COMO OTIMIZAR O ATENDIMENTO PRIMÁRIO NA … · A pesquisadora Barbara Starfield, ... segundo...

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COMO OTIMIZAR O ATENDIMENTO PRIMÁRIO NA SAÚDE PÚBLICA E OBTER RESULTADOS POSITIVOS?

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COMO OTIMIZAR O ATENDIMENTO PRIMÁRIO

NA SAÚDE PÚBLICA E

OBTER RESULTADOS POSITIVOS?

Introdução ....................................................................................................................................................... 3

A atenção primária à saúde ............................................................................................................................. 6

O atendimento primário ao cidadão .............................................................................................................. 11

A gestão e a liderança na atenção primária ................................................................................................... 13

A informatização nas visitas domiciliares ...................................................................................................... 16

A rastreabilidade no aumento da produtividade ........................................................................................... 18

A eficiência do atendimento primário ............................................................................................................ 20

A importância do atendimento humanizado .................................................................................................. 25

Conclusão ....................................................................................................................................................... 30

Sobre a MV ..................................................................................................................................................... 32

INTRODUÇÃO

4 INTRODUÇÃO

A atenção primária é conhecida como a porta de entrada dos cidadãos no sistema

de saúde púbica, orientando sobre prevenção de doenças, qualidade de vida e reintegração social, além de direcionar casos mais graves para níveis de atendimento de complexidade superior. Em outras palavras, a atenção primária funciona como um filtro para organizar o fluxo de serviços de saúde prestados pela nação. No Brasil, as políticas desse nível inicial de atendimento passam pelas Estratégias de Saúde da Família (ESF), equipes de consultórios de rua, Programa Brasil Sorridente, dentre outros programas, além dos serviços prestados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), que disponibilizam aos cidadãos exames de baixa complexidade, vacinas, radiografias, avaliações de rotina e demais procedimentos.

5 INTRODUÇÃO

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a atenção primária deveria ser organizada para solucionar cerca de 80% dos problemas de saúde da população. Dessa porcentagem, o ideal seria que de 3% a 5% dos casos fossem encaminhados a níveis superiores de atendimento. Tais informações demonstram, em números, a enorme relevância desse serviço na qualidade global da saúde pública prestada pelo país. O problema é que, infelizmente, o Brasil está bem longe de alcançar esses índices.

A pesquisadora Barbara Starfield, referência brasileira em atenção primária, relata em uma de suas mais importantes obras (Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia) um levantamento feito em 12 países industrializados que comprovou que nações com

uma orientação mais robusta para a atenção primária estão mais propensas a conseguir melhores níveis de saúde e custos mais baixos. E isso evidencia que, ao contrário do que pensam muitos gestores públicos, direcionamento de recursos a esse nível de atendimento não é despesa. Na verdade, é investimento que traz altos retornos financeiros aos cofres públicos.

Pensando exatamente nos desafios dos administradores públicos de saúde em meio a tudo isso, bem como na necessidade de capacitação desses agentes diretivos para que busquem soluções diferenciadas e, com isso, alcancem resultados de excelência em atenção à comunidade, chegamos a este e-book. Pronto para entender melhor tudo o que cerca a atenção primária de qualidade? Então nos acompanhe!

A ATENÇÃO PRIMÁRIA À

SAÚDE

7 A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Também chamada de atenção básica, a atenção primária à saúde se caracteriza por ser “um conjunto de ações de saúde, nos âmbitos individual e coletivo,

que se centraliza sobretudo na promoção e na proteção à saúde, na prevenção de agravos, no diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde — ações que devem ser desenvolvidas por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, e dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente nos lugares em que vivem essas populações”, segundo termos das orientações do Ministério da Saúde.

O grande equívoco dos gestores públicos a respeito da atenção básica está na compreensão equivocada do termo básico como algo de menor importância, inferior. Mas a realidade é que esse formato de atenção à saúde é extremamente complexo, uma vez que lida com uma diversidade imensa de problemas dos cidadãos ao mesmo tempo em que dispõe de poucos equipamentos e, em alguns casos, está inclusive distante do espaço hospitalar (como nos Programas de Saúde da Família, por exemplo).

