Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia...

24
Comunidade Missionária de Villaregia IMPRESSO FECHADO PODE SER ABERTO PELA ECT Edificando a fam í lia Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL - JUNHO 2015 - ANO 11 - nº 25 IMPRESSO FECHADO PODE SER ABERTO PELA ECT

Transcript of Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia...

Page 1: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

Comunidade Missionária de Villaregia

IMPR

ESSO

FEC

HA

DO

POD

E SE

R A

BERT

O P

ELA

ECT

Edificando a família

Comunidade Missionária de Villaregia

REV

ISTA

SEM

ESTR

AL

- JU

NH

O 2

015

- AN

O 1

1 - n

º 25

IMPR

ESSO

FEC

HA

DO

POD

E SE

R A

BERT

O P

ELA

ECT

Page 2: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

sumário

2

Revista informativa semestral da Comunidade Missionária de Villaregia

Direção e Redação: Comunidade Missionária de Villaregia | Rua Canoas 461, bairro Betânia - CEP 30.580-040 - Belo Horizonte | MG | Brasil | Telefax: 31 3383 1545 | E-mail: [email protected] | Site: www.cmv.it | Jornalista Responsável: Ana Paula de Oliveira Soares Pansanato | MG 11.411 | Diagramação: Equipe diagramação CMV | Fotos: Arquivo Comunidade Missionária de Villaregia | Impressão: O Lutador | 31 3439 8000 | Tiragem: 20.000 exemplares | Assinatura: GratuitaTodos os direitos reservados. Os artigos desta revista podem ser reproduzidos, desde que sejam citados a fonte e o autor, e enviada cópia à Redação. Fotos: só com autorização escrita da Redação.

Pedido de MissasEm todas as sedes da CMV, a cada dia, celebramos a Santa Missa, na qual apresentamos ao Senhor as intenções de oração que amigos e benfeitores nos confiam. Se você quiser, pode fazer um gesto de fé e nos enviar suas intenções: - como sufrágio por um ente querido; - por uma intenção pessoal ou de sua família. Sua oferta será uma ajuda concreta para os missionários e para os irmãos de todas as missões da CMV. Uma forma de participar da missão da Igreja, de partilhar o que temos e somos com quem está precisando de nossa ajuda.Entre em contato conosco para mais informações, nos endereços da contra-capa.

Colaboração

03 EditorialContra toda adversidade

04 As palavras do papaQueridas famílias

06 Ao vivo da missão A Família porto-riquenha: identidade, desafios e esperanças

13 Vida espiritualMãos de Deus

14 Na escuta da Palavra Estas palavras tu as repetirás aos teus filhos

16 Partilhar a féFamília Missionária

17 Projetos de solidariedade“Juventude da hora”: Vivart’s e Vila esporte

18 Do mundoO terrorismo islâmico e as nossas lágrimas de crocodilo

21 Notícias · Ordenação presbiteral e diaconal· Partidas· Votos Definitivos· Era estrangeiro e vocês me acolheram· Assembleia Geral Extraordinária· Projeto Hospitalidade aos Refugiados

23 Agenda

Page 3: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

editorial

3

“O Evangelho da família, custodiado fielmente

pela Igreja na linha da Revelação cristã escrita e transmitida, exige ser anunciado no mundo de hoje com renovada alegria e esperança, voltando constantemente o olhar a Jesus Cristo” (Orientações à XIV Assembleia Geral Ordinária).Deus, criando o homem à sua ima-gem e semelhança, o criou família: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma única carne” (Gn 2,24). Em seguida, deixou à família o mandato de continuar a obra da criação: “Sede fecundos e multipli-cai-vos” (Gn 1,28).A família, que continua crescendo para realizar aquilo que desde o princípio é o plano de Deus, vive hoje a agressão de um fluxo de morte que, contra toda razão, pas-sa através de povos e culturas sem distinção.“Enfraquecimento da fé e dos valo-res, individualismo, empobrecimen-to das relações, estresse de uma fre-nesia que ignora a reflexão marcam também a vida familiar” (mensagem da terceira Assembleia Geral Extraor-dinária do Sínodo dos Bispos, 2014);Quanto sofrimento para as famílias das aldeias africanas, obrigadas a abandonarem suas casas por causa de conflitos étnicos! Como não pensar também em quem sofre perseguições na Ásia? Em tantos outros países, uma economia pouco atenta ao estado social obriga muitas famílias a uma vida em condições de extrema pobreza e desemprego. Ao mesmo tempo, e como produto

da mesma visão econômica, muitas outras se desintegram frente a ambições materiais que roubam espaço ao calor das relações parentais construídas sobre a acolhida e a benevolência.Além disso, temos aquelas ideolo-gias que tentam esvaziar a família da sua missão educativa e, sobretudo, da sua identidade natural, como re-alidade fundada no amor que une a diversidade de um homem e de uma mulher.Mas contra toda adversidade, Deus Trindade, que é um Deus família, continua abençoando a humanida-de, tecendo a vida como história de salvação através da família e para a família.Os rostos reais que compõem uma história rica de esperança são muitos: jovens casais que fundam seu rela-cionamento sobre valores cristãos; mães solteiras que, apesar da falta de uma figura paterna e nas situações mais dramáticas, encontram a força para mostrar aos próprios filhos e ao mundo a esperança do amor; casais que escolhem acolher a vida

em qualquer condição; avós que mantêm a fecundidade do seu ma-trimônio, sustentando os netos entre os escombros dos lares domésticos desintegrados; famílias dispostas a largar o próprio país para testemunhar o amor de Deus em contextos difíceis; casais que permanecem fiéis a cada dia ao longo de uma vida inteira; e muitos outros ainda...Nesta história de salvação, aconte-ceu a terceira Assembleia Extraor-dinária dos Bispos, que, após sua pri-meira fase, em outubro passado, nos convidou a um tempo de reflexão e busca, para entender sempre mais e de maneira nova a vocação e a missão das famílias na Igreja e no mundo contemporâneo. Para toda a humanidade, permanece a espe-rança de um rosto de uma Igreja que, sendo a família do Pai, quer estar na alegria de viver o Evangelho do Filho, com a força do Espírito Santo.

Angel Gabriel Cortés Colόn CMV

Contratoda adversidade

Page 4: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

4

as palavras do papa

Queridos amigos em Cristo! (…) Gosto muito do fato

de sonhar numa família. Toda mãe e todo pai sonharam o seu filho du-rante nove meses. É verdade ou não? [Sim!]. Sonharam como seria aquele filho… Não é possível uma família sem o sonho. Numa família, quan-do se perde a capacidade de sonhar, os filhos não crescem, o amor não cresce; a vida se debilita e se apaga. Por isso, recomendo-vos que, à noi-te, ao fazer o exame de consciência, vos ponhais também esta pergunta: Hoje sonhei com o futuro dos meus filhos? Hoje sonhei com o amor do meu esposo, da minha esposa? Hoje sonhei com os meus pais, os meus avós que fizeram a vida chegar até mim. É muito importante sonhar. Antes de mais nada, sonhar numa família. Não percais esta capacida-de de sonhar!

E, na vida dos cônjuges, quantas dificuldades se resolvem, se conser-varmos um espaço para o sonho, se nos detivermos a pensar no cônjuge e sonharmos com a bondade, com as coisas boas que ele tem. Por isso, é muito importante recuperar o amor a partir do sonho de cada dia. Nunca deixeis de ser namorados!

(…) Repousar na oração é par-

ticularmente importante para as famílias. É, antes de tudo, na família que aprendemos como rezar. Não esqueçais: quando a família reza unida, permanece unida. Isto é im-portante. Nela chegamos a conhe-cer a Deus, a crescer como homens e mulheres de fé, a considerar-nos como membros da família mais ampla de Deus, a Igreja. Na família, aprendemos a amar, a perdoar, a ser generosos e disponíveis e não fechados e egoístas. Aprendemos a ir além das nossas próprias neces-sidades, para encontrar outras pes-soas e partilhar as nossas vidas com elas. Por isso é tão importante rezar como família. É muito importante! É por isso que as famílias são tão im-portantes no plano de Deus para a Igreja! Repousar no Senhor é rezar, unidos em família.

(…) Em família, devemos levan-

tar-nos e agir. A fé não nos tira do mundo, mas nos insere mais pro-fundamente nele. Isso é muito im-portante! Devemos caminhar em profundidade no mundo, mas com a força da oração. Na realidade, a cada um de nós cabe um papel especial na preparação da vinda do Reino de Deus ao nosso mundo.

