tem sido generosa comigo, à minha irmã, que com sua fé inabalável, sempre

esteve ao meu lado com uma palavra de incentivo, e ao meu eterno amor, Bira, que

com sua sempre positividade me fez ver que eu poderia sim chegar até aqui, o meu

muito, muito obrigada. Sou e serei eternamente grata a todos vocês.

Como eu disse, gratidão define este momento.

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RESUMO

Diante da necessidade de locomoção e da falta de infraestrutura de mobilidade urbana

nas grandes cidades, consumidores cada vez mais buscam alternativas e compartilham

caminhos e veículos no trânsito. Mesmo com a crescente importância do

compartilhamento, seja de serviços ou de bens (BOSTMAN; ROGERS.2011), a

literatura sobre esse assunto tem sido pouco explorada. A partir desse cenário, a

Economia Colaborativa embasa e dá suporte aos estudos desta dissertação que tem

como objetivo identificar os perfis dos usuários de transporte por aplicativo

compartilhado e privado na cidade de São Paulo, elencando fatores que tornam esse

serviço relevante ou não para esse consumidor. Para se chegar aos resultados, utilizou-

se uma abordagem qualitativa e entrevistas semiestruturadas com 22 pessoas, usuárias

de transporte por aplicativos Uber X e Uber Juntos, com idades entre 22 e 54 anos. Os

resultados apontam dois perfis de usuários; um mais compartilhador, que tem hábitos

colaborativos em seu dia a dia, e o outro menos compartilhador, que dá prioridade a

serviços com mais privacidade e individualidade. Dentre os fatores mais citados para o

engajamento no serviço compartilhado, a Confiança aparece com maior destaque e é

também apontado como principal motivo para a recusa de uso desse tipo de serviço.

Fatores como preço, qualidade e socialização também estão entre os princípios

apontados para engajamento no shared mobility, e sustentabilidade não aparece como

um potencial engajador para a escolha entre os entrevistados.

Palavras-chave: Comportamento do consumidor. Economia compartilhada. Shared

mobility. Transporte. Mobilidade urbana.Uber

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ABSTRACT

Faced with the need for locomotion and the lack of infrastructure of urban mobility in

large cities, consumers are increasingly seeking alternatives and sharing roads and

vehicles in traffic. Even with the growing importance of sharing either services or goods

(BOSTMAN.ROGERS.2011), literature has been little explored on this subject. From

this scenario the Collaborative Economy supports and supports the studies of this

dissertation that aims to identify the profiles of the users of transport by shared and

private application in the city of São Paulo, listing factors that make this service relevant

or not for this consumer . To reach the results, a qualitative approach was used, with

in-depth interviews with 22 people, users of Uber X and Uber Juntos applications, aged

between 22 and 54 years. The results point to two user profiles; a more sharing, who

has collaborative habits in his day to day and the other less sharing, that gives priority

to services with more privacy and individuality. Among the most cited factors for

engagement in the shared service, Confiança appears more prominently and is also

pointed as the main reason for the refusal to use this type of service.

Factors such as price, quality and socialization are also among the principles pointed

out for engagement in shared mobility and sustainability does not appear as a potential

enabler for the choice among respondents

Keywords: Consumer behavior. Sharing economy. Shared mobility.

Transportation. Urban mobility.

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Manifesto do compartilhamento

Queremos ter; ter direito ao uso sem a necessidade

de compra, mas pagando um preço justo para tal.

Justo para o meio ambiente, justo para o planeta,

justo para o cidadão que busca usfruir uma vida mais

plena e também sustentável.

O futuro já se tornou um presente, embrulhado em

papel de esperança e compartilhado por mãos que

buscam o cuidado uns com os outros.

Compartilhar é mais que dividir, é cuidar para que a

vida não se esvale em sucatas e relíquias de excesso

de uso e de consumo. A hora é agora; no momento,

também é necessário acender a chama do

compartilhamento para cruzar caminhos e chegar

cada vez mais longe.

Daniela Miranda.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Categorias de mobilidade compartilhada.................................................................20

Figura 2: Centro expandido da cidade de São Paulo................................................................23

Figura 3: Categorias e subcategorias de análises ..................................................................... 61

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: O impacto da Uber na eficiência urbana ................................................................ 21

Quadro 2: Projeção da população da cidade de São Paulo ..................................................... 22

Quadro 3: Definições limitadas da economia de compartilhamento ....................................... 36

Quadro 4: Definições amplas da economia de compartilhamento .......................................... 38

Quadro 5: Comparativo de impactos ...................................................................................... 43

Quadro 6: Principais modelos de serviços de mobilidade compartilhada em SP…….............47

Quadro 7: Categoria de serviços ............................................................................................ 48

Quadro 8: Constructos versus categorias de análise. ............................................................... 57

Quadro 9: Lista de entrevistados. ............................................................................................ 59

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Frota da cidade de São Paulo. ................................................................................. 24

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................16

1.1 Objetivos ........................................................................................................ ............17

1.2 Justificativa ...................................................................................................... ............18

1.3 Delimitação do tema ...................................................................................................22

1.4 Estrutura da dissertação.............................................................................................. 25

2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................... 26

2.1 Consumo colaborativo.................................................................................................27

2.2 Um caminho para a mobilidade urbana .......................................................... ............40

2.3 Economia compartilhada e abertura de novos mercados .............................. .............42

2.4 Tipos de mobilidade compartilhada ............................................................. .............45

2.5 Compartilhamento: uma questão social.....................................................................50

2.6 Razões para compartilhar no shared mobility.....................................................................51

2.7 Comportamento do consumidor e o consumo colaborativo ......................................53

3 RECURSOS METODOLÓGICOS......................................................................................54

3.1 Abordagem......................................................................................................................54

3.2 Método ............................................................................................................... ............55

3.3 Tipos de pesquisa............................................................................................................56

3.4 Técnica de coleta de dados……………………………………………….............….. 56

3.5 Amostras .................................................................................................................................58

3.6 Método de análise .............................................................................................. ............60

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ...........................................................................................62

4.1 Confiança ........................................................................................................................62

4.2 Privacidade versus Não Compartilhamento ....................................................... ............63

4.3 Preço, comodidade e qualidade .......................................................................... ............64

4.4 Compartilhamento e vivência social .................................................................. .............66

4.5 Sustentabilidade ……………………………………………………………..................67

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5 CONCLUSÃO......................................................................................................................69

6 ESTUDOS FUTUROS ……………………………………………………………............70

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................72

8 ANEXOS................................................................................................................................77

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1. INTRODUÇÃO

Com o crescimento acelerado das grandes cidades, questionar-se para onde

vamos deixou de ser o foco, e outro questionamento surge, o de como chegar até lá.

Debates sociais sobre o futuro da mobilidade urbana na cidade de São Paulo

e novos estudos feitos pela academia começam a levantar questões de como dar

vasão à necessidade de locomoção dos cidadãos, com eficiência e sem prejudicar

ainda mais o trânsito, que hoje já enfrenta uma média de 8.000 milhões de carros

emplacados na cidade de São Paulo segundo dados do Detran-SP-2018, com um

crescimento diário de 2 carros novos por minuto até o final de 2019.

Movimentos de mobilidade compartilhada surgem em todo o Brasil em busca

de um caminho para a melhora da locomoção das pessoas, e em São Paulo, maior

metrópole do país, diversas empresas do segmento de shared mobility vem aportando

na cidade e oferecendo serviços privados de compartilhamento via aplicativos para

diversos modos de locomoção alternativa pela cidade. As possibilidades passam por

pegar uma carona de bicicleta para complementar o caminho, alugar patinetes para

fazer a integração muitas vezes de uma estação do metrô até o trabalho e até

compartilhar o carro, como o caso do Uber Juntos, antigo Uber Pool, em que pessoas

podem dividir o mesmo carro e caminhos por valores calculados de forma individual

via aplicativo da empresa.

Essa nova possibilidade de consumo para transporte privado impacta

diretamente não somente a vida dos cidadãos, como o mercado de mobilidade, e para

Gansky (2010) e Teubner (2014), o pensamento de compartilhar sai de uma cultura

comunitária para um novo modelo de negócios rentável, e essa recente mudança de

comportamento é refletida no número de carros por aplicativos já em funcionamento

em São Paulo. De acordo com a Uber, maior empresa de transporte compartilhado

privado no mundo, até fevereiro de 2018, a empresa tinha 500 mil motoristas

cadastrados e cerca de 20 milhões de usuários pelo Brasil. Só em SP, 50% desse

número corresponde ao total de motoristas e usuários. Belk (2014) e Rifkin (2016) já

tratavam desse assunto, defendendo que o sistema colaborativo seria cada vez mais

relevante para os países e que o sharing economy aos poucos se sobreporia à

economia capitalista, dando lugar cada vez mais ao compartilhamento.

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Diante desses dados, fica evidente a necessidade de estudos mais

aprofundados sobre o tema. É preciso compreender o consumo de uma forma total,

examinando o comportamento de consumo, e as possibilidades de consumo, seus

fatores e razões para engajamento (BELK, 2010) fortalecendo estudos e dando mais

subsídios para trabalhos futuros.

Dentro desse contexto, esta dissertação investiga o perfil do usuário do

transporte privado compartilhado por aplicativo, exclusivamente pela empresa Uber

Juntos, entendendo fatores que engajam ou não o uso desse serviço, e a recusa de

alguns consumidores em usar essa categoria de serviços, levantando dados sobre

esse serviço, relativamente novo no Brasil, apresentando resultados que possam dar

suporte à melhora de serviços e produtos nessa categoria e trazer mais análises para

a academia dando base e suporte a estudos futuros sobre mobilidade compartilhada.

1.1 OBJETIVOS

Quais fatores contribuem para o engajamento no consumo colaborativo no

trânsito baseado no uso da tecnologia e no compartilhamento na cidade de São

Paulo? Partindo desse problema de pesquisa, o objetivo central deste trabalho é

identificar o perfil dos usuários de transporte por aplicativo compartilhado e privado,

que são usuários das modalidades da empresa Uber, o Uber Juntos, que engloba o

serviço compartilhado, e o Uber X, que oferece o serviço privado e elencar os

principais fatores para a escolha de um serviço ou outro dentro de cada perfil

identificado.

Partindo desse problema de pesquisa, os objetivos específicos abaixo

permearão todos os estudos deste trabalho:

1. Identificar o perfil do usuário de aplicativos de transporte compartilhado, o Uber

Juntos, e usuários do transporte por aplicativo privado Uber X, os fatores mais

relevantes para a escolha desses serviços, a frequência com a qual usam esse

serviço, evidenciando aquilo que o torna relevante para esses consumidores.

2. Comparar os dois perfis: usuários de aplicativos compartilhados versus usuários

de aplicativos privados para entender as necessidades de consumo e uso,

comportamento e argumentos dos usuários para a sua categoria e a recusa em

usar um dos dois serviços.

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1.2 JUSTIFICATIVA

Considerada a maior metrópole do país, a cidade de São Paulo apresenta

números populacionais e territoriais que a definem como tal e ao mesmo tempo

expõem grandes desafios para atender a uma população que busca melhorias em

diversos segmentos, em especial a mobilidade urbana. O grande número de veículos

nas ruas, um rodízio ineficiente e um transporte urbano que não atende a toda a

população de forma eficaz faz com que as pessoas busquem novas formas de

mobilidade pela cidade que excedem o limite só do ir e vir. Movimentos como caronas

compartilhadas, uso de bicicletas, aluguel de veículos por curto espaço de tempo e

patinetes motorizados têm surgido como um caminho para essa questão-chave de

locomoção nas grandes metrópoles

O compartilhamento não é um princípio novo na vida das pessoas, e recursos

como: trocas, empréstimos, locações fazem parte de situações às vezes cotidianas.

Além de possibilitar o acesso e movimentar a economia, redes de relacionamento vêm

surgindo interligando consumidores que partilham das mesmas ideias e querem dividir

algo, possibilitando o surgimento inclusive de novos negócios pautados nesses

sistemas. Belk (2010) diz que “o compartilhamento é a forma mais básica de

distribuição econômica em sociedades humanas em centenas de milhares de anos”.

As pessoas dividem recursos não por obrigação, mas porque acreditam na

necessidade de mudança consciente de consumo, já que os recursos não são infinitos

(BOTSMAN; ROGERS, 2011). O consumo consciente está diretamente ligado à forma

com que o cidadão enxerga a responsabilidade ambiental e o quanto o consumo em

excesso de produtos pode impactar o meio ambiente de forma negativa. Akatu (2002,

p. 9) concorda que um consumidor consciente pode contribuir para uma vida

sustentável:

Ser um consumidor consciente significa fazer de seu ato de compra [e de consumo] um ato de cidadania, isto é, ser capaz de escolher produtos, serviços e empresas fornecedoras que contribuam para uma condição de vida ambientalmente sustentável e socialmente justa.

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Hoje, diante de tantas possibilidades de compartilhamento, principalmente com

foco no compartilhamento de veículos e caminhos, tomando por base análises e

reflexões sobre os consumidores do aplicativo Uber Juntos, este estudo mostrou-se

importante para duas vertentes: para a academia, levando mais estudos e resultados

de um assunto que ainda é relativamente novo, com poucos trabalhos, abrindo campo

para novas pesquisas e questionamentos, e para o mercado de compartilhamento e

mobilidade urbana no desenvolvimento das teorias e aplicações oriundas dos

conceitos de economia compartilhada e shared mobility, podendo ser aplicadas a

novos produtos e serviços ou ainda na melhora dos já existentes, refletindo em

benefícios para a sociedade. Belk (2014) e Rifkin (2016 p. 117) consideram que a

economia colaborativa será cada vez mais relevante no mundo e, consequentemente,

abrirá cada vez mais espaços de negócios.

Em estudos desenvolvidos pela IE Business School e o Banco Interamericano

de Desenvolvimento (2017), o Brasil lidera iniciativas colaborativas na América Latina,

operando basicamente nos setores de serviços para empresas (26%), transporte

(24%) e aluguel de espaços físicos (19%). Alguns gestores de importantes áreas na

economia já enxergaram essa grande oportunidade que o sharing economy pode

gerar, e empresas voltadas para esses segmentos vêm surgindo dia a dia no mundo

e se instalando no Brasil. Serviços de música e filmes compartilhados podem ser

vivenciados por meio de empresas como Spotify e Netflix, por meio dos quais o

usuário pode usufruir o serviço de graça ou com uma pequena assinatura de acordo

com sua necessidade. Ao mudar a forma de busca e aluguéis de casas e quartos para

viajantes, o Airbnb possibilitou conectar pessoas em busca de espaços para

hospedagem a donos desses espaços que estavam ociosos e sem perspectiva de

aluguel de forma tão simples. O transporte privado, seguindo esse mesmo caminho

de conexão, tem se transformado dia a dia, e empresas cujo foco é o segmento de

compartilhamento no trânsito via aplicativo tem crescido cada vez mais no Brasil. Hoje,

Uber, Uber Juntos, Cabify, 99Taxis, Lady Driver, Waze Carpool, Easy Taxi, BlaBlaCar,

entre outros fazem uso de aplicativos para também conectar pessoas que desejam se

locomover a pessoas que querem dividir seu veículo de forma remunerada. O shared

mobility, ou mobilidade compartilhada, é um setor em rápido crescimento do

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compartilhamento emergente na economia”1. (JIN et al.,p.22. 2018).

A Figura 1 traz algumas das modalidades possíveis no Brasil dentro da

categoria de mobilidade compartilhada. JIN et al. (2018), levantou outras categorias

presentes nos EUA; entretanto, apresentaremos aqui apenas as que têm expressão

no Brasil, especificamente na cidade de São Paulo.

