Como actuam os - ClipQuick · Como actuam os espiões portugueses Silva Carvalho já foi um dos 500...
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Como actuam os
espiões portuguesesSilva Carvalho já foi um dos 500
espiões portugueses com vidas
duplas. Saiba como trabalham
Assumem identidades falsas e até podem fabricar uma carreira como médico ou professor.Montam acções de vigilância e juntam-se em grupos de três para seguirem discretamenteos suspeitos. O dia-a-dia dos agentes secretos portugueses. Por António José Vilela
Chama-se
Osint (Open Source In-
telligence), está centrado em fon-tes abertas, e é um dos dois méto-dos de recolha de informaçõesmais usados pelos espiões portu-
gueses para produzirem relatórios confiden-ciais. Foi precisamente uma parte deste tra-balho que o Departamento de Prevenção do
Serviço de Informações Estratégicas de De-fesa (SIED) enviou a Jorge Silva Carvalho,então administrador do grupo Ongoing. A
informação foi depois reencaminhada peloex-espiáo por email para a estrutura de topoda holding de Nuno Vasconcellos. E seguiuainda para Miguel Relvas, o ministro adjun-to do Governo que foi ao Parlamento dizer
que eram apenas resumos de notícias selec-
cionadas de órgãos de comunicação social,
alguns deles até de má qualidade.Esta técnica de recolha de informações é
ensinada em todas as escolas de espiões e
está de tal forma em expansão que a CIAcriou, em 2005, um gigantesco departamen-to só para tratar a informação recolhida emfontes abertas. Chama-se Open Source Cen-
ter. Mas nem toda a informação serve paraos serviços secretos. Na prática, é através do
sistema Osint que os analistas espiões testam
e graduam a fiabilidade das fontes e a vera-cidade de certo tipo de informação, como,
por exemplo, a que é publicada pelos órgãosde comunicação social.
O processo de verificação pode ser mui-to semelhante ao usado pelos jornalistas
para verificarem possíveis notícias através
do cruzamento de informações e fontes. No
caso dos serviços secretos, isso é feito até
com o recurso a tabelas que medem a qua-lidade da informação aberta. Segundo umdos manuais de informações utilizados noSIED e consultado pela SÁBADO, a fiabili-dade das fontes é medida por uma escala
de 1 a 4 (da mais para a menos fiável) e a ve-racidade da notícia é graduada de forma de-
crescente de A a D. Construídas pelo gene-ral Renato Marques Pinto, estas tabelas são
aplicadas numa pesquisa orientada pela in-
telligence question - junta todos os elemen-tos de informação disponíveis sobre o alvo
(pessoa, grupo ou instituição).O trabalho com fontes abertas faz parte
das cinco fases da produção de informações
que é feita nos serviços secretos: o planea-mento, a recolha, o processamento, a análi-
se e a distribuição ou disseminação - na opi-nião de um espião contactado pela SÁBADO,
a qualidade dos relatórios dos serviços se-
cretos é tanto maior quando se juntam es-
piões proactivos, fontes fiáveis e programase sistemas informáticos capazes de cruzar e
disponibilizar informação de forma simples
e rápida. O outro método usado pelos servi-
ços secretos portugueses está centrado nas
fontes humanas que celebrizaram a espiona-
gem (o Humint - Human Intelligence).
As informações enviadas por SMSpara Relvas foram recolhidas
por um método usado pela CIA
QUALQUER ESPIÃO aprende isto nos seis
meses do Curso de Formação em Informa-
ções (CFI) do Serviço de Informações de Se-
gurança (SIS) e do SIED. E aprende também
que há outros dois métodos de acesso a in-
formação que lhe estão praticamente veda-dos em Portugal por causa da lei e da falta
de recursos técnicos: o Sigint(operações com escutas) e o
Geoint (observação por satéli-
te). Neste caso, a espionagemportuguesa limita- se a acedersobretudo às imagens do Cen-tro de Satélites da União Euro-
peia, que fica na Base Aérea de Torrejón de
Ardoz, em Madrid.Os agentes portugueses são actualmen-
te cerca de 500 e actuam discretamente a
partir das sedes de Lisboa do SIED e do SIS
e das delegações no Porto, em Faro, no Fun-chal e em Ponta Delgada, além de contaremcom a colaboração de agentes colocadoscomo antenas no estrangeiro. Terrorismo,movimentos extremistas, contra-espiona-gem, criminalidade organizada e outras
ameaças fazem parte do dia-a-dia dos es-
piões, que têm de cumprir estritas regrasde segurança quer trabalhem em pesquisae análise de informações quer estejam en- ?
