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JOHN HEILEMANN e MARK HALPERIN COMO OBAMA CHEGOU A CASA BRANCA

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tradução deClóvis Marques

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Copyright © 2010 John Heilemann e Mark HalperinTodos os direitos reservados.

título original Game Change

preparaçãoAna Kronemberger

revisãoMilena VargasElisa Nogueira

diagramação Ilustrarte Design e Produção Editorial

capa Heard Creative

adaptação de capa Julio Moreira

cip-brasil. catalogação-na-fonte. sindicato nacional dos editores de livros, rj.

H377v Heilemann, John, 1966- Virada no jogo: Como Obama chegou à Casa Branca / John Heilemann e Mark Halperin ; tradução de Clóvis Marques. - Rio de Janeiro : Intrínseca, 2011. 464 p. ; 23 cm Tradução de: Game Change Inclui índice ISBN 978-85-8057- 095-3 1. Obama, Barack, 1961-. 2. Clinton, Hillary Rodham, 1947-. 3. McCain, John, 1936-. 4. Palin, Sarah, 1964-. 5. Presidentes - Estados Unidos - Eleições - 2008. 6. Campanha eleitoral - Estados Unidos - História - Século XXI. 7. Eleições - Estados Unidos - História - Século XXI. 8. Estados Unidos - Política e governo - 2001-2009. I. Halperin, Mark. II. Título.

11-5649. CDD: 324.973

CDU: 324(73)

[2011]

Todos os direitos desta edição reservados à

Editora Intrínseca Ltda.Rua Marquês de São Vicente, 99, 3º andar22451-041 – GáveaRio de Janeiro – RJTel./Fax: (21) 3206-7400www.intrinseca.com.br

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Para Diana e Karen

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Sumário

Nota dos autores 9

Prólogo 15

Parte I

Capítulo 1 A vez dela 27

Capítulo 2 A alternativa 39

Capítulo 3 O chão que ela pisa 55

Capítulo 4 Chegando ao sim 71

Capítulo 5 Os inevitáveis 93

Capítulo 6 Barack numa caixinha 119

Capítulo 7 “Eles me adoooooram!” 139

Capítulo 8 A virada 161

Capítulo 9 A parte divertida 175

Capítulo 10 Dois pelo preço de um 191

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Capítulo 11 Medo e ódio na toca do lagarto 205

Capítulo 12 Recuando e desmoronando 227

Capítulo 13 Os concorrentes de Obama 243

Capítulo 14 As duras cartadas finais 261

Parte II

Capítulo 15 O rebelde entra em colapso 281

Capítulo 16 Sem concorrência 297

Capítulo 17 Paus de sebo e demônios assassinos 315

Parte III

Capítulo 18 Paris e Berlim 331

Capítulo 19 O clube do topo 343

Capítulo 20 Sarahcuda 359

Capítulo 21 Surpresa em setembro 383

Capítulo 22 Os segundos no comando 401

Capítulo 23 Linha de chegada 425

Epílogo: Finalmente juntos 435

Índice remissivo 443

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nota DoS autoreS

A ideiA pArA escrever este livro foi resultado, na primavera de 2008, de um par de firmes convicções. A primeira era que a eleição que vínhamos acompanhando intensamente havia mais de um ano era um dos espetáculos mais emocionantes e históricos produzidos pela política moderna. A segunda era que, apesar da constante cobertura dos meios de comunicação, boa parte da história por trás das manchetes não fora contada. Concordamos que faltava e podia ter grande valor um retrato íntimo dos candidatos e cônjuges que (em nossa avaliação) tinham chances razoáveis de ocupar a Casa Branca: Barack e Michelle Obama, Hillary e Bill Clinton, John e Elizabeth Edwards e John e Cindy McCain.

A maior parte do material usado nestas páginas foi extraída de mais de tre-zentas entrevistas realizadas com mais de duzentas pessoas, entre julho de 2008 e setembro de 2009. Quase todas foram feitas pessoalmente, em conversas que não raro se estendiam por várias horas. Decidimos falar com todas as pessoas citadas no livro; poucas se recusaram a participar. Muitas nos enviaram e-mails, memorandos, anotações feitas na época, gravações, agendas e outras formas de documentação.

