Comotornarascidades maisinteligentes - Cofina...

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Publicidade Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n. o 3479, de 12 de Abril de 2017, e não pode ser vendido separadamente. Como tornar as cidades mais inteligentes Mobilidade eléctrica Carregar o carro vai começar a ser pago Automóveis vão ser mais baratos e ter mais autonomia Os casos da Noruega e Estocolmo Autarcas debatem soluções Os negócios das “smart cities” Inês Gomes Lourenço

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Publicidade

Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.o 3479,de 12 de Abril de 2017, e não pode ser vendido separadamente.

Como tornar as cidadesmais inteligentes

Mobilidade eléctrica

Carregar o carro vai começar a ser pagoAutomóveis vão ser mais baratos e ter mais autonomia

Os casos da Noruega e EstocolmoAutarcas debatem soluçõesOs negócios das “smart cities”

Inês Gomes Lourenço

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utilização da rede depostosdecarregamen-to rápido de carroseléctricoscomeçaaser

paga no final do primeiro semestre.Esteémaisumpassoparaaconclu-sãodarededecarregamentoMobi.e.

“A rede portuguesa foi pensadadesde o início parater pagamentos,prevê duas tipologias de entidades:osoperadoresdepostosdecarrega-mento e os comercializaodores deenergia para a mobilidade eléctricae essas entidades que são empresasprivadas estarão obviamente nomercado”, começou por explicar opresidentedaMobi.e,AlexandreVi-deira,duranteamesa-redonda“Mo-bilidade eléctrica: estado do sectorem Portugal”, da conferência“EnergyandMobilityforSmartCi-ties”, que teve lugar a 30 de Marçono Hotel Cascais Miragem.

“Até ao final do primeiro semes-trevaiterinícioopagamentonospos-tosdecarregamentorápido.Nospos-tosdecarregamentonormal,ocarre-gamento começa a ser pago a partirdo final do ano”, revelou o líder daMobi.e.O início dos pagamentos vaiser“importanteparadinamizartodo

oecossistemadamobilidadeeléctri-ca”,defendeuAlexandreVideira.Masaexpansãodarede nãosevailimitaraos grandes centros urbanos e auto-estradas,pois“atéaofinalde2017to-dos os concelhos do país terão pelomenos um posto de carregamento.Vamos garantir que a rede de carre-gamentochegueatodoopaís”,asse-gurouAlexandreVideiradaMobi.e.

Apesar da importância do carroeléctrico no âmbito alargado damo-bilidade eléctrica, outros meios detransporte começam a ganhar cadavez mais protagonismo. “Quandoolhamosparaumterritório,temosdeolhar para o mix de mobilidade queestádisponívelnesseterritório.Esta-mosafalar nãosódassoluçõeseléc-tricas,comoasscooters,asbicicletas,os automóveis, mas também o me-tro”,afirmouVladimiroFelizdoCen-trodeExcelênciaparaaInovaçãodaIndústriaAutomóvel(CEIIA).

Otransportecolectivoeléctricoé um dos meios que provoca maisimpactos, precisamente porabran-geremmaispessoas.O responsáveldo CEIIAdeuo exemplo do Metrodo Porto que foi o modo de mobili-dadeeléctricaque“maiscontribuiuparaaredução de emissões naáreametropolitanadoPorto”.“Estasso-luções massivas de transporte depessoas são aquelas que podem terum efeito imediato e de escalamaior, quer na mudança de com-portamentos, quer na redução de

emissões”, defendeu.Emparceriacomaautarquiade

Cascais,oCEIIAestáadesenvolveruma plataforma inteligente de ges-tãodamobilidade:oMobi.me. Atra-vés de um único cartão, os usuáriostêmacessoaváriosserviçosexisten-tes,comoestacionamento,autocar-ros, bicicletas partilhadas.