Figura 1 – Categorias de mobilidade compartilhada

Fonte: Figura da autora adaptada de Jin et al., 2018, p.29

.

Todas essas modalidades apresentadas já estão em uso na cidade de São

Paulo, e por serem uma modalidade adaptável à realidade e à necessidade da

população, cada dia mais adeptos desse sistema se engajam nesse modo de serviço

que jvem fazendo parte do dia a dia de muitos paulistanos. O que chama atenção é

que muitas dessas modalidades, servem de integração para o usuário, que muitas

vezes faz uso desses serviços para complementar seu trajeto junto ao transporte

público. É o momento em que o consumidor se torna ativo em uma relação de

consumo e não só com a possibilidade de gerar renda, mas também de movimentar

1 Tradução nossa.

MOBILIDADE

COMPARTILHADA

COMPARTILHANDO

UM VEÍCULO

COMPARTILHANDO

PASSAGEIROS

COMPARTILHAME

NTO DE CARROS

COMPARTILHAME

NTO DE MOTOS

COMPARTILHAME

NTO DE

BICICLETAS

CARONA

REMUNERADA

CARONA

SOLIDÁRIA

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a economia.

Pontos positivos, negativos e questionamentos foram elencados em um estudo

sobre o impacto do Uber na eficiência urbana nas cidades. De acordo com esse

estudo de Jin et al. (2018), os carros por aplicativos melhoram a acessibilidade a

bairros mais pobres, em que os serviços de transporte público e táxi são ineficientes,

elevam a sensação de segurança para motoristas e passageiros, já que o serviço de

táxi não gerava essa percepção nas pessoas e cria uma redução nos custos da

transação, favorecendo o consumidor final.

O Quadro 1 traz as principais considerações e questionamentos sobre esse

estudo em que vários pontos são levantados, mas há um benefício que talvez

desarme qualquer questionamento. De acordo com Jin et al. (2018), muitos brasileiros

não se locomovem por falta de oferta de como fazê-lo, e a mobilidade compartilhada

faz a inclusão social dessas pessoas na mobilidade.

Quadro 1 – O impacto da Uber na eficiência urbana

EFICIÊNCIA DE TRANSPORTE

EFICIÊNCIA ECONÔMICA

FOCO CONGESTIONAMENTO

ACESSIBILIDADE

SEGURANÇA ECONOMIA

COMPARATIVO: Carros por aplicativos celularesversus táxis.

QUESTIONAMENTO: Reduzem ou aumentam o congestionamento no centro da cidade?

PONTOS POSITIVOS: Alcança bairros pobres com serviços de táxi insuficientes.

PONTOS POSITIVOS: Faz motoristas e passageiros se sentirem mais seguros do que quando usavam táxis (-) Treinamento de motoristas insuficiente e lacuna de Seguro.

PONTOS POSITIVOS: Melhor demanda e oferta correspondentes (+) Reduz o custo de transação.

COMPARATIVO: Carros por aplicativos celularesversus transporte público.

PONTOS NEGATIVOS: Competem com o transporte público em áreas de trânsito denso.

PONTOS POSITIVOS: Temporal: complementa o transporte público à noite e nos fins de semana. (+) Espacial: serve como alimentador para o transporte público.

PONTOS POSITIVOS: Área de baixa densidade: custo eficiente para substituir certas rotas de trânsito por terceirização.

Fonte: Adaptação da autora (JIN et al., 2018)

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1.3 Delimitação do tema

Os números da cidade de São Paulo exibem dados populacionais e territoriais

que expõem diariamente grandes desafios na gestão da cidade e melhoria de vida

para os cidadãos. De acordo com números do último censo em 2010, a população era

de 11.253.503 pessoas, para 2018 a projeção dessa mesma população chegou a

12.176.866 de pessoas, conforme dados do Quadro 2. Diante desses números,

questões como educação, saúde, bem-estar social, planejamento e em especial

mobilidade urbana, fazem parte dos desafios das grandes metrópoles e

principalmente da maior cidade do país, São Paulo.

Quadro 2 – Projeção da população da cidade de São Paulo para 2019

População no último censo

2010

11.253.503 pessoas

População estimada em 2018 12.176.866

População no último censo

2010

11.253.503

Fonte: IBGE Cidades.2

Com uma população nessas proporções, um transporte público ineficiente e

rodovias que não suportam mais o número de veículos diários que nelas trafegam, as

pessoas começam a buscar novas formas de locomoção para lidarem com essas

dificuldades. A cidade de São Paulo hoje possui uma frota de 8.000.000 de veículos

que cresce cerca de 2 carros novos por minuto, de acordo com dados do Detran-

SP/2018.

Preocupações com o trânsito e com questões ambientais já haviam sido

esboçadas em 1997, quando prefeitura da cidade implementou o rodízio de veículos,

que mostrou-se eficiente na redução do tráfego no centro expandido na cidade de São

Paulo na época, e que tem sido mantido até os dias atuais. Seu funcionamento está

baseado na proibição de o motorista circular com seu veículo pelo centro expandido

em certos horários, de acordo com os finais de suas placas, conforme delimitação

2 Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-paulo/panorama>. Acesso em: 12 mar. 2018.

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exibida na Figura 2.

Figura 2 – Centro expandido na cidade de São Paulo, onde o uso de carro é

proibido em determinados horários e de acordo com o número final de cada placa

Fonte: Detran-SP.3

Ainda de acordo com o Detran-SP/2018, a frota de veículos de jan-set/97 a jan-

set/17 cresceu, em 20 anos, cerca de 74% e não houve aumento similar da malha

viária da cidade. O Gráfico 1 mostra o crescimento por tipo de veículo e o comparativo

entre capital e Estado de São Paulo em 2018. Cruzando esses dados de crescimento

com o rodízio hoje em São Paulo, esse sistema já não se mostra eficiente uma vez

que muitos cidadãos têm dois carros ou mais para para burlar o sistema. Entretanto,

atualmente não há como vivenciar o trânsito na capital. Sem ele, o caos seria muito

maior.

3 Disponível em: <http://www.cetsp.com.br/consultas/rodizio-municipal/como-funciona.aspx>. Acesso em: 20 dez 2017.

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Gráfico 1 – Dados da frota municipal na cidade de São Paulo em 2018

Fonte: Prefeitura de São Paulo e Detran 2018

Além dessas dificuldades relacionadas a transporte, há também questões

como falta de estacionamento e congestionamentos quilométricos que fazem com que

as pessoas hoje busquem alternativas para minimizar esse caos. De acordo com a

pesquisa Ibope encomendada pelo Movimento Nossa São Paulo4, o paulistano gasta

em média 45 dias parado no trânsito de São Paulo por ano. A pesquisa mostra que

em 2015 o cidadão gastou em média 2h38 para se deslocar pela cidade com os

congestionamentos. Em 2016 esse número chegou a 2h58, em 2017 caiu para 2h53

e em 2018 fechou o ano com 2h43, abaixo da média dos últimos anos, mas ainda

muito tempo para ser gasto apenas com deslocamentos.

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O resultado final deste trabalho será composto de quatro partes: no primeiro

capítulo serão apresentados a introdução, elencando o contexto e a relevância do

tema, a diferenciação entre os segmentos de compartilhamento de serviços de

mobilidade, além do problema e objetivos da pesquisa.

A segunda parte traz o referencial teórico, que fundamenta os constructos

4 Movimento com foco em questões sociais e políticas.

1.206.979

1.132.671

6.201.101

48.419

171.655

92.659

7.724

8.861.208

5.784.133

3.598.779

18.920.007

166.231

881.926

605.423

124.544

30.081.043

Capital Estado

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25

sobre consumo colaborativo, mobilidade urbana e possíveis caminhos, economia

compartilhada e abertura de mercados, tipos de mobilidade compartilhada e suas

vertentes, como a questão social e fatores para seu uso e comportamento do

consumidor dentro do consumo compartilhado. Os conceitos aqui apresentados

permearão uma discussão entre consumo colaborativo na visão de Botsman e Rogers

(2011), pioneiros nesse assunto, com a identificação de diferentes sistemas de

compartilhamento, além de Belk (2010), Hamari (2016), entre outros autores que

abordam o tema.

Na terceira parte, serão descritos o método da pesquisa qualitativa com todos

os processos metodológicos, os perfis dos entrevistados, o roteiro da entrevista e o

caminho para a análise dos resultados fazendo uma reflexão entre o resultado e

relação das práticas de consumo frente ao segmento de shared mobility permeado

pelo aplicativos de tecnologia “Uber e Uber Juntos”.

A última parte do estudo traz a discussão dos resultados, principais

aprendizados, limitações da pesquisa e sugestões para a continuação de estudos

futuros, não só na academia, mas para o mercado desse segmento e principais

contribuições deste estudo para a academia e para o mercado de mobilidade urbana

compartilhada.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A cultura de consumo e compra sem necessidade ou motivo que a justifique

racionalmente gera, por vezes, o endividamento do cidadão e o acúmulo

desnecessário de bens, muitas vezes motivado apenas pela necessidade de se ter

algo ou alguma posse (BOSTSMAN; ROGERS, 2011).

O ato de consumir está se transformando e supera hoje a ideia antiga de que

ter significaluxo e status para um reflexo de quem você é. Belk (2013, p. 5) aponta

essa tendência de que "você é o que você possui" para " você é o que você

compartilha" e indica que o caminho nesse momento é da pós-–propriedade, em que

o consumo passa de acúmulos de recursos para a divisão e compartilhamento de

bens. Produtos viram serviços em um mercado em que o consumidor tem acesso ao

seu uso por meio de aluguel, divisões de valores e até empréstimos, apoiado pelas

plataformas digitais (GANSKY, 2011, p. 1; 2).

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Esse movimento aponta para uma nova direção com uma possível tendência

de inovação social e de consumo. Atividades comerciais, antes comuns, como o

aluguel de imóveis para fins comerciais, de lazer e de moradia, veículos e bicicletas

para uso por curto prazo, compra de música por meio de cds, vêm se transformando

com a possibilidade do compartilhamento. A forma com que esse compartilhamento

tem sido posto em prática abre uma frente na cultura de uma sociedade que antes

comprava e agora divide, e que na visão de Botsman e Rogers (2011) transforma uma

economia baseada no “o que é seu é meu”.

Uma mudança de pensamento e comportamento começa a ser discutida no

momento em que os consumidores passam a vivenciar um relacionamento líquido

com bens e serviços, praticando uma relação provisória com esses objetos, baseada

no valor do uso e não na aquisição da propriedade (BARDHI; ECKHARDT, 2012).

Bens de consumo, como casas, carros e ferramentas, passam a ser compartilhados

gerando novas formas de consumo e também de renda. Essas inovações

proporcionam ao consumidor um custo acessível a bens, serviços e locais, e alguns

oferecem até oportunidades para gerar ganhos financeiros, muitas vezes

complementando uma renda mensal (SCHOR, 2016). Esses fatores têm transformado

atitudes e mudado o comportamento de consumidores, principalmente com serviços

relacionados a necessidades diárias, como deslocamento dentro das grandes cidades

(HAMMARI, 2014).

Essa transformação no âmbito do comportamento do consumidor, de estar

mais suscetível a dividir algo ou não, também pode estar ligada à cultura, aos hábitos

e às atitudes, o que que pode criar novos paradigmas no consumo. Em estudos sobre

cultura em um ambiente empresarial, Hofstede (1984) levantou parâmetros

pesquisados sobre o individualismo e coletivismo, o que criou perspectivas sobre

esses dois perfis, com enfoque cultural. O autor considerou em seus estudos traços

importantes da cultura coletivista, como o quão importante as pessoas consideram

cuidar de si mesmas ou dos outros. Pessoas com foco coletivista dão ênfase ao "nós"

e não ao “eu”. Já na cultura individualista, há ênfase no "eu" e nas escolhas pessoais

que podem trazer benefícios diretos ao sujeito. Os individualistas valorizam seus

interesses e necessidades pessoais, já os coletivistas nutrem os interesses coletivos

e compartilham de um senso de pertencimento a um grupo. Os achados de Hofstede

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(1984), mesmo em um contexto empresarial, podem nos guiar por caminhos que nos

ajudem a entender mais o perfil de quem compartilha mais ou menos, mesmo que em

outro contexto cultural.

2.1 Consumo colaborativo

O consumo colaborativo é um termo abrangente que tange práticas como

trocas, reciclagem e compartilhamento (LE GALL-ELY et al., 2010), bem como o

acesso ao consumo sem posse (BARDHI; ECKHARDT, 2012), mas também

atividades de financiamento e o desenvolvimento conjunto de projetos inovadores

(DJELASSI; DECOOPMAN, 2013) e normalmente está amparado por plataformas na

internet. Está ligado a meios de compartilhamento, aluguel, trocas, permutas de

produtos ou serviços (LE GALL-ELY et al., 2010) abdicando da necessidade de se

possuir um bem. As transações financeiras estão ligadas ao uso do objeto em questão

e seu consumo é dividido em partes exclusivas entre os interessados. Não é um

sistema fechado e de difícil acesso, ele é construído à medida que o sujeito divide

recursos, compartilha ideias sem a necessidade de abrir mão da sua concepção de

vida e de suas ideias, podendo dividir qualquer coisa, quando e onde quiser, não

sendo exclusivo de uma só categoria ou produto (BOTSMAN; ROGERS, 2011). De

uma forma geral, ele beneficia uma cadeia formada por consumidores e interessados

em compartilhar algo favorecendo a comodidade e a economia do compartilhamento.

Não é necessário comprar algo para usufruir um produto ou serviço, por exemplo

(BARDHI; ECKHARDT, 2012).

Essa economia compartilhada está baseada em quatro princípios básicos, de

acordo com Knote (2016):

1. Mercados multilaterais: em que as ofertas peer-to-peer5 são

intermediadas por plataformas e promovem o encontro entre provedores

e usuários, tendo como recompensa um valor relacionado ao serviço

prestado.

2. Crowdsourcing: Intermediados pela internet, recursos compartilháveis

5 Peer-to-peer - do inglês par-a-par ou simplesmente ponto-a-ponto, com sigla P2P, é uma arquitetura de redes de Peer-to-peer -

do inglês par-a-par ou simplesmente ponto-a-ponto, com sigla P2P, é uma arquitetura de redes de computadores onde cada um

dos pontos ou nós da rede funciona tanto como cliente quanto como servidor, permitindo compartilhamentos de serviços e dados

sem a necessidade de um servidor central. Por meio dessa plataforma é possível compartilhar músicas, vídeos, imagens, dados,

ou coisa com formato digital. Fonte: Wikipidia. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Peer-to-peer>. Acesso em: 15

mar. 2018.

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como serviços são oferecidos de um grupo para outro. Empresas como

as de transporte privado por aplicativo usam desse princípio para

oferecer serviços, porém com associados terceirizados e sem vínculo

com as instituições.

3. Confiança e recomendação: Algumas empresas atrelam aos seus

serviços sistemas de avaliação para que possam construir credibilidade

e confiança junto ao seu usuário .O consumo colaborativo permite trocas

de forma direta entre pares, com base na confiança, dispensando

intermediários (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

4. Consumo baseado em preço: com ajuda de softwares e plataformas

online, o usuário tem seus valores para pagamento de serviços

calculados e atrelados ao seu uso real, e não pela posse ou

manutenção. Essa possibilidade cria oportunidades de acesso e escolha

para o usuário.