8 A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Na verdade, deve-se entender o básico do termo como elementar, essencial, fundamental. Afinal, essa abordagem é capaz de diagnosticar problemas de saúde a tempo de serem sanados, antes de se transformarem em quadros clínicos mais graves, que certamente gerariam internações e, como consequência, maiores custos. A simples realização de exames cardiológicos de rotina feitos pela atenção primária já poderia reduzir os casos de internação hospitalar por Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença que mata cerca de 100 mil brasileiros ao ano. Não tem como fugir: a contabilidade hospitalar se torna mais complicada quando a atenção básica é ignorada.

O objetivo máximo da atenção primária é reduzir a fragmentação com a qual a área da saúde tende a lidar com o ser humano, contribuindo para melhorar

a qualidade de vida e a saúde das famílias de forma global (nos âmbitos físico, emocional e social), ao invés de tratar pontualmente as doenças. O propósito é reduzir a assimetria de conhecimentos dos profissionais e estimular o trabalhar em equipe, identificando os principais quadros clínicos da comunidade e buscando soluções enquanto tais patologias ou problemáticas ainda se encontram em estado embrionário.

E por mais que os recursos sejam escassos, o planejamento das ações é fundamental para o sucesso das políticas de atenção primária. Conhecer a comunidade e entender suas especificidades é o primeiro passo no processo de compreensão plena da situação dos usuários do serviço. Nessa etapa, o gestor público e sua equipe devem:

9 A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

IDENTIFICAÇÃO

Identificar as famílias que precisam de atenção especial, seja no cadastramento da comunidade que frequenta as unidades de saúde ou no olhar dos profissionais responsáveis pelas visitas domiciliares. O objetivo é verificar a presença de idosos de alto nível de debilidade, pessoas com deficiências, portadores de transtornos mentais, entre outros.

CLASSIFICAÇÃO

Realizar, por meio de softwares de gestão de saúde com módulos de atenção primária, uma estratificação de risco familiar visando uma priorização no atendimento dos membros da comunidade, a fim de definir, no dia a dia, quais famílias terão atenção especial.

QUALIFICAÇÃO

Qualificar a atenção a partir de um projeto terapêutico, observando estritamente as características específicas de cada indivíduo. O acompanhamento deve ser personalizado, levando em consideração o contexto das famílias, seu nível de carência de serviços públicos e assim por diante. Por meio dessas premissas é que serão agendados os retornos periódicos, convocados os especialistas e deliberadas outras práticas que potencializem os cuidados oferecidos.

DIAGNÓSTICO

Diagnosticar os cidadãos em situação de transtorno por força de discriminação (étnica, sexual, gênero) ou estigma de certas patologias, bem como crianças em situação de extrema vulnerabilidade, que necessitem de um acompanhamento psicológico mais intenso (em virtude de abusos, por exemplo).

10 A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

RETROAÇÃO

Aprofundar-se em um constante processo de retroação, reunindo as equipes para analisar os resultados dos acompanhamentos, bem como para discutir medidas de aprimoramento dos cuidados à comunidade.

ABORDAGEM

Levar em conta as particularidades de parcelas da população que devem receber uma abordagem diferenciada por parte de equipes especializadas (caso de quilombolas, indígenas ou assentados, por exemplo).

PARCERIA

Atuar estrategicamente em consonância com outros níveis de atenção (como centros odontológicos, de atenção psicossocial, maternidades e assim por diante) e estabelecer parcerias com outros setores, tais como creches, escolas, fundações de recolocação profissional, instituições religiosas, entre outros.

