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COMO ESCREVER UM PROJETO DE PESQUISA? Roxana Cardoso Brasileiro Borges * SUMチRIO: 1. Advertência preliminar. 2. Sobre a metodologia de pesquisa. 3. Sobre o projeto de pesquisa. 4. O que colocar num projeto de pesquisa?. 5. Descrição das partes do projeto de pesquisa. 5.1. Capa e folha de rosto. 5.2. Sumário. 5.3. Identificação do projeto. 5.4. Introdução e apresentação. 5.5. Justificativa. 5.6. Problema de pesquisa. 5.6.1. Definição e importância do problema. 5.6.2. Delimitando o âmbito da pesquisa: os limites do trabalho a ser planejado. 5.6.2.1. Recortando o objeto da pesquisa. 5.6.2.1. a) Em relação ao assunto. 5.6.2.1 b). Em relação ao tempo. 5.6.2.1 c). Em relação ao espaço. 5.6.2.2. Tipos de perguntas-problemas para a pesquisa. 5.6.2.3. Requisitos para a formulação da sua pergunta- problema: familiaridade e criatividade. 5.6.2.4. Outros elementos a serem observados na escolha da sua pergunta-problema: aptidão, inclinação e motivação pessoal. 5.6.2.5. A viabilidade da pesquisa: também requer cuidado na formulação da pergunta-problema. 5.7. Hipótese. 5.8. Questões orientadoras. 5.9. Objetivos. 5.10. Revisão de literatura. 5.11. Teoria de base ou embasamento teórico. 5.12. Sistema conceitual. 5.13. Estrutura preliminar. 5.14. Metodologia. 5.14.1. Função da metodologia. 5.14.2. Ausência de uniformidade. 5.14.3. Que informações são necessárias?. 5.15. Resultados esperados. 5.16. Cronograma. 5.17. Orçamento. 5.18. Conclusão. 5.19. Referências. 5.20. Apêndice. 5.21. Anexos. 6. Formatação. 7. Referências. 1. ADVERTハNCIA PRELIMINAR Normalmente, os guias ou manuais não são capazes de ensinar a fazer pesquisa, pois esta se aprende com a própria prática da pesquisa. Entende-se que mais útil para o estudante é ajudá- lo a descobrir sua própria forma de pesquisar, oferecendo-lhe sugestões de como proceder em determinados momentos, apresentando-lhe opções de caminhos que podem ser tomados, indicando as atitudes que normalmente dão certo e alertando-o sobre as decisões que, na maioria das vezes, fazem com que o pesquisador iniciante se perca em seu trabalho ou se desvie de seu curso principal. * Doutora em Direito das Relações Sociais (Direito Civil) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP-2003), Mestre em Instituições Jurídico-Políticas (Direito Ambiental e Civil) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC-1999), Bacharela em Direito pela Universidade Católica do Salvador (UCSal - 1996), Professora Adjunta na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, onde leciona no Mestrado, na Especialização e na Graduação, Coordenadora do Curso de Especialização em Direito Civil da Universidade Federal da Bahia, Professora Adjunta na Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Bahia, Professora na Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador.

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COMO ESCREVER UM PROJETO DE PESQUISA?Roxana Cardoso Brasileiro Borges*

SUMÁRIO: 1. Advertência preliminar. 2. Sobre a metodologia depesquisa. 3. Sobre o projeto de pesquisa. 4. O que colocar num projetode pesquisa?. 5. Descrição das partes do projeto de pesquisa. 5.1. Capae folha de rosto. 5.2. Sumário. 5.3. Identificação do projeto. 5.4.Introdução e apresentação. 5.5. Justificativa. 5.6. Problema depesquisa. 5.6.1. Definição e importância do problema. 5.6.2.Delimitando o âmbito da pesquisa: os limites do trabalho a serplanejado. 5.6.2.1. Recortando o objeto da pesquisa. 5.6.2.1. a) Emrelação ao assunto. 5.6.2.1 b). Em relação ao tempo. 5.6.2.1 c). Emrelação ao espaço. 5.6.2.2. Tipos de perguntas-problemas para apesquisa. 5.6.2.3. Requisitos para a formulação da sua pergunta-problema: familiaridade e criatividade. 5.6.2.4. Outros elementos aserem observados na escolha da sua pergunta-problema: aptidão,inclinação e motivação pessoal. 5.6.2.5. A viabilidade da pesquisa:também requer cuidado na formulação da pergunta-problema. 5.7.Hipótese. 5.8. Questões orientadoras. 5.9. Objetivos. 5.10. Revisão deliteratura. 5.11. Teoria de base ou embasamento teórico. 5.12. Sistemaconceitual. 5.13. Estrutura preliminar. 5.14. Metodologia. 5.14.1.Função da metodologia. 5.14.2. Ausência de uniformidade. 5.14.3.Que informações são necessárias?. 5.15. Resultados esperados. 5.16.Cronograma. 5.17. Orçamento. 5.18. Conclusão. 5.19. Referências.5.20. Apêndice. 5.21. Anexos. 6. Formatação. 7. Referências.

1. ADVERTÊNCIA PRELIMINAR

Normalmente, os guias ou manuais não são capazes de ensinar a fazer pesquisa, pois esta se

aprende com a própria prática da pesquisa. Entende-se que mais útil para o estudante é ajudá-

lo a descobrir sua própria forma de pesquisar, oferecendo-lhe sugestões de como proceder em

determinados momentos, apresentando-lhe opções de caminhos que podem ser tomados,

indicando as atitudes que normalmente dão certo e alertando-o sobre as decisões que, na

maioria das vezes, fazem com que o pesquisador iniciante se perca em seu trabalho ou se

desvie de seu curso principal.

* Doutora em Direito das Relações Sociais (Direito Civil) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC/SP-2003), Mestre em Instituições Jurídico-Políticas (Direito Ambiental e Civil) pela Universidade Federalde Santa Catarina (UFSC-1999), Bacharela em Direito pela Universidade Católica do Salvador (UCSal - 1996),Professora Adjunta na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, onde leciona no Mestrado, naEspecialização e na Graduação, Coordenadora do Curso de Especialização em Direito Civil da UniversidadeFederal da Bahia, Professora Adjunta na Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Bahia, Professorana Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador.

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Assim, não se busca, neste trabalho, elaborar uma análise da epistemologia da ciência ou das

teorias sobre o conhecimento científico. Este texto é especialmente destinado a quem está

diante de uma pesquisa a ser planejada e que gostaria de ter alguma orientação prática sobre

como proceder.

2. SOBRE A METODOLOGIA DE PESQUISA

A metodologia de pesquisa pode ser entendida como um roteiro para a realização de pesquisas

que pretendem ter como resultados conhecimentos novos e relevantes, obtidos a partir de

procedimentos reconhecidos como científicos pela comunidade. Não se trata, propriamente,

de regras ou normas a serem seguidas obrigatoriamente pelo pesquisador, mas de um conjunto

de práticas ou costumes que poderão ajudá-lo a chegar ao final de sua pesquisa obtendo o

reconhecimento de seus pares.

Portanto, o que se vai ver nas próximas páginas não são modelos nos quais o pesquisador

deve se encaixar, mas informações sobre como normalmente as pesquisas reconhecidas têm se

desenvolvido. Não se podem tomar tais costumes acriticamente nem colocar as orientações

metodológicas como fim de uma pesquisa, mas, sempre, como um instrumento.