Quando os compartilhamentos acontecem em plataformas digitais e há mais

oferta de produtos ou serviços nesses espaços, os consumidores são motivados a

escolher pela redução de valores e pelas possibilidades de personalização

(PARENTE; GELEILATE; RONG, 2017). No caso do compartilhamento de veículo,

empresas no Brasil como Uber, Cabify, Lady Driver e 99 disputam menores valores

para atrair mais consumidores. Preço pode ser um fator relevante para a escolha do

usuário, já que ao associar os valores gastos com ônibus ou estacionamento, os

carros por aplicativo tornam-se atraentes e uma opção (SHAHEEN; CHAN, 2016).

Muitos dos estudos sobre consumo colaborativo levantam fatores e obstáculos

que levam um usuário a se engajar nesse tipo de economia. Bardhi e Eckhardt (2012);

Botsman e Rogers (2011) acreditam que a conveniência, senso de pertencimento,

generosidade, consumo sustentável, experiência e produtos por preços mais baixos

estão entre os motivadores para a adesão a esse tipo de consumo.

Möhlmann (2015) lista outras variáveis que podem ser responsáveis não só

pelo engajamento, mas pelo uso do serviço novamente. Utilidade, confiança,

familiaridade, qualidade do serviço e economia de custos foram listados em seu

estudo. O fator preço parece ser recorrente como determinante para a adesão ao

consumo colaborativo, principalmente se esse consumo for atrelado a serviços como

transporte ou estadia.

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Mont (2004) argumenta que a satisfação dos clientes de compartilhamento de automóveis seria influenciada pela redução de custos, incluindo o custo inicial de investir em uma opção de transporte. Lamberton e Rose (2012) encontram benefícios de custo de compartilhamento para ser uma determinante chave do uso. Bardhi e Eckhardt (2012) enfatizam as preocupações econômicas como uma grande razão (e até mesmo para ultrapassar outras preocupações, como éticas) em muitos casos quando praticam o consumo colaborativo. Moeller e Wittkowski (2010) enfatizam que as opções de compartilhamento geralmente são mais baratas do que as opções de não compartilhamento e consideram a consciência do preço como o principal determinante do uso de opções de compartilhamento (MÖHLMANN, 2015, p. 195).

Mas além do preço, há a questão da experiência. Muitos usuários do sistema

de compartilhamento buscam por serviços que ofereçam uma experiência inovadora

e atrelem pagar mais por serviços Premium. Essa experiência de serviço é cocriada

unindo as interações de fornecedores e consumidores. A esse tipo de consumo

relacionam-se três estágios de valores: valores sociais, funcionais e emocionais. A

possibilidade de o consumidor pagar mais por serviços no estágio do pré-consumo

está ligada a valores funcionais e sociais, o que estimula o pagamento de valores

Premium. Já durante o estágio de consumo, o valor emocional passa a ser mais

importante, favorecendo o pagamento ao preço Premium. Entretanto, no estágio pós-

consumo, somente o valor social estimula o pagamento de valores Premium (TING,

2018).

A qualidade do serviço também é fator determinante e com grande influência

para a escolha do serviço de compartilhamento. A percepção sobre a qualidade do

serviço depende da experiência que o cliente vive com o serviço usado. Uma vez

percebida a qualidade, esta torna-se antecedente da satisfação, contribuindo de forma

direta na intenção de o sujeito usar novamente o serviço. Dentro do compartilhamento

de carros ou acomodações, se a experiência com o atendimento ou o serviço

percebido pelo usuário for boa, há uma grande probabilidade de o consumidor usar o

serviço de compartilhamento novamente (MOHLMANN, 2015).

A sensação de pertencimento e a identificação com os pares que têm os

mesmos ideais podem facilitar o entrosamento entre pessoas, causando um impacto

positivo e fortalecendo a ideia de grupo ou comunidade, o que pode favorecer o

compartilhamento, seja de ideias, na vida cotidiana ou de serviços. As pessoas

atualmente têm usado o Facebook para se conectarem a outras com ideias afins e

talvez se sentirem parte de uma comunidade online. Especificamente redes online

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aproximam as pessoas, tornando-as mais dispostas a dividir, desde o dia a dia, ideias

e até serviços; e o mundo online começa a influenciar o offline, de forma positiva,

abrindo caminhos para o compartilhamento e gerando transformação em um cenário

cultural, político, econômico e de consumo (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. 50).

A utilidade do serviço e a confiança também podem ser fatores que corroboram

para o engajamento na economia compartilhada. A comodidade que pode ser

oferecida durante o uso de um serviço de compartilhamento, como o de carros por

exemplo, e a percepção de utilidade, pode influenciar nas decisões e hábitos de

consumo elencando a consideração do consumidor para usos recorrentes desses

serviços (MOHLMANN, 2015). Mas nada é tão decisivo para a escolha de um serviço

de compartilhamento quanto a confiança no fornecedor ou serviço por

compartilhamento (BOTSMAN; ROGERS, 2010). No âmbito do consumo colaborativo,

confiança pode ser um dos valores determinantes para o engajamento na economia

compartilhada.

Fatores ligados à sustentabilidade também fazem uma correlação com o uso

da economia compartilhada. Há alguns pontos de conexão que permitem associar a

sustentabilidade ao compartilhamento. Heinrichs (2013) destaca alguns desses

pontos:

1. A influência da consciência ambiental e de sustentabilidade na mudança

de hábitos e práticas de consumo;

2. debate mais amplo sobre limites ao crescimento material e novos

indicadores de riqueza e qualidade de vida como das práticas de

economia compartilhada;

3. desenvolvimento disruptivo das tecnologias de informação e

comunicação, facilitando a economia de partilha.

Na prática contemporânea, a sustentabilidade propicia uma nova forma de se

trabalhar com questões socioeconômicas (PARENTE, 2017) resultando na

possibilidade de reaproveitamento e comercialização de artigos que estão ociosos ou

inúteis para seu usuário (SASTRE; IKEDA, 2012, p. 6).

Hamari (2013) conceitua o consumo sustentável ecológico como um importante

ponto na intenção de compartilhar. De certa forma, as soluções de compartilhamento

são consideradas como impacto ambiental positivo em relação com as possibilidades

tradicionais sem compartilhamento. Dentro dessa esfera, entende-se que o

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compartilhamento de bens materiais leva ao aumento no uso de uma única entidade

de produto (MOHLMANN, 2015).

São vários os argumentos a favor do consumo colaborativo, particularmente

em relação ao gasto financeiro com transporte, preocupações com o meio ambiente

e valores sociais, emocionais e funcionais, mas nem todos os indivíduos se

enquadram nesse comportamento. Não podemos afirmar ainda que as pessoas se

engajam nesse tipo de economia apenas por questões de preço, experiência,

qualidade, pertencimento ou sustentabilidade, mas também não podemos

desconsiderar a transformação evidente que a sociedade contemporânea tem

vivenciado, e o quão forte tem se tornado o consumo colaborativo em diversos meios

e segmentos, sejam eles comerciais ou sociais.

A possibilidade de desmembrar o consumo comercial individual em consumo

compartilhado tem viabilizado que pessoas possam ter acesso a produtos e serviços

economizando recursos, possibilitando inovação em projetos e novas conexões

sociais (BARDHI; ECKHARDT, 2012). Muitos usuários do sistema colaborativo, além

de se sentirem parte de uma comunidade, sentem a necessidade de relacionar-se e

conectar-se a outros, seja por meio virtual ou real. As pessoas de uma certa forma

querem experimentar novos relacionamentos e as redes sociais e serviços que

conectam pessoas podem ser usados para promover relacionamentos (HAMARI;

KOIVISTO, 2015). Entretanto, em algumas esferas do consumo, há usuários do

sistema de compartilhamento que querem acesso a produtos ou serviços, mas sem a

necessidade de interação com outros consumidores, usufruindo um acesso exclusivo

e privado (BARDHI; ECKHARDT, 2012). Esses dois perfis podem contribuir com os

estudos deste trabalho para entender o perfil do consumidor de carro compartilhado

e do carro compartilhado privado e por que alguns usuários usam ou não usam esse

sistema dentro do consumo colaborativo.

O termo “consumo colaborativo” é entendido por Belk (2014) como o momento

em que pessoas adquirem ou dividem um recurso, envolvendo uma troca, uma

compensação. Apesar disso, ele não considera situações de cunho gratuito, como

troca de presentes, já que seria uma via de mão única. Ele entende que o sistema de

couchsurfing, por exemplo, em que é possível oferecer acomodação gratuita não

configura uma prática colaborativa porque não há troca de recompensas. A explicação

é que o consumo colaborativo no sentido mais completo de compartilhamento,

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inserido entre as atividades de mercado tradicionais, traz a necessidade de sempre

as duas partes receberem algo. Aluguel de carros, bicicletas, acomodações e até

serviços como músicas e filmes estão inseridos nesse contexto na visão de Belk

(2014). Não obstante, Botsman e Rogers (2011) divergem desse conceito e acreditam

que além das formas tradicionais de compartilhamento, como trocas e aluguéis,

consideram também empréstimos e doações, nem sempre com a necessidade do

envolvimento de valores financeiros.

Dessa forma, os participantes do sistema colaborativo elaboram maneiras

alternativas e novas possibilidades de se relacionarem e adquirirem produtos, serviços

ou vivenciarem experiências. É uma forma disruptiva que transforma mercados e

negócios em que a colaboração pode acontecer tanto no consumo quanto na oferta

de serviços levando pessoas a construírem relações mais próximas e a passarem de

consumidor passivo para colaborador ativo, podendo atuar como provedor e

consumidor ao mesmo tempo, participando da partilha e consumindo outros produtos

e serviços que são compartilhados. A partilha possibilita o acesso de mais pessoas a

produtos e serviços antes privados, a um coletivo com interesse em comum e com os

custos divididos entre as partes interessadas (BOTTSMAN; ROGERS, 2011).

Dentro dessa visão, os autores dividem o sistema colaborativo em três tipos:

a) Pautado em sistemas de produtos e serviços, onde há um pagamento

pela utilização e não pela aquisição.

b) Trocas e doações.

c) Compartilhamento de ativos intangíveis, como tempo, habilidade,

informações, entre outros.

Como já citado anteriormente, o conceito de possuir tem perdido força para o

compartilhar. As possibilidades de acesso a produtos e serviços tem crescido e

empresas pautadas na colaboração e compartilhamento têm surgido aproveitando

essa nova onda do consumir sem posse. Possibilidades de acesso temporário a

produtos e serviços de empresas intermediados por taxas ou valores financeiros sem

transferência de propriedade mostram-se como opções para o ingresso no consumo

sem a necessidade de aquisição. Essa possibilidade de acesso é mediada

unicamente pela internet, tornando o sistema mais colaborativo e acessível ao

consumidor, mediando na verdade a compra de tempo para uso do serviço ou produto

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e não havendo uma transferência de propriedade. É uma forma de usar algo que ele

não teria como adquirir para consumir ou por restrições financeiras ou até por falta de

espaços (BARDHI; ECKHARDT, 2012).

Muitas são as possibilidades de acesso, e para tornar mais claras as diferenças

entre os tipos de acesso ao consumo, Bardhi e Eckhardt (2012) identificam seis

dimensões e evidenciam circunstâncias em que o acesso está ligado ao tempo de uso

de um serviço ou a modelos de mercados mediados por tecnologias que facilitariam

esse acesso, ou ainda à experiência vivida por meio do uso desses serviços. Outras

dimensões são listadas em que o usuário não precisa de interação para uso ou acesso

de serviços ou ainda que podem fazer uso de um engajamento político para promover

interesses ideológicos na sociedade em que está inserido. Essas seis dimensões são

explicadas a seguir:

1. Temporalidade – Caracterizado por acesso por curto espaço de tempo

sendo feito em uma única transação, como alugar carros ou reservas de

hotéis. Há que o prazo se estende e ao qual os usuários têm acesso por

meio de alguma adesão, como aplicativos de compartilhamento de

serviços ou filmes ou até academias e clubes, em que um valor é

cobrado para usar o espaço e serviços. “Os consumidores têm uma

chance de conhecer intimamente um objeto, controlá-lo, e investir-se

nele através do trabalho, mesmo que eles não possuam legalmente o

objeto" (BELK,1988, p.40). Há uma preocupação quanto ao uso por

longos períodos já que os usuários podem estabelecer uma relação de

propriedade com o objeto, criando um sentimento de apropriação; mas

essa apropriação não é real, pois o objeto em questão continua a ser

compartilhado.

2. Anonimato: Quando os usuários têm acesso exclusivo a um bem ou

serviço de consumo, como hotéis ou carros e não precisam interagir com

outros consumidores que também acessam os mesmos serviços, esse

acesso torna-se anônimo. Se o objeto é usado em um contexto público,

como praças ou bibliotecas, ele pode ser considerado social, mas se ele

chega a ser dividido com outras pessoas, como em casos de aluguéis

de quartos ou sofás em residências, e os proprietários conviveram com

o locatário, ele será visto como compartilhado.

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3. Modelos de mercado: Está relacionado com lucro, envolvendo

atividades com ou sem fins lucrativos, em um contexto público ou

privado, em que os usuários têm acesso a bens ou serviços por meio da

tecnologia. Há também acessos com base na confiança que estão

pautados no lucro da economia de troca remunerada. Incluem-se nessa

categoria o compartilhamento de carros por aplicativos como o Uber

Juntos, aluguel de casas como Airbnb, entre outros. O grau de mediação

do mercado pode transformar as relações entre o usuário e o objeto,

assim como os formatos de troca e a regras que os conduzem.

4. Envolvimento do consumidor: está relacionada com a experiência de

consumo do usuário, em que o envolvimento do consumidor é limitado

no caso de serviços tradicionais de aluguéis de carros ou quartos de

hotéis, ou ainda possa ter um envolvimento maior como no modelo de

compartilhamento de carros. A co-criação do consumidor é participativa,

já que ele se torna responsável por cuidar do bem acessado de forma a

quase a assumir o papel de funcionário.

5. Tipo de objeto acessado: O tipo de objeto acessado também possui um

papel na natureza do consumo baseado em acesso e é dividida em duas

características fundamentais: Uma consiste na natureza do acesso na

qual pode variar se o objeto acessado é experimental, como como obras

de arte em um museu ou funcional como o uso de bicicletas

compartilhadas. A outra refere-se às diferenças entre objeto material real

ou digital como no caso de compartilhamento de música pela internet.

Belk (2010) argumenta que tais situações nos contextos online parecem

mais pertinente ao compartilhamento do que as situações no contextos

off-line, e entende que meio online pode ser mais próximo do

compartilhamento, possibilitando mais colaboração, envolvimento social

e altruísta do que em situações em que o objeto de consumo é real.

6. Posicionamento político. Está atrelada ao mercado como prática política,

em que o usuário atua como ferramenta política como estratégia para

articular e promover seus interesses ideológicos para sociedade,

empresa e governo.

A literatura acadêmica traz uma variedade relevante de conceitos sobre

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compartilhamento em estudos sobre o assunto e alguns trabalhos consideram outras

nomenclaturas, como: Plataforma de capitalismo, economia sob demanda

(COCKAYNE, 2016) ou Gig economia (FRIEDMAN, 2014; SUNDARARAJAN, 2013),

Economia da dádiva (CHEAL, 1988), economia peer-to-peer (BAUWENS, 2005) e

acesso à economia (BARDHI; ECKHARDT, 2012), criando uma confusão e uma

dificuldade em se chegar a um conceito unânime. Por ser abrangente, é possível

encaixá-la em várias disciplinas, como: Comportamento do consumidor, marketing,

sociologia, antropologia, inovação e até geografia (ACQUIER; DAUDIGEOS; PINKSE,

2017)

O sharing economy está relacionada com a divisão, aluguel, empréstimos de

bens ociosos e, muitas vezes, conta com a apoio da tecnologia para transformar esses

ativos em benefícios econômicos, ambientais, sociais e até de relacionamento.