O ATENDIMENTO PRIMÁRIO AO

CIDADÃO

12 O ATENDIMENTO PRIMÁRIO AO CIDADÃO

Tratamos no tópico anterior sobre a padronização de processos e a necessidade de se estabelecer estratégias para a

obtenção de resultados reais, que de fato mudem a vida da comunidade. É indiscutível, portanto, que os crescentes custos com tratamentos de emergência, as altas taxas de retorno (usuários que recebem alta e acabam voltando à instituição pouco tempo depois com as mesmas queixas), bem como o crescimento desordenado da população colocam a atenção primária no cerne de uma política pública de saúde de qualidade.

Isso porque muitas internações registradas nos hospitais do país nada mais são que reflexos das precárias condições sociais, sanitárias e econômicas vivenciadas sobretudo pelas parcelas mais carentes da população, bem como devido

a seus desarranjos emocionais, familiares e da falta de perspectiva de vida. E, na prática, todas essas questões não só poderiam como deveriam ser tratadas antes de sua somatização, cuja consequência se vê traduzida em altos custos com internações e medicamentos e o consequente impacto sobre a contabilidade hospitalar.

Por envolver muitos profissionais, desde clínicos gerais, passando por enfermeiros e pediatras até chegar aos psicólogos e assistentes sociais, os processos devem ser devidamente coordenados e padronizados, a fim de evitar retrabalhos ou o afogamento nos centros de atendimento. O êxito dessas ações depende fundamentalmente, pois, da capacitação dos gestores locais, para que consigam desenvolver processos e iniciativas relatados no tópico anterior com eficiência e efetividade.

A GESTÃO E A LIDERANÇA NA ATENÇÃO

PRIMÁRIA

14 A GESTÃO E A LIDERANÇA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Liderança motivacional: é essa a expressão que deve estar na mente do responsável pela saúde pública de um município ou estado ao montar

sua equipe de gestores. Já está mais que constatado, afinal, que o antigo chefe autocrático, centralizador, que nega a liberdade, restringe a informação e comanda com base no medo e na sanção, obtém resultados inferiores aos dos líderes democráticos. Esses, por sua vez, coordenam suas equipes com base na confiança, na descentralização, no empoderamento e nas políticas de valorização (como nas Teorias X e Y, de Douglas McGregor).

Liderar é assumir responsabilidades enquanto outros inventam justificativas. É ser capaz de construir a fidelidade de um time em torno da missão da organização, transformando grupos que atuam em nome de seus próprios interesses em verdadeiras equipes coesas, fechadas em direção a um mesmo alvo. O problema é que a administração pública é, historicamente, carente de líderes e repleta de chefes autocráticos, muitos nomeados puramente por questões políticas e não por capacitação e talento. E, obviamente, esse critério explica boa parte de seu fracasso.

15 A GESTÃO E A LIDERANÇA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Será que tais lideranças saberiam dizer por quantas famílias cada agente comunitário será responsável, que cidadãos receberão atendimento especial, como integrar os trabalhos de uma equipe multidisciplinar para que o atendimento humanizado seja implementado com uma visão holística sobre cada cidadão, como coordenar e monitorar as ações, gerenciar indicadores, detectar e implementar mudanças? Pois todo esse conjunto de iniciativas só resultará em sucesso se estiver sob a organização de um líder genuíno, capaz de transformar sua equipe em um exército de missionários e não em um aglomerado de funcionários desmotivados, que não enxergam o sentido de seu cotidiano profissional, nem se sentem parte do projeto. Remodelar esses paradigmas depende de um líder transformacional, parte imprescindível no êxito de um projeto de atenção primária.

Sendo oriunda de fatores internos e externos (Teoria dos 2 fatores de Herzberg), a motivação impõe a necessidade de identificar profissionais com influência positiva sobre os demais (caso lideranças locais sejam escolhidas internamente), bem como de ir além das afinidades políticas, observando critérios técnicos. Vale lembrar que uma pesquisa elaborada pela consultoria global HayGroup, em 2013, mostrou que 50% dos líderes criam climas desmotivadores e 26% não dominam nenhum ou apenas um aspecto da arte de liderar. O levantamento ainda constatou que só 19% dos líderes promovem um ambiente de trabalho de alto desempenho. Eis aí, portanto, evidências de que a escolha dos líderes faz toda a diferença nos resultados.

