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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO
CENTRO EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
JOCILEIDE DA SILVA COSTA
COMO OS JOVENS COMPREENDEM A ESCOLA: o papel da escola
sob a percepção de alunas do ensino médio.
NATAL/2015
JOCILEIDE DA SILVA COSTA
COMO OS JOVENS COMPREENDEM A ESCOLA: o papel da escola
sob a percepção de alunas do ensino médio.
Monografia apresentada ao curso de Pedagogia
do Centro de Educação da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, como requisito parcial
para obtenção do grau de licenciado em
Pedagogia.
ORIENTAÇÃO: Prof.ª Dr.ª MARISA NARCIZO SAMPAIO
NATAL/2015
COMO OS JOVENS COMPREENDEM A EDUCAÇÃO: O PAPEL DA
ESCOLA SOB A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS.
JOCILEIDE DA SILVA COSTA
Monografia apresentada ao curso de Pedagogia
do Centro de Educação da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, como requisito parcial
para obtenção do grau de licenciado em
Pedagogia.
Aprovado em: ____/____/____
BANCA EXAMINADORA:
Prof.ª Dr.ª Marisa Narcizo Sampaio – Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande Do Norte- UFRN
___________________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre da Silva Aguiar (Examinador)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Prof.ª Dr.ªAna Santana de Souza (Examinadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
DEDICATÓRIA
Em especial à minha família que sempre
acreditou no meu potencial, e que me deu
força e estímulos para seguir em frente,
mas, e principalmente ao meu Deus, que
me deu a capacidade de chegar até o fim.
AGRADECIMENTOS
À Deus em primeiro lugar, que esteve sempre ao meu lado e me deu a
capacidade que eu nunca imaginei que teria, sem Ele, nada sou. Em especial ao
meu pai José Arlindo que tanto admiro e que desde a divulgação da minha
aprovação no vestibular, sempre esteve ao meu lado me apoiando e me
aconselhando.
E à minha mãe Maria de Fátima que eu tanto amo. E que nas idas e vindas
de cada semestre estava sempre ali me lembrando de que era só mais uma etapa e
que logo, logo, acabaria e eu poderia voltar pra casa.
Não vou esquecer jamais do meu irmão Júnior que sempre esteve ao meu
lado, disposto a me apoiar a qualquer momento que precisasse,cuidando para nada
dar errado nessa minha trajetória.
E ainda aos meus tios e tias,os quais sempre se mostraram cuidadosos e
preocupados com minha ausência, almejando o término do curso o mais rápido
possível. Mais que eu até.
Aos meus avós Maria Dalva e Severino e Maria Rita, que sempre se
orgulharam por eu ser a primeira universitária da família, para eles eu não poderia
dar maior troféu, sempre se orgulharam de mim, apoiando e acreditando que um dia
eu chegaria lá.E cheguei! Enfim à minha família de um modo geral, pois cada um me
apoiou da sua maneira.
Às minhas amigas de turma, Ana Araújo, Kainara Mendes, Jennifan Larissa
e Bruna Cristina que foram minha família nesse período de cinco anos morando em
Natal. A quem eu sempre recorri e das quais nunca me separei, meninas, nunca me
esquecerei de vocês, princípios como fidelidade, parceria, confiança e amizade
levarei por toda a vida junto com as lembranças dos nossos momentos de
gargalhada.
À professora Marisa, que com sua paciência e sabedoria soube me guiar
nesse processo de construção, moldando e aperfeiçoando-me. Comparo seu
trabalho professora Marisa, com o trabalho do Oleiro, que com mãos cuidadosas vai
estruturando e dando forma a um pedaço de barro.
Não podia deixar de falar do meu esposo, pessoa especial que o Senhor
colocou em minha vida, que sempre me deu força, e esteve ao meu lado, me
apoiando da sua maneira. Com você aprendo um pouco todo dia! E ainda à Escola
Estadual Francisco de Assis Bittencourt e às suas ex-alunas que se dispuseram a
participar desse trabalho, sem vocês esse trabalho na existiria. E por fim,e mais uma
vez ao meu Deus, que colocou todos vocês em minha vida, para que cada um
viesse contribuir de um modo diferente em minha formação como ser humano.
RESUMO
O presente trabalho é resultado de uma pesquisa realizada com jovens de Queimadas, distrito de João Câmara/RN, localizado a 100 km de Natal. A pesquisa é de natureza qualitativa e foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com cinco jovens mulheres que já concluíram a educação básica. As reflexões aqui estabelecidas estão também relacionadas com autores como Paulo César Carrano, Juarez Dayrell e Paulo Freire, entre outros que abordam a função da escola na sociedade e as dificuldades relacionadas à escola pelos jovens. O objetivo é conhecer o valor atribuído à escola por parte dessas jovens, considerando o processo formativo de cada uma, e a importância que atribuem às aprendizagens escolares para sua vida. Baseada nos dados das entrevistas, relaciono o papel da escola atribuído pelas jovens, com o papel da escola proposto nos documentos que norteiam a educação básica confrontando como realmente tem se desenhado o papel da escola na vida dessas jovens mulheres. Faço um levantamento das dificuldades que essas jovens enfrentam no que diz respeito ao acesso à continuidade da formação, ao acesso ao mercado de trabalho e à sua condição feminina, relacionando-as ao fato da função da escola não se concretizar. Assim, este trabalho, aponta que a escola tem deixado muitas lacunas a serem preenchidas, e que ocasionaram consequências nas perspectivas de realização de projetos futuros para as alunas, pois suas falas demonstram que não tem sido cumprido o que está proposto como função ideal de educação, de acordo com as legislações que determinam e orientam a formação escolar que é a formação integral (cidadã) do aluno e seu preparo para a vida e para o mercado de trabalho. Esse papel da escola também não vem sendo exercido de acordo com o que as alunas esperam dela, que é a capacitação para a inserção na Universidade.
Palavras-chaves: Papel da escola. Mulheres. Aprendizados escolares. Formação
cidadã.
Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 9
1 JOVENS MULHERES: SONHOS FRUSTRADOS. ...............................................................................18
2 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: ASCENSÃO SOCIAL ......................................................................28
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................................41
APÊNDICE .......................................................................................................................................................43
ANEXOS ..........................................................................................................................................................44
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INTRODUÇÃO
Sendo aluna do curso de Pedagogia, durante todo meu processo de
formação, refleti sobre como eu, enquanto ser humano/profissional, poderia fazer a
diferença para a sociedade em que vivo. A escolha do curso se deu por motivos de
origem familiar e pessoal.
Sempre ouvi do meu pai sua frustração por não ter conseguido estudar pelo
fato de precisar trabalhar, e pelo não acesso à escola, sentia-se excluído do mundo.
Segundo ele, sua vida seria bem diferente se tivesse frequentado a escola, portanto
na intenção de ajudar adultos como meu pai, a ter direito ao acesso à educação,
decidi ser professora. Por outro lado, na escola em que cursei o Ensino Médio, tive
professores que incentivavam bastante os alunos a prosseguirem seus estudos no
ensino superior e um desses professores em especial me chamou atenção, decidi
me espelhar nele, fiz meu primeiro vestibular e fui aprovada.
Assim, desde que comecei o curso, penso em voltar para o interior e lá pôr
em prática os conhecimentos adquiridos na Universidade. E para começar esse
processo de mudança, voltei meu olhar à comunidade na qual vivi toda minha vida
até chegar ao curso de Pedagogia.
Queimadas é uma comunidade que compõe o município de João Câmara,
localizada a 100 km de Natal. Ao refletir sobre uma problemática da comunidade
relacionada à escola, observei a ociosidade presente na vida dos jovens que estão
fora da escola e sem trabalhar.
Esses jovens não foram incluídos em seu período escolar, em nenhum tipo
de projeto, que desenvolvesse capacidades inerentes à formação cidadã, tais como
capacidades cognitivas, artísticas, culturais, de inserção social ou de trabalho, que
poderiam tanto contribuir para a formação integral dos alunos quanto incentivá-los a
dar continuidade nos estudos. Se os alunos não tiveram acesso a essa gama de
conhecimentos dentro da escola tampouco teriam fora dela.
No Caderno de Formação de professores do Ensino Médio (BRASIL, 2010,
p. 10) está claro que, “os jovens em especial os dos setores populares, não são
beneficiados por políticas públicas suficientes que lhes garantam o acesso a bens
materiais e culturais, além de espaços e tempo para que possam vivenciar
plenamente essa fase tão importante da vida”.
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Na comunidade de Queimadas esses jovens se distribuem entre dois
grupos. Por um lado, jovens que concluíram o ensino médio e não prosseguiram em
seus estudos ingressando no ensino superior, e que atualmente não exercem
nenhuma função de trabalho ou estão imersos no submundo do emprego onde são
explorados, trabalhando muito e ganhando abaixo das condições mínimas de
direitos trabalhistas. Por outro lado, jovens que não concluíram a educação básica,
tampouco ingressaram no ensino superior e desfrutam das mesmas condições
trabalhistas. A presente pesquisa, portanto, está voltada para o primeiro grupo.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio Brasil, (1998)
Art.4º inciso I, estabelecem como finalidades do Ensino Médio, capacitar os jovens
quanto ao desenvolvimento de uma autonomia intelectual, onde ao próprio sujeito
interessa a busca pelo saber, desenvolvendo um pensamento crítico, no qual toma
ciência do seu contexto e consequentemente de sua condição enquanto ser social,
tornando-o capaz de prosseguir os estudos. Assim, quando me deparei com jovens
nas condições em que se encontram os jovens de Queimadas, constatei a
ineficiência da educação básica, bem como as consequências sofridas na vida dos
estudantes.
Diante desse contexto é necessário destacar a importância e função não só
do Ensino Médio, mas da educação básica de um modo geral. As Diretrizes
Curriculares Nacionais, afirmam que:
Tendo em vista que a função precípua da educação, de um modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Educação Básica – em particular, vai além da formação profissional, e atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual, assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos, sem perder de vista que a educação também é, em grande medida, uma chave para o exercício dos demais direitos sociais. (BRASIL, 2013,p. 145)
Para entender as relações que os jovens dessa comunidade mantêm com o
acesso ao ensino superior e consequentemente ao mercado de trabalho, assim é
necessário voltar cerca de 10 anos atrás, e refletir como era o acesso à
escolarização e ao mercado de trabalho por esses jovens, levando em consideração
o desenvolvimento econômico da comunidade de Queimadas.
Há aproximadamente 10 anos, as oportunidades de trabalho centravam-se
basicamente em atividades agrícolas (aqui se inclui a plantação e colheita de milho e
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feijão, ambas remuneradas, como também a colheita de castanha e caju e o corte
de lenha), para grande maioria tanto jovem quanto adulto, submetidos a péssimas
condições de trabalho, os chamados “boia fria”.
Outra atividade importante na comunidade era e atualmente ainda é a
prática do comércio que se limita a uma minoria, geralmente os donos das terras
agrícolas onde a grande massa da população local trabalhava. O esforço
exacerbado e as grandes jornadas diárias submetiam alguns jovens (me refiro aos
jovens do período citado acima, não os que são foco da pesquisa) à falta de
estímulo para estudar, pois depois de um dia trabalhoso chegavam exaustos e
muitos deles não tinham forças para frequentar assiduamente a escola. Chegavam a
se matricular, mas desistiam na maioria das vezes por não conseguirem o sucesso
escolar.
Atualmente, com o investimento do governo Estadual em parques eólicos, as
oportunidades de emprego melhoraram bastante, porém a realidade quanto à
permanência na escola e principalmente prosseguimento em uma formação
profissional não mudou tanto. Alguns desses jovens, geralmente do sexo masculino,
foram atraídos pelos salários “altíssimos” 1, e direitos trabalhistas garantidos pelas
empresas de construção civil2·. Essa oferta de emprego faz com que os jovens não
almejem formação profissional por meio da escolarização. Isso ocorre porque,
segundo alguns jovens da comunidade, pensam que podem garantir a
profissionalização dentro das próprias empresas com a assinatura da carteira.
Diante desse “desenvolvimento econômico”, os homens, tanto os mais
velhos quanto os mais jovens que ainda estão em idade escolar, e que antigamente
não frequentavam a escola por trabalharem exaustivamente, não veem a
necessidade de estudar, considerando o que ganham atualmente nessas empresas.
Como sempre morei na comunidade de Queimadas, conheço quase todo mundo
que mora lá e tenho uma aproximação maior e principalmente com os jovens. Muitas
vezes ao dialogar com eles percebo que entendem que não é muito vantajoso
estudar, pois não vai acrescentar em nada no salário, além disso, já ganham muito
bem, sem ter tido a necessidade de estudar.