Permite que consumidores sejam também fornecedores, tornando-se inclusive uma

fonte de renda, aumentando o capital social e fazendo a economia girar. As pessoas

partilham atividades e coisas e se conectam com outras que têm interesse nas

mesmas atividades ou serviços, e esse tipo de atividade permite que as pessoas se

conectem cada vez mais e encontrem mais possibilidades para compartilhar.

O consumo colaborativo permite que as pessoas, além de perceberem os benefícios enormes do acesso a produtos e serviços em detrimento da propriedade, economizem dinheiro, espaço e tempo, façam novos amigos e se tornem cidadãos ativos novamente. (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. 37)

Esse tipo de economia associa várias situações em que objetivos sociais,

ambientais e econômicos correspondem a diferentes posicionamentos de discussões

e conceitos. Acquier (2017) lista os paradoxos sobre esse tipo de economia e agrupa

as definições em duas linhas: uma com teorias mais amplas, em que o conceito de

economia compartilhada inclui mecanismos de mercado e não mercadológicos,

sistemas centralizados, com foco na maioria das vezes em uma questão

socioeconômica e iniciativas peer-to-peer (P2P) em que os indivíduos compartilham

o acesso a um bem pessoal para equilibrar os custos de propriedade) e business-to-

peer, (B2C), em que a empresa oferta um bem ou serviço a integrantes de uma

comunidade, ambos conectados por uma plataforma digital e outra linha com teorias

limitadas em que as definições são caracterizadas por determinações da economia

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de compartilhamento de forma mais restrita, como usuários tendo e concedendo

acesso temporário a ativos físicos que estão ociosos provavelmente por troca

financeira.

Essas duas linhas foram divididas em dois quadros. O Quadro 3 traz as

definições consideradas por Acquier (2017) como limitadas e seus respectivos autores

acreditam que o compartilhamento dá acesso a produtos e bens, mas entendem que

qualquer troca ou partilha social que não envolva valores financeiros pode ser

considerada compartilhamento.

Quadro 3 – Definições limitadas da economia de compartilhamento

AUTORES DEFINIÇÃO DE COMPARTILHAMENTO

MAIS LIMITADA.

IDEIA CHAVE

BENKLER (2004) Refere-se a "compartilhamento de

mercadorias" como "uma classe de recursos

ou bens passíveis de serem compartilhados

em sistemas de compartilhamento social em

vez de alocados por meio de mercados"

(p.356).

O compartilhamento social também constitui

uma "modalidade alternativa de produção"

(p.330), baseada em presentes e

participação livre entre "participantes

fracamente conectados" (p. 332-334).

A partilha social constitui um

modo distinto de transação

(distinto do mecanismo de

preço de mercado) e um modo

de produção distinto (diferente

do mercado, hierarquias e

mecanismos estatais).

Exclui mercados secundários

do compartilhamento social.

Como modo de produção, o

compartilhamento social

envolve uma lógica de

presentear os colaboradores.

BELK (2014b) Distingue "compartilhamento verdadeiro" de

"pseudocompartilhamento".

"Compartilhar é uma alternativa à

propriedade privada que é enfatizada tanto

no mercado de troca quanto na doação de

presentes" (p.10).

"Partilha real" exclui o

intercâmbio comercial, a

reciprocidade e o interesse

próprio ou a transferência de

propriedade individual

Presentear não é compartilhar.

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A pseudopartilha é um "fenômeno pelo qual

a troca de mercadorias e a potencial

exploração de co-criadores de

consumidores se apresentam sob o disfarce

de partilha" (p. 7), ou "relações de negócios

disfarçadas de partilha comunal" (p.11).

O compartilhamento implica

um senso de propriedade /

pertencimento coletivo.

COCKAYNE

(2016)

"A economia sob demanda ou"

compartilhamento "é um termo que descreve

as plataformas digitais que conectam os

consumidores a um serviço ou commodity

por meio do uso de um aplicativo ou site

móvel" (p.73).

Restringe o campo de

economia de compartilhamento

a plataformas peer-to-peer,

digitais e impulsionadas por

lucros.

ECKHARDT;

BARDHI (2016)

“A economia de acesso, […] também

conhecida como economia compartilhada,

ou peer-to-peer, […] fornece acesso

temporário a recursos de consumo por uma

taxa ou de graça sem uma transferência de

propriedade” (p. 210).

Acesso vs. Propriedade.

Exclui presentes ou troca.

Partilha e acesso assumem

diferentes significados nas

economias de mercado vs. não

mercantis.

FRENKEN;

SCHOR (2017)

Defina a economia compartilhada como

"consumidores que concedem uns aos

outros acessos temporários a ativos físicos

subutilizados ('capacidade ociosa'),

possivelmente por dinheiro" (p. 4-5).

Exclui sistemas centralizados.

Exclui plataformas de revenda.

Exclui a prestação de serviços

sob demanda.

Exclui produção (concentra-se

no consumo).

STEPHANY

(2015)

"A economia compartilhada é o valor de

levar ativos subutilizados e torná-los

acessíveis on-line para uma comunidade,

levando a uma menor necessidade de

propriedade desses ativos" (p. 9).

Foco em iniciativas lucrativas

que promovem o acesso em

vez da propriedade.

Além das plataformas peer-to-

peer, a economia de

compartilhamento inclui

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38

empresas que intermediam o

compartilhamento, como a

Zipcar, Rent, the Runway

alugando diretamente aos

consumidores.

Fonte: (ACQUIER; DAUDIGEOS; PINKSE, 2017, p. 3)

O Quadro 4 traz as definições consideradas mais amplas e os autores

correspondentes que entendem que o que for compartilhado deve estar dentro de uma

tecnologia que permita a troca financeira por esse compartilhamento. Doações e

presentes não entram nessa categoria.

QUADRO 4: Definições amplas da economia de compartilhamento.

AUTORES DEFINIÇÃO IDEIA CHAVE

HABIBI et al.

(2017)

Sugere uma continuidade de intercâmbio de

compartilhamento que ajuda a distinguir o

grau em que o compartilhamento real está

sendo oferecido" (p.115).

A economia compartilhada é

um campo diverso com formas

híbridas que se situam ao

longo de uma continuidade

entre "compartilhamento

verdadeiro" e

"pseudocompartilhamento".

LESSIG (2008) Define a economia híbrida como "uma

entidade comercial que visa alavancar o

valor de uma economia de

compartilhamento, ou é uma economia de

compartilhamento que se baseia em uma

entidade comercial para melhor apoiar seus

objetivos de compartilhamento" (p.177).

A maioria das iniciativas exibe

simultaneamente as

dimensões do lucro.

MUÑOZ :

COHEN

(2016)

Um sistema socioeconómico que permite

um conjunto intermediário de trocas de bens

e serviços entre indivíduos e organizações

que visam aumentar a eficiência e a

otimização dos recursos subutilizados na

sociedade.

Inclui iniciativas B2B, B2C com

fins lucrativos e sem fins

lucrativos, revenda, gifting.

SCHOR (2014) A divisão das atividades econômicas se Inclui iniciativas B2B, B2C com

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divide em quatro grandes categorias:

recirculação de bens, maior utilização de

bens duráveis, troca de serviços e

compartilhamento de ativos produtivos” (p.

.2).

fins lucrativos e sem fins

lucrativos, revenda, gifting.

BOTSMAN

(2011)

Um modelo econômico baseado na partilha

de ativos subutilizados de espaços para

habilidades, coisas, benefícios monetários

ou não monetários.

Inclui iniciativas B2B, B2C com

fins lucrativos e sem fins

lucrativos, revenda e gifting.

Fonte: (ACQUIER; DAUDIGEOS; PINKSE, 2017, p. 4 )

Com diferentes definições para o mesmo sistema, é preciso encontrar uma

forma de ordenar uma interlocução entre as diferentes visões. Alguns estudiosos

defendem o conceito do compartilhamento para diferentes universos sociais e

descrevem o conceito de forma ampla, com iniciativas de mercado que envolvam

trocas com ou sem valores financeiros resultando em um bem econômico social

(BOTSMAN; ROGERS, 2011), já outros entendem que ter um conceito de uma forma

tão ampla pode causar confusão, então fecham a definição em algo mais concreto

restringindo compartilhamento apenas ao acesso a produtos físicos que estão ociosos

em troca de pagamento financeiro e excluem dessa linha de pensamento vendas de

artigos usados e serviços ao consumidor (FRENKEN ; SCHOR, 2017). Há também

quem defenda que só atividades que estão amparadas por plataformas digitais, como

peer-to-peer, podem ser consideradas compartilhamento. Essas definições simplistas

podem limitar a economia compartilhada a uma definição incoerente e até

incompatível com a prática do mercado, já que há mais modalidades envolvidas. Sem

contar que desconsideram possíveis situações e questionamentos que surgem

durante o processo, como as relações de trabalho, visão socioeconômica e novas

organizações.

À medida que novos estudos sobre economia compartilhada surgem, o

conceito de compartilhamento vai sendo construído; entretanto, é preciso levar em

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consideração toda a diversidade e contrastes envolvidos nesse tipo de economia.

2.2 Um caminho para a mobilidade urbana

Movimentos em busca de novas formas de mobilidade, mais sustentáveis e que

possam trazer um novo horizonte ou até mesmo uma nova tendência, começaram a

surgir em 2015 com a chegada do Uber ao Brasil. Um estudo apresentado pela Ipsos

Brasil6 em um seminário sobre mobilidade urbana em 2017, traz dados em que

demonstram que a mobilidade é mais do que transporte de pessoas ou deslocamento

em vias de um ponto a outro, é uma nova relação com a cidadania que sai hoje de

momento secundário na vida do cidadão para a correlação que determina como e

onde o cidadão pretende iniciar e finalizar seu dia ou como chegará a algum lugar.

Está intimamente ligada às relações dos indivíduos com o espaço e o momento em

que vivem e com a forma encontrada para se deslocar dentro da cidade e com uma

melhor qualidade de vida.

Uma das possíveis sugestões para a solução do problema de deslocamento

urbano passa pelo compartilhamento que está dentro do conceito de Sharing

Economy que surgiu nos Estados Unidos e tem como base a divisão de recursos,

sejam eles físicos, intelectuais ou de tempo.

Há muitas vantagens nesse tipo de economia, e a principal delas é a inovação,

que faz com que pessoas e empresas criem novos modelos de negócios e muitas

vezes reinventem seus serviços e produtos, beneficiando não só o consumidor, mas

a sociedade. Outro ponto importante é que ele também faz com que empresas

tradicionais, concorrentes desses serviços, sejam obrigadas a melhorar o padrão de

qualidade de seus produtos para se solidificarem no mercado. Na prática, é uma ideia

transformadora para empresas e pessoas, com foco em mudança de valores que

caminha para um novo momento econômico.

Empresas e negócios atuam no segmento de economia compartilhada, e

englobam diversas atividades como: aluguel de coisas, como bolsas de festa ou de

luxo, brinquedos para bebês. Há também empresas com foco em trocas, como Home

swapping, com foco em intercâmbio de casas, ou a Zipcar, com estratégia voltada

para o compartilhamento de carros, com locações de veículos por tempo mais curto,

6 Ipsos Brasil: Seminário Mobilidade Urbana-Muito além de transportes – Nov. 2017.

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e o Uber, que por meio de um aplicativo oferece serviços de transporte de passageiro,

como o táxi, porém sem vínculo a regras e associações dessa categoria. Há também

o segmento para viajantes, com o Couchsurfing, concentrado em compartilhamento

de sofás, e o Airbnb, empresa pioneira no serviço de compartilhamento de

residências, onde pessoas em 190 países podem alugar espaços livres em casas

disponibilizadas em um portal na internet, diretamente com seus proprietários. Esses

segmentos, propiciam que o usuário tenha experiências únicas, e o dono do negócio

consiga gerar renda sem um grande investimento, muitas vezes apenas

disponibilizando seu bem. Nesse contexto, qualquer pessoa pode ser um

empreendedor: taxista, chef de cozinha, ou atender a outra demanda que o segmento

gerar.

Estudos anteriores abordaram os fatores para o consumo nas atividades de

consumo colaborativo e mostram que sustentabilidade, engajamento com as

atividades e ganhos econômicos (HAMMARI et al., 2014) fazem parte dessas causas.

Há outros determinantes da escolha por compartilhamento com carros e casas, que

está atrelado a utilidade, confiança, economia de custos, familiaridade, qualidade e

pertencimento a uma comunidade ou ideia em comum. Todos esses fatores fazem

com que o usuário escolha esse tipo de serviço (MÖHLMANN, 2015. p. 198).

Em estudos sobre o fenômeno da globalização da economia compartilhada,

Parent et al. (2018) propõe uma agenda de pesquisa em que levanta as atuais teorias

sobre compartilhamento e explora a forma como as empresas se expandem para

outros países. Importante observar que, nesse estudo, os autores só consideram

como compartilhamento empresas que têm em seu propósito a troca ou o aluguel com

base em transação financeira e base de apoio para essas transações em plataformas

da internet. É destacada também a necessidade de se entender os sistemas de

acordos e comércios entre os territórios que tornam os negócios relevantes e trazem

uma ascenção , diante de todas as transformações tecnológicas em torno das

escolhas dos clientes (PARENTE; GELEILATE; RONG, 2017).

Em alguns casos, as empresas desconsideram esse ecossistema e dão mais

prioridade à adaptação tecnológica do que à cultural, o que pode levar o consumidor

a não se identificar com a marca e rejeitar o serviço. Outro ponto interessante no

estudo é a percepção de que países que são mais densos geograficamente e que

possuem forte penetração de internet entre consumidores, como é o caso do Brasil,

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42

abrem o caminho para novos negócios que envolvem aluguel ou troca de bens ociosos

ou de grande valor, como carro e moradia, fortalecendo a economia do

compartilhamento (PARENTE; GELEILATE; RONG, 2017).

2.3 Economia compartilhada e abertura de mercados

Por ser um mercado em franca expansão, pairam alguns questionamentos

sobre os rumos das empresas envolvidas com o compartilhamento.Há uma

necessidade de entendimento de como essas novas tecnologias farão parte de novos

caminhos que contribuam com uma economia mais sustentável (SCHOR, 2016) e se

falta legislação que reja essas relações de trabalho associando os trabalhadores como

independentes ou colaboradores pode gerar um problema quanto aos direitos

trabalhistas. No último congresso da APPM (Associação Portuguesa dos Profissionais

de Marketing), em 2016, estimou-se que em 2020, 40% de toda a população da força

de trabalho dos EUA será tecnicamente de freelancers, alocados dentro na economia

colaborativa. Setores de serviços também levantam questões sobre o impacto do uso

de Airbnb na indústria hoteleira e como isso pode fortalecer ou fragilizar o mercado

(ZERVAS et al., 2017). Estudos futuros poderão esclarecer se “a economia e a

tecnologia estão formalizando ou informalizando os mercados de trabalho” (World

Economic Forum online7).