As entrevistas — desde as realizadas com membros menos importantes das equipes até aquelas conduzidas com os próprios candidatos — aconteceram num espírito de “contexto aprofundado”, o que significa que decidimos não

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identificar como fontes, de maneira alguma, as personalidades envolvidas. Consideramos que isso seria essencial para obter o nível de sinceridade de que depende um livro dessa natureza. Em grande medida, entrevistávamos pessoas com as quais um de nós ou ambos tínhamos um longo relacionamento profis-sional, dispondo, portanto, de uma base sólida para avaliar tanto a qualidade da informação fornecida quanto a veracidade dessas fontes.

Embora nos tenhamos empenhado seriamente em comparar e verificar rela-tos divergentes sobre os mesmos acontecimentos, ficamos impressionados com o número muito reduzido de discrepâncias importantes entre nossas fontes. Isso se deve, em parte, ao momento em que os contatos se deram. Realiza-mos muitas de nossas entrevistas sobre as disputas pela indicação dos candi-datos no verão de 2008, quando os concorrentes estavam distantes do calor dos acontecimentos e dispostos a falar, mas ainda tinham lembranças frescas. E a mesma dinâmica se verificou nos meses posteriores à eleição geral, quando nos voltamos intensamente para esse tema. Em praticamente todas as situações retratadas no livro, utilizamos apenas material em que as discordâncias entre os participantes e envolvidos eram nulas ou triviais. No que diz respeito às poucas exceções, utilizamos o bom senso e critérios profissionais.

Com a ajuda dos participantes, reconstruímos os diálogos detalhadamente e com extremo cuidado. Quando citados entre aspas, os diálogos provêm daquele que fala, de alguém que estava presente e ouviu a observação, de anotações da época ou de transcrições. Na ausência de aspas, trata-se de diálogos parafrasea-dos, que indicam apenas que nossas fontes não estavam seguras quanto às pala-vras exatas, mas quanto à natureza das declarações. Os pensamentos, sentimen-tos ou estados de espírito reproduzidos em itálico são da pessoa identificada ou de alguém a quem ela os expressou diretamente.

Não resta dúvida de que algumas das nossas principais dramatis personae encontrarão nestas páginas imagens de si mesmas que prefeririam não ver im-pressas. Em todos os casos, contudo, tentamos contar suas histórias de duas formas: de maneira tão justa e isenta quanto possível, quando vistas de fora, e da forma mais empática por meio de seu próprio ponto de vista. Dessa forma, tentamos levar em consideração uma infinidade de questões vitais em torno das quais o jornalismo diário (e os blogs atualizados de hora em hora) se agitava por breve período para em seguida ir adiante, às vezes sem sequer se deter realmen-te. Como Obama, senador iniciante com poucas realizações políticas tangíveis, se convenceu de que deveria e poderia ser o primeiro presidente afro-americano

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dos Estados Unidos? Que papel Bill Clinton desempenhou efetivamente na campanha da esposa? Por que McCain escolheu a desconhecida governadora do Alasca, uma incógnita, como companheira de chapa? E quem é realmente Sarah Palin?

Embora nenhum trabalho dessa natureza, carecendo da distância e da pers-pectiva do tempo, possa pretender-se definitivo, estamos convencidos de que certas respostas são mais facilmente encontradas no território que se situa entre a história e o jornalismo — precisamente o ponto que temos como alvo e que acreditamos ser ocupado por este livro.

Nossa dívida maior e mais óbvia é com nossas fontes, que passaram incontá-veis horas conosco pessoalmente ou ao telefone. Também gostaríamos de agra-decer a seus assistentes, que tornaram possíveis muitas das entrevistas.

Somos gratos a nossos chefes, Adam Moss e Rick Stengel, editores das revis-tas New York e Time, respectivamente, que nos deram o espaço necessário para levar adiante este projeto; a nossos agentes, Andrew Wylie e Scott Moyers, da Wylie Agency, e Jeff Jacobs, da Creative Artist Agency (CAA), sem os quais estaríamos perdidos; a Richard Plepler, da HBO, pelo estímulo e pela perspicácia; a nossos editores Tim Duggan e Jonathan Burnham e ao restante da equipe da HarperCollins — Kathy Schneider, Tina Andreadis, Kate Pruss Pinnick, Leslie Cohen e Allison Lorentzen — por apostarem tanto neste livro e trabalharem para torná-lo um sucesso.