(…) Deus nos chama a reconhe-cer os perigos que ameaçam as nos-sas próprias famílias e a protegê-las

OraçãO à Sagrada Família

Jesus, Maria e José,Em vós, contemplamoso esplendor do verdadeiro amor,a Vós, com confiança, nos dirigimos.

Sagrada Família de Nazaré,tornai também as nossas famíliaslugares de comunhãoe cenáculos de oração,escolas autênticas do Evangelhoe pequenas Igrejas domésticas.

Sagrada Família de Nazaré,que nunca mais se faça,nas famílias,experiência de violência, egoísmo e divisão:

Queridas famílias

Audiência Geral Quarta-feira,25 de Março de 2015.“Esta oração pelo Sínodo sobre a família é para o bem de todos. (…) Exorto-vos a conservá-la e a levá-la convosco, para que possais recitá-la com frequência nos próximos meses, com santa insistência, como nos pediu Jesus.”

Page 5: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

5

do mal. Existem colonizações ideológi-

cas que procuram destruir a família. Não nascem do sonho, da oração, do encontro com Deus, da missão que Deus nos dá. Provêm de fora; por isso, digo que são colonizações. Não percamos a liberdade da missão que Deus nos dá, a missão da família.

(…) Como família temos que ser sagazes, muito hábeis, muito fortes para dizer “não” a qualquer tentativa de colonização ideológica da família. E pedir a São José, que é amigo do Anjo, que nos mande a inspiração para saber quando podemos dizer “sim” e quando podemos dizer “não”.

Hoje, os pesos que gravam so-bre a vida da família são muitos. (…) A situação econômica provo-cou a fragmentação das famílias com a emigração e a busca de um emprego para além dos problemas financeiros que atormentam muitos

lares domésticos. Enquanto muitas pessoas vivem em pobreza extrema, outras caem nas malhas do mate-rialismo e de estilos de vida que de-stroem a vida familiar e as exigências mais fundamentais da moral cristã. Essas são as colonizações ideológi-cas. A família está ameaçada tam-bém pelos crescentes esforços de alguns em redefinir a própria insti-tuição do matrimônio mediante o relativismo, a cultura do efêmero, a

falta de abertura à vida.(…) O nosso mundo tem neces-

sidade de famílias sãs e fortes para superar estas ameaças!(...) Toda a ameaça à família é uma ameaça à própria sociedade. O futuro da hu-manidade, como várias vezes disse São João Paulo II, passa através da família. O futuro passa através da família. Por isso, guardai as vossas famílias! Protegei as vossas famílias! Vede nelas o maior tesouro da vossa nação, e alimentai-as sempre com a oração e a graça dos sacramentos. As famílias sempre terão as suas pro-vações, não é necessário que alguém lhes acrescente mais ainda! Pelo contrário, sede exemplos de amor, perdão e solicitude. Sede santuários de respeito pela vida, proclamando a sacralidade de toda a vida humana desde a concepção até à morte natu-ral. Que grande dom seria isto para a sociedade: cada família cristã viver

plenamente a sua nobre vocação! (…) O nosso dever de cristãos é

ser voz profética no meio de nossas comunidades. Quando as famílias permitem às crianças nascerem para este nosso mundo, educam-nas na fé e em sãos valores e as ensinam a dar a sua contribuição para a socie-dade, tornam-se uma bênção ao seu redor. As famílias podem tornar-se

uma bênção para o mundo! O amor de Deus torna-se presente e ativo a partir do modo como nós amamos e das boas obras que praticamos. Fazemos crescer o Reino de Cristo neste mundo. Ao fazê-lo, mostramo-nos fiéis à missão profética que rece-bemos no Batismo.

Durante este ano, (…) quero vos pedir, como família, que estejais par-ticularmente atentos ao vosso cha-mado a ser discípulos missionários de Jesus. Isso significa estar prontos para ir além dos limites das vossas casas e cuidar dos irmãos e irmãs mais necessitados. Peço que vos interesseis de modo especial por aqueles que não têm uma família própria, particularmente os idosos e as crianças órfãs. Nunca os deixeis sentir-se isolados, sozinhos e aban-donados, mas ajudai-os a sentir que

Deus não os esqueceu. (…)E, no caso de vós próprios serdes

pobres materialmente, sabei que tendes uma abundância de dons a distribuir quando ofereceis Cristo e a comunidade da sua Igreja. Não escondais a vossa fé, não escondais Jesus, mas colocai-o no mundo e oferecei o testemunho da vossa vida familiar!

quem ficou ferido ou escandalizadodepressa conheça consolação e cura.

Sagrada Família de Nazaré,o próximo Sínodo dos Bispos possa despertar, em todos,a consciência do carácter sagrado e inviolável da família,a sua beleza no projecto de Deus.

Jesus, Maria e José,escutai, atendei a nossa súplica. Amém.

Família Bosson, agentes pastorais da paróquia de São Lourenço, Yopougon, Costa do Marfim.

Page 6: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

6

“Um dos desafios fundamentais que as famílias enfrentam hoje é, certamente, a educação. Ela é mais comprometedora e complexa devido à realidade cultural atual e pela grande influência das mídias.” assim está no documento “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.A família é uma instituição social milenar, mas não imune ao impacto das mudanças sociais, econômicas e culturais. Devido à sua fundamental função social foi drasticamente mudada nos séculos, especialmente na segunda metade do século passado,

porto ricoao vivo da missão

Page 7: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

7

A Famíliaporto-riquenha: identidade, desafios e esperanças

colocando em crise a definição tradicional da própria família, com suas tarefas e funções que historicamente sempre foram confiadas a ela. Embora a maioria das pessoas concorde com o conceito tradicional de família, entendida como instituição fundamental, na sociedade de hoje ela é sempre mais ameaçada e muitas vezes não consegue resistir aos novos estilos de vida em que estamos culturalmente mergulhados.Todavia, lá mesmo onde poderíamos ser tentados pelo desânimo por causa dos numerosos assaltos que a instituição familiar

padece por muitas frontes, reparamos como tantas iniciativas e exemplos corajosos vêm à tona na ação de consagrados e leigos empenhados em promover e defender o valor das famílias assim como a define o Catecismo da Igreja Católica: “A família cristã é uma comunhão de pessoas, sinal e imagem da comunhão do Pai e do Filho no Espírito Santo. A atividade procriadora e educadora dela é o reflexo da obra criadora do Pai. A família é chamada a partilhar a oração e o sacrifício de Cristo. A oração cotidiana e a leitura da Palavra de Deus corroboram nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária”.

Casal, membros da CMV de Arecibo, Porto Rico, com sua família: Lyssenid, Melvin, Franci-sco, Arianna, Clara

porto rico

Page 8: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

8

Em Porto Rico, a família não fi-cou imune e sofreu grandes

transformações nos últimos cem anos, devido, principalmente, às importantes mutações sociais e econômicas que afetaram o país nesse período. Dentre elas, a passa-gem de uma economia predominan-temente agrícola e rural para uma industrial e tecnológica é fator que tem provocado fortes repercussões também dentro da instituição fami-liar.

A família porto-riquenha do início do século passado era uma realida-de compacta, composta geralmen-te pelos pais com numerosos filhos. O núcleo familiar era muitas vezes alargado e incluía os vizinhos e os idosos por eles cuidados. Nascia-se e morria-se sempre na mesma habi-tação. A instituição matrimonial era consideravelmente estável e tudo gi-rava ao redor da figura paterna, que tinha a tarefa de prover o sustento de todo núcleo familiar. Esse sistema forte deteriorou-se lentamente sob a pressão das mudanças econômicas, sociais e religiosas que ocorreram na sociedade da ilha, propondo e afir-mando novos estilos de vida.

As estatísticas e os dados oficiais ilustram um quadro de mudanças repentinas acentuadas ulteriormente pelo desemprego galopante e pela dependência dos Estados Unidos – Porto Rico é uma ex-colônia e “Esta-do livre associado”.