O responsável do CEIIAexpli-caque as mudanças namobilidade

demoram tempo a implementar.“Nós não conseguimos mudar arealidade de um dia para o outro,temos é que ter uma visão de futu-ro. Olhar numa primeira fase paraos hábitos tradicionais das pessoas,tornar o processo de mobilidademais fácil e mais eficiente. E se esteprocesso for fácil, as pessoas vãousá-lo, indepentemente do modode transporte. As pessoas vão olhar

NEGÓCIOS INICIATIVAS Energy and Mobility for Smart Cities

Abastecer carroeléctrico começaa ser pago

ANDRÉ [email protected]

A

A rede de carregamento do carro eléctrico caminhaa passos largos para a conclusão do projecto piloto.Mas a mobilidade eléctrica não se faz apenas deautomóveis, defenderam os participantes.

Até ao final doprimeiro semestrevai ter inícioo pagamentonos postosde carregamentorápido. Nos postosde carregamentonormal, ocarregamentocomeça a ser pago apartir do final do ano.ALEXANDRE VIDEIRAPresidente da entidade Mobi.e

As soluções massivasde transporte depessoas são as quepodem ter um efeitoimediato e maior,quer na mudançade comportamentos,quer na reduçãode emissões.VLADIMIRO FELIZCEIIA

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para a facilidade, para o confor-to, para o preço e para o tempoque chegamao local de destino”,afirmou Vladimiro Feliz.

Defendeu por isso que é pre-ciso trabalhar na introdução denovas formas de mobilidade -como o bike-sharing convencio-nal e eléctrico, o car-sharing escooter sharing eléctricos - e in-tegradas comarede de transpor-

tes públicos locais. É porisso im-portante que a mobilidade eléc-trica vá mais além do carro eléc-trico, conforme sublinhou Mi-guel Castro Neto da Nova Infor-mation Management School.

“A mobilidade eléctrica nãosefazapenasdecarros.Faz-sedebicicletas eléctricas, de scooterseléctricas. Portanto, háque tam-bém considerar essas formas de

transporte, que em plataformasintegradas,comoestadeCascais,começam-seaaproximarmaisdesoluções que respondem às ne-cessidades dos cidadãos. Estaplataforma tem essa mais valia:presta não só um serviço muitomelhorao cidadão, mas tambémpermite que o município passe aconheceroshábitosdemobilida-de que esta população tem”. �

Os utilizadores de carros eléctricos apontam que,apesar dos progressos, ainda há muito trabalho afazer na rede de carregamento e apelam aoinvestimento privado nesta rede.

Privados devemapostar na redede carregamento

“Hoje estamos muito melhor queontem, nós fizemos uma travessiano deserto”. Foi desta forma queMarcos Lopes da Associação deUtilizadoresdeVeículosEléctricos(UVE) resumiu aevolução daredede postos de carregamento Mobi.eem Portugal.

“Não quer isto dizer que a redejáestejabem.Estouansiosoporvera rede de carregamento normal afuncionarempleno,commanuten-ção, com resposta aos problemascomunicados”, afirmou durante amesa-redonda“Mobilidadeeléctri-ca: estado do sector em Portugal”.

Conformeexplicou,amaioriadosutilizadoresdecarroeléctricocarre-ganospostosnaviapública,oquelevaa que a procura seja muito elevada.“A maior parte dos postos carregaapenasumcarrodecadavez,doisnomáximo.Temquehaverumagestãomelhor, como um sistema de espe-ra”, sugeriu Marcos Lopes.

A UVE também considera queseria salutar a entrada de mais em-presas narede de carregamento. “Épreciso incentivar os privados, queprecisam de perceber que há aquiumaboaoportunidadedenegócio”,defendeu Marcos Lopes.

Por seu turno, o líder da Mobi.etambémfezumbalançodaactividadeda rede de postos de carregamento.“Tivemos um crescimento muitogrande em 2009-2010. Tínhamosum papel com algum relevo a nível

internacional. Depois, o país atra-vessouumperíodoalgodifícileissotambém se reflectiu na mobilidadeeléctrica.Tivemosatravessiadode-serto durante algum tempo e agoraestamos a trabalhar para que a mo-bilidadeeléctricavolteaserumarea-lidade em Portugal”, começou pordizer Alexandre Videira.

