Como Os Indivíduos Se Tornam Indivíduos

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    247Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 1, p. 247-267, jan./mar. 2013.

    Como os indivíduos se tornam indivíduos? Entrevista com

    Danilo Martuccelli

    Maria da Graça Jacintho SettonI

    Marilia Pontes SpositoI

    Resumo

    O objetivo desta entrevista é oferecer subsídios para o debateacerca dos desafios epistemológicos atuais da sociologia. Trata-se de uma rara oportunidade de dar voz a um pesquisador quemesmo se ocupando de temas europeus e específicos da realidadefrancesa, não deixa de ter um envolvimento com a realidadelatino-americana. A entrevista concedida por Danilo Martuccelli,em outubro de 2012, foi realizada pelas professoras de sociologiada educação da Faculdade de Educação da Universidade de SãoPaulo, Maria da Graça Jacintho Setton e Marilia Pontes Sposito, apartir de um debate informal e cordial realizado ora por  e-mail , orapresencialmente. Danilo Martuccelli é professor de sociologia daFaculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Paris-Descartes (Sorbonne). É também membro do grupo de pesquisa CERLIS (Centre de recherches sur les liens sociaux), que pertenceà mesma instituição. Nesta entrevista temos a exposição de uminstrumental teórico e analítico que evidencia a integração dasperspectivas micro e macrossociológica. Aproveitando-se de umasólida leitura dos clássicos da sociologia a partir de um enfoquegrupal ou individual, Danilo Martuccelli oferece um relatoinspirador de como podemos nos apropriar de uma larga tradiçãoteórica. Fazendo uso dessas reflexões, o depoimento põe em tela umdebate contemporâneo no interior das ciências sociais, bem comogarante a ampliação e a contextualização histórica e teórica dosprocessos de formação do social.

    Palavras-chave

    Sociologia – Estrutura social – Singularização – Individuação –Formações societárias contemporâneas.

    I- Universidade de São Paulo, São Paulo, SP,Brasil. Contatos: [email protected];

    [email protected]

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    248 Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 1, p. 247-267, jan./mar. 2013.

    How individuals become individuals?   An interview with

    Danilo Martuccelli 

    Maria da Graça Jacintho SettonI

    Marilia Pontes SpositoI

     Abstract 

    The aim of this interview is to offer elements for the debate about

    the current epistemological challenges in sociology. It represents

    a rare opportunity of giving voice to a researcher who, although

    dedicating himself to European themes and specifically to the

    French reality, is also involved with the reality in Latin American.

    The interview given by Danilo Martuccelli in October 2012 was

    conducted by Maria da Graça Jacintho Setton and Marilia Pontes

    Sposito, two professors in the sociology of education from the

    School of Education of Universidade de São Paulo, and relied on

    an informal and friendly debate carried out partly via e-mail,

     partly in person. Danilo Martuccelli is professor of sociology at

    the Faculty of Human and Social Sciences of Université Paris

    Descartes (Sorbonne). Here is also a member of the CERLIS research

    group ( Centre de recherches sur les liens sociaux ) of the sameUniversity. In this interview we have the exposition of a theoretical

    and analytical framework that reveals the integration of the micro

    and macro-sociological perspectives. Drawing from a solid reading

    of the sociology classics, and based on a group and individual

    approach, Danilo Martuccelli offers an inspiring description of

    how we can incorporate this vast theoretical tradition. Making use

    of these reflections, his testimony brings to light the contemporary

    debate within the social sciences, and also affords the expansion

    and historical and theoretical contextualization of the formation

     processes of the social.

    Keywords 

    Sociology – Social structure – Singularization – Individuation –

    Contemporary societal formations.

    I- Universidade de São Paulo, São Paulo, SP,Brazil. Contacts: [email protected];

    [email protected] 

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    249Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 1, p. 247-267, jan./mar. 2013.

    Danilo Martuccelli é professor de so-ciologia da Faculdade de Ciências Humanase Sociais da Universidade Paris-Descartes(Sorbonne). Com uma produção notável — por volta de dez livros-solo e mais tantos outros emparceria, além de artigos em periódicos interna-cionais —, Martuccelli nasceu em 1964, no Peru,fez seus estudos de graduação na área de filo-sofia, na Argentina, e vive na França desde seudoutorado em sociologia, na década de 1980.

    Inquieto e sensível aos desafios da so-ciologia na atualidade, tem-se dedicado já háalgum tempo a fazer uma inflexão analíticarumo a uma sociologia da singularização. Nãoobstante, a centralidade epistemológica do in-divíduo em suas análises sociológicas não fazcom que ele abandone a preocupação maior dadisciplina. Ao contrário, Martuccelli parece crerque é nesse diálogo entre estruturas histórico--sociais e experiências individuais que pode-mos abrir uma nova brecha interpretativa.

     A seriedade e o entusiasmo pelo tra-balho intelectual parecem ser ainda caracte-rísticas importantes em sua obra. Sendo eleadepto de uma sociologia construída de modoartesanal, com uma produção que se renova acada publicação e uma interlocução constantecom seus companheiros de profissão, a leiturade seus trabalhos serve como inspiração para variadas formas de fazer sociologia.

    O livro  Sociologies de la modernité , de1999, marca uma inflexão importante em seus

    trabalhos, sintetizando um mergulho denso nosprincipais autores do pensamento sociológicopara, a partir desse diálogo, enfrentar os de-safios impostos à sociologia dos séculos XXe XXI. Nessa obra, Martuccelli apresenta umareflexão arguta e já delineia as principais ca-racterísticas que marcarão os caminhos maisrecentes de sua área de investigação e interesse.Ou seja, desde então, ele parece ter como in-quietação desvelar as dificuldades da sociologiacontemporânea em dar conta das experiênciassociais vividas pelos indivíduos. Grosso modo,poderíamos afirmar que suas reflexões expos-tas nesse livro ocupam-se de três tradições oumatrizes teóricas que o acompanham até ho- je. Estas seriam, primeiramente, as teorias quediscutem a diferenciação social ; em seguida, asteorias que se ocupam dos processos de racio-nalização; e, por fim, as teorias que se dedicamà condição moderna. Não obstante, o autor temciência de que tais tradições não são excluden-tes, mas por vezes dialogam entre si, sendo quetodas elas oferecem, enfim, um instrumentalanalítico precioso.

    É possível afirmar, ainda, que esse mer-gulho alimentou suas investigações posteriores.O trabalho de Martuccelli está marcado por uma vasta articulação de leituras, como atesta a va-riedade de temas pelos quais se interessa, todossempre inspirados por uma preocupação maior:o desajuste entre interpretação sociológica e ex-periências individuais. Em seus diferentes livros,Martuccelli salienta os limites de uma sociologiatradicional que busca apreender o indivíduo combase em certa representação do mundo social.Para ele, uma leitura tradicional tenderia a con-ceber a significação e a trajetória das ações dosindivíduos deduzidas de sua posição e funçãoem um domínio social constituído. De acordocom essa perspectiva, as condutas dos indivídu-os seriam formadas e deformadas pelos agencia-mentos das estruturas invisíveis que constitui-riam as ações individuais; os sujeitos, por sua vez, seriam percebidos como produto imediatode um entrelaçamento de forças de origem social(MARTUCCELLI, 2002, 2007, 2010b).

     Apresentação

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    250250 Maria da G. Jacintho SETTON; Marilia P. SPOSITO. Como os indivíduos se tornam indivíduos? Entrevista com Danilo Martuccelli

    Mesmo essa leitura estando em voga,Martuccelli (2007, 2010b) afirma que a situaçãoatual obriga a repensar tal enquadramento, sejano continente europeu, seja na América Latina.Na realidade, a crise da ideia de agente ou atorsocial e a correspondência estrita entre trajetó-ria social, processo coletivo e vivência pessoalexigiram da sociologia novos caminhos. ParaMartuccelli, a questão do social não pode maisser apreendida exclusivamente a partir das posi-ções sociais, de um sistema de relações sociais oude certa concepção de ordem social. A novidaderelativa da situação atual, segundo ele, provémdo fato de que daqui para frente, entre o vivi-do pelos atores e a linguagem dos analistas, adistância não cessa de crescer. Nesse sentido, asclasses sociais deixam de ser o formidável prin-cípio de unidade política, intelectual e práticoda vida social. Os estudos sobre trajetórias e ex-periências individuais tornam-se hesitantes. Asfronteiras entre os grupos sociais, sem desapare-cerem, fazem dos percursos experiências fluidas. Além de tudo, de acordo com Martuccelli (2002),não existiriam universos fechados para os indi- víduos, sendo difícil pensar os significados dasações ou suas determinações exclusivamente apartir da posição ocupada por um ator social emum contexto bem circunscrito.