Assim, as regras ou normas metodológicas são costumes ou práticas que servem para nos

orientar quando resolvermos fazer nossa pesquisa. Como as pesquisas reconhecidas pela

comunidade científica seguem determinados procedimentos, vamos conhecer esses

procedimentos para podermos atingir, também, um bom resultado para nossa pesquisa. Essas

normas não são propriamente estabelecidas por alguém, surgem da prática da pesquisa e da

discussão teórica sobre a metodologia científica, constituindo-se muito mais de costumes ou

práticas reiteradas da comunidade de pesquisadores do que normas impostas por alguém. Se

estas regras ou procedimentos não forem adotados pelo pesquisador, ele corre o risco ou de se

perder em sua pesquisa ou de, ao final desta, não obter o reconhecimento pretendido.

Feitas essas observações preliminares, deve-se preparar para uma atividade que deverá ser

proveitosa, criativa, produtiva e prazerosa que, além disso, poderá atribuir os títulos ou

reconhecimentos desejados e contribuir para o desenvolvimento teórico ou social de um

campo ou setor.

3. SOBRE O PROJETO DE PESQUISA

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A função mais importante do projeto de pesquisa é a de projetar o trabalho a ser feito, tanto

em relação ao seu provável conteúdo como em relação às etapas a vencer. Ou seja, sua

principal utilidade é servir ao próprio pesquisador, como planejamento de sua pesquisa. Neste

aspecto, ele é essencial para que o pesquisar se organize e não se perca antes mesmo de

começar a pesquisa.

A monografia/dissertação/tese resulta de uma pesquisa. A pesquisa é uma atividade que

demanda certo planejamento. Se se pretende elaborar uma monografia/dissertação/tese, o

primeiro passo é planejar a pesquisa que levará até ela.

A redação da monografia/dissertação/tese é a última fase de uma pesquisa, na qual o

pesquisador exporá à comunidade científica qual era, inicialmente, seu problema, quais eram

seus objetivos no início da pesquisa, qual resultado foi alcançado e que caminho ele percorreu

até chegar ao resultado ou conclusão. Assim, a monografia/dissertação/tese é um relatório da

pesquisa, devendo, portanto, ser escrita apenas ao final desta.

Portanto, para escrever uma monografia/dissertação/tese, precisa-se, antes, desenvolver uma

pesquisa. E, para desenvolver uma pesquisa, precisa-se planejar como fazê-la, para que haja

eficiência. Esta é a função do projeto: projetar a pesquisa.

O projeto de pesquisa contém informações sobre todos os aspectos da pesquisa a ser realizada,

desde a apresentação da pergunta-problema que se pretende responder ou resolver até

informações sobre os custos da pesquisa.

Além disso, quando se está fazendo pesquisa numa instituição de ensino, em graduação,

especialização, mestrado ou doutorado, há algum momento em que será exigido um projeto de

pesquisa. Este momento pode ocorrer já no curso da graduação, especialização, mestrado e

doutorado, ou, em outros casos, antes do ingresso do estudante nos programas de pós-

graduação, como parte do processo de seleção.

Independente de estar ou não vinculado a alguma instituição de ensino, se o pesquisador

pretender algum apoio técnico ou financeiro para sua pesquisa ou se quiser convidar alguém

para orientá-lo, provavelmente terá de elaborar um projeto de pesquisa.

O projeto de pesquisa pode ser comparado a um cartão de visitas do pesquisador. É através de

projetos de pesquisa que se comunica a outras pessoas (orientador, professores, instituições,

órgãos) sobre a pesquisa que se deseja desenvolver.

Em suma, o projeto de pesquisa pode ser utilizado pelo pesquisador para:

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a) ajudar o próprio pesquisador a se organizar em função da pesquisa,

b) obter ingresso em cursos de pós-graduação, sobretudo mestrados e doutorados,

c) cumprir requisito para aprovação em disciplina ou curso.

d) apresentar sua proposta de pesquisa a seu futuro ou atual orientador,

e) apresentar sua proposta de pesquisa a agências de fomento, com o fim de obter

recursos necessários para seu desenvolvimento, como bolsas,

f) obter financiamentos de organizações ou instituições específicas, que não

sejam agências de fomento à pesquisa.

4 O QUE COLOCAR NUM PROJETO DE PESQUISA?

Os projetos de pesquisa não obedecem a padrões rígidos. No entanto, a instituição de ensino

ou organização para as quais se destina podem exigir a observância de algumas normas de

apresentação, tópicos que deve conter, número de páginas.

No projeto de pesquisa, o pesquisador, em geral:

a) planeja o maior número de aspectos da pesquisa que pretende realizar,

b) define o objeto da pesquisa, ou seja, define a pergunta que buscará responder

ou o problema para o qual pretende apresentar solução,

c) define os objetivos internos da pesquisa, deixando claro o que deseja

demonstrar, provar, alcançar,

d) justifica seus objetivos, ou seja, explica por que essa pesquisa merece ser feita,

prevendo as contribuições que poderá trazer para o desenvolvimento de seu campo

de conhecimento e da sociedade,

e) estabelece como o problema será abordado,

f) prevê que técnicas de coleta de dados serão utilizadas,

g) prevê as etapas que a pesquisa terá e como estão programadas no tempo,

h) prevê os custos da pesquisa e qual será a fonte dos recursos necessários para

desenvolvê-la,

i) prevê os resultados que espera de sua pesquisa.

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Para fazer um projeto de pesquisa, o estudante ou pesquisador deve ter, em primeiro lugar, um

planejamento da pesquisa que pretende fazer. Esse planejamento requer que o estudante ou

pesquisador já saiba o que deseja investigar, o que pretende alcançar na investigação, por quê

e como. Veja-se como esses planos podem ser transformados num projeto.

Um projeto de pesquisa pode ser composto pelas seguintes partes, explicadas nos tópicos

seguintes:

a) capa,

b) folha de rosto,

c) sumário,

d) identificação do projeto,

e) (apresentação ou introdução),

f) justificativa,

g) problema,

h) (hipótese),

i) objetivos,

j) revisão da literatura,

k) teoria de base,

l) sistema conceitual,

m) estrutura preliminar da monografia,

n) metodologia,

o) resultados esperados,

p) cronograma,

q) orçamento,

r) (conclusão),

s) referências ou bibliografia,

t) apêndices,

u) anexos.

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5. DESCRIÇÃO DAS PARTES DO PROJETO DE PESQUISA

Apresentam-se aqui as partes consideradas essenciais a todos os projetos, assim como tópicos

que aparecem em alguns projetos mas que são desnecessários e outros que são impróprios.

Normalmente, são essenciais, nos projetos de pesquisa: capa, folha de rosto, sumário,

justificativa, problema, revisão de literatura, metodologia, cronograma, referências.

Podem ser desnecessários, dependendo do caso, os tópicos: identificação do projeto,

introdução, apresentação, hipótese, objetivos, teoria de base, sistema conceitual, estrutura

preliminar do relatório (monografia/dissertação/tese), orçamento, apêndice, anexos. As

necessidades desses tópicos dependerá do contexto do projeto e do pesquisador.

É imprópria a presença de conclusão.

5.1 CAPA E FOLHA DE ROSTO

A capa e a folha de rosto de um projeto de pesquisa são, em geral, padronizadas segundo as

normas da ABNT ou da instituição, não sofrendo muitas variações. Assemelham-se às capas

de monografias, dissertações e teses, devendo conter informações gerais sobre a pesquisa, tais

como: nome do pesquisador, instituição à qual está vinculado ou à qual pretende se vincular,

título do projeto, local e data.