A atuação do governo é ge-ralmente fraca, seja em relação às necessárias intervenções no setor econômico e na legislação do tra-balho, seja no âmbito social e fa-miliar, provocando, muitas vezes, graves repercussões entre os muros domésticos. A ausência de tomada de responsabilidades por parte do chefe da família na gestão familiar e na educação dos filhos e o aumento

da violência doméstica colocaram Porto Rico no topo da lista dos países com o mais alto índice de divórcios no mundo. Além disso, a emigração em massa dos porto-riquenhos, pro-curando uma melhor qualidade de vida, está abalando cada vez mais a estrutura familiar. Tudo isso compor-ta a formação de famílias monopa-rentais, principalmente compostas por mães solteiras com seus filhos, que muitas vezes não conseguem sequer garantir um adequado nível de sustento econômico, aliás, Porto Rico, estatisticamente, é o Estado com maior desigualdade econômica dos Estados Unidos, segundo estudo realizado pela Pontifícia Universida-de Católica de Porto Rico em 2013, e muito menos consegue desenvolver a tarefa da segurança pública, edu-cação e proteção à família no seu sentido tradicional.

O fato de ser um país dobrado pela violência já é um dado apura-do. Porém, é difícil entender qual é o principal fator que contribui para isso: a pobreza, o desemprego, o al-coolismo, as dependências químicas e as mudanças de papéis na família. Registram-se mais de 13 mil casos de violência doméstica a cada ano e, a cada 15 dias, uma mulher é assassi-nada pelo seu parceiro.

Novas formas de famílias: famílias reconstituídas

Nesse contexto, a família deve enfrentar numerosos desafios. Um deles é relativo às “novas famílias”, ou seja, realidades que se formam após uma ruptura do relacionamen-to de um casal em decorrência de um divórcio, de uma separação ou pela viuvez, na maioria dos casos, têm-se filhos.

As relações, as normas e os papéis numa família reconstituída assumem uma forma diferente em relação à pri-meira família. Antes de alcançar um equilíbrio e uma serenidade, a família reconstituída deve ser estável, ter um forte vínculo e uma grande capacida-de de comunicação; o processo de adaptação pede flexibilidade, matu-ridade, honestidade e transparência. Muitas vezes, esta passagem precisa de uma ajuda externa, para que to-dos os componentes possam reforçar os próprios processos de integração e ter uma adaptação natural à nova estrutura familiar.

A infância em Porto Rico é consi-derada o setor social mais vulnerável, porque é o mais atingido pelos múl-

DESAFIOSIDENTIDADE

Manifestação organizada pelas asso-ciações católicas porto-riquenhas contra as decisões do Governo a favor da teoria do gênero.

Page 9: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

9

Na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Sabana Hoyos,

Arecibo, a Comunidade Missionária de Villaregia introduziu a catequese do Bom Pastor.

O método, que conta com o em-penho e a preparação dos pais e catequistas, ocupa-se em transmi-tir a fé cristã católica às crianças de 3 a 12 anos. Nascido em 1954, ofe-rece os frutos de uma esperança meditada, atenta, continuamente

sujeita a revisões, adaptações e apri-moramentos, porque guiada pelas observações da criança, das suas ne-cessidades, dos seus interesses, dos recursos e potencialidades na vida espiritual e religiosa. Trata-se de um método que se inspira na experiência educativa de Maria Montessori e que tem a mesma finalidade expressa no Catecismo da Igreja Católica: “A fina-lidade da catequese é colocar-se em comunhão com Jesus Cristo: somen-te ele pode conduzir ao amor do Pai no Espírito e pode fazer-nos partici-par da vida da Santíssima Trindade” (n. 426).

Em que consiste concretamente a catequese do Bom Pastor?

O método insere a criança numa comunidade composta de adultos (catequistas) e crianças que procu-ram viver uma relação com Deus.

Assim como nas escolas montes-sorianas, as atividades acontecem em um espaço que chamam de átrio, o mesmo nome do lugar em que ficavam os catecúmenos antes de entrarem na basílica para rece-ber os sacramentos. Lá, as crianças encontram um ambiente bem cuida-do, bonito, onde se fala em voz baixa e o silêncio é agradável. No átrio não podem faltar o ângulo da oração, do batismo, das atividades práticas e da papelaria. O material, preparado

pelos catequistas, é utilizado para narrar o trecho bíblico e é colocado à disposição para o trabalho pessoal do catequisando.

A criança aprende a mover-se com segurança e consciência, num clima de serenidade e de silêncio, experi-mentando também a conquista da li-berdade e da autonomia, ao trabalhar sozinha um trecho bíblico apresen-tado pelo catequista que se coloca à distância, enquanto ela desenvolve a tarefa que lhe foi confiada.

O método inspira-se em duas fon-tes: a Palavra de Deus e a Liturgia. A apresentação dos trechos bíblicos respeita o calendário litúrgico, para que catequese e liturgia iluminem o próprio mistério de Cristo.

A criança faz experiência do amor de Deus, cada coisa é organi-zada em sua medida, tudo está ao seu alcance, no objetivo de moti-var uma escolha pessoal e facilitar a meditação. As atividades práticas ajudam a criança a amadurecer uma atitude que a predispõe à escuta do “Mestre interior”, ao encontro com Jesus e com a Palavra.

Enfim, na hora do Anúncio, são dados aos pequenos os conteúdos essenciais que lhes permitem fazer um percurso pessoal de fé e viver a Missa de maneira consciente, expli-cando, por exemplo, o sentido da

A Catequese do Bom Pastor

A família porto-riquenha deve, portanto, enfrentar desafios

complexos, e é por isso que ela está ao centro dos cuidados e das atenções da Igreja e de cada diocese da ilha: é o bem mais precioso a ser custodiado, defendido, sustentado. A preocupação dos pastores se manifesta em tantas iniciativas promovidas por grupos e movimentos, com o objetivo de estimular a tomada de consciência frente a cada atentado contra as famílias e sustentando, em todos os modos possíveis, o seu crescimento.

ESPERANçA

Mabel Rodriguez, missionária no mundo, porto-riquenha, com algumas crianças da paróquia numa atividade de evangelização.

tiplos problemas que se abatem sobre a família. Nesse segmento de-mográfico, manifestam-se todos os elementos representativos da crise familiar que atinge o país nos seto-res da economia, da saúde mental e da violência social.

As crianças porto-riquenhas estão muito expostas à violência fa-miliar, que, às vezes, assume o caráter da negligência e também do abuso físico e sexual.

Page 10: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

10

entronização da Bíblia, do altar, das cores litúrgicas, dos paramentos do sacerdote, dos gestos da Missa, dos momentos principais da vida litúrgi-ca como o Advento e a Quaresma.

A partir desta experiência, inicia-se um percurso de fé para crianças e adultos capaz de envolver também os mais fracos, como visto na expe-riência de Sandy, uma das primeiras catequistas que aplicou este método.

“Sou Sandy, tenho 39 anos e vivo com meus dois filhos: Gino, 8 anos, e Genady, 10 anos. Há dois anos estou empenhada como catequista com o método do Bom Pastor. Conheci essa modalidade de catequese num mo-mento em que estava muito preocu-pada com a situação dos meus filhos que não eram ainda batizados. Gena-dy tinha começado a catequese, mas Gino não. Ele é autista. A catequese

do Bom Pastor é flexível às neces-sidades da criança e, pensando em Gino, parecia-me uma boa resposta. Comecei a participar do curso de preparação com muita curiosidade. No Bom Pastor, é o próprio Jesus que fala, não há historinhas, não há fanto-ches, Jesus conta sobre si mesmo às crianças. Quando fiz o curso, fiquei

impressionada com a simplicidade do método: utiliza material encontra-do com facilidade e o clima de silên-cio, mantido entre os catequistas e com as crianças, permite que cada um esteja em relação com os outros e com Jesus. Precisa deixar que Deus se manifeste, não há uma definição. Gino, em particular, aprendeu a cen-tralizar sua emoção espiritual: desco-briu que ele tem um Pai, que o ama, o acolhe e não o deixa sozinho.

Ser catequista com este método tem sido um chamado, pois Deus está se manifestando também na minha vida com simplicidade. Todo nós, catequistas e crianças, estamos entendendo que a Bíblia não é algo cansativo, não é um conto de fadas, mas é palavra viva.

A escuta é um dos pilares desta catequese e precisa do coração e de um guia silencioso. Às vezes, fica difícil fazer silêncio: muitas vezes, enchemos as crianças de estímulos e elas procuram aprovações. Temos que tomar consciência disso, não de-vemos ter medo do que as crianças têm no coração. Podemos relacionar-nos com elas ao deixar que Cristo fale ao seu coração, sem sermos nós a di-zer para elas o que deveriam escutar. Trabalha-se desenvolvendo suas ca-pacidades. Preparam-se e adaptam-se as coisas a elas, e então tudo fala. As crianças têm uma sensibilidade fortíssima que podem desenvolver no tempo. Se nós, pais, as ensinamos a pensar, se paramos para rezar com elas, para escutá-las, desenvolvem uma relação cada vez mais profun-da com Deus.”