    Martuccelli lança-se, então, em trabalhosempíricos de investigação para pôr em prova suatese de trabalho. Os livros Forgé par l’épreuve(2006) e La société singulariste (2010a), entre ou-tros, apresentam ao leitor um esforço de manejarconceitos e um método de observação e análi-se a fim de construir um instrumental analíti-co. A partir de um diagnóstico de nossa época– a sociedade singularista –, sua busca é colo-car em prática outra sensibilidade interpretativapor meio de um novo instrumental sociológico(MARTUCCELLI, 2010a). Abandonando fórmu-las teóricas universais, ele nos convida a pensarsobre a realidade espacial e temporal específicade cada localidade segundo vivências históricasparticulares, auxiliando-nos a compreender osmecanismos responsáveis pela fabricação de in-divíduos em contextos variados (MARTUCCELLI,

    2010b). Numa espécie de sociologia histórica, in-siste que observemos a dinâmica societária, ouseja, os processos simultâneos de socialização eindividuação como fundamentalmente históri-cos. Para ele, o indivíduo não está nunca – comoerroneamente afirmam alguns – na origem dasociedade, mas é o resultado de um modo especí-fico de fazer sociedade (MARTUCCELLI, 2010b).

    Contudo, Martuccelli assevera que o de-safio será sempre estabelecer o laço entre expe-riências pessoais e jogo coletivo. Sua propos-ta, assim, é de que o estudo do indivíduo devaser hoje material de reflexão da sociologia.Segundo ele, se a individuação se produz naintersecção de uma diacronia e de uma sincro-nia, seria necessário, então, apreender em umnível biográfico os fatores que condensam umasituação histórica e social. A noção de épreuve  — numa tradução literal, desafio ou dificuldade  —consistiria em um operador analítico, pois per-mitiria religar processos estruturais, espaços eitinerários pessoais (MARTUCCELLI, 2006). Emoutras palavras, Martuccelli (2006, 2010a) apre-senta um original aporte teórico, oportunizandouma nova inflexão analítica.

    Por fim, seria também interessante sa-lientar que, embora a maioria de seus estudos seocupe da sociedade europeia e especificamen-te francesa, suas reflexões são estendidas parao universo societário latino-americano. Aindaque seus temas possam ser qualificados comouniversais — por exemplo, os processos de indi- viduação e os desafios estruturais da escolariza-ção ou do trabalho —, o instrumental analíticoque ele nos oferece é capaz de ser circunstan-ciado em vários contextos sociais.

    Três publicações são reveladoras nessadireção. A primeira, Cambio de rumbo: la socie-dade a escala del indivíduo (2007), e a segunda,Existen indivíduos en el Sur?   (2010b), ambaspublicadas no Chile pela Editora LOM, apre-sentam um diagnóstico da condição moderna euma interpretação bastante inédita da realidadelatino-americana. A terceira, lançada em 2012,também pela LOM, em pareceria com Kathya Araujo, e intitulada Desafios comunes: retrato

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    de la sociedade chilena y sus indivíduos (tomosI e II), é resultado de uma ampla investigaçãorealizada no Chile para discutir os processosde individuação e, assim, iluminar com análi-ses empíricas as interpretações e inquietaçõespresentes nos dois outros livros. Martuccellitem desenvolvido trabalhos importantes com pesquisadores do Sul e, desde os anos 1990,mantém intercâmbio profícuo com a pesquisaque se realiza no Brasil no interior das ciênciassociais e da educação. Seus estudos realizados

    em parceria com François Dubet sobre a escolaconstituem referências significativas para ospesquisadores brasileiros no âmbito da socio-logia da educação desde os anos 1990. Os vá-rios artigos publicados no Brasil e em revistasda América Latina examinam temas centraisque caracterizam os dilemas da escola contem-porânea — autoridade, cidadania, identidades,socialização, entre outros —, sempre oferecen-do uma contribuição criativa, densa e originalpara o debate.

    Referências

    MARTUCCELLI, Danilo. Sociologies de la modernité. Paris: Folio Gallimard, 1999.

    ______. Grammaires de l´individu. Paris: Gallimard. 2002.

    ______. Forgé par l’épreuve: l’individu dans la France contemporaine. Paris: Armand Colin, 2006.

    ______. Cambio de rumbo: la sociedad a escala del individuo. Santiago: Ed. LOM, 2007.

    ______. La société singulariste. Paris: Ed. Armand Collin, 2010a.

    ______. Existen indivíduos en el Sur? Santiago: Ed. LOM, 2010b.

    MARTUCCELLI, Danilo; ARAUJO, Kathya. Desafios comunes:  retrato de la sociedade chilena y sus indivíduos (Tomos I e II).

    Santiago: Ed. LOM, 2012.

    Maria da Graça Jacintho Setton é professora associada livre-docente da Faculdade de Educação da Universidadede São Paulo.

    Marilia Pontes Sposito é professora titular em Sociologia da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

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    Pero regreso a mis años de formación.En este contexto político, lo importante no fuelo que aprendí en la Facultad de Filosofía yHumanidades, sino el estímulo amical, sociale intelectual que descubrí en Argentina. ¿Quéme interesó de los estudios de filosofía? En verdad poco o nada, y ello en mucho a causade la distancia con los profesores que tuve. Peroesa experiencia me transmitió un cierto gusto,interés y curiosidad por las ideas, y por laautoformación, que no he perdido con los años.

    En todo caso, mis intereses se centraronsobre todo en la filosofía política, y al terminarla licenciatura, y con un conocimiento másamplio a la vez de lo que eran las cienciassociales y de lo que no era la filosofía, mepareció evidente efectuar estudios de maestría ydoctorado en sociología. La elección de hacerloen Francia se debió, además de razones deinterés intelectual por la obra de ciertos autoresfranceses, por una serie de razones biográficas.

    Cuáles son los autores y las escuelas depensamiento que marcaron tu formaciónacadémica? ¿Hay autores latinoamericanosque fueron importantes en tu formación? 

    En mis años de estudiante de filosofía,pero esto forma parte del retrato-robot de lageneración de la que formo parte, la lecturade Marx era evidente, y en el marco de laapertura democrática argentina, habría queañadir la Escuela de Frankfurt y sobre todoJean-Paul Sartre. En verdad, y para ser justos,mi horizonte intelectual en esos años era elmarxismo occidental, y dentro de él, más el 

     joven Marx  humanista que el Marx científico delestructuralismo. Mis horizontes intelectuales yprofesionales han variado pero el corazón demi reflexión sigue en el fondo siendo el mismo.Una continuidad favorecida por el hecho deque jamás fui lo que entonces se llamaba unmarxista, y mucho menos un militante político.Mi interés por el marxismo era intelectual yno una fe militante. En la época siempre meinteresó leer a los críticos del marxismo, al

     Trayectoria académica y trabajo

    sociológico

    Danilo Martuccelli, muchas gracias porconcedernos esta entrevista. Tu trabajo es muyconsiderado en Brasil y ésta será una verdaderaoportunidad de ampliar tu interlocución con elpúblico universitario brasileño.Eres razonablemente joven y posees unaobra considerable. ¿Podrías hacer algunasconsideraciones sobre tu trayectoria académicaasí como tu formación en filosofía en Argentina(U.N.C. Argentina -1985) y especialización enSociología en Francia? (Doctorat de l’E.H.E.S.S.en 1991 e HDR, Université de Lille 3, 2004).

    Gracias por lo de razonablemente joven.Nunca nadie me lo había dicho hasta ahora. Laprueba que no debe ser tan cierto. Bromas apartetrato de contarles rápidamente mi trayectoriade formación. A comienzos de los años 1980,para un joven peruano que se interesaba porla literatura y la política, la filosofía podíaaparecer, sin duda un tanto ingenuamente,como una disciplina que podía hacer el puenteentre mis intereses intelectuales. Obviamente,no era el caso, pero a pesar de ello creo que, vistoretrospectivamente, fue una buena decisión.Como también lo fue, en el fondo, ir a estudiarfilosofía en Córdoba, Argentina. Algo que paraalgunos podría aparecer como una decisióndescabellada se reveló como una de las grandeselecciones de mi vida. Mis estudios en Argentinacoincidieron con la guerra de las Malvinas,el fin de la dictadura militar, la apertura delproceso de transición democrática, la primeraderrota electoral del peronismo, la presidenciade Alfonsín, las Comisiones de la Verdad, y lasdesilusiones variables que rápidamente todosestos procesos engendraron. Todo sucedió muyrápido y con mucha intensidad. La experienciame marcó tanto que muchos años después, y ya residiendo en Francia, realicé con MaristellaSvampa una larga investigación empírica sobreel peronismo y sus transformaciones que diolugar a La plaza vacía, publicado en 1997.

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    punto que creo que no miento si digo que enesos años era una suerte de marxista liberal.

