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7. METODOLOGIA

A preocupao deste trabalho, inicialmente, traar algumas reflexes, no sentido de contribuir para o amadurecimento das questes propostas, possibilitando assim o surgimento de novos horizontes no que diz respeito ao tema.

O nvel de ensino que ser o alvo de sondagem para a execuo do trabalho o Ensino Mdio do Colgio Tupy - Sociesc, sobretudo, os alunos que participaro so aqueles que freqentam simultaneamente os variados cursos de Ensino Tcnico do campus Boa Vista, em Joinville.

As ferramentas que sero citadas adiante tm a finalidade de ajudar a compreender qual a representao construda pela comunidade a respeito da identidade do Colgio Tupy, bem como entender o modo como se estabelece as relaes pedaggicas no interior de uma instituio que alia pedagogias e tecnologias no seu cotidiano escolar. A inteno tambm compreender os reflexos desses processos, modernos e ps-modernos, em toda comunidade escolar.

Por se tratar de uma pesquisa social, prope-se uma observao direta, intensiva, que ser realizada a partir de entrevistas, uma vez que essas geram compreenses ricas das biografias, experincias, opinies, valores, aspiraes, atitudes e sentimentos das pessoas (MAY, 2004, p. 145). Nesse sentido, procurar-se- incluir nessas entrevistas, dois estudantes, dois pais, dois professores e dois gestores, que sero entrevistados na prpria escola, no campus Boa Vista.

O projeto, apesar de seguir um roteiro, no se prope a utilizar apenas um tipo de entrevista. Pretende-se utilizar, com pais e estudantes, a entrevista semiestruturada, de modo que eles possam falar sobre o assunto a partir de seus prprios termos, dando a mim tambm, que serei o entrevistador, a oportunidade de se sentir livre para sondar alm das respostas dadas, estabelecendo assim dilogos com os entrevistados.

Com os docentes e gestores, pretende-se, aplicar o mtodo da entrevista no-estruturada, uma vez que esse tipo de entrevista mais aberto, e permite-lhes responder as questes mais prximas a sua estrutura referencial, de modo tambm que eles possam responder as questes da maneira que escolherem, a partir de sua estrutura referencial. Nesse caso, a entrevista seguir os padres de metodologia da pesquisa de histria oral, sendo ainda, que as entrevistas podero ser feitas na sala de leitura da escola, que um lugar silencioso, e, portanto, propcio para o desenvolvimento dos trabalhos.

Os materiais das entrevistas ficaro sob posse deste pesquisador durante oito meses, sendo que as entrevistas abertas, com professores e gestores, integraro o acervo do Laboratrio de Pesquisa Oral da UNIVILLE.

Quanto pesquisa do tipo bibliogrfica, proponho, logo no primeiro captulo do trabalho, mostrar a importncia de se preservar os patrimnios culturais, sejam eles materiais ou imateriais. Essa anlise conceber a educao patrimonial levando em considerao as reflexes de autores como Zlia Lopes da Silva, que organiza o livro Arquivos, patrimnios e memria, e tambm de outros que produziram ensaios para o livro Memria e patrimnio: ensaios contemporneos, sendo importante, nesse momento, lembrar a importncia da sua preservao a partir do que define, Santos (1992, apud Abreu & Chagas, 2003 p. 64) ao emprestar algumas formulaes de Foucault: uma formao discursiva que permite mapear contedos simblicos, visando descrever a formao da nao e constituir uma identidade cultural brasileira.

Em seguida, procurar-se- traar um panorama da trajetria do ensino tecnicista no pas a partir de alguns ensaios, artigos e dissertaes produzidas pelo Brasil afora, e que serviro de base para entender o percurso que fez o ensino tecnicista, desde a dcada dos anos cinquenta at os dias de hoje. Procurar-se- tambm relembrar e destacar algumas tendncias pedaggicas a partir da obra Escola e Democracia, de Dermeval Saviani.