Alguns amigos e colegas da área jornalística nos apoiaram, inclusive com trabalhos que nos serviram como fonte de sabedoria ou recordações às quais recorremos: Mike Allen, Matt Bai, Dan Balz, David Chalian, John Dickerson, Robert Draper, Joshua Greene, John Harris, Al Hunt, Joe Klein, Ryan Lizza, Jonathan Martin, John McCormick, Chris Matthews, Andrea Mitchell, Liza Mundy, Adam Nagourney, Bill Nichols, John Richardson, Michael Shear, Ro-ger Simon, Ben Smith, Jeffrey Toobin e Jeff Zeleny. Na fase final, Aaron Kiersh contribuiu com pesquisas atentas e oportunas. E tivemos, ao longo de todo o trabalho, a assistência de uma esquadra de transcritores, entre os quais merecem menção especial Frankie Thomas e Steven Yaccino.

Queremos registrar uma especial expressão de gratidão a Elise O’Shaughnessy, da revista Vanity Fair, uma editora talentosa que sugeriu o título da edição americana e operou milagres no sentido de evitar que o manuscrito se transfor-masse em Guerra e paz; honramos aqui sua calma em momentos de pressão e sua habilidade com o bisturi. Outro profundo agradecimento a Karen Avrich,

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cujo incansável e brilhante trabalho como escritora, editora e pesquisadora fica evidente em cada uma das páginas que se seguem.

De John heilemann:

Todo um plantel de amigos me proporcionou formas pouco tangíveis, mas não menos valiosas, de ajuda e conforto: Kurt Andersen e Anne Kreamer; Chris Anderson; John Battelle; Lisa Clements; David Dreyer; Mike Elliott e Emma Oxford; Mary Ellen Glynn e Dwight Holton; Katrina Heron; Michael Hirs-chorn; John Homans; Jeff Kwatinetz; Kerry Luft; Kenny Miller, Rachel Leven-thal e minha afilhada Zoe Miller-Leventhal; Neil Parker e Kay Moffett; Jeff Pollack; Robert Reich; Jordan Tamagni e Michael Schlein; Will Wade-Gery e Emily Botein; Harry Werksman; Fred e Joanne Wilson.

Como sempre, sinto-me grato pelo exemplo e pelo apoio de meu pai, Ri-chard Heilemann, que me mantêm no caminho certo (mais ou menos), e pela memória de minha mãe, que me sustenta em todos os meus empreendimentos.

Finalmente, Diana Rhoten, minha mulher e salvação, merece um buquê do tamanho do Botsuana. Sem ela como perpétua fonte de paciência, tranqui-lidade e inspiração — para não falar da eventual dose de amor profundo e de amplas porções de comida caseira —, eu jamais chegaria intacto à reta final.

De mark halperin:

Tenho um profundo sentimento de gratidão por Josh Tyrangiel e meus co-legas da Time e da Time.com, assim como Ina Avrich, Bob Barnett, Gary Foster, Kyle Froman, Gil Fuchsberg, Nancy Gabriner, Charlie Gibson, De-bbie Halperin, Bianca Harris, Dan Harris, Andrew Kirtzman, Ben Kushner e David Westin. Sinto-me grato pela orientação e pela eterna inspiração de Peter Jennings.

Para a conclusão do livro foram necessários o apoio e os sorrisos de Megan Halperin, Hannah Halperin, Madelyn Halperin, Laura Hartmann e Peter Hartmann. Sou grato aos seus pais: RoseAnne McCabe, Gary Halperin, Ca-rolyn Hartmann e David Halperin. E muitos agradecimentos também a Mor-ton Halperin, Diane Orentlicher, Ina Young e Joe Young.

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A impressionante contribuição profissional de Karen Avrich já foi mencio-nada. Mais importante ainda: quase tudo o que consegui no meu trabalho e na minha vida deve-se a Karen. Com seu senso de aventura, sua generosidade, sua força, sua graça e seu exemplo, ela faz de mim uma pessoa melhor.