Ilaria Ballò CMV

• Porto Rico é um dos países com o maior índice de divórcios no mundo (74 divórcios a cada 100 matrimônios);• 51% das crianças e jovens vivem em famílias mono parentais;• Em 95% dos divórcios, a mãe obtém a custódia dos filhos;• A qualidade de vida dos homens, após o divórcio, aumenta em 42%;• A qualidade de vida da mulher, após o divórcio, diminui em 73%;• De 2009 a 2013, mais de 19 mil pessoas perderam sua habitação;• 60 mil são as famílias (1.3 milhões de pessoas) que recebem fundos federais de sustento e afirmam essas entradas como a única ou a principal fonte de recursos;• A cada 1000, 39 são meninos, meninas e jovens que já sofreram ou sofrem maus-tratos;• A cada 1000, 19 são meninos, meninas e jovens que já sofreram maus-tratos por negligência;• A cada 1000, 2 são meninos, meninas e jovens que já sofreram abuso sexual.

Dati Porto Rico

Sandy com os filhos, Gino e Genady.

Page 11: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

11

Como e quando se conheceram?

RAUL: Éramos vizinhos e, desde os 14 anos, eu ia à casa de Carmen para jogar basquete ou escutar músi-ca com o irmão dela. Aos poucos, estes motivos se tornaram sempre mais uma desculpa para ver Carmen.

CARMEN: Eu também ficava cu-riosa para “ver” este amigo e, muitas vezes, descia à sala onde escutavam música só para encontrá-lo.

Durante dois anos, Raul vinha me ver com os meus pais presentes e, depois, namoramos por oito anos (desde quando eu tinha 14 e Raul, 16 anos).

RAUL: Os anos do namoro foram um tempo bonito, participávamos juntos da paróquia no grupo de jovens. Eu trabalhava num cafezal, para poder realizar o sonho de Carmen:

termos uma casa própria para nos ca-sarmos. No final, consegui comprar uma casinha de madeira.

Assim, decidi pedir oficialmente a mão de Carmen para o pai dela, sr. Justiniano: naquela noite, “providen-cialmente”, faltou a energia elétrica. Isso fez com que eu não visse a ex-pressão do pai dela... Quando a ener-gia voltou, eu já tinha entregado o anel de compromisso. Depois de um ano, nos casamos.

Como foram os anos de casamento? Que experiência viveram?

CARMEN: Quando nos casamos, tínhamos respectivamente 19 e 21 anos. Após um ano, chegou Arielis, a nossa primeira filha, e, depois de quatro anos, nasceu Raul Enrique. Ser esposa e mãe em tempo integral foi uma experiência muito linda. Raul

trabalhava como caminhoneiro, saía de casa às 4 da manhã e voltava à noite.

RAUL: Aos poucos entendi o que significava ser pai, passando da emoção de se sentir pai à respon-sabilidade de criar um filho. Como família, continuávamos frequentan-do a paróquia e passando juntos o fi-nal de semana, visitando a nossa ilha.

Com o passar do tempo é comum viver experiências negativas, vocês podem contar algo para nós?

CARMEN: Apesar de toda a be-leza experimentada, depois de 16 anos de casamento, nos encontra-mos num tribunal para assinar le-galmente o nosso divórcio: eu tinha começado um novo relacionamento. Naquele período, não tínhamos mais nenhum contato verbal, os nossos re-lacionamentos aconteciam somente por meio dos nossos filhos... e dos advogados.

RAUL: No começo da nossa se-paração, comecei a participar dos encontros mensais do GimVi adultos: o tema daquele ano era “o perdão”. Carmen me acusava de muitas coi-sas... mas eu escolhi continuar rezan-do por ela e pelo nosso matrimônio.

CARMEN: Eu vivia como numa bolha de ar, fora do mundo, não to-mava consciência da dor dos outros. Pensava somente na minha felicida-de, sentia que era o meu momento, não me interessavam os conselhos das minhas irmãs, a dor da minha mãe, o sofrimento dos meus filhos; não enxergava mais nada além de mim mesma.

RAUL: Às vezes, a irmã de Car-men tentava nos reencontrar, mas, devido a uma lei porto-riquenha, eu não podia nem me aproximar dela. Um dia, depois de toda essa guerra, tive a oportunidade de falar com ela e perguntei o que sentia indo à igreja sem poder receber a Eucaristia.

CARMEN: Eu disse que experi-mentava uma grande dor por ter compreendido que tinha construído um muro entre mim e Deus. De qual-quer forma, Raul pedia que pudés-semos começar um novo relaciona-mento. Depois dessa conversa, Raul

Celebrar 25 anos de matrimônio “com a graça de Cristo na alegria e na dor”, após ter vivido o sofrimento da separação e ter experimentado a alegria do perdão. É a experiência de Carmen e Raul.

20 de janeiro de 1990 – 20 de janeiro de 2015:

Page 12: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

12

me agradeceu e me deu um CD de música cristã de presente. Não sei como explicar, mas, a partir daque-le momento, recomecei a escutar a voz de Deus que estava me falando através das pessoas que encontrava. Depois de uma longa reflexão, em um sábado, decidi romper o relacio-namento que tinha estabelecido e voltei para casa dos meus pais. No domingo seguinte, fui à igreja e me confessei. Parecia-me como se fosse a minha primeira confissão e minha primeira comunhão.

RAUL: Contemporaneamente a tudo isso, eu estava procurando in-formações para a anulação do casa-mento. Não faltavam as dúvidas e as tentações. De fato, eu havia conhe-cido uma jovem que também estava com processo de divórcio em anda-mento. Certa vez, estávamos prestes a passar a noite juntos, mas meu co-ração e minha mente continuavam pensando em Carmen. Recusei-me a ficar com ela. Ela me ameaçou, me acusou de não ser um homem. Mas

agradeço a Deus por não tê-la toca-do. A irmã de Carmen me avisou que Carmen tinha voltado para casa, as-sim, decidi entrar em contato.

Como foi o recomeço?CARMEN: Foram 4 meses de

“novo namoro”, caracterizado pelo diálogo, sobretudo pelo telefone.

RAUL: Começamos a sair juntos de novo, até que um dia nos reuni-mos como família, juntamente com Arielis e Raul Enrique.

CARMEN: Antigamente, eu fala-va gritando, brigando, sem compar-tilhar nada dos meus sentimentos e de como percebia a minha existên-

cia monótona. Agora, “permitimos” a Deus que ele seja o centro do nosso matrimônio.

Como é a sua vida hoje, depois de ter celebrado esses vinte e cinco anos, com seus amigos, com as pessoas que estão ao redor de vocês?

RAUL: Muitos amigos, quando re-atamos o relacionamento, sumiram: não era coisa de “homem” acolher

de novo uma esposa traidora. Quan-do escolhemos celebrar os 25 anos, muitas pessoas nos perguntaram que sentido tinha festejar se por 4 anos ficamos separados. Eu acredito que, aos olhos de Deus, nunca nos separa-mos. Agora, graças a uma caminhada de fé, à confiança, à formação, à di-reção espiritual, continuamos a nossa vida matrimonial. Tem sido um novo começo, um renascer. Nunca falamos do passado; aliás, às vezes, rimos do nosso modo de agir no passado. Isso também faz parte do processo de cura. O perdão fez Carmen se sentir livre e amada. Se Deus me ama e me perdoa sempre, como eu não perdo-

aria? Pelo “machismo”, que aqui se vive, isso é difícil; não é possível nos entender se não nos colocamos no lugar do outro e se não entendemos que somente a felicidade do outro é o que realmente importa.

CARMEN: Eu me senti amada por Raul, me senti esposa dele no bem e no mal, “na alegria e na dor”.

Agora, nós somos um dom um para o outro: Raul é um dom para mim e eu sou um dom para ele.

12

Alguns membros da Comunidade de Arecibo, com alguns voluntários: um italiano e um casal porto-riquenho.