Quando as empresas terminam a construção dos parques eólicos na
comunidade, seguem para outros estados, oferecem uma melhor proposta de salário 1 Comparando com o que se ganhavam antes da chegada dessas empresas. 2 Responsáveis pela construção e montagem dos parques eólicos.
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para os trabalhadores (os jovens que saíram da escola para trabalhar, e os que já
concluíram a educação básica), e alguns destes jovens trabalhadores optam por
viajar junto com as empresas, almejando uma melhoria de vida, pois poderão ser
promovidos e consequentemente aumentar o salário garantindo assim a
empregabilidade e uma condição de vida melhor. Já os que não vão junto com as
empresas, seja por falta de vagas ou somente porque não querem, ficam sem
trabalhar e voltam às condições de trabalho anteriores 3 , e mesmo assim não
almejam outra formação profissional por meio da escolarização.
Já as mulheres, usufruem pouco desse contexto de desenvolvimento
econômico, com uma atuação mais restrita, nas empresas que prestam serviços
terceirizados pela limpeza dos escritórios, bem como nas empresas de vigilância e
restaurantes. Essas mulheres que trabalham, terminaram o Ensino Médio há mais
tempo, são casadas ou já foram e já possuem filhos, o que se torna uma dificuldade
pra voltar a estudar ou pra fazer algum curso profissionalizante.
Porém, essa oferta de trabalho suscita nas mais jovens o desejo de encontrar
uma vaga também, pois é a opção existente na comunidade. Ao conversar com
algumas delas sugiro que procurem meios para entrar em uma universidade e se
profissionalizem, de imediato elas já apresentam vários motivos que se colocam
como barreiras e as impedem até mesmo de tentar, dentre eles: as condições
financeiras que são poucas; a dificuldade para realizar os processos seletivos; a
falta de informações quanto à abertura dos processos seletivos; a dificuldade
relacionada à burocracia no ato da inscrição e a dificuldade de se inscrever nesses
processos, entre outras mais.
Para tanto, surgiu a necessidade de conhecer a importância da escola na vida
dos jovens que já passaram por ela, de modo que, a partir das descobertas sejam
levantadas propostas para se trabalhar com os jovens que virão e ainda estão se
escolarizando.
Assim, o propósito central do trabalho é conhecer o valor atribuído à escola
por parte desses jovens, considerando o processo formativo de cada um, e a
importância que atribuem às aprendizagens escolares para sua vida, ou seja, como
o aluno pensa o papel da escola?Acredito que por meio dos resultados da presente
pesquisa, posso contribuir para a formação dos jovens da minha comunidade. 3 Atividades de plantação e colheita de milho e feijão, ambos remunerados, como também a colheita de castanha e caju e o corte de lenha.
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Pensando o papel da educação sob a perspectiva da formação cidadã e da
construção de sujeitos autônomos que transformam a si e o meio, como afirmam os
PCN’s e as DCN’s, acredito que esse papel de formação social que deveria ser
promovido pela escola, sofre influências tanto da família, quanto do contexto social.
Dessa maneira, o estudo da problemática surgiu pelo fato de eu estar inserida na
comunidade, nasci e fui criada lá e hoje como estudante de pedagogia me questiono
a respeito dos jovens que já concluíram a educação básica porém, atualmente é
como se esses jovens não fossem muito diferentes dos que não concluíram.
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação, art. 2°, afirma que a educação
tem por finalidade “o desenvolvimento pleno do educando, seu preparo para a
cidadania e para o trabalho”. Sendo a escola instituição social responsável pela
formação do sujeito como ser atuante e transformador da sociedade na qual está
inserido, espera-se que, ao concluir as etapas básicas da educação, o indivíduo
possa prosseguir em sua formação. Ao sair da escola ele deveria estar apto e
capacitado para atuar conscientemente no contexto que lhe for apresentado, ou
seja, no cenário no qual estará inserido seja no campo profissional ou
acadêmico,praticando/usando os conhecimentos adquiridos durante o seu percurso
escolar.
Assim, os jovens das camadas mais populares da sociedade muitas vezes
lutam para conseguir ao menos concluir a educação básica, na esperança de que
seja uma alternativa para competir no atual mercado de trabalho. Porém, isso não
acontece necessariamente, especialmente em comunidades do interior como
Queimadas, e como ficam eles? A solução é se submeter a quaisquer condições de
trabalho, o importante na verdade é garantia da sobrevivência, como afirma Arroyo
(2007).
Dessa forma, qual foi o papel exercido pela escola na vida desses alunos?
Visto que saem da escola sem compreender o contexto em que vivem, e por isso
não se percebem como seres capazes de mudar a própria realidade, assim se
submetem a qualquer tipo de trabalho, pois não se sentem capazes de ir além das
condições que lhes são oferecidas, aceitando essas condições e consequentemente
se acomodando e sobrevivendo.
Para entender melhor como os jovens percebem o papel da escola nas suas
vidas, foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa. Segundo Haguette
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(1992),“os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno em
termos de suas origens e de sua razão de ser”.A pesquisa foi realizada por meio da
entrevista semiestruturada. Rosa e Arnoldi (2007) consideram que a entrevista
semiestruturada possibilita o sujeito expor seus pensamentos e reflexões diante do
que lhe é apresentado. Segundo os mesmos autores, nesse tipo de entrevista,
O questionamento é mais profundo e também mais subjetivo, levando ambos a um relacionamento recíproco, muitas vezes, de confiabilidade. Frequentemente, elas dizem respeito a uma avaliação de crenças, sentimentos, valores, atitudes, razões e motivos acompanhados de fatos e comportamentos. Exigem que se componha um roteiro de tópicos selecionados. As questões seguem uma formulação flexível, e a sequencia e as minúcias ficam por conta do discurso dos sujeitos e das dinâmicas que acontece naturalmente. (ROSA e ARNOLDI, 2007, P. 31).
Utilizei ainda a pesquisa bibliográfica, Kauark, Manhães e Medeiros (2010,
p.28) afirmam que “é uma pesquisa elaborada por meio de materiais publicados,
constituídos de livros, artigos e materiais disponibilizados na internet”.
Em Queimadas o Ensino Fundamental completo é ofertado na Escola
Municipal XVI de Junho, que atende a alunos tanto de Queimadas quanto de outros
municípios e assentamentos de reforma agrária vizinhos como: o assentamento
Baixa do Novilho; o assentamento Modelo I;o assentamento Modelo II; a
comunidade Chico Mendes e a comunidade Tubibas.
Ao concluírem os anos finais do Ensino Fundamental esses alunos são
encaminhados para escolas que oferecem Ensino Médio, localizadas em João
Câmara, a grande maioria vai para a Escola Estadual Francisco de Assis Bittencourt
(EEFAB). Para a realização da presente pesquisa fiz um levantamento na Escola
XVI de Junho considerando apenas os alunos de Queimadas que foram
encaminhados para a EEFAB em João Câmara, nos anos de 2010 e 2011, com o
objetivo de verificar dentre esses alunos encaminhados, quais concluíram a
educação básica. Ao realizar esse levantamento na escola de Queimadas, fui até a
EEFAB certificar quais desses alunos conseguiram concluir o Ensino Médio.
A partir dos levantamentos realizados, constatei que, de 23 (Vinte e três)
alunos encaminhados para a Escola Estadual Francisco de Assis Bittencourt,
apenas 7 ( sete) concluíram dentre estes 1 (um) homem e 6 (seis) mulheres, destes
7 (sete) , ingressou em curso superior 1 (um) homem e no curso técnico 1 (uma)
mulher, ambos no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e as 5 (cinco)
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mulheres restantes atualmente não trabalham e nem ingressaram no ensino
superior. Desta maneira os caminhos percorridos pela presente pesquisa me levou
a tratar da questão feminina e a partir daqui o foco da pesquisa será a juventude
feminina do campo. O restante dos 23 (vinte e três) jovens prosseguem tentando
concluir.
O passo seguinte foi contatar essas jovens para a realização das entrevistas,
para tanto foi formulado um roteiro (Ver Apêndice A), que foi utilizado apenas para
nortear a pesquisa. A cada pergunta foram atribuídos objetivos que respectivamente
são: compreender a importância da escola para o sujeito; identificar heranças
significativas, deixadas pela escola na vida das jovens; perceber valores e
aprendizagens escolares relevantes em seu campo profissional e na sua vida diária;
identificar se esses indivíduos tinham sonhos ou metas, e se possível, quais motivos
os fizeram desistir; perceber se os objetivos atuais possuem relação com
aprendizados escolares; entender até onde o sujeito considera significante, a
importância da escola para sua vida; entender se para o sujeito o papel da escola
vai além da alfabetização e sondar a qualidade do ensino para o sujeito.
As cinco jovens entrevistadas possuem faixa etária entre 18 e 21 anos,
concluíram o ensino médio na escola Estadual Francisco de Assis Bittencourt nos
anos 2013 e 2014, e atualmente não trabalham ou sobrevivem no submundo do
emprego (trabalho com baixa remuneração que garante tão somente a
sobrevivência) e ainda, não prosseguiram nos estudos em busca de uma
qualificação profissional. Ao contatar as jovens, sugeri que elas escolhessem o
horário e local onde as entrevistas seriam realizadas. As entrevistas foram
realizadas durante o mês de agosto de corrente ano.
A primeira entrevista foi realizada na minha residência por opção da jovem
entrevistada e ocorreu no primeiro dia do mês de agosto. A jovem entrevistada tem
19 anos é solteira e ainda não trabalha. De acordo com a entrevista almeja ingressar
no Ensino Superior público, porém acha muito concorrido, e sente a necessidade de
se esforçar mais, pois não se sente capacitada para encarar a alta competitividade
dos cursos que pretende, os quais são da área da saúde. A mesma, já tentou
ingressar tanto no Ensino Superior público quanto no Ensino privado por meio do
Exame Nacional do Ensino Médio, mas não conseguiu. Segundo ela já tentou entrar
num curso técnico na Universidade Potiguar e no IFRN (Instituto Federal do Rio
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Grande do Norte), também não conseguiu e já fez exames seletivos para o IMD
(Instituto Metrópole Digital), mas também não conseguiu.
A segunda entrevista foi realizada na residência da jovem, local de sua
preferência, no dia 8 de agosto. A jovem entrevistada tem 19 anos, é casada há
quase dois anos e tem uma filha. Atualmente ela é dona de casa, e segundo ela
terminou o ensino médio por que seus pais não tinham terminado, e esse era um
desejo seu. Ela afirma que não conseguiu ingressar no Ensino Superior em primeiro
lugar por que casou e depois sua filha nasceu, e agora vai esperar ela crescer pra
posteriormente tentar algum curso, se conseguir uma bolsa ou um curso que possa
ser pago dentro de suas possibilidades.
A terceira entrevista foi realizada, à escolha da entrevistada, em minha
residência, no dia 15 do mesmo mês, a jovem tem 18 anos e já está casada há três
anos, ainda não tem filhos, e atualmente é dona de casa. Segundo ela tem vontade
de ingressar no Ensino Superior, os cursos de preferência são da área da saúde,
mas já tentou ingressar pelo ENEM e não conseguiu, tentou também o curso técnico
da Universidade Potiguar e também não conseguiu. Atualmente faz um curso
técnico de saúde bucal em uma instituição privada e pretende depois que terminar
este curso, trabalhar e conseguir pagar o curso de Medicina.
A quarta entrevista foi realizada no dia 22 de agosto no local de trabalho da
jovem, pois era o único tempo disponível que ela possuía, a jovem tem 21 anos, é
solteira, e trabalha em um salão de beleza de um amigo. Segundo ela, tem vontade
de ingressar no Ensino Superior, mas o que ganha não dá pra pagar o curso de
fisioterapia. Assim planeja fazer um curso técnico de informática ou de técnico em
Segurança do Trabalho, na esperança de ser uma alternativa para empregar-se nas
empresas que se instalaram em Queimadas recentemente. Assim, depois que
conseguir emprego em uma dessas áreas, vai morar em Natal e fazer o curso que
deseja em uma instituição privada.
A quinta e última entrevista foi realizada no dia 29 de agosto, também em
minha residência, que foi de escolha da entrevistada, a jovem tem 20 anos, solteira,
atualmente não trabalha. Segundo ela tem vontade de prosseguir os estudos, mas
não tem como pagar um curso numa universidade porque é muito caro e sua família
não tem condições financeiras para, além de pagar o curso que ela quer que
também é da área da saúde, e ainda conseguir arcar com as despesas do custo de
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vida de quem mora em Natal. Por isso ela está fazendo um curso técnico de saúde
bucal, com o objetivo de conseguir um emprego e pagar um curso numa instituição
privada.