No terceiro captulo, procurar-se- recuperar a trajetria da instituio em questo, SOCIESC, por meio de outros trabalhos escritos, como dissertaes de mestrados e teses de doutorados, que foram produzidas, sobretudo, por outros professores e/ou funcionrios da escola. Neste mesmo captulo tambm abordaremos o tema da trajetria da instituio dialogando com o livro O desafio por ideal, escrito por Apolinrio Ternes, em 1989, e que recupera os primeiros trinta anos da escola, dando nfase dcada dos anos oitenta, que um perodo de grande importncia para o desenvolvimento deste projeto, uma vez que o prprio autor tambm cita o mesmo perodo, em outra obra, intitulada A economia de Joinville no sculo XX, publicada em 2002, como sendo uma poca de transio na economia joinvilense, que deixa de ser apenas industrial e passa aos poucos a tornar-se um plo de servios.

No que se refere memria e cultura, disponibilizar-se-o captulos e subcaptulos que discutiro o assunto a partir de artigos que serviro de base para a execuo deste projeto. Mas optou-se por iniciar as reflexes sobre cultura a partir de Terry Eagleton, que em seu livro A idia de cultura retrata aspectos culturais a partir de uma abordagem temporal histrica, evolutiva, iniciando pelo aparecimento de cultura, e assim, referindo-se s diversas verses de cultura. No que se refere memria, sero referncias os dilogos com Le Goff, Pierre Nora, Maurice Halbwachs e Michael Pollak ajudaro a entender muito sobre o individual e o coletivo no que se refere aos lugares onde ela se cristaliza, como sinaliza Pierre Nora.

Manuel Castells de extrema importncia para estudar o perodo de intensas transformaes sociais e econmicas da era da informao. Seu livro A sociedade em rede primordial para entender a bipolaridade existente entre a rede e o ser, e por isso passa a ser ponto de partida para estudar toda a tecnologia que hoje no pode mais ser dissociada da sala de aula. A partir disso que se estrutura o ltimo captulo e seus subcaptulos, pois esse autor chama outros autores que discutiro a temtica das sociedades em rede no convvio da sala de aula. Pedro Demo passa a ser primordial dentro dessa discusso, pois o que o autor faz muito bem em seu artigo Aprendizagens e novas tecnologias a defesa de uma srie de argumentos a favor da multiplicidade de oportunidades de aprender que o estudante pode encontrar hoje em ambientes mediados por novas tecnologias. O autor discorre ainda a respeito da necessidade de se desconstruir algumas resistncias pedaggicas em torno do assunto.

O livro, Aliengenas em sala de aula, passa ser de grande importncia para as discusses a respeito dos trabalhos com estudantes no ambiente escolar, sobretudo o texto de Douglas Kellner que defende uma pedagogia crtica que alia ideais modernos e ps-modernos para construo de novos eus. Nesse sentido, Kellner concebe o texto tambm como imagem, e chama a ateno para as diferenciaes entre textos lineares, prprios dos livros, e textos associativos, com links e hiperlinks, prprios dos hipertextos que esto em ambientes de hipermdia. A respeito dessa nova concepo de leitura que tambm inaugura outros tipos de sujeitos que pensam, sentem e concebem o conhecimento de outras maneiras, haver um subcaptulo que cruzar algumas idias de autores como Lcia Santaella, Antnio Marcuschi, entre outros.

8. REFERENCIAL TERICO

Comunidades sociolgicas do mundo inteiro, apesar das variadas opinies sobre o assunto, argumentam que as identidades sociais esto constantemente sendo mais descentradas, deslocadas ou fragmentadas. Decorre disso, tambm a ansiedade e as angstias que enfrenta o homem ao viver essa condio sociocultural que lhe exige deparar-se com infinitas possibilidades de escolhas que tambm chamam a ateno, muitas vezes, pela falta de solidez e pelo tempo que elas duram. Partindo desses pressupostos, pode-se dizer que existir tem sido um desafio, e uma espcie de arte da vida para uma existncia melhor e menos lquida parece, ento, ser uma utopia. No entanto, vale dizer que possvel viver melhor, mas necessrio que alguns ranos prprios da modernidade sejam desconstrudos.Se voc procurar solidez e durabilidade, cedo ou tarde descobrir como so poderosas as chances que conspiram contra voc. Voc poderia resistir ou ignorar essas chances adversas mas isso exigiria muito mais esforo e autossacrifcio de sua parte do que, por exemplo, nadar contra a corrente (BAUMAN, 2011, p. 6).As instituies de ensino que conciliam Ensino Mdio e Tcnico vm enfrentando a modernidade lquida, que Bauman tratou na obra de mesmo nome, tendo tambm de arcar com grandes desafios. Ora, uma vez enraizada a ideia de que trabalho e educao formam uma identidade, e de que, portanto, o homem se educa pelo trabalho, fica um tanto difcil fazer o trajeto pelos meandros de uma sociedade caracterizada pelas diferenas, e que Hall (2006) diz tambm serem atravessadas por variados antagonismos sociais que produzem tambm uma variedade de identidades. Contudo, no Brasil de Juscelino Kubitschek, onde a industrializao era o lema, grande nfase era colocada nas escolas tcnico-profissionais onde a educao profissionalizante serviria para integrar o homem chamada civilizao industrial. Segundo Vieira (1985, apud CUNHA, 1990, p. 183) essas escolas eram o lugar onde se formariam empregados qualificados que se destinariam aos inmeros setores da produo econmica. Por a se iam os ideais da chamada pedagogia tecnicista que planejou uma educao de modo a dot-la de uma organizao racional que minimizasse as interferncias subjetivas que pudessem questionar a sua eficincia.