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Prólogo

BArAck OBAmA levAntOu-se de súbito da cama às três da manhã. Seu quarto barato no Des Moines Hampton Inn estava mergulhado na escuridão; o aeroporto do outro lado da rua parecia sossegado nas horas que antecediam o alvorecer. Eram os últimos dias de dezembro de 2007, pouco antes das con-venções de Iowa. Havia quase um ano que Obama entrara numa corrida decla-rada pela presidência. Em todas aquelas noites passadas em hotéis impessoais durante os meses de incerteza e angústia — quando se mantivera muito atrás nas pesquisas nacionais, era sua inverossímil pretensão à Casa Branca era des-cartada pelas elites de Washington, sua autoconfiança estava abalada por seu desempenho desigual e pelo formidável peso da arquirrival Hillary Clinton —, Obama dormia profundamente, como um anjo. Mas agora seus olhos estavam arregalados, o coração acelerado, e ele era consumido por um pensamento ao mesmo tempo emocionante e intimidador: Eu posso ganhar esse negócio.

Os últimos meses em Iowa foram uma confusa sucessão de quadras de colé-gios, salões de sindicatos e campos de milho cobertos de neve. Obama sentia que sua candidatura ganhava corpo e podia perfeitamente percebê-lo — as multidões aumentavam, o entusiasmo crescia, sua organização estava tinindo, seu discurso político começava a produzir faíscas. Desde o primeiro dia, sua estratégia fora cris-talina: conquistar Iowa e ver cair o restante das peças do dominó. Se vencesse as convenções, New Hampshire e Carolina do Sul estariam no papo, e assim por

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diante, sempre em frente. Entretanto, sentado ali na quietude da madrugada, Oba-ma deu-se conta, como nunca antes, das consequências dos acontecimentos que se desenrolavam à sua frente. Não se sentiu propriamente eufórico. Nem aliviado. Sentiu-se como um cachorro que pegara um ônibus: e agora, o que devia fazer?

Na manhã das convenções, Obama se esforçava por transmitir sua habi-tual impressão de calma. “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra” era como ele próprio e as outras pessoas descreviam seu temperamento. Os adversários ainda corriam de um lado para outro e encaixavam seus últimos compromissos antes do início da votação. Mas Obama decidira relaxar. Acordou tarde, jogou basquete e foi cortar o cabelo na companhia de Marty Nesbitt, um amigo de Chicago. Mais tarde, à toa pelo hotel, ele e Nesbitt conversavam sobre esportes, filhos e mais esporte. Qualquer coisa para não falar da eleição, o único assunto que Obama parecia decidido a afastar da cabeça.

O telefone tocou. Obama atendeu. Do outro lado estava Chris Edley.Eles se conheciam havia quase vinte anos, desde a época em que Obama

frequentava a Faculdade de Direito de Harvard e Edley era seu professor. A essa altura decano de Boalt Hall em Berkeley, Edley era uma das poucas pessoas fora da política com quem Obama trocara confidências ao longo do ano, compar-tilhando frustrações e ansiedades a respeito da campanha, sentimentos maiores do que praticamente todo mundo imaginava. Mas agora o professor estava estres-sado, enquanto o aluno bancava o tranquilo.

“Não consigo comer há 36 horas, estou muito nervoso”, disse Edley. “Como você está?”

“Estou calmo”, respondeu Obama. “Acabo de voltar de uma partida de bas-quete.”

“Você só pode estar brincando.”“Negativo”, insistiu Obama. “Nós tínhamos uma estratégia e tratamos de

segui-la. Conseguimos executá-la razoavelmente bem. Agora, está nas mãos dos eleitores.”

Os assessores de Obama se tranquilizavam com sua serenidade, mas não chegavam exatamente a compartilhá-la. Seu alto-comando — David Axelrod, o subserviente estrategista-chefe e autoproclamado “guardião da mensagem”; David Plouffe, o rigoroso gerente da campanha; Robert Gibbs, o diretor de comunicações parrudo e agressivo, importado do Alabama; e Steve Hildebrand, o famoso agente de campo por trás da linha de frente da campanha em Iowa — era, por natureza, um grupo preocupado. Mas todos

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estavam com os nervos particularmente à flor da pele nesse momento, e por bons motivos.

Os obamianos tinham apostado tudo em Iowa. Se o candidato deles per-desse, provavelmente estaria ferrado — o que certamente aconteceria se ficasse atrás de Clinton. De acordo com as rigorosas projeções de sua campanha, a vitória de Obama exigiria um comparecimento pelo menos 50% maior que o recorde de todos os tempos em Iowa. Exigiria a afluência maciça dos uni-versitários e de outros novatos em convenções, que tentavam recrutar como loucos. Será que a garotada apareceria? Os assessores de Obama tinham grandes expectativas, mas não havia exatamente um sentimento de confiança. Muitos estavam convencidos de que John Edwards acabaria em primeiro lugar. Outros temiam que Clinton vencesse. A última pesquisa interna da campanha, antes da convenção, apontava que Obama ficaria em terceiro.