O título do projeto é a primeira informação importante sobre a essência da proposta do

pesquisador. Deve ser claro, objetivo e fiel ao conteúdo do projeto, explicitando a delimitação

do tema (recorte quanto ao assunto, tempo, espaço, matriz teórica etc.).

5.2 SUMÁRIO

O sumário do projeto de pesquisa tem a mesma função que um sumário de

monografia/dissertação/tese: apresentar suas partes. As partes principais ou títulos contidos no

projeto de pesquisa devem ser indicados no seu sumário, com indicação da página em que o

título inicia.

5.3 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

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A identificação do projeto é o campo onde se deve informar:

a) título do projeto (embora isso já esteja na capa),

b) nome do pesquisador (o autor do projeto),

c) endereço, telefone, fax, e-mail do pesquisador (como o pesquisador pode ser

contactado),

d) orientador do projeto (se houver),

e) endereço, telefone, fax, e-mail, titulação do orientador,

f) outros pesquisadores ou técnicos que compõem a equipe ou grupo de pesquisa,

se houver, com respectivos dados,

g) área de concentração ou linha de pesquisa em que o projeto se insere (aplica-se

a projetos vinculados a instituições de ensino),

h) duração do projeto (previsão de quando será seu início e de quando os

resultados da pesquisa serão apresentados),

i) instituições envolvidas no projeto (instituição de ensino ou outra organização),

j) instituição financiadora da pesquisa (agência de fomento, empresa ou outra

entidade).

5.4 INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO

Não é raro encontrar projetos que contenham introdução e/ou apresentação. Não se vê

utilidade nesses tópicos, num projeto de pesquisa, pois, geralmente, as informações neles

apresentadas terão lugar próprio nos tópicos seguintes, como objeto, justificativa, revisão de

literatura.

A menos que haja alguma informação que não seja adequada a estes tópicos, pode ser

conveniente uma apresentação.

5.5 JUSTIFICATIVA

A justificativa tem um papel muito importante no projeto de pesquisa porque, como indica a

própria denominação, é lá que ele vai justificar sua pesquisa, demonstrando que ela é atual,

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original, relevante, viável, útil, necessária. Neste tópico se constrói o convencimento de que

esta pesquisa merece ser feita e, se for o caso, merece ser apoiada.

Na justificativa o pesquisador deve deixar claro:

a) por que esse problema merece ser investigado,

b) o que sua pesquisa oferecerá como contribuição para a sociedade e para o

campo de conhecimento em que se insere, ou seja, qual é a utilidade da pesquisa,

sua contribuição teórica e social,

c) qual é a relevância e atualidade dessa pesquisa,

d) qual é sua originalidade,

e) demonstrar sua viabilidade.

A originalidade nos projetos de pesquisa é polêmica. Costuma-se dizer a respeito da

originalidade, que todo trabalho de pesquisa tem algo de original. Outras vezes se diz que

nenhuma pesquisa é totalmente original. Afinal, em que consiste a originalidade de uma

pesquisa? Esta é uma pergunta espinhosa. De fato, quase todo trabalho de pesquisa apresenta

algo de original e, também, praticamente nenhuma pesquisa é cem por cento original. Mas por

quê?

Se se pensar em originalidade como um trabalho que não é idêntico a outro, então toda

pesquisa poderá ser considerada original, ou com certo grau de originalidade. Assim, são

aceitas pesquisas sobre temas já pesquisados, mas que analisam o mesmo objeto a partir de

um novo ponto de vista, estudando-o com base em nova teoria, observando um aspecto que

não foi devidamente estudado nas pesquisas precedentes ou a partir de uma abordagem

metodológica diversa. Essas pesquisas, embora seu tema não seja exatamente original,

apresentam alguma contribuição a mais, pois contribuem para a continuidade de uma reflexão

iniciada por outros pesquisadores e ainda não exaurida.

De outro lado, como normalmente as pesquisas são continuações das que lhes precederam, ou

como se apóiam nas pesquisas já realizadas, pode-se dizer também que quase nenhuma

pesquisa é dotada de cem por cento de originalidade, pois a produção do conhecimento é um

processo feito por continuidades ou acúmulos (e, de vez em quando, algumas

descontinuidades e rupturas também). Por isso, quase toda pesquisa terá que se referir ao

conhecimento anteriormente produzido pelos outros pesquisadores, seja para tomar como

ponto de partida, seja para o criticar.

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Na verdade, a originalidade está mais ligada à forma como um tema é abordado do que

propriamente ao tema em si. Na maioria das vezes, não é o tema que é original, mas a

abordagem que se faz sobre ele, o enfoque dado, o percurso realizado.

Quanto à relevância de uma pesquisa, outra polêmica se levanta. Habitualmente se diz que

uma pesquisa deve ter relevância teórica e social. Há momentos em que se diz que a pesquisa

deve ser livre, pura, sem vínculos com a relevância ou atualidade. O ideal é que toda pesquisa

apresente uma relevância teórica e social no seu campo de conhecimento ou setor de

aplicação. Isso significa que o pesquisador, ao propor uma pesquisa, deve estar comprometido

com a transformação teórica de seu campo científico e com a transformação social ou

transformação da realidade na qual ele está inserido.

Mas a relevância é relativa, pois, em certas áreas científicas, algumas pesquisas são

empreendidas sem que tenham, no seu início, objetivamente, uma relevância social, e acabam

por ter como resultado a produção de um conhecimento ou uma tecnologia de relevância

científica e social que não era imaginada no momento em que foi proposta.

Convém refletir sobre a utilidade de informações, no projeto, sobre a vida pessoal e/ou

profissional do pesquisador, ou sobre suas motivações particulares. Elas só devem ser

incluídas no projeto se realmente forem necessárias ou úteis, dependendo do contexto no qual

o projeto for apresentado. Podem complementar a justificativa ou a metodologia.

Sobre a viabilidade, veja-se, abaixo, quando do tratamento sobre o problema de pesquisa.

5.6 PROBLEMA DE PESQUISA

5.6.1 Definição e importância do problema

O objeto ou problema, no projeto de pesquisa, é a pergunta-problema que o pesquisador

pretende responder ou resolver. No tópico objeto de pesquisa ou problema o pesquisador

descreverá o que irá investigar, qual é seu tema, o assunto, qual é a problemática que irá

analisar, problematizando o tema. Em algum momento, é bom que a pergunta-problema seja

apresentada na forma de interrogação.

O passo mais importante do planejamento da pesquisa é formular o problema da pesquisa:

a) O que se vai pesquisar?

b) O que se vai estudar?

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c) O que se vai analisar?

d) O que se quer explicar, comparar, criticar?

O problema da pesquisa é a pergunta central que se busca responder realizando a pesquisa. A

pesquisa tem um objetivo que é responder à pergunta central que foi elaborada pelo

pesquisador no início da pesquisa. Se não foi formulada uma questão, a pesquisa está sem

objetivo e o pesquisador, sem rumo. Para não ficar sem rumo na pesquisa, precisa-se, de

início, formular com muita precisão a pergunta que se pretende responder ou o problema que

se quer resolver.