    Pero esos intereses personalesestaban radicalmente divorciados de lo quese estudiaba en la Universidad. El climaintelectual del departamento de filosofía eramuy tradicional – los profesores progresistaseran a lo más neo-tomistas – y en estecontexto de sofocación intelectual, Kant –¡que se podía leer! – fue un autor importanteen mi formación.

    La filosofía vivía en esos años, a nivelinternacional, el tránsito de la filosofía europeacontinental, y de la importancia de la historiaen la reflexión filosófica, hacia la hegemoníade la filosofía anglosajona –las últimas grandesexpresiones del positivismo lógico y sobre todoel triunfo, hoy tan visible, del pragmatismo. Detodo ello, en Córdoba había muy poco eco en lainstitución, pero existía una verdadera ebulliciónestudiantil. Algunos amigos, por ejemplo,animaban un grupo de reflexión alrededor de lafilosofa de las ciencias, en donde muchos de esostrabajos eran leídos y discutidos. Sin embargo,mis preocupaciones siempre se orientaron haciala política y la sociedad.

    El tránsito hacia la sociología se dio através de los seminarios de un grupo particularde intelectuales en la EHESS. Alain Touraineque fue mi director de tesis, pero tambiénLefort, Castoriadis, Pécaut, o los seminariosmás puntuales a los que asistí de Gauchet oRosanvallon. En muchos de ellos, creo, es visible,incluso en términos polémicos, la tradiciónmarxista e incluso la presencia de Sartre. Adecir verdad, solo me formé como sociólogodespués de mi tesis doctoral (en sociología), ya siendo investigador en el CNRS, y sobretodo en Bordeaux, en compañía de FrançoisDubet, con quien terminé mi aprendizajedel oficio de sociólogo en una investigaciónsobre la experiencia escolar   ( A l’école , 1996), y en donde descubrí en verdad la tradiciónsociológica. En este proceso el encuentro conla obra de Talcott Parsons y de Erving Goffmanfue muy importante. Creo que Sociologies de la

    modernité  (1999) y la tesis que defiende el librosobre la dialéctica entre la idea de sociedad yla experiencia de la modernidad, sintetiza estatrayectoria de lecturas.

     Y ¿América Latina? Siempre ha estadomuy presente en mi formación y en mi trabajo,en parte a través de mis lecturas literarias, perotambién y sobre todo en la sincera admiraciónque tengo, y que sigo conservando, por lomejor de su tradición ensayística. En el caso de América Latina creo que su tradición ensayísticaes incluso más original y de calidad que sutradición literaria. Hace unos años escribí con Anne Barrère un libro sobre la novela francesacontemporánea (Le roman comme laboratoire ,2009), pero no creo que dedicaría un trabajo así ala novelística latinoamericana. Por el contrario, y como lo atestiguan mis trabajos sobre AméricaLatina, el acervo de conocimientos presentes ensu tradición ensayística es una parte importantede mi formación y de mis lecturas desde miadolescencia en Lima.

     

    ¿Cómo evalúas tu condición de sociólogode origen latinoamericana trabajando enFrancia? Has producido trabajos importantesen coautoría, ¿consideras que el ambientefrancés es propicio para ese tipo deincursión? ¿Favorece el desarrollo de gruposde investigación? ¿Cuáles son tus contactos,sociedades e intereses con América Latinaactualmente?

    Lo más interesante de la preguntareenvía, creo, una vez más a una experienciageneracional. Formo parte de una de lasprimeras generaciones de investigadores delSur que, insertados profesionalmente en elNorte, trabajan temas sociales de países delNorte. Hasta ese momento, e incluso hoy en díaen la mayoría de los casos, los investigadoresdel Sur solo trabajaban temas de sus propiassociedades nacionales. Mi tesis doctoral, la quese interesó por la acción colectiva en Europasuscitaba la más profunda sorpresa entre losotros estudiantes latinoamericanos en París,

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    quienes trabajaban sobre su propia sociedadnacional. Creo que lo más interesante de loque “mi” experiencia latinoamericana me daen el análisis de la vida social es fruto de estadescentralización. A diferencia de muchoslatinoamericanos que creen que la modernidadestá encarnada en las sociedades del Norte yque siguen leyendo América Latina, inclusocon cierta ingenuidad, desde sus anomalías,la experiencia de casi 25 años de trabajo decampo en Francia (y puntualmente en Italia eInglaterra) me ha dado una visión muy distinta.

    Por lo demás mi forma de trabajointelectual es muy artesanal. Una de las grandesposibilidades de ejercer la sociología en Franciaes que, por el momento, hasta el momento, estetipo de ejercicio es institucionalmente posible.Quiero decir con esto que, salvo en mi fase deestudiante en doctorado, en un equipo dirigidopor Michel Wieviorka, nunca he participado enningún gran proyecto de investigación colectiva,internacional, con grandes fondos. Lo esencialde mis trabajos (de teoría social o de estudiosempíricos) se ha hecho sin financiamiento, demanera solitaria o con la sola compañía de uncómplice de aventura (que eventualmente podíadisponer de cierto apoyo financiero particular).En todas mis investigaciones empíricas (sobreel racismo, las políticas urbanas, la experienciaescolar, el populismo en Argentina, laindividuación en Francia o en Chile, e inclusoen el desarrollo del método extrospectivo),siempre hago personalmente lo esencial, sinola totalidad, del trabajo de campo. Del mismomodo, en lo que concierne a la redacciónde mis libros de teoría social siempre se hatratado de un trabajo solitario (jamás he tenidoningún asistente de investigación en ningunode mis proyectos).

    Les cuento esto con la mayor neutralidadposible. Sé que se pueden hacer excelentesestudios en equipos colectivos; sé que disponerde asistentes facilita y acelera muchas cosas; séque trabajar con fondos es más fácil que hacerlosin dinero; y también sé que se pueden escribirbuenos estudios de campo delegando el trabajo

    empírico a los asistentes. Simplemente no esla manera como trabajo. En verdad, no veocómo podría apoyarme en la ficha de lecturade un asistente para comentar un libro. Y enlo que concierne a la investigación sociológica,ésta se construye para mí durante el trabajo decampo. Necesito ver  a las personas sobre las que escribo; mis intuiciones se forjan y corrigen enel va-y-viene del trabajo empírico y no veocómo, en lo personal, podría delegar o privarmede este conjunto de informaciones. Lo anteriorhace que tenga una experiencia de trabajo decampo mucho más importante y variada quela mayor parte de mis colegas sociólogos. Pero,no hago, como muchos de ellos lo hacen, deesta experiencia un principio de legitimidadintelectual y reconozco, a diferencia de tantosotros, la legitimidad de un discurso sociológicobasado en la interpretación de una literaturasecundaria (e incluso el posible interésintelectual de ensayos sobre la vida social).

    En esta trayectoria, algo decisivo, hansido las aventuras intelectuales compartidas condistintos colegas. La singularidad solo es posibledesde lo común. En cada uno de estos trabajos,la conversación intelectual, estrecha y frecuente,con esa asiduidad y esa complicidad tan particularque solo transmite una investigación conjunta,siempre me aportó cosas sustanciales –y esperohaberlas aportado a los que me acompañaronen esos estudios. En cada experiencia, mi propiareflexión se nutrió de las obsesiones ajenas;descubrí mundos que ignoraba, entendí –desdeadentro, o sea en compañía de otros– la fuerzade ciertas preguntas y la sustancia de tantasotras tradiciones.

    En fin, en los últimos años he realizadodos trabajos conjuntos en América Latina.El primero con Bernardo Sorj – El desafíolatinoamericano (2008)– es un informe sobre lasdinámicas de la cohesión social y la democraciaen la región. El segundo con Kathya Araujo– Desafíos comunes. Retrato de la sociedadchilena y sus individuos (2012) – es el resultadode una investigación empírica de varios añossobre el proceso de individuación en Chile.

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    Iniciaste tu carrera académica en los marcosde la teoría de la acción colectiva, examinandoen tu doctorado el agir conflictivo. ¿Cómo vesactualmente ese trabajo?

    Mi tesis doctoral, que nunca publiqué,defendida en 1991, fue un intento poranalizar, desde el marco de las luchas socialescontemporáneas, la vigencia posible del proyectomoderno de hacer la historia. La noción de agir  conflictivo, estudiado y construido esencialmentea través de dos estudios de caso (el ecologismo yel feminismo) fue lo que me sirvió de eje en eseesfuerzo, obligándome a desarrollar deslindescríticos con otras versiones del proyecto de hacerla historia construidos a partir del trabajo o dela comunicación. La conclusión de la tesis fueque a diferencia de lo que supuso la tradiciónhistoricista del sujeto colectivo, las luchassociales solo pueden ser referentes socialesparciales de sentido. Lo anterior porque encada periodo son solamente ciertos sistemas derelaciones sociales los que son objeto de crítica y de contestación conflictiva mientras quemuchas otras relaciones sociales no logran serconflictualizadas. La inteligencia autónoma yconflictiva de la sociedad sólo puede ser parcial.