Ao iniciar os primeiros passos da pesquisa - as entrevistas semiestruturadas -
pude me aproximar mais dos anseios dessas jovens e elas puderam me confidenciar
a realidade que as impediam de alcançar o pretendido. Essa mesma realidade pôde
ser relacionada com outros jovens de comunidades vizinhas que estudaram nas
mesmas escolas, como colegas dessas alunas, o que me fez perceber que a
realidade constatada na presente pesquisa não se restringe apenas ao distrito de
Queimadas, abrange também comunidades vizinhas, ampliando dessa forma o
número de jovens que concluíram o Ensino Médio, mas ainda estão fora da
educação superior e acesso à profissionalização.
O presente trabalho de pesquisa se estrutura da seguinte maneira.
No primeiro capitulo, procuro caracterizar a noção de juventude de acordo
com o contexto de inserção das jovens entrevistadas, destacando os valores
atribuídos por essas jovens às aprendizagens escolares. Trato ainda das
dificuldades de acesso ao ensino superior por consequência da localização territorial
e falta de condições financeiras e ainda das dificuldades que encaram enquanto
mulheres tanto no acesso ao mercado de trabalho quanto ao Ensino Superior,
atentando para os sonhos frustrados dessas jovens mulheres, decorrentes da
influência da sociedade patriarcal que tem uma ênfase maior no interior.
No segundo capítulo descrevo as finalidades da formação escolar de acordo
com os documentos norteadores da educação básica os quais são: PCN’s, DCN’s e
LDB. Confrontando essas finalidades com a visão que os alunos têm sobre o papel
da escola e para que finalidade ela forma os alunos e por fim trago minha visão
sobre como têm sido essa formação, baseada na pesquisa que realizei com as
jovens e a visão de alguns autores que abordam questões ligadas à formação
escolar.
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1 JOVENS MULHERES: SONHOS FRUSTRADOS.
Para entender o valor atribuído à escola pelas jovens da presente pesquisa,
é necessário caracterizá-las, compreendendo em quais contextos de juventude
essas jovens estão inseridas, utilizando como ponto de partida o processo formativo
de cada uma e a importância que atribuem às aprendizagens escolares para sua
vida.
Para tanto, é necessário discutir sobre a noção de juventude. As jovens
entrevistadas, se encontram em um estágio de transição entre a adolescência e a
juventude. De acordo com Novaes (2007);
São arbitrariedades culturais e regras socialmente construídas que
determinam em que momento e por meio de quais rituais de
passagem se muda de uma fase da vida para outra. Variam as
idades cronológicas e as expectativas que as sociedades constroem
para seus(suas) jovens. ( NOVAES, 2007, p. 99)
Porém, aqui não considero a condição do ser jovem somente a faixa etária,
e entendo que ser jovem está condicionado a vários fatores sociais.
Segundo o Caderno do MEC de Formação de professores do Ensino Médio
(BRASIL, 2010), alguns “marcadores” apontam indícios da passagem, da
adolescência para a juventude, como: a necessidade de menos proteção por parte
da família; a adoção de responsabilidades; e a busca pela independência, bem
como sinais corporais e psicológicos.
Enquanto que na passagem para vida adulta outros fatores são elencados no
mesmo documento como: trabalhar; casar; ter a própria casa e ter filhos. Neste
período da vida, os jovens estão saindo do Ensino Médio, e se preparando para
posteriormente ingressar num curso superior, escolhendo então sua carreira
profissional. Assim, para Novaes, (2007);
[...] a juventude é compreendida como um tempo de construção de
identidades e de definição de projetos de futuro. É vista como tempo de “moratória social”, “etapa de transição”, na qual os indivíduos processam sua inserção nas diversas dimensões da vida social: responsabilidade com família própria, inserção no mundo do trabalho, exercício pleno de direitos e deveres de cidadania. ( NOVAES, 2007, p. 99)
Com base nesses apontamentos, percebo que os percursos de vida
traçados pelas jovens entrevistadas não percorrem essa dinâmica linear, uma vez
que algumas delas casaram-se antes mesmo de concluir a educação básica,
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alcançando precocemente alguns desses “marcadores” de transição para a vida
adulta. Stecanela, (2013, p.33) afirma que “os trajetos não são lineares e são
afetados por inúmeros fatores que provocam desvios nos calendários de vida
romanticamente desenhados”.
Portanto, destaco que a juventude não está estritamente associada à idade
cronológica, cada contexto social estabelece uma maneira de ser jovem. O Caderno
do MEC de formação de professores do Ensino Médio (BRASIL, 2010) esclarece
ainda que:
Compreender os jovens apenas pelo fator idade, contudo, seria simplificar uma realidade complexa que envolve elementos relacionados ao simbólico, ao cultural e aos condicionantes econômicos e sociais que estruturam as sociedades. (BRASIL, 2010, p. 13).
Existe uma conjuntura específica a qual resultou na configuração atual da
comunidade e sua relação com a educação pós-ensino médio. No entanto, apesar
das políticas e ações que visam o acesso e permanência de jovens no Ensino
Médio, é sabido que grande parte dos jovens que estão fora desta etapa e
consequentemente do ensino superior e profissionalizante pertence a famílias de
baixa renda que precisam escolher entre estudar e trabalhar e quase sempre não
tem acesso a essas políticas (STECANELA, 2013).
Os jovens de Queimadas que concluem o Ensino Médio não possuem
condições de prosseguirem seus estudos, se dedicando ao mercado de trabalho
oferecido na comunidade, que quase sempre só garante a sobrevivência.
Como já foi dito, os jovens dessa comunidade são “obrigados” 4 a trabalhar
desde muito cedo, aos 10 anos de idade os homens já estão exercendo algum tipo
de trabalho, o que muitas vezes acaba prejudicando seu acesso à escola.
Enquanto que as mulheres nessa mesma idade começam a realizar as
tarefas domésticas, e tem por obrigação, “terminar os estudos”,na maioria das
vezes, o objetivo é apenas terminar mesmo, sem perspectiva futura como é o caso
das jovens que afirmaram que concluíram porque não havia ninguém na família que
tivesse concluído. Ao serem questionadas, sobre “qual o objetivo em terminar o
ensino médio”, as jovens de um modo geral apresentaram dois argumentos: têm a
escola como uma oportunidade de mudar de vida e a conclusão como uma
4 Obrigados, pelas circunstâncias e muitas vezes pelo desejo de ser independente, neste caso principalmente os homens.
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conquista para os pais, pois todas vêm de família de pais que não frequentaram a
escola.
Como meus pais não terminaram, ficaram só com o ensino fundamental, eu queria terminar o ensino médio, fazer uma faculdade e me formar em alguma profissão.(ENTREVISTADA II)
Com a mudança atual da oferta de trabalho, da agricultura para a construção
civil, a situação se assemelha à anterior, onde a grande massa de empregos era
oferecida para os homens, pois as poucas vagas de trabalho que surgem para as
mulheres são como cozinheira, faxineira ou caixa de supermercado – visto que o
comércio continua sendo um campo de oferta de trabalho – sendo que para estes
empregos não é necessária à conclusão do Ensino Médio como pré-requisito, uma
vez que os empregadores locais pagam abaixo das condições salariais obrigatórias,
não podendo exigir formação profissional.
Dessa maneira, o comércio local e as empresas de construção civil não
suprem a demanda de emprego dos jovens, especialmente das mulheres,
delimitando assim suas perspectivas de projetos futuros relacionadas ao emprego.
Ao iniciar a pesquisa, uma das hipóteses era que essas jovens não
almejavam o sonho de se profissionalizar, parecia que elas estavam estacionadas
no tempo, mantendo suas vidas sob uma rotina imutável apenas porque queriam.
Mas as respostas demonstram que todas tinham seus projetos de vida, só não
sabiam como dar o primeiro passo para executá-lo se nem tinham condições de
desenvolvê-los. Assim, esses sonhos, desejos e projetos se camuflavam na
concepção de algo inalcançável, fazendo-as desistir antes mesmo até de procurar
meios para poder realizá-los.
Ao questionar as alunas entrevistadas sobre “Qual o curso pretendido”? A
listagem predominou na área da saúde, dentre eles Odontologia, Fisioterapia,
Medicina. Apenas uma optou por Pedagogia.
As jovens afirmam que uma das dificuldades de ingressar num curso
superior é a alta competitividade nos cursos pretendidos. Assim projetam outros
meios para tentar um dia realizar seus projetos.
E é nesse percurso, que seus sonhos vão se enfraquecendo, pois outros
eventos vão acontecendo em suas vidas, e essas jovens perdem o
comprometimento e suas metas vão perdendo o sentido, pois o contexto da
21
comunidade não as instiga a seguir em frente. O relato de uma das jovens deixa
mais claro o comentário acima:
Ah! Tá difícil. Eu penso assim, eu vou fazer esse curso e arranjar um emprego, aí o que eu ganhar, quero juntar pra fazer medicina, porque medicina é muito caro.( ENTREVISTADA III)
É notável inicialmente que a primeira opção de Instituição de Ensino
Superior é a privada. A hipótese de conseguir uma vaga na Universidade Pública se
torna algo distante, pois não se sentem capacitadas para disputar a grande
concorrência desses cursos.
Por outro lado, é necessário que se desloquem de Queimadas para a cidade
em que iriam estudar – que seria Natal – e se torna impensável a ideia de se
deslocar para morar em outra cidade, onde elas poderiam também empregar-se.
Uma vez que, segundo algumas delas me relataram em uma outra conversa fora da
entrevista, além dos pais terem receio de dar essa liberdade para as solteiras,
justamente pelo fato de serem mulheres, algumas delas são casadas e os maridos
também não cogitam a possibilidade de suas esposas estarem fora de casa.
Essa situação desencadeia outra consequência - o desestímulo -que elas
possuem tanto em virtude da concorrência nos cursos pretendidos quanto na falta
de condições financeiras pra pagar um curso numa universidade particular.
Ao serem questionadas sobre qual o objetivo de concluir a educação, uma
das razões é encontrar um emprego, mas na comunidade não há empregabilidade,
assim veem a escola como uma porta de ascensão social, pois, ao concluirem o
Ensino Médio, podem participar de processos seletivos para ingressar em curso
técnico ou superior.
Com o objetivo de entrarem em uma universidade seja pública ou privada
todas já fizeram provas como ENEM, IFRN, IMD, ou vestibular UNP, mas
infelizmente não obtiveram êxito, sendo essa realidade mais um motivo para
desmotivá-las. Assim quando os editais são lançados, comunico aos jovens e
quando questiono tanto as jovens da pesquisa quanto outros jovens da comunidade,
se vão participar dos processos seletivos, já afirmam que fazem por experiência,
mas sabem que não passam.
A entrevistada III participou de um processo seletivo na Universidade
Potiguar, sobre essa seleção ela afirma: “Perdi uma oportunidade muito grande na
UNP, fiz uma prova pra fisioterapia e não passei”. Esse comentário apresenta uma
22
culpabilização por parte da jovem, ela diz que perdeu a chance porque não passou.
Percebemos aqui a precariedade da formação de base, pois ao concluir a educação
básica, os alunos não conseguem passar em processos seletivos, que são a porta
de entrada para cursos técnicos e superiores que vão dar continuidade á sua
formação. O aluno já não consegue ser aprovado e ainda carrega a culpa pra si, por
não conseguir estabelecer conexões com seu contexto e suas possibilidades.
É como se a função da escola fosse reduzida a um pedaço de papel
chamado “diploma de Ensino Médio”, assim a conclusão da educação básica se
torna um status. O futuro para essas mulheres já está pré-determinado: se casar, ser
dependente financeiramente do marido, ou então trabalhar como empregada
doméstica sem desfrutar das condições salariais que a lei estabelece para tal
função.
O sonho de tornar-se médica, professora, dentista, empresária, engenheira
ou qualquer outra profissão, é esmagado pela localização geográfica, pois como
afirma Entrevistada I, “o que me faz não ter uma força de vontade maior é a
dificuldade que eu vejo de eu ir pra Natal, de não ter onde ficar, eu acho que é isso”.