É o problema de pesquisa que guiará o pesquisador em seu trabalho. Se o problema de

pesquisa não for bem formulado, bem delimitado, bem definido, o pesquisador não saberá o

que estará pesquisando. Isso terá como conseqüências para o pesquisador muita leitura feita

sem sentido, tempo perdido, recursos despendidos e ... nenhum resultado.

A formulação do problema de pesquisa é um dos momentos mais importantes do trabalho do

pesquisador. Dele depende todo o desenrolar da pesquisa. De um problema bem formulado,

bem delimitado, bem definido, proposto de forma clara e objetiva, depende o

desenvolvimento da pesquisa.

Nesse momento talvez seja preciso fazer um rápido estudo do tema para poder delimitá-lo

melhor. Isso geralmente pode ser feito através de uma breve pesquisa bibliográfica, chamada

de levantamento bibliográfico ou pesquisa exploratória. É uma revisão do assunto, um

levantamento das possíveis abordagens para a pesquisa, uma busca de enfoques que se podem

dar ao trabalho. Além disso, nesse levantamento, busca-se a certeza de que a pergunta-

problema está bem formulada e que, portanto, pode-se passar para o desenvolvimento da

pesquisa, com a definição do planejamento e o aprofundamento da investigação.

5.6.2 Delimitando o âmbito da pesquisa: os limites do trabalho a ser planejado

Com a formulação do problema se está delimitando o alcance da pesquisa. É neste momento

que se devem estabelecer os limites da pesquisa, até onde se vai pesquisar, qual a quantidade

de informações precisarão ser coletadas, qual a quantidade de leitura que deverá ser feita,

quanto tempo será necessário. É formulando o problema de pesquisa que se estabelecem os

limites da investigação.

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Quanto mais amplo for o problema ou quanto mais genérica for a pergunta, mais perto do

impossível se estará se se pretender elaborar uma monografia sobre isso. Como a monografia

é o resultado de uma análise profunda sobre um tema, quanto mais restrito for o problema

formulado, mais facilmente poder-se-á ir direto ao ponto e os riscos de se darem voltas e não

chegar a lugar nenhum será muito reduzido. Se a questão formulada for muito ampla, ter-se-á

que ler, analisar, compreender, criticar e relacionar tantos fatores que, provavelmente, o prazo

expirará sem que tenha começado a fase de redação da monografia.

Os limites para delimitar o tema e formular o problema podem ser em relação ao assunto, ao

tempo e ao espaço.

5.6.2.1 Recortando o objeto da pesquisa

5.6.2.1 a) Em relação ao assunto

Em relação ao assunto, pode-se delimitar o problema “cortando” o assunto que se escolheu

investigar.

Se alguém diz que sua pesquisa será sobre Direito Civil, é necessário informar, informar que

não há aí um tema. Direito Civil é um ramo do direito, um mundo de institutos, categorias,

princípios, teorias. Não se escreve uma monografia sobre Direito Civil, pois Direito Civil não

é um tema, muito menos um problema. Assim, embora esse pesquisador tenha escolhido o

ramo do direito dentro do qual quer pesquisar, ainda definiu pouco. Dentro do Direito Civil há

a Teoria Geral, o Direito das Obrigações, o Direito de Família, o Direito das Coisas, o Direito

das Sucessões ... cada um com princípios próprios, objetivos diversos, categorias e figuras

diferentes. Imagine-se que, dentro do Direito das Obrigações, o pesquisador tenha escolhido

estudar a teoria geral dos contratos. Bem, isso ainda é o assunto, pois é possível redigir um

manual sobre a teoria geral dos contratos, mas não uma monografia. É preciso ainda que o

pesquisador pense sobre que questão ou que problema, dentro da teoria geral dos contratos,

ele pretende analisar. Digamos que ele decida investigar a boa-fé objetiva. Bem, “investigar a

boa-fé objetiva” pode ser um tema, mas ainda não se chegou a um problema de pesquisa, pois

“investigar a boa-fé objetiva” não indica o que se busca na pesquisa, o que se pretende

resolver, explicar, demonstrar, provar ou criticar em relação à boa-fé objetiva.

Esse pesquisador precisa efetuar mais um esforço, precisa formular uma pergunta

interessante, uma pergunta para a qual ainda não foi oferecida resposta ou uma pergunta que

ainda mereça um trabalho de investigação, argumentação, comprovação, divulgação. Imagine-

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se que, finalmente, o pesquisador chegue ao seguinte problema: “O Código Civil de 2002

protege a boa-fé objetiva na fase pré e pós contratual?”. Agora, sim, há um esboço de

problema, podendo-se começar a pesquisa propriamente dita, pois, antes, sem um problema

bem formulado, não havia o que investigar, apenas o que explorar.

5.6.2.1 b) Em relação ao tempo

Ainda há um outro critério utilizado para a delimitação do âmbito da pesquisa e formulação

do problema. É o critério temporal. Após a delimitação do tema em relação ao assunto,

selecionando um tópico específico a ser investigado, pode-se delimitar esse tópico também em

relação ao tempo. Utilizando o exemplo acima, delimita-se o tempo ao se expressar no

problema ou na pergunta que a análise será feita a partir das disposições que entraram em

vigor com o novo Código Civil (2003). Ou seja: a pesquisa investigará a realidade a partir de

2003. Assim, não se vai analisar a boa-fé objetiva no Direito Civil de todas as épocas. Ou, se

a fonte principal for documental, como, por exemplo, a jurisprudência, pode-se definir que

serão objeto de análise decisões judiciais a partir de 2003, quando o Código entrou em vigor,

ou a partir de 1988, quando foi publicada a Constituição Federal.

5.6.2.1 c) Em relação ao espaço

Da mesma forma, também se pode delimitar a pesquisa em relação ao espaço. Ao se inserir

no exemplo acima “o Código Civil brasileiro de 2002”, automaticamente revela-se que a

pesquisa estará delimitada no âmbito do direito brasileiro, pois não se pretende analisar a

regulamentação da boa-fé objetiva no direito de outros países. Ou, numa pesquisa

jurisprudencial, restringir a análise às decisões no âmbito do Superior Tribunal de Justiça ou

de outro(s) Tribunal(s).

Quanto mais se especificar o que se vai investigar, mais fácil fica iniciar – e concluir – a

pesquisa, pois já se sabem os limites desta. Assim, não se vai analisar o Direito Civil vigente

no século passado nem estudar a legislação vigente na China ou na França, pois o âmbito de

pesquisa já foi delimitado.

Esse tipo de delimitação a partir de critérios espaciais e temporais é especialmente importante,

sobretudo quando a pesquisa demandar coleta de informações através de formulários,

questionários, levantamentos estatísticos, documentos, estudos de casos. Se não tiver definido

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o “recorte da realidade” que se pretende investigar, o desenvolvimento da pesquisa será

dificultado pela desorganização e indefinição.

5.6.2.2 Tipos de perguntas-problemas para a pesquisa

Diante desse tipo de dificuldade, que atinge todos os pesquisadores que nunca fizeram – e

mesmo os que já fizeram alguma – pesquisa monográfica, vejam-se alguns tipos de perguntas

que podem ser formuladas e constituírem problemas de pesquisa.

Podem-se fazer perguntas de definição. As perguntas de definição utilizam-se da expressão

interrogativa “o que é?” ou “o que são?” e exigem do pesquisador a elaboração de uma

definição para um conceito. Exemplo de uma pergunta-problema de definição: “O que é

personalidade jurídica para o direito civil brasileiro?”. Assim, o objetivo da pesquisa é

construir uma definição de personalidade jurídica a partir do direito civil brasileiro.