Page 13: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

13

O sacramento do matrimônio é sinal da união de Cristo e da

Igreja. Ele doa aos esposos a graça de se amarem com o amor com que Cristo amou a sua Igreja; a graça do sacramento aperfeiçoa assim o amor dos cônjuges, consolida a sua unidade indissolúvel e o santifica no caminho da vida eterna. (Catecismo da Igreja Católica nº 1661)Cada casal é depositário de um ca-risma específico, doado por Deus no dia do casamento, na bênção nupcial, que os habilita a se torna-rem Evangelho vivo entre os homens com uma cor própria e original e as-sim “SER” sal da terra, luz do mundo. Como? Amando-se reciprocamente como Cristo os ama e, ao mesmo tempo, tornando as pessoas que Deus põe no caminho deles partíci-pes deste Fogo Abrasador. É um dom responsável e livre do Espírito que os esposos oferecem ao mundo, colocando-se à “disposição” da Igreja mãe e mestra. Que linda seria a Igreja, se cada casal fosse consciente da Potência Salvífica contida no próprio amor! Todo gesto de ternura vivido em família, de fato, fala para o mundo que é possível ser feliz. Ademais, no sacrifício e na acolhida recíproca, os cônjuges fazem a experiência de um “Além” que testemunha o para sem-pre de Deus capaz de lançar o olhar além da morte.Mas como é possível a dois namorados acreditarem que, no seu jovem amor, está contido esse mistério? Essa consciência amadurece por meio do exemplo de casais que testemunham com a própria vida que é possível amar-se dessa maneira. Os jovens precisam de mães e pais que lhes mostrem, no cotidiano, o extraordinário da vida divina que toma corpo em gestos humildes de cuidado e partilha.Casa casal, onde vive, é chamado a ser as “MÃOS DE DEUS”! Elas são se-melhantes entre si, colocadas uma frente à outra, reparamos que são especulares, mas opostas. Para cum-prir qualquer ação, é necessário que ajam juntas, com concórdia, unidas pela mesma vontade. Não fazem a

mesma coisa, cumprem gestos di-ferentes, às vezes, aparentemente discordes, mas na realidade profun-damente concordes no resultado, na ajuda e no sustento. Imaginem as mãos do oleiro, de um pintor, de um padeiro, ou simplesmente as suas mãos no ato de abrir um frasco.A educação dos filhos precisa dessa cumplicidade e união de intentos. Às vezes, especialmente com os adolescentes, nos seus momentos de oposição aberta, vocês dizem: “Mas aonde foi tudo aquilo que ensinamos a ele?” e os dois esposos, à noite, no tálamo nupcial, enquanto tudo silencia, “cansam a mente”, buscando novas estratégias para ajudar os filhos a viverem aqueles passos de autonomia que os preparam a serem um dia, por sua vez, pais e mães. Esse é um sonho da paternidade e maternidade universal ao qual Deus chama cada casal.Essa missão está inscrita no sacra-

mento nupcial que consagra um projeto de amor, tornando os espo-sos sinais visíveis do amor de Cristo para com a sua Igreja, e os habilita a se tornarem imagem do amor de Deus Trindade, do amor de Deus para com a humanidade.Eis a rocha onde se baseia a fidelida-de dos cônjuges. Eis a fonte do seu amor, que os transforma em pedras vivas de onde jorra água no “deserto” de uma sociedade sem Deus. A cada casal cabe somente renovar diaria-mente seu pobre Sim, de modo a ser aquela pincelada, necessária, para fazer do quadro da vida uma obra-prima. Cada casal poderia se pergun-tar: qual a cor da nossa esponsalida-de? Qual cor estamos dando à nossa família?Às vezes, entre os casais que encon-tramos dá para colher lamentações, gemidos de busca, acompanhadas por um grande medo de ousar, mas não precisam ter medo: Jesus, no dia do casamento, casa-se com cada casal. Ele vive no amor dos cônjuges e ficará para sempre com eles. É ne-cessário somente ter um pouco de espaço para Ele em casa e na vida do dia-a-dia.E então, somente então, toda família, em qualquer lugar que esteja, po-derá fazer em Cristo experiências do Paraíso.

Ciro e Raffaella PiccoloAutores do livro “Il manuale del corteggia-mento, alla scoperta di se stessi, dell’altro e della felicità”, Ed. Effatà.

Mãosde Deus

Fabr

izio

Mas

sidda

vida espiritual

Page 14: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

14

“Ouve, Israel”.Esses versículos do Deuteronômio (6, 4-7) constituem uma oração cotidiana para o piedoso hebreu, o assim chamado shemá. Todos os dias, com essas palavras, lembra-se que o Senhor Deus é o sentido da nossa vida, rumo ao qual se orien-tam pensamentos, sentimentos e forças.

“Estes mandamentos estejam gravados no teu coração”.Podemos fazer muitas coisas duran-te o dia, mas tudo isso não deve nos afastar do nosso “prego fixo”: as Pa-

Estas palavras tu as repetirás aos teus filhosA transmissão da féno Deuteronômio

“4Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. 5Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. 6Os mandamen-tos que hoje te dou serão gra-vados no teu coração. 7Tu os repetirás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo ca-minho, ao te deitares e ao te levantares. (...)20quando teu filho te pergun-tar mais tarde: Que são estes mandamentos, estas leis e estes preceitos que o Senhor, nosso Deus, nos prescreveu? Tu lhe responderás: 21éramos escravos do faraó, no Egito, e a mão poderosa do Senhor libertou-nos. (...)24O Senhor ordenou-nos que observássemos todas essas leis e temêssemos o Senhor, nosso Deus, para sermos sempre felizes e para que nos conservasse a vida, como o fez até o presente.”

Deuteronômio, capítulo 6

na escuta da Palavra

Page 15: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

15

lavras que o Senhor nos transmitiu.

“As repetirás a teus filhos”Repetir significa, antes de tudo, di-zer novamente como nós ouvimos por nossa parte. De fato, não po-demos repetir o que não ouvimos. Além disso, em hebraico, o verbo obedecer não existe: ele é expres-sado pela própria palavra escutar. Assim, entendemos que a pri-meira coisa a fazer para poder transmitir aos filhos estas pa-lavras é colocá-las em prática.Repetir tem também o senti-do de que não é suficiente di-zer somente uma só vez estas palavras, para pensar que elas sejam automaticamente transmitidas.Este verbo, em hebraico, lem-bra algo afiado, que penetra: uma flecha, uma espada, os dentes. Na carta aos Hebreus, a Palavra de Deus é mais pe-netrante do que uma espada de dois gumes.Os pais são convidados a exporem os filhos a este fio afiado da Palavra. Quando vi-vida dia após dia, ela penetra também naqueles que estão ao nosso redor, os fere no co-ração.Os filhos estão expostos a muitas influências: os amigos, a escola, os meios de comu-nicação... O pai ou a mãe não pode pensar ter a exclusivida-de da educação. Geralmente, a educação dada pelos pais constitui menos de vinte por cento de tudo aquilo que aprendem os filhos. Mas essa porcentagem se situa em um nível mais profundo, pelo fato de ser vivida todos os dias, em doses pequenas, mas constantes. E para aquele que crê, o que será transmi-tido será moldado pela Palavra:

... falarás deles seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares.Vale a pena comprometer-se nisso, mas é uma tarefa paciente, um in-vestimento a longo prazo.

... mais tarde teu filho te perguntará: “Que são estes mandamentos, estas

leis e estes preceitos que o Senhor, nosso Deus, nos prescreveu?”E a resposta não será uma teoria, mas aquilo que se viveu:

“Éramos escravos do faraó, no Egito, e a mão poderosa do Senhor libertou-nos. (...)”Transmitir os mandamentos do Senhor não é elencar uma série

de prescrições e deveres. Antes de tudo, é tomar consciência de como Deus se fez presente nos aconteci-mentos da própria história. É sobre o meu passado que posso construir o meu futuro. Neste passado, há a ação potente de Deus que se mani-festa no momento da grande pro-vação.O Deuteronômio preocupa-se mui-to com a transmissão desta fé. A identidade de cada filho do povo de Israel será tão mais clara quanto mais os pais souberem transmitir-

lhe a experiência de uma fé vivida em primeira pessoa.Os filhos não poderão encontrar a própria identidade se não entende-rem que, desde a origem de suas vidas, da vida do seu povo, há essa experiência de Deus que liberta da escravidão. Pelo fato de que Deus

é um Deus que liberta, a transmissão dessa experiência pode ser somente proposta, não imposta.Muitos pais fazem a experiên-cia de ouvir os filhos dizerem – ou rebaterem – “Porque tenho que fazer isso que você me diz?” O risco, de fato, é aquele de impor normas cujo sentido ele não entende, e por isso destinadas a serem desconsideradas assim que o filho tiver plena liberda-de de escolha. Às vezes en-contramos crianças que, na transparência, dizem: “Papai me obriga a ir à Missa, mas ele nunca vai; mamãe me manda rezar, mas ela não o faz comigo... Não vejo a hora de me tornar adulto para eu também parar de ir à igreja e de rezar!”Por outro lado, encontramos filhos que, após uma ado-lescência turbulenta e de rejeição de todos os valores a eles transmitidos pela mãe e pelo pai, aproximam-se ago-ra da vida adulta com o de-sejo de construir uma família como aquela em que eles cresceram, baseada na fé no Deus vivo.