    En lo personal, mi tesis doctoral significóuna triple toma de distancia con la tradicióndel marxismo occidental: (1) adhesión radicala la contingencia de la modernidad en contrade toda filosofía por secularizada que sea de laHistoria; (2) abandono de la hermenéutica deltrabajo – o sea, de la idea que la emancipaciónpasa necesariamente por el desvelamientode las condiciones ocultadas y mistificadasde la producción; (3) ruptura, sin retorno,con el imaginario de la revolución y la ideade la existencia de un punto de quiebre ytransformación radical de un sistema. Cuandoterminé mi tesis doctoral, estaba persuadidodel carácter definitivo de estos impases (lo sigocreyendo) y por ende sentí la necesidad, a lapar que efectuaba estudios de campo sobre elracismo, la experiencia escolar o el populismo,de sumergirme en una lectura exigente,

     y durante muchos años, de la tradiciónsociológica. Esa fase intelectual, concluyó enlo personal, con la publicación casi diez añosdespués de Sociologies de la modernité (1999) yGrammaires de l’individu (2002).

    ¿Cómo explicarías la transición de tusintereses, de una sociología dirigida hacia losactores colectivos hacia una sociología delindividuo? ¿Cuál es el peso de tu formaciónfilosófica en la definición de los antiguos ynuevos intereses de investigación?

    La toma de conciencia de los impasesdel imaginario de la revolución, y más alláde él, del agir conflictivo como vía principalpara producir un desvelamiento emancipadorde las relaciones sociales fue un resultadoinesperado de mi tesis. Pero, desde entonces, esuna conclusión con la cual sigo concordando.Una posición de este tipo explica mi distanciahacia lo esencial del denominado pensamientocrítico de las últimas décadas: en todos ellos, loque prima es la idea de la emancipación comobrecha; una crítica que, de una u otra manera,se organiza siempre en torno a la  apertura,a los  flujos, a los  eventos, a la  creación, enbreve, al movimiento más que a la institución.Esta deriva es muy notoria en el caso francésen la estela del pensamiento post-68, yasea en Deleuze, Badiou, Derrida o Rancière,pero también lo es en otros lares como lomuestran las derivas del movimiento queer,la democracia radical y las estrategias arco-iris, la tesis de la Multitud, el imaginario dela alter-globalización. Inútil continuar citandoejemplos, estoy seguro que entienden lo quequiero decir. Mi distancia con estos trabajos esradical, esto es, se produce desde la raíz mismade lo que está en cuestión. La acción colectiva, y sobre todo el imaginario de la revolución, noes más, a mis ojos, la vía privilegiada ni deltrabajo crítico ni de la emancipación política. Ya que me lo piden en términos filosóficos: elsujeto colectivo no me parece más la clave dela inteligencia de la sociedad.

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    Creo que este telón de fondo explica elcarácter decepcionante de la sociología de lasmovilizaciones colectivas en los últimos veinteaños. Las ganancias que, sin lugar a dudas,ha habido en la descripción y en el análisisefectivo de las luchas sociales (en términosde movilización de recursos, repertorios,oportunidades, medio de comunicación,marcos simbólicos) ha coincidido con la tomade conciencia de los límites del gran relatode la emancipación por la vía de la accióncolectiva. Quiero decir que en este contexto losactores colectivos se desencantan, se vuelvenun objeto sociológico como cualquier otro, yse descubre progresivamente que su capacidadpara servir de herramienta de comprensión dela sociedad y sobre todo de las experienciasefectivas y ordinarias de los individuos es enel fondo, y en contra de lo que durante muchotiempo se supuso, muy parcial y sesgada. Es eneste sentido que el individuo, y sobre todo elproceso de individuación, me parecen la mejoropción para continuar, por otros medios, eltrabajo crítico.

    El horizonte es el mismo; la herramienta,distinta. La transición es entonces menosentre dos intereses de investigación que entredos herramientas analíticas: el paso desde lasubjetivación, y del rol emancipador que se leotorgó al sujeto colectivo, hacia la individuación y la capacidad a mis ojos mucho más grandeque se le tiene que dar a los individuos paracomprender los fenómenos sociales. Entérminos personales, la articulación entre estosdos momentos está marcada por la publicaciónen el 2001 de Dominations ordinaires. La tesises simple: saber quién y cómo domina (la clasesuperior) y quiénes se movilizan colectivamentecontra la dominación (luchas sociales) nopermite dar cuenta, sino muy parcialmente, delconjunto efectivo de experiencias de dominaciónque viven los individuos. Solamente una ínfimaparte de las experiencias de la dominación setransforman en lucha social. Debajo de estapequeña punta del iceberg se encuentra loesencial de la vida social. Pero, mientras que

    en el marco de mi tesis doctoral pensaba quese debía seguir privilegiando el agir  conflictivocomo herramienta de desvelamiento crítico dela sociedad, esta hipótesis (que sigue siendomayoritaria en el denominado pensamientocrítico) me parece de ahora en más insuficiente.

     Al hacer un balance de tu producciónacadémica sería posible señalar momentosimportantes, rupturas, desdoblamientos otransiciones? ¿Podrías situar algunos trabajosen esos marcos?

    La continuidad biográfica es tal vezuna ilusión pero no dejo de creer que en elrecorrido que acabo rápidamente de contarleslo que prima es una adhesión y un interés“humanista”. Esta preocupación tuvo unaforma inicialmente literaria, luego se expresóen el marco del marxismo occidental y de losdebates sobre el joven Marx , el existencialismo,por supuesto, y más tarde, y ya de maneratal vez más personal, en el marco de lasociología de la individuación. Sin embargo,dentro de esta continuidad de intereses, creoque intelectualmente el momento de inflexiónmás importante se da con la publicación de La consistance du social (2005). Ese librocondensa teóricamente los quince años debúsqueda intelectual que se abrieron despuésde mi tesis doctoral, jalonados por estudiosde campo y por estudios de teoría social, y lohace colocando en el corazón de la sociologíael desafío de comprender un universoontológico particular.

    También es notable tu capacidad de articulartemas y autores, sin embargo, tus inquietudesparecen conducirse hacia la especificidadde la condición moderna y los procesos deindividuación. Entre los clásicos estás máscercano a Georg Simmel y Norbert Elias que aÉmile Durkheim y Max Weber? 

    Las teorías sociales son herramientasde trabajo. El problema de la sociología

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    258258 Maria da G. Jacintho SETTON; Marilia P. SPOSITO. Como os indivíduos se tornam indivíduos? Entrevista com Danilo Martuccelli

    – Wright Mills ha dado y para siempre lamejor caracterización posible – es logrararticular dimensiones colectivas con vivenciaspersonales. Los clásicos que mencionan, todosellos, están abocados sin lugar a dudas a estapreocupación. Pero, en el fondo, no es un rasgoprivativo de los clásicos. Toda buena sociología,más allá de querellas inexistentes sobre losmétodos o los niveles macro o micro, trata delograr esta forma particular de inteligencia quepermite comprender la dialéctica entre la vidaindividual y los tipos de sociedad. Cada cual,progresivamente, por razones diversas (queincluyen elementos biográficos, tradicionesintelectuales, momentos históricos) privilegia a veces una temática o un dominio de estudio,pero privilegia, por sobre todo, y en general,un operador analítico (las clases sociales, elproceso de racionalización, los movimientossociales, las interacciones, el habitus). La buenasociología no es más macro que micro, puedeir muy lejos en las dos direcciones, puede subir  o bajar   sin ninguna dificultad puesto que loque logra es justamente dar cuenta, desde unaperspectiva particular, de la articulación entrela historia y la biografía. Creo que esto es ellegado común de la tradición sociológica –una mirada particular sobre el mundo social. Yen este sentido, lamento que los clásicos  seanmuchas veces utilizados como un principio delegitimación de estrategias intelectuales o aúnpeor que se haya convertido en el monopolioacadémico de quienes se limitan a hacerpequeños comentarios sobre grandes autores.Para mí su función es otra: son el esperantoobligado contra la balcanización temática ylas guerras de capillas; un acervo común. Lateoría social no es otra cosa que la construcciónde herramientas analíticas para respondera los grandes desafíos sociales e históricosde un período. El objetivo de la sociologíaes interpretar el mundo desde las relacionessociales. Y los clásicos que mencionan, u otros, y más allá de los clásicos, la buena sociologíaapunta a guardar en vida esta tradición. Eneste sentido, todos los sociólogos, incluso si la

    fórmula del cocktail difiere, son weberianos ymarxistas, durkheimianos y simmelianos.