A ansiedade da cúpula de Obama raramente parecia afetar o candidato, mas, ao longo do dia da convenção, sua fachada de despreocupação começou a ruir. Durante uma visita a um local de convenção num subúrbio, acompanhado de Plouffe e Valerie Jarrett — política e empresária durona de Chicago, amiga querida de Barack e Michelle Obama —, ele viu, do carro, um enxame de elei-tores com camisetas de sua campanha e ficou com os olhos marejados. Diante do restaurante onde pretendia jantar com cerca de vinte amigos, Obama bri-gava por informações de uma maneira que seus assessores raramente tinham visto. Ao entreouvir Plouffe e outro membro da equipe comentarem sobre o comparecimento, ele se virou e começou a despejar perguntas: “Do que estão falando?” “O que disseram?” “O que ouviram?”

Obama sentou-se com Michelle no salão de lambris de madeira da Fleming’s Prime Steakhouse em West Des Moines. Plouffe o advertira de que os primei-ros resultados deveriam ser ignorados, pois provavelmente seriam desfavoráveis a ele. Mas não muito depois de iniciada a refeição, os BlackBerrys sobre a mesa começaram a vibrar com mensagens que contavam uma história diferente. O comparecimento fora maciço. Inédito. Muito além dos sonhos mais delirantes de qualquer um deles. Obama estava na frente no distrito de Polk. Estava na frente em Cedar Rapids. Então, Plouffe telefonou. Obama ouviu, desligou e desculpou--se com os amigos: “Acho que devo me preparar para o discurso da vitória.”

No momento em que Barack e Michelle deixavam o Fleming’s para voltar ao hotel, o candidato não estava exultante nem surpreso. Estivera confiante demais nos últimos dias para que tais emoções tivessem lugar agora. O que

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Obama sentia era algo mais próximo da certeza: ele seria o candidato demo-crata. O afro-americano cujo nome do meio era Hussein tinha vencido nas convenções quase completamente caucasianas de Iowa. Quem poderia detê-lo agora? Especialmente depois do que ele acabara de saber sobre Hillary.

terry mcAuliffe entrOu nA suíte do décimo andar do hotel Fort Des Moines, autorizado pelo agente do Serviço Secreto plantado diante da porta. Bill Clinton estava sentado sozinho no sofá, assistindo ao Orange Bowl pela TV. McAu-liffe fora presidente do Comitê Nacional Democrata quando Clinton era presiden-te; agora, coordenava a campanha de Hillary e acabara de receber a notícia brutal.

“E aí, Mac, como vai?”, perguntou Clinton, distraído. “Quer uma cerveja?”“Como é que eu vou?”, devolveu, por sua vez, McAuliffe, surpreso. “Não

está sabendo?”“Não.”“Nós vamos levar uma surra.”“O quê?”, exclamou Clinton, levantando-se e chamando: “Hillary!”Hillary saiu do quarto. McAuliffe deu-lhe as notícias. Os magos da esta-

tística, na casa de máquinas da campanha, tinham chegado a um veredicto sombrio: ela acabaria em terceiro lugar, ligeiramente atrás de Edwards e muito longe de Obama.

As palavras de McAuliffe bateram como um gancho de direita na mandíbula dos Clinton. Desde o começo, eles sabiam que Iowa era o estado mais fraco de Hillary. Mas ela e sua equipe não pararam de despejar tempo e dinheiro nessa praça, empurrando cada vez mais fichas para o centro da mesa. Na véspera das convenções, as pessoas nas quais os Clinton mais confiavam lhes garantiram que a aposta daria certo. Primeiro lugar, disseram a Hillary e Bill. Na pior das hipóteses, um segundo quase empatado. E, no entanto, ali estava ela num distante terceiro — e os Clinton titubeavam como dois bêbados de ressaca em Las Vegas, tentando digerir toda a dimensão do que haviam perdido.