* volvidos em "acções de campo".Estes espiões, uma minoria que colabora
regularmente com as forças policiais até em
operações de detenção de suspeitos, são tam-
bém os únicos que têm arma distribuída pe-los serviços, apesar de todos os agentes po-derem legalmente obter licença de uso e por-te de arma. O SIED, que também actua no
exterior, já comprou 14 pistolas da marca
finlandesa Luger, sobretudo para distribuir
aos seguranças das instalações no estrangei-ro, mas a arma preferida dos dois serviços é
a HK Compact 9 mm. Também ao contrário
do que se possa pensar pelo que se vê no ci-
nema, nenhum espião passa por provas de
destreza física para entrar no serviço, limitan-do-se a sujeitar-se a exames médicos e aná-
lises destinadas a identificar consumo de
drogas (licitas e ilícitas) ou de álcool.
Mais do que a condição física, os servi-
ços secretos exigem espiões que passem
por exames psicotécnicos, que podem in-cluir testes de inteligência, personalidade,
memória e vocação. Isso e o domínio de
História, Geografia, Política nacional e in-
ternacional, Economia e Geopolítica. É ain-
da imprescindível saber falar duas línguas
estrangeiras, sendo uma delas o inglês - e
são cada vez mais procurados espiões fluen-
tes em russo, chinês ou árabe.
Apesar de terem muito trabalho de secre-
tária, todos os espiões sabem que têm de ter
especiais cuidados no contacto com fontes
de informação, por exemplo através da defi-
nição de rotas de entrada e saída dos locais de
encontro - estas nunca devem coincidir, pre-vendo-se até várias alternativas para dificul-
tar a vigilância dos seguidores. Os agentesusam ainda acções de contravigilância, por-
que também eles podem ser o alvo. Quandovão a pé e temem estar a ser seguidos costu-
mam parar de forma repentina, mu-dar de direcção e observar se alguémnas proximidades hesita no cami-
nho que está a fazer. Outra das téc-
nicas de contravigilância são os
"pontos de espera": uma esplana-da, uma paragem de autocarro ou
um carro estacionado onde estarão agenteso apoio) a verificar se há alguém a vigiá-los.
Silva Carvalho (à esquerda) passou
directamente dos serviços secretos para a
Ongoing, de Nuno Vasconcellos (em cima)
O dinheiro dos espiõesEntre 2010 e 2012, o orçamento total dos
serviços secretos desceu 4 milhões de euros
Valores em milhões de euros
JÁ QUANDO TÊM de seguir alguém, a tare-fa é sempre feita em grupo e também a par-tir de locais estratégicos. No caso das per-seguições a pé, o primeiro seguidor nunca
tira os olhos do alvo, enquanto o segundoe o terceiro se limitam a não perder de vis-
ta o primeiro espião. Quando este é detec-
tado, é logo substituído pelo segundo se-
guidor e assim sucessivamente. Os espiõestambém sabem que um alvo desconfiado
tem tendência a olhar para trás. Por isso, as
perseguições fazem-se, por exemplo, no
passeio contrário e com contactos entre os
espiões via rádio ou telemóvel, com auri-
culares sem fio, usando um sistema de con-
ferência que permite manter várias conver-
sas ao mesmo tempo.Em situações mais complexas, os espiões
portugueses podem ter de recorrer ao meto-
• do de "construção de uma personagem" ou
"lenda". Trata-se de criar uma identidade e
um percurso pessoal e profissional fictícios
para efeitos operacionais. Às vezes, o disfar-
ce exige até a criação de empresas de facha-
da e o aluguer de escritórios, como já acon-
teceu através da empresa pública Estamo,
que tem uma vasta carteira de imóveis espa-lhados pelo País.
Há ainda outras formas de actuação. As
secretas portuguesas usam há muitos anos
carros com matrículas fictícias. E, desde
2007, os seus agentes têm também a pos-sibilidade de passar completamente incóg-nitos: a lei permite- lhes usar documentos
de identificação verdadeiros com nomes e
números falsos (cartão do cidadão, cartas de
condução, números de segurança social e de
contribuinte).