A INFORMATIZAÇÃO

NAS VISITAS DOMICILIARES

17 A INFORMATIZAÇÃO NAS VISITAS DOMICILIARES

Uma das muitas falhas que explicam o fracasso do atendimento primário na saúde pública brasileira é o baixo nível de informatização

na coleta de dados dos agentes comunitários, bem como a falta de integração entre os dados obtidos nas visitas às residências e os fornecidos pelo próprio cidadão ao ser atendido em uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Em plena era da conectividade, os agentes comunitários da maior parte dos municípios ainda trabalham munidos de prancheta, caneta e papel para registrar todas as informações clínicas dos usuários do serviço visitados, o que resulta em baixa produtividade, extravios, divergência de dados e descontrole na geração de informações estratégicas por meio de dados que poderiam estar totalmente digitalizados.

Em função dessa precariedade das ferramentas de apoio empregadas nos programas de atenção primária, muitos municípios vêm adotando soluções especializadas em atenção básica. Assim conferem mobilidade, integração e atualização em tempo real de todas as informações coletadas. Como esse tipo de aplicação é desenvolvida em linguagem web, é possível acessar o banco de dados a partir de qualquer lugar para visualizar os registros por meio de dispositivos móveis, como smartphones ou tablets, eliminando dessa forma o uso de papel e podendo compartilhar os dados de atendimento com todos os usuários da rede.

A RASTREABILIDADE

NO AUMENTO DA PRODUTIVIDADE

19 A RASTREABILIDADE NO AUMENTO DA PRODUTIVIDADE

São milhares de famílias, dezenas de quadros clínicos diferentes e poucos profissionais incumbidos de fazer o acompanhamento

dessas condições de saúde. Por tudo isso e muito mais, para gerir esse processo com excelência, é preciso contar com controles adequados de modo a facilitar o planejamento, a divisão dos grupos de profissionais por área e o monitoramento dos resultados obtidos. E o primeiro passo a ser dado em prol dessa missão é implementar um software que possibilite o rastreamento de cada profissional envolvido nas tarefas externas.

Para aumentar a produtividade e atender a um número maior de famílias sem perder qualidade, é preciso saber se o agente comunitário está de fato se dirigindo às residências delimitadas pelos gestores, bem como o tempo gasto em cada visita. Essa consciência logística facilitará os estudos e a adoção de melhorias na metodologia como um todo. E bons softwares de gestão de saúde pública costumam disponibilizar a rastreabilidade através da geolocalização.

A EFICIÊNCIA DO ATENDIMENTO

PRIMÁRIO

21 A EFICIÊNCIA DO ATENDIMENTO PRIMÁRIO

Dado o alto grau de subjetividade envolvido nos resultados, mensurar variáveis qualitativas nem sempre é fácil. Mas muito além da

quantidade de pessoas alcançadas pelos serviços, o mais importante no trabalho de retroação em atenção básica é compreender se os atendimentos vêm sendo verdadeiramente efetivos na vida dos cidadãos, assim como se proporcionam a redução da pressão nos centros emergenciais dos hospitais públicos e melhoram a qualidade de vida das famílias.

Para tentar dar mais objetividade a variáveis intangíveis, criou-se um comitê do Institute of Medicine, em 1978, para discutir o estabelecimento de atributos da atenção primária com vistas a torná-la um serviço possível de ser medido e, assim, melhorado.

O comitê é um marco na história da saúde comunitária, já que dele foram extraídas as bases para muitos indicadores até hoje usados nas discussões sobre o tema.

Essa força-tarefa listou 5 atributos que obrigatoriamente deveriam ser considerados na mensuração da eficiência do atendimento primário e que, posteriormente, foram aprimorados pela comunidade médica. São eles: acessibilidade, integralidade, continuidade, responsabilidade e coordenação. Para os gestores que ainda não sabem como medir a qualidade dos serviços prestados à comunidade, esses 5 atributos podem ser usados ainda como ponto de partida para gerar dezenas de indicadores que o auxiliarão a ter uma visão mais clara sobre o que é oferecido à sociedade.