Os integrantes do alto-comando de Hillary começaram a se reunir na suíte: Mark Penn, seu principal estrategista e o homem das pesquisas, sempre des-grenhado; Mandy Grunwald, responsável pela propaganda; Howard Wolfson, seu combativo czar das comunicações; Neera Tanden, diretora de políticas; e Patti Solis Doyle, a própria quintessência da lealdade a Hillary, atuando como gerente da campanha. Embora fosse a melhor suíte do hotel, a sala de estar era pequena; a iluminação, fraca; a mobília, decadente. Uma atmosfera claustro-

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fóbica que recendia a mofo — e que se tornava ainda mais opressiva à medida que o choque se transformava em raiva.

Como aquilo havia acontecido?, perguntavam-se os Clinton, inquirindo Penn sobre as pesquisas, e Grunwald sobre a propaganda, e reclamando da quantidade inacreditável de dinheiro que Iowa engolira. (O valor total seria de 29 milhões de dólares — por 70 mil votos.) Os dados de comparecimento não faziam sentido para eles: apareceram cerca de 240 mil convencionais, quase o dobro em relação a quatro anos antes. De onde teria vindo toda aquela gente?, perguntou Bill. Eram todos realmente de Iowa? A equipe de Obama devia ter trapaceado, dizia ele, só podia ter trazido ônibus cheios de seguidores de Illinois.

Hillary se preocupava com essa possibilidade havia semanas; agora, incitava o marido. Bill está certo, dizia. Temos de investigar essa trapaça.

“Cartas marcadas”, resmungou Bill.Hillary tentava controlar suas emoções. Já o ex-presidente, não. Com o san-

gue fervendo e ruborizado, ele dava vazão a sua frustração, sentado na sala de estar. Estava furioso com o governador Bill Richardson, do Novo México, que ficara em quarto lugar por ter feito um acordo nos bastidores que direciona-ra alguns de seus seguidores para Obama, depois de garantir à campanha de Hillary que não faria esse tipo de acerto. Bill Clinton nomeara Richardson para dois cargos importantes em seu governo, e agora ele apunhalava Hillary pelas costas. Parece que ter sido secretário de Energia e embaixador na ONU não foi o suficiente para ele, bufou Clinton.

Sobretudo, Bill estava com raiva da mídia, considerando que ela havia sido truculenta com sua mulher, enquanto tratava Obama com luvas de pelica. É um absurdo, insistia. O cara é uma fraude. Não tem experiência, não deu nenhuma contribuição; não está nem de longe preparado para ser comandante em chefe.

“Ele é um senador”, retrucou Hillary. “Não devemos subestimá-lo.”Mas está no Senado há apenas três anos e passou o tempo todo querendo se

candidatar a presidente, retrucou Bill. “O que ele realmente fez?”“Temos de ser realistas: as pessoas consideram que isso é ter experiência”, disse

Hillary.A derrota é sempre um teste para a compostura e a elegância de um político.

Hillary nunca havia perdido, e não tinha à mão doses consideráveis de qualquer dessas duas qualidades. Ao receber o breve texto, milimetricamente estudado, do discurso de reconhecimento da derrota que deveria fazer dentro em pouco, diante das câmeras, ela percorreu desanimada as páginas, deixou-as de lado e

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decidiu improvisar. Seu telefonema para cumprimentar Obama foi ríspido e impessoal. “Grande vitória, estamos de fora em Iowa, nos vemos em New Hampshire”, disse ela, desligando.

Os assessores presentes na sala usufruíam havia muito tempo de intimidade com os Clinton e tinham presenciado seus acessos de fúria numerosas vezes. Era unânime, contudo, o sentimento de perplexidade diante daquela demons-tração — particularmente desalentadora partindo de Hillary. Vendo sua reação de ressentimento perturbado e sua impressionante falta de calma e de con-trole, um de seus mais antigos colaboradores pensou pela primeira vez: Essa mulher não pode ser presidente.

O fato é que a dimensão da conquista de Obama deixou Hillary absoluta-mente tonta. Ele a havia derrotado entre democratas e independentes, entre ricos e pobres. Levara até o voto feminino. Aquela vitória acabaria com o apoio que ela recebia de afro-americanos, Hillary estava convencida disso. Vinte e quatro horas antes e ao longo de todo o ano anterior, ela estivera na frente, vista como a candidata inevitável, que ninguém poderia segurar. E agora Obama surgia como o mais provável presidente dos Estados Unidos.