Diferentes definições do que é um consumo colaborativo e compartilhado

abrem campo para novos estudos e identificam traços comuns sobre o consumidor

inserido nesse contexto em diferentes serviços como o Uber Juntos – um sistema de

duplo compartilhamento em transporte por aplicativos celulares. Em uma entrevista à

revista Forbes 2013, Shervin Pishevar, investidor em grandes marcas como Uber,

“acredita que esses serviços de compartilhamento terão um grande impacto na

economia das cidades. Isso é muito maior do que qualquer aplicativo específico, diz

ele. Este é um movimento tão importante como quando o navegador da Web foi

lançado". A simplicidade do uso de serviços de mobilidade compartilhada poderá no

futuro diminuir o número de veículos nas ruas, abrindo mais uma janela para o futuro

da mobilidade. O Quadro 5 traz os comparativos de impactos positivos e negativos

levantados por Jin et al. (2018) relativos ao desenvolvimento urbano. Os impactos

7 Disponível em: <https://www.weforum.org/agenda/2018/01/the-dark-side-of-the-sharing-economy/>. Acesso em: 12 mar. 2018.

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elencados neste estudo evidenciam mais soluções do que problemas, já que a

eficiência do serviço traz mais benefícios para a população do que um possível

aumento de congestionamento ou problemas de desconfiança em relação à

segurança ou à capacitação do motorista terceirizado. A acessibilidade a bairros mais

distantes ou em horários estendidos em que o transporte público deixa de funcionar,

auxilia uma camada da população que antes vivenciava grandes dificuldades para

locomoção. Só por essa “solução”, os possíveis impactos negativos que pudessem

surgir seriam minimizados.

Quadro 5 – Comparativo de impactos

IMPACTOS POSITIVOS IMPACTOS

NEGATIVOS

IMPACTOS INCERTOS

EFICIÊNCIA Alcança bairros pobres

com serviços de táxi

insuficientes.

Complementa o transporte

público durante a tarde

horas da noite e fins de

semana.

Melhora a eficiência

econômica.

Aumenta a confiança entre

motoristas e passageiros.

Compete com o

transporte público,

especialmente em

áreas de alta

densidade.

Preocupações de

segurança: formação

insuficiente dos

condutores e veículo

não segurado.

O uso dos carros por

aplicativos com

motoristas terceirizados

piora o

congestionamento na

cidade?

Até que ponto a

contratualização

complementa ou

Compete com o

transporte público?

VALORES Exclusão Digital:

alguns segmentos da

sociedade têm

dificuldade em

acessar serviços de

compartilhamento no

trânsito por

aplicativos.

Como prevenir a

discriminação?

Como proteger a

privacidade dos

usuários?

A capacidade de

locomoção (a economia

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de compartilhamento)

ou exploração de

trabalhadores.

Como os trabalhadores

sob demanda são

pagos?

A flexibilidade e a

segurança são

incompatíveis?

Como proteger os

direitos dos

trabalhadores sob

demanda?

SUSTENTABILI

DADE

Pode o compartilhamento

de carros por aplicativo

reduzir o consumo de

energia

e emissão de gases?

Fonte:Tabela da autora com base nos estudos e JIN et al.,( 2018)

Estudos do Fórum Econômico de Energia (2018) preveem que em 2050, em

média 70% da população mundial viverá, trabalhará e se deslocará em áreas urbanas.

As cidades precisarão se remodelar, e o futuro da mobilidade passará por buscar

soluções de locomoção e energia sustentáveis. De acordo com esse relatório, a

mobilidade se transformará rapidamente nos próximos anos à medida que os veículos

elétricos começarem a entrar em circulação, o compartilhamento de carro continuará

a crescer e, eventualmente, os veículos autônomos também entrarão nas frotas

urbanas. As metrópoles necessitarão de soluções envolvendo a mobilidade e energia

sustentável, integrando infraestrutura, tecnologia e a população.

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45

2.4 Tipos de mobilidade compartilhada

Shared Mobility ou mobilidade compartilhada tem se tornado uma solução

inovadora para lidar com a questão da ineficiência de transporte nas grandes cidades

e engloba diversos sistemas e produtos relacionados ao carsharing, ou seja, o

compartilhamento de veículos, seja em formato de aluguel por tempo determinado ou

até pequenos períodos, seja em forma de carona remunerada.

A busca por novas possibilidades de locomoção nas grandes cidades faz com

a que mobilidade urbana seja objeto de estudo em muitos artigos disponíveis no

mundo acadêmico e empresarial. A preocupação com impactos ambientais, o tráfego

excedente nas grandes cidades, correlacionado com a falta de estacionamentos

(BARDHI; ECKHARDT, 2012) e um transporte público que em alguns casos não

atende à totalidade da população geram a necessidade da busca por alternativas que

atendam ou minimizem as dificuldades encontradas.

A mobilidade compartilhada e os serviços disponíveis dentro dessa categoria

podem atender a um consumidor que precisa se deslocar, mas sem a necessidade de

possuir um veículo pessoal, estendendo esse comportamento a uma atitude mais

sustentável (BOTSMAN; ROGERS, 2011), e com o apoio da tecnologia a forma como

as pessoas se relacionam e se movem pelas cidades tem sido modificada.

Shaheen (2016) destaca que a mobilidade compartilhada é entendida como

todas as formas que propiciam o compartilhamento de veículos e ou bicicletas,

permitindo que usuários acessem o transporte em áreas urbanas facilitando

conexões, inclusive com o transporte público, contribuindo para uma mudança na

mobilidade. Os autores dizem ainda que por ser um serviço inovador de transporte e

amparado por novas tecnologias, ele tem ganhado cada vez mais destaque nas

grandes cidades como uma possível alternativa ao transporte público e também para

a reestruturação de gastos, já que pode ser uma nova opção para substituir os altos

valores gastos com ônibus, estacionamento e infraestrutura.

Outra questão é que por configurar um modelo original de transporte, o usuário

começa a levantar questões pertinentes à mobilidade urbana, buscando formas de se

deslocar por meios seguros e confortáveis. Uma pesquisa da Price Water House

Coopers (2015) indica uma mudança no comportamento para a não compra de carros

próprios em relação ao aumento na utilização da mobilidade compartilhada. De acordo

com o estudo, as pessoas estão deixando de adquirir veículos e usufruindo cada vez

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mais as possibilidades que essa nova modalidade oferece. Ainda de acordo com o

estudo, essa mudança gera não só reduções socioeconômicas, ambientais, mas

também uma melhora no tráfego urbano. “A maior mudança que estamos vendo aqui

é que as pessoas estão optando por comprar mobilidade e não um carro” (PWC,

2015).

Quanto mais pessoas usam modos compartilhados, maior a probabilidade de usar o transporte público, possuir menos carros e gastar menos com o transporte em geral. “Supersharers” - pessoas que usam rotineiramente vários modos compartilhados, como compartilhamento de bicicletas, compartilhamento de carros (por exemplo, car2go ou Zipcar) e aluguel (e. g. Lyft ou Uber) - economizam mais dinheiro e possuem metade dos carros domésticos que as pessoas que usam o transporte público sozinho. (SHARED MOBILITY CENTER, 2016.p.18)

Os impactos dessa mudança gradual de uso da mobilidade privada para

mobilidade compartilhada estão sendo refletidos em três frentes:

1. Ambiental Sustentável: Redução de compra de novos veículos e a

diminuição do número de carros privados em trânsito, gera redução de

gases poluentes.

2. Social: Valores pagos referentes ao uso e não à propriedade do veículo,

possibilitando acessibilidade e mobilidade de pessoas com

necessidades especiais, estudantes e famílias com menor poder

aquisitivo.

3. Redes de transporte: Modos compartilhados complementam o

transporte público, aumentando a mobilidade urbana e reduzindo a

demanda com estacionamento (SHAHEEN, 2018).

O potencial reflexo desses impactos está diretamente ligado à economia

compartilhada e a novos modelos de negócios que têm emergido, aproveitando esse

filão de oportunidade e em alguns casos a ineficiência do transporte público,

beneficiando de uma forma geral a população nas grandes cidades. Surgem a cada

dia novos formatos de mobilidade compartilhada amparados por tecnologias e

aplicativos celulares, como o Uber e suas várias categorias.

Barros (2015) descreve o serviço do Uber como um aplicativo celular com

usabilidade simples e que cria uma possibilidade de troca de serviço entre passageiro

e dono do carro.O uso do GPS acoplado ao aplicativo auxilia no percuros e embasa

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a cobrança do valor final. O aplicativo permite ainda, o compartilhamento de caminhos

com outras pessoas r também a divisão de valores da corrida entre os interessados.

Shaheen (2018) exemplifica os modelos os existentes de compartilhamento no

trânsito e em funcionamento até o momento na Europa, Ásia e alguns países das

Américas. A autora divide o esquema entre sistemas de uso para passeios, entregas

e caronas e categoriza as atividades de mobilidade de acordo com a proposta a ser

compartilhada. Trataremos aqui apenas dos serviços disponíveis no Brasil,

específicamente na cidade de São Paulo, que estão representados no Quadro 6.

Quadro 6 – Principais modelos de serviços em mobilidade compartilhada: SP

COMPARTILHAMENTO DE

VEÍCULOS

COMPARTILHAMENTO DE

PASSAGEIROS

COMPARTILHAMENTO DE

DELIVERY

Compartilhamento de carros:

BlaBlaCar, Uber

Caronas compartilhadas em

carros via aplicativos:

Uber Juntos, Waze Carpool,

BlaBlaCar.

Entregas feitas por veículos

(carros e motos) por aplicativo:

Uber Eats, Rappi.

Compartilhamento de bicicletas:

Itaú Bike, Yellow.

Caronas compartilhadas em

bicicletas: complementar o

caminho:

Bkxi.

Compartilhamento de patinetes:

Grin, Yellow.

Compartilhamento de carros por

aplicativos: Uber, Uber Juntos, 99,

Cabify, Lady Driver, Waze

Carpool.

Fonte: Elaborado com base nos estudos de Shaheen; Chan,( 2016)

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Esses modelos explicitados no Quadro 6 exibem a gama de serviços de

compartilhamento que já estão em funcionamento na cidade de São Paulo. A partir

dessas categorias descritas por Shaheen e Chan (2016) no Quadro 6 acima, as

autoras traçaram uma visão ampla sobre esses serviços e fizeram uma correlação

dos principais termos usados para cada categoria, unindo exemplos de empresas já

em funcionamento no mundo. O Quadro 7 traz os serviços disponíveis em São Paulo.

O serviço mais comum, está na categoria compartilhamento de veículos, em que os

passageiros viajam num veículo privado dirigido por seu proprietário pagando uma

quantia calculada por um aplicativo. No Brasil, empresas como Cabify, 99, Lady Driver

e Uber exploram esse universo comercial dos transportes privados por aplicativos em

que o usuário escolhe seu destino e reserva o carro priorizando sua privacidade.

Quadro 7 – Categorias de serviços

Categoria Abrangência do serviço Tipo de serviço Empresas atuantes

Brasil

MOBILIDADE

COMPARTILHADA

(SHARED MOBILITY)

Compartilhamento de

veículos de uma forma

geral.

Modelo de negócios pode

ser público ou privado.

Está atrelado a uma base

tecnológica, como

aplicativos celulares.

Veículos compartilhados por meio de aplicativos (Ridesharing e Ridesourcing). Bicicletas compartilhadas (Bikesharing).

Caronas remuneradas (Carpooling).

Uber, Uber Pool, Cabify,

99, Zip Car, 4move, Lady

Driver, Bike Itaú, Zazcar.

RIDESHARING Veículo particular em que

caminhos e custos

compartilhados com

outros usuários.

Carona remunerada.

Aumento do uso interno

do carro, com o

preenchimento de

assentos osciosos.

Tem base e suporte de

Caronas (Carpooling,

Uber Juntos, BlaBlacar,

Wazecarpool

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empresas de tecnologia

chamadas de TNCs

(Empresas de Rede de

Transporte).

RIDESOURCING Compartilhamento do

carro por meio de

empresas terceirizadas de

rede de transportes

(TNCs) e baseadas em

tecnologia para a

contratação do serviço

pelo usuário.

Normalmente as viagens

são individuais e privadas,

sem compartilhamento de

caminhos ou o mesmo

veículo com outros

usuários.

O usuário pode escolher

modelo e formas de

pagamento por meio da

terceirização de empresas

de transporte

compartilhado.

TNCs (Transportation

Network companies)

E-Hail (para táxis)

Uber, Cabify, 99, 4move,

Lady Driver, Easytaxi

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Além de compartilhamento de veículos, o Quadro 7 destaca o sistema de

compartilhamento que já está disponível e em uso no mercado brasileiro, o sistema

de caronas compartilhadas ou ridesharing, que tem sido cada vez mais uma opção de

mobilidade na cidade de São Paulo. O Uber lançou a modalidade Uber Pool que, no

final de 2018, mudou de nome para Uber Juntos, mantendo as características do

serviço. O sistema, que por meio de seu aplicativo conecta o serviço a usuários que

estejam indo para o mesmo lugar ou utilizando um caminho em comum, possibilitando

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que essas pessoas possam dividir o valor da corrida de forma proporcional ao seu

destino, caracterizando um serviço de compartilhamento.

Andrigh (2016, p. 415) diferencia as duas principais categorias do Uber:

Transporte público individual” difere do “transporte privado individual”, porque o primeiro é “aberto ao público”, isto é, no “transporte público individual” há obrigatoriedade de atendimento universal, razão pela qual o taxista não pode recusar o passageiro ou o trajeto por ele solicitado; ao passo que no “transporte privado individual” impera a autonomia da vontade do motorista, que tem o direito de aceitar firmar o contrato de transporte com o consumidor, de acordo com a sua conveniência.

Essas novas opções de compartilhamento com base em tecnologia permitem

acessibilidade a diferentes possibilidades de transporte de acordo com a realidade e

necessidade do usuário. A capacidade de solicitar, rastrear e pagar viagens via

dispositivos móveis está mudando a maneira como as pessoas se envolvem e

interagem com as cidades (SHARED MOBILITY CENTER, 2016). Esses novos

paradigmas transformam a maneira como os cidadãos estão se locomovendo,

sobretudo em espaços urbanos, acessando o transporte e fazendo conexões com

outros meios, inclusive com o transporte público.

2.5 Compartilhamento – uma questão social

O Brasil possui hoje uma frota de 53 milhões de automóveis (DENATRAN,

2018), (IBGE, 2018), o que se traduz em um carro para cada quatro pessoas, menos

de 10% dos municípios brasileiros têm plano de mobilidade urbana (MOBILIZE, 2018),

25% das cidades não têm nenhum órgão de gestão de transporte e cerca 7,4 milhões

de brasileiros estudam ou trabalham fora da cidade em que moram (IBGE, 2018).

Esses dados demonstram a dimensão do quão necessário será repensar a mobilidade

urbana nas cidades a partir de agora, não só no conceito de locomoção, mas também

em um contexto social. Há locais em São Paulo, por exemplo, em que não há oferta

suficiente de ônibus, metrô ou outra possibilidade de transporte público, e quando há

essa disponibilidade, eles não funcionam na madrugada.

Muitos brasileiros não se locomovem por não ter oferta de como se locomover

(MOBILIZE, 2018) e os carros por aplicativos têm preenchido essas lacunas e trazido

não só o conforto da locomoção diante da necessidade, mas também dignidade.

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Botsman e Rogers (2011) acreditam que há uma mudança de comportamento que se

reflete nos padrões sociais, e esses padrões geram motivos para a adesão dos

serviços.