Quando era chefe de gabinetede Júlio Pereira, o ex-espiãoSilva Carvalho visitou a CIA
A CIA deu
formação aos
espiões do
SlED,mas
exigiu a
partilha de
informações
de Angola e
Moçambique
NESTAS ACÇÕES de vigilância, os agentes se-
cretos portugueses estão longe do mundo do
Departamento de Ciência e Tecnologia da
CIA. Em 2003, para comemorar os 40 anos
do departamento, foi feita uma exposição de
acesso restrito que mostrou vários apare-lhos de escuta e observação montados em
pequenos insectos mecânicos voadores. O
SIS não tem nada disto. Por exemplo, só de-
pois de serem muito pressionados pelos ser-
viços secretos da Holanda, que exigiram co-
municações seguras durante a presidênciaholandesa da Comunidade Europeia, há 21
anos, é que os espiões portugueses come-
çaram a usar email - foram os primeiros noEstado português, mas só depois de o softwa-
re ter sido cedido e montado de forma gra-tuita pela secreta italiana.
Acolaboração entre serviços secretos énor-mal. Mas, até hoje, só alguns espiões portu-gueses conseguiram entrar no quartel-gene-ral da CIA. Um deles foi Jorge Silva Carvalho.
Quando era chefe de gabinete de Júlio Perei-
ra no Sistema de Informações da República
Portuguesa (SIRP), antes de ser nomeado di-
rector do SIED em Abril de 2008, o espião
passou 20 dias nos EUA convidado por uma
Organização Não Governamental (ONG) quetambém lhe permitiu chegar às sedes da CIA
e do Departamento de Estado.
Aespionagemnorte-americana é conhe-
cida por exigir sempre algo em troca. Já em
2003, os norte-americanos tinham estado
em Portugal para darformaçáo aos espiõesdo SIED e, como contrapartida, pediram a
partilha de informações privilegiadas oriun-
das dos países africanos de língua oficial
portuguesa - com redes de informadores
que vêm dos tempos da extinta DINFO, a
secreta militar que em 1997 cedeu ao SIED
(então SIEDM) os operacionais e as bases de
dados que lhe permitiram montar inúme-
ras operações de sucesso.
Legalmente, os espiões podemassumir a identidade de advoga-dos, médicos ou professores uni-
versitários. Para isso, é necessá-
rio um acordo formal entre o se-
cretário-geral do SIRP e as instituições quetutelam as profissões. E isso não é nada fá-
cil de concretizar. "Ninguém aceita porqueessas entidades têm medo das consequên-cias", diz à SÁBADO uma fonte dos serviços
secretos, explicando que nem sequer se con-
segue avançar com uma cooperação com os
militares: "Há anos que se tenta fazer isso
com as Forças Armadas, nomeadamenteonde temos forças destacadas, como no Afe-
ganistão, mas nunca saímos do impasse."Para os espiões, é mais fácil cativar como
colaboradores empresários, professores uni-
versitários, cientistas e técnicos das mais va- ?
nadas especialidades. Os jornalistas também
podem fazer parte do grupo dos "correspon-dentes honoráveis" - o nome dado, na gíriados serviços secretos, às fontes que aceitam
colaborar de forma voluntária após a aborda-
gem de um operacional dos serviços secretos ,
o chamado "especialista de contactos". No
entanto, no caso dos jornalistas, a SÁBADO
sabe também que, no SIED e no SIS, é longaa tradição de pagamentos confidenciais emdinheiro ou sob a forma de computadores
portáteis e viagens. Em troca, os espiões pe-dem a recolha dissimulada de informações ou
contactos com fontes durante viagens de ser-
viço ao estrangeiro, ou até durante a realiza-
ção de trabalhos de investigação. Nestes ca-
sos, a abordagem é directa e acontece após al-
guns encontros pessoais exploratórios. Antes,
já os espiões analisaram ao pormenor o per-fil, a agenda e o trabalho do futuro colabora-
dor. Numa fase quente de um processo judi-cial, a SÁBADO testemunhou uma dessas
abordagens a um jornalista. O recrutador foi
um actual alto responsável do SIS - que não
conseguiu a colaboração.