A Escola Tcnica Tupy, hoje integrada Sociesc, em Joinville, surgiu no mesmo perodo em que segundo Cardoso (1977, apud, CUNHA, 1990) as mentes juscelinistas valorizavam o homem a partir de propostas que deixavam claras que o alcance dessa valorizao s seria possvel com a industrializao. Ela veio num comboio de vages aps quele em que veio a Fundio Tupy, que surgiu, tambm, impulsionada pela legtima locomotiva da transformao econmica do pas: a indstria automobilstica.Em Joinville, haviam decorridos apenas dois anos do incio das atividades da fundio no Boa Vista, vivendo-se os dias de pica conquista de uma extensa rea ainda desabitada e distante do centro da cidade, ento com uma populao de pouco mais de 55 mil pessoas (TERNES, 1989, p. 11).No perodo de 1964 a 1977 Joinville participou ativamente do chamado milagre brasileiro, culminando em anos de prosperidade, tornando-se um dos principais polos arrecadadores de impostos do Brasil: Indstrias como Tupy, Consul e Hansen viveram seus melhores anos de expanso acelerada e de conquista no mercado interno, batendo sucessivos recordes de produo (TERNES, 2002, p. 54). Contudo, o perfil scioeconmico da cidade comeou a mudar gradativamente a partir de 1977, abrindo novas fronteiras na rea do comrcio e da cultura, como tambm assinala Apolinrio Ternes em seu livro A economia de Joinville no sculo XX.

A memria, como propriedade de conservar certas informaes, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funes psquicas, graas s quais o homem pode atualizar impresses ou informaes passadas, ou que ele represente como passadas (LE GOFF, 1994, p. 423). Nesse sentido, pode-se dizer que o cenrio da cidade de Joinville mudou muito se comparado com a dcada de 1980. Hoje o que vemos uma cidade global onde se misturam diferentes culturas e ideologias. A economia diversificou-se de modo, que apesar das indstrias ainda a representarem, j no se pode dizer que a mesma ainda seja plenamente industrial. O reflexo dessas mudanas aparece muito facilmente no interior do Colgio Tupy, onde diferentes buscas se materializam no somente nos espaos exteriores sala de aula. Desse modo, a crise de identidade da cidade que no se contenta mais apenas com a vida voltada ao trabalho visivelmente percebida dentro do espao escolar, assim como a relao que este estabelece com aquela toma rumos inimaginveis para os ideais pelas quais foram concebidas as instituies tecnicistas no sculo XX. No h como negar que o crescimento em quase dez vezes da populao de Joinville nos ltimos 50 anos no tenha tambm provocado a hibridao cultural que se reflete na cidade, mas por outro lado tambm no h como negar a perda do sentido da cidade, com essas transformaes culturais geradas, principalmente, pela tecnologia: As identidades coletivas encontram cada vez menos na cidade e em sua histria, distante ou recente, seu palco constitutivo. A informao sobre as peripcias sociais so recebidas em casa, comentadas em famlia ou com amigos prximos. Quase toda a sociabilidade e a reflexo sobre ela concentra-se em intercmbios ntimos (CANCLINI, 2008, p. 288).Complementando tudo isso, esto as redes interativas de computadores que no param de crescer. Elas vm criando cada vez mais novas formas e canais de comunicao, dando um novo molde vida, e simultaneamente sendo moldadas por ela. Os movimentos sociais so cada vez mais escassos e fragmentados, alm de terem cada vez mais objetivos nicos e momentneos, encolhidos nos mundos interiores das pessoas ou reinando cada vez mais em um smbolo da mdia. Diante do mundo de mudanas confusas e incontroladas, as pessoas esto cada vez mais propensas a reagruparem-se em torno de identidades religiosas, tnicas ou territoriais.