2.6 Razões para engajamento no shared mobility

A tendência do compartilhamento fortalece relações sociais e faz uma ligação

com a vivência em redes, sejam elas de trabalho ou sociais, nas quais naturalmente

há uma tendência de dividir, seja o cotidiano, por meio das redes sociais, ou o caminho

em uma carona remunerada, e a Internet faz a ponte para facilitar esses

compartilhamentos. As pessoas dividem tudo, desde informações sobre seu dia a dia

a novos negócios e tudo baseado em relacionamento. O acesso foi facilitado: o que

era antes privado, com acesso para poucos, é dividido entre mais pessoas como uma

dádiva, criando uma conexão (BELK, 2010). Há também um outro lado envolvido na

economia compartilhada, o da experiência, pois em vez de comprar mais e mais,

consumidores pagam pela experiência para ter acesso a esse consumo de forma

temporária (BELK, 2013, p. 3).

Cada vez mais as pessoas dividem seu cotidiano com sua rede de

relacionamento, seja de forma física ou virtual, e esse é um comportamento crescente.

A realidade do compartilhamento encontra muitas vezes apoio na Internet, ampliando

o acesso não só a produtos, como serviços e informações. O uso de aparelhos

celulares conectados e com geolocalização traz a possibilidade de compartilhamento

de transporte de pessoas. O que era antes um conceito torna-se hoje cada vez mais

real e natural na vida do cidadão, principalmente na cidade de São Paulo.

A íntima relação do consumo colaborativo com a internet facilita a troca de

informações entre os consumidores e empresas. Através da internet, temos várias

possibilidades de mostrar nossa identidade, mesmo sem laços afetivos. É um espaço

amplo para compartilhar conteúdo, com acesso fácil para qualquer pessoa. São novas

formas de compartilhar, e até de favorecer as antigas, mas com uma proporção bem

maior (BELK, 2013, p. 2).

A internet e as redes sociais têm uma função central na criação e no

compartilhamento de ideias, projetos e produtos (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

A linha entre o compartilhamento online e offline torna-se tênue, já que uma

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ideia que inicialmente pode ter sido criada para ser executada no meio offline, pode

ser facilmente adaptada para o meio online, abrangendo um número maior de pessoas

e dando outras opções para outros meios de consumo. Se pensarmos que hoje é

possível ouvir música por meio de compartilhamento de arquivos na internet, ou se

deslocar pela cidade por meio de aplicativos de transporte, pode-se questionar se as

pessoas que passaram a usar esse serviço mudaram hábitos de consumo ao usar

serviços mais modernos em detrimento do sistema engessado a que tinham acesso

antes dessa possibilidade.

Outra proposição dentro desse contexto é se as pessoas que usam o sistema

de compartilhamento realmente se sentem parte de uma comunidade, com

identificação dos pares e têm interesses em comum (MOHLMANN, 2015) ou se valem

por estar dentro de uma comunidade para promover relacionamentos (HAMARI;

KOIVISTO, 2015). Além disso, essas pessoas usam o serviço de sharing de carros,

por exemplo, para se locomover porque acreditam na utilidade do serviço ou porque

a experiência vivenciada faz com que o usuário recorra novamente a esses serviços?

A sustentabilidade teria alguma relevância no engajamento de pessoas ao

usarem o compartilhamento de carros? Para Heinrichs (2013) e Hamari (2013), o

consumo sustentável ecológico é um importante ponto na intenção de compartilhar.

Seria esse um dos motivos para as pessoas se atrelarem à economia compartilhada?

Custos, preços e valores sociais também podem ser listados para relacionar o

uso do sistema de compartilhamento pelos consumidores (TING et al., 2018),

(MÖHLMANN, 2015), (PARENTE; GELEILATE; RONG, 2017) mas seria isso

suficiente para que os usuários escolhessem o transporte pelo Uber Pool, totalmente

compartilhado, ao invés do compartilhamento privado comum? A questão da

privacidade teria efeito para a não escolha desse serviço (TING et al., 2018)?

Mohlmann (2015), Botsman; Rogers (2011) identificam que a confiança no

fornecedor ou serviço por compartilhamento é a base para a escolha do usuário, mas

esse constructo teria mais força sobre os outros que foram levantados anteriormente?

O potencial amplo de vantagens que envolvem a escolha dos serviços por

compartilhamento indica um crescimento inevitável da economia de compartilhamento

tornando-se uma força econômica global (WILHELMS; MERFELD; HENKEL, 2017).

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2.7 Comportamento do consumidor e a economia compartilhada

É preciso entender o quanto esses fatores levantados até aqui realmente

influenciam a escolha do usuário por aplicativos de transporte compartilhado, como

Uber Juntos. Compreender o comportamento do consumidor de uma forma ampla

pode abrir caminho para traçar o perfil do usuário desse novo modelo de mobilidade

urbana e distinguir seus anseios e escolhas. Solomon (2016) entende o

comportamento do consumidor como um processo que envolve variáveis distintas que

resultam em experiências para satisfazer necessidades de desejos, e essas escolhas

estão significativamente relacionadas com a vida do indivíduo. Os consumidores

apresentam um comportamento de compra coerente e constante, cujos parâmetros

são formados e modelados por diversas variáveis internas e externas (SHIFFMAN;

KANUK. 2000), possibilitando que o indivíduo ressignifique sua forma de perceber,

analisar e sentir o ambiente a sua volta.

O processo decisório de consumo pode ser influenciado por outras variáveis,

cultura, classe social, grupos de referência e a família podem sugestionar e interferir

de forma categórica em uma decisão do consumidor.

Com o surgimento da internet e redes sociais, essa influência no processo

decisório tornou-se mais ampla. Solomon (2016, p.23) descreve a revolução digital

como uma das influências mais significativas sobre o comportamento do consumidor

e que o impacto da web continuará a se expandir à medida que mais e mais pessoas

ao redor do mundo se conectarem, influenciando não só o consumo mas a vida diária

das pessoas. Por meio da internet e das redes sociais, cidadãos do mundo todo

podem compartilhar informações sobre produtos, experiências com marcas e

serviços, e novas formas de comércio C2C-Consumer to consumer ou de consumidor

para consumidor têm surgido e transformado o cenário comercial, abrindo campo para

novos negócios e formatos de compra e venda, antes inexistentes.

As redes sociais também têm criado um novo canal de comunicação,

transmissão, colaboração e de integração de comunidades online, abrindo espaço

para a construção de novos paradigmas de consumo, e esse novo cenário

tecnológico, aliado à cultura, tem criado um consumidor contemporâneo em que estar

conectado é premissa de vida (SOLOMON, 2016).

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3.RECURSOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta os aspectos metodológicos escolhidos para dar corpo

à pesquisa e está dividido em: abordagem com foco na pesquisa, método com base

exploratória, em uma pesquisa empírica, cuja amostra foi baseada no critério bola de

neve e a análise de dados tem suporte na análise de conteúdo. Os tópicos abaixo

tratam de cada aspecto destacado.

3.1 Abordagem

Para entender esse momento de compartilhamento dentro da mobilidade

urbana e buscar respostas para as proposições levantadas neste trabalho, este

estudo empregou a pesquisa qualitativa, que se define como uma técnica de

"...pesquisa não-estruturada, exploratória, baseada em pequenas amostras, que

proporciona insights e compreensão do contexto do problema" (MALHOTRA 2001).

Para Godoi e Balsini, (2004), métodos qualitativos manifestam-se a partir de padrões

fenomenológicos e interpretativos e são constantemente mais recíprocos e abrangem

ideias a longo prazo.

Nesse cenário não se buscam regularidades, mas sim a compreensão dos agentes, daquilo que os levou singularmente a agir como agiram. Essa empreitada só é possível se os sujeitos forem ouvidos a partir da sua lógica e exposição de razões. (GODOI; BALSINI, 2004, p. 5).

A abordagem qualitativa parte do princípio que que existe um vínculo entre o

sujeito e o contexto em que ele vive, há uma reciprocidade entre ele e o objeto, um

elo inseparável entre o mundo objetivo e a subjetividade do cidadão. O conhecimento

não se resume a uma lista de dados isolados, ligados por uma teoria explicativa. O

sujeito é parte integrante da história e atribui significado ao fenômeno observado

(CHIAZZOTTI 1995, p.79). O cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas

pesquisas, e o desenvolvimento dessa pesquisa é imprevisível, já que o conhecimento

do pesquisador é parcial e limitado.

3.2 Método

A metodologia qualitativa foi escolhida pela possibilidade de uma abordagem

que viabilize imprimir significado aos fenômenos humanos com base na análise e na

percepção, considerando a individualidade do sujeito, reconhecendo o conceito ao

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invés de frações e privilegiando uma investigação a fundo (LIMA, 2008). Para

Goldenberg (1997), a abordagem da pesquisa qualitativa objetiva-se em investigar o

entendimento em torno de um grupo social não se preocupando com a representação

em números.

Para dar suporte à metodologia qualitativa, uma vasta revisão bibliográfica em

artigos relacionados aos constructos de economia compartilhada e compartilhamento

no trânsito foi feita, além de uma análise em dissertações e teses recentes que

envolvem o tema para a fundamentação teórica. Além disso, a pesquisa foi realizada

por meio de entrevistas semiestruturadas e exploratória que buscou identificar as

características que permeiam o consumo do transporte privado por aplicativo.

A pesquisa exploratória parte do princípio de gerar um maior conhecimento a

partir da familiaridade do tema a ser estudado, ocasionando a construção de hipóteses

(GIL, 2008). Normalmente, são aplicadas com o objetivo de trazer um panorama geral

de certo fenômeno, principalmente quando o tema escolhido há poucos estudos

explorados. O caminho para o alcance do conhecimento acerca do problema

delimitado neste estudo explorou como se dá o processo de tomada de decisão para

a escolha do transporte privado por meio de aplicativo na forma compartilhada ou

singular, identificando fatores que são essenciais para essa escolha.

Dessa forma, este trabalho espera contribuir com os estudos relacionados à

mobilidade compartilhada no Brasil, especificamente em São Paulo, por meio de

dados que gerem insights sobre o tema a partir de fontes reais.

3.3 Tipos de pesquisa

Ao iniciar estudos para uma dissertação, é preciso incorporar ao trabalho uma

análise abrangente e minuciosa de possíveis fontes e documentos que possam dar

suporte ao tema que será pesquisado (LAKATOS, 1991). Dessa forma, o estudo

bibliográfico mostra-se muito importante para uma fundamentação teórica

aprofundada (CRESWELL, 2007). A busca pelo conhecimento fundamentada em uma

pesquisa bibliográfica, feita a partir de uma sondagem de informações teóricas, já

exploradas e publicadas em diversos meios, físicos e eletrônicos, possibilita ao

pesquisador orientar-se por meio de outros pesquisadores que já estudaram aquele

assunto (FONSECA, 2002). Na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o

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sujeito e o objeto de suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível.

O conhecimento do pesquisador é parcial e limitado.

Com base nesse pensamento, esta dissertação iniciou sua pesquisa com uma

análise bibliográfica exploratória, incluindo materiais nacionais e internacionais,

diversos meios, assegurando uma familiaridade e uma contextualização com o tema

a ser estudado (GIL, 1999; FONSECA, 2002).

Após essa análise de materiais bibliográficos para suporte, foram incorporadas

as entrevistas que permearam a análise de dados, levantamento de informações e

opiniões na qual a finalidade se resume em traçar um perfil de consumidores de

transporte compartilhado e também privado na cidade de São Paulo.

3.4 Técnica de coleta

Para a coleta de dados, o presente trabalho utilizou-se de entrevistas longas

com um roteiro elaborado e temas norteadores com perguntas e conteúdo que

direcionaram as entrevistas de forma aberta, simples e não sistemática,

caracterizando uma entrevista semiestruturada. Manzini (1990; 1991) entende a

entrevista semiestruturada como uma forma de concentrar-se em um assunto sobre

o qual criamos um roteiro com questionamentos principais, associados a outras

questões pertinentes às situações repentinas à entrevista. Para McCracken (1988,p.9)

esse tipo de entrevista é um dos métodos mais poderosos de pesquisa qualitativa.

Dessa forma, a coleta de dados por meio dessa entrevista reúne dados que estão

associados a opiniões, atitudes e pensamentos. É uma troca social entre duas

pessoas, em que a uma delas atribui-se o papel de entrevistador com o objetivo de

obter informações a partir do outro e o entrevistado, que fornecerá tais informações

(HAGUETTE, 1997). A entrevista possibilita ainda a obtenção de informações não tão

simples de se codificar através de observação direta. A ideia é que o entrevistador

considere o ponto de vista do entrevistado traduzindo razões, argumentos, conceitos

e julgamentos por meio dessa observação. (PATTON, 1990).

Um roteiro semiestruturado com um guia de perguntas foi construído para

permear todo o rumo da entrevista, dando flexibilidade ao entrevistador de incluir algo

que levasse à exploração do problema de pesquisa abrindo mais campo para as

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respostas dos entrevistados e de também qualificar a amostra. Esse caminho

escolhido permite apurar o maior número de informações, criar maior entendimento

diante das respostas e controlar o ambiente onde a entrevista acontece. Dessa forma,

as questões a serem verificadas, são determinadas antecipadamente pelo

investigador, mas podem em determinado momento da entrevista criar conexão com

outros assuntos, cabendo ao entrevistador decidir se seguirá ou não com o que está

sendo falado. (Patton, 2002). O roteiro se divide em 4 partes, em que a primeira

identifica dados sociodemográficos dos entrevistados e o quão familiarizado ele está

com a tecnologia de aplicativos nos celulares smathphones traçando o perfil do

usuário, o segundo baseia-se no levantamento de dados do quão o entrevistado sabe

sobre mobilidade urbana, transporte público e sustentabilidade. O terceiro bloco traz

questionamentos sobre transportes privado por aplicativo e fatores para compartilhar

no trânsito como confiança, frequência, compartilhamento e o quarto e último bloco

investiga a opinião do entrevistado sobre os serviços Uber de compartilhamento,

exclusivamente o Uber Juntos, antigo Uber Pool, fatores para usar ou deixar de usar

esse serviço e entendimentos de possíveis reflexos no trânsito da cidade de São

Paulo na visão dos entrevistados. Todos os questionamentos levantados estão

embasados com constructos de autores que fundamentam todo esse roteiro.

Quadro 8 – Constructos vs. categorias de análise

CONSTRUCTO CATEGORIAS DE ANÁLISE

MOBILIDADE Conhecimento sobre Conceitos sobre mobilidade. Jin et al.,

(2018), Shaheen e Chan (2018).

SUSTENTABILIDADE

Relação da sustentabilidade com mobilidade e determinante na

escolha dos serviços.

Relação com sustentabilidade (ativa, passiva, neutra).

HammarI (2014), Mohlmann (2015), Sastre (2012), Heinrics

(2013), Saheen (2018).

FATORES DE ESCOLHA Familiaridade, confiança, segurança, comodidade, privacidade,

experiência, preço, pela ordem de importância.

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Bostman; Rogers (2011), Mohlmann (2015), Hamari (2015),

Eckhardt (2012).

COMPARTILHAMENTO Bostman; Rogers (2011), Belk (2014), Bardhi; Eckhardt (2012),

Acquier (2017).

COMPARTILHAMENTO DE

VEÍCULOS

Saheen (2016), Schor (2017).

Fonte: Desenvolvido pela autora com base em estudos sobre os autores descritos.

3.5 Amostra

Foram feitas 22 entrevistas de forma individual e presencial, e fizeram parte do

estudo homens e mulheres entre 22 e 54 anos de idade, usuários de aplicativos por

transporte por compartilhamento, privado ou compartilhado, que usaram algum

aplicativo dessa categoria nos últimos 90 dias e que residem na cidade de São Paulo.