“Então, o Senhor ordenou-nos que observássemos todas essas leis e temêssemos o Senhor, nosso Deus, para sermos sempre felizes e para que nos conservasse a vida, como o fez até o presente”.Somente transmitindo a consciên-cia que Deus nos acompanhou pas-so a passo, tem sentido observar leis e tradições: vale a pena viver se-gundo a Palavra de Deus e transmi-ti-la a quem está ao nosso redor.

Pe. Paolo Motta cmv

Shutterstock/Distinctive Images

Page 16: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

partilhar a fé

16

Na exortação apostólica, A Alegria do Evangelho, o Papa

Francisco nos convida a ser “uma igreja em saída”. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas somos todos convida-dos a aceitar esse chamado: sair da própria comodidade e ter a cora-gem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (nº. 20).

Desde que iniciamos nossa ca-minhada com a CMV, sempre tive-mos no coração a vontade de sair em missão em uma de nossas comunida-des e conversando com nossos filhos essa vontade passou a ser também a deles. Assim, no final do ano passa-do, nossa família conseguiu realizar uma pequena experiência na CMV de Lima – Peru.

Encontramos um povo acolhedor e alegre mesmo diante de tantos de-safios, e que nos ensinou a valorizar a amizade e sempre agradecer por aquilo que Deus nos dá. A Comuni-dade está localizada bem ao meio do povo, que tanto sofreu no período do terrorismo, mas que encontrou num grupo de missionários, que chegaram na década de 80, irmãos solidários naquele momento de dor e aflição. A paróquia hoje está com mais de 100 mil habitantes, divida em zonas terri-toriais, com suas capelas, na periferia de Lima. Uma comunidade aberta e

que acolhe pessoas de tantos países - Itália, Porto Rico, França, Inglaterra, Brasil, dando a cada um a oportunida-de de realizar a mesma experiência: Ser comunidade para a missão. Desde que chegamos ali, logo nos inserimos na vida comunitária e construímos fraternidade com esses irmãos de outros países, de culturas e línguas diferentes, mas com o mesmo desejo: ser um para que o mundo creia!

Sendo assim, permanecemos lá por 42 dias. Cada semana no Peru teve sempre os mesmos ritmos: oração, trabalho na pesca (como se chama a separação de roupas, brin-quedos, calçados e material escolar provindos da Itália e Porto Rico nos containers), policlínico, comedor (pequeno restaurante), pratos, pas-seios, refeições, encontros, visitas, missas etc. Tudo para sistematizar e não deixar nada se perder, nenhum encontro, nenhuma palavra, nenhum gesto de carinho, nenhuma ação sem ser pensada, planejada, amada por nossos responsáveis, Marita e Alejan-dro, como também pelos demais mis-sionários. Na simplicidade do dia-a-dia, pudemos fazer experiências bonitas também entre nós hóspe-des, sempre atentos à necessidade do outro. Igualmente crescemos na atenção entre nós: esposos, pais e

filhos, irmãos, vendo com mais cla-reza as necessidades de cada um, pois na correria de nossas vidas no Brasil passam-se despercebidas tantas coisas que muitas vezes nos afastam e deixam-nos indiferentes um para com o outro.

Antes tínhamos visto somente em filmes e livros o deserto. Pudemos ver que mesmo no deserto tantas coisas bonitas acontecem. Mesmo com tan-ta areia e dias cinzentos, alguma coisa irradia. Na bíblia, também o deserto, que é lugar de morte, pode ser lugar de encontro com Deus. Quanta vida doada, seja dos missionários, desde que aqui chegaram, como também de tantas pessoas que são verdadei-ros exemplos a seguir.

Falamos aqui de alguns exemplos, nos perdoem outros que poderiam ser citados e que nos ajudaram na transmissão dessa experiência. Nossa família chegou lá, com nossos limites e fraquezas, e agora, mesmo de volta à nossa realidade, a experiência que vivemos não sairá jamais de nós!

Um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vida externamente correta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades. A todos devem chegar a consolação e o estímulo do amor salvífico de Deus, que opera misteriosamente em cada pessoa, para além dos seus defeitos e das suas quedas. (Evangelii Gaudium, nº 44)

Família Missionária

Elena Salvagnin, missionária italiana, com Almir e Maria do Carmo, casal da Comunidade de São Paulo, e seus filhos em meio às crianças peruanas.

Page 17: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

17

projetos de solidariedade são paulo

da destinação do imposto de renda veja a explicação na contra capa da revista

Bradesco * Agência: 1988-7 Conta: 3967-5

Doações direitas *

* Doações diretasem conta ou em dinheironão possibilitam deduçãodo imposto de renda.

Ajude-nos!Colabore para sustentar os projetos Vivart’s e Vila esporte

“Juventude da hora”: Vivart’s e Vila esporte

A realidade juvenil da nossa região é marca-da pelos efeitos da vulnerabilidade social:

desemprego, alto índice de violência e dependên-cia química. A escassez de espaços culturais e esportivos, que ofereçam momentos e atividades saudáveis e seguras, contribui para situações de risco que podem au-mentar os esses índices.Mas uma nova realidade

se manifesta nas pequenas ações que muitos jo-vens improvisam: futebol, música e ocupações

simples para passar o tempo livre entre amigos. Assim, a COMI tem pro-porcionado ações que valorizem a cultura e o esporte dentro de um ambiente sustentável nas dependências da Comu-nidade Missionária de Villaregia: o Vivart’s e Vila Esporte.

PROJETO VIVART’SProporciona aos jovens, de 12 a 28 anos, o aces-so à educação por meio da dança, do canto e da aprendizagem de um instrumento musical, para a construção do conhecimento, autoestima, identi-dade e autonomia, incentivando a descoberta dos talentos artísticos da juventude.

PROJETO VILA ESPORTEAlém de contribuir e fortalecer os programas preven-tivos contra os vícios que permeiam a região, esse projeto visa fomentar a prática do futebol, a recreação e o aproveitamento do tempo livre aos adolescentes e crianças, de 10 a 15 anos, para a construção de va-lores e princípios de convivência social.

Page 18: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

do mundo

18

Apresentamos um comentário feito diretamente ao nosso periódico por pe. Giulio Albanese, missionário comboniano, diretor da revista Po-poli e Missione, sobre a recente onda de perseguição aos cristãos.

A espiral de terrorismo que tem ensanguentado mui-

tos subúrbios do mundo - desde o Oriente Médio à África Subsaa-riana - exige um sério discerni-mento por parte da assembleia

das nações. O horrível massa-cre de cristãos na Síria, Iraque, Nigéria e Quênia, junto com as perseguições contra a sociedade civil do chamado Islã moderado, não podem ser aceitas como se

fossem uma espécie de fatalida-de. Nesse sentido, é importante refletir sobre o que está aconte-cendo no cenário internacional, particularmente na Europa. De fato, muitos não sabem que o Fundo soberano dos emires do Qatar adquiriu recentemente os novos arranha-céus de Milão. O valor total da transação está avaliada em quase 2 bilhões de euros. Há certo tempo, os países do Golfo decidiram investir seus

petrodólares no exterior. Em maio de 2011, a Qatar Sports Investments pagou 50 milhões de euros por 70% de um clube de futebol - o Paris Saint Ger-main - que na época estava, por assim dizer, à beira do grande futebol francês. Desde aquele dia, a estratégia dos sheiks tem sido clara: usar Paris para dar o salto de qualidade não só subin-do nos rankings da UEFA, mas no próprio negócio futebolístico e da sua cadeia de abastecimento. E o que dizer dos relacionamen-tos de estreita amizade entre o presidente François Hollande e os membros da casa real waha-bita? Não é coincidência que a França seja o país europeu mais diligente no apoio às posições da monarquia saudita e do pe-queno emirado do Qatar no “ta-buleiro de xadrez” do Oriente Médio. Enquanto isso, ano pas-sado, a Arábia Saudita tornou-se o maior importador de armas do mundo, com uma despesa anual de 6,5 bilhões de dólares. Por que, então, a opinião públi-ca ocidental está tão de acordo com esses sheiks enquanto a Arábia Saudita e o Qatar são o berço dos movimentos salafitas?