A identidade est se tornando a principal e, s vezes a nica fonte de significado em um perodo histrico caracterizado pela ampla desestruturao das organizaes, deslegitimao das instituies, enfraquecimento de importantes movimentos sociais e expresses culturais efmeras (CASTELLS, 2000, p. 23).

A escola enquanto instituio, e mais precisamente, a educao enquanto cincia pode possibilitar momentos privilegiados de reflexo e interao no campo das relaes culturais. Isso, principalmente, quando o profissional da educao consegue fazer da sua aula tambm uma contribuio para a cultura social do aluno, fazendo com que ele conhea a sua realidade, aprenda a conviver com ela, modificando sua viso dos fatos. Num estudo de caso feito na Escola Tcnica Tupy, pode-se observar a preocupao por parte da instituio, na pessoa de seus gestores, em atender a esses apelos:

no processo de reconhecimento das diferenas e da individualidade e na percepo da realidade concreta que as produz, que se procurar entender a diversidade cultural, que no tem concretude fora dos sujeitos sociais. Considerando a perspectiva na qual se situa a diversidade, possvel compreender o universal presente em cada sujeito social, portador de particularidades recolhidas ao longo da sua experincia vivida no interior da sociedade. (LUETKE, 2004, p. 42)

A escola colocada enquanto limpeza do mundo preza pela homogeneidade dos sujeitos, e , por isso, excludente. Kant (1996, apud VEIGA, 2003, p 10), como ltimo filsofo da era moderna, no entanto, j falava de uma educao mais humana, que fosse responsvel pelo aperfeioamento do homem: Talvez a educao se torne cada vez melhor e cada uma das geraes futuras d um passo a mais na direo ao aperfeioamento da Humanidade, uma vez que o grande problema da perfeio da natureza humana se esconde no prprio problema da educao. Socialmente, porm, a modernidade de Kant trata de padres, esperana e culpa, como define BALMAN (1998, p. 91): Psiquicamente, a modernidade trata da identidade: da verdade de a existncia no se dar aqui, ser uma tarefa, uma misso, uma responsabilidade. Como o restante dos padres, a identidade permanece obstinadamente frente: preciso correr esbaforidamente para alcan-la. E, portanto, se corre, puxado pela esperana, e impelido pela culpa, embora a corrida, por mais rpida que seja, parea estranhamente arrastada. Precipitar-se para frente, em direo identidade perpetuamente tentadora e perpetuamente inconsumada, assemelha-se a recuar da defeituosa e ilegtima verdade do presente.

Balman (1998) ainda fala da cultura moderna como sendo ela de um carter trgico e esquizofrnico, onde o desejo do indivduo manchado pelo medo, mas tambm pelo sonho de fazer parte, de abrir as fechaduras e janelas cerradas. Essa cultura, para o socilogo, tem pavor solido chamada liberdade: Os mal-estares da modernidade provinham de uma espcie de segurana que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os mal-estares da ps-modernidade provm de uma espcie de liberdade de procura do prazer que tolera uma segurana individual pequena demais (1997, p. 10).