Acredito que, há uma falta de orientação quanto às suas possibilidades,
como o fato de não conhecerem a assistência estudantil oferecida pela UFRN para
alunos do interior, bem como os benefícios de bolsas e atividades de extensão
remuneradas que são uma alternativa para os jovens de baixa renda que precisam
estudar e de alguma forma se manter financeiramente em Natal. Essa falta de
orientação acaba gerando um desestímulo por parte das jovens o que, atrelado a
outros inúmeros fatores, produzidos inclusive dentro da escola e pela própria família,
conseguem corromper e matar os sonhos e seus projetos de vida.
Diante dessa situação, de falta de emprego, limitação de suas perspectivas
de projetos futuros, e influência da sociedade patriarcal em que essas mulheres
ainda se encontram mergulhadas, paralelamente ao processo escolar e à conclusão
do Ensino Médio, suas vidas pessoais não param, e continuam para o próximo
passo a ser dado que é casar e constituir família. Algumas se encontraram nessa
situação antes mesmo de concluir a educação básica.
Duas das jovens entrevistadas são casadas. Uma casou com 14 anos, já
tem três anos de casamento e não tem filhos. A outra casou com 18, está casada há
um ano, e no período da entrevista sua filha havia nascido há 1 mês. Esta última, ao
23
ser questionada porque não deu certo iniciar a formação em uma profissão, sendo
que era o que ela queria ela responde: “Primeiro não deu certo porque eu casei, aí
engravidei, e agora eu tô com minha filha e como ela ta muito nova aí não tem como eu
fazer alguma coisa.”(ENTREVISTADA II)
As comunidades localizadas no extremo interior dos estados, ainda são
bastante influenciadas, assim como grande parte da sociedade brasileira, pelo
modelo familiar patriarcal, onde o homem é o provedor do sustento da família e a
mulher é responsável pelo conforto do lar para o esposo e filhos. Lobato argumenta
que:
A divisão do trabalho no meio rural segue, portanto, a lógica patriarcal e da divisão sexual do trabalho que mantém invisível o trabalho feminino e responsabiliza as mulheres pelas tarefas de reprodução, considerando a pessoa do sexo masculino como aquela responsável pelo provimento na figura do chefe da família. (LOBATO, 2014, p.150)
.
Esse pensamento é tão forte que as próprias mulheres se convencem, e
limitam-se em realizar seus projetos de vida, em razão de o pai ou o esposo não
permitirem.
Assim, quando a ordem ideal dos acontecimentos da vida se misturam, e
elas casam antes mesmo de concluir a educação básica, é como se o casamento
fosse a última realização, ou uma decisão que limitaria suas escolhas, se tudo antes
do casamento dependia da permissão do pai, depois que se casam vai depender da
permissão do esposo. Quanto a esse tipo de pensamento, Alves e Pitanguy (1985)
afirmam que:
[...] determinando uma posição social inferiorizada para a mulher, existe todo um conjunto de ideias, de imagens, de crenças, que legitima, perpetua e reproduz a hierarquização de papéis sexuais. Mascara, dessa forma, o seu conteúdo cultural em nome de aspectos naturais que se fundamentam na biologia. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 62-63)
As mesmas autoras ainda acrescentam, que esse mesmo pensamento;
Restringe as potencialidades do desenvolvimento da mulher colocando-a na prática, numa posição desigual frente ao homem. Essa ideologia é transmitida desde muito cedo, pela família, pela escola, meios de comunicação, religião, literatura e outros agentes socializadores. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 63)
24
As alunas adotam um pensamento de “impossibilidade”, de ingresso no
ensino superior público, pois, mesmo quando “apostam” e participam de processos
seletivos para ingressar nas universidades ou nos institutos, quando não são
aprovadas, o sentimento de culpabilidade aumenta, e se percebem ainda mais
incapazes. Esta “impossibilidade” 5 aliada ao desestímulo e aos limites impostos
pelos pais e esposos dessas jovens, diminuem as chances que elas teriam de
ingressar no ensino superior porque o marido não permitiria sua ausência do lar.
Além disso, se por um lado a universidade privada não garante alojamento para
alunos do interior, o que dificulta o acesso, exigindo um maior capital a ser investido,
por outro lado as universidades mais próximas estão localizadas em Natal,
dificultando assim o deslocamento dessas jovens mulheres.
As jovens solteiras, por outro lado, não teriam condições financeiras de se
manter em Natal estudando. Dessa maneira algumas dessas jovens optam por um
curso técnico (em João Câmara, cidade mais próxima) que garanta um emprego, e
que possa pagar futuramente uma universidade e se manter financeiramente em
Natal, porém os cursos pretendidos por essas alunas têm mensalidades muito altas
e só um emprego que pagasse muito bem garantiria essa estadia.
Percebo então que os projetos de vida dessas jovens não morreram, mas é
necessário algo que possa suscitar uma noção de capacidade por parte delas, e
esperança de que poderiam conseguir alcançar determinado objetivo, enfrentando
as dificuldades que são colocadas a sua frente. É notável que essas alunas,
passaram pela escola sem construir bases e conhecimentos significativos para a
vida, como por exemplo uma formação que as capacitasse para saber lidar com as
dificuldades que enfrentariam fora da escola, no que diz respeito aos seus projetos
de vida. Desse modo saem da escola e ficam perdidas sem saber o que fazer e que
atitudes tomar, pois não estão preparados para encarar a sociedade tal como ela se
encontra e se apresenta para os de classe menos favorecida.
É interessante e importante o desenvolvimento de projetos na escola que
incluam essas jovens, despertando interesse e capacidade de mudança, de modo
que possam refletir sobre a comunidade em que vivem, sobre sua condição
enquanto sujeitos transformadores de si e do mundo. Ao sair da escola o aluno deve
5 Uso aspas, pois é uma visão das alunas, que se constrói mediante seu contexto social.
25
estar preparado para saber agir diante do mundo que lhe é apresentado, sabendo
como encarar de forma consciente as dificuldades que lhe são impostas.
A escola poderia, além de incentivar a continuação nos estudos, trabalhar as
dificuldades que eles trazem da escola anterior, pois isso aumentaria o sentimento
de capacidade de ir adiante. Além disso, é necessário um preparo para esses jovens
quanto a informações e acesso a processos seletivos, além de uma formação que
possibilite a autonomia desses jovens quando saírem da escola, no que diz respeito
aos procedimentos que devem tomar para realização dos processos seletivos.
Percebo que não existem políticas públicas suficientes que deem condições
justas de acesso e ingresso ao ensino superior público, o governo colabora até
determinado ponto chegando o momento em que o individuo é que tem que se
tornar o protagonista da situação, quando tudo vai depender unicamente dele
mesmo. Diante dessa ausência do papel do Estado, Bock,(1998) afirma que:
O discurso que chega hoje ao jovem é que o emprego não existe mais, que a saída é o trabalho autônomo [...] O termo que se usa hoje é “autonomia”.Portanto paira esta ameaça sobre a cabeça de todos jovens brasileiros “Tudo depende exclusivamente de você”.(BOCK, 1998, p. 13)
As jovens entrevistadas trazem consigo um sentimento de impotência e
bloqueio com relação ao acesso à educação superior pública que reflete
consequentemente na capacitação para o trabalho formal. Assim, quando foi
perguntado à entrevistada III qual o curso pretendido, ela indicou medicina, mas logo
foi adiantado,
“Ah! Tá difícil. Eu penso assim, eu vou fazer esse curso e arranjar um emprego, aí o que eu ganhar quero juntar pra fazer medicina, porque medicina é muito caro”. (ENTREVISTADA III)
Fica claro pra mim que ao sair da escola essas jovens não estão preparadas
para a vida tal como propõem os documentos orientadores da educação brasileira, e
assim vão aceitando a situação que é imposta indiretamente, se conscientizando de
que não têm capacidade de passar num processo seletivo de instituição de ensino
superior pública, como se isso não fosse pra elas, então a solução é trabalhar pra
poder pagar uma instituição privada. Em outro caso, a ENTREVISTADA II, ao ser
questionada sobre quais as dificuldades que teria de fazer algum curso numa
universidade, ela afirma que: “Primeiro dependendo do valor que seria, se por acaso
26
eu não conseguisse uma bolsa”(ENTREVISTADA II), mais uma vez fica claro que o
interesse está voltado para uma universidade privada.
Entretanto a escola não é unicamente a responsável pela configuração
desse cenário, outras causas podem ser atribuídas ao sucesso/fracasso escolar do
aluno. Como vemos no Caderno do MEC de formação de professores do Ensino
Médio (BRASIL, 2010):
É o caso de nos atentarmos para o fato de que a permanência e o abandono da escola pelos jovens se constroem na combinação de
condições subjetivas: apoio familiar; relação estabelecida com os
professores; estímulos originados nas redes de sociabilidade e engajamento na rotina escolar. E ainda por condições objetivas: possibilidades de dedicar-se aos estudos; condições financeiras da família; necessidade da certificação e projetos pessoais mais ou menos delineados que resulta em apropriações diferenciadas da experiência escolar. (BRASIL, 2010, p. 54)
Dessa maneira até onde se pode responsabilizar a escola ou até mesmo o
indivíduo por essa situação, desprezando o papel do estado, do contexto social em
que está inserido, dentre outros fatores que interferem em seus planos?
As jovens entrevistadas sentem-se responsabilizadas, pelo seu fracasso pós
Ensino Médio, pois acham que se tivessem se esforçado mais, e estudado mais
poderiam ter sido aprovadas em algum dos processos seletivos que participaram. A
ENTREVISTADA I afirma;
Acho que falta mais força de vontade, porque agente teve ensino bastante dos professores eles deram bastante força e estavam sempre no nosso pé pra gente aprender. Só que eu acho que faltou um pouquinho de interesse da minha parte. Eu devia estudar mais. (ENTREVISTADA I)
Logo, constato a precariedade do ensino de base, pois apesar de realizarem
processos seletivos como já foi relatado, as jovens não conseguiram ser aprovadas,
e sentem que a falha será corrigida se estudarem mais assim a função da escola
surge como reprodutora das desigualdades sociais e não forma o aluno para vida,
oferece em vez de conhecimento transformador, informações que depois de algum
tempo serão levadas ao esquecimento e pra nada servirão. Freire, (2005), nomeia
essa conjuntura, de educação “bancária”, onde o professor é atuante e o aluno
meramente passivo e receptor de informações:
Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito cuja tarefa indeclinável é “ encher” os educandos de conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da
27
realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. (FREIRE, 2005, p.65-66)
Essa restrição ao papel da escola é uma prática que aliena a formação dos
alunos/sujeitos, e limita suas possibilidades de conhecer o mundo que influencia seu
contexto, impossibilitando sua atuação enquanto sujeito transformador. Quanto ao
papel do ser humano no mundo Freire, (2005) acrescenta que “não é só o de quem
constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de
ocorrências”.
É necessário então que a escola promova a construção de saberes para que
os alunos possam realmente utilizá-los em sua vida fora da escola, assim eles
estarão conscientes de qual é o seu papel, e podem perceber e associar as
contribuições dos saberes adquiridos na escola para a vida. Segundo o Caderno de
formação de professores do Ensino Médio:
[...] é muito importante estimular neles a capacidade de projetar e acreditar nos seus sonhos e desejos e também contribuir para que desenvolvam as capacidades para realizá-los. Afinal, mesmo que os jovens estudantes não saibam exatamente verbalizar sobre seus projetos, o que eles e elas nos dizem, de uma forma ou de outra, é que almejam “ser alguém na vida”. Em outras palavras, demonstram de diferentes formas a busca em encontrar um lugar para si no futuro. Lugar este que já se aproxima quando o projetamos com consciência. (BRASIL, 2010, p.33-34)
É importante que as aprendizagens escolares sejam significativas para os
alunos, pois o exercício da cidadania deve refletir a atuação da escola na vida dos
alunos. Os documentos que norteiam a prática educativa apontam que essas
aprendizagens devem ser direcionadas à formação cidadã. Porém, não é isso que o
aluno percebe, ele vê a escola como uma alternativa a “ser alguém na vida”, ou seja,
mudar de vida, considerando sua posição social.
Acredito que se for perguntado sobre qual o papel da escola, a um aluno de
classe média, que estuda em escola particular a resposta não será essa. Mesmo
sendo influenciada pelas classes dominantes há possibilidades dentro da escola de
desenvolver uma prática educativa mais consciente, crítica e transformadora.