    ¿Cómo evalúas las ganancias epistemológicas y los retos de la inflexión analítica parauna sociología de la individuación? ¿Cuál laespecificidad de este recorte analítico? ¿Cómoexplicitar las diferencias relativas a un estudiopsicológico o fenomenológico? 

    La sociología clásica siempre se interesóen las experiencias individuales. Sin embargo,nunca hizo de ellas, sino parcialmente en elcaso de Simmel, el centro de la interpretación.No lo hizo porque la inteligencia de la sociedadse preorganizaba en los debates sociales ypolíticos en torno a la noción de clase social. Elconcepto toma significaciones distintas segúnlas tradiciones sociológicas, pero en su origenes un término de la vida política que describeexperiencias sociales ordinarias. La clase socialfue, gracias a las luchas sociales realizadasen su nombre y a la expansión del aparatoestadístico público, un horizonte de significadocompartido: los actores comprendieron sus vidas desde ese horizonte.

    La situación actual es distinta. Losindividuos, a causa de un conjunto estructuralde transformaciones, tienden cada vez mása percibir la vida social desde sus propiasexperiencias personales. Es desde ellas y através de ellas como intentan comprender losfenómenos colectivos: una transformaciónque, como intenté mostrarlo a través de unainvestigación empírica en  Forgé par l’épreuve(2006), exige un cambio de rumbo tanto en lamanera de concebir la sociología como en eldestinatario del trabajo sociológico. De ahoraen más, es necesario que la sociología traduzca a nivel de las experiencias individuales losgrandes desafíos colectivos de una sociedad. Ayer, este trabajo se realizó, en mucho, a travésde la noción de clase social, hoy en día, creo,esta misma preocupación debe ser efectuadaprivilegiando los procesos estructurales deproducción de los individuos.

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    La individuación, la pregunta por eltipo de individuo que es estructuralmenteproducido en una sociedad, tiene así variasgrandes características: (1) en primer lugar, esuna forma particular de macrosociología cuya vocación no es más describir cómo  funciona una sociedad en su conjunto (diferenciación,sistemas, etc), sino que se interesa en dar unainteligencia de los fenómenos estructuralesa escala de los individuos; (2) para ello, laindividuación insiste en el carácter comúnde los desafíos que, en toda sociedad, debenenfrentar los individuos – cierto, cada cual lesdará, en función de sus recursos, identidades yposiciones una respuesta singular, pero todos,dada la fuerza del proceso de racionalización y de movilización de las sociedades modernas,están condenados a enfrentar los mismosdesafíos; (3) la individuación describe puesun  proceso que varía sustancialmente entresociedades pero también entre períodoshistóricos, lo cual abre a trabajos de sociologíahistórica comparada de un nuevo cuño; (4) laindividuación en su vocación propiamentepolítica intenta producir una inteligencia desde y a través de las experiencias personales de losgrandes desafíos comunes de una sociedad,participando así a la comprensión crítica de losmismos y por esta vía al debate democrático.

    O sea, en el estudio de la individuaciónexisten dos momentos. Por un lado, es precisodar cuenta de los grandes factores o de lasprincipales pruebas estructurales que animanun modo histórico de individuación – lo queda lugar a una cartografía particular de unasociedad. Por el otro lado, permite estudiarel trabajo que, frente a estas pruebas, realizadesde una ecología social personalizada,cada actor individual. La dialéctica entre locomún y lo singular está pues en la base de laindividuación. Sin embargo, en esta ecuación, y en el marco de la tradición sociológica, enel fondo, de lo que se trata es sobre todo dedar cuenta de las experiencias individualesdesde la inteligencia de las estructuras. En esta vía de estudio, sin lugar a dudas, se cruzan

    reflexiones psicológicas o fenomenológicas,pero la problemática no es por ello menosdistintiva: lo que retiene esencialmente laatención no es el desarrollo intrapsíquico ola pluralidad de las formas fenoménicas de laconciencia, sino la comprensión de las manerasen que los individuos lidian con grandesdesafíos estructurales. El objetivo central delconocimiento son los desafíos estructurales;la inteligencia del individuo pasa por lainteligencia de la sociedad. Frente a la vía dela introspección, la individuación abre a unaforma de conocimiento extrospectivo – lacomprensión de sí pasa por la inteligencia dela sociedad.

    ¿Cuál es la diferencia entre una sociología delindividuo y una sociología de la individuación?En tus libros afirmas que, paradójicamente,los estudios que se apoyan en los procesosde individuación, no tienen como punto departida y de llegada el análisis del individuo.¿Podrías explorar un poco más esta idea?

    La sociología del individuo es laapelación con la que creo puede describirse unmovimiento intelectual particular, perceptibleen la sociología, desde hace varias décadas. Entodo caso, es la apelación que hemos elegidocon François de Singly para presentar esteenfoque, y sobre todo las perspectivas que eneste marco se han producido esencialmenteen Francia, en un libro conjunto publicado enel 2009 (Les sociologies de l’individu). Dentrode las sociologías del individuo se distinguendiferentes estrategias según que se privilegienestudios desde las transformaciones observablesa nivel de las instituciones, en el proceso desocialización, el lazo social, las identidadeso, como lo hago en mis propios trabajos, elproceso de individuación.

    En el caso de la individuación el objetocentral de estudio son los procesos estructuralesde producción de los individuos – lo quepermite hacer de ella justamente el eje de unestudio macrosociológico. Allí donde, en el

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    marco de la sociología clásica, el interés secentró casi  exclusivamente en los grandesfactores estructurales de la individuación (elmodo de producción, la diferenciación social,la racionalización), en el marco de la nuevasensibilidad social organizada alrededor delindividuo es preciso concebir operadoresanalíticos capaces de traducir a su escala losdesafíos estructurales. Es lo que intento hacercon la noción de prueba o de desafío, y es loque explica el sentido de la frase que ustedesevocan: en el comienzo del estudio sobre laindividuación se encuentran los individuos(esto es, los actores y las maneras cómo éstosdescriben y viven sus experiencias) y en el finaldel proceso se encuentran también los actores(pero esta vez a través de las maneras como lidianfrente a un conjunto estandarizado de grandespruebas estructurales). Entre una y otra etapa,lo esencial del dispositivo de investigación secentra en discriminar, de manera inductiva,las pruebas estructurales específicas a unmodo histórico de individuación. O sea, enel  comienzo, se parte de los relatos y lasexperiencias de los individuos entrevistados, al 

     final  de la investigación, se llega a un conjuntoestandarizado de pruebas comunes. Lo que sepersigue es pues transitar desde la experienciaheterogénea de la vida hacia un modo históricode individuación.

    ¿Tu noción de consistencia de lo social seríaun operador analítico semejante a la nociónde configuración de Norbert Elias?

    Solo en parte y con una importantediferencia. A diferencia de otros trabajos deontología social que por lo general privilegianlas representaciones o la producción (elconstructivismo), en mi trabajo me interesapreguntarme por las características ontológicasde la vida social desde la acción. Desde estaperspectiva, la consistencia de lo social definelo que me parece es la gran característicaontológica de la vida social – a saber, que enella, siempre es posible actuar de otra manera.

    Esta posibilidad irreductible de acción nodebe empero entenderse esencialmente comoun atributo del actor (libertad , creación), sinocomo una posibilidad estructural constitutivade la vida social – que diferencia, dicho sea depaso, el nivel social de la realidad de los nivelesfísico-químico, biológico o psicológico. Paradar cuenta de esta dimensión irreductible dela acción social suelo emplear las metáforas dela maleabilidad resistente o de la elasticidad:cuando actuamos la realidad es lo que resiste (lasdiversas coerciones que condicionan nuestrasconductas), y al mismo tiempo suponemos, almenos imaginariamente, que existe en últimainstancia un límite infranqueable (el momento,para expresarlo metafóricamente, de un choquecon la realidad). O sea, la acción social sedesarrolla sorteando coerciones efectivas porun lado y postulando la existencia de un límiteimaginario por el otro.

    Frente a esta característica ontológicade la vida social, el trabajo específico de todasociedad histórica consiste en reducir y encanalizar la elasticidad de la acción (en muchogracias a las instituciones). Creo que es a estenivel que se emplaza la noción de configuraciónde Norbert Elias y la relación indisociableasí descrita entre sociedad e individuo. Creoque la diferencia entre ambas nociones es visible a nivel de las metáforas: para Elias, laconfiguración, reenvía a las piezas en un tablerode ajedrez (cada pieza está determinada por elposicionamiento de las otras piezas) o los nudosde una red (es suficiente tirar de la malla paraque todos los nudos se desplacen en la mismadirección). La consistencia, en su descripciónprimera, subraya una experiencia distinta: elhecho que siempre es posible actuar de otramanera. En el corazón de la diferencia, creo, estáel hecho que la noción de consistencia reconocede una manera distinta, y con consecuenciasmás radicales, la contingencia (la no necesidad)de la vida social a como lo hace Elias.