A cumplicidade com o terro-rismo/jihadismo salafita por par-

O terrorismo islâmicoe as nossas lágrimas de crocodilo

Shut

ters

tock

/Dist

inct

ive

Imag

es

Page 19: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

19

te das Petromonarquias do Golfo é uma história antiga e tem sido repetidamente denunciada por observadores internacionais com-petentes. Em todo esse raciocínio, vale lembrar que os Estados Uni-dos sempre andaram de braços dados com os países do Golfo. Mas vocês não acham que há alguma contradição na linha política euro-atlântica? Por um lado, levantamos a nossa indignação às vítimas do terrorismo islâmico e, em seguida, fazemos negócios com os principa-dos do Crescente. As nossas lágri-mas arriscam ser lágrimas de cro-codilo e, realmente, Papa Francisco está certo quando diz que o “nosso silêncio é cúmplice.”

Para não restar dúvidas, é bom lembrar que o Grande Mufti da Arábia, Sheik Abdul Aziz bin Abdul-lah, disse, no último 15 de março, que “é necessário destruir todas as igrejas presentes na região do Golfo”, após a decisão do governo do Kuwait de proibir a construção de locais de culto cristãos no seu próprio território.

Perdoem-me, mas por que a imprensa europeia, incluindo a do nosso país, tem se feito de surda? Por que os governos ocidentais não protestaram com as autoridades de Riade por tais demonstrações aber-rantes do seu líder religioso? Frente a esse excesso de fundamentalismo, que encontra a sua colocação jurídi-ca na Sharia (a lei islâmica), a co-munidade das nações deveria levar essa questão a sério, numa flagran-te violação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de Dezembro de 1948, pela As-sembleia Geral das Nações Unidas.

Por outro lado, não é uma coin-cidência se, naquele tempo, foram poucos os países muçulmanos que participaram na elaboração e as-sinatura de tal declaração. Muitos entraram na ONU posteriormen-te e concordaram uma adesão de princípio com a própria Declaração, mas sem ratificar e assinar o con-junto dos acordos e protocolos. Nas últimas três décadas, algumas organizações islâmicas fizeram declarações específicas que se re-ferem à visão ocidental, manten-do, porém, em sua essência uma abordagem teocrática. O problema básico é que, no mundo islâmico, o conceito de direitos humanos é fortemente condicionado pela sua identidade cultural e religio-sa específica. Bastaria ler a Decla-ração Universal dos Direitos Hu-manos adotada no Islã em 1981, pelo Conselho Islâmico da Europa, bem como a Declaração do Cairo de 1990, elaborada pela OCI (Orga-nização da Conferência Islâmica), para perceber a forte influência do componente teológico islâmi-co e do constante lembrete do ditado da Sharia. Apenas na Carta Árabe dos Direitos do Homem de 1994 é possível identificar um va-lor legal um pouco mais leigo, de-vido à necessidade de se alinhar,

em termos formais, na medida do possível, com as normas interna-cionais sobre direitos humanos. Olhando para essas cartas Islâmi-cas aparecem, no entanto, algumas dúvidas sobre o fato se elas podem ser consideradas, do ponto de vi-sta legal, documentos islâmicos de codificação dos direitos humanos. Na maioria dos casos, são cartas com forte conotação declaratória, que não incluem, por exemplo, o estabelecimento de mecanismos de controle eficazes sobre as ope-rações dos estados individuais. Será possível então trazer a razão para o fundamentalismo islâmico? Cerca de 50 anos atrás, o pai do Irã islâmico reformista, Ali Shari’ati, afirmou que o Islã contemporâneo se estabelece entre os séculos XIII/XIV; e se olharmos para a história da Europa da época, quer dizer, entre os séculos XIII/XIV, descobriremos que o Velho Continente ainda não tinha começado a Reforma Pro-testante. De acordo com Shari’ati, para superar a Idade Média islâmica, os muçulmanos não podem pensar em pular de uma vez cinco ou seis séculos, chegando de repente para a cultura moderna. “Precisamos re-formar o Islã - escreveu o intelectual iraniano -, para que a força motriz da libertação das nossas socieda-des não fique mais presa em uma dimensão social tribal, nomeada-mente a Idade Média do Oriente, enquanto atualmente é o instru-mento utilizado pelos reacionários para impedir o progresso e desen-volvimento social”. As palavras e a vida de Shari’ati, morto por uma parada cardíaca, na Inglaterra, em junho de 1977, embora haja muitos que acreditam que ele foi elimina-do pela polícia secreta do então Xá da Pérsia, indicam claramente o caminho que deve ser seguido. Nos últimos anos, os países ociden-tais têm feito pouco ou nada para ajudar a sociedade civil árabe a sair da hibernação e dar apoio político e financeiro à inteligência islâmica moderada. Um desafio que, dado o tempo, não pode ser desconsidera-do.

pe. Giulio Albanese

Shut

ters

tock

/Dist

inct

ive

Imag

es

Page 20: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

notícias

20

Em 7 de fevereiro de 2015, Bruno, missionário italiano, foi ordenado sacerdote pela impo-sição das mãos de dom Arrigo Miglio, arcebispo de Cagliari, que pela ocasião veio ao Bra-sil. A celebração aconteceu na capela de Nossa Senhora da Conceição, localizada na nossa missão em São Paulo. Esse pas-so foi acompanhado afetuosa-mente pelos familiares dele e de todos os paroquianos, que pela primeira vez participaram de uma ordenação naquela ca-pela.

Domingo, dia 7 de junho, na igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Jacira, celebra-mos a ordenação diaconal de Alex Sandro da Silva Bernardo, missionário da nossa Comuni-dade.A Missa foi presidida pelo Bispo da Diocese de Campo Limpo,

Mons. Luiz Antônio Guedes, com outros sacerdotes amigos. Foi uma celebração muito fami-liar, com a presença dos pais e do irmão do Alex, outros ami-gos e parentes e muitas pessoas da paróquia SS. Trindade, que acompanharam com carinho e alegria a celebração. Agradecemos a Deus por todas as maravilhas que está operan-do entre nós, pelo dom do sim

do Alex e por todo o bem que irá chegar desse dom, para a co-munidade, para a Igreja e para o mundo. Agradecemos pela participação e pelo carinho de todos!

Ordenação presbiteral

Ordenação diaconal

“Entre vós, seja o vosso servo” (Mt 20, 27)

Na foto à esquerda, os padrinhos, Letícia e Milton, Alex e os pais, Luzia e José Luiz .

Page 21: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

21

Maria Tereza Cabras, após 22 anos de terras brasileiras, saudou o povo de Belo Horizonte, no último 31 de maio, para continuar sua caminhada de consagração na Itália.

Pe. Federico Santin, missionário italiano há 8 anos no Brasil, celebra no próximo 16 de agosto, em Belo Horizonte/MG, a sua profissão definitiva de pertença à CMV.

Partidas Votos Definitivos

Aceitando o convite do Papa Francisco de abrir as casas,

para acolher os numerosos refu-giados que chegam à Itália, em co-laboração com a Caritas diocesana, hospedamos na nossa casa oito jo-vens provenientes do Mali, África.Bah Seydou, Traore Sidi, Traore Amadou, Manga Koulibaly, Cissè Diarrà, Fofana Issà, Cissè Aboubacar e Kamarà Salim chegaram em abril de 2014, para fugir dos horrores da guerra e da violência que aumenta sempre mais no seu país com a di-fusão do fundamentalismo islâmico. Do Mali passaram para Líbia, onde trabalharam muito para conseguir o dinheiro da travessia pelo mar. Mais

de 100 pessoas saíram do litoral da Líbia num pequeno barco de borra-cha e ficaram 7 dias abandonados a si mesmos, à deriva no meio do mar. Avistados pelos navios militares da operação Mare Nostrum, foram resgatados e conduzidos a Lampe-dusa, Itália, e, após alguns dias, che-garam a Pordenone, Itália, confiados à Caritas.Entraram na nossa casa com discrição, boa vontade, gratidão e disponibili-dade em alguns trabalhos, embora a comunicação seja difícil. De fato, poucos deles falam o francês, os outros falam somente a língua lo-cal, o Bambará, e dois sabem ler e escrever. Apesar das dificuldades,

conseguimos nos entender. Nós os acolhemos com sua fé muçulmana, favorecendo o respeito e a cele-bração das suas festas: procuramos com eles o cabrito para a festa do Aid el Kabir e partilhamos o almoço de Natal e o réveillon.Não sabemos o que eles pensam em relação à nossa fé, mas de mil ma-neiras dizem encontrar-se bem no meio de nós. Aguardam com muita apreensão o êxito do seu pedido de asilo, pois para eles a negação desse pedido significa mudar o sonho de uma vida digna e vivida em paz.