28
2 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: ASCENSÃO SOCIAL
A constituição brasileira institui a educação básica gratuita e de qualidade,
por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente, (BRASIL, 2013, p.06) garantindo
“a formação escolar como alicerce indispensável e condição primeira para o
exercício pleno da cidadania e o acesso a direitos sociais, econômicos, civis e
políticos” e ainda responsabiliza à educação, o dever de “proporcionar o
desenvolvimento humano em sua plenitude”, (BRASIL, 2013, p.06).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/1996) por sua vez
vem legitimar esse direito ao instituir como dever da educação, além do
desenvolvimento humano e preparo para a cidadania, a formação para o trabalho,
responsabilizando ainda a família e o Estado.
Como neste trabalho trato da questão da formação oferecida para as jovens
entrevistadas, no Ensino Médio, é coerente trazer também a posição das Diretrizes
Curriculares para o Ensino Médio. Esta acrescenta que a função do Ensino Médio
deve ir além da formação profissional atingido o exercício da cidadania. (BRASIL,
2013,). Apresentando as funções legais da educação,por meio dos referidos
documentos,está claro que a função primordial da escola é a formação para o
exercício da cidadania.
Cidadania segundo Bonin (2008 p. 92) implica em “gozo de direitos civis e o
cumprimento de deveres de acordo com as leis de determinada sociedade”.
Segundo Freire (apud Bonin, 2008, p. 92) a cidadania “envolve valores como o
conhecimento da realidade para a libertação das opressões e reflexões sobre o
mundo circundante”.
Diante disto, a escola é a instituição responsável por oferecer o ensino da
maneira que está proposto nos documentos norteadores da educação no Brasil.
Apesar de tantas referências sobre a função da educação, nesta pesquisa é
perceptível às várias defasagens que desqualificam a nossa educação, como por
exemplo: a falha da escola em conscientizar os alunos enquanto sujeitos de suas
próprias trajetórias; a ausência da conscientização sobre a igualdade de gêneros; a
falta de orientação sobre o acesso ao ensino superior; a capacitação para o ingresso
no mundo do trabalho, entre outras causas que contribuem para o fracasso tanto
escolar (mesmo tendo concluído a educação básica) quanto para a vida. Um
exemplo disso nas entrevistas surge quando, por exemplo, as alunas alegam falta
29
de moradia e condições financeiras para morar em Natal, pois não conhecem
benefícios que favorecem suas condições de acesso ao ensino superior público.
Outro exemplo é a falta de posicionamento quanto às suas capacidades
enquanto mulheres de serem donas de suas trajetórias e poderem decidir o que
fazer da vida e como realizar esses projetos. Essa falta de conscientização enquanto
sujeitos, acaba subordinando-as aos pais e esposos, suas decisões não vão
depender apenas de seus desejos, mas de quem é responsável por elas, mesmo e
que elas possam ser responsabilizadas por si mesmas. Para Waal, (2009),
[...] não interessa aos que governam aos que detém o poder oferecer uma educação de qualidade principalmente uma educação crítica a população, pois isso resultaria em indivíduos mais ciente, de seus direitos, obrigações e das injustiças sociais existentes. Torna-se mais lucrativo utilizar a educação como instrumento disseminador desses interesses do que proporcionar formação crítica aos indivíduos, representando ameaças ao poder. (WAAL, 2009, p. 989)
Ainda de acordo com pensamento da autora:
A realidade nos mostra as contrariedades existentes no sistema educacional, onde a teoria defende e incentiva uma postura critica do educando frente aos conteúdos e metodologias, mas na realidade em sala de aula seu posicionamento é praticamente o contrário, há um abismo entre a teoria e a prática resultando no fracasso educacional. (WAAL, 2009, p. 993)
COMENIO, (1985 apud Cortella1999,já no seu tempo notava a dificuldade
da escola em mudar os atores da instituição escolar até tentam promover mudanças
na realidade da educação mas são vencidos pelo cansaço da tentativa e pelos
inúmeros problemas que se apresentam no cotidiano escolar.
As escolas permaneceram tais quais eram. Se alguém, particularmente, ou em qualquer escola em particular, começou a fazer qualquer coisa, pouco adiantou ou foi acolhido pelas gargalhadas dos ignorantes ou coberto pela inveja dos malévolos, ou então, privado de auxílios, sucumbiu ao peso dos trabalhos; e, assim, até agora, todas as tentativas têm resultado vãs. (COMENIO, 1985 apud CORTELLA 1999 p. 130)
Quando encontramos jovens que não compreendem seus direitos e deveres
enquanto ser social e em consequência disso não se sentem capazes de ir além de
suas condições e encontrar outras formas de vivências que proporcionem novas
experiências para sua vida, pode-se afirmar que a escola não tem cumprido o papel
de formar sujeitos conscientes e atuantes.
30
[...] o homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento numa certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e, como pode fazer esta auto reflexão, pode descobrir-se como um ser inacabado, que está em constante busca. Eis aqui a raiz da educação. (FREIRE, p.14)
As jovens entrevistadas não conseguem expressar um conceito claro sobre
a função da escola e da educação para suas vidas, a concepção adotada por elas,
sobre o papel da escola se restringe a enxergar a escola como uma alternativa a
melhoria de vida por meio do acesso ao emprego. Por meio das respostas obtidas
na pesquisa, percebe-se que sendo esta a função da escola para as alunas,
infelizmente a instituição escolar não obteve êxito em seu trabalho, pois as
entrevistadas ainda não estão inseridas no mercado de trabalho, e ainda se sentem
responsabilizadas pelo fracasso. Segundo uma das alunas ao ser questionada se a
escola tem cumprido a tarefa de formar cidadão, ela afirma que:
Em boa parte sim, eu acho que a escola ela tem educado jovens assim... Agora também tem jovens que deixam de ir a escola e as vezes ficam em outro canto e não vão pra escola pra aprender, mas a escola eu acho que ao chegar lá esse papel ele é. (ENTREVISTADA I)
Para a ENTREVISTADA I, a função da escola se restringe a dar condições
para realizar seus sonhos, que seria de entrar numa universidade e
consequentemente ter um bom emprego, quando afirma,
Eu sempre sonhei em ser alguém na vida, e o estudo ia me levar a isso, a conseguir o que eu quero. Se eu não tivesse o estudo eu não ia conseguir entrar em uma faculdade, não ia ter tido tantas oportunidades que eu tive de ver os assuntos que foi passado pelos professores do ensino médio e fundamental. E a importância que eu acho que pra conseguir o nosso sonho tem que ser visto na escola durante o ensino. [...] “levar para a universidade”( ENTREVISTADA I)
Assim, é notável que a escola e o ensino oferecido para as jovens, não
atingiu o objetivo de formação cidadã de acordo com os documentos norteadores da
educação básica, tampouco capacitou as alunas para o mercado de trabalho de
acordo com seu pensamento sobre a função da escola.
Sendo a escola uma instituição incorporada por diversos valores e
influenciada pela sociedade, sua função pode ser múltipla. Tanto de formar cidadãos
críticos quanto a de reprodutora das desigualdades sociais, cumprindo assim os
interesses das classes dominante.
31
Cortella (1999) apresenta uma concepção de educação a qual nomeia de
otimismo crítico. Nela a escola teria uma função tanto conservadora quanto
inovadora, pois na medida em que na maioria das vezes assume o papel de
reprodutora das desigualdades sociais nela há espaços em que se podem promover
mudanças. No entanto a escola sofre interferências em seu interior podendo assim
não cumprir seu papel de formar cidadãos políticos críticos.
A educação escolar e os educadores têm, assim, uma autonomia
relativa; podemos representá-la com a inserção da escola no interior
da sociedade, com uma via de mão dupla [...] Nós educadores
estamos mergulhados nesta dupla faceta; nossa autonomia é relativa
e evidentemente, nossa determinação também o é. Por isso, não é
uma questão menor o pensar nossa prática nessa contradição; o
prioritário, é para aqueles que discordam da forma como nossa
sociedade se organiza, é construir coletivamente os espaços efetivos
de inovação na prática educativa que cada um desenvolve na sua
própria instituição.(CORTELLA, 1999, p. 136)
O que mais me chama atenção é o fato dessas alunas terem integralizado o
ensino básico e não conseguirem atingir nenhum outro objetivo pós Ensino Médio
disposto nos documentos de orientação da educação no Brasil que são o acesso ao
mercado de trabalho e a continuidade em sua formação. Nesse contexto vejo que a
quantidade de jovens que concluem a educação básica está sendo considerada
mais importante que a qualidade, mesmo que essa quantidade não tenha sido tão
relevante.
Vejamos o exemplo de Queimadas: supondo que os 23 jovens dessa
comunidade que foram encaminhados para a escola de Ensino Médio, em João
Câmara, tivessem concluído a educação básica, como essas cinco jovens
concluíram, se a formação não foi garantida de acordo com o que se projeta como
função da escola, os direitos dos alunos não foram assegurados. Isso revela que
para a sociedade não importa a precariedade do ensino se alguns chegam ao final,
pois se considera nesse caso apenas o resultado final, desvalorizando o processo.
Ao pedir às entrevistadas que comparassem o ensino vivenciado nas séries
iniciais (cursado na Escola XVI de Junho na comunidade de Queimadas) com o
Ensino Médio (cursado na Escola Francisco de Assis Bittencourt na cidade de João
Câmara), elas apontam déficits muito significantes em seu desempenho, assim
como eu também apresentei quando terminei a educação básica nessa mesma
escola (XVI de Junho) e fui para a Escola Estadual Francisco de Assis
32
Bittencourt.Quando os alunos de Queimadas chegam à escola de Ensino Médio, não
acompanham a metodologia, já carregam da escola anterior dificuldades na leitura e
na escrita, além de, e principalmente, dificuldades em se expressar, pois a maioria
das atividades avaliativas realizadas pelos professores são os seminários e, por
vergonha de falar em público e até de ler em público, os alunos não fazem as
atividades de apresentação ou não as desenvolvem bem, o que acarreta no baixo
rendimento.
Outra metodologia que dificulta muito é o trabalho com questões de
vestibular de universidades de todo o país que exigem um grau de interpretação e
leitura muito bem elaborado e como tem dificuldades de compreender os enunciados
da questão tiram notas baixas. Novaes (2007) aponta que;
Ao sistema educacional está posto, portanto, o desafio de oferecer respostas diferenciadas para possibilitar distintos modos de acesso e continuidade na formação escolar. Uma educação de qualidade para todas as pessoas não pode ser compreendida apenas como forma de adestra- mento da força de trabalho, pois é importante para a inserção social e econômica dos(as) jovens. Isso pressupõe não só equipamentos e recursos humanos, mas também novo casamento entre educação e qualificação profissional. O que está em jogo é uma nova perspectiva de cooperação interdisciplinar, voltada para o desenvolvimento de saberes, conhecimentos, competências e valores de solidariedade e cooperação condizentes com o século XXI. (NOVAES, 2007, p. 102)
Para as alunas, o fracasso não foi da escola e sim do seu interesse e
empenho, pois afirmam que se tivessem estudado mais, poderiam ingressar no
ensino superior e futuramente ter uma condição de vida melhor. Assim como outros
estudantes também de Queimadas conseguiram ir além do Ensino Médio.
No nosso âmbito, a produção do pedagocídio, intencional ou não, manifesta-se no uso não reflexivo e crítico dos livros didáticos, passa por uma seleção de conteúdos excessivamente abstratos e sem integração, e chega até uma culpabilização dos alunos pelo próprio fracasso. (Cortella, 1999, p. 142)
Hoje, com minha visão e a partir dos conhecimentos adquiridos na
universidade enquanto professora em formação, acredito que a raiz desses
problemas está na maneira como os conteúdos são transmitidos para os alunos,
quando deveriam ser construídos com os alunos. Assim, com mais consciência,
posso comparar as mudanças da escola de Ensino Fundamental para a escola de
33
Ensino Médio. Como afirma Cortella (1999), as causas do fracasso escolar podem
ser intra ou extraescolares, porém,
Se desejarmos aproveitar a contradição entre o caráter inovador e
conservador de nossas práticas (procurando explorar os espaços nos
quais nossa autonomia relativa rejeite concretamente a manutenção
de uma realidade social injusta), devemos nos debruçar também
sobre as causas intra escolares do fracasso. (Cortella, 1999, p. 141)
Assim como em inúmeras escolas, o ensino é transmitido compartimentado
em disciplinas como se assim o fosse também de suas vivências e, portanto,
descontextualizados da realidade vivenciada pelos alunos. Se resume em conceitos
a serem memorizados para serem lembrados no dia da prova e esquecidos para o
resto da vida, bem como realização de trabalhos de colagem sobre datas
comemorativas ou como foram suas férias.