“Nos últimos dois anos temosvindoafinalizartudoaquiloquees-tava pensado desde o início: termi-nar a rede piloto, terminar todas asregulações e mecanismos contra-tuais que estão previstos nalegisla-ção nacional. É de referir que Por-tugal é dos primeiros e dos poucospaíses no mundo que tem um en-quadramentolegalparaamobilida-de eléctrica”, destacou o gestor.

Esta mesa-redonda teve lugarlogo após a apresentação do casosobreamobilidadeeléctricanaNo-ruega. Comparando os dois países,olíderdaMobi.epuxoupelosgalõesde Portugal. “Do ponto de vistadosinstrumentos, dos mecanismos, edas infra-estruturas, nós não esta-mosmuitolongedoqueestáimple-mentado na Noruega”, declarouAlexandre Videira.

O líder da Mobi.e anunciouque a rede de postos de carrega-mento rápido nas autos-estradasportuguesas está a ser concluída,estando os corredores na A6, A23e A25 prestes a serem inaugura-dos. � ANDRÉ CABRITA-MENDES

Inês Gomes Lourenço

O primeiro painel debateu o

estado da mobilidade

eléctrica em Portugal. Laszlo

Cebrian, da Fundação Cascais,

e Teresa Ponce de Leão, da

APVE, abriram a conferência.

O ministro do Ambiente, João

Matos Fernandes (à

esquerda), fez a sessão de

encerramento.

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PORQUÊ O CARROELÉCTRICO?Quando chegaahorade comprarcar-ro e escolher entre veículo a combus-tão interna e um eléctrico muito no-ruegueses estão a optar pelo carroamigo do ambiente. Mas porquê? Uminquérito realizado em 2016 naNorue-ga entre os proprietários de carroeléctrico não deixa espaço para dúvi-das: 67% dos inquiridos aponta queas razões económicas são a principalrazão para comprar um veículo eléc-trico, revelou o investigador NilsRokke nasuaapresentação. Nasegun-da posição surgem as razões ambien-tais com 21% de respostas positivas.

QUE INCENTIVOS É QUEEXISTEM?As políticas de incentivo à compra de

veículos com baixas emissões teve lu-gar no início da década de 90, expli-cou o investigador e vice-presidenteexecutivo para a área de sustentabi-lidade do centro de estudos norue-guês SINTEF. Em 1993, estes veículosdeixaram de pagar pelo estaciona-mento público. Depois, foram elimi-nadas as portagens. Mais tarde, foieliminado o pagamento de IVA, isto é,a compra de carros eléctricos deixoude ser tributada por completo em2001. Em 2005, o imposto de circula-ção foi reduzido para zero. Outros in-centivos, incluem a abertura das fai-xas bus para estes veículos, assimcomo o fim dos pagamentos nos fer-ries. Em 2009, o fim dos incentivos foiatirado para2017, mas em 2015 o Par-lamento norueguês estendeu os in-centivos até 2020.

ELECTRICIDADEÉ BARATAConforme sublinhou Nils Rokke nasua apresentação, a electricidade emcasa na Noruega é barata, sendo porisso competitivo abastecer o carroeléctrico na habitação. A grandemaioria da electricidade (99%) é ge-rada a partir de fontes renováveis

(97% a partirde energia hídrica e 2%a partir de energia eólica).

CARROS “NORMAIS”SÃO MUITO CAROSOutro dos incentivos à compra decarro eléctrico é que os carros movi-dos a gasóleo ou a gasolina são mui-to caros. Na sua apresentação, NilsRokke explicou que os carros são ta-xados de acordo com o seu peso,emissões e estão sujeitos a uma taxade IVA de 25%. Comparando com aAlemanha, por exemplo, os carrospodem custar o dobro do preço, de-pendendo da sua classe. Como oscarros eléctricos não têm impostos,tornaram-se competitivos face aoscarros movidos a combustão inter-na. Um Volkswagen Golf eléctrico,por exemplo, é ligeiramente mais ba-

rato do que o seu irmão movido a ga-sóleo ou gasolina. Já o Nissan Leaf,por seu turno, é um carro “low cost”,de acordo com os padrões noruegue-ses, com o preço a rondar os 25 mileuros.