Podem-se elaborar perguntas que busquem uma relação de causa e efeito entre dois ou mais

fenômenos, ou perguntando pela causa ou perguntando pelo efeito ou dissociando os

fenômenos, como, por exemplo: “o que provoca...?”, “o que causa...?”, “qual é a causa de...?”,

qual é a origem de...?”, “... é mesmo a causa de...?”, “qual é a conseqüência de ...?”, “... é

conseqüência de...?” etc.

Ou perguntar que influência uma coisa tem em outra: “qual é a influência de ... sobre ...”,

“como ... influencia ou determina ...”, “como ... afeta ...”, “em que grau ... provoca ...” etc.

Também se podem fazer perguntas que exigem como respostas uma afirmação ou uma

negação, seguida de uma explicação, como, por exemplo: “Há incidência de autonomia

privada no Direito de Família brasileiro? Sim? Não? Por quê?”.

Ainda podem-se formular perguntas que exijam respostas quantitativas, ou seja, respostas que

demonstrem quantidades de determinado objeto, exemplo: “Quantos tipos de propriedades

existem no direito privado brasileiro? Quais são?”.

Outro exemplo de pergunta é a que busca classificar determinado objeto, como: “A CPMF

pertence a que classe que tributo?”.

Enfim, são inúmeras as formas de problema que podem se encontradas nas pesquisas já

realizadas e infinitas as que podem ser utilizadas para nossa pesquisa. Se for um problema

bem elaborado, ele guiará a pesquisa. Se a pergunta-problema for mal elaborada, mal

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definida, mal recortada, poderá haver mais dispêndio de energia e recursos do que o

necessário para chegar à conclusão.

5.6.2.3 Requisitos para a formulação da sua pergunta-problema: familiaridade e criatividade

Para a formulação da pergunta-problema é preciso ter conhecimento prévio do assunto que se

deseja investigar – senão não se consegue sequer formular um problema adequado – e um

pouco de criatividade. Se o pesquisador não tiver familiaridade com o assunto escolhido, não

conseguirá formular uma pergunta que possa levar a uma resposta nova e relevante para seu

campo de conhecimento, pois não conhecerá suficientemente o campo a ponto de identificar

quais são as questões mal resolvidas ou que demandam maior desenvolvimento.

Na prática, pode ocorrer que o problema sofra um leve “acabamento” à medida em que a

pesquisa se realiza. Não significa que o pesquisador esteja sem rumo, mas que ele

simplesmente “aprimorou” a formulação de sua pergunta. Isso costuma acontecer com

freqüência, mesmo com pesquisadores que já têm certa experiência.

5.6.2.4 Outros elementos a serem observados na escolha da sua pergunta-problema: aptidão,

inclinação e motivação pessoal

Não adianta ter elaborado um problema que insinue uma resposta original e relevante, a

respeito de um assunto em relação ao qual se tem familiaridade, se não há atração pela

proposta. Poderá ser uma pesquisa que trará grande contribuição para dado campo de

conhecimento ... se o pesquisador conseguir concluí-la.

Por isso não se deve pensar apenas em realizar uma pesquisa original, ou relevante, ou sobre

um tema “da moda”. Se não houver uma motivação real, envolvimento com o tema, a

pesquisa corre risco de não ser concluída.

É muito mais fácil realizar – e terminar – a pesquisa se, além de gostar do tema, considerar-se

seu estudo útil para o pesquisador, seja em relação a uma carreira que queira seguir ou a um

concurso que queira fazer ou a uma pós-graduação em que queira ingressar ou terminar. Ora,

se além de sentir atração pelo tema, o pesquisador também o considerar útil para si, tanto

melhor para o desenvolvimento da pesquisa, pois haverá motivação para empreendê-la, e para

empreendê-la bem.

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Se não gostar do tema, dependendo da disciplina pessoal do pesquisador, talvez até consiga

levar a pesquisa até o fim, mas percorrendo, desnecessariamente, um caminho penoso.

Realizar um trabalho de pesquisa penoso é desnecessário porque é o pesquisador quem

escolhe seu tema, portanto, é livre para facilitar ou para dificultar sua própria vida.

Há algumas questões pessoais que devem ser respondidas, sob o risco de desperdício de

tempo e outros recursos:

a) Por que escolhi este tema? Gosto desse assunto?

b) Tenho facilidade para tratar desse assunto?

c) Tenho inclinação ou tendência por esse tema?

d) Esse tema prende meu interesse?

e) Escolhi porque é um tema da moda?

f) Combina com os assuntos que mais estudei em minha formação?

g) Combina com os assuntos em relação aos quais mais tive êxito?

h) Qual é a motivação que tenho para levar essa pesquisa adiante?

i) Tenho afinidade com os professores que poderão ser meus orientadores?

j) Qual é o papel desse tema em minha formação?

k) Qual é a utilidade desse tema em minha vida profissional?

l) O que posso tirar de bom da experiência de pesquisar esse tema?

5.6.2.5 A viabilidade da pesquisa: também requer cuidado na formulação da pergunta-

problema

Além disso, é preciso verificar se existem técnicas e recursos disponíveis para a coleta das

informações de que o pesquisador precisará. A pesquisa deve ser viável, o que significa que o

pesquisador deve se preocupar com os aspectos práticos da pesquisa, tais como os prazos de

que dispõe, relacionados com seu preparo intelectual e sua experiência de pesquisa; a

bibliografia disponível ou outras fontes de informação; necessidade de equipamentos, viagens

ou outros tipos de serviços.

Assim, ao propor a pergunta-problema, devem ser feitas as seguintes questões:

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a) O tempo que tenho para a realização dessa pesquisa me permite pesquisar esse

tema, nessa amplitude, buscando as informações de preciso, tendo tempo para

analisá-las, para redigir a monografia e entregar no prazo estipulado? O tempo de

que disponho é suficiente para a realização da pesquisa que desejo?

b) As informações de que preciso para fundamentar minha pesquisa estão

disponíveis? São acessíveis? Onde estão essas informações? Em livros? Tenho

acesso a essa bibliografia? Tenho esses livros? Que bibliotecas possuem esses

livros? Se tiver de adquirir alguns livros, quantos serão? Quando?

c) Os livros que tratam sobre o tema são livros estrangeiros? Tenho esses livros

nas bibliotecas às quais tenho acesso? Domino os idiomas em que estão escritos?

d) As informações de que preciso não estão apenas nos livros, mas nos relatos das

pessoas? Sei quem são as pessoas que podem me relatar suas experiências? Essas

pessoas estão dispostas a colaborar? Como poderei coletar esses relatos? Através

de entrevistas abertas? Formulários, questionários? Saberei analisar esses dados?

Terei tempo para isso?

e) Precisarei fazer alguma viagem para coletar informações imprescindíveis à

pesquisa? Tenho tempo e dinheiro para isso?

f) Precisarei de materiais, equipamentos ou serviços? São oferecidos em minha

cidade? Terei recursos econômicos para adquiri-los?

g) Terei um professor orientador para este tema?

Ora, não adianta ter, teoricamente, uma excelente pergunta-problema se não existem

condições práticas para que a pesquisa se desenvolva, ou seja, viabilidade. Se isso acontece,

aconselhamos que o problema seja reformulado.