    Esta distinción se encuentra bienreflejada en los trabajos de análisis que ambasnociones producen. En el caso de Elias, la noción

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    –incluso si el concepto no está aún teorizado –se construye en el marco de su estudio sobrela sociedad cortesana, sobre todo Versailles, enlo que fue su primer gran estudio en 1933. Enesta obra, la noción de configuración es una verdadera herramienta heurística que describeun conjunto estrecho y altamente programado y entrecruzado de conductas. Cuando Eliasutiliza el concepto para otro tipo de relacionessociales, creo que su valor heurístico es menosevidente, e incluso muy discutible comocuando analiza, con este concepto, hacia elfinal de su vida, las relaciones internacionales.La diferencia está en la naturaleza efectivade las coerciones en acción: activas y fuertesen la sociedad cortesana (que en este sentidopuede metafóricamente funcionar como un campo magnético), su veracidad y fortalezaes mucho más lábil tratándose de otros tiposde entramados sociales (algo que la nociónde configuración impide justamente analizar).Es esta apertura intrínseca y permanente dela vida social que es subrayada en el caso delas consistencias sociales; resultado: inclusoen universos organizacionales altamenteestructurados (empresas, escuelas, familias)el análisis de las consistencias subraya losmárgenes y las iniciativas de los actores frentea las coerciones.

    ¿En esa misma línea de raciocinio hanexistido acercamientos entre la noción de l’épreuve  y las nociones de coacción/controlde las emociones de Elias?

    La pregunta me permite continuar mirespuesta anterior. Es porque Norbert Eliasformula su visión histórica de la modernidadoccidental en torno a la hipótesis de unpoderoso proceso de civilización teorizado enel marco de la racionalización (tanto a niveldel control pulsional, como de la violencia)que en sus trabajos subraya con tanta fuerzala centralidad del proceso de autocontrol de lasemociones. Una vez más, no hay que perder de vista el hecho que sus estudios se inscriben en la

    doble descendencia de las intuiciones de Freud y de Weber. En el núcleo del trabajo de Elias seencuentra la visión de una demanda cada  vez másimpositiva de autocontrol hacia los individuosa medida que el proceso histórico se desarrolla y, progresivamente, el reconocimiento crecientede las manifestaciones de des-civilización queesto produce. Si debería expresarlo con mistérminos, y creo que sin hacer violencia a Elias,su obra es un ejemplo de una sociología de laindividuación construida alrededor de grandesfactores estructurales (las reglas de cortesía y laetiqueta, el monopolio de la violencia legítimapor los Estados) que, globalmente, es pocosensible a las variaciones de las experienciasindividuales dentro de este proceso, y que essobre todo poco sensible al trabajo efectivoque frente a estas prescripciones efectúanlos distintos individuos. Por supuesto, Eliassupone (en verdad, muchas veces presupone)las emociones, positivas y negativas, quelos individuos padecen frente al proceso decivilización pero es poco atento, en el fondo, altrabajo efectivo y diferencial de los individuos.Incluso el estudio inconcluso sobre Mozartpresenta este rasgo: el dilema de Mozart, apesar de la riqueza de elementos biográficosevocados, se reduce a la tensión suscitada entrepor un lado, el deseo del artista-genio libre que vive de su arte, y por el otro, la realidad de ladependencia de un músico de la corte.

    La noción de prueba se inscribe en undiagnóstico histórico distinto. La clave seencuentra menos en la racionalización que enlo que presento en La société singulariste  (2010)como el proceso de singularización. Un procesoobservable a nivel de la producción industrial, lasinstituciones, las sociabilidades, las identidades, y tras él, y producido estructuralmente por él,la afirmación de una sensibilidad social quele da a las experiencias personales una nuevafunción en la composición social y políticade las sociedades contemporáneas. Unasensibilidad que le otorga, así, una importanciamayor y distintiva a los individuos y que invitaa la sociología a dar cuenta sobre nuevas bases

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    del lazo entre las estructuras y los actores. Esa esto a lo que apunta la noción de prueba (yen este sentido, la noción análoga en el sistemade Elias es, me parece, la de configuración). Laspruebas son desafíos estructurales que varíanhistóricamente. Su vocación es describir lasdistintas formas que estos desafíos toman en lassociedades diferenciadas actuales, lo que implicaque las pruebas presenten rostros distintos segúnlos ámbitos sociales y que no puedan ser, comolo presupone Elias, todas ellas similares (laprueba en el trabajo difiere de la prueba de larelación con los otros, por ejemplo). Por lo demás,frente a estas pruebas estructurales se observauna gran diversidad de respuestas posibles anivel de los actores sociales. Las pruebas sondesafíos y no determinismos – lo que suponeuna atención particular y distintiva al trabajo delos individuos. Es a través de pruebas comunescomo se producen individuos singulares.

    ¿Cuáles tus próximos proyectos o planesde investigación? ¿Cuáles serían tusinterlocutores actuales?

    En los próximos años espero poder efectuarinvestigaciones en tres direcciones distintas. Enprimer lugar y es el proyecto en el cual trabajoactualmente, intento explorar la consecuencia dealgunas de las ideas expuestas en La consistancedu social  desde la perspectiva de una sociologíahistórica, preguntándome por las maneras porlas cuales en distintos períodos se construyen loslímites con la realidad. La realidad es lo que resiste,pero para analizar esta resistencia es precisoentenderla en el marco de la dialéctica entre lascoerciones y el límite imaginario, tratando decomprender bajo qué modalidades concretas lafunción dirimente de la realidad ha sido ejercidapor la religión (y las entidades invisibles), luegola política (y la jerarquía natural), más tarde, y ya en la modernidad, la economía (y el carácterineluctable de su mecánica factual), y cómoprogresivamente esta función se le otorga ala ecología (y al imaginario de los umbrales ycatástrofes ecológicas).

    En segundo lugar, espero poder efectuaruna investigación empírica (entrevistasindividuales y sesiones de discusión grupal)sobre las significaciones y los desafíos políticosque acarrea el actual proceso de singularización.Lo central será comprender bajo qué modalidadesla crisis de la noción de mundo común puedeser compensada por la noción de vida común –una noción que traduce en términos políticos losdesafíos de la individuación actual y el modoparticular por el que las pruebas describen esteproceso. Más simple: repensar lo político a travésde la articulación entre lo común y lo singular.

     Y en tercer lugar, y en prolongaciónde un ensayo de sociología histórica sobrelos individuos en América Latina –  ¿Existenindividuos en el Sur?  (2010) – quisiera explorarla manera por las que el proceso de individuaciónpuede convertirse en la puerta de entrada parauna sociología histórica comparada entresociedades del Sur y del Norte de un nuevotipo, e incluso, entre sociedades modernas ytradicionales. La hipótesis es simple: todas lassociedades, en todos los períodos, producenestructuralmente individuos (cualquiera quesea la manera de concebirlos y de figurarlos), y es desde este proceso común como debendiferenciarse distintas vías históricas de laindividuación. En este marco, el modernoindividualismo institucional occidental, y el rolmayor que en esta versión se le dio al sujeto,no es sino una de las variantes, y por lo demáshistóricamente tardía, de un proceso universal y estructural de individuación.

    Para finalizar, ¿podrías apuntar las principalescuestiones que afectan la Sociología francesacontemporánea? ¿Está en crisis? ¿Haydiferencias en relación a la producciónanglosajona?

    La sociología siempre está en crisis, ¡ysería alarmante que no lo esté hoy en Francia!Bromas aparte, creo que la sociología francesaenfrenta hoy un conjunto de desafíos que tienenque ver con el descenso del uso del francés

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    en el mundo académico, con dificultades deinserción profesional de los jóvenes sociólogos,con una cierta crispación identitaria alrededorde ciertos métodos o conceptos, y añadiríauna crisis propiamente intelectual (muchosde los debates sociológicos no interesan más,no al gran público, eso jamás fue cierto, peroa un público digamos amplio de lectores quetienden, en todo caso, en el contexto francésa prestar un mayor interés a la economía, a lafilosofía y en parte a la historia).

    En lo que concierne a la comparación conla tradición anglosajona antes de responderlesles recuerdo la desproporción de lo que secompara. Por un lado, si solamente se tomalos Estados Unidos (al cual habría que añadirlepor supuesto otros países de lengua inglesa)se trata de un mundo académico con cerca decuatro mil universidades. En el caso francésson solo 85 universidades públicas, A ellohabría que añadirle, por supuesto, entre otrascosas, importantes diferencias presupuestarias,de estructuras, de bibliotecas, de soportes depublicación y, sin duda, la existencia de unpúblico lector mundial cada vez más ampliocapaz de leer en inglés.