LÍDER DE VENDASA nação escandinava liderou as ven-das de carros eléctricos em 2015 e2016 na Europa. Actualmente 40%das vendas de carros novos no paíssão de eléctricos, híbridos plug-in oumovidos a hidrogénio. Olhando parao parque automóvel total de carrosde passageiros de 2,6 milhões de veí-culos, 3,75% são carros eléctricos,enquanto 1,4% são veículos híbridosplug-in. Para o futuro, Nils Rokke pre-vê um crescimento dos carros autó-nomos. � ANDRÉ CABRITA-MENDES

Noruega é o país europeu commais carros eléctricos. Porquê?

Nils Rokke veio a Portugal contar como é que a Noruega se tornou no país europeu onde sevendem mais carros eléctricos na Europa. Apesar das preocupações ambientais dosnoruegueses, os preços competitivos dos carros eléctricos pesam mais na hora de comprar.

NEGÓCIOS INICIATIVAS Energy and Mobility for Smart Cities

Inês Gomes Lourenço

150ELÉCTRICOS E HÍBRIDOSNa Noruega existemactualmente 150 milcarros eléctricos ehíbridos plug-in.

Quem é NilsRokke?

Nils Rokke é actualmentevice-presidente executivopara a área de sustentabili-dade do centro de estudosnorueguês SINTEF, o maiorcentro de investigação e des-envolvimento da Escandiná-via. Doutorado em Engenha-ria Mecânica pela Universi-dade Norueguesa de Ciênciae Tecnologia (NTNU) emTrondheim, juntou-se aoSINTEF em 2004, assumindoentão o cargo de vice-presi-dente para a tecnologia degás, tendo também assumi-do responsabilidades para aárea de alterações climáticasdo centro de estudos entre2008 e 2015.

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COBRANÇA DE TAXAUm dos primeiros passos dados parareduzir a poluição em Estocolmo foia criação de uma taxa do trânsito(”congestion tax”), sendo necessáriopagar1,5 euros pordia para entrarnacidade. Quando a taxa foi introduzi-da em 2007, o número de carros a en-trarem diariamente na capital suecacaiu em 20%. Num dia normal de tra-balho, cerca de 50% a 60% das pes-soas deslocam-se de transporte pú-blico, com cerca de 20% das pessoasa deslocarem-se de bicicleta e 20% airem de carro.

CONTRATOS PÚBLICOSOutra medida essencial para reduziras emissões foi a imposição às empre-sas de carros amigos do ambiente nassuas frotas. A autarquia de Estocol-

mo criou uma regra junto dos seusfornecedores para promovero uso decarros eléctricos, biodiesel e biogás.As empresas que quiserem ter umcontrato de fornecimento com a au-tarquia têm de ter, pelo menos, umcarro movido a biodiesel na sua fro-ta. No contrato seguinte, a empresatêm de termais carros amigos do am-biente. Desta forma, começaram acrescer o número de táxis na cidademovidos abiogás, ou os carros de cor-reios e entregas movidos a electrici-dade ou a biodiesel.

MAIOR EFICIÊNCIAENERGÉTICAA cidade também está a apostar emedifícios mais eficientes energica-mente. Por isso, os edifícios que fo-ram alvo de restauração no bairro de

Arsta, construído na década de 70,têm um consumo energético 60%mais baixo. Já os sistemas de aqueci-mento central são utilizados paraaquecer a água consumida em casa,sem provocar um disparo do consu-mo de energia. Também a gestão deresíduos está a seralvo de melhorias,estando a ser implementado um sis-

tema em que o lixo colocado no cai-xote na rua cai para um depósito sub-terrâneo e depois é transportado au-tomaticamente debaixo de terraatra-vés de um tapete para um centro derecolha.

TRANSPORTESMENOS POLUENTESA autarquia sueca também está aten-ta ao transporte colectivo. O biogás éuma das apostas da autarquia, queproduz este combustível, a partir dotratamento de esgotos e do lixo orgâ-nico, em quantidade suficiente paraabastecertoda a sua frota destes veí-culos, como os camiões de recolha delixo. A frota de autocarros dos trans-portes públicos da cidade é 100% re-novável, usando biogás, etanol e bio-diesel.