As secretas usam jornalistascomo fontes. A SÁBADO assistiua tentativa de recrutamento
A sede do SIED, no Restelo, em Lisboa, foi
construída num antigo quartel por questões
de segurança - os espiões trabalham lá em
vários pisos subterrâneos
Na sexta-feira passada, 1 de Junho, depoisda audição parlamentar à porta fechada de
Júlio Pereira e dos fiscais das secretas, a de-
putada do PSD Teresa Leal Coelho anunciou
que os serviços secretos vão ter novas regrasde selecção de espiões. Antes, o deputadoNuno Magalhães, do CDS-PP, dissera que os
novos espiões "têm de ter um perfil à provade bala". Aparentemente, já não é suficiente
o chamado "vetting de segurança" que é apli-cado pelos serviços secretos na fase final do
recrutamento - uma investigação profundasobre a vida do candidato a espião que é fei-
ta com base nas informações que o própriofornece no processo de selecção. Por exem-
plo, podem ser recolhidos dados junto das es-
colas onde estudou e dos empregos que teve,
de antigos colegas e de amigos. Também são
vistos os destinos de viagens para o estran-
geiro e detalhes sobre a família mais próxi-ma do candidato: os pais, os irmãos, a mu-
lher ou o marido.
Exige-se ainda ao futuro espião
que indique entre três a seis pes-soas que podem ser contactadas
(e também investigadas pelos ser-
viços) para atestarem a sua ido-
neidade. Além disto, os serviçossecretos exigem a entrega de uma declaraçãode património e de rendimentos semelhan-
te à dos políticos e um cadastro limpo - in-
formalmente, também recorrem aos regis-tos policiais para saber se já houve alguma
suspeita passada sobre o candidato (só as
condenações dão cadastro) ou se há algum
processo em que esteja sob investigação.Mas o factor decisivo na escolha de no-
vos espiões é, para várias fontes das secre-
tas contactadas pela SÁBADO, uma heran-
ça que vem dos tempos em que Rui Perei-
ra mandou no SIS, entre Março de 1997 e
Dezembro de 2000: a entrevista com o di-rector dos serviços. Muitas vezes, essa con-
versa dita quem entra ou não nas secretas.
Foi assim em 2007, quando Antero Luís,então director do SIS, não teve dúvidas de
que um licenciado em Estudos Árabes e
que frequentara uma universidade da Tu-nísia tinha o perfil ideal para entrar nos
serviços secretos. Poucos meses depois, o
espião T. S. entrou em roda livre: incom-
patibilizou-se com vários colegas e, du-
rante uma visita de Kadhafi a Lisboa, naúltima Cimeira União Europeia-África, ten-
tou ser recebido pelo líder líbio, suposta-mente para oferecer os seus serviços. Ain-
da antes de ser obrigado a sair do SIS, o
espião teve de entregar o compu-tador portátil e o telemóvel de ser-
viço para serem analisados - esta
ameaça de monitorização perma-nente também foi feita a vários
espiões por Jorge Silva Carvalho
quando dirigia o SIED.
Um espião nunca
pode estar sob suspeita e a discrição deve ser
sempre total, mesmo em casa e com a famí-lia. Uma das primeiras coisas que os agentes
aprendem é que não podem revelar a verda-
deira profissão aos filhos, para evitar fugasde informação. E a família também tem de
ter cuidados especiais: nunca deve permitir
que lhe entrem em casa vendedores ou re-
presentantes de empresas desconhecidas. E
nem sequer devem responder a inquéritostelefónicos, para não revelarem sem quererdados que podem ser sensíveis.
Um chamado "especialista de contactos'
aborda fontes que aceitam colaborar
de forma voluntária com as secretas
Os agentes aprendem desdeo início que não podemrevelar a profissão aos filhos
QUANDO NÃO HÁ DISCRIÇÃO, tudo podeser deitado a perder. Hoje, ainda poucosoperacionais compreendem porque é queJorge Silva Carvalho guardou tantos SMS e
mensagens comprometedoras nos telemó-
veis e computadores. Mas há quem associe
o ex-espião a outro descuido histórico. Em
Outubro de 2002, o SIS tinha a seu cargo a
organização do ultra- secreto encontro do
Clube de Berna, uma reunião dos serviçosde informações da União Europeia, Norue-
ga e Suíça. Estava tudo acertado para acon-
tecer no Porto e Jorge Silva Carvalho, então
coordenador do Departamento de Relações
Exteriores do SIS, ficou encarregue da orga-nização e de manter o segredo. Dias antes
da chegada, os jornais descobriram porme-nores do encontro porque Silva Carvalho
exigira dezenas de escoltas policiais para
transportar os espiões que iam chegar ao
Aeroporto Sá Carneiro. O encontro teve de
ser adiado. Acabou por se fazer no Alente-
jo e já sem escoltas.