Sendo estes apenas papéis/folhas que comprovam que o aluno cumpriu
alguma tarefa naquele dia de aula, porém se chegar a questionar o aluno sobre
alguma problemática relacionada àquele tema, o qual exigirá reflexão por parte do
aluno ele não saberá responder, pois foi condicionado a simplesmente fazer o
desenho ou descrever algo vivido sem refletir sobre. E assim se segue o ensino
durante os doze anos de educação básica. Sobre a importância da problematização
na construção do cidadão crítico Freire (2005) afirma que,
[...]a educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica um constante ato de desvelamento da realidade[...] busca a emersão das consciências, de que resulte sua inserção crítica na realidade. Quanto mais se problematizam os educando, como seres no mundo e com o mundo, tanto mais se sentirão desafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a responder o desafio. Desafiados compreendem o desafio na própria ação de captá-lo. Mas precisamente porque captam o desafio como um problema em suas conexões com outros, num plano de totalidade e não como algo petrificado, a compreensão resultante tende a tornar-se crescentemente crítica, por isto, cada vez mais desalienada. (FREIRE, 2005, p. 80)
Na escola XVI de Junho em Queimadas, onde essas jovens cursaram o
Ensino Fundamental completo, as práticas de ensino são menos reflexivas e não
possibilitam a ação do aluno; as aulas são ministradas com conteúdos apenas dos
livros sem outra fonte de pesquisa, pois a escola não tem biblioteca; nas disciplinas
de educação física, artes e religião, por exemplo, os conteúdos são disponibilizados
no quadro negro e os alunos copiam; as provas e trabalhos avaliativos exigem a
34
apreensão de fatos, ou seja, a educação é oferecida ainda nos moldes tradicionais e
da educação bancária.
Dessa maneira os alunos chegam à escola de Ensino Médio e encontram
uma proposta pedagógica totalmente diferente da vivida anteriormente tendo
dificuldade para acompanhar os conteúdos propostos, tampouco a metodologia dos
professores que é bem mais elaborada e consequentemente exige mais do aluno.
Por exemplo, nas atividades na escola de Ensino Médio já são propostas pesquisas
em outras fontes, como na biblioteca ou na internet, exigindo do aluno o
desenvolvimento de habilidades que ele não desenvolveu no ensino fundamental
possui, como as habilidades com computadores.
Ainda assim, mesmo que os alunos apresentem dificuldade nesse âmbito, a
escola não se mobiliza com propostas de adequação para esses alunos, os que
conseguem acompanhar obtêm êxito, e os que não conseguem fracassam e
acabam até desistindo. Segundo o discurso da Entrevistada III, ao ser questionada
se em sua visão a escola tem tido êxito quanto ao cumprimento do papel que ela
atribui a escola, ela afirma, que em parte sim e não,
Porque tem aluno que sai de uma escola bem fraquinha, e ta aí que nem você na UFRN. Por uma parte sim, quem se interessa realmente conquista, mesmo que você não tenha uma condição financeira, tem varias provas tem o ENEM, tem tudo no mundo pra você meter a cara e fazer. E acho que não porque depende da escola, tem professores que se interessam diretores que são interessados em que o aluno aprenda e outras não. (ENTREVISTADA III)
Porém compreendo que a escola não desempenhou seu papel somente
com alguns alunos, pois quando uns alunos acompanham os conteúdos e outros
não, não significa que a escola cumpriu seu papel para os que se interessaram, e
não cumpriu pro restante porque não se interessaram, pra mim ela deveria atender a
todos com a mesma eficiência.
Aqueles que nãoconseguem saem da escola – quando saem – sem saber o
que aprenderam e sem entender o significado da escola para suas vidas, além de se
culpabilizarem por não obter êxito como os outros, pois segundo o pensamento das
entrevistadas se alguns conseguiram, foi porque a escola cumpriu seu papel e se
elas não foi por culpa própria.
Nos documentos citados anteriormente está claro que o papel da escola
está voltado para a formação humana integral, que garanta condições dignas de
35
sobrevivência bem como conscientização do sujeito sobre sua condição (cidadania),
pois o sujeito crítico, ao perceber que se encontra em uma condição desfavorável
para sua vida, procura meios para mudar sua situação. Do mesmo modo, quando
não consegue se perceber em determinada situação, o sujeito irá procurar meios de
sobreviver nas condições em que se encontra, ou seja, busca soluções
emergenciais.
É por meio da escola que o sujeito pode se perceber em constante
construção que percebe a si e ao conhecimento como sendo inacabado e por isso
tendo condições e necessidade de continuar se formando. Sobre o homem
inacabado, pode-se dizer até poeticamente, Paulo Freire afirma,
Gosto de ser gente porque a história em que me faço com os outros é de cuja a feitura tomo parte é um tempo de possibilidades, e não de determinismo. Daí que insista tanto na problematização do futuro e recuse sua inexorabilidade. Gosto de ser gente porque, inacabado sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que histórica e socialmente alcançou a possibilidade de saber-se inacabado. (FREIRE, 2011, p.52-53)
A partir dessa visão, portanto, entendo a educação como uma alternativa,
de formar o cidadão critico capaz de atuar em seu contexto, constituindo mudanças
significativas para suas condições de sobrevivência, sobrevivência que não se
restringe ao sentido material, mas como ser humano consciente e capaz de atuar
no mundo e sobre o mundo. Segundo Freire (2005, p. 77) “a libertação autêntica,
que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens.
Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão
dos homens sobre o mundo para transformá-lo”.
Porém, a escola não tem formado os alunos para ser este cidadão descrito
no parágrafo acima, nem enfrentar as diversas situações cotidianas, seja na vida ou
no mundo do trabalho. Parece assim que as bases do ensino ainda se encontram
envolvidas com a concepção de educação “bancária”, sem considerar o saber do
aluno, desviando-se da problematização dos conteúdos indispensável à construção
de novos conhecimentos.Sobre esta concepção Freire (2005) esclarece que nela,
[...] o educador vai “enchendo” os educandos de falso saber, que são os conteúdos impostos. Na prática problematizadora vão os educandos desenvolvendo seu poder de captação e de compreensão do mundo que lhes aparece, em suas relações com ele, não mais
36
como uma realidade estática, mas como uma realidade em transformação, em processo. (FREIRE, 2005, p.82)
Assim, minha preocupação é quanto aos espaços que essas jovens
ocupariam atualmente, tanto no mercado de trabalho quanto nas universidades
ambos altamente competitivos, e de um modo geral no mundo.
Como já foi dito, apesar de terem sonhos e projetos que querem realizar,
essas jovens se veem paralisadas diante das dificuldades e não há nenhum tipo de
ação tanto dentro quanto fora da escola que possa levantar sua autoestima e
conscientizá-las de suas capacidades.
Estando a prática educativa amparada por documentos que orientam o
objetivo final – a formação cidadã – essa prática deve considerar cada parte do
processo formativo dos alunos, de modo que se estabeleça uma construção sendo o
aluno sujeito ativo nesse processo e produtor do seu próprio conhecimento,
consciente da significância de sua formação escolar.
A escola não pode passar despercebida na vida dos alunos Porém,com a
pesquisa, percebo que ela não alcança as metas previstas em lei, que seriam a
formação cidadã e preparo para a vida, e tampouco realiza o que os alunos esperam
dela, que é a capacitação para entrar num curso superior e se formar em uma
profissão, ou seja, proporcionar o que os alunos esperam da escola, “ser alguém na
vida”, que resulta consequentemente em empregar-se e ter uma condição de vida
melhor.
Quando o objetivo pretendido sobre a função da escola não se concretiza, as
heranças de conhecimentos e aprendizados relevantes nas vivências dessas
entrevistadas que deveriam ser deixadas pela escola, se transformam em
consequências como autoestima baixa, a renúncia inconsciente de sua autonomia
enquanto sujeito/mulher, entre outras que elas carregarão por toda a vida.
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho de pesquisa realizado com as jovens mulheres da comunidade de
Queimadas possibilitou a compreensão de uma pequena parcela dos problemas que
ocorrem na nossa educação, bem como as consequências sofridas pelos alunos
depois que completam a educação básica sem uma formação adequada.
Percebi, a partir das entrevistas, que as jovens que já concluíram a
educação básica e mesmo assim estão fora do mundo do trabalho e da educação
superior, tiveram uma educação precária a qual não conseguiu proporcionar
formação integral para as alunas, tampouco capacitá-las enquanto sujeitos
autônomos e transformadores de si e do mundo como se propõe nos documentos
que norteiam a educação básica, muito menos ainda, oferecer a essas alunas o que
elas esperavam da escola que é possibilitar o acesso à Universidade e
consequentemente a inserção no mundo do trabalho para garantir uma vida melhor.
Os caminhos traçados por meio da presente pesquisa me fizeram enxergar
que as condições de acesso à formação básica escolar que são oferecidas
atualmente para o jovem das camadas populares, principalmente as mulheres, não
tem atingido os objetivos propostos nas leis que regem a qualidade da oferta da
educação básica.
Porém, é necessário apontar que os desdobramentos que desenham as
vidas dessas jovens e resultam em sua atual configuração, não são causados
apenas pelas defasagens relacionadas à formação escolar, há também, influências
tanto do contexto socioeconômico, quanto da família, uma vez que, acredito que a
formação humana se estrutura a partir dos valores e princípios que adotamos, nos
diversos meios em que nos inserimos.
Essas jovens projetam sonhos que desejam realizar para suas vidas, no
entanto, ao passo que acreditam quando projetam, desacreditam, quando não
conseguem ser aprovadas nos processos seletivos que realizam para dar a
continuidade de sua formação conforme pretendiam, pois não se sentem
capacitadas para alcançar tais objetivos. Assim, quando não conseguem alcança
esses objetivos por meio da aprovação em processos seletivos, que oferecem
bolsas ou o ensino gratuito, vão tentar de outras formas, buscando meios de
empregar-se para poder pagar o ensino privado e é nesse caminho que seus sonhos
38
se perdem, pois, se dentro da escola esses projetos não estão assegurados, fora da
escola muito menos.
Porém, esse sentimento de incapacidade não é atribuído pelas alunas às
falhas da escola, e nem ao reflexo de uma sociedade que está à serviço das elites, e
sim à(falta de) vontade delas, como relatado por todas as entrevistadas: segundo
elas se tivessem mais força de vontade e determinação, poderiam obter mais
sucesso no alcance desses objetivos para a vida.
Percebo, então, que a escola não conseguiu formar um aluno capaz de
compreender a conjuntura social e assim saber agir sobre ela, ou seja, a formação
do ser crítico e ativo. No decorrer dos capítulos discorro sobre uma gama de
dificuldades que se apresentam diante das jovens com relação ao aceso à
universidade, como: a localização, condições financeiras para pagar uma
universidade ou para se manter em Natal, a condição de ser casada ou de ter filhos
enfim, são diversos fatores que interferem na vida dessas jovens.
Apesar de existirem políticas/ações que possibilitem o acesso à educação
superior para essas alunas e que podem superar algumas dessas dificuldades,
como os programas de assistência estudantil da UFRN, as alunas não conhecem.
Vejo então que é como se esse direito fosse oferecido apenas para quem
possui as condições de acesso, e não é garantido para essas jovens que moram no
interior, onde mal se acessa a internet, onde há um predomínio da sociedade
patriarcal, onde as informações não chegam tão rápido quanto na cidade, e o único
lugar de orientação e capacitação pra tudo isso seria a escola.
Quero esclarecer que sei que não é uma realidade restrita a Queimadas ou
à zona rural. Jovens como as da presente pesquisa, não são encontradas somente
no interior, mas também podem ser encontradas nos bairros mais periféricos das
cidades, jovens com essas mesmas condições de educação, bem como dificuldades
de acesso semelhantes. Porém, para todos os casos, é na escola que as questões
sociais e a diversidade devem ser abordadas, assim como a disseminação do
avanço da tecnologia e os conhecimentos da sociedade contemporânea.
A escola não pode permitir que os jovens, adultos ou crianças das classes
populares estejam inseridos na sociedade onde há uma circulação de
conhecimentos e informações, porém também estejam às margens da mesma. Por
não conseguirem incluir-se nesse meio de acesso ao ensino superior, que acaba
39
sendo para poucos, a autoestima dessas mulheres desaba, e elas acabam
encontrando no casamento a segurança que teriam se conseguissem realizar seus
projetos de vida, e se pudessem perceber enquanto mulheres donas de suas
trajetórias de vida, responsabilizadas por si. Com o casamento, suas possibilidades
se limitam, deixando suas decisões sob a responsabilidade do parceiro, como afirma
uma delas: que seus projetos não deram certo, primeiro por que casou, e
consequentemente teve sua filha, agora vai esperar a criança crescer depois tenta
novamente.