CENTRO DE LOGÍSTICAUm dos problemas com que a autar-quia da capital sueca se deparou foio enorme tráfego de camiões pesa-dos que transportam mercadoriaspara as obras de construção civil nacidade. Em média, existe uma entre-ga a cada 30 segundos, com cada ca-mião a transportar 1,5 toneladas demercadoria, num total de 700 tone-ladas por dia. Para evitareste trânsi-to de pesados pela cidade, e para di-minuir os atrasos, a autarquia suecacriou um centro de logística onde osfornecedores descarregam o mate-rial para as empresas de construçãocivil irem-se abastecer. Resultado?Menos 30% a 40% de camiões nasobras, menos acidentes, menos trân-sito na cidade e menos atrasos nasentregas. � ANDRÉ CABRITA-MENDES

Como Estocolmo está a reduziras emissões poluentes

Jonas Ericson foi a Cascais explicar como é que a capital e maior cidade sueca, que conta com900 mil habitantes, começou a implementar um ambicioso programa de redução de emissõespoluentes. A introdução de portagens nas entradas da cidade foi um dos factores decisivos.

20%PORTAGEMA cobrança de uma taxalevou a uma redução de20% na entrada decarros na cidade.

Inês Gomes Lourenço

Quem éJonas Ericson?

Jonas Ericson é um dos res-ponsáveis pela luta da cida-de de Estocolmo contra a po-luição. Licenciado em Biolo-gia e Geografia Natural pelaUniversidade de Estcolmo,Jonas Ericson conta comuma carreira de trinta anosno serviço público sueco. Co-meçou por ser responsávelambiental na cidade deMalmö. Mais tarde, foi con-selheiro do ministério doAmbiente e também daagência ambiental sueca eintegrou também a Associa-ção Sueca de Bioenergia.Desde 2001 que coordena oplano de veículos de baixasemissões na capital sueca.

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emos agoraanecessi-dade de evoluir paraas ‘smart cities’ por-

que chegámos à conclusão que an-dámosafazercidadesestúpidas,queforam construídas contra as pes-soas”. O tiro de partidaparaamesa-redonda sobre as “Smart cities na-cionais” foi dado desta forma peloautarcadeCascais,CarlosCarreiras.

Como corrigir os erros feitos noplaneamento e construção nos últi-mos 40 anos nas cidades portugue-sas?UmdosdesafiosprincipaiscomqueumaautarquiacomoCascaisen-frentaéamobilidadediáriadosseuscidadãos, com milhares de pessoasem movimento pendular entre alo-cal onde residem e o local onde tra-balham, como Lisboa.

“Resolvemos juntar numa sóplataforma, a Mobi Cascais, o esta-cionamento, o transporte público[passes mensais da CP e Scott Urb]

e as bicicletas”, disse, porseuturno,o presidente do conselho de admi-nistração da Cascais Próxima, RuiRei.

Foi com o objectivo de promo-verautilização do transporte públi-co que a vila de Cascais introduziuo sistema de gestão de mobilidadeMobi Cascais. Com este programa,a autarquia criou 1.280 lugares deestacionamento automóvel gratui-to junto às estações de comboio,prevê finalizar a construção de 70quilómetros de ciclovia este ano edisponibilizar 1.200 bicicletas emregime de partilha, conhecidascomo Bicas.

De outros pontos do país tam-bém chegam exemplos de boas prá-ticas no desenho e aplicação de so-luçõesparamelhorarodia-a-diadoscidadãos. “No Porto temos percebi-do que temos de trabalharde formamuito mais integrada, muito mais

transversal”, afirmou o vereadordaautarquiado Porto, Filipe Araújo.

Deu assim o exemplo do centrode gestão integrada da cidade invic-ta. “Aqui é onde conseguimos ter namesma sala todas as nossas opera-çõesdecidade,aresolverproblemasdodia-a-dia.NoPortodemoravatrêshoras para a polícia falar com osbombeiros para irem abrir a portaquandoalguémseesqueciadachavedentro de casa, quando não haviacoordenação. Tudo mudou e agorademorameiahora”, contouo verea-dor portuense.