    Pero todo esto, en el fondo, y a pesar delo importante que es, no me parece lo esencialpara el futuro de la sociología francesa. Digobien para la sociología francesa, aun cuando en verdad, lo que digo podría afirmarse tambiéna propósito de otras situaciones nacionales(incluso me parece que un conflicto larvadode este tipo es también visible en la sociologíabrasileña actual).

    La sociología francesa vive una tensiónentre dos grandes tendencias. La primeraprivilegia el artículo en revistas científicascomo el principal vehículo de comunicaciónde los resultados, progresivamente inclusode preferencia en lengua inglesa, y comparteen el fondo un ideal acumulativo del saberen las ciencias sociales que se traduce poruna especialización intensiva en temas yproblemáticas y en la repetición de los protocolosde investigación. Sin que pueda reducirse esta

    tendencia al modelo anglosajón, me parece quees la tendencia hoy dominante en la academiaestadounidense en donde se privilegian cada vez más los grandes proyectos colectivos deinvestigación, la repetición acumulativa de losresultados, la sobre-especialización temática y a veces – no siempre – una inquietud por la utilidadpráctica del saber más afirmada. En Francia hay,hoy en día, partidarios decididos y activos de esta vía, y no solo entre los más jóvenes.

    La segunda tendencia intenta prolongarlo que ha sido hasta ahora la especificidadde la tradición sociológica francesa (y podríaincluso decir europea): una disciplina basadaen autores, que privilegia el libro y suescritura en lenguas vernáculas (el francés),que diferencia el conocimiento sociológicotanto del ensayismo como del cientificismo, y que conserva la vocación de dar conrepresentaciones de conjunto de la vida social.Para evitar caricaturas: existen en los EstadosUnidos departamentos, y autores, que defiendenesta tradición intelectual.

    Creo que una de las grandes dificultadesde la sociología francesa actual es de encontrarseentre estas dos aguas. En verdad, en mediode un conflicto entre dos orientaciones tantointelectuales como institucionales. En efecto,más allá de lo aleatoria que es la existencia de buenas o malas generaciones, lo importante escomprender el lazo que las generaciones (y lostipos de sociología que se desarrollan) tienencon sus condiciones de producción. En el casofrancés, y en mucho europeo, por lo general seprivilegió un modelo institucional de producciónde  autores, como lo atestiguan las antiguascátedras pero también los antiguos laboratoriosen torno a un programa fuertemente identificadoa un director. Sin desaparecer, esta tendenciaayer hegemónica, y a veces incluso única,tiende a ser desplazada por la otra vía. Creo queuna parte importante del futuro de la sociologíafrancesa, y sobre todo de su identidad futura, se juega en este conflicto. En lo personal, no creoque la sociología francesa pueda tener éxito enla categoría de los Blockbusters, pero sí creo

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    que hay, como en la producción audiovisualeuropea, espacio para un cinema/sociología deautor. ¡De más está decirles hacia donde vanmis preferencias de artesano intelectual!

    Para finalizar, siguiendo el argumento detu livro Forgé par l’épreuve , ¿podrías haceralgunas consideraciones sobre el desafío deescolarización en los procesos de individuaciónen la actualidad? ¿Cómo las nociones dedesigualdad y diferencia podrían ser productivasen la interpretación de ese proceso?

    La prueba escolar es, sin lugar a dudas,un elemento importante del actual proceso deindividuación, pero no siempre fue el caso.Este ejemplo permite diferenciar entre unasociología de ciclos de vida y una sociologíade la individuación por las pruebas: si casitodo el mundo va a la escuela por doquier,esta experiencia no es siempre una pruebasignificativa en un proceso de individuación.En el caso de la sociedad francesa, como loestudiamos con François Dubet, la escuelano fue una prueba mayor del proceso deindividuación hasta fines de los años 1950puesto que la escolarización era una experienciatemporal relativamente breve para muchosfranceses y, sobre todo, porque el procesode selección y reproducción social se hacíaindependientemente de ella. Por el contrario,la escuela es hoy una prueba central en estarealidad. Por un lado, porque los años deestudios no han cesado de aumentar (se calculaque las jóvenes generaciones que ingresan hoyal sistema educativo francés estudiarán entre18 y 20 años en promedio).

    Por el otro lado, porque su significadoen términos de trayectoria y destino social esdecisivo debido a que, en mucho, la asignaciónde una posición social se obtiene durante laescolarización. En el caso chileno, como loestudiamos con Kathya Araujo, la escuelatiene una incidencia cada vez más importante

    en el proceso de individuación, pero lo haceesencialmente bajo la forma de una pruebamás amplia que caracterizamos como la pruebadel mérito. La centralidad de la escuela enla sociedad chilena actual no solo refleja laaparición de nuevas estrategias de reproducciónfamiliar y de movilidad social sino que tambiénse inscribe en el imaginario de una sociedadque, a causa de la doble revolución neoliberal y democratizadora, hace del mérito su principalhorizonte de justicia. En la consecución delmérito se establece así una tensión entre la

     puerta  légitima – la escuela – y el atajo  – elrecurso a las redes y a los contactos.

    En lo que concierne a la desigualdad yla diferencia, permítanme introducir un tercertérmino: la singularidad. Los desafíos a la escuelano son los mismos. Los dos primeros se inscribenen el marco del imaginario de la igualdad. Lasdesigualdades comprueban los límites de laigualdad, e implican políticas correctivas ennombre del ideal igualitario. En el fondo, lasituación es similar en el marco de la diferencia:el objetivo sigue siendo la igualdad, pero sepiensa que para lograrla es preciso que el sistemaeducativo trate de manera diferencial a losindividuos (por razones socio-económicas, socio-culturales, handicaps…). La singularidad abre a ununiverso distinto y constituye por ello un desafíomucho más consecuente. La realización de lasingularidad introduce criterios inconmensurablesde evaluación, desliga el objetivo de toda lógicade comparación o de competencia, y suponeque las instituciones sean capaces no solamentede tener en cuenta las diferencias entre losindividuos con el fin de obtener la igualdad, sinotambién que las instituciones traten de manerapersonalizada, y a veces en función de objetivossingulares y distintos entre sí, a los individuos.Sin que se abandonen las discusiones en tornoa la desigualdad y la diferencia creo que en losaños venideros progresivamente los debates sobrela justicia escolar estarán marcados por el sello dela singularidad.

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    Bibliografia disponible en Español o en Portugués

    Livros solos:

    MARTUCCELLI, Danilo. Gramáticas del individuo. [2002]. Madrid: Losada, 2007.

    ______. Cambio de rumbo. La sociedad a escala del individuo. Santiago de Chile: LOM Ediciones, 2007.

    ______. ¿Existen individuos en el Sur?. Santiago de Chile: LOM Ediciones, 2010.

    Livros em parceria:

    MARTUCCELLI, Danilo; SVAMPA, Maristella. La plaza vacía. Las transformaciones del peronismo. Buenos Aires, Losada: 1997.

    MARTUCCELLI, Danilo; DUBET, François. En la escuela. Sociología da la experiencia escolar [1996]. Buenos Aires, Losada: 1998.

    ______. ¿En qué sociedad vivimos? [1998]. Buenos Aires, Losada: 2000.

    MARTUCCELLI, Danilo; SORJ, Bernardo. El desafío latinoamericano:cohesión social y democracia. Buenos Aires: Siglo XXI, 2008(publicado simultáneamente en portugués - O Desafio Latino-americano: coesão social e democracia. São Paulo: CivilizacionBrasileira, 2008).

    MARTUCCELLI, Danilo; CARBONELL, Francesc. La reconversió de l’ofici d’educar. Globalització, migracions i educació. Barcelona:Eumo Editorial/Fundació Jaume Bofill, 2009 (en catalán).

    MARTUCCELLI, Danilo; SINGLY, François de. Las sociologías del individuo [2009]. Santiago: LOM Ediciones, 2012.

    MARTUCCELLI, Danilo; ARAUJO, Kathya. Desafíos comunes.  Retrato de la sociedad chilena y sus individuos. Tomo-1.Neoliberalismo, democratización y lazo social. Santiago: LOM Ediciones, 2012.

    MARTUCCELLI, Danilo. Trabajo, sociabilidades y familias. Tomo-2. Santiago: LOM Ediciones, 2012.

    Capítulos de libros:

    MARTUCCELLI, Danilo. Integración y globalización. In: DELGADO, M.; et al. Exclusión social y diversidad cultural. Donostia-SanSebastian: Gakoa Liburuak, 2003, p.41-65.