E assim elas sempre seguem suas vidas, sempre com a necessidade de
primeiro fazer algo, pra depois realizar os seus projetos de vida. Como o exemplo
acima, e ainda outro em que duas das entrevistadas relatam: que primeiro procuraria
um emprego, com o curso técnico básico que tem de saúde bucal, e quando estiver
empregada vai pagar um curso na rede privada.
Penso que a escola poderia trabalhar essas causas que impossibilitam o
acesso à universidade de jovens como as da pesquisa. Essas jovens carregam de
uma escola pra outra, defasagens que refletem no seu fracasso nos processos
seletivos. Além de irem despreparadas quanto à formação, não sabem como
proceder com relação às inscrições e exigências burocráticas. Por outro lado,
observando as casadas, elas não se percebem como seres atuantes, que podem
tomar decisões por conta própria e decidir quais planos vão realizar para suas vidas,
isso é também reflexo da falta de trabalho da escola com a questão do preconceito
de gênero.
As dificuldades sofridas por essas jovens atualmente fora da escola são
reflexos das lacunas deixadas pelo ensino da educação básica. Essas jovens não
conseguem enxergar as falhas que a escola possui e que refletem em suas vidas,
ao contrário, atribuem todas as parcelas de culpa para elas mesmas.
Para esclarecer melhor toda essa conjuntura de uma forma mais detalhada
aponto a necessidade de estudos minuciosos que possam incorporar, tanto à gestão
da escola, quanto à prática dos professores, à família, bem como ao contexto das
comunidades em que as duas escolas citadas nesse trabalho estão situadas que
são: Escola XVI de junho e Escola Francisco de Assis Bittencourt. Acredito que
partindo desses resultados poderão ser elencadas melhores intervenções na
comunidade escolar de um modo geral, podendo assim de modo que se pense o
41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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42
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APÊNDICE
APÊNDICE A
ROTEIRO NORTEADOR DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA.
1. Quais motivos te impulsionaram, a concluir o ensino médio?
2. Você trabalha atualmente? Se sim, quais conhecimentos adquiridos na
escola você utiliza em seu trabalho ou em seu dia a dia?
3. Quais eram suas perspectivas de vida antes de concluir a educação básica?
E quais são as atuais?
4. Você acha que seria diferente se não tivesse frequentado a escola? Em quais
aspectos?
5. Em sua opinião, qual a função da escola?
6. Pra você a escola tem cumprido o seu papel de formar cidadãos?
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TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS COM OS EX-ALUNOS DA ESCOLA
ESTADUAL FRANCISCO DE ASSIS BITTENCOURT.
ENTREVISTA I – 01/08/2015
Entrevistado: 19 anos, solteira, desempregada.
Entrevistadora: Jocileide Costa
ENTREVISTADORA: Quais motivos te impulsionaram a concluir a educação
básica?
ENTREVISTADO: Eu sempre sonhei em ser alguém na vida, e o estudo ia me levar
a isso, a conseguir o que eu quero. Se eu não tivesse o estudo eu não ia conseguir
entrar em uma faculdade, não ia ter tido tantas oportunidades que eu tive de ver os
assuntos que foi passado pelos professores do ensino médio e fundamental. E a
importância que eu acho que pra conseguir o nosso sonho tem que ser visto na
escola durante o ensino.
ENTREVISTADORA: Atualmente você trabalha?
ENTREVISTADA: Não. Nunca trabalhei.
ENTREVISTADORA: Quais os conhecimentos adquiridos na escola que você utiliza
no seu dia a dia?
ENTREVISTADO: A leitura porque tudo que agente vai fazer no nosso dia a dia
agente precisa de leitura, ela está muito presente, e contas também pra ir ao
mercado. E se eu não tivesse ido a escola eu não ia saber.
ENTREVISTADORA: Qual a maior herança que a escola deixou pra você?
ENTREVISTADO: A leitura.
ENTREVISTADORA: Quais as suas perspectivas de vida antes de concluir a
educação básica?
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ENTREVISTADO: Com base nesses conhecimentos que ia ter na escola, conseguir
entra numa faculdade é... e colocar em prática tudo o que eu queria ser, meu maior
sonho era entrar em faculdade, e devido os conhecimentos dos professores,
também a força de vontade que eles tinham de nos ensinar isso era cada degrau
pra gente subir e pôr em prática e ver o que agente podia adquirir devido os ensinos.
ENTREVISTADORA: E quais as atuais?
ENTREVISTADO: Ainda permanece o mesmo sonho de entrar numa faculdade.
ENTREVISTADORA: E o que você queria cursar em uma faculdade?
ENTREVISTADO: Tem Odontologia, só que eu acho muito difícil,
ENTREVISTADORA: Como você acha que é difícil, fazer curso ou entrar no curso?
ENTREVISTADO: Entrar no curso.
ENTREVISTADORA: E porque você acha que não deu? Na verdade você terminou
ano passado, não tinha a obrigação de está numa faculdade esse ano, mas o que
você acha que está faltando?
ENTREVISTADO: Acho que falta mais força de vontade, porque agente teve ensino
bastante dos professores eles deram bastante força e tava sempre no nosso pé pra
gente aprender, só que eu acho que faltou um pouquinho de interesse da minha
parte. Eu devia estudar mais.
ENTREVISTADORA: Você acha que seria diferente se não tivesse frequentado a
escola?
ENTREVISTADA: Seria, porque eu não ia ter esses conhecimentos que eu aprendi
na escola.
ENTREVISTADORA: Pra você qual a função da escola?
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ENTREVISTADA: Ensinar pra vida e pra viver em sociedade... Levar vários jovens
para a universidade.
ENTREVISTADORA: Você acha que é um ensino voltado pra levar pra faculdade,
só isso ou tem algo mais?
ENTREVISTADO: E, mudar a vida de muitos jovens porque tem muitos jovens que
vão pra escola muitas vezes forçado pelos pais, e quando chegam lá, ver o ensino
que é passado, e como é a sociedade atual, e acho que devido isso, levam eles a
creditar nos sonhos deles e buscar e estudar mais.
ENTREVISTADORA: Considerando que a escola tem a função de formar cidadão
que possam contribuir futuramente pra sociedade, você acha que a escola tem
cumprido esse papel?
ENTREVISTADO: Em boa parte sim, eu acho que a escola ela tem educado jovens
assim... Pra... Agora também tem jovens que deixam de ir a escola e as vezes ficam
em outro canto e não vão pra escola pra aprender, mas a escola eu acho que ao
chegar lá esse papel ele é..
ENTREVISTADORA: E em que parte não?
ENTREVISTADO: Porque eu acho também que falta um pouco de conhecimento
que a escola não passa, e que dificulta um pouco.
ENTREVISTADORA: Fale mais dos seus projetos, o que você tem em mente hoje
pra projeto futuro?
ENTREVISTADO: Hoje... Eu tenho muitos planos assim... Pro futuro. Eu penso em
estudar mais pro Enem e... Com isso eu consiga chegar lá (UFRN) e fazer o curso
que eu quero que é odontologia, mas também assim... Eu quero estudar bastante
pra odontologia, mas também se não der pra ele, mas que pra outros cursos. É...
menos, porque odontologia eu acho que é muito difícil.
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ENTREVISTADORA: Porque você acha que Odontologia é um curso superior tão
alto de se alcançar, de chegar lá?
ENTREVISTADO: Assim, porque eu acho que é muito difícil. Numa pública. Porque
eu acho que é um dos cursos muito concorrido pelas pessoas e... Assim pelo nível
de outras pessoas terem mais conhecimento de que eu.
ENTREVISTADORA: E qual o curso que você acha que poderia entrar se não
Odontologia?
ENTREVISTADO: Um curso assim de nível menor de que ele, assim, como um
curso já de psicologia, um curso que acho diferenciado um pouco.
ENTREVISTADORA: Você acha que a única dificuldade, é a sua força de vontade?
ENTREVISTADO: Assim porque, o que me faz não ter uma força de vontade maior
é a dificuldade que eu vejo de eu ir pra natal, de não ter onde ficar eu acho que é
isso.
ENTREVISTADORA: A escola foi importante para sua vida?
ENTREVISTADO: Foi muito importante também na parte da socialização com as
pessoas, porque na escola eu conheci muitas pessoas, novos amigos que foram
importantes para minha vida pessoal. E eu também tive muitos conhecimentos na
escola que foi muito importante pra minha que se eu não tivesse frequentado a
escola eu não teria esses conhecimentos que eu aprendi.
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TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS COM OS EX-ALUNOS DA ESCOLA
ESTADUAL FRANCISCO DE ASSIS BITTENCOURT.
ENTREVISTA II – 08/08/2015
Entrevistado: 19 anos, Casada, dona de casa.
Entrevistadora: Jocileide Costa
ENTREVISTADORA: Qual o seu objetivo em terminar o ensino médio?
ENTREVISTADO: Porque eu sempre quis é... Como meus pais não terminaram
ficaram só com o ensino fundamental, eu queria terminar o ensino médio, fazer uma
faculdade e me formar em alguma profissão.
ENTREVISTADORA: E porque você acha que não deu certo?
ENTREVISTADO: Primeiro não deu certo porque eu casei, aí engravidei, e agora eu
tô com minha filha e como ela ta muito nova aí não tem como eu fazer alguma coisa.
ENTREVISTADORA: Atualmente você trabalha?
ENTREVISTADO: Não.
ENTREVISTADORA: Mas em seu dia a dia, quais os conhecimentos que você
aprendeu na escola que você utiliza no seu dia a dia?
ENTREVISTADO: Aprender a me comunicar melhor com as pessoas, na escola
através dos seminários.
ENTREVISTADORA: Você acha que se não tivesse frequentado a escola, não
tivesse aprendido as coisas que aprendeu na escola, seria diferente sua via hoje?
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ENTREVISTADO: Seria. Até mesmo se eu tivesse feito só o ensino fundamental, eu
não teria aprendido tanto quanto eu aprendi concluindo o ensino médio.
ENTREVISTADORA: Quais eram suas perspectivas de vida antes de concluir a
educação básica? E quais são as atuais?
ENTREVISTADO: Era muito pequeno as coisas que eu planejava pra minha vida,
logo porque eu via que, quem não concluía pelo menos o ensino médio, não
conseguia fazer muita coisa, aí quando eu comecei a fazer o ensino médio, primeiro
ano, eu já vi que eu tinha capacidade de ir além do que eu via as pessoas que só
concluía o ensino fundamental. Bom... Quando minha filha crescer tiver maiorzinha,
ela tiver na creche, eu penso em fazer uma faculdade, fazer algum curso e... Com
certeza trabalhar, que eu não quero fazer como muitas aí fazem que terminam e não
procuram fazer nada e ficam aí...
ENTREVISTADORA: E em que você queria se formar?
ENTREVISTADO: Eu queria ser professora... Eu sempre gostei da área da
educação.
ENTREVISTADORA; E quais as dificuldades que você acha que teria de se formar
em alguma coisa?
ENTREVISTADO: Primeiro dependendo do valor que seria. Se por acaso eu não
conseguisse uma bolsa.
ENTREVISTADORA: Então você pensa em entrar em numa privada?
ENTREVISTADO: Não, eu penso em fazer... pronto, o Enem e fazer em uma sem
ser assim , pagando.
ENTREVISTADORA: Em sua opinião qual a função da escola, que tipo de cidadão a
escola forma?
ENTREVISTADO: Depende muito da pessoa, a escola não vai forçar ninguém a ser
melhor. Agora se você for mesmo com o objetivo de querer aprender e de querer ser
alguém na vida, de querer mostrar para as pessoas que você tem capacidade
através dos estudos de você melhorar sua vida, a escola vai ser um objetivo bom, de
formar cidadãos bons. Agora se você vai pra escola sem nenhum objetivo a escola
com certeza não vai ter culpa nenhuma de você fracassar na sua caminhada.
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TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS COM OS EX-ALUNOS DA ESCOLA
ESTADUAL FRANCISCO DE ASSIS BITTENCOURT.
ENTREVISTA III – 15/08/2015
Entrevistada: 15 anos, Casada, dona de casa.
Entrevistadora: Jocileide Costa
ENTREVISTADORA: Qual o seu objetivo em terminar o ensino médio?
ENTREVISTADO: Acho que assim, uma vida melhor né. Fazer um curso, arranjar
um emprego pra ter sucesso na vida.
ENTREVISTADORA: E qual a profissão que você sonha?