Já o autarca de Viseu defendeuque mais fundos europeus devemser canalizados para as cidades in-teligentes. “Os PEDU[Plano Estra-tégico de Desenvolvimento Urba-no] já privilegiam um pouco a ver-tente da mobilidade e da inclusãosocial, mas deixam outros factoresde fora, não permitemaabordagem

Corrigir os erros feitosnos últimos 40 anos

Carlos Carreiras, Presidente da Câmara Municipal de Cascais e Filipe Araújo, vereador da Câmara Municipal do Porto. António Almeida Henriques, presidente da secção das “smart cities” da ANMP, defendeu m

Inês Gomes Lourenço

NEGÓCIOS INICIATIVAS Energy and Mobility for Smart Cities

“T

O desenvolvimento das cidades nas últimas décadas foi mal planeadoe executado, apontaram os autarcas. É por isso necessário corrigir estetrajecto, sendo necessário canalizar fundos comunitários para este esforço.

Temos a necessidadede evoluir para as“smart cities”, porqueandámos a fazercidades estúpidas,construídas contraas pessoas.CARLOS CARREIRASAutarca de Cascais

Resolvemos juntarna plataforma MobiCascais, o transportepúblico, as bicicletase o estacionamento.RUI REICascais Próxima

“ A tecnologia sóé útil se nos ajudara resolver osproblemas daspessoas e ajudaras autarquiasa reduzir custos.

É nessa medida queeu faço essa críticaem sede de Portugal2020. No fundo érefocalizar, pois existedinheiro disponívelpara investir.ANTÓNIO ALMEIDA HENRIQUESAutarca de Viseu

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mais fundos para esta área.

Inês Gomes Lourenço

Diferentes soluções para as cidades inteligentes juntaram diferentesempresas na mesa-redonda “Smart cities: inovação e diferencianção”.Entre elas uma empresa nacional que está a pôr os americanos a pedalar.

Contadores, bicletas eléctricase casas que se mexem

O que é que têmemcomumumadistribuidora de electricidade,um fabricante de bicicletas, umacasa que segue a rotação solar euma empresa que põe os ameri-canosaandardebicicleta?Todasestas empresas e projectos criamsoluçõesinovadorasparamelho-raravidados habitantes de cida-des em todo o mundo.

ComonocasodaCitibrain,umconsórcio de empresas portugue-sas que está a colocar os norte-americanos emcimadebicicletasa pedalar com a ajuda de um mo-tor eléctrico. “Anossa actividadecomercial começou há cerca deano e meio. O nosso primeiro sis-tema de bicicletas partilhadas,muito pequenino, foi vendido emWolfsburgo.Masestafoiumaboabandeiraparavendermosonossosistema para Birmigham, no Ala-bama,com400bicicletas,queeraentão o maior sistema de partilhade bicicletas da América do Nor-

te”, contou Rui Costa presidenteexecutivodaCitibrain.

“Assim, 95% das nossas bici-cletas estão nos Estados Unidos.Depois do Alabama, instalámosumsistemaemBaltimoree,maisrecentemente, ganhámos o con-curso público de Seattle, para1.200 bicicletas integralmenteeléctricas”, afirmou Rui Costa.

Já a fabricante de bicicletasÓrbita tem entre mãos o maiorprojecto para criar e gerir a redede bicicletas partilhadas nacida-dedeLisboa. OpresidentedaÓr-bita, Paulo Rodrigues, contaqueaempresaconjugouosaberfazerbicicletas há 45 anos com a tec-nologiaparatransformaras bici-cletas num veículo (mais) inteli-gente,recorrendoaGPS,inclinó-metros,sensoresdeimpacto.“Te-mos uma oferta ao nível do me-lhor que se faz no mundo, e comcapacidade de concorrer paraqualquer tipo de desafio”, asse-

gurou Paulo Rodrigues. Lá fora,a Órbita já forneceu bicicletasparaParis,LyonVienaouBilbao.