    ______. Ciudadanía y juventud. In: ARREGI, F. (ed.), Ciudadanía y Educación:  aportaciones para la práctica civil. Donostia:Editorial Erein, 2004, p.121-133.

    ______. Sociología y postura critica [2002]. In: LAHIRE, B. (ed.). La sociologia ¿para qué?. Buenos Aires: Siglo XXI, 2006.

    ______. La teoría social y la experiencia de la modernidad. In: SANDOVAL, M.; SUAREZ, H.J. (eds.). Sociología, sujeto,

    compromiso. Homenaje a Guy Bajoit. Santiago: Ed. Universidad Católica Silva Henríquez, 2007, p.15-35.

    ______. Para abrir la reflexión. Etnicidades modernas: identidad y democracia. In: MARTÍNEZ, D.Gutierrez; BALSLEV, Clausen H.(ed.). Revisitar la etnicidad. Miradas cruzadas en torno a la diversidad. México: Siglo XXI, 2008, p.41-67

    ______. Los usos de la mentira. In: ARAUJO, K. (ed.). ¿Se acata pero no se cumple? Estudios sobre las normas en Américalatina. Santiago: LOM Ediciones, 2009, p.119-148.

    ______. Sociología, modernidad, individuo. In: SUÁREZ, H.J. (ed.). Tertulia sociológica. México: Bonilla Artigas Editores, 2009,p.37-64.

    ______. Universalismo y particularismo: mentiras culturalistas y disoluciones sociológicas. In: FANFANI, E.Tenti (comp.),Diversidad cultural, desigualdad social y estrategias de politicas educativas. Buenos Aires: IIPE-UNESCO, 2009, p.23-78.

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    266266 Maria da G. Jacintho SETTON; Marilia P. SPOSITO. Como os indivíduos se tornam indivíduos? Entrevista com Danilo Martuccelli

    ______. Los tres ejes de la identidad. In: GUTIÉRREZ, D. (ed.). Epistemologías de la identidad. Reflexiones en torno a lapluralidad. México: UNAM, 2010, p.61-75

    ______. El problema del individuo en América Latina. In: VICUÑA, M. (ed.). Cátedra Norbert Lechner 2008-2009. Santiago:Universidad Diego Portales, 2011, p.141-161.

    ______. El método extrospectivo, un nuevo método de intervención social. In: MEJIA, C. (ed.). Sociedad, intervención social ysociología. Cali: Universidad del Valle, 2012, p.29-46.

    MARTUCCELLI, Danilo; SVAMPA, Maristella. Las asignaturas pendientes del modelo nacional-popular: el caso del Perú. In:MACKINNON, M.; PETRONE, M.A.(eds.). Populismo y neopopulismo en América Latina. Buenos Aires: EUDEBA, 1998, p.257-278, (republicado en J.E.González (ed.), Nación y nacionalismo en América Latina, Buenos Aires, CLACSO-Universidad Nacionalde Colombia, 2007, p. 213-244).

     Artigos en periódicos:

    MARTUCCELLI, Danilo. Para terminar con el fin de la historia. Cadernos de sociologia. v. 5, n. 5, p. 42-62, 1993.

    ______. Las contradicciones políticas del multiculturalismo. Revista Brasileira de Educação, n. 2, p. 18-32, mai.- ago., 1996,(republicado In: GUTIERREZ, D. (ed.), Multiculturalismo: perspectivas y desafíos. México: Siglo XXI, 2006, p. 125-147).

    ______. Reflexões sobre a violência na condição moderna. Tempo social, v. 11, n. 1, p. 157-175, mai., 1999.

    ______. Figuras y dilema de la juventud en la modernidad. Movimiento, n. 1, p. 28-51, mai., 2000.

    ______. ¿El problema es social o cultural?. Cuadernos de Pedagogía, n. 315, p. 12-15, jul.- ago., 2002.

    ______. Interculturalidad y globalización: los desafíos de la poética de la solidaridad. Revista Cidob d’Afers Internacionals,n. 73-74, p. 91-121, 2006.

    ______. Francia, dos años después. Los sucesos de octubre-noviembre de 2005. Cuadernos de Pedagogía, n. 372, p. 78-81, oct., 2007.

    ______. La autoridad en las salas de clase. Problemas estructurales y márgenes de acción, Diversia. Educación y sociedad,n. 1, p. 99 -128, abr., 2009.

    ______. La teoría social y la renovación de las preguntas sociológicas. Papeles del Ceic, n. 2, 2009 (revista en línea).

    ______. La individuación como macrosociología de la sociedad singularista. Persona y sociedad, n. 3, p. 9-29, 2010 .

    ______. Dos hipótesis a propósito de la violencia extrema: subjetividad y energía, Política y sociedad, v. 48, n. 3, p. 433-446, dic., 2011.

    MARTUCCELLI, Danilo; SVAMPA, Maristella. La doble legitimidad del populismo. Proposiciones, n. 22, p. 42-62, ago., 1993.

    MARTUCCELLI, Danilo; SVAMPA, Maristella. Notas para una historia de la sociología latinoamericana. Sociológica, ano 8, n. 23, p.p. 75-95, set.- dic. 1993, (republicado in Cuadernos Americanos, n. 46, p. 132-152, jul. - ago., 1994).

    MARTUCCELLI, Danilo; DUBET, François. Teorias da socialização e definições sociológicas da escola [1996]. Lua Nova, Brasil,n. 40-41, p. 241-266, 1997.

    MARTUCCELLI, Danilo; SVAMPA, Maristella., Escuela y sentimiento nacional: de la lengua a la música. Cuadernos Americanos,n. 62, p.146-179, mar. - abr., 1997.

    MARTUCCELLI, Danilo; BARRÈRE, A. A escola entre a agonia moral e a renovaçao ética. Educaçao & Sociedade, numero especial,XXII, n. 76, p. 258-277, oct., 2001.

    MARTUCCELLI, Danilo; SORJ, Bernardo. Brasil: ¿qué políticas para cuál cohesión social?. Revista española de desarrollo ycooperación, n. 22, p. 47-60, primavera-verano, 2008.

    MARTUCCELLI, Danilo; ARAUJO, Kathya. La individuación y el trabajo de los individuos. Educaçao e Pesquisa, v. 36, p. 77-91, 2010.

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    267Educ Pesqui São Paulo v 39 n 1 p 247 267 jan /mar 2013

    MARTUCCELLI, Danilo; ARAUJO, Kathya. Positional inconsistency: a new concept in social stratification. CEPAL Review, n. 103,p. 153-165, April, 2011(versión española - La inconsistencia posicional: un nuevo concepto sobre la estratificación social. RevistaCEPAL, n. 103, p. 165-178, abril, 2011).

    MARTUCCELLI, Danilo; VILLA, J. Buena puntería!…pero ¿ése era el blanco?. Debates en sociología, n. 36, p.165-180, 2011.

    MARTUCCELLI, Danilo; ARTEAGA, C. Neoliberalismo, corporativismo y experiencias posicionales. El caso de Chile y Francia. Revistamexicana de sociología, v. 74, n. 2, p. 275-302, abr.- jun., 2012.

    Publicaciones en francés

    Livros solos

    MARTUCCELLI, Danilo. Décalages. Paris: Presses Universitaires de France, 1995.

    ______. Sociologies de la modernité: L’itinéraire du XX siècle. Paris: Gallimard, 1999.

    ______. Dominations ordinaires: Explorations de la condition moderne. Paris: Balland, 2001.

    ______. Grammaires de l’individu. Paris: Gallimard, 2002.

    ______. La consistance du social: Une sociologie pour la modernité. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2005.

    ______. Forgé par l’épreuve: L’individu dans la France contemporaine. Paris: Armand Colin, 2006.

    ______. La société singulariste. Paris: Armand Colin, 2010.

    Libros en parceria

    MARTUCCELLI, Danilo; DUBET, François. A l’école. Sociologie de l’expérience scolaire. Paris: Seuil, 1996.

    ______. Dans quelle société vivons-nous?. Paris: Seuil, 1998.

    MARTUCCELLI, Danilo; CARADEC, V. (eds.). Matériaux pour une sociologie de l’individu: Perspectives et débats. Villeneuved’Ascq: Presses Universitaires du Septentrion, 2004.

    MARTUCCELLI, Danilo; VÉRAN, J.-F.; VIDAL, D. (eds.). Politique et société en Amérique Latine: perspectives sociologiques. Lille:UL3, 2006.

    MARTUCCELLI, Danilo; BARRÈRE, A. Le roman comme laboratoire:- De la connaissance littéraire à l’imagination sociologique.Villeneuve d’Ascq: Presses Universitaires du Septentrion, 2009.

    MARTUCCELLI, Danilo; SINGLY, François de. Les sociologies de l’individu. Paris: Armand Colin, 2009.