22 A EFICIÊNCIA DO ATENDIMENTO PRIMÁRIO

VARIÁVEIS QUALITATIVAS

De posse dos atributos a serem mensurados, deve-se criar indicadores que deverão ser levantados por meio de questionários aplicados aos usuários. A autoavaliação feita pelos gestores e agentes comunitários também deve se juntar aos dados colhidos dos usuários, formando um conjunto de informações qualitativas de maior confiabilidade. Para quem não faz ideia de como montar um questionário que agregue valor na consciência da efetividade dos serviços de saúde prestados, Barbara Starfield (na obra citada lá na introdução) lista algumas afirmações que podem ser inseridas no processo de inquirição para verificar, ao final, a quantidade de respostas afirmativas. Veja:

» Acessibilidade: “eu poderia ligar para meu médico me queixando de dor no peito e certamente receberia uma resposta imediata” e “se eu ligasse para meu médico e me queixasse de algum problema emocional, seria atendido dentro de um prazo razoável”.

» Continuidade: “meu médico me visita regularmente, ainda que eu não tenha uma enfermidade específica” e “meu médico vem acompanhado meu quadro clínico com frequência”.

» Responsabilidade: “os resultados do meu tratamento são repassados a mim e eu percebo o comprometimento de toda a equipe com minha saúde”.

» Integralidade: “meu médico contempla a maioria dos meus problemas de saúde física ou emocional” e “meu médico tem um alto conhecimento sobre minha situação clínica e meu histórico de vida”.

» Coordenação: “se eu precisar de algum exame laboratorial, meu médico me explica os resultados” e “se há muitos profissionais de saúde envolvidos em meu tratamento, meu médico os organiza”.

23 A EFICIÊNCIA DO ATENDIMENTO PRIMÁRIO

VARIÁVEIS QUANTITATIVAS

Indicadores quantitativos (como a quantidade de famílias atendidas, a relação entre agentes e população total, o índice de patologias mais frequentes e o percentual de resolutividade dos casos abordados, por exemplo) também devem ser agregados ao processo avaliativo. Afinal, sem referências, não é possível saber para onde se está caminhando. Mas, da mesma forma, com referências e sem as ferramentas adequadas para visualizá-las e interpretá-las, tampouco se chegará a algum lugar.

Assim, por mais que os subtítulos acima tenham mostrado algumas das variáveis a serem analisadas e como chegar até elas, quando de posse dos dados, é preciso contar com a precisão e a velocidade dos sistemas de informação. Pense bem: não é razoável imaginar que, a olho nu, será possível cruzar centenas de respostas de uma infinidade de cidadãos a fim de compreender o que precisa ser melhorado, quais são as futuras tendências e os melhores caminhos para se chegar à excelência.

24 A EFICIÊNCIA DO ATENDIMENTO PRIMÁRIO

A questão central aqui é que os gestores públicos de saúde costumam ter pouco contato com as soluções de negócios costumeiramente utilizadas na iniciativa privada. Portanto, sequer sabem os custos e os benefícios de suas implementações. É o que acontece, por exemplo, com o emprego do Business Intelligence, fundamental na análise eficaz de indicadores. Vale lembrar que Business Intelligence é o nome dado a softwares de gestão de alto desempenho e incrível competência de processamento, capaz de tratar um oceano de dados brutos em segundos.

Geram não só indicativos assertivos sobre a atual conjuntura da prestação de serviços de saúde à população como agregam as informações de todo o histórico de atendimento, permitem acesso de forma remota, integram informações entre todos os agentes envolvidos e, principalmente, apresentam e mensuram

indicadores, servindo de base para a definição de metas de qualidade. E acredite: esse sistema pode ser adquirido a custos relativamente baixos, já que a utilização costuma ser feita por licença.