Bill Clinton estava decidido a fazer o que fosse preciso para combater essa pro-babilidade. Havia meses segurava a língua enquanto seus temores aumentavam — a respeito de Iowa, da falta de competência que via na equipe da mulher, de sua falta de disposição para demolir Obama. A campanha é de Hillary, argumen-tava consigo mesmo; precisava deixá-la tomar as rédeas. Mas agora a candidatura de Hillary estava por um fio, e com ela seu projeto tão caro de criar uma dinastia Clinton. Decidiu, então, que chegara o momento de soltar os cachorros.

Mas Hillary se perguntava se não seria tarde demais. Voltando-se para o marido, ela balançou a cabeça e suspirou. Talvez o problema não fosse Iowa. Talvez o problema não fosse sua campanha. “Talvez”, disse, “eles simplesmente não gostem de mim”.

JOhn edwArds estAvA nO palco do salão de baile do Renaissance Savery Hotel, em Des Moines, tentando, corajosamente, reagir com elegância a seu distante segundo lugar. “A única coisa clara pelos resultados desta noite é que o status quo perdeu e a mudança ganhou”, declarou. “E agora vamos em frente.”

Mas Edwards sabia que não era bem assim. Ao tomar conhecimento dos resultados por meio de sua equipe de estatísticos, o que realmente pensou foi: Bem, estamos fodidos.

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Para Edwards, mais ainda que para Obama, a vitória em Iowa era condição sine qua non para a sobrevivência. O ex-senador pela Carolina do Norte manti-vera um pé no estado de Iowa desde a campanha de 2004, na qual fora lançado por seu surpreendente segundo lugar para a candidatura a vice-presidente, na chapa de John Kerry. Dessa vez, a campanha de Edwards fora uma impetuo-sa cruzada neopopulista. Em comparação com Clinton e Obama, contudo, ele comandava uma operação artesanal — na verdade, trabalhava apenas com fumaça. Para ter alguma chance nos estados que viriam em seguida, Edwards precisava de uma vitória expressiva em Iowa que lhe garantisse impulso como competidor e desencadeasse uma avalanche de contribuições para seus cofres.

Porém Edwards não tinha a menor intenção de sair pela tangente. Havia um plano alternativo. Dois meses antes, pedira a Leo Hindery, investidor nova--iorquino nos meios de comunicação, um de seus confidentes mais próximos, que apresentasse uma proposta a Tom Daschle, antigo líder da maioria no Se-nado e mentor de Obama. A ideia era audaciosa e direta: se Edwards vencesse nas convenções, Obama imediatamente deixaria a corrida para se tornar seu companheiro de chapa; se Obama vencesse, Edwards faria o mesmo. (Se Clin-ton ganhasse, os dois estariam fora.) Por mais prejudicial que uma derrota em Iowa fosse para Hillary, ela poderia perfeitamente mostrar-se forte o suficiente para se recuperar. A única maneira de garantir sua eliminação seria tomar essa decisão extraordinária de se unirem contra ela.

Hindery apresentara a proposta a Daschle, de quem era amigo de longa data. Daschle levou-a à organização da campanha de Obama. As negociações foram hesitantes; nada fora decidido.

Agora, com os resultados em Iowa, Edwards resolveu que estava na hora de fechar esse acordo. Pouco antes de subir ao palco no Savery, convocou Hindery a sua suíte no hotel e lhe transmitiu as ordens: “Vá atrás de Tom.”

Hindery considerou que o momento não podia ser pior. Obama mal venceu em Iowa, pensou. Deixe-o saborear um pouco o momento. Mas Edwards queria acionar as engrenagens naquela noite.

Hindery deixou a suíte de Edwards e tentou freneticamente localizar Daschle, mas descobriu que ele não estava em Iowa. Seguiram-se telefonemas, mensa-gens foram deixadas. Ninguém sabia onde ele se encontrava.

Enquanto Edwards fazia seu discurso, Hindery manteve-se alguns metros à sua direita, até ser avisado por um assessor de que Daschle, em férias com a família no México, estava ao telefone.

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Hindery desceu do palco para atender ao telefonema, esforçando-se por ouvir Daschle em meio ao barulho da multidão. “Tom? Estou aqui com John”, disse. “Você não vai acreditar, mas ele quer fazer um acordo agora mesmo. Concorda em ser o vice de Barack.”

Hindery tinha razão. Daschle ficou estupefato.“Tem certeza de que quer fazer isso agora?”, perguntou.“Eu não, mas ele, sim”, respondeu Hindery.Tudo bem, disse Daschle. Vou falar com Barack.