A EDP Distribuição esperaatingircercade1,3milhõesdeca-sas equipadas com contador in-teligente emPortugal. “Estamosa instalar cerca de 10 mil conta-dores inteligentes por semana,estamos numritmo muito acele-rado”, disse o líder da EDP Dis-tribuição, João Torres.

CasasfriasnoInvernoequen-tesnoVerão,eisumproblemacomque muitos portugueses se depa-ram, obrigando-os a gastar maisenergiaparaaquecerearrefeceracasa.Apoupançanafacturaener-gética é precisamente uma dasmais valias do conceito Casas emMovimento, criado por ManuelVieiraLopes. Estaempresacons-trói casas rotativas que seguem omovimento do sol, aproveitandoestafonteparapouparegerarener-gia.�ANDRÉ CABRITA-MENDES

O debate juntou representantes da EDP Distribuição, Casas em Movimento, Órbita e Citibrain.

Inês Gomes Lourenço

POR AMERICANOSA PEDALAR

O consórcio de empresa Citibraintem desenvolvidoredesdebicicle-tas partilhadas, todas eléctricas,para várias cidades norte-ameri-canas, como Seattle, Birmigham(no Alabama) e Baltimore. Na Eu-ropa estão em Wolfsburgo.

JUNTAR TRADIÇÃOÀ INOVAÇÃO

Para muitos portugueses a suaprimeira bicicleta foi uma Órbita,empresa com 45 anos de existên-cia e que está agora a criar bici-cletas inteligentes para que maispessoas pedalem em Lisboa, Pa-ris, Lyon ou Viena, juntando tra-dição à inovação. A Órbita venceuo concurso de 23 milhões de eu-ros para criar e gerir a rede de bi-cicletas partilhadas de Lisboa,que vai contarcom mais de 1.400bicicletas. Paulo Rodrigues avan-çou que a rede deverá estar ope-racional “dentro de breves me-ses”.

UMA CASA QUESEGUE O SOL

Manuel Vieira Lopes criou umacasa rotativa que segue o movi-mento do sol ao longo do dia. ACasas em Movimento é uma em-presa que constrói estas casasque além de pouparem energiatambém produzem energia, usan-do painéis solares.

LISBOA APEDALAR

CONTADORESINTELIGENTESA EDP Distribuição continua aprogredir no seu projecto deinstalação de contadores inte-ligentes, esperando atingir qua-se 1,3 milhões de consumidoreseste ano. A companhia está ainstalar 10 mil contadores porsemana.

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Quatro empresas portuguesas queestãoadesenvolverprojectosnaefi-ciênciaenergéticae mobilidade .

RAIO-X

Que projectosestão asempresas adesenvolver?

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globaldaestratégiadascidades”,apontou António AlmeidaHen-riques.

“É nessamedidaque eu façoessa crítica em sede de Portugal2020.Nofundoérefocalizar,poisexistedinheirodisponívelparain-vestirnestesterritórioscomindi-cadores mais pobres”, explicou otambémresponsávelpelas“smartcities” naAssociação Nacional deMunicípiosPortugueses(ANMP).

Olhando para Viseu, Almei-daHenriquesdeucontadospro-gressos que têm vindo a ser fei-tosnamobilidadecolectiva,comaintrodução de autocarros eléc-tricos e a adaptação das carrei-ras às reais necessidades dos ci-dadãos. “Atecnologiasó é útilsenos ajudar a resolver os proble-mas das pessoas e ajudar as au-tarquiasareduzircustos”,rema-tou.� ANDRÉ CABRITA-MENDES

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s vendas de carros eléc-tricos vão continuar acrescer nos próximos

anos à medida que os preços des-cem e que as baterias ganhammaior capacidade. Esta é a visãopara a mobilidade eléctrica de Ri-cardo Tomaz da Volkswagen Por-tugal e que foi partilhadanamesa-redonda “Tecnologia e Serviços”.

“Todasasmarcasenfrentamosobstáculosreaisepsicológicoscomque o cliente se debate hoje emdiapara comprar um carro eléctrico:o custo e a percepção de autono-mia”,disseodirectordemarketingda marca alemã em Portugal.