A viabilidade deve transparecer, no projeto de pesquisa, nos tópicos justificativa e

metodologia.

5.7 HIPÓTESE

O problema e a hipótese são os elementos da pesquisa que guiarão o trabalho do pesquisador.

Em sua atividade de pesquisa, o pesquisador buscará demonstrar que sua hipótese é

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suficientemente fundamentada para convencer a comunidade científica quanto à sua solidez.

Se, na conclusão da pesquisa, a hipótese tiver sido confirmada, tem-se já não mais uma

hipótese, mas uma teoria. Aquela resposta imaginada pelo pesquisador no início de seu

trabalho foi confirmada, através de demonstração, argumentação, comprovação.

É controverso o cabimento de hipóteses em alguns tipos de pesquisa, como em ciências

humanas e sociais aplicadas. se houver a exigência deste tópico, deve-se colocar como

hipótese a resposta provisória que o pesquisador planeja comprovar/refutar com a pesquisa.

hipóteses são as repostas ou soluções imaginadas pelo pesquisador, que vai buscar provar

através da pesquisa. pode haver hipóteses básicas e secundárias, todas redigidas como

afirmações.

Quando se formula uma pergunta ou conjunto de perguntas a serem respondidas através de

uma investigação, geralmente se imagina qual é a resposta provável. A hipótese é esta

resposta provável ou resposta provisória que o pesquisador, a partir de seu estágio de

conhecimento atual sobre o campo, imagina que será confirmada ao final do trabalho de

investigação. Nas Ciências Sociais, algumas vezes a pesquisa é feita para fundamentar a

resposta que o pesquisador, de início, já imagina adequada para a pergunta que ele formulou.

Pode ser considerada uma teoria provisória, que passará a ser definitiva (tese) ao final da

pesquisa, com sua confirmação, ou será rejeitada nas conclusões da pesquisa.

Se houver formulação de hipótese no projeto, o pesquisador realizará sua pesquisa buscando

todos os elementos que refutem esta resposta provisória (sua hipótese), podendo chegar à sua

confirmação, ao final.

Desta forma, automaticamente à formulação da pergunta (ou problema), o pesquisador, em

grande parte das vezes, já imagina, também, a reposta para essa pergunta. Essa resposta

imaginada deve ser nova (original) e relevante para a comunidade científica da qual o

pesquisador faz parte. Se a resposta não for nova, então não há tanta razão para fazer aquela

pesquisa. Se não for relevante, a comunidade, da mesma forma, também não encontrará razão

para dar atenção àquele trabalho.

A resposta que o pesquisador espera ou imagina deve apresenta alguma novidade, alguma

contribuição para a compreensão de certa realidade, ou então carecerá de motivo para ser

buscada:

a) Por que realizar uma pesquisa, com dispêndio de tempo e dinheiro, se seu

resultado não acrescentará nada ao campo de conhecimento no qual está inserida?

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b) Por que gastar tanta energia para demonstrar o que já foi suficientemente

demonstrado por outros pesquisadores?

Se não há respostas razoáveis para essas perguntas, não há o que justifique tal pesquisa. E a

justificativa é o que faz com que as pessoas se convençam de que devem apoiar a pesquisa

(orientadores, agências de fomento, instituições de ensino) e é o que levam outras pessoas a

lerem os resultados do trabalho.

Assim, se a pergunta elaborada não insinuar uma reposta que ofereça novidades e novidades

essas que tenham utilidade para a comunidade científica, há riscos como desinteresse de um

programa de pós-graduação por aquele projeto (e desclassificação ou baixa pontuação no

processo seletivo), falta de apoio durante a pesquisa, falta de crédito ao final da pesquisa e

desestímulo durante o processo de pesquisa.

Ao se tratar de hipóteses, costumam-se classificá-las em hipótese básica e hipóteses

secundárias. A hipótese básica é a resposta principal apresentada para a pergunta-problema.

Em alguns casos, o pesquisador elabora também hipóteses secundárias, que complementam a

hipótese básica, englobando detalhes que não cabem no enunciado principal, mas que

ajudarão o pesquisador a encaminhar suas atividades de forma a não se distanciar do objeto

central da pesquisa.

5.8 QUESTÕES ORIENTADORAS

Em certos casos, para explicitar ainda mais os aspectos que o problema envolve, sugere-se a

elaboração de questões orientadoras. São perguntas intermediárias ou subsidiárias ou

satélites que o pesquisador terá que responder para resolver a questão central, ou o problema.

As questões orientadoras ligam-se diretamente às hipóteses secundárias e aos objetivos

específicos, podendo haver um sentimento de repetição na elaboração e leitura desses tópicos,

o que denota coerência do projeto.

5.9 OBJETIVOS

Nos objetivos o pesquisador poderá desdobrar sua pergunta-problema, anunciando o que ele

visa demonstrar, analisar, atingir, alcançar, provar. Deverá haver muita proximidade entre os

objetivos e o problema, chegando a parecer repetitivo. Se não houver a sensação de repetição,

é porque o projeto não está coerente. Pode haver objetivo geral e objetivos específicos. O

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geral liga-se diretamente ao problema e à hipótese básica. Os específicos são desdobramentos

do geral. Recomenda-se a utilização de verbos no modo infinitivo para a listagem, em tópicos,

dos objetivos.

Os objetivos internos a que se refere este tópico do projeto, são aqueles que se referem às

conclusões da pesquisa. Ao iniciarmos uma pesquisa, há uma questão que se quer resolver, a

que se costuma chamar de problema. Assim, essa questão ou problema é o que vai

impulsionar o pesquisador em busca de uma resposta ou de uma solução. O encontro da

resposta para essa questão ou da solução para esse problema é a finalidade interna principal da

pesquisa. Chegar à conclusão significa encontrar a resposta ou a solução da pergunta ou do

problema.

A finalidade interna de nossa pesquisa é chegar a essa conclusão. Podem-se ter como

objetivos internos, por exemplo, a demonstração de alguma característica, a demonstração de

alguma relação entre fenômenos, a demonstração de ausência de relação entre

acontecimentos, a comprovação de uma causa ou de um efeito, a prova de um equívoco ou de

um acerto, a explicação sobre certo evento ou teoria.

Por isso, o objetivo central está diretamente ligado à hipótese básica, se houver, e ao

problema. Pode haver um sentimento de repetição na elaboração desses itens, mas esta

repetição denota coerência no projeto, como exposto. Às vezes o pesquisador é pego numa

armadilha: para evitar a repetição, ele inova no objetivo central, o que torna o projeto

incoerente.

Os objetivos específicos ligam-se diretamente às questões orientadoras, se houver. Eles

revelam etapas intermediárias que devem ser atingidas para se chegar ao objetivo central.

5.10 REVISÃO DE LITERATURA

A revisão da literatura é a parte do projeto de pesquisa em que o pesquisador apresenta qual é

o estágio atual de desenvolvimento daquele tema, em que consistem os conhecimentos atuais

acerca daquele problema, qual é a posição da literatura, o que foi pesquisado e desenvolvido

até esse momento sobre a realidade que ele quer investigar, ou seja, qual é o estado da arte

sobre o tema.

Deve o pesquisador demonstrar o “estado da arte” no seu campo de conhecimento,

descrevendo as principais correntes de pensamento, as principais teorias, como o

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conhecimento naquele campo se desenvolveu até o momento e em que consiste o

conhecimento atual sobre o tema.