ENTREVISTADO: Ah! Tenho várias, eu queria ser médica, radiologia eu queria
muito, perdi a oportunidade de fazer na UNP. Até veterinária eu queria também, mas
aí eu disse não. Aí agora eu to fazendo técnico em saúde bucal.
ENTREVISTADORA: Qual a importância da escola na sua vida?
ENTREVISTADO: A escola me ensinou muita coisa né, tem algumas coisas que eu
esqueço outras que eu me lembro. Sei lá.
ENTREVISTADORA: Quais são as coisas que você lembra?
ENTREVISTADO: Acho que com certeza a educação, não basta só ter em casa,
mas na escola também.
ENTREVISTADORA: Que tipo de educação voltada pra quê?
ENTREVISTADO: Depende... Você respeitar o próximo, eu acho, e a educação que
você teve na escola em estudar aprender alguma coisa.
ENTREVISTADORA: Quais eram suas perspectivas/projetos de vida antes de
concluir a educação básica?
ENTREVISTADO: Eu pensava assim, ah assim que terminar de estudar vou meter a
cara num curso, e assim eu fiz, eu comecei fazer em maio e acho que ainda demorei
demais. Perdi uma oportunidade muito grande na UNP, fiz uma prova pra fisioterapia
e não passei.
ENTREVISTADORA: E quais são as atuais?
ENTREVISTADO: Terminar esse curso e... fazer um concurso, e meter a cara no
trabalho.
52
ENTREVISTADORA: Mas você pensa em fazer alguma outra coisa, ou só esse
curso mesmo?
ENTREVISTADO: Penso, eu faço técnico em saúde bucal, mas eu queria ser
médica. E também agente de saúde, eu gosto muito.
ENTREVISTADORA: Você disse que achava que tinha demorado muito pra
procurar um curso, mas por quê? Por alguma dificuldade?
ENTREVISTADO: Porque eu não me interessei só pensa em ficar em casa.
ENTREVISTADORA: E a medicina que você tanto quer?
ENTREVISTADO: Ah! Tá difícil. Eu penso assim, eu vou fazer esse curso e arranjar
um emprego, aí o que eu ganhar quero juntar pra fazer medicina, porque medicina é
muito caro.
ENTREVISTADORA: Aí você quer fazer numa universidade privada?
ENTREVISTADO: É.
ENTREVISTADORA: Porque que você não escolheu uma publica?
ENTREVISTADO: Porque eu já fiz tanto ENEM e não passei.
ENTREVISTADORA: Você fez o ENEM quantas vezes?
ENTREVISTADO: Eu fiz duas vezes. E porque eu queria assim fazer uma vez e
passar.
ENTREVISTADORA: Então você acha que é difícil de passar em medicina?
ENTREVISTADO: Acho que sim, porque é muito concorrido.
ENTREVISTADORA: Você acha que seria diferente se não tivesse frequentado a
escola?
ENTREVISTADO: Acho que sim, com certeza.
ENTREVISTADORA: Em quais aspectos? O que você aprendeu na escola que faz
diferença hoje na sua vida?
ENTREVISTADO: Acho que o estudo né, o básico. O estudo, porque eu acho que
sem o estudo a pessoa não vai a nenhum canto.
ENTREVISTADORA: O estudo que você fala é o quê?
ENTREVISTADO: Cada matéria tem um ensino, matemática tem a multiplicação,
biologia sobre o corpo, geografia história do mundo, português a fala correto e como
se escreve, acho que é isso.
ENTREVISTADORA: Pra você qual é a função da escola?
ENTREVISTADO: Educar.
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ENTREVISTADORA: Em que sentido?
ENTREVISTADO: Em todas as partes, educação que vem de casa e dentro da
escola.
ENTREVISTADORA: Como a escola forma o aluno? Educa pra quê?
ENTREVISTADO: Pra ser gente. Sei lá, você ta lá pra aprender, né, muitas coisas.
Os conteúdos que mais na frente você vai precisar né, pra fazer uma prova. Ser
gente eu quero dizer, não ser ignorante. Tem gente que diz, ah eu não vou pra
escola por conta disso e disso, e muitas vezes se mete no mundo das drogas, aí vai
se dá mal né. Na escola não, tem muita gente que vai pra escola, mas tá no mundo
das drogas, mas não tem um aprendizado como a gente que tá lá lúcido.
ENTREVISTADORA: E você acha que a escola tem cumprido esse papel?
ENTREVISTADO: Acho que sim penso que não.
ENTREVISTADORA: Porque você acha que sim?
ENTREVISTADO: Porque tem aluno que sai de uma escola bem fraquinha, e ta aí
que nem você na UFRN. Por uma parte sim, quem se interessa realmente conquista,
mesmo que você não tenha uma condição financeira, tem varias provas tem o
ENEM, tem tudo no mundo pra você meter a cara e fazer. E acho que não porque
depende da escola, tem professores que se interessam diretores que são
interessados em que o aluno aprenda e outras não.
ENTREVISTADORA: Você teve dificuldade quando chegou no Bittencourt?
ENTREVISTADORA: Foi horrível. Eu achava que não ia passar minhas notas todas
baixa. Quando foi no final do ano tive um excelente resultado.
ENTREVISTADORA:
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TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS COM OS EX-ALUNOS DA ESCOLA
ESTADUAL FRANCISCO DE ASSIS BITTENCOURT.
ENTREVISTA IV- 22/08/2015
Entrevistada: 21 anos, solteira, trabalha num salão de beleza.
Entrevistadora: Jocileide Costa
ENTREVISTADORA: Qual o seu objetivo em terminar o ensino médio?
ENTREVISTADA: Por que você terminando os estudos, pra arrumar um emprego,
assim... Não bom, mas já é o essencial ter o ensino médio completo, é o que você
tem que ter e o que pedem muito.
ENTREVISTADORA: Quais os conhecimentos que você adquiriu na escola, e que
você usa no seu trabalho?
ENTREVISTADA: A comunicação que tem que ter com as pessoas aqui, e saber
como lidar com as pessoas, é o que agente ver muito em na escola, em sociologia,
por exemplo, pra lidar de certa maneira sem que você manche com as pessoas né,
e sem que você se prejudique, acho que a comunicação tem que se fundamental.
ENTREVISTADORA: E no seu dia a dia?
ENTREVISTADA: Tudo, comportamento, comunicação, como lidar com a
sociedade.
ENTREVISTADORA: Quais eram suas perspectivas/projetos de vida antes de
concluir a educação básica?
ENTREVISTADA: Ah, tem tantos. Só que é mais difícil pra gente que mora aqui na
zona rural, é mais difícil. Eu pensava em concluir o Ensino Médio fazer algum curso
técnico, de informática, por exemplo, mais informática é mais simples né. Mas eu
pensava muito em fazer fisioterapia, mais aí às condições não dá. Porque, assim, o
trabalho não dá né pra pagar uma faculdade. Eu trabalho aqui no salão mais o
salário é pouco.
ENTREVISTADORA: Então você pensa em fazer numa privada, e a pública?
ENTREVISTADA: É mais difícil, porque tem que estudar muito para poder entrar, e
assim agente se relaxa muito, espera muito e quando vê já...
ENTREVISTADORA: Considerando que você falou que na zona rural as
dificuldades eram maiores, quais são essas dificuldades?
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ENTREVISTADA: Ah, de transporte, a distância, aqui também é muito difícil
emprego, porque pra você pagar uma faculdade e pra ir trabalhar em outra cidade,
tem que ter um dinheiro a mais, pra pagar transporte, aí quando você tem onde ficar
é melhor.
ENTREVISTADORA: E quais são suas perspectivas atuais?
ENTREVISTADA: Ainda penso em fazer faculdade, mas quero arrumar um emprego
melhor. Pra poder me manter, e começar a fazer um curso técnico, de segurança,
em administração pra trabalhar aqui mesmo nessas empresas... Algo assim. Mas
falta determinação da minha parte, que assim, agente se acomoda muito,quando
agente ta um pouco melhor aí agente vai se acomodando, vai deixando um pouco
de lado os sonhos. Precisa mais de iniciativa minha.
ENTREVISTADORA: Você acha que seria diferente se não tivesse frequentado a
escola?
ENTREVISTADA: Totalmente diferente.
ENTREVISTADORA: Em quais aspectos?
ENTREVISTADA: Hoje em dia até pra que tem o ensino médio é complicado
imagine pra quem não tem. Então é muito mais difícil quando não se tem.
ENTREVISTADORA: Em sua opinião, qual a função da escola?
ENTREVISTADA: Ajudar o aluno a entrar numa universidade pra poder arrumar um
emprego futuramente, e também preparar pra ser alguém na vida. Fazer com que o
ser humano seja mais humano saiba respeitar as decisões, as escolhas das
pessoas, que não existe só sua opinião, existem várias culturas e opiniões e agente
tem mais é que respeitar, e a escola nos proporciona esse conhecimento.
ENTREVISTADORA: E você acha que a escola tem cumprido esses papeis?
ENTREVISTADA: Assim a escola faz muita coisa, mas depende muito de você né,
do aluno, fazer com que esse conhecimento venha ser exercido. Porque nem todos
os alunos da escola, fazem com que isso seja executado.
ENTREVISTADA: E qual a profissão que você sonha?
ENTREVISTADORA: Qual a importância da escola na sua vida?
ENTREVISTADA: Eu adquiri muitos conhecimentos, assim nas matérias, que é
importante pra vida, como a questão da matemática que uso muito aqui, pra passar
troco, por exemplo, a questão da comunicação como eu já falei. É isso.
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TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS COM OS EX-ALUNOS DA ESCOLA
ESTADUAL FRANCISCO DE ASSIS BITTENCOURT.
ENTREVISTA V - 29/08/2015
Entrevistada: 20 anos, solteira, desempregada.
Entrevistadora: Jocileide Costa
ENTREVISTADORA: Qual o seu objetivo em terminar o Ensino Médio?
ENTREVISTADA: Por que a maioria das pessoas da minha família não conseguiu
terminar, então eu queria muito, mesmo que futuramente eu não fosse fazer outra
coisa, mas eu queria muito terminar. Só por isso mesmo, porque ninguém lá de casa
concluiu. Aí eu queria muito mostrar pra eles que eu ia conseguir terminar. Aí só
depois eu comecei a pensar em querer fazer outra coisa.
ENTREVISTADORA: Qual a importância da escola para sua vida?
ENTREVISTADA: Me ajudou muito me fez conhecer coisas novas, que eu não
sabia, que na escola anterior não me ensinavam, como palestras sobre as
profissões.
ENTREVISTADORA: O que você aprendeu na escola que faz diferença na sua
vida?
ENTREVISTADA: É ter sempre paciência, por que eu não tinha. E hoje exerço muito
com meus tios em casa, pois eles chegam bêbados e eu tenho entender muito eles.
ENTREVISTADORA: Você trabalha atualmente?
ENTREVISTADA: Não.
ENTREVISTADORA: Você acha que teria sido diferente sua vida se não tivesse
frequentado a escola?
ENTREVISTADA: Teria, porque mesmo eu frequentando a escola, eu fui trabalhar
em casa de família e você com o estudo você pode, não ter o trabalho dos seus
sonhos, mas ter um trabalho melhor, ganhando melhor.
ENTREVISTADORA: Quais eram suas perspectivas/projetos de vida antes de
concluir a educação básica?
ENTREVISTADA: Concluir, depois fazer cursos básicos de informática, mas o que
eu queria mesmo era um curso de medicina, mas como não posso fazer tô fazendo
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um de saúde bucal, por que eu gosto da área da saúde. Aí quando eu tive um
emprego e puder pagar uma faculdade de medicina eu faço.
ENTREVISTADORA: Então você prefere numa universidade privada?
ENTREVISTADA: Uma universidade privada é melhor, a pública é muito difícil de
entrar lá, é muito concorrido.
ENTREVISTADORA: Pra você, qual é a função da escola?
ENTREVISTADA: Acho que a escola é a base de tudo, ela tem que transmitir para o
aluno segurança, do que ele vai fazer.
ENTREVISTADORA: Que tipo de educação a escola tem que dar?
ENTREVISTADA: Os professores foram muito companheiros, alguns até ouviam
meus problemas de casa, acho que a escola tem que acolher os alunos, e entender
as nossas dificuldades.
ENTREVISTADORA: Você acha que a escola tem feito esse papel?
ENTREVISTADA: Tem muito aluno que não quer nada com a vida, diz que vai pra
escola e não vai. Aí a escola vai fazer o que? Não depende só da escola.