Os ideais modernos e ps-modernos caminham lado a lado no interior do Colgio Tupy Sociesc, onde h um pblico tradicional que opta por fazer Ensino Mdio e Tcnico, porque quer no s trabalhar numa indstria da cidade, como tambm quer ser bem assistido tecnologicamente, uma vez que tambm acredita que isso o auxiliar a fazer parte na longa trajetria de sucessos que est na memria individual daqueles que passaram pela escola, mas tambm na memria coletiva de uma boa parte da populao que ouviu falar dela mesmo no a frequentando.Em seu sentido metafrico, o conflito de memria pode ser entendido como disputa de representaes de um mesmo acontecimento ou aspecto do passado, traduzindo, assim, uma luta quanto maneira como o passado foi transmitido e os sentidos que a ele foram atribudos por distintos indivduos em grupos em diferentes contextos histrico-culturais e polticos. No se trata de conflitos em torno da natureza intrnseca do acontecimento passado que um dia teve lugar, seja uma batalha, uma ocupao, uma personalidade, uma invaso etc., mas em torno de suas construes sociais (GRTZMANN, 2008, p. 20).

Simultnea a essas caractersticas decorre a existncia de outros grupos menos definidos, mas provenientes de outras realidades e com diferentes vozes que exigem outros movimentos culturais e novos olhares para as questes pedaggicas. So apelos culturais que ainda no conseguiram ser ouvidos dentro do contexto da escola, onde as sombras da tradio e a identidade impossibilitam dar ouvidos s inquietaes individuais. As pessoas desse grupo ora resistem tradio, ora parecem adaptarem-se a ela, e com essas atitudes do a impresso de tambm estarem conferindo uma espcie de linearidade ou serenidade ao dia a dia da escola.As inquietaes individuais no tm conseqncias porque no tocam a coletividade. Ao contrrio, um grupo no se contenta em manifestar o que sofre, em se indignar e protestar na hora. Ele resiste com toda fora de suas tradies e essa resistncia tem suas conseqncias. Ele procura e em parte consegue reencontrar seu antigo equilbrio nas novas condies. Ele tenta se manter ou se reformar em um bairro ou uma rua que j no so feitos para ele, mas esto sobre o lugar que era seu. (HALBWACHS (2006, p. 164)Uma pedagogia crtica atenta tanto para as posies da modernidade quanto para as posies da ps-modernidade o que prope Douglas Kellner em seus estudos Lendo imagens criticamente: em direo a uma pedagogia ps-moderna. O autor nesse estudo procura levantar alguns aspectos que considera relevantes nos dois tipos de posies pedaggicas. Ao falar dos mritos das posies ps-modernas, KELLNER (2009, p. 106), argumenta: Um dos mritos de certas posies ps-modernas o de expandir o conceito de cultura, rompendo, ao mesmo tempo, as barreiras entre a alta e baixa cultura. Isso possibilita a abertura de um amplo terreno de artefatos culturais para a anlise crtica.

Em contrapartida, o autor caracteriza a pedagogia moderna como aquela que est organizada em torno dos livros, evidenciando que o grande objetivo dela centrar sua noo de educao e alfabetismo no desenvolvimento de habilidades que se aplicam cultura impressa. Kellner ainda destaca em seu texto que professores mais conservadores lamentam o declnio do alfabetismo impresso ao tentar reav-lo a partir do momento em que prescrevem currculos e mtodos educacionais tradicionais como num af de solucionar os problemas em torno desse declnio, assim apelando em favor de um retorno aos livros, aos cnones e aos mtodos tradicionais de alfabetizao. Alguns analistas mais liberais defendem o alfabetismo cultural aplicado a textos que no esto apenas nos grandes livros, mas que tambm esto em revistas, jornais ou anncios classificados, como que num intuito de tornar o leitor um consumidor e produtor mais adequado sociedade contempornea.

A proposta de Kellner, no entanto, para um alfabetismo crtico, e desse modo, ento ele leva em considerao as duas posies, modernas e ps-modernas, que estejam vinculadas a um discurso de emancipao, possibilidade, esperana e luta. Assim, coloca-se a favor da ampliao do alfabetismo e da aquisio de competncias cognitivas para que ele possa sobreviver ao mundo das imagens, mensagens e espetculos da mdia que inundam a cultura dos nossos dias:O objetivo ser desenvolver um alfabetismo crtico em relao mdia, um alfabetismo que contribua para tornar os indivduos mais autnomos e capazes de se emancipar de formas contemporneas de dominao, tornando-se cidados/s mais ativos/as, competentes e motivados/as para se envolverem em processos de transformao social. KELLNER (2009, p. 107)

No mais possvel para um professor fechar os olhos para as aprendizagens mediadas por novas tecnologias. Em se tratando de hipertextos em ambientes de hipermdia, pode-se dizer que o mesmo inaugura uma maior liberdade de o sujeito se relacionar com as informaes, e que rompe totalmente com a noo da leitura linear dos textos que colocava o leitor muito mais suscetvel s arbitrariedades do autor da obra lida. Os hipertextos fizeram do leitor simultaneamente tambm um co-autor do texto final.