De certa forma, a descrição do estado da arte, ao mesmo tempo em que pode justificar o

projeto de pesquisa, demonstra o conhecimento que o pesquisador tem do tema proposto.

5.11 TEORIA DE BASE OU EMBASAMENTO TEÓRICO

Na teoria de base o pesquisador descreverá o seu quadro teórico de referência, ou seja, ele

apresentará que em teorias ou idéias pretende se basear para abordar o problema selecionado

como objeto de pesquisa. Ele identificará as teorias ou quadros teóricos de que se utilizará

para analisar sua pergunta-problema, que pensamentos o influenciarão na busca e tratamento

das informações, no uso dos conceitos, na elaboração das definições. Também pode ser

chamada de embasamento teórico. Revela uma opção feita pelo pesquisador, a partir da

revisão da literatura, estando ligada, também, à abordagem metodológica.

É possível que o embasamento teórico seja feito juntamente com a revisão de literatura, sem

um tópico destinado exclusivamente a isso, assim como pode antecipar questões

metodológicas.

5.12 SISTEMA CONCEITUAL

No item sistema conceitual, se o pesquisador já estiver com a pesquisa relativamente

avançada, ele poderá definir as categorias ou conceitos principais a serem utilizados na

pesquisa, como serão operados e quais são suas definições.

É possível que o sistema conceitual componha a teoria de base ou embasamento teórico, sem

a necessidade de um tópico exclusivo para isso. Dependerá da especialidade ou importância

do sistema conceitual no projeto.

5.13 ESTRUTURA PRELIMINAR

O pesquisador deverá apresentar também, no projeto, a estrutura preliminar da

monografia/dissertação/tese. Trata-se do índice provisório da monografia/dissertação/tese a

ser redigida ao final da pesquisa. É comum que este tópico seja exigido em exames de

qualificação de dissertações ou teses.

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Tendo formulado a pergunta-problema, deve-se fazer um “mapa” que guiará o pesquisador

através da pesquisa. Nesse mapa tem-se um ponto de partida, que é a pergunta-problema, e

um ponto de chegada, que será a resposta imaginada para aquela pergunta-problema. Mas o

que existe entre o ponto de chegada e o ponto de partida? O que levará o pesquisador da

pergunta-problema à confirmação da resposta que imaginou para ela? Que percurso será esse?

O que será encontrado pelo caminho?

A monografia/dissertação/tese (o texto final) é um grande argumento. Nesse argumento, o

autor (o pesquisador) se propõe a resolver determinado problema ou a responder certa

pergunta e percorrerá inúmeras páginas demonstrando ao leitor (o orientador, os

examinadores, os colegas) que existe uma solução para esse problema ou uma resposta para

essa pergunta. E, durante páginas, o pesquisador estará convencendo (ou tentando convencer)

essas pessoas de que a solução ou resposta encontrada é a única possível ou a melhor de todas

ou a ideal ou a mais atualizada ou a mais completa. E tudo isso se faz manuseando-se

informações. Assim, as informações são a matéria-prima de uma pesquisa e,

conseqüentemente, de uma monografia/dissertação/tese.

É com as informações que se constroem os vários argumentos que formarão o argumento

maior chamado monografia/dissertação/tese. É necessário, portanto, elaborar um mapa de

informações. Esse mapa de informações, na verdade, é um índice. O índice da

monografia/dissertação/tese, a que se chamamos, no projeto, de estrutura preliminar.

Formulada a pergunta-problema, o passo seguinte é a formulação da estrutura preliminar do

futuro texto:

a) Que tópicos, capítulos, itens, subtópicos terá?

b) Como será sua divisão e subdivisão?

c) Que assuntos serão tratados em cada parte, desde a primeira até a última?

d) Em que ordem?

Esse é um poderoso instrumento de orientação na pesquisa. A estrutura preliminar, ao mesmo

tempo em que será sua bússola, será, também, modificada à medida em que a pesquisa for se

desenvolvendo. Isso é natural. À medida que for lendo, analisando e interpretando as

informações que são a matéria-prima da pesquisa, pode-se mudar de opinião quanto à

organização do índice.

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A estrutura preliminar levará o raciocínio, passo a passo, até a conclusão, como se fosse uma

escada que, degrau a degrau, leva ao topo. Assim, o índice indica quais degraus precisam ser

percorridos. O mapa indicará por quais caminhos deve-se passar para chegar até o destino (a

conclusão).

Desta forma, a estrutura preliminar é o retrato do mega-argumento (texto da

monografia/dissertação/tese), é um rascunho do que se vai escrever, de forma mais extendida,

na monografia. É uma fôrma ou molde que precisa ser preenchida com uma massa de

informações. É a partir dessa fôrma ou molde de argumentos que se vai buscar as informações

necessárias para preenchê-la.

5.14 METODOLOGIA

5.14.1 Função da metodologia

Na metodologia o pesquisador deverá indicar os métodos de abordagem, os métodos de

procedimento e os métodos e técnicas de pesquisa de que se utilizará para encontrar a resposta

ou solução de sua pergunta-problema. Neste item ele deve prever, por exemplo, se a pesquisa

será qualitativa e/ou quantitativa, se coletará dados através de pesquisa bibliográfica,

documental, entrevistas, onde estão localizadas essas informações, que instrumentos utilizará

para coletá-las, como estas informações serão tratadas.

O rigor metodológico é o que atribuirá “seriedade” ao trabalho produzido pelo pesquisador. A

observância do rigor metodológico vigente na época é que atribuirá cientificidade ao trabalho

do pesquisador.

O rigor metodológico diz respeito à forma como o trabalho foi desenvolvido, ao procedimento

utilizado para atingir determinado resultado ou conclusão. A observância do rigor

metodológico é o que gera a confiança da comunidade científica em relação a determinado

trabalho de pesquisa. A comunidade científica de determinada época “costuma” produzir

ciência a partir de determinados modelos e só reconhece como ciência ou como válido o

conhecimento que for produzido seguindo estes modelos. Se uma determinada pesquisa não

seguir estes modelos, ou seja, se não apresentar rigor metodológico, não será aceita pelos

demais pesquisadores.

Numa pesquisa, o que leva o pesquisador da pergunta-problema à confirmação da resposta

que imaginamos são, como exposto, informações. As informações são o que há de mais

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precioso numa pesquisa – depois da genialidade do pesquisador, claro. São as informações e o

tratamento dado a elas que permitirão a comprovação ou demonstração da resposta como

sendo a única cabível para a pergunta-problema formulada.

5.14.2 Ausência de uniformidade

Não há uniformidade quanto ao que deve ser posto neste tópico. Há várias expressões

utilizadas pelos pesquisadores, com uma variedade semântica grande, o que dificulta o

trabalho dos iniciantes.

De uma forma geral, pode-se dizer que a metodologia de abordagem ou o método de

abordagem ou, simplesmente, a abordagem, é a concepção teórica do pesquisador sobre

como tratar o tema. Como dito acima, é possível que isso já seja revelado no embasamento

teórico. A abordagem pode ser, por exemplo: hermenêutica, fenomenológica, dialética,

hipotético-dedutiva, indutiva.

O método de procedimento pode ser, por exemplo: comparativo, histórico, estatístico,

monográfico.

Os tipos de pesquisa podem ser, exemplificativamente: pesquisa de campo, pesquisa

bibliográfica, pesquisa documental.