O triunfO de BArAck Obama, a humilhação infligida a Hillary Clinton e o extermínio de John Edwards puseram a noite de 3 de janeiro de 2008 nos livros de história. Foi um desses raros momentos na vida política em que seu eixo se desloca enquanto o mundo inteiro assiste. Obama, Clinton e Edwards tinham chegado às convenções com esperanças e expectativas semelhantes. E saíram em condições radicalmente diferentes: Obama, com uma confiança à beira da arrogância; Clinton, desesperada, mas decidida a se salvar; Edwards, condenado, mas tentando comer pelas beiradas. Naquele momento, os três concordaram: Iowa tinha virado o jogo.

Embora o mundo não prestasse tanta atenção, os republicanos também rea-lizaram convenções em Iowa naquela noite, e elas igualmente viraram o jogo. A corrida pela designação presidencial no GOP* estivera o ano todo mergulhada em confusão, sem nenhum favorito. Durante meses, Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York subitamente alçado à condição de ícone do 11 de Setembro, fica-ra em primeiro lugar nas pesquisas nacionais, mas recuava rapidamente. Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas, era um showman encantador, mas sua base de apoio quase exclusivamente evangélica era por demais acanhada para tornar plausível sua candidatura. No entanto, Huckabee venceu as convenções de Iowa, trucidando o ex-governador do Massachusetts Mitt Romney com van-tagem de dez pontos. A derrota foi uma enorme humilhação para Romney, que gastara milhões de dólares no estado e pretendia usar uma vitória obtida ali como plataforma para New Hampshire e outras disputas. Aumentando ainda mais o caos na corrida, as convenções conseguiram outra coisa: escancarar a porta para um candidato que nem estava em Iowa naquela noite, John McCain, presente em um comício na prefeitura de New Hampshire, ocasião em que co-

* Grand Old Party, apelido do Partido Republicano. (N. do T.)

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mentou distraidamente com um militante contra a guerra que para ele “estaria tudo bem” se as tropas americanas ficassem cem anos no Iraque.

Algo nos resultados de Iowa convinha a ambos os partidos: o elemento sur-presa, a maneira como alteraram fundamentalmente os rumos da corrida que tinham pela frente. Toda disputa presidencial tem suas reviravoltas e, cada uma delas, em certa medida, gera consequências. Mas a eleição de 2008 foi definida por grandes acontecimentos, revelações surpreendentes e episódios inesperados que repetidamente ameaçavam virar tudo de ponta-cabeça. O reverendo Jere-miah Wright. As explosões de Bill Clinton na Carolina do Sul. Os supostos problemas conjugais de McCain. A épica crise do sistema financeiro global. A hipnótica, desconcertante e profundamente polarizadora emergência de Sarah Palin. Suas dificuldades públicas e seus pesadelos privados, assim como as inéditas medidas tomadas pela equipe de McCain para lidar com a grande estrela. Eram desdobramentos tão extravagantes e tão dramáticos que pareciam tirados de um roteiro hollywoodiano.

Isso também combinava perfeitamente. Mais do que qualquer outra eleição em nossa lembrança, a ocorrida em 2008 foi uma disputa em que os candidatos eram celebridades, grandes personalidades em confronto, gerando uma como-ção incomum na política; um drama denso, cativante, que envolvia uma série de complexos fatores modernos em matéria de raça, gênero, classe social, reli-gião e idade; um espetáculo multimídia transmitido 24 horas por dia, sete dias por semana, pela internet, pela televisão a cabo, pelos programas de entrevistas e pelo Saturday Night Live. E o drama se desenrolava em um cenário também muito cinematográfico: um país em guerra, uma economia à beira do abismo e um eleitorado arrebatado, independentemente das preferências partidárias, num apaixonado anseio de transformação.

Naquele mês de janeiro em Iowa, contudo, pouco estava claro. O que os candidatos sabiam era que havia meses, talvez anos, eles vinham trabalhando para chegar àquela noite, assumindo posições, traçando estratégias, calculando. Haviam percorrido o país, levantando dinheiro e seduzindo figurões locais, apertando mãos e beijando bebês. Não sabiam o que aconteceria agora ou para onde seriam levados. Na verdade, para Obama e Clinton, a confusão era ainda maior: não tinham a menor ideia de que estavam vivendo uma história de amor — muito menos de que sempre fora assim.

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