CMV Pordenone

Era estrangeiro e vocês me acolheram

A partir do dia 11 de junho até 12 de julho de 2015, a Comunidade Missionária de Villaregia celebrará

a Assembleia Geral Extraordinária.É Geral porque nela estarão reunidos membros de to-dos os núcleos e de todas as comunidades espalhadas no mundo. Além do Comissário Pontifício, Pe. Amedeo Cencini FdCC, dos conselheiros e dos responsáveis das comunidades locais, estarão presentes os delegados eleitos pelas comunidades locais e por todos os núcleos. Será um encontro caracterizado pelas diversidades de proveniências, de idade, de cultura e de língua: um gru-po de italianos, 6 brasileiros, 1 francês, 1 da Costa do Marfim, 3 porto-riquenhos, 1 peruano.Será uma Assembleia Extraordinária, embora esteja acontecendo após seis anos em relação à anterior, de-vido às particulares condições que conduziram até ela

e às modalidades com que ela será desenvolvida. A ca-minhada de saneamento percorrido pela CMV nesses anos fez com que o Pontifício Conselho para os Leigos (PCpL) achasse já maduros os tempos para encerrar o comissariamento e iniciar o restabelecimento de um governo ordinário.Aguardamos com alegria e com renovada esperança este evento, acreditando com firmeza que será um tem-po de graça particular e pondo tudo a serviço do Reino para os pobres.Confiando na força que vem do Senhor, recorremos e confiamos na oração, a fim de que o Espírito seja mais uma vez o protagonista desta fase da vida da Comuni-dade Missionária de Villaregia.

Conselho CMV

Assembleia Geral Extraordinária

Page 22: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

22

AGENDA

“Estava trabalhando na Líbia com minha esposa, que

estava grávida de 6 meses. Estáva-mos tranquilos: água, luz, saúde... tudo era de graça para nós trabalha-dores estrangeiros! De repente, co-meçou a guerra e, primeiramente, nos fecharam dentro de um hangar a pão e água e depois nos embarca-ram à força num “carrinho do mar”. Na viagem, vi 26 jovens - como eu - morrerem... E agora eu estou neste país... Desejaria trabalhar, ganhar para viver: agora que minha filha nasceu, gostaria de dar-lhe um fu-turo melhor”. Essas e tantas outras são as histórias dos 100 jovens refu-giados hospedados há vários meses

na nossa diocese de Chioggia, Itália.Chegaram à noite, de ônibus, para que a população não os visse e, quase às escondidas, foram in-cluídos em estruturas de acolhida. No começo, algumas pessoas da Caritas Diocesana se prontificaram para ajudá-los na aprendizagem da língua, mas isso não era suficiente! Precisavam de acompanhamento burocrático, de saúde, de encultu-ração. Eram necessárias atividades de socialização, de inserção gradual no contexto social. Para enfrentar essas e outras necessidades, movi-dos pelo convite do Papa Francisco que impulsiona a levar o Evangelho às “periferias”, nasceu o Projeto de

Hospitalidade e Acolhida aos Re-fugiados na Diocese e a Caritas o confiou à nossa Comunidade. Atualmente, são mais de 40 vo-luntários de idades, associações e paróquias variadas que estão cola-borando efetivamente com o Proje-to, enquanto outros ajudam oca-sionalmente. No período de Natal, propomos a atividade “Acrescente um lugar à mesa”, dessa forma, mais de 80 grupos e famílias receberam, durante a ceia, mais de um Refu-giado e um voluntário. Alcançamos mais de 400 pessoas! Agora estamos consolidando as estruturas de serviço: as aulas de italiano, o cine fórum mensal, as ofi-cinas manuais, o acompanhamento religioso... Enfim, trabalho não fal-ta e nem os sonhos de uma igreja pobre para os pobres. Por isso, o Projeto é um espaço onde qualquer um pode entrar e fazer parte, para que se realize aqui e agora aquela Palavra de Jesus: “era estrangeiro e vocês me hospedaram...” (Mt 25,35)

CMV Villaregia

Projeto Hospitalidade aos Refugiados

Almoço de Páscoa com a Comunidade de Villaregia, os refugiados e voluntários envolvidos no projeto.

Page 23: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

AGENDA

23

Cântico dos Cânticos

BH: de 31 de outubro a 1 de novembro

Bodas de Caná

Final de semana de evangelização, para casais.

SP: de 14 a 15 de novembro

#UPWAYFormação à afetividadee à sexualidade

Final de semana de encontro, para jovens.

BH: de 15 a 16 de agosto

ConclusãoEscola de Vida

SP: 7 de novembro

2 dias GimVi Adolescentes

Final de semana de encontro, para Adolescentes.

BH: de 17 a 18 de outubroSP: de 22 a 23 de agosto

Semana da família

BH: de 18 a 22 de agostoSP: de 11 a 15 de agosto

Vida Nova

BH: de 12 a 13 de setembro de 19 a 20 de setembro

Afetividade casais

SP: de 29 a 30 de agosto

Jeshuá

Final de semana de evangelização, para jovens.

BH: de 13 a 15 de novembroSP: de 14 a 16 de agosto de 9 a 11 de outubro

Emaús

Final de semana de evangelização, para adultos.

BH: de 5 a 6 de setembroSP: de 21 a 22 de novembro

Bibliodrama

Uma experiência de encontro com a Palavra de forma mais envolvente, com representações e outras dinâmicas.

SP: de 17 a 27 de setembro

Page 24: Comnidad Miionia d Villaia Comunidade Missionária de ... · Comunidade Missionária de Villaregia REVISTA SEMESTRAL ... criando o homem à sua ima- ... hoje a agressão de um fluxo

REV

ISTA

SEM

ESTR

AL

- JU

NH

O 2

015

- AN

O 1

1 - n

º 25

PARA USO DO CORREIOMUDOU-SEENDEREÇO INSUFICIENTENÃO EXISTE O Nº INDICADOFALECIDODESCONHECIDORECUSADOAUSENTENÃO PROCURADOOUTROS:____________________________________________________

INFORMAÇÃO PRESTADA PELOPORTEIRO OU SÍNDICO

REINTEGRADO AO SERVIÇOPOSTAL EM ___/___/___.

DATA: RUBRICA:

Belo Horizonte - MGRua Canoas, 461Betânia - 30580-040Telefax: (31) 3383 [email protected]

Ônibus: 5250, 7110, 7120, 22

Para doações:Banco Bradesco - 237Agência 2900-9Conta corrente 3527-0

Embu-Guaçu - SPRod. José Simões Louro Jr. 3100Km 34,5 - Itararé - 06900-000Telefax: (11) 4661 2539 4661 [email protected]

Ônibus: intermunicipalEmbu Guaçu - Vila Louro

Para doações:Banco Bradesco, Agência 1988-7 Conta corrente 13753-7

UMA ALTERNATIVA AOS PRESENTES TRADICIONAISNas festas de família, você pode suscitar ao seu redor gestos de partilha. No lugar de ser presenteado com algo tradicional, você pode sugerir a seus amigos que colaborem com nossos projetos de solidariedade, como o que se encontra na página 13 desta revista.

O SEU IMPOSTO DE RENDA GERA SOLIDARIEDADEFaça uma doação para o Centro de Acolhida Betânia, em Belo Horizonte, e deduza o valor no seu imposto de renda. Diariamente, o Centro acolhe 220 crianças e adolescentes, promovendo a melhoria de suas condições sociais, humanas e econômicas, assim como de suas famílias. Pessoas físicas poderão doar e abater até 6% do imposto de renda, enquanto pessoas jurídicas tributadas pelo lucro real poderão doar e abater até 1% do imposto de renda devido. Para colaborar e saber como proceder, ligue ou escreva para o endereço de Belo Horizonte abaixo.

UMA PARTILHA QUE NÃO TEM FRONTEIRASSe você quiser sustentar as obras de evangelização e de promoção humana da Comunidade Missionária de Villaregia, no Brasil e no mundo, contribua com uma oferta livre, utilizando o boleto bancário em anexo ou fazendo um depósito nas contas abaixo.

AJUDE-NOS... A AJUDAR!

Outras informações www.cmv.it