As técnicas de pesquisa podem ser, de forma exemplificativa: entrevistas, observação,

estatística.

É importante ressaltar que não é obrigatório haver apenas um método de abordagem, assim

como podem ser feitos mais de um tipo de pesquisa, com mais de uma técnica. O tipo de

problema formulado é que vai indicar a necessidade quanto à forma de abordagem, quanto aos

dados necessários para a verificação da hipótese, quanto às técnicas necessárias para coletar

os dados. Não há uma escolha propriamente dita dessas metodologias, pois tudo deve estar

justificado a partir do problema proposto e servir a ele.

5.14.3 Que informações são necessárias?

Deve-se perguntar ao problema e ao mapa, ao índice, à estrutura preliminar. Diante do mapa

ou estrutura preliminar, vêem-se, através dos tópicos (capítulos e subdivisões) ali previstos, as

informações a serem buscadas. É o índice que diz o que deve ser lido, quem deve ser

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entrevistado, que dados devem ser coletar. Os títulos que formam os índice são as setas que

apontam os caminhos.

O mapa ou estrutura preliminar indica quais são as leituras a serem feitas para obter as

informações para construir pequenos argumentos que formarão o argumento maior. Em outras

palavras, a estrutura preliminar indica quais são as fontes que para a coleta das informações

necessárias à construção dos tópicos e capítulos que formarão o texto da monografia.

Olhando a estrutura preliminar, a partir do conhecimento que o pesquisador já tem sobre o

assunto, ele deverá anotar, abaixo de cada tópico:

a) Quais são os outros assuntos que terá de abordar,

b) Que autores terá de comentar,

c) Que documentos terá de analisar,

d) Que comparações terá de fazer,

e) Que elementos terá de relacionar,

f) Que relações terá de interpretar,

g) Que livros terá de buscar,

h) Que leis, tratados, biografias, relatos, processos, julgados, terá de conhecer,

i) Com que pessoas terá de conversar,

j) Que pessoas terá de entrevistar,

k) Que órgãos terá de consultar,

l) Que detalhes terá de esclarecer,

m) Que dados terá que analisar.

Depois de respondidas essas perguntas, o pesquisador estará com um mapa bem mais

detalhado do que antes. São essas as informações de que ele precisa para desenvolver sua

pesquisa e escrever sua monografia.

Já se sabem quais são as informações necessárias para preencher o índice e construir os

argumentos de defesa para a resposta. Mas como chegar a essas informações? Começa a fase

da pesquisa usualmente conhecida como coleta de dados. Para que se analisem e interpretem

as informações, é preciso, antes, coletá-las.

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Existem diversas formas de coletar os mais variados tipos de informações. São as técnicas ou

tipos de pesquisa: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa experimental,

entrevistas, aplicação de formulários e questionários, estudos de caso, observação sistemática.

Algumas pesquisas são desenvolvidas a partir de combinações de técnicas de coletas de

dados, mas nenhuma prescinde da pesquisa bibliográfica. O pesquisador deve conhecer essas

técnicas de coletas de informações para que possa identificar quais são as mais apropriadas

para sua pesquisa.

5.15 RESULTADOS ESPERADOS

Nem sempre se exige a presença do tópico resultados esperados ou produtos. O pesquisador

deve estar atento às regras da instituição sobre as partes necessárias do projeto. Deve indicar,

neste tópico, se a pesquisa resultará em publicações, em comunicações científicas, em

patentes, em industrializações, ações, intervenções etc.

5.16 CRONOGRAMA

O cronograma é a previsão, em relação ao tempo, das fases de uma pesquisa. É a agenda da

pesquisa, em forma de tabela. O pesquisador prevê quais as semanas ou meses que tem pela

frente e localiza, apontando, em cada período, que etapas da pesquisa serão desenvolvidas. É

a organização do tempo da pesquisa.

Como fazer um cronograma? Elabora-se uma tabela de tempo, com a previsão das semanas ou

meses se tem pela frente e tenta-se imaginar que etapas da pesquisa serão desenvolvidas em

cada momento.

O cronograma, se bem previsto, pode ajudar a imprimir o ritmo correto à pesquisa, sem que o

pesquisador se adiante desnecessariamente e sem se atrasar demais, afinal, sempre há um

prazo para a pesquisa e, muitas vezes, é esse prazo que determina a velocidade do trabalho.

Se não se calcular razoavelmente o tempo que necessário para a pesquisa – não apenas

quantas horas por semana, mas quantas semanas ou quantos meses –, corre-se o risco de

passar muito tempo numa fase da pesquisa, sem avançar, e acabar atropelando etapas

subseqüentes para não perder o prazo, prejudicando o trabalho feito. O pesquisador deve ser

realista nesta previsão.

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Vejam-se alguns exemplos de cronogramas:

Exemplo 1:

2007/2008

Fases/meses 03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

01

02

Levantamento de dados populacionaisnos arquivos municipaisEstudo de campo (levantamentofotográfico da área)Confecção de mapas e gráficos

Análise de interpretação dos dados

Elaboração do relatório final da pesquisa(monografia)Apresentação dos resultados da pesquisa(defesa)

Exemplo 2:

Etapas

Meses

05 06 07 08 09 10 11 12 01 02 03 04 05 06 07

Documentação/fichamento X X X X X

Entrevistas X X

Tabulação dos dados X

Análise e Interpretação dos dados X X

Redação da monografia X X X

Revisão X X

Apresentação X

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5.17 ORÇAMENTO

O orçamento, também apresentado em forma de tabela, exibe uma estimativa detalhada dos

custos da pesquisa. Devem ser apresentados os tipos de gastos previstos e de quanto serão

esses gastos.

Normalmente é um tópico exigido quando há financiamento da pesquisa por agência de

fomento.

5.18 CONCLUSÃO

Como o projeto é a projeção do planejamento da pesquisa, é uma projeção do que deverá ser

feito, não cabe um tópico para conclusão, já que esta só acontecerá no final da execução da

pesquisa, cujo planejamento é feito no projeto.

Ora, se o pesquisador ainda está planejando a pesquisa, não pode ter, já, a conclusão.

5.19 REFERÊNCIAS

As referências ou bibliografia ou referências bibliográficas do projeto indicam as obras já

consultadas ou a serem estudadas na pesquisa. A diferença é que, enquanto sob o título

bibliografia listam-se livros ou textos literários em papel, citados ou não, sob o título

referências, aceitam-se outras fontes, como as eletrônicas e as documentais, desde que citadas

no trabalho, e sob o título referências bibliográficas devem aparecer as obras literárias em

papel citadas no trabalho.

Devem ser consultadas as regras adotadas pela instituição para elaboração de referências

bibliográficas e de listagem de bibliografia.

5.20 APÊNDICE

No apêndice o pesquisador pode apresentar formulários, questionários ou mapas que já tenha

elaborado, fotos, gráficos etc. Não é um item obrigatório.

5.21 ANEXOS

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Os anexos são complementações ao projeto, na forma de textos, documentos, fotos,

formulários etc., similares ao apêndice, mas elaborados por terceiros, desde que considerados

importantes para a compreensão da proposta.

Assim como o apêndice, sua presença não é obrigatória e só deve ocorrer quando realmente

necessária.

6 FORMATAÇÃO

Por fim, o pesquisador deve formatar seu projeto segundo as normas de apresentação escrita

seguidas pela instituição, como as comumente adotadas normas elaboradas pela Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

7. REFERÊNCIAS

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