Ao permitir vrios nveis de tratamento de um tema, o hipertexto oferece a possibilidade de mltiplos graus de profundidade simultaneamente, j que no tem sequncia nem topicidade definida, mas liga textos no necessariamente correlacionados. Neste caso uma leitura proveitosa do hipertexto exige um maior grau de conhecimentos prvios e maior conscincia quanto ao buscado, j que um permanente convite a escolhas muitas vezes inconseqente. (MARCUSCHI, 1999, p. 1)

Assim, trabalhar com novas tecnologias no ambiente escolar significa desconstruir ideias, uma vez que os professores ainda se sentem imigrantes ao deparar-se com o computador, enquanto que o estudante do Ensino Mdio, j desde criana, nativo, como fala Prensky (2001, apud DEMO, 2009), pois lidava com ele mesmo quando no sabia ler, uma vez que computador tambm lugar de ver, manipular, mexer e escutar. Nesse sentido, todo um universo se abre para a criana, desde cedo, sendo ainda fato, que a sua alfabetizao j no acontece mais apenas na escola, mas nos ambientes virtuais, e de uma maneira muito mais concreta, pois sua leitura e aprendizagem, agora, surgem de uma motivao pessoal, que DEMO (2009, p. 54) diz ser turbinada pelos relacionamentos virtuais, mais do que pela obrigatoriedade escolar.

Recorro ainda ao artigo Aprendizagens e novas tecnologias, de Pedro Demo, para discutir a aprendizagem situada, que sugerida por Gee (2004), no sentido de desconstruir os velhos mitos e as idias pr-concebidas em torno das novas tecnologias. Sendo assim, DEMO (2009, p. 59) postula:Situar a aprendizagem significa realiz-la na vida concreta do aluno, no para nisto se aquietar, mas como ponto de partida para mudanas que vo sempre alm daquilo que se encontra dado. O intuito tomar o aluno j como autor, desde o incio, aprimorando incessantemente sua condio de autor.

Demo ainda reitera em seu artigo a ideia de que uma das mensagens mais lapidares das novas tecnologias a de que nos ambientes de hipermdia, em se tratando do fenmeno da aprendizagem, o centro o aprendiz, de modo que a sua autoria interativa conclamada o tempo todo, mas que muitos professores ainda se aproveitam dos efeitos especiais prprio desses ambientes para iluminar seu prprio palco, deixando os alunos como assistentes. Em continuidade a essa idia ele cita Bogost (2006):

[...] os textos multimodais so, por conta da dinmica da imagem, sobretudo, flexveis, maleveis, no possuem centro nem hierarquia, so montados por unidades separveis e por isso adaptveis, podem ser construdos, desconstrudos, reconstrudos a gosto, esto sempre a caminho e disposio, so descartveis como os prprios autores. Tais textos no so feitos para serem adotados, acatados, respeitados, mas para serem mexidos, manipulados ou mesmo customizados. Cada vez mais os estudantes precisaro de professores estruturados numa dimenso pedaggica e tecnolgica que os oriente na busca por novos desafios. Mas, cada vez menos, precisaro de quem os d instrues, pois isso o computador o far de uma maneira at mais eficiente. Ademais, fato e consenso entre estudiosos de que o computador, e mais precisamente os ambientes de hipermdia em que esto os hipertextos, e a mente humana tm muito em comum. Argumentando sobre isso, CASTELLS (2000, p. 51) descreve:

As novas tecnologias da informao no so simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usurios e criadores podem tornar-se a mesma coisa. Dessa forma, os usurios podem assumir controle da tecnologia como no caso da internet. Segue-se uma relao muito prxima entre os processos sociais de criao e manipulao de smbolos (a cultura da sociedade) e a capacidade de produzir e distribuir bens e servios (as foras produtivas). Pela primeira vez na histria, a mente humana uma fora direta de produo, no apenas um elemento decisivo no sistema produtivo.