A definição final de quantidade baseou-se no critério de saturação, o que foi atingido

com doze entrevistas. Essa saturação por amostragem equivale a um instrumento

teórico que é normalmente usado em relatórios de pesquisas qualitativas, definindo o

tamanho total da amostra de um estudo, não abrindo a necessidade de captação de

novas pessoas, já que as informações subsequentes oriundas dessa amostra não

somariam mais informações relevantes ao estudo já adquirido (FONTANELLA et al.,

2008)

Os entrevistados para essa pesquisa foram convidados por meio de uma rede

social — o Whatsapp, usando-se a amostragem “bola de neve”, ou snowball sampling

ou não probabilística, em que os entrevistados são indicados por outros entrevistados

que se encaixam dentro do critério: já ter usado um transporte privado por aplicativo,

seja ele compartilhado ou privado. Para Sanchez e Nappo (2002), a seleção de

entrevistados por meio desse sistema de “bola de neve”, partindo de conectores,

possibilita que os pesquisadores fiquem mais próximos do target investigado. As

entrevistas foram presenciais, gravadas em áudio com autorização de cada

participante e duraram em média 60 minutos.

Para resguardar os dados pessoais dos entrevistados, eles serão identificados

pelo primeiro nome. O Quadro 9 traz o detalhamento de idade e profissão de cada

um, para diferenciá-los durante alguma citação, caso necessário.

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Quadro 9 – Lista de entrevistados

NOME PROFISSÃO IDADE POSSUI

CARRO

USA

TRANSPORTE

PÚBLICO

USUÁRIO DE

APLICATIVO

DE

TRANSPORTE

1. ALAN Supervisor de

Marketing

32 Sim Não Uber X

2. ALÊ Publicitário 35 Sim Não Uber X

3. ALINE Analista de Mídia 22 Não Sim Uber X e Uber

Juntos

4. ANA Business

Intelligence

22 Sim Sim Uber

5. ANNA Executiva de

vendas

30 Sim Sim 99

6. BRENO Business

Intelligence

27 Não Sim Uber Xe Uber

Juntos

7. DANIELLE Coordenadora de

Mídia

33 Não Sim Uber X

8. DELEN Publicitário 40 Sim Sim Uber X

9. DÊNIS Publicitário 27 Sim Sim Uber X e Uber

Juntos

10. EVELYN Publicitária 35 Não Sim Waze Carpool

11. FÁTIMA Publicitária 54 Sim Não Uber X, Uber

Black

12. FERNANDO Assistente de Mídia 25 Não Sim Uber e Uber

Juntos, 99

13. GRAZI Estudante 22 Não Sim Uber X, Uber

Juntos

14. GUILHERME Publicitário 45 Sim Não Uber X,Uber

Black

15. HENRIQUE Executivo de contas 35 Sim Não Uber X

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16. JESSY Redatora 22 Não Sim Uber e Uber

Juntos

17. NARA Executiva de

Contas

42 Sim Não Uber X

18. RAFAEL Designer 30 Sim Sim Uber X e Uber

Juntos

19. ROGER Empresário 40 Sim Não Uber X

20. SAMIR Executivo de contas 40 Sim Sim Uber X

21. SARA Gerente de

Marketing

36 Sim Não Uber X

22. TYNA Publicitária 32 Sim Não Uber X, Uber

Select

Fonte: Elaborado com base nas entrevistas da autora.

3.6 Método de análise

Para analisar e interpretar todo o material recebido durante as entrevistas, este

trabalho baseou-se na análise de conteúdo, que engloba um grupo de considerações

das informações coletadas e que tem por objetivo evidenciar referências sobre o

material coletado. A análise de conteúdo de acordo com Bardin (2011, p.15) é um

conjunto de instrumentos de cunho metodológico em constante aperfeiçoamento, que

se aplicam a discursos (conteúdos e continentes) extremamente diversificados e que

possibilitam entender o momento por meio de um agrupamento de ideias

compreendendo a codificação e da inferência. Esse método possibilita a união de um

número considerável de informações que serão divididas em inventário, em que

elementos comuns são isolados e classificação, em que os elementos são divididos,

gerando uma organização.

Para dar apoio ao tratamento dos dados foi usada uma ferramenta que

possibilita a análise dessas informações de forma qualitativa e auxilia na

administração e compreensão dessa base, o software Atlas.ti versão 8.3. Essa

ferramenta é utilizada em várias pesquisas, principalmente nas pesquisas qualitativas,

uma vez que possibilita a classificação e decomposição das falas, viabilizando

agrupamentos, categorias e subcategorias para decoupar e analisar os dados.

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A análise dessas categorias segmentadas durante a reflexão e interpretação

dos dados resulta em uma comparação de informações não sistêmicas que cria uma

base para a interpretação de dados mais abrangente e compreensível contribuindo

para a conclusão dos estudos. (TESCH ,1990).

Durante a análise, foram usadas as seguintes categorias e subcategorias para

análise no Atlas.ti:

Figura 3 – Categorias e subcategories de análises

Fonte: Elaborado pela autora com base no Atlas.ti.

Essas categorias deram base às analises das respostas dadas pelos participantes da

pesquisa, embasando os resultados e facilitando a decodificação dos resultados.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

O problema de pesquisa deste trabalho centrou-se em identificar o perfil dos

usuários de transporte por aplicativo compartilhado e privado, que são usuários das

modalidades da empresa Uber; o Uber Juntos, que engloba o serviço compartilhado

e o Uber X, que oferece o serviço privado e elencar as principais razões para escolha

de um serviço ou outro dentro de cada perfil identificado e os principais fatores que

fazem o consumidor engajar ou não nesses tipos de serviços.

Durante a pesquisa, alguns fatores foram identificados, e no entendimento dos

resultados, eles são responsáveis pela busca ou recusa de um serviço de transporte

compartilhado. Esses fatores estão embasados nos constructos já descritos no

referencial teórico e vem fortalecer os achados desta discussão.

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4.1 Confiança

A confiança é a base para a decisão de uso para um perfil mais compartilhador

e também a responsável pela recusa em não usar esse serviço pelo perfil que tende

a compartilhar menos, apesar de ambos expressarem sua preocupação com a

segurança. Para o perfil mais colaborador, a confiança é um fator fundamental e de

decisão para a escolha não só da modalidade, como da empresa a ser usada, já que

dividir espaço com pessoas desconhecidas pode ser um fator de vulnerabilidade.

“Precisa ser muito confiável uma vez que utilizo ele toda semana, então não pode ser

diferente.” (Entrevistado Henrique, 35 anos)

“É fundamental porque estamos susceptíveis a muitos perigos e pegar carro com quem

você não conhece é um deles.” (Entrevistada Jessica, 22 anos)

Quando questionados como avaliam essa segurança, as redes sociais e internet

aparece como meio para referência e troca de informações sobre o serviço e a

segurança. Botsman e Rogers (2010) explicitam que a confiança é um fator decisivo

para a escolha de fornecedor ou serviço por compartilhamento. O resultado da

pesquisa nesse âmbito do consumo colaborativo mostra que confiança é um dos

valores mais determinantes para o engajamento na economia compartilhada.

O pessoas que tem por ideia compartilhar menos também faz uso do

argumento de confiança para justificar sua não preferência pelo serviço de

compartilhamento no trânsito, entendendo que dividir um carro com outras pessoas

não é tão seguro, já que não se sabe quem entrará no veículo, então não se pode

atestar a confiança nesse serviço, interferindo direto na decisão de não uso desse

compartilhamento dando preferência ao transporte privado. Nas relações de

consumo, a confiança tem sido amplamente considerada um catalisador do consumo

à medida que reduz o risco percebido em eventos de incerteza (PAVLOU, 2003).

Diante desse contexto, os resultados deste estudo mostram que a falta de confiança

ligada a questões de segurança incide diretamente sobre os processos de escolha

para o uso de serviços de compartilhamento, principalmente no trânsito.

“Não confio não saber quem vai entrar não me deixa segura. Se entrar mais 2 homens

com uma mulher no caso eu vai que...não rola, tem coisa que ja tõ veia ...teria qûe

amadurecer! (Entrevistada Tyna,32 anos)

“Um veículo só dividiria com alguém conhecido e de minha confiança.” (Entrevistada

Nara, 42 anos)

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4.2 Privacidade vs. não compartilhamento

O Uber Xé o modelo de transporte privado por aplicativo mais usado entre as

pessoas que dizem compartilhar menos. Os usuários descrevem na pesquisa que

usam em média pelo menos duas vezes por semana, considerando os finais de

semana, como fonte de apoio para saídas que envolvem consumo de bebida

alcoólica, já que há uma lei que proíbe dirigir sob o efeito de álcool e em dias de rodízio

em que o uso do carro próprio é restrito em algumas regiões na cidade de São Paulo.

Nesse modelo de serviço, o usuário tem total controle do caminho, escolha do veículo

e privacidade de espaço. Os respondentes da pesquisa que optam por esse tipo de

serviço dizem não dar prioridade a qualquer tipo de compartilhamento, preferem a

posse ao uso, principalmente no caso de veículos, e alegam que se trata da

construção de um bem material, estabilidade financeira e de pertencerem à geração

que era voltada para ter um bem. Expressam uma necessidade de mostrar que já têm

uma vida construída em termos de valores, não sentindo a necessidade de

compartilhar serviços e bens. Elencam ainda que o compartilhamento de veículos

adiciona muito tempo ao trajeto, o que poderia comprometer compromissos e horários.

“Não gostei dessa história de dividir caminho e o carro com mais gente. Moro sozinha,

não gosto de dividir meu espaço.” (Entrevistada Sara, 36 anos)

“Dividir carro com estranhos é um risco, já cheguei em uma fase da vida que não preciso

disso.” (Tyna,32 anos)

Triandis (1995) com base nos estudos de Hofstede (1984) traça um perfil de

Individualismo horizontal em que as pessoas que se pautam por esse atributo

valorizam ter seu próprio espaço, uma identidade própria e ser diferente dos demais,

não sentindo uma conexão com o compartilhamento. Em algumas esferas do

consumo, há usuários do sistema de compartilhamento, que querem acesso a

produtos ou serviços, mas sem a necessidade de interação com outros consumidores,

usufruindo um acesso exclusivo e privado (BARDHI; ECKHARDT, 2012).

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4.3 Preço, comodidade , qualidade

São vários os argumentos a favor do consumo colaborativo, e preço é um fator

relevante para a escolha do serviço de compartilhamento no trânsito, de acordo com

o resultado da pesquisa. Usuários do serviço de compartilhamento privado escolhem

qual empresa usar também pela variação de valores na cotação do caminho a ser

feito; entretanto, dizem que não pagariam a mais por esse serviço, mesmo que ele ele

estivesse no patamar de uma categoria premium. Entendem o transporte como

commodity e não veem valor em pagar mais por esse serviço. Para os usuários do

sistema de caronas compartilhadas Uber Juntos, as tarifas mais baixas são um

atrativo para a escolha em definitivo do serviço, principalmente se o objetivo for

somente complementar o trajeto para casa, trabalho ou faculdade. Mont (2004) já

havia considerado a premissa de que a motivação dos clientes de compartilhamento

de automóveis está diretamente ligada a redução de custos, incluindo a despesa

inicial de investir em uma opção de transporte. Botsman, Rogers (2011) citam que

preço é uma variável considerada usualmente para determinar a aderência ao

consumo colaborativo, principalmente se esse consumo for atrelado a serviços como

transporte ou estadia. Essa premissa encontrada na pesquisa vem ao encontro do

que Moeller e Wittkowski (2010) enfatizam que as opções de compartilhamento

geralmente são mais baratas do que as opções de não compartilhamento e

consideram a consciência do preço como o principal determinante do uso de opções

de compartilhamento.

“Só desisto de usar se o preço não estiver competitivo.”(Entrevistada Nara, 42 anos)

“Valor pagável, Qualidade do carro e educação do motorista pra mim são prioridade. E

segurança também!” (Entrevistado Rafael, 30 anos).

“ O que me faz usar é que economizo nas minhas viagens. Uso sempre que quero ir a

um restaurante e vou beber.” (Entrevistado Delem, 40 anos)

Os aplicativos de transporte por compartilhamento dividem nas plataformas de

aplicativos valores e descontos, e à medida que os consumidores se engajam nos

valores mais baixos e possibilidades de distinção do serviço, personalizando

caminhos e rotas dentro dentro de valores menores, esse serviço se torna mais

relevante. Assim, as plataformas de economia compartilhada são altamente

influenciadas por efeitos de rede, que ocorrem quando o valor de um serviço de

produção aumenta à medida que os usuários usam a estrutura e expansão dessa rede

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(PARENTE et al., 2017, p.. 60).

Dentre os fatores com maior correlação com a categoria de compartilhamento no

trânsito, o fator financeiro foi listado, mas para Hamari et al . (2016), a conveniência é

o principal deles. A comodidade ou utilidade do serviço em se usar o transporte

compartilhado em qualquer horário e lugar, podendo inclusive complementar o

transporte público, atrelado ao valor mais baixo, são pontos que os usuários levam

em consideração para a escolha do Uber Juntos. Eckhardt e Bardhi (2015, p. 55)

afirmam que os consumidores não se engajam com as empresas de economia

compartilhada somente para vivenciar um convívio social, mas basicamente para

evitar passivos de propriedade e usufruir os menores custos.

“ Escolho pela praticidade que o serviço pode me dar para o meu objetivo na locomoção

daquele momento. Desisto se o tempo para chegada do motorista é superior a 10min.”

(Entrevistada Sara, 36 anos)

“Tenho duas crianças pequenas e esse tipo de transporte facilita a vida diária, a

comodidade em buscar as crianças, ajuda muito.” (Entrevistada Jéssica, 22 anos)

Durante a entrevista, alguns usuários desse serviço externaram a preocupação

com segurança do compartilhamento no trânsito. Alguns entrevistados entendem que

como não há controle de quem dividirá o caminho com os usários daquele trajeto, isso

pode ser um facilitador para promover assaltos a usuários por pessoas que se fingem

de consumidores, e alguns já deixaram de usar o serviço por essa preocupação. Já o

perfil menos compartilhador cita esse argumento como mais um motivo para o não

uso desse serviço, e a prioridade entre o serviço privado, em que ele tem o controle

de quem seria seu motorista durante o caminho traçado e a não interação com alguém

desconhecido, que poderia gerar insegurança.

“ Se não houvesse um controle, por exemplo, de quais motoristas trabalham no uber,

digo como dados deles, qual segurança que teríamos que não é um louco que está

dirigindo e que não pode usar do trabalho para nos roubar? não que eu considere 100%

confiável, mas considero confiável o suficiente.” (Entrevistado Fernando, 25 anos).

Outro fator de engajamento apontado nas pesquisas pelos usuários de

transporte compartilhado é a qualidade. Fornell et al. (1996) ressalta que qualidade é

compreendida como um fator de grande relevância da satisfação e também a intenção

de usar esse serviço novamente. Para Parasuraman et al. (1988), a percepção sobre

a qualidade do serviço depende da experiência que um cliente faz ao consumir um

serviço. Essa percepção de qualidade na visão dos usuários é destacada na entrevista

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como um dos fatores importantes para o uso e o reuso do serviço e está atrelada

também à possibilidade de avaliação do serviço no próprio aplicativo de transporte

que possibilita ao usuário atribuir “estrelas” ao motorista como avaliação. A avaliação

vai de 0 para qualidade ruim a 5 estrelas, atrelada à pontuação máxima. Atendimento

do motorista, limpeza do carro e marca do carro são elencados como qualidades

percebidas pelos dois perfis de uso de carro por aplicativos, sejam eles

compartilhados ou privados. Qualidade faz parte da excelência do serviço esperado

pelo consumidor.