De fato, o estabelecimento de metas é o grande calcanhar de Aquiles dos serviços públicos. Isso porque, em linhas gerais, a linha de comando é frágil, a capacitação dos gestores locais é baixa, os mecanismos de incentivo, o preparo e a motivação dos servidores são falhos ou até mesmo inexistentes, além de os estatutos imporem uma enorme rigidez legal. E tudo isso dificulta a transformação das metas em bússola suprema para o alcance da excelência. Como então minimizar esses obstáculos? Simples: com um software que consiga controlar as ações individuais, compará-las e mostrar relatórios e gráficos de desempenho. Daí surge a necessidade de informatizar a atenção primária oferecida no país.

A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO

HUMANIZADO

26 A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO HUMANIZADO

Ao mesmo tempo em que atendimento humanizado é a expressão atualmente mais ouvida na área da saúde, a prática

não costuma corresponder. E isso pode ser parcialmente explicado pela subjetividade inerente ao conceito. Quando um cidadão procura uma unidade de saúde ou recebe a visita de um agente comunitário, em geral, está em um momento de vulnerabilidade física ou emocional, o que exige uma maior sensibilidade por parte dos profissionais. Por isso, a equipe que atua no atendimento das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), bem como todos os envolvidos nas visitas domiciliares devem ser treinados para promoverem uma abordagem delicada, paciente e compreensiva. Não tem mistério: sensibilidade é palavra-chave quando o assunto é atendimento humanizado.

Além da capacidade de ouvir e transmitir acolhimento, virtudes que devem ser foco da capacitação dos servidores públicos da área da saúde, essa nova visão humanizada de prestação de serviços deve envolver um olhar integral sobre o ser humano.

Ao longo das décadas, a superespecialização da Medicina formou um exército de profissionais que se centralizam apenas na compreensão das patologias vindas de um único órgão, tecido ou grupo celular. Perdeu-se, assim, a visão do todo. Como resultado, os profissionais da saúde desenvolveram uma perspectiva estrábica do organismo humano.

Esqueceu-se que o indivíduo é formado pela interligação plena de sistemas, bem como que seus aspectos físicos costumam ser reflexos de perturbações emocionais e vice-versa. E tudo isso exige, na contramão do que vem sendo praticado há anos, uma visão 360º do cidadão. Tal sutileza em captar as fragilidades físicas, emocionais, sociais e espirituais deve ser a linha de base dos cursos de capacitação dos profissionais envolvidos no atendimento à população. Esse é um dos passos mais importantes para melhorar a qualidade da atenção primária no Brasil, melhora que se inicia não com profundas mudanças estruturais nos serviços prestados, mas na forma de enxergar o ser humano e o papel dos agentes na sociedade.

27 A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO HUMANIZADO

AS PERSPECTIVAS DO ATENDIMENTO HUMANIZADO

O atendimento humanizado deve envolver, portanto, diversas perspectivas, como:

» Nível de afetividade da abordagem adequada dos profissionais de saúde.

» Compreensão que o indivíduo é resultado de múltiplos fatores (endógenos e exógenos) e que todas as suas nuances devem ser observadas atentamente pelos agentes comunitários.

» Afabilidade incorporada nas atitudes dos servidores se refletir na infraestrutura das unidades de saúde.

28 A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO HUMANIZADO

Como exemplo dessa incorporação estrutural, podemos citar o Hospital Santa Catarina, em São Paulo, que implementou recentemente uma profunda mudança na decoração e arquitetura de suas dependências, a fim de diluir aquele aspecto sombrio típico dos hospitais. As paredes brancas ganharam cores mais vivas, dividindo espaço com obras de arte espalhadas pelos corredores. Um piano no rol de entrada substituiu os bancos das filas de espera, que por sua vez foram trocados por poltronas mais confortáveis, posicionadas em locais mais agradáveis e ventilados. Isso também é atendimento humanizado e certamente gera impactos na qualidade do atendimento primário ao ser implantado no setor público.