“Ocustovemdasbateriaseopa-norama futuro é bastante optimis-ta,pelomenosnatecnologiadeiõesdelítio.Ocustodeproduçãoporki-lowatthorarondaos 200 euros, e édepreverquedaquia3-4anosessecusto já tenha baixado para meta-

de”, começouporapontar.Apercepção de autonomia é o

segundo grande obstáculo ao au-mento das vendas de carro eléctri-co. “As autonomias de 180-190quilómetrosnoiníciocriaramefec-tivamente umabarreirapsicológi-caparaaspessoasquenãoqueriamapenas amobilidade urbana. Hojeemdiajáestãoaseranunciadasau-tonomias máximas de 300-400quilómetros e caminhamos aospoucos para vencermos essa bar-reiradapercepção daautonomia”,afirmou Ricardo Tomaz.

A diminuição do preço do car-roeléctrico,apardamaiorautono-miadasbateriasedosurgimentodepostos de carga rápida são os trêsfactores que estão acriarumcená-riofavorávelparaocrescimentodomercado eléctrico, argumentou.“Depoiséprecisofazerbommarke-tingeterbonsprodutosnarua,mas

isso o sector automóvel já sabe fa-zer”, defendeu Ricardo Tomaz.

No plano fiscal, o professorJoãoGama,daUniversidadeCató-lica, prevê que a compra de carroeléctrico deixe de receber incenti-vosnofuturo.“Háagoraumincen-tivoparadepoishaverumatributa-ção. Isso é inevitável acontecer. Aindústriatemdepensarnisso,fazerum modelo de negócio e perceberque aquilo que é agoraumincenti-voporrazõesambientaisvaiseremprincípio objecto de tributação nofuturo”, previu o fiscalista.

A empresa portuguesa Efacecé líder mundial no mercado de in-fra-estruturasdecarregamentorá-pido para veículos eléctricos. Pe-dro Silva, presidente executivo daEfacec Electric Mobility apontaque o carregamento rápido é cadavezmaisimportante,masoscarre-gadores de grande potêncialevan-

tam várias questões pois a rede deelectricidade precisade teracapa-cidade de aguentar.

“Umainstalaçãoquetenhaseiscarregadores de 350 kilowattsnuma área de serviço numa auto-estrada:comoéquenósvamosaco-modar isto? Há um consórcio decincomarcasquequercriar400es-tações destas naEuropa. Tudo istocolocaumasériededesafiostecno-lógicos e a Efacec está a acompa-nhá-los”, afirmou Pedro Silva.

OministrodoAmbiente,porsuavez,anunciouqueasautarquiasefre-guesias vão receber 360 veículoseléctricos para os serviços urbanosambientais.JoãoMatosFernandesanunciouaindaqueoconcursoparaa apresentação de ideias pelos mu-nicípiosparaoprogramaLivingLabsarrancaemAbril,comumfinancia-mentodecercade5milhões.�

ANDRÉ CABRITA-MENDES

Carros eléctricos vão ser maisbaratos e com maior autonomia

NEGÓCIOS INICIATIVAS Energy and Mobility for Smart Cities

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Inês Gomes Lourenço

Todas as marcasenfrentam osobstáculos reaise psicológicos comque o cliente sedebate hoje em diapara comprar umcarro eléctrico: ocusto e a percepçãode autonomia.RICARDO TOMAZVolkswagen Portugal

A indústria tem deperceber que aquiloque agora é umincentivo por razõesambientais, vai ser,em princípio,objecto detributação no futuro.JOÃO GAMAFiscalista

Os carregadoresde grande potênciacolocam umasérie de desafiose a Efacec estáa acompanhar.PEDRO SILVAEfacec

“A evolução da tecnologia vai fazer com que os carros eléctricos ganhemcapacidade para mais quilómetros. Já os incentivos para a compra doseléctricos vão deixar de existir com o crescimento das vendas.

Carlos Jesus, da ZEEV, João Gama,

da Universidade Católica, Pedro

Silva, da Efacec e Ricardo Tomaz, da

Volkswagen, falaram sobre as novas

tecnologias de mobilidade.