Júlio Pereira
é quem manda
noSISenoSIED.
Foi nomeado por
José Sócrates
e merece
a confiança de
Passos Coelho
Esta é a escola onde os espiões portugueses
são formados. Fica junto à sede do SIS,
no antigo Forte da Ameixoeira, em Lisboa
NOS MANUAIS de segurança interna dos
serviços secretos, as regras básicas de com-
portamento também se aplicam nos edifí-
cios sede. Uma das mais óbvias é não levar
documentos ou chaves do serviço para casa.
No SIED, todos os gabinetes têm um cofre
com código embutido na parede, junto a
cada porta. É aí que os espiões têm obriga-toriamente de colocar as chaves da secre-
tária e dos armários de trabalho - apesar de
haver quem não o faça por desconfiar quenem assim as chaves estarão seguras.
Estas preocupações são constantes. Em
Portugal, as próprias sedes das secretas fo-
ram construídas em subterrâneos labirínti-
cos de antigos fortes militares. O edifício do
SIED, no Alto do Duque, entre Monsanto e
o Restelo, tem dois pisos abaixo do solo -as salas parecem antigas celas, cada uma
ocupada por quatro analistas, a que se che-
ga através de elevador ou por escadas me-
tálicas interiores. Estas divisões têm janelas
viradas para um fosso exterior que circun-
da todo o forte. É um verdadeiro bunker, tal
como acontece no SIS, que se mudou de umedifício na Rua Alexandre Herculano para o
Forte da Ameixoeira, na periferia de Lisboa,
onde foi instalada também a nova escola de
formação de espiões.Nestas instalações, por questões de segu-
rança, não há Internet sem fios (o acesso àNet
faz-se só através de um conjunto de compu-tadores partilhados) e a rede informática in-
terna é estanque ao exterior. Há computa-dores especiais, a que só se acede através de
impressão digital autorizada, e todos os ou-
tros não têm sequer entradas parapwis ou ou-
tras memórias externas, nem mesmoharãware de gravação de CDs. Os espiões têm
um cartão de identificação branco que ape-nas lhes permite o acesso a determinadas
zonas das instalações (há quatro classes de
acesso no SIED) e também estão proibidosde levar para o trabalho computadores pes-
soais, tablets e smartphoms.
A nova sede do SIS custou
quase 30 milhões de euros.Os espiões têm piscina e ginásio
A SÁBADO SABE ainda que, a qualquer al-
tura, os espiões podem ser revistados .sen-do menos frequente as rusgas às instala-
ções, como aconteceu durante as recentes
auditorias por causa do caso Silva Carva-
lho - já as rondas de segurança acontecem
todos os dias para fiscalizar gavetas e por-tas abertas, documentos ou computado-res abandonados e papéis deitados nos cai-
xotes do lixo e não triturados.
No caso da sede do SIS, que custou cer-
ca de 29,4 milhões de euros à empresa es-
tatal Estamo, Participações Imobiliárias, SA,
tem entrada pelas traseiras do forte, com
duas vedações e controlos de entrada du-
plos. É por aí que se tem acesso a quase 73mil m' de área de superfície. Debaixo do
solo, há muito mais. O SIS aproveitou os
subterrâneos, que antes das obras tinhamcarris velhos para transporte de munições
para paióis com 810 metros. Além da pis-cina, do ginásio e do restaurante com capa-cidade para cerca de 200 pessoas, os espiões
têm à disposição várias salas pro-
tegidas Tempest, que são à pro-va de escutas e usam tecnologiasecreta para impedir que, porexemplo, aparelhos Data Scan
possam captar e ler, a cerca de um
quilómetro, a informação que vai
passando pelos monitores dos computa-dores do SIS. Tudo isto custa muito dinhei-
ro. No relatório de contas da Estamo de
2010, o SIS aparecia na lista das quatro en-
tidades públicas que mais deviam em ren-
das em atraso -2.158.362,15 euros. A divul-
gação desta informação tinha um enorme
potencial de escândalo. Discretamente, a
dívida já foi paga. •