Vale lembrar, por fim, que o atendimento humanizado é capaz de acelerar sobremaneira o processo de recuperação dos usuários do serviço. Há, inclusive, um esforço do governo federal em disseminar as boas práticas de cuidados em saúde por meio do chamado HumanizaSUS, que visa estabelecer novas estratégias para aumentar a capacidade de resposta das equipes de atenção primária, por meio de implementação de novas tecnologias, melhor integração entre os especialistas, construção de vínculos e muito mais.

29 A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO HUMANIZADO

UM EXEMPLO PRÁTICO DE SUA EFETIVIDADE

Partindo do conhecimento de que naquela região havia muitos jovens carentes, sem profissão, a equipe de atenção primária teve a ideia de sugerir ao idoso a transformação de sua varanda em um atelier, para ensinar aos jovens o ofício que tanto dominava. Passados alguns meses, o antigo cenário mórbido e silencioso da casa do marceneiro deu lugar a um ambiente com muita vida e aprendizado. O resultado dessa iniciativa foi uma expressiva melhora do quadro depressivo do cidadão, com redução na quantidade de visitas à unidade de saúde e o fim da administração dos medicamentos controlados.

A criação de vínculos, a visão 360º da situação e a proatividade dos agentes resultaram em economia de custos ao município (com a suspensão do fornecimento do fármaco controlado, que impacta na contabilidade hospitalar local) e a retomada do significado da vida de um membro da comunidade abraçado pelo serviço de atenção básica. Isso é atenção primária eficiente.

Um case interessante sobre o poder do atendimento humanizado no processo de recuperação e reinserção social dos cidadãos pode ser visto por depoimentos de agentes comunitários do Centro de Saúde Paranapanema, no Distrito Sul de Campinas, descritos no manual do Ministério da Saúde acima mencionado, sobre o quadro depressivo crescente e preocupante de um idoso que é antigo conhecido das equipes locais de atenção primária.

O agravamento de seu quadro clínico, mesmo com a administração de medicamentos controlados, fez com fosse designado um profissional para visitá-lo em sua residência, em busca da obtenção de pistas sobre como conduzir o tratamento dali para frente. O agente comunitário constatou o estado de profunda solidão vivenciado pelo cidadão, bem como descobriu que se tratava de um expert em marcenaria. O agente retornou com uma nova visão, tanto que as informações por ele colhidas forneceram subsídios para reuniões na unidade de saúde.

CONCLUSÃO

31 CONCLUSÃO

Em quase todas as nações não é difícil observar uma tendência à excessiva especialização, o que acaba resultando em profissionais com

visão fragmentada do indivíduo, já que raramente as doenças eclodem de forma isolada, sem conexão com outros sistemas, órgãos, motivadores psíquicos ou sociais. Assim, além de mais limitada, a atenção especializada feita nos hospitais, de caráter curativo e emergencial, é muito mais cara que a atenção primária. Não há, portanto, como prover saúde pública de qualidade apostando apenas nos tratamentos curativos em situações de urgência.

Atenção médica eficiente é aquela que não se preocupa apenas em tratar uma enfermidade específica, mas analisá-la dentro do contexto em que ocorre. E esse é exatamente o papel que a atenção primária se propõe a desempenhar. Trata-se, portanto, de um passo fundamental no alcance da excelência em saúde pública, o que justifica o direcionamento de recursos para investimentos em tecnologia, capacitação, gerenciamento de metas e formação de lideranças verdadeiramente capazes de promover uma transformação na sociedade em que estão inseridas.

A MV é líder no mercado brasileiro de sistemas de gestão de saúde. Tendo como principal atividade o desenvolvimento de softwares, complementado por serviços de consultoria, a empresa fornece soluções que atendem a hospitais, operadoras de planos de saúde, centros de medicina diagnóstica e toda a rede de saúde pública, incluindo a gestão de unidades, atenção primária, complexo regulador, assistência farmacêutica e transporte sanitário. Mais de 1000 instituições, 100 mil médicos usuários e 275 mil profissionais usuários já integraram diversas soluções MV aos seus cotidianos para responder com eficiência, agilidade, precisão e segurança a todas as necessidades de gestão da informação na saúde.

Outras informações no www.mv.com.br.