“Valor pagável, Qualidade do carro e educação do motorista pra mim são prioridade. E

segurança também!” (Entrevistado Guilherme, 43 anos)

4.4 Compartilhamento e vivência social

As pessoas de uma forma geral estabelecem conexões e criam relações de

interesse conforme melhor lhes convém. Essas relações podem ser de trabalho,

sociais, de amizade ou qualquer relação que possa ser modificada ou incorporada ao

seu interesse de vida. Essas ligações inserem as pessoas em sociedade e tem início

nas relações familiares, depois escolar, de comunidade e segue com relações que as

pessoas criam ao longo da vida, fortalecendo a esfera social. A maioria dos

entrevistados para essa pesquisa, que dizem escolher o compartilhamento, elegem

também as interações sociais como um fator relevante para a seleção desse serviço.

Entendem-nas como a possibilidade de ampliar suas redes de relacionamento,

fortalecendo inclusive suas redes sociais digitais. Para Schor, Juliet (2016) a política

de esforços de compartilhamento difere em todo o mundo, o que é comum é o desejo

entre os participantes de criar sociedades mais socialmente conectadas.

Essa configuração em rede social é comum ao ser humano e cria laços, redes

de discussões de temas diversos e possibilita que o sujeito se conecte a outros

baseando-se em interesses e ideias em comum. Hamari et al. (2016) ressalta que

consumidores que se engajam no sistema colaborativo têm o sentimento de

pertencimento como parte de uma comunidade e vivenciam a possibilidade de

conviver e se unir a outros, seja por meio virtual ou real. “As pessoas têm uma

necessidade psicológica de vivenciar relacionamentos” e as redes sociais e serviços

que conectam pessoas, podem ser usadas para promover relacionamentos (HAMARI;

KOIVISTO, 2015). A economia compartilhada tem o potencial de manifestar uma

mudança de paradigma na economia e na vida social (KNOTE; BLOHM, 2016, p.11.).

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“Já o outro Uber o Juntos, gosto para ir para a balada, porque é bem mais legal, você

conhece gente de todo jeito e isso é especial.” (Entrevistada Jessica, 22 anos)

4.5 Sustentabilidade Hamari et al. (2013) ressaltam que o consumo sustentável ecológico é uma das

determinantes para o engajamento no sistema de compartilhar. Na verdade, as

opções compartilhamento normalmente são destacadas como exemplos de um

impacto ambiental positivo em detrimento das opções não compartilhadas, já que

compartilhamento de bens materiais se traduz em uso frequente de diversas

categorias de produtos, sem a necessidade da posse, causando um dano menor ao

meio ambiente. É o momento em que consumidores estão cada vez mais buscando

soluções complexas, sustentáveis e integradas, em vez de produtos e serviços

padronizados e homogêneos (PARENTE et al., 2017).

Entre os perfis identificados para esta pesquisa, ambos concordam com a

necessidade haver empresas sustentáveis em diversas categorias, e só têm em

mente empresas de patinetes e bicicletas mas não se lembram de nenhuma empresa

de veículos motorizados que seja exemplo de imediato. Também não consideram

pagar mais por um serviço que seja sustentável relacionado com o trânsito e não

escolhem ou deixam de considerar empresas de mobilidade que têm essa categoria,

já que para muitos, a sustentabilidade no trânsito motorizado ainda é algo utópico.

Diante dos fatores identificados que influenciam ou não o consumidor nos

serviços de compartilhamento, dois perfis de usuários foram identificados: um perfil

mais compartilhador, que demonstra consciência coletiva, prioridade em compartilhar

não só no transporte por aplicativo, mas outras coisas em seu dia a dia. Todas as

pessoas pesquisadas neste estudo identificadas dentro desse perfil, na sua maioria

não possuía veículo próprio e usava também o transporte público. Traziam ações em

seu dia a dia, como o de compartilhar o guarda-roupa ou o contexto do dia a dia por

exemplo:

“Uso algumas empresas também que têm serviços divididos como Reroupa, Roupa

Livre.” (Entrevistada: Jessy, 22 anos)

“Compartilhar pra mim é se doar um pouco e também receber um pouco de outros, sabe?

Parece mais bonito quando a gente fala, né? Mas no meu dia a dia, eu compartilho

informações o tempo inteiro, mas também espero receber muitas informações de outras

pessoas... Porque não adianta só eu dividir alguma coisa e ninguém mais dividir comigo,

aí não vale, né? Eu compartilho também meu dia com meu namorado quando chego em

casa. Trabalhamos na mesma área mas em empresas diferentes, então sempre temos algo

para conversar e dividir sobre isso. Devem ter outras coisas que esqueci também.

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(Entrevistada: Ana, 22 anos)

Outro perfil diferente desse mais compartilhador foi identificado e apresenta um

comportamento mais voltado para o privado, que prioriza possuir ao invés de

compartilhar, faz uso do que for individual e menos coletivo e dá foco na privacidade

com uso exclusivo no que é privado e no bem-estar individual:

“Uber Pool, mas usei apenas uma vez e não gostei pois não sabia que o

compartilhamento com outras pessoas não era na mesma rota do seu destino e com isso

o tempo para chegar ao destino final foi muito maior do que o normal e gerou atraso no

meu planejamento do dia. Não gostei dessa história de dividir caminho e o carro com

mais gente. Moro sozinha, não gosto de dividir meu espaço”. (Entrevistada: Sara, 36

anos)

“Sou do tempo do TER esse negócio de dividir é de outra geração. Não dividiria o

meu (veículo) de jeito nenhum”. (Entrevistado: Guilherme, 45 anos).

Quando entendemos um pouco mais desses dois perfis, podemos buscar

inspiração em alguns traços que Hofstede (1984) traz em seu estudo sobre cultura,

em que Individualismo e coletivismo estão presentes no resultado de seu estudo,

mesmo sendo em um contexto diferente do que o autor pesquisou, já que este estudo

traz um foco de cultura de consumo e o de Hofstede (1984) traz um contexto de

relações empresariais.

Os resultados apurados durante a pesquisa indicam que o perfil mais

compartilhador espelha pessoas que consideram dividir o carro e o caminho, são

usuárias frequentes de transporte público, bicicletas, patinetes e do transporte

compartilhado pelo aplicativo Uber Juntos. Dentro desta pesquisa, a idade

apresentada foi de até 30 anos, e esses intrevistados já praticam o compartilhamento

em algum momento da vida, usufruindo a possibilidade de acesso a produtos e

serviços sem a necessidade de aquisição destes. Möhlmann (2015) e Owyang et al.

(2014) apuraram que os serviços de consumo colaborativo são usados

essencialmente por jovens de até 30 anos e por consumidores de diversos níveis

socioeconômicos. Esses consumidores entendem que compartilhar é um meio de

favorecer outras pessoas que têm interesses em comum dividindo custos entre si,

favorecendo o uso em vez da posse (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

Já o perfil menos compartilhador não considera usar o carro por

compartilhamento e prefere o serviço no modelo privado, Uber X, Uber Select e até o

Uber Black, alegando que prefere mais privacidade, menos socialização com

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estranhos e possui um foco em um trajeto único e mais rápido. Não é usuário de

transporte público, possui carro próprio e não enxerga os serviços que diz usar, como

Youtube (compartilhamento de vídeos), Spotify (compartilhamento de músicas) e

Netflix (compartilhamento de conteúdo), como serviços compartilhados. As pessoas

que responderam a esta pesquisa e se encaixaram nesse perfil têm mais de 36 anos

e entendem que não dividir o caminho e o veículo com outras pessoas reflete-se em

melhor bem-estar individual e garante a privacidade conquistada até o momento.

5. CONCLUSÃO

Uma das principais premissas deste trabalho foi entender os perfis de usuários

do transporte compartilhado e investigar quais fatores estão atrelados ao uso deste

na cidade de São Paulo.

A pesquisa apresentou dois perfis distintos, um mais compartilhador, que é o

usuário do transporte compartilhado via aplicativo e que também prioriza o

compartilhamento de outros serviços e produtos no seu dia a dia, e o perfil perfil menos

compartilhador, que prefere o uso do transporte privado por aplicativo, para manter

sua privacidade, ganhar tempo e não dividir espaço. Esse perfil se justifica em não se

engajar com o compartilhamento afirmando que possui veículo próprio, boa condição

financeira e entende o compartilhamento para quem está começando a vida

profissional. Entendem também que o ganho de tempo está ligado à privacidade e ao

compartilhamento de caminhos, e carro rompe com isso.

O estudo mostrou também que pessoas se engajam no transporte

compartilhado por terem confiança no serviço usufruem menor preço, comodidade,

qualidade e socialização, mas há uma grande preocupação com a segurança, já que

não se sabe quem compartilhará aquele caminho com o usuário.

Em se tratando de compartilhamento de carro, os smartphones são facilitadores

para o uso (Botsman e Rogers, 2011); eles permitem que os usuários encontrem

veículos disponíveis próximos, fazem todo o trâmite de reservas, divisão de rotas e

pagamento; entretanto, os dados levantados nessa pesquisa mostram que a

familiaridade ajuda no uso do aplicativo, mas não é considerada importante para o

engajamento, já que os usuários se consideram heavy users desses aplicativos.

Assim, esse estudo conclui que alguns fatores influenciam o compartilhamento

de veículos por aplicativos, como razões de socialização associadas à utilização do

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serviço, custos mais baixos, qualidade e comodidade, percebidos por um perfil mais

compartilhador que se engaja nesse tipo de compartilhamento também por definições

de vida e sensação de comunidade, de ajuda e divisão. Essas mesmas razões se

mostram a justificativa do perfil menos compartilhador em recusar o uso desse serviço

compartilhado no trânsito, preferindo a não partilha e mantendo o foco no estilo

privado de transporte por aplicativos.

Vale ressaltar que a amostra de pesquisa abrange uma população reduzida em

torno de vinte e dois participantes, e os resultados aqui apresentados pode servir de

base para outras pesquisas, porém com um campo maior em estudos futuros.

Outros os fatores são listados por autores como Bockmann (2013), Moeller

(2010), Lawson (2011), Lamberton e Rose (2012), Van de Glind (2013), Owyang et al.

(2013), Hamari et al. (2013), Stene e Holte (2014), Baumeister (2014) e Mohlmann

(2015) e abrem caminhos para novos estudos com questões que impactam as

decisões de engajamento e que não apareceram nos resultados deste estudo:

generosidade, imagem, inovação, meio ambiente, economia e atalho estão entre os

fatores que não foram destacados nesta pesquisa pelos usuários, entretanto abrem

campo para novos questionamentos.

A relevância deste estudo mostrou-se em destacar como o comportamento do

consumidor vem se transformando diante da mobilidade urbana dentro contexto do

compartilhamento. De acordo com Moeller e Wittkowski (2010), os consumidores

anseiam por usar produtos e serviços que sejam inovadores e preferem compartilhar

a ter. Botsman e Rogers (2011) afirmam que o consumo colaborativo é uma tendência

emergente, que influencia o comportamento do consumidor em grande escala.

6. ESTUDOS FUTUROS

Diversas empresas estão ávidas para se estabelecer sob a "grande tenda" da

economia compartilhada graças ao conceito metafórico assertivo do

compartilhamento, do encantamento das tecnologias digitais inovadoras e do

gradativo desenvolvimento da atividade de compartilhamento (SCHOR; JULIET,

2016). Diante de todos os resultados apresentados até aqui por este estudo, esta

pesquisa abre caminhos para novos ensaios sobre a mobilidade do futuro. O shared

mobility tem tido um crescimento significativo no Brasil, e empresas de diversos tipos

de mobilidade têm aportado em São Paulo, aplicando sua usabilidade como teste para

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as demais cidades brasileiras.

O compartilhamento de carros é uma tendencia global, e de 2015 até agora,

mais de sete milhões de pessoas no mundo usam algum tipo de compartilhamento, e

esse número tende a crescer pelo menos cinco vezes até 2025, de acordo com dados

da consultoria Frost & Sullivan (2017). Hoje grandes tendências deverão se

consolidar no país em um breve espaço de tempo e há poucos trabalhos acadêmicos

e profissionais que elucidam seus questionamentos nessa área: compartilhamento

amplo, carros autônomos, conectados, carros elétricos, conectividade,

compartilhamento, internet das coisas, acessibilidade, tecnologia limpa, cidades

inteligentes, automação, inovação, criatividade, qualidade de vida e nova mobilidade

corroboram com a necessidade de mais estudos e dados levantados pela academia

para auxiliar nas discussões sobre mobilidade urbana e compartilhamento, mas

também dar subsídio a empresas que queiram apostar nesse setor e contribuir com

uma mobilidade cada vez mais compartilhada, sendo o meio para se chegar e não de

como chegar.

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8. ANEXOS

ROTEIRO ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Bloco 1

1. Me fale um pouco sobre você: nome, Idade e profissão.

2. Você usa celular com conexão à internet?

3. Há alguma função ou aplicativo que que você mais usa no seu

celular?

Bloco 2

4. Qual meio de transporte você usa para fazer seu principal

deslocamento e quanto tempo em média você normalmente

gasta para chegar nesse lugar?

5. Você já deve ter ouvido falar em mobilidade urbana. Para você,

o que é isso?

6. Você usa transporte público? Qual? Com que frequência?E para

você, esse transporte é eficiente? O que pode ou precisa

melhorar?

7. Você usa algum aplicativo que considera de grande ajuda para

a mobilidade? Com qual frequência você usa esses serviço?

8. Vamos falar sobre sustentabilidade, você faz alguma coisa no

seu dia a dia que considera como sustentável? O que?

9. Você prioriza alguma empresa ou serviço, por ser sustentável?

Porque? Qual? Pagaria mais por um serviço sustentável?

10. Você conhece ou considera alguma empresa que está

relacionada com transporte ou mobilidade sustentável?

Qual/Quais?

11. Você vê alguma ação sustentável que possa ser aplicada ao

trânsito? Qual?

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Bloco 3

12. Para você o quão é importante um serviço de transporte por

aplicativo ser confiável? Porque?

13. Como você avalia se o serviço é confiável ou não?

14. Há outros critérios que você considera importante? Quais?

15. Para você o que é compartilhar? Em que situações no seu dia

a dia você compartilha algo?

16. Para você é melhor ter ou dividir? Me dê um exemplo prático da

sua vida sobre isso.

17. Isso se aplica a veículo por exemplo?

18. Você conhece alguma empresa que pode ser enquadrada como

compartilhamento de veículo?

19. Você já usou alguma empresa que possui serviço de

compartilhamento? Qual/ Quais?que te faz usar ou não usar

esse serviço? Com qual frequência você usa?

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Bloco 4

20. Como você define o Uber e o Uber Juntos? Há diferença entre eles?

Qual?

21. Desses dois serviços acima, qual você tem o hábito de usar mais? Me

fala um pouco da sua experiência com esse serviço e como você

escolhe o que vai usar e o que faz você desistir de usar?

22. Qual a sua avaliação sobre esses dois tipo de serviços de transporte

por aplicativo? Quais características você considera mais importante

para você escolher esse serviço?

23. No seu entendimento, esse serviço pode ter algum reflexo sobre o

trânsito de São Paulo? Quais? E isso seria bom ou ruim, no seu ponto

de vista?

24. O que faria você pagar um pouco mais caro por um desses serviços de

transporte por aplicativos?

25. Antes de usar esse serviço de transporte via aplicativo, como você

fazia os seus deslocamentos?

26. Específicamente no caso do Uber Pool (hoje chamado de Uber Juntos),

Quais a características desse serviço, fazem com que você desista de

usá-lo?

27. Eo Uber X, quais características fazem você não usá-lo?